João Santos Filipe Manchete PolíticaCasa Sun Yat Sen | Pequim considera classificação “legal” e “razoável” Zhu Fenglian, porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan, considera que falar de expropriação da Casa Comemorativa Sun Yat Sen é “manipulação política” e que os rumores sobre a possibilidade não têm fundamento O Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Governo Central considera que a medida de classificação da Casa Comemorativa Sun Yat Sen como património protegido foi “legal”, “conforme os procedimentos” e “razoável”. As declarações foram prestadas por Zhu Fenglian, porta-voz do gabinete, durante a conferência de imprensa regular do organismo. Zhu Fenglian foi questionada sobre os novos poderes do Governo de Macau, na sequência da classificação do imóvel, e sobre a possibilidade de as autoridades de Taiwan se desfazerem do edifício, e afirmou que a hipótese de “expropriação” não tem qualquer fundamento. “Essa chamada ‘expropriação’ tem por base uma conjuntura sem qualquer tipo de fundamento e resulta de manipulação política”, atirou Zhu. “A decisão do Governo de Macau de incluir a casa comemorativa na lista do património protegido foi feita de acordo com a lei, por isso foi uma decisão legal, conforme os procedimentos legais, e razoável”, acrescentou. As declarações foram prestadas, depois de ter sido tornado público pelo Conselho dos Assuntos do Interior de Taiwan, proprietário do imóvel através da empresa APHS Serviços de Viagem de Hong Kong, que tinha havido tentativas junto do Governo de Macau para impedir a classificação como património protegido. Gestão menos flexível Segundo as autoridades de Taiwan, a classificação do imóvel é tida como indesejada, pelo facto de tornar a gestão do espaço menos flexível. Também como parte da classificação, o Governo da RAEM fica com uma opção de preferência sobre o imóvel, caso as autoridades de Taiwan desejem vender, e pode igualmente expropriar o proprietário. A expropriação está prevista na lei na Lei de Salvaguarda do Património Cultural e pode ser accionada se for considerado que “por responsabilidade do proprietário” o bem imóvel corre o “risco sério de deterioração ou destruição”. Outro motivo para recorrer à expropriação surge quando as autoridades “por razões jurídicas, técnicas ou científicas devidamente fundamentadas”, considerem que a expropriação é a “forma mais adequada de assegurar a tutela do bem imóvel”. Por sua vez, o proprietário do imóvel também pode pedir para ser expropriado. A expropriação está prevista na lei como uma solução de último recurso, e só pode ser invocada pelo Governo, se conseguir provar que não conseguiu adquirir o imóvel. IC defende-se Horas depois do assunto ter sido abordado na conferência de imprensa do Gabinete para os Assuntos de Taiwan, também o Instituto Cultural emitiu um comunicado sobre a Casa Comemorativa Sun Yat Sen. O organismo liderado por Deland Leong Wai Man indicou na quarta-feira à noite que as leis de Macau seguem práticas “semelhantes” às adoptadas em Portugal, no Japão ou Taiwan. “Actualmente, a maioria dos bens imóveis classificados de Macau são propriedade privada, e a lei não impõe restrições ao seu uso normal, podendo os respectivos proprietários, usufruir dos correspondentes benefícios fiscais e medidas de apoio”, foi defendido. “Por outro lado, a lei não estabelece restrições sobre a compra e venda de imóveis classificados, desde que seja cumprido o exercício do direito de preferência em nome da RAEM no acto de venda e compra desses imóveis classificados”, foi acrescentado.
Hoje Macau Manchete PolíticaCasa Comemorativa Sun Yat Sen | Taiwan tentou evitar classificação As autoridades de Taiwan temem que a classificação torne a gestão do imóvel mais complicada, e reconhecem que foram traçados planos de contingência para a salvaguardar o direito de propriedade sobre o imóvel As autoridades de Taiwan tentaram evitar a classificação da Casa Comemorativa Sun Yat Sen como património protegido. A revelação foi feita pelo Conselho dos Assuntos do Interior de Taiwan. Segundo a informação da Central News Agency de Taiwan, que citou as declarações da Formosa, a Casa Comemorativa Sun Yat Sen tem como proprietário o Conselho dos Assuntos do Interior, através da empresa APHS Serviços de Viagem de Hong Kong. De acordo com a mesma fonte, nesta fase, não há intenção de vender o imóvel, ao contrário das informações que tinham sido colocadas a circular em 2022. No entendimento das autoridades de Taiwan, a classificação do imóvel é tida como indesejada, pelo facto de tornar a gestão do espaço menos flexível, devido às restrições impostas pelo novo estatuto do imóvel. Também como parte da classificação, o Governo da RAEM fica com uma opção de preferência sobre o imóvel, caso as autoridades de Taiwan desejem vendê-lo. Sobre a classificação por parte das autoridades de Macau, as autoridades da Formosa consideraram que faz parte da política de planeamento urbano da RAEM, e que o imóvel não foi um alvo especial, apenas resulta da avaliação que tem sido feita sobre o valor patrimonial de vários edifícios. Tudo legal Ainda segundo as explicações do Conselho dos Assuntos do Interior, a propriedade sobre a Casa Comemorativa Sun Yat Sen encontra-se regularizada de acordo com as leis de Macau da República Popular da China. Como parte dos esforços para impedir a classificação, as autoridades de Taiwan pediram aconselhamento legal junto de advogados, participaram nas três sessões de consulta pública sobre o procedimento de classificação dos imóveis e enviaram duas cartas, em Maio e Setembro do ano passado, ao Instituto Cultural, em nome da empresa APHS Serviços de Viagem de Hong Kong. Apesar da vontade das autoridades de Taiwan, o imóvel acabou mesmo por ser classificado. Sobre o futuro do imóvel, as autoridades da ilha afirmaram que iriam manter comunicação com as autoridades de Macau, para salvaguardar os direitos de propriedade sobre o imóvel. Além disso, foi reconhecido que foram traçados vários planos de contingência, para todos os cenários, de forma a responder a eventuais avanços que contrariem o direito de propriedade sobre o imóvel. De acordo com os dados de Taiwan, no ano passado a Casa Comemorativa Sun Yat Sen recebeu 22.279 visitantes, além de vários intercâmbios artísticos e culturais, que tiveram como objectivo aproximar as pessoas de Taiwan e Macau.
Hoje Macau PolíticaConselho Executivo | Casa Sun Yat-Sen passa a património protegido O processo de classificação como património protegido da Casa Comemorativa Sun Yat Sen, propriedade de uma empresa controlada pelo Governo de Taiwan através do Conselho para os Assuntos do Interior de Taiwan, deve ficar concluído nos próximos dias, com a publicação no Boletim Oficial da lista de novos imóveis classificados. A lista foi aprovada pelo Conselho Executivo e deverá ser publicada no Boletim Oficial hoje ou na próxima semana. “Após uma audiência prévia dos respectivos proprietários e uma avaliação do valor cultural de cada item, os mesmos bens imóveis foram objecto de um parecer do Conselho do Património Cultural e de uma consulta pública. Concluídos os procedimentos de classificação, o Governo da RAEM elaborou o regulamento administrativo”, foi anunciado. A classificação faz com que em caso de intenção de venda do imóvel, o Governo da RAEM fique com direito de preferência, ou seja, pode comprar o imóvel pelo preço de venda que tiver sido negociado com qualquer outro interessado. Na lista dos novos imóveis classificados constam ainda os seguintes edifícios: Casa da Família Chio, na Travessa da Porta, o antigo Matadouro Municipal, na Rua de S. Tiago da Barra, o Posto Alfandegário do Porto de Coloane e de Ká-Hó (Antigo Posto de Saúde de Coloane), no Largo da Ponte-Cais de Coloane, e dois conjuntos de edifícios na Avenida do Coronel Mesquita.
João Santos Filipe Manchete PolíticaPatrimónio | Classificação da Casa Comemorativa Sun Yat Sen equacionada A possibilidade de classificação do imóvel dota o Governo da RAEM de poderes para expropriar o proprietário, o Governo de Taiwan. Deland Leong, presidente do Instituto Cultural, afirmou que o mecanismo de expropriação nunca foi utilizado O Instituto Cultural (IC) propõe classificar a Casa Comemorativa Sun Yat Sen como imóvel protegido na categoria de monumentos. A novidade foi avançada ontem pela presidente do IC, Deland Leong, e da lista constam mais cinco imóveis, como a Casa da Família Chio, na Travessa da Porta, ou o Antigo Matadouro Municipal, na Rua de São Tiago da Barra. Com o início do processo de classificações, o Governo fica com poderes, à luz da Lei de Salvaguarda do Património Cultural para expropriar o proprietário, que em Setembro do ano passado era a empresa APHS Serviços de Viagem de Hong Kong, que tem sede em Singapura e é detida a 100 por cento pelo Conselho para os Assuntos do Interior de Taiwan. Como acontece nestes casos, a informação oficial apenas aponta que o edifício é propriedade de um privado. Com o processo de classificação em andamento, o Governo fica também com o direito de preferência sobre o imóvel, no caso de o proprietário decidir vendê-lo. Isto quer dizer que, no caso de o Governo de Taiwan acordar a venda do edifício a um terceiro, o Governo da RAEM pode adquiri-lo, desde que iguale o preço acordado. Sobre a possibilidade de haver uma expropriação, Deland Leong afirmou que esse mecanismo nunca foi utilizado. “Nós nunca aplicámos este artigo [da aquisição e expropriação]. Só numa situação muito especial é que podemos aplicá-la”, declarou a presidente. “Quanto aos edifícios, como o da Rua Silva Mendes [Casa Comemorativa Sun Yat Sen] e os outros cinco, já iniciámos os trabalhos de classificação e o tratamento vai ser igual ao do passado”, acrescentou. Deland Leong explicou igualmente que quando o Governo pretende ficar com um imóvel recorre à compra. “Normalmente aplicamos o artigo 41.º da lei sobre o direito de preferência. De acordo com esta lei é necessário consultar o Governo da RAEM para ver se o direito de preferência é exercido”, apontou. Venda equacionada A proposta de classificação do imóvel surge depois de em Setembro passado ter sido noticiado, na imprensa da Ilha Formosa, que o Governo de Taiwan estava a equacionar vender o imóvel, por temer que fosse expropriado. Na altura, os representantes de Taiwan em Macau enfrentavam dificuldades para renovar os vistos de permanência, por recusarem assinar uma carta de compromisso com o princípio ‘Uma China’. A questão foi, entretanto, ultrapassada. O imóvel tem cerca de 400 metros quadrados e estará avaliado em cerca de 30 milhões de patacas, de acordo com o jornal Liberty Times, que noticiou a possível venda. A Casa Comemorativa Sun Yat Sen foi construída em 1912, como residência de Lu Muzhen, primeira mulher do homem conhecido como o “Pai da China Moderna”. Apesar de Sun se ter divorciado da mulher em 1915, para casar com Soong Ching-ling, uma das três irmãs Soong e mais tarde uma das figuras em destaque no Partido Comunista Chinês, Lu e os filhos permaneceram na residência de Macau. Foi nesta habitação que Lu Muzhen morreu, em Setembro de 1952, então com 85 anos de idade. Desde 1958 que a casa recebeu o nome Casa Comemorativa Sun Yat Sen, e actualmente está aberta ao público, como museu, tendo em exibição livros, cartas, fotografias e pertences de Sun Yat Sen que mostram o caminho revolucionário para derrubar a Dinastia Qing e estabelecer a República da China. Matadouro e Casa Chio Na lista dos seis imóveis a serem classificados, constam ainda a Casa Chio ou o Antigo Matadouro Municipal. A Casa Chio foi construída em 1875, pelos membros desta família que são descendentes do clã imperial da Dinastia Song (960-1279) e se estabeleceram em Macau há mais de 300 anos. Os membros mais destacados são Zhao Yuanlu e Zhao Yunjing porque obtiveram resultados de destaque nos exames imperais chineses e foram elevados à categoria “Juren”, tendo contribuído para a educação imperial. Quanto ao Antigo Matadouro Municipal da Barra, foi inicialmente construído em 1873 e reconstruído depois entre 1916 e 1917. Actualmente, faz parte das instalações do Instituto para os Assuntos Municipais. A classificação é justificada com o “testemunho notável de vivências ou de factos históricos” e a “importância do imóvel do ponto de vista da investigação cultural, histórica, social ou científica”. Na lista de imóveis surge também o Antigo Posto de Saúde de Coloane, construído em 1939 e situado no Largo do Cais, dois conjuntos de antigas moradias para funcionários públicos na Avenida do Coronel Mesquita, erigidas em 1953, e na Estrada de Coelho do Amaral (1950). Em relação a estas moradias foi destacado os elementos mistos da arquitectura portuguesa e chinesa. A consulta pública sobre a classificação dos imóveis decorre até 14 de Maio.
João Santos Filipe Manchete SociedadeTaiwan equaciona desfazer-se da Casa Comemorativa Sun Yat Sen O Governo de Taiwan está a equacionar a venda da Casa Comemorativa Sun Yat Sen por temer o confisco por parte das autoridades do Governo Central do Interior. A notícia foi avançada pelo jornal Liberty Times, de Taiwan, que cita fontes do Conselho para os Assuntos do Interior. Actualmente, há três representantes de Taiwan em Macau. No entanto, o número tem vindo a diminuir nos últimos anos, depois de as autoridades da RAEM terem começado a exigir que os representantes do corpo diplomático da Ilha Formosa assinem uma carta de compromisso com o princípio “Uma só China”. Se não assinarem, os vistos não são renovados. Com as autorizações de permanência dos três representantes a expirarem até 30 de Outubro, o Conselho para os Assuntos do Interior está a equacionar a venda do imóvel histórico, por considerar que existe a possibilidade de ficar sem ocupantes e ser confiscado pelo Governo Central. Ao jornal, foi ainda explicado que o imóvel tem cerca de 400 metros quadrados e está avaliado em aproximadamente 30 milhões de patacas. Actualmente, o custo de manutenção da infra-estrutura é de 130 mil patacas por ano, e os direitos de propriedade estão registados pela empresa APHS Serviços de Viagem de Hong Kong, que tem sede em Singapura e é detida a 100 por cento pelo Conselho para os Assuntos do Interior. Origens em 1912 A Casa Comemorativa Sun Yat Sen foi construída em 1912, como residência de Lu Muzhen, primeira mulher do homem conhecido como o “Pai da China Moderna”. Apesar de Sun se ter divorciado da mulher em 1915, para casar com Soong Ching-ling, uma das três irmãs Soong e mais tarde uma das figuras em destaque no Partido Comunista Chinês, Lu e os filhos permaneceram na residência de Macau. Foi nesta habitação que Lu Muzhen morreu, em Setembro de 1952, então com 85 anos de idade. Desde 1958 que a casa recebeu o nome Casa Comemorativa Sun Yat Sen, e actualmente está aberta ao público, como museu, tendo em exibição livros, cartas, fotografias e pertences de Sun Yat Sen que mostram o caminho revolucionário para derrubar a Dinastia Qing e estabelecer a República da China.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasSun Yat-sen foge de Guangzhou Sun Yat-sen e Chen Jiongming, ambos naturais da província de Guangdong, tinham uma visão divergente para a China, pois um concebia-a a nível nacional e o outro por regiões, apesar de colaborarem até 1922. Para Sun, filho de camponeses, o país devia ser uno e governado por um poder nacionalista republicano de teor socialista democrático revolucionário e Chen, descendente de proprietários rurais abastados, enquanto confucionista apelava a reformas para modernizar a monarquia, evoluindo para um ideal de ser a China uma República federalista democrática. A sua ideia era fazer de Guangdong um exemplo de governação para, como modelo, federando as províncias unificar a China, pois os chineses, após a dinastia manchu e as derrotas nas guerras do Ópio, já sem unidade como povo, radicavam-se nas suas comunidades rurais e daí a força dos locais poderes militares. Sun considerava tal visão servir para justificar os senhores da guerra. Sun Yat-sen (1866-1925), cujo nome de nascimento era Sun Wen e após a morte conhecido por Sun Zhongshan, na adolescência estudou no Hawai e regressando à China licenciou-se em Medicina em Hong Kong. Exercia clínica em Macau com o ideal de ajudar o povo e percebendo daí não vir a solução, resolveu em 1893 começar uma acção revolucionária para derrubar a monarquia manchu. No Hawai, em 1894 organizou com a comunidade ultramarina chinesa a Sociedade para a Regeneração da China (Xingzhonghui) com a finalidade de estabelecer na China uma República Democrática. Em 1905 unificou-a com a organização anti-Qing Guangfuhui (Sociedade de Restauração, estabelecida em 1904) e fundou em Tóquio, com os chineses refugiados no Japão, a Aliança Revolucionária Chinesa (Tungmenghui) baseada em três princípios: o nacionalismo para combater o governo imperial da dinastia Qing, pois as potências estrangeiras não tinham nenhum interesse em derrubá-lo; o segundo, o da constituição de um governo democrático republicano; e o terceiro, o de redistribuir as terras pelo povo para a sua subsistência, pois este encontrava-se na completa pobreza. Chen Jiongming (1878-1933), após licenciar-se em 1908 na Faculdade de Direito e Administração da Universidade de Cantão, onde tomou conhecimento do movimento anarquista, ao qual se juntou, entregou-se à política, apresentando uma série de reformas para tornar a monarquia constitucional. Eleito em 1909 membro da Assembleia Provincial de Guangdong sob o regime da dinastia Qing, não foi a Beijing participar como delegado no Parlamento Nacional, mas a 27 de Abril de 1911 em Guangzhou efectuou uma sublevação revolucionária. Com 7 mil homens no seu exército, o general Chen Jiongming foi Governador Militar de Guangdong entre 1911 e 1912, ocorrendo nesse período a Revolução Xinhai, a queda da dinastia Qing e o início da República da China a 1 de Janeiro de 1912 com Sun Yatsen na presidência. O general Yuan Shikai (1859-1916) controlava o Exército imperial de Beiyang, leal ao poder de Beijing, mas pressionado para reconhecer a República, a 12 de Fevereiro de 1912 forçou Puyi, o último Imperador Qing, a abdicar. Sem grandes apoios, Sun Yatsen a 15 de Fevereiro cedeu temporariamente a Yuan Shikai a presidência provisória da República. A constituição provisória promulgada em Março de 1912 estipulava a formação de um sistema parlamentar com eleições no prazo de dez meses para o Parlamento e Presidente e para participar, a Sociedade da Aliança (Tungmenghui) de Sun Yatsen converteu-se no Partido Nacional Popular (Guomindang). Faltando à palavra, Yuan Shikai em Janeiro de 1914 dissolveu o parlamento e colocou os seus membros a elaborar uma constituição, que lhe delegou todo o poder e a 13-12-1915 autoproclamou-se Imperador Hongxian. Após a sua morte a 6 de Junho de 1916, as províncias foram-se revoltando, desencadeando os senhores da guerra uma luta entre eles pela conquista da China, que ficou totalmente fragmentada. Em Guangdong, o general Chen Jiongming voltava a dominar e em 1917, Sun Yatsen, líder do Guomindang, criava em Guangzhou um governo militar, que no ano seguinte passou para as mãos dos senhores da guerra de Guangxi, sendo o poder entregue em 1920 a Beijing. 16-6-1922 Em 1922, Guangzhou, capital da China Republicana do Sul, estava mergulhada no caos. Digladiavam-se Sun Yatsen, Presidente Extraordinário da República da China desde 5-5-1921, apoiado pelo Governo do Guomindang e Chen Jiongming, desde Outubro de 1920 Governador Civil de Guangdong. Em 21-4-1922, Sun retirou-lhe o comando do Exército de Guangdong (Yue) por, em Março de 1922, se ter recusado ir combater as forças Beiyang a Hubei, preferindo fortalecer militarmente Guangdong. Com o objectivo de unificar a China, Sun Yat-sen partia a 6 de Maio com quinhentos homens para Norte e logo a 20 de Maio, Ye Ju, que substituíra Chen no comando militar, trazia o Exército Yue de Guangxi para Guangdong, ficando em posição de dominar Guangzhou. “Sun apercebia-se, ser o seu aliado de há muitos anos na verdade agora um rival, razão que o levou a suspender a campanha e a regressar. (..). Ch’en (que era também líder da Tríade) encarregou a seita de eliminar o rival. No caso de as coisas correrem mal, a sua figura ficaria fora de qualquer suspeita”, refere João Guedes, que nos relata numa outra versão o dia 16 de Junho de 1922, quando Sun Yat-sen foi atacado em Guangzhou. Wang Pik-wan, elemento da Tríade e casada com um dos comandantes da Clique de Guangxi, circunstancialmente aliada a Ch’en, escolheu o grupo de homens armados com a missão de apanhar Sun na sua residência oficial, local indefensável. “O ataque desencadeou-se pelas duas horas da madrugada de 16 de Junho de 1922, mas o factor surpresa foi anulado por um providencial telefonema que pouco antes dera o alerta. A revelação do que se preparava foi apenas suficiente para improvisar a defesa, mas permitiu salvar o presidente. Soavam já os primeiros tiros, de mistura com gritos de , quando este, acompanhado por um único guarda-costas, abandonou a residência” e a coberto da noite, atravessou discreto a cidade de Cantão “até à segurança do cruzador Yun Feng, uma unidade naval do Kuomintang que se encontrava fundeada no porto, preparada para emergências do género. Soong ching-ling, sua mulher, que permaneceu ainda algum tempo nas instalações, escapava igualmente algumas horas mais tarde no meio da confusão do assalto, conseguindo alcançar o cruzador com o despontar da manhã.” Na residência, cerca de cinquenta soldados da guarda pessoal resistiam, fazendo crer ainda ali se encontrarem os visados. Caído o último dos defensores, os atacantes penetraram no edifício à procura de Sun Yat-sen, mas mais interessados estavam nos seus arquivos pessoais, sendo os documentos encontrados depois entregues ao general Ch’en, que os usou para desacreditar nacional e internacionalmente Sun. O edifício foi incendiado e reduzido a escombros. História contada por João Guedes.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasSun Yat-sen como médico em Macau [dropcap]S[/dropcap]un Wen (Sun Yat-sen) nascera um ano antes de Manuel da Silva Mendes e Camilo de Almeida Pessanha. Já com o Imperador Guang Xu (1875-1908) no trono do Celeste Império, veio o Dr. Sun para Macau como médico em Setembro de 1892, onde ficou um ano, enquanto como professores do Liceu, os bacharéis formados em Direito pela Universidade de Coimbra, Camilo Pessanha chega um ano e meio depois e Manuel da Silva Mendes só em 1901. Ambos vieram ao mundo no ano de 1867, Silva Mendes a 23 de Outubro em S. Miguel das Aves, Famalicão e Camilo Pessanha em Coimbra a 7 de Setembro. Como médico, Sun Yat-sen serviu no Hospital Kiang Wu em regime de voluntariado entre Setembro de 1892 e Setembro de 1893 e aí criou uma secção de Medicina Ocidental. A comunidade chinesa de Macau fizera a Associação do Hospital Kiang Wu com a finalidade de ajudar os chineses mais desfavorecidos e tinha projectos de abrir escolas gratuitas, socorrer os necessitados e enterrar os mortos cujas famílias eram pobres ou, sem ninguém para deles cuidar. O Hospital foi instalado em San Kiu, um dos locais mais doentios de Macau, onde os mortos mal enterrados, muitas vezes com partes do corpo a descoberto e sem sepulturas, encontravam-se espalhados pela encosta do monte. A arquitectura do Hospital Kiang Wu, semelhante à do Templo de Kun Iam Tong, tem três pavilhões centrais, servindo o da entrada para as reuniões da Associação e o terceiro, um templo com altares aos deuses, Hua Tuo, Guang Gong, Bao Gong, Liu Zu e Hong Sheng. Na casa situada no lado direito dos três pavilhões realizam-se os cuidados médicos. Conta o Hospital com um total de 60 quartos, localizados ao redor do terreno, prestando gratuitamente serviços clínicos aos doentes, servindo de asilo e casa mortuária. Assim se apresenta a Camilo Pessanha o Hospital chinês, dirigido então por uma Comissão Administrativa com quatro directores. Macau não lhe reconhece diploma Apoiante e amigo do Dr. Sun desde o tempo de Hong Kong, era então Francisco Hermenegildo Fernandes (1863-1923) funcionário tradutor da Justiça britânica e a sua família proprietária em Macau da tipografia N. T. Fernandes e Filhos, com sede na Rua da Casa Forte n.º 3. Encontrava-se o Dr. Sun a exercer medicina em Macau quando a 18 de Julho de 1893 Francisco Fernandes aqui fundou o Echo Macaense, semanário bilingue luso-chinês. Era Director da tipografia e do jornal e contou com Sun Yat-sen para criar a edição chinesa. O Ching Hai Tsung Pao (JingHaiCongbao), a edição chinesa do jornal Echo Macaense, a 26 de Setembro de 1893 referia: . “Através de Francisco Fernandes, Sun Yat-sen seria apresentado a António Joaquim Bastos, figura que de facto desbloquearia o acesso de Sun aos círculos sociais macaenses, avalizando-o na sua vida profissional e defendendo-o nos processos judiciais que lhe foram movidos por rivais e inimigos políticos em Macau. António Joaquim Bastos era, tal como Francisco Fernandes, jornalista e integrava igualmente a redacção do Echo Macaense. (…) Para além de político era também um destacado causídico do foro local. (…) Foi diversas vezes vereador e presidente do Leal Senado e provedor da Santa Casa da Misericórdia. Foi graças a esta última qualidade do seu protector macaense que Sun conseguiu estabelecer-se como médico na cidade, já que António Joaquim Bastos, como provedor da Santa Casa, não teve dificuldades em convencer a mesa directora da instituição a conceder-lhe os empréstimos necessários para montar não só consultório, mas também uma farmácia anexa”, segundo João Guedes, (Revista Macau 52, Outubro 2016) que segue, “Os bons ofícios de Bastos contribuíram também para que a Misericórdia arrendasse a Sun a casa que seria a sua residência nos anos de Macau, situada precisamente na Travessa da Misericórdia, a poucos passos da Praça do Leal Senado. No seu novo domicílio, Sun atendeu alguns dos seus primeiros pacientes, que além de serem seus vizinhos eram portugueses, como os filhos do escritor Venceslau de Morais…” Formado em Hong Kong, Sun Yat-sen, sem diploma português de médico, segundo as leis do território não poderia exercer legalmente medicina em Macau e nem o poder e influência de António Joaquim Bastos o conseguiram ajudar. Assim, o Dr. Sun teve em 1893 de abandonar Macau e mudou-se com a sua farmácia para Cantão, mas como refere o Dr. Cantlie, «as actividades do Partido Regenerador tomaram tal vulto e ele tornou-se tão proeminente entre os seus colegas que dispunha de pouco tempo para qualquer outra actividade que não fosse a política». Caçada aos caçadores Era habitual os portugueses de Macau atravessarem as Portas do Cerco e irem fazer caçadas em território do interior da China. Assim foi na madrugada de 26 de Agosto de 1893, quando o Sr. Firmino Cândido Pereira e quatro amigos seguiram para Goiaveira, povoação pouco distante da Porta do Cerco, com o fim de caçar martinhos-brancos. Sem problemas passaram a estação aduaneira e casa de guarda e levavam já uma hora de caça quando às 7 horas, na maior afluência de caça, depois de ter o Sr. Pereira descarregado sua espingarda sobre um bando de martinhos, no momento de a colher foi bruscamente assaltado por uns quinze chineses, que o desarmaram à força, tendo os outros entregado sem resistência as armas. Asseveraram algumas pessoas que os assaltantes eram meirinhos do mandarim Ngai, sub-prefeito de Chin-san (Casa Branca) e este, numa carta deu a sua versão: . O Mandarim de Chin-san mandou publicar um edital em que narrava o ocorrido e suscitava a observância do anterior edital proibitivo da caça. O Governador da província de Macau e Timor, Custódio Miguel de Borja fez um protesto perante Tsung-Li-Yamen contra o procedimento abusivo do sub-prefeito de Chin-san. Para haver paz e harmonia, pedia-se que o governo encarregasse um funcionário português a se entender com o mandarim de Chin-san sobre a determinação dos lugares onde devia ser permitido caçar e sobre as formalidades a observar quem quisesse obter uma licença para ir à caça. Pouco tempo depois, tal ficou resolvido, continuando os caçadores de Macau a fazer as incursões em território do interior da China até 100 lis de Macau, onde não faltavam tigres e martinhos-brancos.