Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeProjectos arquitectónicos de Rui Leão e Carlotta Bruni distinguidos Dois projectos arquitectónicos desenvolvidos pelo atelier LBA – Arquitectura e Planeamento, de Rui Leão e Carlotta Bruni, ganharam os prémios de Ouro e Prata dos Prémios ADC [Architecture and Design Community] de 2022. O projecto do Centro Modal de Transportes da Barra ganhou a distinção Ouro, tal como o projecto do complexo habitacional do Fai Chi Kei, enquanto a renovação de um edifício de serviços no centro histórico de Macau obteve a distinção Prata. De frisar que este projecto foi recentemente distinguido pela UNESCO. Sobre os Prémios ADC, Rui Leão disse ao HM que “representam o trabalho feito pelo atelier nos últimos anos e é um reconhecimento internacional muito importante”, além de serem uma verificação “da arquitectura que produzimos, que mostra que aquilo que fazemos tem qualidade”. O arquitecto não está surpreendido por ter obtido a distinção Ouro com o Centro Modal de Transportes da Barra, pois trata-se de “um projecto muito bom enquanto desenho de arquitectura”. Rui Leão recorda “um projecto difícil, pois a execução da obra foi difícil e demorada. Custou-nos um pouco isso porque houve um grande investimento do projecto”, com a coordenação de diversas entidades públicas. “Se demorou muito tempo foi porque houve muitos problemas na construção. Mas é importante que o projecto seja reconhecido e, para nós, é uma forma de reconciliação com tudo isto.” “Agarrar” a cidade Em relação ao complexo habitacional do Fai Chi Kei, já distinguido anteriormente, Rui Leão destaca sobretudo a ligação com a cidade. “Apesar de ter sido concluído em 2014 é um projecto que se mantém muito actual, porque tem uma exploração a nível do espaço comum e do público, pela maneira como agarra a cidade. A importância que atribuo ao projecto do Fai Chi Kei é o facto de fazer isso mesmo, desenhar a cidade e ter preocupações de integração social. O arquitecto aponta que, nos últimos 10 a 15 anos, a forma de construir foi mudando. “Macau evoluiu muito nestes últimos anos e a maneira como se trabalha, em termos de exigência técnica para a área de projecto, aumentou muito nos últimos 10 a 15 anos, e isso está associado à construção dos grandes casinos, que têm uma escala muito diferente e maiores controlos de qualidade. Toda a indústria teve de acompanhar esse ritmo e o próprio Governo foi atrás dessa prática internacional associada aos casinos”, concluiu.
Hoje Macau SociedadeArquitectura | UNESCO distingue Rui Leão e Carlotta Bruni com prémio de inovação Os dois arquitectos foram distinguidos com um prémio de inovação em construção, por um projecto na zona antiga da cidade que junta um depósito de lixo e um posto de transformadores A UNESCO atribuiu na sexta-feira um prémio de inovação em construção aos arquitectos Rui Leão e Carlotta Bruni por um edifício de serviços construído na zona antiga de Macau. O edifício, que junta um depósito de lixo e um posto de transformadores, é um exemplo de “um novo design inovador num contexto de património mundial”, de acordo com uma declaração publicada no ‘site’ da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que atribui os prémios “Conservação do Património Cultural na Ásia-Pacífico”, em Banguecoque. O projecto “integra-se habilmente num cenário desafiante, num lote urbano apertado, na zona tampão do Centro Histórico do Património Mundial de Macau”, em que a nova estrutura “cria uma interacção com as casas vizinhas e o espaço público”, acrescentou o júri dos prémios, que analisou um total de 50 entradas de 11 países e regiões da região da Ásia-Pacífico. Rui Leão, também presidente do Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP), sublinhou que este prémio da UNESCO veio mostrar a importância “de intervir de forma exemplar numa cidade com património mundial”, distinguido “por ser notável e excepcional”. “Se temos este património e capacidade no passado, também temos que ter essa capacidade actualmente”, considerou, em declarações à Lusa. Leão radiante Afirmando “estar radiante com este prémio”, o arquitecto considerou que a distinção “é a confirmação de que Macau consegue produzir arquitectura de excepção em ambiente de património e [este projecto] é um exemplo para demonstrar que é possível inserir novas infra-estruturas num contexto histórico sem o desqualificar e, além disso, torná-lo mais interessante e rico”. O arquitecto sublinhou que “é preciso observar, perceber, interpretar e transformar”, sendo “também isso que este prémio reconhece”. Trata-se de um sítio “muito qualificado, muito especial [junto do Pátio da Eterna Felicidade], onde se encontram um urbanismo português e um urbanismo chinês”, explicou. “Urbanismos completamente diferentes que colidem um com o outro em diferentes pontos da cidade, por isso fizemos neste projecto um exercício de encontro que mantém a continuidade e o torna extraordinário”, disse Rui Leão. Desde 2000, o programa de Prémios Ásia-Pacífico da UNESCO para a Conservação do Património Cultural tem vindo a reconhecer os esforços de indivíduos e organizações privadas na restauração, conservação e transformação de estruturas e edifícios de valor patrimonial na região. Os projectos premiados têm demonstrado, até agora, vários critérios de conservação, tais como a articulação do espírito do lugar, realização técnica, utilização ou adaptação adequada, o envolvimento do projecto com a comunidade local, e a contribuição do projecto para melhorar a sustentabilidade do ambiente circundante e não só.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteRui Leão, arquitecto e presidente da Docomomo Macau: “A arquitectura moderna está a desaparecer” A Docomomo Macau lança amanhã um guia sobre os principais edifícios de arquitectura moderna em Macau, intitulado “Macau Modern Architecture – Walking Guide”, que propõe oito roteiros pela cidade. O lançamento será acompanhado por uma discussão sobre arquitectura e identidade. O arquitecto Rui Leão, presidente da Docomomo Macau, defende que a população devia ser sensibilizada para a importância do património arquitectónico da cidade Este guia é o levantamento que faltava sobre os principais exemplos de arquitectura moderna em Macau? Sim. Isto era importante para a Docomomo, porque, no fundo, o nosso trabalho principal consiste em documentar o património do movimento moderno. O guia é uma peça importante que nos permite comunicar este conjunto de obras, todas notáveis, e que devem ser objecto de atenção e conhecimento da parte de todos. Tenho-me apercebido de que há um desconhecimento muito grande em relação à arquitectura moderna que existe na cidade. O guia é o instrumento que tem mais potencial para comunicar este conjunto de obras a um público alargado. Muitas obras estão maltratadas, os proprietários não têm interesse ou capacidade de reinvestir e renovar. A maior parte dos edifícios estão em risco de desaparecer, de serem demolidos ou objecto de uma intervenção que os possa desconfigurar mais, uma vez que não estão salvaguardados ou classificados. Quais os principais edifícios incluídos no guia? É uma lista de 40 edifícios, organizados em oito conjuntos que correspondem a oito áreas. O livro sugere oito passeios, que estão em grande parte distribuídos pela península de Macau, incluindo alguma selecção de edifícios em Coloane. Temos quatro passeios na zona sul da península e três passeios na zona norte. Para si, qual é o edifício mais icónico? Há uma grande diversidade, tanto em termos de autores como do tipo de edifícios. Mas é isso que também torna o património moderno de Macau muito rico. A minha selecção passa, por um lado, pelos autores que elegemos. Há um período mais remoto, em que a arquitectura era muito traçada por engenheiros ou desenhadores, macaenses e chineses, principalmente. Desse período [destaco] a obra de Canavarro Nolasco da Silva, na maioria em torno do Hotel Central. O Aureliano Guterres Jorge é outro belíssimo arquitecto. Ele era engenheiro, mas o trabalho dele como arquitecto e engenheiro é bastante notável. A obra do Aureliano foi, na sua maioria, já demolida, mas como referência temos o edifício muito bonito no princípio da Rua dos Ervanários, que tem uma varanda em cima. Destaco também o José Lei, chinês de Macau, autor do bloco de habitação Rainha D. Leonor. Porque é que estes autores são tão importantes? Eles marcam muito uma era e têm um conjunto de obras bastante internacional, apesar de serem pessoas sempre baseadas em Macau, tanto em termos de prática como de formação. Mas o facto de ser uma obra tão internacional também nos diz qualquer coisa sobre a cidade, que foi, ao longo do século XX, muito aberta, cosmopolita e multicultural, onde as coisas chegavam através de Xangai, Hong Kong e Portugal. Há ainda um segundo conjunto de obras que são da segunda metade do século XX, onde se inclui a obra de José Maneiras, do Manuel Vicente e algumas coisas do Oseo Acconci. Este é um período em que os programas são mais complexos e incluem-se edifícios mais complexos, maiores e com elementos mais sofisticados. Passaram a haver ateliers de arquitectura, o que fez uma grande diferença. Se calhar, do primeiro conjunto, o José Lei era mesmo arquitecto e teve um atelier muito importante em Hong Kong onde chegou a ser director das Obras Públicas. Como foi o processo de escolha dos edifícios? Foi um trabalho desenvolvido por um conjunto de pessoas da Docomomo e que foi objecto de vários ciclos de discussão ao longo dos anos. Num segundo momento, foi objecto de revisão de pares da parte de colegas nossos especialistas em património ou arquitectos que tenham conhecimento sobre o património modernista em Macau. O livro faz então propostas de percursos que poderiam ser turísticos. Considera que deveriam ser tidas em conta pelo Governo, como uma alternativa diferenciadora? Sem dúvida, mas não apenas o Governo, mas também os operadores de turismo e todas as pessoas envolvidas nesse tipo de projectos, porque isso tem a ver com o conhecimento da cidade. Este livro permite concluir que há mais produtos que podem ser promovidos como parte da cultura de Macau e que têm grande interesse e qualidade. Havendo conhecimento e esse tipo de oferta, consegue-se gerar um novo tipo de mercado e de movimento de pessoas que se interessam por arquitectura e modernismo. Além do lançamento do livro vão também ter duas mesas redondas onde será discutida a arquitectura moderna que resta em Macau. Esses eventos vão recair na comunicação do conteúdo do livro a outros sectores da sociedade. Não entendemos que o livro tenha de ter um lançamento e ponto final, mas queremos que seja um objecto de trabalho a partir do qual possamos ter um certo tipo de discussão com diferentes sectores da sociedade. Queremos também promover um debate sobre até que ponto o património é um elemento na construção da nossa identidade. Essa identidade tem vários pontos de vista, porque a comunidade chinesa, com uma cultura completamente diferente da portuguesa, dará outro lugar ao património, pelo que a discussão e os pontos de vista não serão os mesmos. A discussão em torno do património deveria existir de forma mais alargada e sistemática num lugar como Macau. Digo isto em tom de crítica em relação à sociedade civil. É uma discussão que está a ser atrasada, o que prejudica muito a cidade. Enquanto as pessoas não se relacionarem com o património de forma consciente, com entendimento sobre o que significa, é difícil haver políticas sérias de património. Estes debates pretendem, então, fomentar a consciencialização da população sobre este tipo de arquitectura? A nossa intenção é essa com estes primeiros debates que são ainda num campo mais alargado com pessoas que têm relação próxima com questões do património e identidade. As outras conversas que incluímos neste ciclo contarão com operadores de turismo e a esfera académica, além de que teremos uma terceira com entidades ligadas ao património. A ideia é que, com este ciclo, possamos criar uma rede de conversas e um movimento a partir do livro. Temos finalmente um plano director. Assegura a protecção deste tipo de património? Faz algumas referências muito genéricas à questão da salvaguarda do património e remete para planos de pormenor. Mas o instrumento que deveria instruir rigor nas políticas de salvaguarda do património é o plano de salvaguarda, que aparentemente existe, mas nunca foi publicado. A pandemia e a situação que se vive em Macau afectou a percepção da população em relação à importância da salvaguarda deste tipo de património? Não lhe sei responder. Acho que as pessoas ficaram mais sensíveis porque foram obrigadas a olhar mais para a cidade, mas não sei se isso terá sido suficiente para se questionarem ou terem mais apreço [pelo património]. As pessoas são muito diferentes e vejo diferenças entre mim, que sou português e tenho uma formação diferente, e para mim o lugar da arquitectura é muito claro. Para mim a arquitectura e os espaços públicos são essenciais no meu imaginário, na minha ideia de estar em Macau e na relação que existe com o passado português. Privilegio a arquitectura como algo central. Depois há pessoas na comunidade chinesa que têm pouco à vontade com o património no sentido em que ele pode ter conotações coloniais. Há diferenças que fazem desta discussão muito interessante, e que é preciso fomentar. Por isso, achamos que este ciclo de conversas era oportuno. Conversas e debates O lançamento do guia faz-se acompanhar por um debate que será o primeiro de muitos em torno da temática da arquitectura modernista. A livraria Pin-to acolhe uma mesa redonda que conta com a presença de Agnes Lam, ex-deputada e docente na Universidade de Macau, Christine Choi, presidente da Associação dos Arquitectos de Macau, e Chan Shui Wing, historiador de Macau. O tema do debate será em torno do património modernista de Macau e as questões de identidade. Um segundo debate, também centrado na arquitectura moderna que resta em Macau, acontece dia 6 de Outubro na Livraria Portuguesa. Os dois eventos inserem-se na iniciativa “Conversas sobre a Arquitectura Moderna de Macau [Talks on Macau Modern Architecture], que regressa em Dezembro e Abril do próximo ano.
Pedro Arede Manchete SociedadeLago Nam Van | Rui Leão defende estudo de impacto visual Rui Leão defende que o Governo deve encomendar um estudo de impacto visual para as construções previstas para os lotes C1 e C4 do Lago Nam Van. Em causa, está o facto de a altura dos futuros edifícios, poder vir a impactar negativamente a envolvência de património classificado, como a Fortaleza de Nossa Sra. do Bom Parto, a Residência Consular Portuguesa e Igreja da Penha O arquitecto Rui Leão considera que o facto de existirem três edifícios classificados na área envolvente dos lotes C1 e C4 do Lago Nam Van, onde se prevê a construção de edifícios até 50 metros de altura junto ao actual edifício do Tribunal Judicial de Base, justifica a encomenda de um estudo de impacto visual por parte do Governo. Em causa, segundo os comentários elencados por Rui Leão através de uma nota escrita, está o impacto negativo que as novas construções poderão vir a ter nas imediações da Fortaleza de Nossa Sra. do Bom Parto (Monumento Classificado), da Residência Consular Portuguesa e da Igreja da Penha, sendo estes últimos classificados como edifícios de interesse arquitectónico. Para o arquitecto, a encomenda de estudos de impacto visual sobre a planta de condições urbanísticas (PCU) em questão, “justifica-se” dado estarem “previstos na Lei de Salvaguarda de Património para edifícios classificados ou em vias de classificação” e no “Plano de Gestão de Património, elaborado pelo Governo da RAEM”. Isto, além de que este tipo de estudo “é prática corrente pelo mundo fora”, incluindo em Hong Kong, China, Singapura, Japão, Coreia do Sul e Malásia. “Será má prática que num caso tão gritante, onde se encontram três edifícios classificados, não se cumpra com boas práticas de impacto visual sobre a áreas de património”, pode ler-se na nota enviada. “Caso esta PCU avance sem ser questionada e re-equacionada, para que precisamos de Leis e Planos de Gestão e Salvaguarda, se eles não são aplicados quando existe um contexto explicitamente essencial e crítico de valores patrimoniais. Não é obrigação do Governo (…) estabelecer precedentes nas situações que são exemplarmente importantes e em contextos históricos de relevância para história de Macau, como aliás foi o caso do Farol da Guia em 2008?”, questionou ainda Rui Leão. Para firmar a necessidade de realizar o estudo, o arquitecto alerta ainda para o facto de os corredores visuais definidos para a área serem “precários e indicativos”, dado que o impacto das novas construções apenas foi avaliado da partir de um único ponto de vista, ou seja um corredor visual, e não de um “campo alargado”. “Chamo a atenção que se devia falar neste caso em cone visual protegido, e nunca de corredor visual. Isto porque o corredor visual é claramente a definição de uma linha, e um cone visual é um campo alargado”, apontou. Respeitar a memória Para Rui Leão, a questão é tanto mais premente, tendo em conta que defende que as autoridades devem respeitar o plano original do “Fecho da Baía da Praia Grande”, que tinha como intenção, não só separar os novos aterros da linha histórica da costa através da criação de dois lagos, mas também de “manter a linha de encontro entre a cidade e o rio bem visível e reconhecível”. Por isso mesmo, o arquitecto considera que “não faz sentido” permitir que as cotas máximas permitidas sejam definidas de acordo com a cota alta do monte da Penha porque o contexto urbano em causa é diferente e se assume como ponto-chave para ligar “os novos aterros à antiga marginal, à Fortaleza do Bom Parto e à encosta”. Na opinião de Rui Leão, como alternativa, deve ser ponderado um traçado que obstrua “significativamente menos” os três edifícios classificados e o recorte da encosta da Penha. O arquitecto sugere, por isso, que a altura das construções seja definida como uma “sequência de degraus”, que diminui à medida que se afasta do edifício do futuro tribunal e se aproxima da Fortaleza do Bom Parto.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteRui Leão, arquitecto e membro da lista de Agnes Lam: “Não há indústrias criativas sem liberdade” Rui Leão, sétimo membro da candidatura de Agnes Lam às legislativas, diz que a população “foi um bocado apanhada de surpresa” com a decisão da CAEAL e que será difícil perceber se a desqualificação de alguns candidatos terá impacto nos votos obtidos pela lista Observatório Cívico. O arquitecto assume “ter pena, mas compreende” o alheamento da comunidade portuguesa em relação à política local Escreveu no Facebook que a sua participação na lista Observatório Cívico visa chamar a atenção para a necessidade de políticas que respondam ao que Macau precisa na área do urbanismo. Concretamente, que medidas propõem? No programa anterior já existiam alguns assuntos que considerávamos urgentes, como a questão da habitação e a problemática da classe sanduíche. Mas há as questões do urbanismo e património, no sentido de haver um maior cuidado nas zonas de protecção e nas zonas históricas. Essas áreas, sobretudo a do património, mantêm-se actuais e válidas. A questão da habitação também, mas o Governo tem dado resposta e já tem definida uma política para a oferta pública de habitação. E essa resposta é suficiente? É uma boa resposta, mas preferia que houvesse planeamento a uma escala mais humana, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de soluções de habitação para a terceira idade, pois são pessoas com um certo tipo de limitações. As soluções não deviam ser entendidas como uma resolução apenas eficiente, mas devia-se apostar na sociabilidade e nos espaços partilhados, para que essas pessoas, com pouca autonomia, consigam encontrar um estilo de vida que as preencha, que não passe apenas por ter um tecto. Parece-me que o plano tem uma escala muito grande e isso preocupa-me. Mas o facto de se estar a dar esta resposta específica a diferentes carências, sem ser a resposta de 2010, com uma tipologia corrida como se fez em Seac Pai Van, [é positivo]. Evoluiu-se um pouco mais com essa aprendizagem. Afirmou que é preciso pensar o território tendo em conta a dependência económica do jogo, a pandemia e as alterações climáticas. Continuamos a ter respostas urbanísticas pouco sustentáveis? A economia monofuncional é um desafio muito grande. Quando falamos da diversificação pensamos em outros sectores económicos, e, portanto, eles não se fazem com pessoas que não existem. Quando falamos de Macau ser um centro de indústrias criativas, a pergunta é: onde estão os criativos? E esses, além de serem capazes de montar uma exposição, sabem construir mais do que isso e relacionar-se com outros sectores? O Governo tem de levar o sector pela mão e tem de dar a voz e o mérito às pessoas envolvidas com esses potenciais sectores. A política de só subsidiar é uma maneira de tapar um buraco, porque não se evolui para uma cidade que tenha algo a oferecer. É necessária uma comunidade de artistas com um certo nível de capacidade para produzir um conteúdo válido e interessante, mas também perceber como se cria dinâmica empresarial e mercado. Tem de haver uma política mais séria, porque a distribuir dinheiro às plataformas não se chega lá. Depois não há indústrias criativas se não houver liberdade de expressão. Acha que não há liberdade de expressão? Em Macau tem havido essa liberdade de expressão, mas acho que os artistas de Macau a exploram pouco, poderiam ir muito mais longe com a liberdade que existe. Enquanto português, que significado atribui à sua candidatura nestas eleições? A razão principal pela qual quis acompanhar a Agnes Lam na candidatura, além de acreditar na importância da sua voz e autonomia, tem a ver com o facto de, como português, achar que é importante participar na campanha. Sinto que é uma altura muito difícil para as comunidades portuguesa e macaense, porque neste contexto da pandemia sentimos todos um bocado um efeito de “top down”. E não digo isto como crítica ao Governo, porque acho que tem tido uma atenção constante ao desenvolvimento dos acontecimentos e à sua capacidade de dar resposta, mas há um foco na maioria da população, que é a comunidade chinesa. Isso está certíssimo, só que há uma série de situações nas quais nós, portugueses, somos diferentes, porque o nosso mundo não se centra apenas aqui. Temos uma extensão familiar, cultural e afectiva que passa pelo nosso país. O Governo está a “ser mais papista que o Papa” em relação à abertura das fronteiras? Estão a ser muito cautelosos. Acho mais importante promover a vacinação em massa da população para, enquanto território, estarmos prontos. E o que se passa neste momento é que se mantém uma situação preventiva em que se dificultam acessos, e isso, por um período mais longo, vai começar a quebrar demais a economia. Qual a sua posição sobre a decisão da CAEAL de desqualificar candidatos às eleições? Não tenho comentários a fazer. Estas desqualificações podem, em certa medida, beneficiar a vossa lista? É uma possibilidade, mas não tenho muito a certeza porque a reacção da população pode ser um bocado inesperada. As pessoas foram um bocado apanhadas de surpresa com essa tomada de posição. Vamos ver. Mas está confiante na possibilidade de obterem dois assentos, por exemplo? Não temos certezas, porque o campo está muito difícil de perceber. A prioridade é assegurar um lugar. Fazemos o apelo ao voto na lista porque preocupa-nos assegurar o lugar. Entre 2017 e estas eleições houve tempo para conquistar eleitorado? Por exemplo, através das lutas que escolheu travar, como a violência doméstica. Sim, essa questão, mas também assuntos como a licença de maternidade, o acesso à assistência social. O mandato dela foi pautado por várias questões que se prendem com os direitos das mulheres. Com o devido acompanhamento da realidade política poderemos acreditar que há mais sensibilização por parte dessas comunidades, porque a Agnes tem dado um contributo muito grande para lhes dar voz. Lamenta que a comunidade portuguesa esteja afastada das eleições locais? Não chego a lamentar. Tenho pena, mas compreendo, porque tem-se tornado cada vez mais difícil acompanhar a vida política, porque as conversas focam-se muito num ponto de vista que passa pouco pela nossa comunidade. É difícil acompanhar as discussões na Assembleia Legislativa em grande parte dos casos, e percebo que a actualidade política se tenha tornado menos interessante para a maior parte das pessoas que fazem parte da comunidade portuguesa. É natural um certo alheamento, mas a comunidade portuguesa sempre teve várias maneiras de estar em Macau. Macau está a evoluir para um contexto de integração regional. Como é que a comunidade portuguesa se deve posicionar? Acha que o seu espaço é cada vez mais apertado? Será apertado se não nos pusermos em campo, mas vai ser sempre um desafio maior, porque é sempre mais difícil acompanhar. E não é só isso, porque em relação à Grande Baía, Macau só vai conseguir ter um papel efectivo se estivermos interessados em alguma coisa. Sinto que Macau está muito pouco interessado naquilo que está além da fronteira e só vai conseguir ter um papel transformador para si mesmo se conseguir descobrir áreas de interesse e parcerias. Não é algo que possa fazer sozinho e não passa por abrir negócios em outras cidades. Tem de haver um processo de aprendizagem e de troca de ideias. Estamos próximos de um sector industrial poderosíssimo, e há um campo a explorar de parcerias e trabalho infinito. Cantão e as zonas da Grande Baía são líderes e nós temos de ter esse interesse de criar diálogo, porque ninguém vem a Macau procurar talentos. O Governo já deveria ter criado uma plataforma eficaz. O IPIM [Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau] e o FIC [Fundo das Indústrias Criativas] não têm essa vocação. O IPIM tem uma capacidade de olhar além de Macau, e é das poucas entidades públicas vocacionadas para isso. E os outros organismos falham nesse objectivo? Não estão capacitadas para olhar nem para os países de língua portuguesa, nem para a Grande Baía. Não temos nenhuma organização do Governo que esteja interessada e vocacionada. Não há diversificação se não forem reconhecidos o mérito e o valor aos artistas, porque ninguém está a dialogar com eles. Não existem indústrias criativas, mas apenas pessoas que fazem umas exposições.
admin SociedadePatrimónio histórico | Preservação tem sido feita "a grande custo", diz Rui Leão [dropcap]O[/dropcap] presidente do Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa, Rui Leão, considerou que o património histórico de Macau tem sido “mais ou menos” preservado, “mas a grande custo”. Para o arquitecto, que cresceu em Macau, onde vive desde 1977, há “uma pressão” sobre o centro histórico de Macau, classificado pela UNESCO desde 2005, e não sabe “se vai desaparecer”. “Tenho dúvidas de que haja essa preocupação de transferir a pressão” sobre o património mais antigo de Macau, mesmo com a contínua expansão do território através de aterros que conquistam terrenos ao mar e que fizeram aumentar a área da cidade de 23 quilómetros quadrados em 1999, quando terminou a administração portuguesa, para os actuais 32,9 quilómetros quadrados. Rui Leão afirmou que, ao contrário do “modelo europeu”, o espaço edificado, em Macau, e também na generalidade da Ásia, é olhado na perspectiva de “novas possibilidades” de crescimento e desenvolvimento da cidade, com “uma ideia de injectar mais pessoas, de injectar dinheiro, de injectar investimento”. “Neste modelo, o património não encaixa muito bem” e, “no fundo, é sempre um problema e tem de se lutar para que não desapareça”, disse à agência Lusa. “Há coisas que se desaparecerem, deixamos de poder contar a História. Isto, a maior parte das pessoas aqui em Macau, infelizmente, não percebe”, afirmou. Em relação à construção em zonas novas da cidade, com uma população que aumentou em cerca de 200 mil habitantes em 20 anos, Rui Leão considerou que há uma grande diversidade, mas atendendo à grande escala dos edifícios de habitação, “há algumas [construções] que conseguem trazer espaços simpáticos à cidade” e “também ter um desenho que dignifica o ‘skyline'” de Macau.
Hoje Macau SociedadePatrimónio histórico | Preservação tem sido feita “a grande custo”, diz Rui Leão [dropcap]O[/dropcap] presidente do Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa, Rui Leão, considerou que o património histórico de Macau tem sido “mais ou menos” preservado, “mas a grande custo”. Para o arquitecto, que cresceu em Macau, onde vive desde 1977, há “uma pressão” sobre o centro histórico de Macau, classificado pela UNESCO desde 2005, e não sabe “se vai desaparecer”. “Tenho dúvidas de que haja essa preocupação de transferir a pressão” sobre o património mais antigo de Macau, mesmo com a contínua expansão do território através de aterros que conquistam terrenos ao mar e que fizeram aumentar a área da cidade de 23 quilómetros quadrados em 1999, quando terminou a administração portuguesa, para os actuais 32,9 quilómetros quadrados. Rui Leão afirmou que, ao contrário do “modelo europeu”, o espaço edificado, em Macau, e também na generalidade da Ásia, é olhado na perspectiva de “novas possibilidades” de crescimento e desenvolvimento da cidade, com “uma ideia de injectar mais pessoas, de injectar dinheiro, de injectar investimento”. “Neste modelo, o património não encaixa muito bem” e, “no fundo, é sempre um problema e tem de se lutar para que não desapareça”, disse à agência Lusa. “Há coisas que se desaparecerem, deixamos de poder contar a História. Isto, a maior parte das pessoas aqui em Macau, infelizmente, não percebe”, afirmou. Em relação à construção em zonas novas da cidade, com uma população que aumentou em cerca de 200 mil habitantes em 20 anos, Rui Leão considerou que há uma grande diversidade, mas atendendo à grande escala dos edifícios de habitação, “há algumas [construções] que conseguem trazer espaços simpáticos à cidade” e “também ter um desenho que dignifica o ‘skyline'” de Macau.
Hoje Macau EventosArquitectos lusófonos debatem evolução urbana em Macau [dropcap]A[/dropcap] evolução das cidades e os problemas que enfrentam nove países e territórios lusófonos vão dominar, no sábado, em Macau, o 23.º encontro do Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP), foi ontem anunciado. Neste encontro, especialistas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Goa vão “partilhar experiências” no VII Fórum CIALP sobre “Cidades Melhores: o Contributo das Infraestruturas”, no sábado, dia 26, de acordo com um comunicado da CIALP. O presidente do Instituto de Arquitectos do Brasil (IAB), Nivaldo Andrade; o ‘associate-dean’ da faculdade de Arte e Design do Beijing Institute of Fashion Technology (BIFT), Che Fei; o presidente da União dos Arquitectos Africanos, Victor Leonel (Angola); o fundador do Atelier Peter Rich Architects (África do Sul), Peter Rich; e o director da Ordem dos Arquitectos de Moçambique, Jaime Comiche, entre outros, vão participar em duas mesas-redondas subordinadas aos temas: “Infraestruturas como dispositivo para urbanizar” e “Resiliência e os desafios da cidade”, acrescentou. Na sexta-feira, no dia 25, no âmbito do mesmo encontro, será inaugurada a exposição de fotografia sobre o Património Habitado no Mundo Lusófono, no átrio do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, indicou. Escala lusófona O CIALP é uma organização não-governamental, com sede em Lisboa, constituída pelas associações profissionais de arquitectos dos países e territórios de língua portuguesa. É parceiro institucional da União Internacional dos Arquitectos (UIA) e observador consultivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O objectivo do CIALP é a aproximação e a cooperação entre os membros, e a promoção da arquitectura junto de mais de 280 milhões de pessoas dos países e territórios lusófonos, constituindo-se como plataforma para mais de 150 mil arquitectos de língua portuguesa, ou seja, cerca de 10 por cento dos arquitectos em todo o mundo.
Hoje Macau EventosProjecto do atelier de Rui Leão na mostra “100 Arquitectos do Ano” em Seul [dropcap]U[/dropcap]m projecto do atelier de Macau LBA Arquitectura e Planeamento, do português Rui Leão, foi seleccionado para a mostra “100 arquitectos do ano”, organizada pela União Internacional de Arquitectos (UIA) e a decorrer este mês, em Seul. Contactado pela agência Lusa, o arquitecto sublinhou “a importância deste tipo de reconhecimento” para Macau, “uma cidade de turismo e de património”, que para defender “esta narrativa” deve também erguer-se como “uma cidade de arquitectura”. Sobre o projecto, uma subestação desenhada para a Companhia de Electricidade de Macau (CEM), Rui Leão defende “que contesta a mensagem de que este tipo de infraestruturas são importantes no desenho da cidade”, mesmo que a interacção humana seja “baixa ou nula”. “Normalmente estes edifícios de infraestrutura, por uma razão ou outra, são menos tidos como boa arquitectura. Há um bocado a noção, o conceito de que o lugar da arquitectura é nos equipamentos públicos, museus, assembleias”, apontou. “O público não usa o edifício, mas não é razão, nunca deveria ser, para não ser desenhado com nobreza”, acrescentou o também presidente do Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP). O projecto “PSS4” garante a Rui Leão e Carlotta Bruni, co-fundadores da LBA, a segunda presença na mostra anual organizada pelo UIA e o Instituto Coreano de Arquitectos (KIA), que este ano decorre entre 20 e 26 de Setembro em Seul. Em 2017, o atelier ganhou destaque na capital sul-coreana com um projecto de habitação social na zona do Fai Chi Kei, encomendado pelo Gabinete para o Desenvolvimento de Infraestruturas de Macau. Este novo reconhecimento é, assim, um “encorajamento ao esforço de não fazer um projecto só para responder a um programa, mas que tenha preocupações de responder ao contexto urbano”, salientou o arquitecto. Para Macau se erguer como uma cidade de arquitectura, “é preciso construir o património do futuro”, disse.
Hoje Macau EventosProjecto do atelier de Rui Leão na mostra "100 Arquitectos do Ano" em Seul [dropcap]U[/dropcap]m projecto do atelier de Macau LBA Arquitectura e Planeamento, do português Rui Leão, foi seleccionado para a mostra “100 arquitectos do ano”, organizada pela União Internacional de Arquitectos (UIA) e a decorrer este mês, em Seul. Contactado pela agência Lusa, o arquitecto sublinhou “a importância deste tipo de reconhecimento” para Macau, “uma cidade de turismo e de património”, que para defender “esta narrativa” deve também erguer-se como “uma cidade de arquitectura”. Sobre o projecto, uma subestação desenhada para a Companhia de Electricidade de Macau (CEM), Rui Leão defende “que contesta a mensagem de que este tipo de infraestruturas são importantes no desenho da cidade”, mesmo que a interacção humana seja “baixa ou nula”. “Normalmente estes edifícios de infraestrutura, por uma razão ou outra, são menos tidos como boa arquitectura. Há um bocado a noção, o conceito de que o lugar da arquitectura é nos equipamentos públicos, museus, assembleias”, apontou. “O público não usa o edifício, mas não é razão, nunca deveria ser, para não ser desenhado com nobreza”, acrescentou o também presidente do Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP). O projecto “PSS4” garante a Rui Leão e Carlotta Bruni, co-fundadores da LBA, a segunda presença na mostra anual organizada pelo UIA e o Instituto Coreano de Arquitectos (KIA), que este ano decorre entre 20 e 26 de Setembro em Seul. Em 2017, o atelier ganhou destaque na capital sul-coreana com um projecto de habitação social na zona do Fai Chi Kei, encomendado pelo Gabinete para o Desenvolvimento de Infraestruturas de Macau. Este novo reconhecimento é, assim, um “encorajamento ao esforço de não fazer um projecto só para responder a um programa, mas que tenha preocupações de responder ao contexto urbano”, salientou o arquitecto. Para Macau se erguer como uma cidade de arquitectura, “é preciso construir o património do futuro”, disse.
Hoje Macau EventosFuturo do Circuito da Guia é tema de várias palestras O arquitecto Rui Leão e os historiadores João Guedes e Vicent Ho vão realizar na quarta e na quinta-feira, em Macau, palestras sobre o futuro do circuito da Guia, onde decorre o Grande Prémio. Organizadas pela Associação para a Promoção e Desenvolvimento do Circuito da Guia de Macau (APDCGM), por ocasião do segundo aniversário, as palestras vão ser apresentadas em português, chinês e inglês, estando previstas mais sessões no dia 19 e 20 de Novembro. O piloto de Macau André Couto vai também marcar presença no evento, estando prevista uma sessão de autógrafos. Na segunda-feira, a APDCGM inaugurou a segunda edição da exposição colectiva “O Circuito da Guia como Património Mundial da UNESCO”, que apresenta trabalhos de 20 artistas e que estará patente ao público até 21 de novembro próximo. A 65.ª edição do Grande Prémio de Macau vai decorrer entre quinta-feira e domingo próximos e inclui três corridas de carros, as taças do mundo de Fórmula 3, GT e de carros de turismo (WTCR), bem como o 52.º grande prémio de motos, além da taça de carros de turismo de Macau e a taça da Grande Baía.
Sofia Margarida Mota SociedadeRui Leão, Carlotta Bruni e Maria José de Freitas distinguidos com prémios de arquitectura [dropcap]O[/dropcap] projecto de habitação social do Fai Chi Kei e o projecto de reconstrução da Estação de Correios da Taipa foram dois dos trabalhos premiados este ano com a distinção de excelência atribuída pela Associação dos Arquitectos de Macau (AAM), nas categorias de habitação e de conservação, respectivamente. O galardão, entregue bianualmente pela AAM, representa um “reconhecimento por parte dos pares”, disse ao HM Carlotta Bruni, co-autora, juntamente com Rui Leão, do projecto para o Fai Chi Kei. O trabalho vencedor incluiu cerca de 750 apartamentos com características muito particulares. “Estamos a falar de habitação concebida nos seus limites mínimos de espaço”, explicou. Por outro lado, há que ter em conta a importância dos espaços comunitários associados às estruturas de habitação social e que a dupla de arquitectos fez questão de implementar. “São espaços que albergam muita gente e é necessário que estas pessoas tenham locais para se encontrarem”, disse. Antigo vs Contemporâneo Já o projecto de reconstrução dos correios da Taipa, da autoria da arquitecta Maria José de Freitas, ganhou o prémio de excelência na categoria de conservação. Para a arquitecta, “receber um prémio destes é sempre saudável e é o reconhecimento de uma actividade que tem vindo a ser exercida em Macau durante muitos anos”, contou ao HM. Como em qualquer obra de reconstrução, um dos maiores desafios acontece logo ao princípio, quando o arquitecto se depara com a realidade do estádio de conservação do imóvel. Para Maria José de Freitas, “o próprio edifício já tinha um desenho apelativo: era uma construção estilo português suave com anexo posterior mais modernista”, começou por explicar. O projecto galardoado respeitou estas linguagens e acrescentou “elementos numa linguagem mais minimal e muito contemporânea”, referiu a arquitecta.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeProjecto aprovado para o Edifício Rainha D. Leonor não prevê demolição O arquitecto Rui Leão pediu o adiamento do projecto de alteração do edifício Rainha D. Leonor, mas o Conselho do Planeamento Urbanístico decidiu aprová-lo. O projecto tem a duração de dois anos e que não inclui, para já, a total demolição. Na avaliação preliminar, o Instituto Cultural defende que o edifício não tem valor suficiente para ser preservado [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] projecto de alteração do edifício Rainha D. Leonor, propriedade da Santa Casa da Misericórdia (SCM), foi ontem discutido no seio do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU). O provedor da SCM, António José de Freitas, já revelou a vontade de demolir o edifício que data da década de 60 e que é tido como um dos exemplos da arquitectura modernista em Macau. O projecto foi ontem aprovado no CPU e não contempla, para já, a demolição uma vez que, para que esta seja uma realidade, é preciso que a SCM tenha na sua posse uma planta de alinhamento oficial emitida pelas Obras Públicas. Algo que ainda não aconteceu. O que foi analisado ontem foi uma planta de condições urbanísticas, que refere que a alteração do prédio continua a manter a finalidade de habitação e comércio. Esta aprovação não agradou por completo ao arquitecto Rui Leão, que se tem batido publicamente pela preservação do Rainha D. Leonor e que pediu mesmo o adiamento da votação do projecto por parte do CPU. “Visto que o processo de demolição não existe, é possível dar tempo ao Instituto Cultural (IC) para avaliar o relatório que submetemos e adiar a análise desta planta para a próxima reunião? Acho que isso faria sentido, para que a classificação da arquitectura moderna comece por algum lado”, frisou. Contudo, Li Canfeng, director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), alertou para a necessidade de se respeitar os procedimentos do CPU. “Não estou a ver que tenhamos necessidade e suspender ou adiar o processo. Vamos valorizar o seu estilo. Este projecto tem a validade de dois anos e sugiro que seja aprovado, porque dá tempo”, referiu. Esta semana o arquitecto Rui Leão organizou uma conferência onde revelou que a associação que lidera, a Docomomo, entregou junto do IC um pedido de preservação do edifício, uma posição que contou com o apoio da deputada Agnes Lam. Ontem, Rui Leão voltou a defender a sua causa. “É um edifício de grande valor patrimonial e tem bastantes condições para ser avaliado enquanto edifício de valor arquitectónico. Aliás, estranho que não tenha sido feito nenhum estudo nesse sentido junto a este processo. O valor patrimonial deste edifício e um relatório sobre isso seria de extrema importância para que este conselho se pronunciasse.” O representante do IC explicou que foi feito, de facto, um estudo preliminar sobre este prédio. “Quando apresentamos o nosso parecer fizemos um estudo sobre o valor arquitectónico. Fizemos uma comparação com alguns casos no estrangeiro para podermos tecer as nossas conclusões. Devo dizer que procuramos preservar os edifícios que têm um valor arquitectónico modernista, não os vamos demolir todos. Temos a escola luso-chinesa e o mercado vermelho, entre outros.” Contudo, “no nosso parecer preliminar este edifício não tem um valor assim tão relevante”, acrescentou o responsável do IC. Li Canfeng lembrou que existem “várias formas de preservar e manter” o prédio. “Como não está classificado como património acho que podemos, aqui no CPU, dar opiniões, mas ainda não recebemos nenhum pedido de demolição nem temos nenhuma planta. Não estamos a ver este edifício desaparecer num curso prazo.” Rui Leão quis deixar claro que foi a primeira vez que submeteu um relatório ao IC. “Trata-se de um edifício de José Lei que foi director das obras públicas em Hong Kong. Infelizmente, está em mau estado de manutenção mas, de acordo com a nossa argumentação, é um edifício que respeita os cinco pontos contidos na lei da salvaguarda do património e que justificam a avaliação do edifício como património. Nós arranjamos argumentos para os cinco pontos. De acordo com a lei basta um, mas neste edifício estão os cinco presentes”, acrescentou Rui Leão. Os que concordam Não foi apenas o presidente da Docomomo Macau, que já desenvolveu um estudo sobre os edifícios modernistas mais importantes que devem ser mantidos, que se bateu pela preservação. Outros vogais do CPU também o fizeram. “Este edifício é um exemplo de um edifício dos anos 50. Sendo uma cidade com muito património, temos edifícios do século XVI, XVII com o estilo barroco, neoclássico e não temos uma avaliação relativa ao período modernista. O mesmo se aplica ao caso do Hotel Estoril. Este é um edifício que deve ser equiparado ao Hotel Central e que devemos preservar”, referiu U Kin Chou, membro do CPU. Lam Iek Chit adiantou estar de acordo com Rui Leão. “Este edifício consegue revelar a arquitectura de Macau e também peço que este edifício possa ser reavaliado.” Chan Tak Seng, ligado à associação Aliança do Povo de Instituição de Macau, revelou ter uma postura neutra. “Não sei se nos cabe a nós decidir se o edifício deve ou não ser preservado. É preciso ouvir o IC. Tenho uma posição neutra, mas precisamos de avaliar se há risco.” Os que estão contra Paulo Tse, ligado ao sector do imobiliário, lembrou que “não se deve olhar apenas para o estilo arquitectónico”. “O edifício tem características específicas, mas o antigo edifício do Banco da China é da mesma época e há uma grande diferença entre os dois. O Rainha D. Leonor não está bem preservado.” O membro do CPU adiantou também que “há que ter em conta a segurança porque é um edifício em risco”. “Só depois de analisar tudo isto é que podemos ponderar ou não a sua preservação”, disse, defendendo a intervenção do Conselho do Património. “Quando falamos de preservação temos um custo. Temos a vontade mas não temos um mecanismo para fornecimento de capital e financiamento além da manutenção.” O deputado nomeado Wu Chou Kit, também engenheiro civil, defendeu apenas que “o património cultural dificilmente consegue ter um equilíbrio com o desenvolvimento social”. O HM tentou chegar à fala com Rui Leão e António José de Freitas, provedor da SCM, sobre os resultados deste encontro, mas até ao fecho desta edição não foi possível. Moradores não estão de acordo com a demolição Manuel de Senna Fernandes é morador no edifício Rainha D. Leonor há três décadas e confessa que grande parte das 24 famílias que residem no velho prédio não estão de acordo com a ideia de demolição, uma vez que ficariam desalojados. “Deveria ser feito um estudo às estruturas para descobrir se o edifício está ou não em mau estado. Se é para deitar abaixo porque não tem interesse, não faz sentido. Se o prédio for realmente perigoso claro que precisamos de nos mudar mas, por enquanto, é apenas uma intenção que ainda não foi confirmada. Daí ser importante o estudo que vai ajudar às três partes interessadas”, confessou o morador. HM Este garante que, apesar do mau estado de manutenção do prédio, nunca houve problemas de infiltrações ou outros relacionados com a estrutura. “Pelo menos na minha casa isso nunca aconteceu, e também nunca ouvi os meus vizinhos queixarem-se deste problema.” Manuel de Senna Fernandes frisou também que os moradores só ouviram falar da possibilidade de demolição esta semana, pois a Santa Casa da Misericórdia não terá dito nada de semelhante a quem mora no Rainha D. Leonor. “Não há como concordar com a demolição, onde vamos ficar alojados depois? Acho que ninguém há-de concordar com a demolição do prédio, ficaríamos sem casa. Onde iriamos viver, sendo tão difícil arranjar um apartamento? Não basta dar um montante de dinheiro, não podemos ficar contentes. Estamos num local bem situado”, rematou Manuel de Senna Fernandes. O HM tentou falar com outros moradores do edifício, sem sucesso.
Andreia Sofia Silva SociedadeSCM com planos para demolir edifício Rainha D. Leonor O Conselho do Planeamento Urbanístico discute esta quarta-feira o plano de demolição do edifício Rainha D. Leonor, propriedade da Santa Casa da Misericórdia. O arquitecto Rui Leão e a deputada Agnes Lam são contra a demolição por estar em causa um edifício de arquitectura moderna que merece ser protegido [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Santa Casa da Misericórdia (SCM) tem intenções de demolir o edifício Rainha D. Leonor, localizado ao lado do Pacapio, embora ainda não exista uma decisão final, uma vez que o Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) irá discutir o projecto esta quarta-feira. Esta é, pelo menos, a vontade do provedor da SCM, António José de Freitas, mas a verdade é que o projecto também tem de ser analisado em assembleia-geral. A vontade de demolir um edifício com mais de meio século de existência, cujo terreno foi concessionado de forma gratuita durante a Administração portuguesa, prende-se com os elevados custos de manutenção. “Eu, como provedor, sou a favor da demolição, para que se dê um novo aproveitamento ao terreno, mas tem de se realizar uma assembleia-geral primeiro”, disse ao HM. “O edifício está muito degradado e o que nós recebemos mensalmente não compensa os encargos de manutenção que temos, é muito dinheiro por mês. Há 30 anos que deixou de funcionar um elevador, porque já não há elevadores que caibam em caixas tão pequenas. Quando houve o tufão Hato gastamos um bom dinheiro para recuperar aquilo”, adiantou António José de Freitas. Actualmente, o imóvel serve para a habitação e comércio, funções que o novo projecto deverá manter. Ontem a associação Energia Cívica, da deputada Agnes Lam, realizou uma conferência de imprensa para exigir a preservação do edifício, na qual marcou presença o arquitecto Rui Leão, também membro do CPU e onde se acusou a SCM de faltar ao dever de preservação ou manutenção do edifício. Confrontado com estas acusações, António José de Freitas revelou que já muito foi feito pela preservação dos vários edifícios que a SCM possui no território, fruto de inúmeras doações feitas ao longo dos anos. “A SCM tem zelado muito pela história e identidade de muitos prédios que ainda temos. Como exemplo dou o prédio ao lado da Casa de Portugal em Macau e de muitos dos edifícios localizados na avenida Conselheiro Ferreira de Almeida, bem como o edifício do Arquivo Histórico. Tudo isso foi propriedade da SCM. Há pessoas especializadas e acho que o CPU tem várias pessoas [para avaliar o projecto]. Respeito a opinião de todos.” De acordo com a Rádio Macau, o edifício faz parte de uma lista internacional de risco, um aviso feito pela associação Docomomo Macau, que entregou um pedido junto do Instituto Cultural para a sua preservação. Conglomerado moderno Na conferência de imprensa Rui Leão falou do edifício da autoria do arquitecto José Lei que, à época, marcou pela diferença e inovação. Foi dos primeiros a ter elevador e faz parte de um conjunto de edifícios “que inauguraram o período da arquitectura moderna em Macau”. Para o arquitecto, o edifício Rainha D.Leonor “criou muita inovação em termos de relação entre o interior e o exterior, por isso é que sempre constituiu uma forte presença na cidade”. “A sua integração urbana é muito importante e muito relevante porque a área é uma extensão da avenida Almeida Ribeiro”, acrescentou Rui Leão. O arquitecto acusou ainda a SCM de estar a tentar obter lucros a partir de um terreno cedido de forma gratuita. “É urgente que tenhamos de ter resposta da parte do Governo de Macau para compreender quais são as prioridades, para que não se considerem estes casos apenas da perspectiva do lucro e do imobiliário. Isto é totalmente inaceitável em 2018, deveria ser algo ao abrigo do Plano Director, que está bastante atrasado, e vai destruir a cidade até um ponto irreparável.” “Compreendemos que o edifício pode vir a ter outras utilizações no futuro, mas não no sentido de se permitir que todos possam ter lucros com base numa concessão gratuita. As concessões gratuitas para fins sociais e educacionais deveriam ser respeitadas. Esperamos que o Governo de Macau possa não permitir que estas concessões gratuitas sejam alteradas para gerar lucro”, referiu o arquitecto.
Andreia Sofia Silva Manchete Sociedade“Uma Faixa, Uma Rota” | Rui Leão defende flexibilização laboral Rui Leão, presidente do Conselho Internacional de Arquitectos de Língua Portuguesa, defende que, para que Macau seja um território prestador de serviços no contexto da política “Uma Faixa, Uma Rota”, deve flexibilizar a contratação de trabalhadores especializados [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]lexibilizar a contratação para que Macau possa constituir-se como um prestador de serviços no contexto da política “Uma Faixa, Uma Rota”. É esta a ideia deixada pelo arquitecto Rui Leão, que participou ontem no 5º Congresso do Direito de Língua Portuguesa, na Universidade Cidade de Macau na qualidade de presidente do Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP). “Tem de haver a cultura da meritocracia e têm de ser dadas condições às empresas para crescerem. Se não tenho capacidade de empregar pessoas e se tenho tantos entraves para empregar, [o que acontece é que existe] uma política que destrói a possibilidade de criar aqui uma rede de empresas capazes de dar resposta”, defendeu ao HM. D.R. Rui Leão não tem dúvidas de que a falta de flexibilização laboral poderá afastar empresas para os territórios vizinhos. “Se é difícil contratar, o que acontece é que as empresas com maior capacidade de investimento vão para Zhuhai, Cantão, Shenzen ou Hong Kong. O Governo tem de perceber que, ou muda estas políticas de acesso à mão-de-obra, ou não está a permitir que as coisas mudem.” “E no contexto da política ‘Uma Faixa, Uma Rota’, [Macau] vai continuar sempre com o seu papel único de agente intermediário, que é muito pobre, porque não cria know-how e apenas investimento de alguns. A classe dominante não é suficiente para criar diversidade e autonomia de Macau enquanto sociedade. Estamos sempre dependentes do know-how dos outros, porque não se deixa o know-how daqui crescer”, acrescentou o arquitecto. A política lançada por Xi Jinping, que esteve ontem em debate no congresso, constitui “uma oportunidade única para Macau, para crescer de uma forma interessante, com saber, cultura e know-how, para que seja uma cidade global”. Nesse sentido, “os sectores profissionais deveriam compreender isso e a capacidade profissional deveria ser valorizada. Deveria haver mais capacidade, competência nestes sectores para dar resposta a todo o tipo de serviços que pode estar agregado a essa política”, adiantou Rui Leão. Negócios não devem dominar Questionado sobre se o património local poderá manter-se no contexto de “Uma Faixa, Uma Rota”, Rui Leão acredita que sim, dependendo das políticas implementadas pela RAEM. “Macau conseguirá manter o seu património e o seu tecido histórico se trabalhar para isso. Penso que tem os instrumentos de salvaguarda e gestão que, como nós sabemos, não são suficientes para assegurar o património. Tudo depende do exercício de governação.” Rui Leão defende que, no futuro, o património não deverá estar à mercê das regras do mercado imobiliário. “Não pode ser tudo uma política de negócios e são precisas políticas para que, através do planeamento, se criem mais valias que não sejam a da pura operação imobiliária. Deve dar-se outro tipo de contrapartidas aos proprietários e moradores de zonas de património para que seja atractivo eu tomar conta ou recuperar.” Na apresentação de ontem, Rui Leão falou ainda sobre projectos recentes desenvolvidos pelo CIALP de resposta à política chinesa. “Demos início a alguns projectos que são muito importantes ao nível de trocas de formação profissional nos vários territórios que integram esta política. Temos um programa de estágios ao nível de gestão urbana que vai iniciar-se em Janeiro e que são experiências importantes. Faz sentido estender isso, não só por causa da política ‘Uma Faixa, Uma Rota’, mas também porque os nossos colegas chineses estão genuinamente interessados no que estamos a fazer, na nossa experiência”, concluiu.
Andreia Sofia Silva SociedadeCPU | Rui Leão fala de ataque ao património no Porto Interior [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) aprovou ontem um novo projecto de construção na Avenida Almirante Sérgio, que poderá levar à destruição da fachada histórica do edifício em causa. O arquitecto Rui Leão foi o único membro a apontar o dedo ao Governo quanto à possibilidade do fim de mais um símbolo arquitectónico na zona do centro histórico. “Estes edifícios mantêm a traça original e estão numa localização especial, pois faziam todo o alinhamento com o antigo porto e funcionavam como armazéns. Qualquer razão burocrática ou administrativa que exista para não proteger este edifício deveria ser ultrapassada. Estou contra e estou incomodado com a demolição destas fachadas”, apontou. A responsável do Instituto Cultural (IC) presente na reunião referiu que o edifício em causa não só não é classificado, como não tem valor histórico suficiente para que seja considerado património. “Poderemos manter o mesmo modelo [arquitectónico], mas será uma opinião não vinculativa. Pelo valor histórico deste edifício, não achamos necessário manter a fachada.” Rui Leão voltou a apontar o dedo à postura do Executivo. “Já foram demolidos edifícios à volta e não devemos estar aqui a brincar. Houve uma altura em que não havia CPU e não tínhamos como preservar o património. Não custa nada manter a fachada e fazer ali um recuo qualquer.” Uma Disneylândia? O arquitecto considerou ainda que “não podemos deixar que o centro histórico se transforme numa Disneylândia”. “Julgo que este conselho existe para deliberar e tratar casos como este, que estão fora da zona de protecção e que não estão sob alçada do IC. O que está em causa são edifícios em pórtico, que ligavam o Porto Interior de uma zona à outra.” Li Canfeng, director dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), referiu apenas que o Governo pode incentivar o proprietário do terreno a não demolir as fachadas na fase de construção do novo projecto, mas será sempre uma opinião não vinculativa. “Podemos exigir ao proprietário que faça como o Governo quer mas, muitas vezes, temos de respeitar a opinião do proprietário”, rematou.
Andreia Sofia Silva SociedadeMesa-redonda | Arquitectos debatem papel de Macau como plataforma O Conselho Internacional de Arquitectos de Língua Portuguesa debate hoje as medidas que Macau deve adoptar para se transformar numa plataforma de serviços entre a China e o mundo lusófono. Rui Leão, presidente do organismo, defende uma aposta no bilinguismo e na renovação urbana, bem como o envolvimento de toda a sociedade [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e que forma Macau pode reorganizar o território para se tornar na tal plataforma de ligação entre a China e os países de língua portuguesa? Que estruturas urbanas deve ter, como deve formar os seus recursos humanos? São estas as questões que estarão em debate hoje no consulado-geral de Portugal em Macau. Entre as 18h e 20h30, é realizada uma mesa redonda intitulada “Repensar o papel urbano de Macau: A plataforma, o Delta do Rio das Pérolas e o mundo lusófono”, organizada pelo Conselho Internacional de Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP). Ao HM, o arquitecto Rui Leão, que preside ao conselho, defende que não basta o Executivo implementar políticas que correspondam aos anseios do Governo Central, mas que deve haver a colaboração de toda a sociedade. “Há várias coisas que têm de começar a acontecer, mas não é só o Governo que tem de criar essa dinâmica. O Governo terá de liderar o processo, o Instituto de Promoção do Comércio e Investimento (IPIM), o Fórum Macau, mas depois todas as entidades de matriz portuguesa deverão fazer parte desse processo. Essa é uma dinâmica que tem de ser criada pelos outros e por nós.” Para Rui Leão, o estabelecimento de uma plataforma em Macau terá uma maior ligação com a sociedade, por comparação com os casinos. “O sector da plataforma é mais maleável porque se pode encaixar na cidade de diversas maneiras, não temos de criar uma cidade nova para o instalar. A ideia-base é que a nossa cidade de Macau é de matriz portuguesa e, como tal, é uma cidade que, por natureza, já tem um sistema de espacialidade e vivência que se adequa a esta ideia de criar uma cidade de serviços.” Bilingues é preciso Para o presidente do CIALP, “há ainda muita coisa a fazer” em Macau para que a plataforma de facto aconteça. Não basta estabelecer mudanças em termos de urbanismo, mas deve fazer-se também uma aposta no bilinguismo. “A cidade nunca está preparada, e é importante que se repense a cidade, e aí o urbanismo e o planeamento são importantes. Tem de haver uma vontade política e uma capacidade logística para fazer essa operação. O que me parece é que isso vai acontecer de uma maneira ou de outra, mas acontecerá de uma forma mais eficaz se estivermos envolvidos todos no processo. Não é algo que se possa importar de outro lado”, adiantou o arquitecto. Sobre a língua portuguesa, Rui Leão fala da necessidade de ter mais bilingues daqui a cinco anos, ou mesmo dez, para que se possa dar uma resposta no contexto da plataforma. “O Chefe do Executivo anunciou há uns meses que iria introduzir o português como língua no ensino básico. Isso é muito importante, mas não vai resolver o problema. O que é importante perceber e discutir é que estas coisas não se resolvem assim, o que ele disse é uma ambição e uma política a longo prazo. Quando se conseguir fazer esta mudança de escala e introduzir esta nova actividade sectorial em Macau, vai ser importante ter pessoas, daqui a cinco ou dez anos, que são bilingues. Este sector da plataforma é muito importante para que Macau se consiga organizar como um território bilingue.” Para Rui Leão, “a questão do bilinguismo é um problema com que todos nós nos debatemos”. “É uma coisa para a qual o território não está suficientemente preparado, tanto quanto deveria, mesmo não sendo a dita plataforma. A plataforma só vem ajudar a cidade a transformar-se para muitas outras áreas”, rematou.
Filipa Araújo SociedadeDocomomo | Associação quer classificar edifícios da “arquitectura moderna” [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação Docomomo Macau inaugura, esta sexta-feira, uma exposição que pretende ser muito mais do que uma mostra de arte. Ao longo dos últimos dois anos, os membros da Associação têm realizado um trabalho de campo ao fazer o levantamento de edifícios que considera serem exemplares de arquitectura modernista e que estão em risco. A ideia é não só mostrá-los, através da exposição, à população, como propor uma classificação de alguns deles. Do grupo de peças expostas – são 39 – “há duas ou três que já estão classificadas”, apontou o arquitecto Rui Leão, que preside à Associação. Este trabalho tem como objectivo “chegar a uma argumentação” para que se possa avaliar ou não uma possível classificação. Rui Leão indica ainda que este não é um trabalho que termina com a exposição, mas sim de continuidade. “Entendemos isto como um trabalho de levantamento [em andamento] não é uma lista definitiva da arquitectura do período [Modernista]. Isto é um conjunto de edifícios que achamos, por várias razões, que eram os mais prioritários e significativos. Há outros que são igualmente importantes, mas que por uma razão ou outra não estão incluídos nesta lista”, esclareceu. Um dos exemplos é o orfanato Helen Liang, na Praia Grande, de Manuel Vicente. Outro é o Infantário da Guia, de Chorão Ramalho. Da narrativa Este é um trabalho que corresponde ao objectivo principal que a Docomomo pretende desenvolver, que é “a documentação do património do movimento moderno”. A questão da documentação é “muito importante” porque é ela que permite que exista “um registo completo do edifícios”, como também permite “fazer uma avaliação [a partir do registo]”. Muitas vezes, apontou o arquitecto, o facto de não existir uma “narrativa dos edifícios” faz com que os mesmos “fiquem vulneráveis em determinada circunstância”. A ideia do trabalho, aponta ainda Leão, é que haja uma documentação feita, “independentemente das circunstâncias”, para que quando o edifício estiver em risco, ou for eventualmente sujeito a alteração, possa ter algo escrito que permite que todos os seus intervenientes – Governo, arquitecto, construtores, entre outros – percebam melhor como têm de lidar com ele em particular. Na exposição, em conjunto com Hong Kong, podem ser apreciados painéis com fotografias, indicações gráficas e plantas. O local escolhido é a Casa Garden e a inauguração acontece pelas 18h45, a 18 de Março.