admin PolíticaTransição | Paulo Cunha Alves elogia gestão de Macau [dropcap]O[/dropcap] Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, elogiou os feitos alcançados pelo território após a transferência de soberania. Numa entrevista à Xinhua, o diplomata sublinhou igualmente o papel de Macau como uma plataforma. “Macau sempre funcionou como um elo de ligação entre Portugal e a China e como uma porta de chegada ao Oriente. Neste sentido, Macau assume um papel de catalisador nas relações bilaterais nos mais diversos domínios, desde o político ao comercial, do cultural ao da educação”, disse Paulo Cunha Alves, à agência estatal noticiosa. “As principais vantagens de Macau têm a ver com a concentração de esforços e meios numa plataforma única que é o Fórum Macau”, sublinhou. O Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong destacou também que desde a transição, há 20 anos, que o país europeu tem prestado atenção à aplicação do princípio um país, dois sistemas, que está a ser bem concretizado e ao desenvolvimento do território, que segundo a Xinhua, foi elogiado na vertente política, económica e social. A cooperação entre Macau e Portugal no turismo foi outra das áreas mencionadas, e Paulo Cunha Alves afirmou que “não só é essencial treinar os profissionais do sector, como também promover uma maior fluxo de turistas entre Portugal e Macau”.
Hoje Macau PolíticaTransição | Paulo Cunha Alves elogia gestão de Macau [dropcap]O[/dropcap] Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, elogiou os feitos alcançados pelo território após a transferência de soberania. Numa entrevista à Xinhua, o diplomata sublinhou igualmente o papel de Macau como uma plataforma. “Macau sempre funcionou como um elo de ligação entre Portugal e a China e como uma porta de chegada ao Oriente. Neste sentido, Macau assume um papel de catalisador nas relações bilaterais nos mais diversos domínios, desde o político ao comercial, do cultural ao da educação”, disse Paulo Cunha Alves, à agência estatal noticiosa. “As principais vantagens de Macau têm a ver com a concentração de esforços e meios numa plataforma única que é o Fórum Macau”, sublinhou. O Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong destacou também que desde a transição, há 20 anos, que o país europeu tem prestado atenção à aplicação do princípio um país, dois sistemas, que está a ser bem concretizado e ao desenvolvimento do território, que segundo a Xinhua, foi elogiado na vertente política, económica e social. A cooperação entre Macau e Portugal no turismo foi outra das áreas mencionadas, e Paulo Cunha Alves afirmou que “não só é essencial treinar os profissionais do sector, como também promover uma maior fluxo de turistas entre Portugal e Macau”.
Hoje Macau SociedadeHong Kong | Corrida à renovação de passaportes no Consulado [dropcap]D[/dropcap]esde há dois ou três meses a esta parte, notámos um aumento da procura por parte dos utentes que residem em Hong Kong, no que diz respeito à revalidação de passaportes e de cartões de cidadão” portugueses, confirmou ontem o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong à Rádio Macau. Paulo Cunha Alves comentou aos jornalistas que, desde o início dos protestos contra o Governo da ex-colónia britânica, cresceu a procura dos serviços consulares por parte de cidadãos nacionais ali residentes. “Muitos deles são titulares destes documentos, mas não os costumavam renovar regularmente. Eventualmente, agora estarão mais interessados em tê-los regularizados”, justificou. Sobre um maior interesse da população vizinha numa alternativa à instabilidade política e económica que se vive em Hong Kong, o cônsul-geral português adiantou ainda, que não é só a renovação de documentos nacionais que tem aumentado, mas também a emissão de vistos de residência e de investimento em Portugal. O diplomata esteve com a comunicação social ontem, durante a entrega da Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas, atribuída pelo Governo português à Santa Casa da Misericórdia de Macau.
Andreia Sofia Silva SociedadePersonalidades comentam primeiro 10 de Junho do novo cônsul [dropcap]A[/dropcap]s celebrações de ontem do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas ficaram marcadas não só por serem as últimas de Chui Sai On como Chefe do Executivo como as primeiras de Paulo Cunha Alves como cônsul de Macau e Hong Kong. Para Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau, o mais importante é o cumprimentos das funções, independentemente da personalidade de cada um. “No essencial os nossos diplomatas estão muito bem preparados para o desempenho das suas funções. É evidente que cada um tem a sua personalidade e, portanto, cada um exerce o seu mister de acordo com isso. Não devemos passar a vida a fazer comparações e este é o quinto cônsul que eu conheço na RAEM. Todos foram diferentes, com todos foi possível manter uma relação de colaboração muito boa”, disse ao HM. Amélia António não deixou de apontar o facto de o consulado “não ter uma grande equipa” e necessitar, por isso, de uma estreita colaboração com as associações de matriz portuguesa. “As coisas só se fazem com grandes equipas, o nosso consulado não tem uma grande equipa e somos nós as associações que temos a responsabilidade e a obrigação de estar ao lado e ser, de certa maneira, um fio condutor como temos sido em termos de problemas e preocupações”, acrescentou. Também o advogado Frederico Rato defendeu que “os governantes e os diplomatas mudam, mas os laços de afinidade, amizade e harmonia continuam sempre, titulados ou encabeçados por pessoas diferentes, embora o espírito seja o mesmo”. De saída Sobre o facto de este ter sido o último 10 de Junho de Chui Sai On como Chefe do Executivo, Amélia António recordou o facto de este nunca ter esquecido os portugueses, apesar de ser obrigado a cumprir um rígido protocolo. “Enquanto secretário (para os Assuntos Sociais e Cultura) ele tinha uma posição muito mais aberta e dialogante. Falava-se dos problemas com relativa facilidade. Depois de passar para o actual cargo ficou rodeado de um protocolo muito apertado e perdeu imenso do à vontade e do contacto que estabelecia com as associações e pessoas. Isso não quer dizer que ele não tenha, em todos os momentos públicos, sido afável e reconhecido o papel da comunidade portuguesa em Macau.”
João Santos Filipe Manchete PolíticaDia de Portugal | Cônsul revela fascínio pelo território e apela à participação na Grande Baía Na primeira intervenção numa recepção oficial do 10 de Junho, Paulo Cunha Alves admitiu estar fascinado com Macau e apelou à comunidade que participe na Grande Baía. Alertou também para as limitações do consulado a nível dos recursos humanos, mas prometeu trabalhar para melhorar os serviços consulares [dropcap]N[/dropcap]o primeiro discurso de celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o cônsul-geral, Paulo Cunha Alves, revelou estar fascinado com a RAEM. Ao mesmo tempo, o cônsul apelou às “múltiplas comunidades” portuguesas para que aproveitem os desafios da Grande Baía e ajudem a desenvolver a China. Logo no início da intervenção, Paulo Cunha Alves admitiu que ainda está a descobrir Macau e apontou que uma das principais revelações é o facto de haver várias comunidades portuguesas: “Oito meses após a nossa chegada, o ambiente ainda é de descoberta e admiração perante o fascínio que envolve a cidade de Macau e as suas gentes”, começou por apontar. “Desde logo, começámos a ter contacto com a complexa e diversificada realidade local, onde a Comunidade é afinal composta por múltiplas comunidades”, indicou. O cônsul elogiou depois o contributo dos portugueses para a RAEM: “Cedo nos apercebemos, nos contactos com as autoridades locais, que o contributo da Comunidade para o desenvolvimento da RAEM tem sido significativo e determinante, empenhado e constante”, apontou. “[a Comunidade] Tem vindo a contribuir para a preservação do património cultural e arquitectónico da cidade, da gastronomia, do sistema jurídico de matriz portuguesa, e da língua de Camões, cuja memória e obra hoje celebramos” frisou. O cônsul português elogiou também o papel de várias instituições, entre as quais o Instituto Português do Oriente, Escola Portuguesa de Macau e a Santa Casa da Misericórdia de Macau. Em relação à Escola Portuguesa sublinhou a importância do novo pólo de ensino: “Será uma importante questão a acompanhar de perto, cuja concretização trará benefícios claros para a nossa comunidade e para todos quantos recorrem àquela escola para a educação dos seus filhos”, justificou. Sobre a Grande Baía, Paulo Cunha Alves entende ter potencial para ser um centro para o ensino da Língua Portuguesa e apelou à comunidade para que continue a desenvolver as relações entre os dois países. “Teremos todos de saber estar à altura para poder dar o nosso contributo para o desenvolvimento desta grande nação. A amizade entre o povo português e chinês é uma realidade que devemos todos preservar e aprofundar, no respeito das diferenças que afinal nos complementam e fortalecem”, afirmou. Recursos limitados Também os serviços consulares mereceram a menção do cônsul, que admitiu as limitações de recursos humanos. “Pelo lado do Consulado Geral, continuaremos aqui para vos servir num esforço de melhoria constantes dos serviços consulares, embora conscientes das limitações impostas pela escassez de recursos humanos”, sublinhou. Por sua vez, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, voltou também a frisar o contributo da comunidade portuguesa, como fez nos últimos anos. O facto de ser a última vez que esteve na celebração como líder do Governo de Macau não mereceu nenhuma menção. “Macau é uma sociedade multicultural, na qual as comunidades portuguesa e macaense têm participado e contribuído para o seu desenvolvimento harmonioso”, apontou. Chui Sai On destacou ainda o papel do Executivo nas políticas de incentivo a portugueses e macaenses: “Nos últimos 20 anos desde o estabelecimento da RAEM, o Governo tem dado uma grande importância ao papel social desempenhado pela comunidade portuguesa e macaense, respeitando a sua língua, a sua cultura, a sua religião e os seus costumes. Nesse sentido, o Governo da RAEM tem estimulado e apoiado a participação da comunidade portuguesa e macaense na construção da RAEM”, defendeu. O Chefe do Governo destacou também as visitas recentes dos chefes de Estado de Portugal e da China e a forma como Macau têm cumprido os princípios “Um País, Dois Sistemas” e “Macau governado pelas suas gentes” com alto grau de autonomia. De portas abertas Os convites para as comemorações do Dia de Portugal vão-se manter, assim como a aposta na proximidade com a comunidade. A ideia foi deixada ontem pelo Cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves. “Aquilo que tentámos fazer com a introdução do convite electrónico é chegar mais perto da comunidade”, apontou o diplomata à margem do evento. “Vamos tentar que as pessoas colaborem com o consulado para que nós estejamos mais perto da comunidade. O consulado não pode chegar a mais pessoas se não tiver os contactos”, acrescentou. O convite nunca foi uma forma de limitar a entrada nas comemorações do 10 de Junho. Ontem a porta esteve aberta a todos, a quem não tinha convite foi pedido o contacto para situações futuras. Por outro lado, “estamos no século XXI e são raras as excepções de pessoas sem e-mail”, disse Paulo Cunha Alves. Uma questão de sons Os discursos ontem proferidos pelo cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves, e pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, foram marcados pelo ruído que se fazia à volta. A situação levou a sugestões de melhorarias para os próximos anos, uma delas passará por melhorias no sistema de som. “Temos de melhorar o sistema de som porque aqui ao fundo as pessoas tinham dificuldade em ouvir os discursos”, apontou o diplomata. No encontro que reuniu diplomatas, membros do Governo e a comunidade portuguesa terão participado entre 500 e 600 pessoas. Entre elas estiveram os embaixadores em Hong Kong de países como os Estados Unidos, Egipto, Qatar, Hungria e Austrália, onde Cunha Alves foi embaixador antes de ser colocado em Macau.
Andreia Sofia Silva EntrevistaPaulo Cunha Alves, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong: “Não encontrei emigração económica” Há quatro meses como cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves garante que Vítor Sereno deixou poucos trabalhos pendentes. Os desafios continuam a ser os baixos salários e a falta de pessoal, para os quais ainda não há solução. Estão também a ser elaborados relatórios sobre a necessidade de obras nos edifícios Bela Vista e do consulado [dropcap]P[/dropcap]orque é que decidiu enveredar pela carreira diplomática? Foi uma profissão que sempre quis? Foi, desde muito jovem. Sempre tive interesse por culturas de outros países, línguas estrangeiras, e geografia. Por estranho que pareça, este amor pelos mapas fez-me descobrir o mundo muito jovem, ainda antes de começar a viajar. Lembro-me de quando tinha 10 ou 11 anos já passeava pelo mapa mundo e conhecia os países todos de cada continente. É capaz da génese vir daí. Um dia mais tarde, quando já estava no fim do liceu, fiz um teste psicotécnico, porque estava um pouco hesitante, e acabei por ficar com a certeza absoluta de que o queria mesmo estudar era relações internacionais. Quando fiz o 12º ano não havia, sequer, curso de relações internacionais em Lisboa, apenas na Universidade do Minho. Estava hesitante porque não era comum os jovens saírem de casa para estudar, até porque eu também gostava de fazer história da arte. O curso abriu na antiga Universidade Técnica de Lisboa, em 1982, com 40 vagas. Acabei em 1986, depois fiz o mestrado entre 1986 e 1988, mas aí já tinha entrado para a carreira. Concorri em 1986, e em 1987 comecei a trabalhar. Qual foi o primeiro cargo que teve? Quando começamos entramos sempre como adidos de embaixada. Fui colocado no serviço de informação e imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Os meus primeiros passos na casa foram dados na área da comunicação social. Quando assumiu pela primeira vez um posto diplomático fora de Portugal? Foi em Bruxelas, em Abril de 1993, na embaixada de Portugal, onde fiquei quatro anos e meio. Essa foi a primeira longa experiência no estrangeiro. A assinatura do tratado de adesão de Portugal à CEE aconteceu em 1985. Quando esteve em Bruxelas, como se viviam esses períodos de integração europeia do país? Portugal tem uma missão separada para a União Europeia. Depois viria a trabalhar mais tarde [nessa área], em 2004, mas na embaixada [em 1993] seguíamos apenas matérias do foro bilateral. Mas era uma Europa muito diferente, muito mais pequena também, pois o grande alargamento só aconteceu em 2004. Era uma época interessante, mas menos viva em termos de debate europeu, nessa altura não se falava tanto de alargamentos. E eu também não era especialista no acompanhamento dessas matérias. Hoje, 2019, é um momento muito interessante para estar em Bruxelas. FOTO: Sofia Margarida Mota De todos os postos diplomáticos por onde passou, que diferenças aponta, ao nível da adaptação ao trabalho e da comunidade portuguesa em si? Cada posto é muito diferente um do outro. Quando saí da embaixada em Bruxelas fui para Moçambique, Maputo, onde estive três anos e meio. Foi uma experiência muito interessante e diversificada. Foi completamente diferente, apesar de ser também um posto bilateral, mas mais virado para a cooperação. Sendo um país dos PALOP, para nós tinha uma outra dimensão. Às vezes perguntam-me qual foi o posto diplomático que mais gostei, e pelo conjunto, no trabalho e vertente pessoal, acho que foi Moçambique. Foi muito gratificante e aprendi bastante do ponto de vista humano e da relação com os outros. Nós, ocidentais, vivemos rodeados de coisas que não fazem falta e quando se vive em África aprende-se a viver com o essencial e a dar valor ao que é importante. O trabalho mudou-o como pessoa? Diria que fez-me crescer como pessoa, o facto de ter tido essa experiência. E dou-lhe só um exemplo: íamos à padaria comprar o pão e quando saíamos com o saco havia crianças cá fora com dificuldades, a pedir, e começávamos a distribuir o pão. No segundo dia, passámos a comprar o dobro do pão necessário, porque havia outros clientes lá fora à espera. Essa foi uma experiência única. Além do crescimento profissional, pelo facto de ter lidado com matérias diferentes com que tinha lidado em Bruxelas. Todos os postos são diferentes e têm os seus desafios. Boston foi também muito interessante do ponto de vista pessoal e profissional, embora já tivesse tido responsabilidades antes, Boston foi a primeira missão que chefiei e o contacto era muito mais intenso. Era uma comunidade portuguesa muito vasta, muito dispersa e tinha à minha guarda 150 mil pessoas. O estado de Massachusetts tem quase 300 mil pessoas, quase todas dos Açores. Tinha quase 50 associações [portuguesas] que me obrigavam a um trabalho muito intenso, de semana e aos fins-de-semana, na estrada. O que é essencial para se ser um bom diplomata? (Risos) É preciso muita coisa, mas, em primeiro lugar, é preciso bom senso. Uma pessoa com bom senso consegue calcular o que é essencial no momento certo, com a pessoa certa. Um bom diplomata tem de saber adaptar o seu discurso e postura consoante o interlocutor. É preciso alguma razoabilidade e flexibilidade de pensamento na forma como se transmitem as ideias. Para se ser um bom embaixador é importante ter a experiência prévia de um cônsul-geral. Acho importante um contacto directo e próximo das nossas comunidades, e isso só é feito no cargo de cônsul-geral. Teve de lidar com algum processo complicado? É difícil seleccionar. Há sempre coisas que são mais complicadas. Relações pessoais, por exemplo. Às vezes, há membros da comunidade que são complicados e é preciso usar muitos paninhos quentes, ou fazer ouvidos de mercador a algumas críticas. Do ponto de vista político, também há situações que é preciso acompanhar. Há situações em que os portugueses ficam retidos nos aeroportos e depois telefonam-nos para casa às duas da manhã a dizer que precisam de apoio. São situações de emergência e é preciso estarmos sempre disponíveis e preparados. A última coisa que podemos esperar é um emprego das 9h às 17h. Isso nunca acontece. Agora está em Macau e, decerto, já terá tomado o pulso à comunidade portuguesa. Como a descreve? É uma comunidade bastante diversa e multifacetada. Quase que arriscaria a chamar-lhe complexa. Mas deveria começar por dizer que, no fundo, não há uma comunidade, há várias comunidades. Há a comunidade dos expatriados, a comunidade dos macaenses, a comunidade chinesa, que é portadora de passaporte. Ou seja, é um conjunto de grupos. Sim, exactamente. É por isso que temos quase 170 mil passaportes portugueses. São chineses, macaenses e portugueses, e todos eles têm as suas especificidades e necessidades. Uns porque não dominam a língua portuguesa e precisam de apoio, outros têm o peso histórico de fazerem parte da sociedade. Os macaenses merecem uma atenção especial nessa medida, porque podem ser a chave para a compreensão da nossa presença aqui e do que Portugal pode fazer em Macau. Há, depois, os portugueses, os cerca de sete mil que vivem aqui expatriados. Em termos gerais, são pessoas altamente qualificadas, não encontrei até agora emigração económica, ao contrário de outros postos diplomáticos por onde passei. Todas as pessoas que encontro têm qualificações e um emprego. Macau não será o sítio ideal para os portugueses que não têm emprego virem procurar trabalho. Isso faz da comunidade portuguesa diferente das outras? Faz. É, para mim, e no geral, pelo que tenho conversado com os meus colegas que passaram por aqui. É uma comunidade portuguesa sui generis e com especificidades. O nosso papel enquanto cônsul-geral é acompanhar a comunidade, ouvindo as suas preocupações e anseios. Quando chegou, o que faltava arrumar na casa? Quais os desafios com que se deparou, que dossiers estavam por concluir? Diria que me deparei mais com desafios. Quando se trabalha para o Estado é muito difícil ter prazos curtos para concluir tarefas. Há problemas que vão sendo resolvidos a pouco e pouco, mas depois surgem sempre outros. Quando pensamos que o quadro de recursos humanos está completo, de repente há alguém que rescinde o contrato e vai embora. Os desafios são os recursos humanos e os salários insuficientes. O salário de um funcionário ainda ronda as 11 mil patacas? Não tenho números concretos, mas comparativamente a trabalho idêntico executado no Governo ou em casinos é bastante inferior. Essa é uma questão que quer eu, quer os meus antecessores, informámos Lisboa por escrito, e sabemos apenas que a questão está a ser avaliada. Temos também o desafio da manutenção das instalações. Há problemas, são necessárias obras de reparação? São dois edifícios muito grandes. Em ambos há problemas de infiltração de água, problemas nos terraços, telhados, na parte eléctrica. Mas esses são problemas que estão a ser objecto de relatórios e vamos ter os resolver, não tão rapidamente como eu gostaria, porque não temos dinheiro para isso. Vou tentar chamar a atenção de empresas portuguesas que estejam aqui activas no domínio da construção e engenharia, apelar a benfeitores, para ver se criamos uma equipa, e também com o apoio do Instituto Cultural, que é responsável pela protecção do património. Tudo para que, em conjunto, possamos preservar o edifício do Bela Vista. Se nos descuidarmos, daqui a quatro ou cinco anos, quando eu sair, pode estar a cair, e não pode ser. Falávamos das dificuldades sentidas pela comunidade portuguesa. Disse em entrevista ao Plataforma, que nota uma estagnação na emigração portuguesa para Macau nos últimos dois anos. A dificuldade na obtenção do BIR tem existido, acredita que os dois factos estão relacionados? Penso que isso se deve, sobretudo, à melhoria da situação económica em Portugal e ao facto de termos saído da crise financeira internacional. O que está a acontecer é que alguma emigração está a regressar. Dificuldades com o BIR, tenho lido mais sobre o assunto na imprensa do que ouvido da boca de membros da nossa comunidade. Obviamente que ficarei atento ao que as pessoas disserem. Diria apenas que as pessoas têm de ter consciência de que, num ambiente de pleno emprego, obviamente que quem tem as melhores qualificações é quem é seleccionado. Daí ser muito importante aos mais jovens apostarem nas qualificações. Na mesma entrevista disse que foi nomeada uma delegada para o Fórum Macau em regime de exclusividade? É Maria João Bonifácio? É. Ainda não foi formalmente comunicado, teremos de fazer uma nota para o Fórum, mas o que está a ser previsto é que a partir do dia 1 de Fevereiro a doutora Maria João, que, no fundo, já era representante no Fórum, passe a sê-lo sem acumulação de funções. Ela terá muito mais tempo disponível para acompanhar projectos e missões e para fazer valer a nossa voz dentro do Fórum Macau. Não posso dar-lhe exemplos concretos de trabalho, mas o nosso objectivo enquanto Estado português é que o Fórum Macau seja mais pró-activo, que conte com mais iniciativas, apoie mais projectos. Vamos ver como as coisas correm, este é um trabalho de equipa. Os 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China celebram-se já a 8 de Fevereiro. Xi Jinping esteve recentemente em Portugal. Espera grandes mudanças no papel que tem sido atribuído a Macau? Foi uma visita de carácter excepcional. O Presidente da China não visita todos os anos os países com quem tem relações diplomáticas, o que mostra que esta foi uma visita especial. É uma relação secular, mas não só. Penso que temos uma relação económica e comercial profunda, e agora com os protocolos que foram assinados, e o projecto “Uma Faixa, Uma Rota” vai certamente aproximar-nos mais. Quanto ao papel de Macau é fundamental, porque é de charneira. A China considera Macau uma plataforma e acho que, na perspectiva de Lisboa, Macau é um dos principais elos de ligação. A nossa comunidade e o nosso papel, aqui, podem vir a ser desenvolvidos e aprofundados. Com a criação do projecto da Grande Baía, será importante ver como é que as regiões administrativas especiais poderão dar o seu contributo para desenvolver mais o sul da China. Ao nível da comunidade portuguesa, Macau poderá vir a ser, no futuro, considerado como um ponto para o ensino do português, mas para os chineses da China continental, em particular para aqueles que vivem na Grande Baía. Pode ser um pólo de desenvolvimento, um sítio onde as pessoas podem vir estudar. Acha que há know-how suficiente, nessa e outras áreas, para responder a esse desafio? Macau tem de dar um salto maior do que aquele que está a dar? É preciso que todas as partes se envolvam. Portugal tem mais-valias em termos de recursos humanos, temos professores de português e podemos colocá-los aqui nas universidades e escolas nos próximos cinco a dez anos. Em termos de apoio dos bancos às empresas, tem de ser visto caso a caso, mas seria bom que houvesse mais empréstimos para empresas que queiram investir aqui ou na zona da Grande Baía. Relativamente ao pedido de mudança do nome do consulado por Pequim, há alguma novidade? Não há novos desenvolvimentos.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeDiplomacia | Paulo Cunha Alves, novo cônsul, promete defender direitos da comunidade Há apenas dois dias como cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves quer apostar em eventos culturais que promovam a língua portuguesa, sem esquecer a cooperação económica. Além disso, Paulo Cunha Alves tem um objectivo primordial: “a promoção e defesa dos interesses da comunidade portuguesa em Macau” [dropcap style≠’circle’]A[[/dropcap]inda a semana passada estava em Camberra, Austrália, a despachar assuntos pendentes antes de vir substituir Vítor Sereno. Com apenas dois dias de trabalho no consulado de Portugal em Macau e Hong Kong, Paulo Cunha Alves apresentou-se ontem aos meios de comunicação social portugueses. Durante o encontro falou do seu percurso e apresentou os objectivos dos próximos anos. Um deles passa pela defesa dos direitos e interesses da comunidade portuguesa na RAEM. Nesse sentido, o diplomata prometeu organizar encontros regulares com as associações de matriz lusa no território. “Há um vector que tem a ver com a promoção e defesa dos interesses da comunidade portuguesa em Macau. Nessa medida, é minha intenção promover encontros regulares com os dirigentes associativos de matriz portuguesa e ligar-me à comunidade portuguesa, reforçando a eficácia e eficiência dos serviços consulares.” Paulo Cunha Alves falou do bom trabalho desenvolvido pelo seu antecessor quanto ao envolvimento com os portugueses que aqui vivem, mas adiantou que há margem de melhoria. “Sei que tem progredido bastante nos últimos quatro e cinco anos, mas entendo que há sempre lugar para fazer melhor e diferente e para agradar mais à comunidade. Esse é também um dos objectivos principais.” Durante o encontro de ontem o novo cônsul foi também questionado sobre as propostas de lei já anunciadas pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak. Mais especificamente, a lei da cibersegurança e o regime jurídico da intercepção e protecção das comunicações e a consequente possível redução de direitos dos residentes, inclusive da comunidade portuguesa. Contudo, o novo cônsul-geral português pouco adiantou quanto à possibilidade de intervir nesta matéria. “Essa é uma questão muito complexa”, começou por dizer. “Temos de ter presente o nível de relacionamento privilegiado que existe entre Portugal e China, por razões que são seculares. Estamos entre os países que mais defendem a liberdade de imprensa ou os direitos humanos, e somos acompanhados pelos países da União Europeia. Isso tem de ser conciliado com as questões de soberania nacional.” Falando como diplomata, Paulo Cunha Alves lembrou que “estamos num território estrangeiro onde as leis são feitas pelo poder Executivo local. A nossa capacidade de intervenção é limitada. Até onde estou disposto a ir? Essa é uma questão que terá de ser estudada entre Lisboa e a embaixada de Portugal em Pequim.” Atenção aos salários Um dos problemas deixados não apenas por Vítor Sereno, mas também pelos seus antecessores, prende-se com os baixos salários pagos pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português. Uma realidade que se traduz em falta de recursos humanos e no consequente atraso dos processos relativos à emissão de passaporte e cartão de cidadão. Paulo Cunha Alves garantiu “não ter uma solução milagrosa”, mas referiu que o MNE não esqueceu este assunto. “Isso não acontece apenas em Macau. A falta de recursos humanos e salários mais baixos acontece um pouco por todo o mundo, e não apenas com o serviço diplomático português. Mas isso não é desculpa e os serviços centrais do MNE estão conhecedores do problema e estão cientes do que é preciso fazer para o remediar.” “Posso dizer que durante o meu mandato continuarei a alertar Lisboa para a necessidade de encontrar soluções mais satisfatórias em termos de salários e números de funcionários para executar as tarefas essenciais deste consulado”, acrescentou. Ainda sobre os objectivos que traçou para o seu novo desafio, Paulo Cunha Alves deixou claro que é importante “aproveitar o legado histórico português para reforçar as relações bilaterais com a RAEM”. “Afinal 500 anos é algo que deve ser considerado e que nunca pode ser esquecido. Obviamente que a nossa postura não deve ser baseada no passado, mas deve ser dirigida ao futuro tendo em conta o passado. É muito importante notar que em muitos países ainda existe uma imagem que não é a actual imagem do nosso país, moderno, inovador, que tem uma produção académica muitíssimo importante em termos de pós-doutoramentos.” Ao nível da cooperação académica, Paulo Cunha Alves lembrou a sua experiência nos Estados Unidos, quando foi cônsul em Boston, e deixou claro que pretende reforçar ligações do género com universidades do território. “Em Boston acompanhava os programas especiais que Portugal tinha com a Harvard Medical School e o MIT (Massachusetts Institute of Technology) e isso deu-me uma ideia muito clara, já em 2009 e 2010, sobre aquilo que fazemos internacionalmente em termos de cooperação académica. Interessa-me não só promover eventos de carácter cultural, ou ligados à língua portuguesa, mas também continuar ou aprofundar os contactos entre universidades nacionais e universidades de Macau.” Paulo Cunha Alves prometeu também dar destaque à língua e cultura portuguesas. “Podemos chamar-lhe diplomacia cultural. Obviamente que agirei sempre em estreita colaboração com o IPOR [Instituto Português do Oriente], que tem uma presença bastante significativa em Macau, e com o Instituto Camões.” Ao nível da economia, o novo cônsul vai também trabalhar para “aprofundar os laços económicos entre Portugal e a RAEM, não só no sentido de captar investimento e comércio daqui para Lisboa, mas também o inverso. Aqui contarei com a colaboração da delegação da AICEP”, frisou. Turismo seleccionado Relativamente ao boom turístico de Portugal nos últimos anos, Paulo Cunha Alves defendeu que é importante melhorar as infra-estruturas e apostar num turismo de qualidade. “No meu entender, é preciso começar a seleccionar quem é que vai para Portugal. A minha opinião pessoal é que não podemos continuar a crescer de forma exponencial como tem acontecido nos últimos três ou quatro anos, criando alguns problemas logísticos, sobretudo nas grandes cidades. Temos nichos de mercado importantes ligados aos vinhos, ao ciclismo, aos roteiros culturais, às pousadas e é nessa medida que temos de trabalhar mais no futuro e promover a imagem de Portugal no estrangeiro.” O novo cônsul deu o exemplo das enormes filas de turistas que se concentram no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, para apanhar um táxi. “Portugal recebeu, no ano passado, 22 milhões de turistas, e estamos à espera de receber 25 milhões este ano. Somos um país com 900 anos de história, com infra-estruturas hoteleiras de qualidade, que tem de apostar naquilo que sabemos fazer bem, porque não somos uma França ou Espanha, e por isso temos de apostar num turismo de qualidade, porque as infra-estruturas são limitadas. Podemos vir a ter problemas se o crescimento turístico continuar como tem acontecido nos últimos dois a três anos”, defendeu. Curriculum Vitae | Um diplomata com 31 anos de carreira Começou há 31 anos nas lides da diplomacia e, apesar de ter vindo directamente de Camberra, capital da Austrália, directamente para Macau, Paulo Cunha Alves já desempenhou funções em Bruxelas e Boston. Na Austrália teve a responsabilidade de responder perante os portugueses residentes em 16 países ou regiões. “Em Camberra fui também responsável pela Nova Zelândia e por todos os Estados do Pacífico-sul, uma vez que Portugal não tem outra embaixada na região. A partir de Camberra cobrimos 16 países, o que significa também 16 votos na ONU. É um posto diplomático muito importante do ponto de vista multilateral.” Ontem, no encontro com jornalistas e directores dos vários meios de comunicação social em língua portuguesa, Paulo Cunha Alves lembrou a sua experiência diplomática em Moçambique como uma das mais enriquecedoras. “Servi, pela primeira vez, na embaixada portuguesa em Bruxelas, e depois tive uma experiência em Maputo, que continua a ser para mim a experiência mais enriquecedora desde 1987, quando entrei para o serviço diplomático.” Depois disso, o diplomata esteve em Lisboa “em vários serviços”, um deles dedicado à zona da África subsariana. Na capital portuguesa, o novo cônsul português na RAEM passou pelo gabinete do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação. “Foi nessa altura que conheci a Austrália pela primeira vez, em 2003”, recordou. Paulo Cunha Alves voltaria a Bruxelas para desempenhar funções diplomáticas junto das instituições europeias. “Depois de Lisboa voltei a sair para Bruxelas mas desta feita para trabalhar enquanto conselheiro para assuntos de justiça e internos na nossa [Portugal] representação permanente junto da UE.” Para o cônsul, “foi um período muito importante porque coincidiu com a nossa presidência do conselho de ministros, e eu era encarregado das questões de contra terrorismo, cooperação policial, tráfico de drogas e de seres humanos. Todas as grandes questões da política internacional onde a UE está cada vez mais envolvida e tem um papel cada vez mais importante e determinante.” Agenda preenchida Seguiram-se os Estados Unidos e um trabalho que ocupava a vida de Paulo Cunha Alves sete dias por semana. “Depois desta segunda passagem por Bruxelas fui para Boston, para o consulado-geral, com uma comunidade muito vasta, com 300 mil pessoas em Massachussetts. É uma comunidade muito dividida também em termos geográficos, porque o Estado, apesar de ser pequeno, tem distâncias consideráveis entre as cidades. A comunidade portuguesa não está em Boston, está noutras cidades mais afastadas também, e isso obrigava a deslocações constantes, incluindo ao fim-de-semana. Tive aquilo a que se pode chamar um trabalho de sete dias por semana, sempre ao serviço da comunidade portuguesa”, rematou. Além de ter falado da sua vida profissional, Paulo Cunha Alves assumiu-se como um defensor da liberdade religiosa. “Cada um tem as suas convicções pessoais e religiosas, sou muito ecumenista nessa perspectiva e participarei em qualquer evento religioso, em qualquer igreja, sem qualquer problema.”