Salomé Fernandes SociedadeSaúde mental | Espera média de 18 dias para consultas de psiquiatria [dropcap]A[/dropcap] secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Iong, defendeu ontem que a acessibilidade a serviços de saúde mental “é bastante elevada”, destacando que existem consultas externas em centros de saúde e são subsidiadas instituições para serviços psicológicos gratuitos na comunidade. “Nos primeiros três trimestres de 2020, o tempo médio de espera para a primeira consulta externa especializada de psiquiatria [foi] de 18 dias”, declarou. Sobre o aumento dos casos de suicídio, o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, revelou que face ao ano passado houve uma subida associada a doenças crónicas, mas que houve apenas mais um caso ligado a doenças psicológicas.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesA saúde mental e o sexo [dropcap]D[/dropcap]ia 10 de Outubro celebrou-se o dia da saúde mental. Foram imensas as publicações que trouxeram alguma consciência para o tema. Até poderia parecer que o sexo não tem nada a ver com isso, mas tem bastante. Até 1973 a homossexualidade fazia parte do manual de doenças psiquiátricas, e até 1992 ainda se considerava uma doença pela organização mundial de saúde. A sexualidade humana está envolta em muitas amarras ideológicas, heteronormativas, que criam limites de um suposto normal e de um suposto desviante, ou psicopatológico. Uma vida de não-conformismo com uma visão do sexo e género tradicionais, exige uma luta constante por legitimidade, visibilidade e normalização. Não é por acaso que muitos estudos mostram a maior prevalência de ideação suicida em jovens LGBTQI. A forma como as sociedades ainda não acolhem a diversidade sexual traz consequências sérias à subjectividade. Um desajuste que ainda é fonte de conflito e de mau-estar. O problema não é o não-conformismo, o problema é que os outros não sabem ainda recebê-lo. Neste dia da saúde mental não basta pensar nas psicologias fora da norma, mas nas condições que fazem com que sejam entendidas como tal. Sou eu que estou mal? Ou são os outros que não conseguem receber-me? Alguns académicos defendem a inclusão da sexualidade nos modelos de saúde e bem-estar. Principalmente porque o sexo como prazer não é elaborado o suficiente. A literatura mostra os benefícios do sexo para a saúde mental, como por exemplo, no alívio do stress, na criação de auto-estima e no processo de vinculação com o outro. O sexo está no meio do que julgamos intimidade e relação. Mas raramente vemos esse tipo de discurso nos canais oficiais – normalmente vemos o foco no sexo, como procriação, e na prevenção de comportamentos de risco. Discursos oficiais também podiam explorar o sexo como potencial mecanismo para reestruturar as nossas emoções e vivências se existir aceitação identitária e sexual – que é tanto um processo individual como relacional. De novo, as psicologias dependem tanto do que acontece dentro de nós, como com o outro-macro-ecológico que perpetua significados do que é expectável ou não. O sexo está no centro destas dinâmicas. Queria, contudo, ressaltar que, ao fomentar um discurso em que o sexo é tudo de bom, e que as pessoas saudáveis se entregam ao prazer com mais regularidade, corremos o risco de excluir a assexualidade como uma forma, igualmente saudável, de se viver. Quando se tenta relacionar o sexo e o bem-estar é necessária uma gestão e análise cuidada dos limites que se criam e se re-criam do que deve ser normal ou não: e como se inclui ou se exclui certas vivências. O sexo como objecto social e como experiência vivida ajuda a propor uma visão integrada do bem-estar. A saúde mental ainda tenta dicotomizar o mundo entre normalidades e desvios, sem olhar para os espectros do bem-estar de forma contínua, tal como a sexualidade tenta propor. Só fazendo uso de uma visão integrada destas dinâmicas é que conseguimos dar resposta ao desafio de se estar neste mundo de diversidades e adversidades, onde a normalidade é continuamente, e felizmente, contestada.
Sofia Margarida Mota PolíticaGoverno vai formar mais enfermeiros especializados em saúde mental [dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) vão formar mais enfermeiros especializados na área da saúde mental. A garantia foi deixada ontem pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, em resposta a interpelação de Ella Lei que se mostrou preocupada com as medidas de prevenção e intervenção neste sector, especialmente quanto à prevenção do suicídio. “Os SS planeiam no segundo programa de formação de enfermeiros especialistas – previsto decorrer de 2022 a 2024 – formar 10 enfermeiros especialistas psiquiátricos de modo a atender à necessidade de desenvolvimento dos serviços e à perda natural de pessoal”, apontou Alexis Tam. Além desta medida e dada a escassez de profissionais em psicologia, o Governo pondera formar outros profissionais na área. A sugestão foi dada por Ella Lei e Song Pek Kei. Ella considera que se tem de esperar muito tempo para se formarem psicólogos capazes de salvaguardar as necessidades locais. “Quanto a psicólogos também faltam em Macau. Nas organizações comunitárias, só 40 por cento são da área da psicologia e 60 são assistentes socias. Estas equipas são muito importantes”. Já Song Pek Kei, apontou que o Governo deve abrir vagas para ingresso na função pública “de conselheiros – temos muitos – e depois dar desenvolvimento profissional na área da psicologia” “Em relação ao aconselhamento também concordo com a deputada”, referiu o secretário. “Encontrei-me com a associação dos psicólogos de Macau. Tivemos um intercâmbio e eu disse-lhes que esperamos que Macau tenha tratamentos para pessoas com problemas mentais. Podemos também convidar as associações profissionais desta área para elevar os níveis dos profissionais com mais acções de formação”, acrescentou. Leong Sun Iok mostrou-se preocupado com a falta de certificação dos psicólogos. Apesar da questão, Alexis Tam não avançou com os próximos passos. Diagnóstico local Também na calha está um estudo de avaliação da saúde mental dos residentes. A sugestão foi dada por Ip Sio Kai que considera que, para melhorar os serviços prestados, é necessário, primeiro, saber as necessidades. “Sugiro ao Governo estudos sobre o estado psicológico das pessoas, perante o rápido desenvolvimento económico de Macau, para daí colocar melhor os recursos e resolver problemas”, disse. A Ip, Alexis Tam respondeu que “futuramente vamos desenvolver essas acções de inquérito”. Actualmente, os serviços de psiquiatria do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ) conta com 17 médicos especialistas e 46 enfermeiros. Entre estes enfermeiros, 10 têm a qualificação de especialistas. A equipa do serviço de psiquiatria conta ainda com 11 psicoterapeutas, seis terapeutas ocupacionais e oito assistentes sociais. De acordo com o director dos serviços de psiquiatria do CHCSJ, “este ano vão ser recrutados mais nove psicoterapeutas” para “satisfazer as necessidades”. “Antigamente, o tempo de espera para consulta era de quatro meses e agora é de três semanas”, rematou. Acerca da taxa de suicídio, o Governo esclareceu que, no ano passado, foi de 9,3 por 100 mil habitantes, “inferior ao padrão de alta taxa de suicídio definido pela Organização Mundial de Saúde – mais de 13 mortes por suicídio por 100 mil habitantes”.
Hoje Macau SociedadeSaúde mental | Cada vez mais jovens recorrem a tratamento O número de pessoas que recorrem aos serviços de apoio psicológico e psiquiátrico é cada vez maior e cerca de 20 por cento dos que pedem ajuda são jovens. Os números são preocupantes e Macau não tem psicólogos suficientes [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]xistem cada vez mais jovens a receber tratamento para doenças mentais. O tema esteve ontem de manhã em debate no programa Fórum Macau, da Ou Mun Tin Toi. Cerca de 20 por cento dos pacientes a receberem tratamento para doenças mentais têm entre 18 e 25 anos, de acordo com os dados revelados por Sou Keng Leong, secretário–geral da Associação Richmond Fellowship. O número de jovens que está em tratamento “tem vindo a aumentar” e para Sou Keng Leong esta é uma situação que “tem um grande impacto”. O representante da Associação Richmond Fellowship recorda que são pessoas, por norma sem experiência de trabalho e que podem estar ainda a estudar. O aumento daqueles que precisam de acompanhamento foi já referido pela presidente do Instituto de Acção Social, Celeste Vong. Para a responsável, o aumento dos problemas mentais é natural nas circunstâncias actuais do território. “É natural que durante as épocas de crescimento económico sejam agravados os problemas de cariz psicológico. Há mais stress, a constituição das famílias agora também é diferente, é mais pequena. Antigamente, os casais tinham, por regra, mais filhos. Era normal terem quatro ou cinco filhos, o que fazia com que houvesse pessoas dentro de casa com quem partilhar problemas, angustias e mesmo as alegrias. Agora, os pais têm um ou dois filhos, trabalham e o stress pode ser maior do que antes”, referiu em entrevista ao HM, no passado mês de Dezembro. Celeste Vong alertou ainda para o facto deste tipo de problemas afectarem essencialmente os jovens. Um problema abrangente Para Sou Keng Leong é ainda necessário prestar mais apoio aos mais velhos que se encontram em tratamento. Para o responsável, são pessoas que muitas vezes enfrentam perdas de amigos e mesmo de emprego, derivado à condição de saúde que enfrentam. De acordo com Sou Keng Leong, 530 pessoas recebem actualmente tratamento na associação, refere o canal de rádio da TDM. A falta de profissionais nesta área é uma das questões levantadas por Elvo Sou, presidente da Associação de Psicologia de Macau. Nesta altura, o território conta com 50 psicólogos, incluindo nos Serviços de Saúde, e 300 assistentes. Elvo Sou diz que desta forma é difícil aumentar o nível profissional e a qualidade dos serviços. O presidente da associação espera que a situação possa ser melhorada no futuro. Elvo Sou refere também que os pacientes deste grupo têm tendência para ideias suicidas e alerta para que as famílias estejam atentas, como forma de prevenção para estes casos.
Hoje Macau China / ÁsiaChina e Índia enfrentam vasto problema de saúde mental [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais de um terço da população chinesa e indiana sofre de problemas mentais, mas apenas uma pequena fracção recebe tratamento médico adequado, indicam estudos ontem divulgados pela revista britânica “The Lancet”. Há mais pessoas com problemas mentais, neurológicos ou relacionados com o uso de substâncias nos dois países mais populosos do mundo do que em todos as economias desenvolvidas combinadas, indicam as investigações. Este problema agravar-se-á nas próximas décadas, especialmente na Índia, onde deverá afectar um quarto da população em 2025. A China está já a enfrentar uma rápida subida de problemas de demência, uma tendência relacionada com o envelhecimento da população, fruto das políticas de controlo da natalidade iniciadas há mais de 35 anos. Não há condições Nenhum dos dois países está equipado adequadamente para enfrentar as necessidades relacionadas com a saúde mental, de acordo com relatórios publicados nas publicações médicas “The Lancet” e “The Lancet Psychiatry” e “China-India Mental Health Alliance”, divulgados pela agência France Presse. Na China, apenas 6% das pessoas com problemas de saúde mental, como depressão, desordens relacionadas com a ansiedade, ou com o abuso de substâncias e demência procurou ajuda médica, indicam as investigações. “A falta de assistência médica nas zonas rurais” é especialmente grave, explica Michael Phillips, um dos coordenadores das investigações e professor na Emory University em Atlanta e na Jiao Tong University em Shangai. Mais de metade dos doentes com desordens psicóticas graves, como a esquizofrenia, não são diagnosticados e muitos menos recebem tratamento, acrescenta o investigador. Na Índia, a percentagem da população com problemas mentais que recebe tratamento é igualmente pequena, o que contrasta com taxas acima de 70% verificadas nos países desenvolvidos. No campo ainda é pior A divisão entre as economias desenvolvidas e estes gigantes populacionais é também expressiva no que concerne os orçamentos empregues no tratamento das doenças mentais. Enquanto na China e na Índia, os orçamentos de saúde consagram menos de 1% à saúde mental, nos Estados Unidos, por exemplo, este valor ascende quase a 6% e em França e na Alemanha alcança os dois dígitos. Tanto a Índia como a China lançaram recentemente políticas de supressão de necessidades relacionadas com as doenças mentais, mas a realidade no terreno mostra que há ainda muito caminho a percorrer. “As carências de tratamento, especialmente nas zonas rurais, são muito grandes”, afirma a propósito da Índia Vikram Patel, um professor na London School of Hygiene and Tropical Medicine. Mas na China a realidade não é diferente. Deverá demorar décadas para que cada um destes países resolva estas necessidades, concluem os estudos. Os investigadores sugerem que um largo conjunto de praticantes tradicionais na Índia e na China podem ser treinados para reconhecer problemas de saúde mental e ajudar com tratamento.