Gripe | Menos de metade das crianças até aos três anos não foram vacinadas

Os Serviços de Saúde apelaram uma vez mais à vacinação e afirmam que a situação da gripe este ano é menos grave do que em anos anteriores. No entanto, o pico de contágio da doença deverá acontecer em Janeiro, por altura do Ano Novo Chinês

 

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) estimam que o pico da gripe aconteça no final de Janeiro, durante o período do Ano Novo Chinês e apelam por isso à vacinação da população em tempo útil. O anúncio aconteceu ontem por ocasião da apresentação das situações epidémicas em Macau e contou com a exposição de Leong Iek Hou, coordenadora do núcleo de prevenção e doenças infecciosas, que recordou que a região já entrou na época da gripe.

“Macau já entrou na época da gripe e estima-se que vá atingir um pico por volta do Ano Novo Chinês, mas outros vírus ainda estão muito activos como a varicela e a escarlatina. Nas regiões vizinhas a situação de febre do dengue, sarampo e pólio é muito grave, por isso os cidadãos devem estar atentos”, alertou a responsável.

Leong Iek Hou revelou ainda que desde 30 de Setembro e até 29 de Dezembro, foram detectados 10 casos graves de gripe com pneumonia associada, sendo que destes, apenas uma pessoa tinha sido vacinada. Ainda assim a responsável avançou que, das 190 mil doses de vacina contra a gripe adquiridas pelo Governo, tinham sido ministradas, desde 30 de Setembro, cerca de 128 mil doses, traduzindo-se num aumento de 10 por cento relativamente ao mesmo período do ano passado.

Além do apelo à população para que os residentes “sejam vacinados o mais rapidamente possível”, pois para ser eficaz a vacinação deve ser efectuada com duas a três semanas de antecedência, os SS apelaram ainda à higiene pessoal, à boa ventilação do ar. As autoridades aconselham ainda que sejam tomadas medidas preventivas contra picadas de mosquitos, caso os residentes se dirijam para outras regiões do sudeste asiático e ainda, que evitem levar crianças em viagem para esses locais ou para outros lugares turísticos.

Balanço optimista

No balanço das situações epidémicas feito ontem pelos SS, foi também revelado que entre as crianças até aos três anos, apenas menos de metade (48,5 por cento) tinham sido vacinadas contra a gripe. No entanto, para a coordenadora do núcleo de prevenção e doenças infecciosas, o número até mostra ser elevado tendo em conta os anos anteriores e a comparação com as regiões vizinhas.

“Este ano a vacinação é mais alta, porque nos anos anteriores os pais tinham de levar as suas crianças aos centros de saúde, mas este ano enviámos pessoal para as creches e por isso a taxa de vacinação é mais alta”, explicou Leong Iek Hou.

Os Serviços de Saúde, fizeram ainda o ponto de situação de outras doenças epidémicas como o sarampo, tendo havido registo, até agora, de 36 casos no total, sendo que destes 18 são importados de países como a China, Malásia, Tailândia, Japão, Nepal, Suíça e Reino Unido.

Quanto à varicela, os SS avançaram que a situação “está controlada”, acrescentado ainda que o número de casos de escarlatina “tem vindo a diminuir gradualmente” e que este ano foram importados 27 casos de dengue.

31 Dez 2019

SS e o Cometa Halley

[dropcap]O[/dropcap]ntem o GCS publicou um comunicado dos Serviços de Saúde (SS) às 9h40 sobre dois casos de infecção colectiva de gripe. Foi um dos momentos mais belos a que assisti. Não por ter qualquer predilecção virosa, mas pela raridade do evento.

Apanhar um comunicado dos SS a horas decentes num dia normal de expediente jornalístico é um acontecimento que deveria encher os céus de Macau com fogo-de-artifício, música nas ruas, beijos apaixonados e sorrisos rasgados. Se o caro leitor tiver a felicidade de aceder ao GCS e fizer uma busca por SS desde o início do mês vai reparar num padrão.

Dos 30 comunicados lançados este mês (até ontem às 16h40), apenas a gripe das 9h40 de ontem foi publicada de manhã. Se incluirmos este caso no universo de publicações verificamos que dos 30 comunicados, 5 viram a luz do dia até às 19 horas, aliás, depois do sol posto. Depois das 21h foram publicados 15 comunicados. Metade! E depois há aqueles que são lançados depois das 23h. Este mês não é excepção, se fizermos uma busca ao ano inteiro vemos o mesmo padrão. Daí a beleza da manhã de ontem.

Ainda me lembro quando vi o Cometa Halley, estávamos no ano de 1986. Primeiro era só um risco sem importância a cruzar os céus, depois um cosmos de magia abriu-se quando percebi o significado da raridade a que tinha assistido. Quem nasceu depois de 1986, ou estava a olhar para o chão nesse dia, só pode ver o Halley em 2061. Veremos quanto tempo um comunicado dos SS vai demorar a dar a volta ao GCS até ser avistado de manhã. Não sei quanto tempo será preciso, mas quando acontecer será mágico.

22 Nov 2019

Saúde | Serviços alertam para desinfectantes importados

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde de Macau emitiram um comunicado a alertar para a possibilidade de os desinfectantes “Smart Medi Chlorhexidine Antiseptic Solution” e “Dr. MAX’S Chlorhexidine Antiseptic Solution” terem sido contaminados com o vírus Burkholderia cepacia.
No mesmo apelo, os SSM avisam também a população para o risco do desinfectante “KS Medical Chlorhexidine Gluconate Antiseptic Sanitize” poder ter sido contaminado pelo vírus Achromobacter. “Entre os três produtos, apenas o Smart Medi Chlorhexidine Antiseptic Solution possui autorização da autoridade competente para ser importado e fornecido num hospital privado de Macau. Neste sentido, para assegurar a saúde pública, os Serviços de Saúde exigiram ao hospital privado e às firmas de venda por grosso para que procedam à recolha dos três desinfectantes”, pode ler-se no comunicado. “Os residentes que tenham adquirido estes produtos podem levar o desinfectante ao departamento de farmácia hospitalar onde o levantaram para as necessárias diligências”, foi acrescentado.
No mesmo aviso é explicado que os “vírus de Burkholderia cepacia e Achromobacter são bactérias comuns encontradas no ambiente, que geralmente não constituem risco para as pessoas saudáveis”. Contudo, segundo os SSM, os indivíduos “com baixa imunidade ou pacientes com doença pulmonares crónicas” podem ficar susceptíveis a infecções.

25 Set 2019

Saúde | Serviços alertam para desinfectantes importados

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde de Macau emitiram um comunicado a alertar para a possibilidade de os desinfectantes “Smart Medi Chlorhexidine Antiseptic Solution” e “Dr. MAX’S Chlorhexidine Antiseptic Solution” terem sido contaminados com o vírus Burkholderia cepacia.

No mesmo apelo, os SSM avisam também a população para o risco do desinfectante “KS Medical Chlorhexidine Gluconate Antiseptic Sanitize” poder ter sido contaminado pelo vírus Achromobacter. “Entre os três produtos, apenas o Smart Medi Chlorhexidine Antiseptic Solution possui autorização da autoridade competente para ser importado e fornecido num hospital privado de Macau. Neste sentido, para assegurar a saúde pública, os Serviços de Saúde exigiram ao hospital privado e às firmas de venda por grosso para que procedam à recolha dos três desinfectantes”, pode ler-se no comunicado. “Os residentes que tenham adquirido estes produtos podem levar o desinfectante ao departamento de farmácia hospitalar onde o levantaram para as necessárias diligências”, foi acrescentado.

No mesmo aviso é explicado que os “vírus de Burkholderia cepacia e Achromobacter são bactérias comuns encontradas no ambiente, que geralmente não constituem risco para as pessoas saudáveis”. Contudo, segundo os SSM, os indivíduos “com baixa imunidade ou pacientes com doença pulmonares crónicas” podem ficar susceptíveis a infecções.

25 Set 2019

Seguro Universal Saúde | Estudo revela que população prefere o sistema actual

Os resultados preliminares de um estudo da MUST sobre a implementação do seguro universal de saúde revelam que a maioria dos inquiridos prefere o actual sistema de apoio médico, afirmam os Serviços de Saúde

 

[dropcap]A[/dropcap] maioria dos inquiridos de entre a população local está satisfeita com o actual sistema de apoio a cuidados de saúde. A ideia é tirada dos resultados preliminares de um estudo sobre a implementação de um seguro de saúde universal no território, que está a ser desenvolvido pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST na sigla inglesa).

“De acordo com os dados preliminares da pesquisa, a maioria dos entrevistados prefere manter o actual sistema gratuito de cuidados médicos”, apontam os Serviços de Saúde (SS), em resposta a uma interpelação do deputado Sulu Sou acerca da implementação de um seguro universal de cuidados médicos. Os SS esperam ainda que “os resultados possam servir de referência para análise de políticas” no âmbito da saúde.

Custos partilhados

Para o Governo “o objectivo do sistema universal de garantia de cuidados de saúde é a inclusão de todos os residentes num quadro unificado de seguro médico” em que exista a partilha das despesas resultantes de doença “entre todos” – Governo e população – até porque se trata de uma matéria “também da responsabilidade da sociedade”. Desta forma, é necessário que “Governo e cidadãos reúnam fundos em conjunto”.

Dentro do campo do seguro médico, uma das características principais, defendem os SS, “é a igualdade e direitos e obrigações”, ou seja, “aqueles que pagarem o prémio do seguro médico, mesmo tendo o direito ao reembolso das despesas, têm também que continuar a suportar algumas despesas médicas”.

Para já, Macau dispõe de “um sistema de regalias, com uma garantia de acesso a cuidados de saúde abrangente e com mais cobertura”, isto porque também permite o acesso a tratamento especializado gratuito dos grupos vulneráveis da população, aponta o Governo.

Por outro lado, uma vez que o sistema de garantia de cuidados de saúde universal cobre “uma vasta gama de questões” e dado “o seu profundo impacto”, especialmente sobre aspectos económicos, só poderá ser implementado “com consenso social”, acrescentam os SS.

Os resultados finais do estudo que está a ser levado a cabo pela MUST deverão ser conhecidos no quarto trimestre deste ano.

Intenções de Ho

Entretanto, o seguro universal de saúde pode se implementado pelo Governo liderado por Ho Iat Seng. O objectivo é transferir a procura dos residentes dos serviços públicos para entidades privadas. “Se tivermos um seguro médico podemos então desviar alguns serviços para o sector privado. Assim, reduz-se a pressão económica” dos residentes, disse Ho na apresentação do programa político no passado sábado. Para já, o futuro Chefe do Executivo não se compromete porque é “apenas um candidato” e só quando formar Governo pode avançar com medidas, evitando assim ser criticado.

Na resposta a Sulu Sou, os SS recordam ainda que a esperança média de vida no território voltou a atingir um novo pico no ano passado, passando a ser de 83,7 anos, estando o território “nos primeiros lugares a nível mundial”.

15 Ago 2019

Governo vai formar mais enfermeiros especializados em saúde mental

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) vão formar mais enfermeiros especializados na área da saúde mental. A garantia foi deixada ontem pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, em resposta a interpelação de Ella Lei que se mostrou preocupada com as medidas de prevenção e intervenção neste sector, especialmente quanto à prevenção do suicídio. “Os SS planeiam no segundo programa de formação de enfermeiros especialistas – previsto decorrer de 2022 a 2024 – formar 10 enfermeiros especialistas psiquiátricos de modo a atender à necessidade de desenvolvimento dos serviços e à perda natural de pessoal”, apontou Alexis Tam.

Além desta medida e dada a escassez de profissionais em psicologia, o Governo pondera formar outros profissionais na área.

A sugestão foi dada por Ella Lei e Song Pek Kei. Ella considera que se tem de esperar muito tempo para se formarem psicólogos capazes de salvaguardar as necessidades locais. “Quanto a psicólogos também faltam em Macau. Nas organizações comunitárias, só 40 por cento são da área da psicologia e 60 são assistentes socias. Estas equipas são muito importantes”. Já Song Pek Kei, apontou que o Governo deve abrir vagas para ingresso na função pública “de conselheiros – temos muitos – e depois dar desenvolvimento profissional na área da psicologia”

“Em relação ao aconselhamento também concordo com a deputada”, referiu o secretário. “Encontrei-me com a associação dos psicólogos de Macau. Tivemos um intercâmbio e eu disse-lhes que esperamos que Macau tenha tratamentos para pessoas com problemas mentais. Podemos também convidar as associações profissionais desta área para elevar os níveis dos profissionais com mais acções de formação”, acrescentou.

Leong Sun Iok mostrou-se preocupado com a falta de certificação dos psicólogos. Apesar da questão, Alexis Tam não avançou com os próximos passos.

Diagnóstico local

Também na calha está um estudo de avaliação da saúde mental dos residentes. A sugestão foi dada por Ip Sio Kai que considera que, para melhorar os serviços prestados, é necessário, primeiro, saber as necessidades. “Sugiro ao Governo estudos sobre o estado psicológico das pessoas, perante o rápido desenvolvimento económico de Macau, para daí colocar melhor os recursos e resolver problemas”, disse.

A Ip, Alexis Tam respondeu que “futuramente vamos desenvolver essas acções de inquérito”.
Actualmente, os serviços de psiquiatria do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ) conta com 17 médicos especialistas e 46 enfermeiros. Entre estes enfermeiros, 10 têm a qualificação de especialistas. A equipa do serviço de psiquiatria conta ainda com 11 psicoterapeutas, seis terapeutas ocupacionais e oito assistentes sociais.

De acordo com o director dos serviços de psiquiatria do CHCSJ, “este ano vão ser recrutados mais nove psicoterapeutas” para “satisfazer as necessidades”. “Antigamente, o tempo de espera para consulta era de quatro meses e agora é de três semanas”, rematou.

Acerca da taxa de suicídio, o Governo esclareceu que, no ano passado, foi de 9,3 por 100 mil habitantes, “inferior ao padrão de alta taxa de suicídio definido pela Organização Mundial de Saúde – mais de 13 mortes por suicídio por 100 mil habitantes”.

7 Ago 2019

Medicina | Licenciados vão ganhar 50 mil no curso de especialidade

O director dos Serviços de Saúde revelou que um licenciado em medicina que faça especialidade em Macau vai auferir um salário de cerca de 50 mil patacas mensais. As formações serão feitas nos hospitais do território e do exterior e terão um prazo de seis anos

 

[dropcap]F[/dropcap]oram revelados mais detalhes sobre as condições concedidas aos licenciados em medicina que vão fazer a sua especialidade em Macau, na nova Academia Médica de Macau. De acordo com o Jornal do Cidadão, o director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), Lei Chin Ion, garantiu que cada licenciado em medicina irá ganhar cerca de 50 mil patacas mensais durante o curso da especialidade, que terá uma duração de seis anos.

Além disso, essa mesma especialidade será ministrada, em 90 por cento, nos hospitais de Macau e do exterior, tal como a China, Hong Kong ou Singapura, entre outros. Os formandos vão também ter aulas na Academia Médica, que ficará situada no edifício Centro Hotline, na zona do NAPE. A Academia Médica é formada por 12 colégios que se dividem em 40 secções.

Lei Chin Ion disse ainda que o número de admissões de licenciados, bem como o orçamento da entidade, vai depender das necessidades do sistema de saúde do território após os primeiros seis anos de funcionamento, bem como do ambiente de formação que os hospitais podem fornecer.

Especialidade à espera

Antes do estabelecimento da Academia Médica de Macau, a formação de médicos tem sido feita pelo Centro Hospitalar Conde de São Januário e Hospital Kiang Wu, sem que haja um plano global pensado para todas as entidades hospitalares e profissionais de saúde do território. A Academia Médica vem, por isso, coordenar o acesso à especialidade e o regime de internatos médicos.

Os primeiros membros admitidos pela Academia Médica precisam estar capacitados com conhecimentos e qualificações que correspondam à categoria de médico especialista. Lei Chin Ion explicou que já foram recebidas mais de 700 candidaturas, 384 das quais já foram aprovadas. Cerca de 83 por cento dos candidatos fizeram especialidade em hospitais locais.

Os membros aceites serão responsáveis pela orientação da formação dos licenciados no período de internato médico, além de serem júris na avaliação final desse mesmo internato. Como o regime legal de inscrição de médicos especialistas ainda não entrou em vigor, os finalistas dos cursos de especialidade administrados pela Academia Médica de Macau ficam, para já, com uma qualificação mais técnica, sem poderem exercer medicina na qualidade de especialistas, adiantou Lei Chin Ion.

15 Jul 2019

Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos de Portugal: “Macau está a apostar na qualidade”

Não há mais médicos a emigrar para Macau devido à falta de domínio do chinês, garante o bastonário da Ordem dos Médicos em Portugal. Miguel Guimarães destaca a excelência de dois profissionais recentemente contratados pelos Serviços de Saúde e assegura que o território está no bom caminho no que diz respeito ao desenvolvimento de uma medicina de qualidade. Quanto à Medicina Tradicional Chinesa, o bastonário assegura: “A China está a fazer o caminho da medicina convencional”

 

O sector da saúde em Portugal está a atravessar um momento complicado. Em termos de emigração de médicos, qual o cenário? Macau é um destino procurado?

[dropcap]E[/dropcap]stão a sair milhares de médicos, mas os números exactos nunca existem. As pessoas pedem à Ordem dos Médicos (OM) um documento que permite identificarem-se como médicos especialistas nos países europeus, e essas declarações têm registado uma quantidade acima do normal. Depois, muitos destes médicos emigram. São milhares de médicos e ultrapassam certamente os sete mil nos últimos anos, mas os que verdadeiramente emigraram, diria que são quase cinco mil. A grande saída de médicos acontece do sector público para o privado. Com a actual política de saúde que Portugal está a seguir, será difícil reverter esta tendência. As pessoas estão a ser maltratadas pela Ministra da Saúde e os médicos não tem boas condições de trabalho. Temos hospitais com muitas limitações. Há ainda a questão das remunerações, pois os médicos são pessimamente remunerados no SNS. Vão para Macau ganhar muitíssimo bem, nem é comparável. Mas não é preciso ir para Macau, basta irem para o sector privado ou para países como Espanha, Alemanha e Suíça. Temos uma formação de excelência em Portugal, das melhores do mundo, e passamos a vida a receber propostas de contratação de vários países, até de Macau e dos países do Médio Oriente. Temos uma situação complicada porque os nossos jovens são reconhecidos lá fora, e não apenas em medicina, e não ficam cá. Neste momento, mais de 50 por cento dos médicos que estão no Serviço Nacional de Saúde tem mais de 55 anos.

Quantas ofertas de contratação foram feitas pelos Serviços de Saúde de Macau?

Recebemos várias ofertas de Macau. A última que recebemos era para contratar 40 médicos, de especialidades diferentes. Mas não é fácil, porque Macau tem vantagens e inconvenientes, e o grande inconveniente, neste momento, é saber falar chinês para trabalhar. O último a ir foi o doutor José Miranda, para montar um serviço de cirurgia torácica, e ele vai dirigir esse serviço importante para Macau. Aliás, as pessoas vão para lá com projectos de topo, mas ele nasceu em Macau e fala chinês fluentemente.

Esse serviço vai ser no Centro Hospitalar Conde de São Januário.

Penso que sim. Para Macau também foi o doutor José Costa Maia, que em Portugal era director do serviço de cirurgia geral do Hospital de São João, um dos maiores hospitais portugueses, e que foi contratado especificamente para chefiar uma equipa na área da transplantação e cirurgia plástica. Macau está a ficar com uma medicina de topo, e neste momento levam pessoas com muita experiência. Dá a ideia que há uma grande aposta no sector da saúde, e isto tem uma vantagem muito grande para o território. Macau está a ter boas condições de trabalho e projectos interessantes de desenvolvimento em áreas específicas da medicina. Está a ser criada a Academia Médica de Macau, que lá será o equivalente à OM, e é um colega meu aqui de Lisboa que está lá há algum tempo a trabalhar nisso.

O que pensa dessa iniciativa da Academia?

É uma excelente iniciativa, porque a existência de instituições que zelam pela qualidade da medicina e pelo que é ética e deontologia da profissão são absolutamente essenciais. O facto de os médicos que estão lá terem uma associação própria com objectivos semelhantes aos da OM é um excelente princípio para que a medicina em Macau seja cada vez mais forte. A curto prazo ser uma boa locomotiva para se começar a fazer formação em Macau.

Há o plano para um curso de medicina numa universidade privada, que está a colaborar com universidades portuguesas. É também um passo importante?

Sim. Tive recentemente com o presidente do Conselho Nacional das Escolas Médicas, o doutor Fausto Pinto, e ele está a colaborar nesse projecto. É importante também para quem lá trabalha, porque a existência de um ambiente académico, mesmo que seja no sector privado, tem vantagens a vários níveis. Isso vai estimular a que as próprias unidades de saúde se preocupem com a formação pós-graduada. Qualquer dia começam a formar-se lá médicos de elevada qualidade. Como temos em Macau cerca de 100 médicos portugueses, isso pode ser um bom princípio para conseguirmos ir mais além.

Nos anos 90 havia cerca de 150 médicos portugueses, e muitos deles saíram no contexto da transferência de soberania. Isso causou problemas em termos de recursos humanos no serviço público de saúde.

O actual Governo de Macau está a tentar resolver essas consequências, por isso é que tem tentado contratar médicos e tem-se mantido esta relação estreita com Portugal. Esta relação é importante para nós, os chineses estão a respeitar isso e é bom, porque há alguma tradição. Manter este elo de comunicação entre a China e Portugal é importante, porque a China tem um papel que tem de ser considerado, com força, iniciativa e capacidade de inovação. Esta ponte através de Macau é importante, e a ideia de termos lá os nossos médicos, com projectos de trabalho de elevado nível, e de haver uma escola médica em Macau, é um caminho excelente para a China e Portugal. As coisas em Macau estão a correr bem e há uma evolução positiva, com uma boa integração das pessoas que lá trabalham. É uma aposta no desenvolvimento que está a dar frutos, além de que Macau está numa situação bem mais pacífica do que Hong Kong.

Na área da medicina, é melhor que Macau continue a colaborar com Portugal do que com Hong Kong, que está ali ao lado?

É bom Macau aproveitar as duas sinergias, dos portugueses e de Hong Kong, pois o território pode dar coisas boas também. Macau está a contratar a Portugal médicos de topo. Os médicos que foram para lá tinham aqui lugares importantíssimos, são excelentes profissionais. Macau está a fazer uma aposta na qualidade e é bom que haja diversidade.

Fala-se muito da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), e há vários protocolos assinados entre a China e Portugal…

Mas não entra a OM. Temos algumas reservas face a políticas que possam ser implementadas sem que haja evidências científicas. A MTC é constituída por uma série de técnicas que engloba desde terapêuticas como a acupuntura até à fitoterapia, que é aquela que mais problemas levanta. Sei o que estavam a fazer na China há uns tempos atrás, pois visitei durante um mês algumas das cidades mais importantes do país e acho que os próprios chineses estão preocupados com isto. Quando visitei o hospital principal de Pequim eles tinham a medicina convencional, que é a predominante, nesse hospital era 95 por cento, e depois tinham um espaço para MTC, onde estavam a testar a eficácia de alguns produtos e técnicas. Os chineses quando têm problemas vão a hospitais como nós vamos, porque sabem a importância do tratamento em doenças como o cancro, que não se trata com plantas ou agulhas. Isto foi a evolução que a China teve. Há milhares de anos estes produtos podiam ter efeitos positivos, mas hoje vivemos uma era em que a evidência científica é fundamental. Cerca de 95 por cento dos produtos testados da MTC caem por terra.

Assusta-o que haja cada vez mais protocolos nesta área em Portugal?

Não sei que parcerias existem, mas acho que a China, mesmo mantendo algumas das suas tradições que são milenares em algumas matérias, deve seguir aquele caminho que o resto do mundo tem seguido, que é o da valorização da ciência. É ela que permite que a esperança média de vida em Portugal seja superior aos 80 anos, e que o HIV possa ter cura daqui a uns anos, dentro de pouco tempo.

Ao nível da OM, quer estabelecer mais parcerias com a China?

A OM, através do seu departamento internacional, tem uma estratégia importante, seja a nível europeu seja mundial, em várias áreas específicas. Não temos uma relação muito estreita com a China a esse nível, mas é uma área que também é importante para nós. É importante perceber o que se está a fazer em termos de medicina convencional na China e também em Macau. Os chineses têm uma grande potencialidade em termos de investigação, e há milhares de trabalhos a saírem para o desenvolvimento de novas moléculas, por exemplo.

A comunidade médica internacional olha para o sistema de saúde na China com mais confiança?

Neste momento, temos a ideia de que a China está a fazer o caminho da medicina convencional.

E não o da MTC.

Não, porque repare: os chineses são como nós, inteligentes e tudo mais, e as pessoas vão-se apercebendo que a MTC é um património dos chineses, e foi um património que teve um valor durante muitos anos e hoje já perceberam que quando têm um problema de saúde devem fazer o que está provado que faz bem. Há plantas que até podem diminuir a dor. O grande problema da fitoterapia é que tem imensos princípios activos, que podem ter efeitos positivos, mas também muito negativos. Há que separar o trigo do joio e ver aquilo que a medicina convencional pode incorporar e aquilo que, dada a evolução da medicina, já não dá para utilizar.

4 Jul 2019