Arquitectura | Nuno Soares defende material em construção permanente

A estudar e trabalhar o bambu há mais de 20 anos, Nuno Soares vê futuro para as construções permanentes com este material em Macau, onde tem tradição e valor económico associado, mas onde também falta regulamentação. Empresária de andaimes conta os segredos de um negócio tradicionalmente gerido por homens

 

Para Nuno Soares, a versatilidade do bambu não se esgota na construção temporária. Nem nos habituais andaimes que revestem arranha-céus em progressão, nem em palcos de ópera cantonense erguidos em festividades, ou esculturas gigantes, pensadas por estudantes ou artistas, ou até mesmo em momentos que hoje seriam improváveis – e que não dispensaram contestação – como o que ocorreu na recta final da administração portuguesa, quando se improvisou uma praça de touros em bambu no centro de Macau.

O arquitecto e académico português distingue “um potencial que ainda não está totalmente explorado”: a utilização deste material, enraizado na tradição e no tecido económico da cidade, para dar vida a estruturas de bambu sem data de demolição. Existe regulamentação apenas para projectos temporários. “Não podemos ser fundamentalistas e defender só o que conhecemos e estamos habituados”, diz em entrevista à Lusa o arquitecto. Há uma obrigação disciplinar do campo da arquitectura e da construção de criar melhores produtos “do ponto de vista da sustentabilidade, resistência e estética”, defende.

Soares, natural de Lisboa, mas a viver em Macau desde 2003, cruzou-se pela primeira vez com o potencial deste “material lindíssimo” na construção quando visitou Macau em 1997. E o que é um elemento tão rotineiro para quem vive o dia-a-dia da região foi para o português, com visão habituada a outra paisagem urbana, o início de uma viagem.

No Centro de Arquitectura e Urbanismo (CURB), que fundou com a designer Filipa Simões em 2014, tem conduzido investigação neste campo, com trabalho feito junto de artesãos de bambu.

Também na Universidade de São José (USJ), onde está à frente do Departamento de Arquitectura e Design, o português orienta anualmente, em colaboração com a indústria, a construção de um pavilhão em bambu – com material usado na montagem de andaimes e que, no final, volta a servir esse mesmo propósito.

“Uma arquitectura que é muito inovadora, muito desafiante, que usa design paramétrico do mais sofisticado a nível mundial e depois constrói com uma técnica artesanal”, diz sobre o projecto, notando que apenas empresas e técnicos especializados estão autorizados a construir em bambu por uma questão de segurança pública.

Pernas para andar

No campo da construção permanente, a USJ está a desenvolver em parceria com a Assumption University, da Tailândia, um projecto que prevê a edificação de uma estrutura, “para depois monitorizar ao longo do período de vida” envelhecimento e desempenho do edifício e se poderem tirar conclusões. Apesar de ser um material que se degrada, existem técnicas para lidar com a construção permanente em bambu que diferem das opções para obras limitadas no tempo. “Não devemos impedir a evolução”, defende.

Além da Tailândia, onde existe um código que permite a edificação de construções permanentes em bambu, a arquitectura sem termo é comum em várias outras geografias da região, como é o caso da Indonésia, sendo a ‘Green School’, em Bali, uma escola privada, obra de destaque.

“O bambu, como construção permanente entra numa classificação de materiais que são aqueles que são as estruturas leves, como algumas estruturas de metal. É importante que nós usemos os materiais que sejam adequados. Em Macau temos tanta experiência e tradição de utilização do bambu, que ele já faz parte da paisagem urbana”, reflecte.

Há que perceber onde estas estruturas em bambu podem ser úteis: “Nomeadamente nas construções em edifícios que existem, construções em terraços, porque são estruturas que são leves naturalmente, que transportam pouco peso para a estrutura existente.”

“O bambu tem pernas para andar e coisas para fazer no futuro, e já vimos que há uma indústria de ponta que está também a trabalhar com bambu, a fazer aglomerados com bambu”, concretiza, referindo-se à criação de produtos compostos produzidos a partir deste material.

Madame Bambu

Manifestação “do desenrascar” e da vontade de construir rapidamente, a tradicional técnica de montagem de andaimes de bambu ajusta-se ainda hoje à moderna Macau de densa malha urbana. A transição total para metal teria impacto socioeconómico.

A Yoyo Leong pertence um império. E para perceber isso, basta percorrer o terreno da empresária no centro da Taipa, onde está localizada a Wiyu, negócio de instalação de andaimes que herdou do pai. Assume-se como a única mulher na gestão de uma empresa do género, e não é difícil acreditar: Yoyo circula entre armazéns, andaimes de metal encavalitados pelo caminho, um mundo com homens a orbitar em torno desta empresária.

“Onde estão os de bambu?”, pergunta a um funcionário. O homem segue ao nosso lado, aponta para onde gigantescas mantas de lona protegem as canas da chuva, do sol. A exposição pode limitar o tempo de vida da planta. “No início, não estava habituada a ir para a obra. Tive de ultrapassar muitos obstáculos, a sujidade, o trabalho duro, uma ida à casa de banho, o peso dos sapatos e capacete de segurança”, lembra.

Foi em Zhuhai, do outro lado da fronteira, que o pai se lançou no negócio dos andaimes de metal. O bambu veio mais tarde, no arranque do século, quando se mudaram para Macau. Desses primeiros tempos, Yoyo recorda o acto de amarração. “É necessário ter técnica para amarrar o bambu, pois se não estiver bem apertado, fica solto e isso afecta toda a estrutura do andaime. A técnica é muito importante e é necessário usar os pés também”, explica.

Numa das extremidades do terreno, está o escritório da Wuyi, numa estrutura pré-fabricada. A fachada não denuncia o interior: está lá a tradicional mesa de servir chá, um tanque com carpas – símbolo de sorte e fortuna na cultura chinesa -, uma figueira-dos-pagodes a atravessar o tecto até ao exterior e até o modelo de um foguetão decorado com a bandeira chinesa e com mais de dois metros.

Nas paredes, fotografias do pai de Yoyo ao lado de antigos líderes do Governo local. Também imagens que testemunham alguns projectos da empresa, como o Centro de Ciência de Macau, o hotel-casino MGM e, mais recentemente, o resort integrado Londoner, da concessionária de jogo Sands China. As intervenções da empresa nestas três obras foram realizadas com andaimes de metal.

Apesar disso, diz Yoyo Leong, metal e bambu são usados em igual proporção em Macau. As seis torres residenciais que a Wuyi está agora a trabalhar na Zona A, onde vai nascer habitação pública, crescem em paralelo com andaimes de bambu.

Mudança no horizonte

O debate sobre esta antiga técnica de construção voltou à ordem do dia desde que as autoridades da vizinha Hong Kong anunciaram, em Março, que vão “promover uma adopção mais ampla de andaimes metálicos em obras públicas”. Alegaram questões de segurança, com a ocorrência de 23 mortes a envolver andaimes de bambu desde 2018.

Em Macau, quatro pessoas morreram em acidentes de trabalho graves com andaimes de bambu desde 2018, de acordo com dados facultados em Abril pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais ao Jornal Tribuna de Macau, “sendo a causa dos acidentes principalmente a queda humana”.

Mas para já, não há planos de baixar as canas na cidade, onde a montagem de andaimes com este material está inscrita desde 2017 no inventário do património intangível cultural local. Numa resposta à Lusa, as autoridades dizem estar atentas ao desenvolvimento do sector, “tendo uma atitude aberta” perante a utilização dos de metal.

Sobre esta nova directriz em Hong Kong, o arquitecto Nuno Soares avalia que, “aparentemente, é uma medida de evolução tecnológica e ao nível da segurança na construção”, embora “muito ditada pelo interesse económico das grandes empresas construtoras” daquela região.

Já no caso de Macau, nota o português, a obrigatoriedade do metal pode ter impacto socioeconómico na região: “Estamos a falar de uma economia em que temos muitas empresas que são pequenas e médias. A construção civil tem centenas de empresas e se nós tornarmos obrigatório o uso de andaimes de metal, estamos a transformar este tipo de economia.”

Ainda sobre os andaimes de metal, refere o arquitecto, estes podem ser “mais resistentes, mas também mais pesados e dispendiosos”, além de “exigirem maquinaria especializada e empresas de grande porte”.

Vergar sem quebrar

Mas a segurança é também elemento categórico da alternativa bambu, um material flexível, que cresce rápido, abunda na região e é barato. Em períodos de ventos fortes ou tempestades tropicais, explica Nuno Soares, “a estrutura de bambu é mais leve e tem mais redundância, ou seja, está ligada à estrutura dos edifícios em mais pontos, verga mais rápido do que parte”.

Além disso, numa cidade com uma malha urbana densa como Macau, com ruas estreitas, o andaime de metal vai ocupar uma base maior, podendo dificultar a circulação, ao passo que os de bambu “têm um ‘footprint’ muito pequeno, aumentando à medida que se sobe em altura”.

Apesar de as hastes desta opção serem reutilizáveis, Yoyo Leong admite que as barras de metal têm maior esperança de vida, além de serem resistentes ao fogo e exigirem menos conhecimento técnico na montagem.

E nesta discussão, claro, cabe ainda o futuro dos artesãos locais, que dificilmente encontrarão uma nova geração disposta a trepar o xadrez de bambu. “Como todos os trabalhos muito físicos, tem menos adesão da nova geração, mas há também uma oportunidade, porque, novamente, tem um valor económico que ainda é significativo”, realça Soares.

O bambu, diz ainda, não é só passado. E em Macau há que continuar a valorizar esta técnica local, ao invés de “importar só outras tradições”. “Esta técnica vernacular, esta técnica de desenrascar e de construir rapidamente está intrinsecamente ligada à construção em Macau e é regulada. O bambu fez Macau”, afirma-

1 Set 2025

Arquitectura | Nuno Soares premiado nos French Design Awards

O arquitecto português Nuno Soares, radicado há vários anos em Macau e ligado ao curso de arquitectura da Universidade de São José, viu o seu projecto para o Pavilhão do Património Mundial de Macau ganhar o “Prémio de Prata” nos French Design Awards. A proposta, desenvolvida pelo atelier Urban Pratice, pretende mostrar o património único do território

 

Nuno Soares, arquitecto principal do atelier Urban Pratice, acaba de ser distinguido nos French Design Awards com o “Prémio de Prata” atribuído ao projecto para o Pavilhão do Património Mundial de Macau, submetido a concurso na categoria Design de Interiores/Exposições, Pavilhões e Exposições para a edição do ano passado dos French Design Awards. Porém, este mesmo projecto já tinha sido submetido a concurso público, realizado pelo Instituto Cultural (IC), para o mesmo projecto do pavilhão, que visa “preservar, revelar, exibir e promover o Património Mundial de Macau”, com protecção e classificação da UNESCO.

Segundo uma nota da Urban Pratice, o projecto vencedor pretende “mostrar o que torna Macau único enquanto cidade Património Mundial da UNESCO”, nomeadamente “a interação entre as culturas chinesa e ocidental”.

“A localização do projecto, na Rua de D. Belchior Carneiro, está ligada a monumentos históricos próximos como as Ruínas de São Paulo e a Fortaleza do Monte. A fachada dinâmica do pavilhão permite uma permeabilidade entre interior e exterior possibilitando uma iluminação interior flexível e uma experiência de visita única onde o visitante poderá explorar o património de Macau a partir de várias perspectivas”, pode ler-se.

Conexão tecnológica

O projecto do pavilhão foi desenhado com recurso a tecnologia de ponta e recursos interactivos “para melhorar a experiência dos visitantes”, é explicado, sendo que o hall de entrada do pavilhão foi concebido para oferecer vistas das Ruínas de São Paulo, sendo que “através da tecnologia da realidade aumentada [é possível] restaurar o seu layout [configuração] original”.

“A proposta da Urban Pratice organizou os espaços com base na altura do terreno, preservando árvores e vegetação centenária, e implementou princípios de design sem barreiras para melhorar a acessibilidade, proporcionando uma integração harmoniosa com o ambiente exterior”, descreve-se ainda.

Segundo Nuno Soares, “esta abordagem visou principalmente preservar e destacar o Património Mundial de Macau a um público mais vasto”. “A selecção de materiais e tecnologias para este projecto foi baseada em princípios sustentáveis e nas melhores práticas de preservação. Com a ambição de celebrar a história de Macau, um elemento chave do projecto é o pátio vertical com uma parede do chão ao topo feita com taipa local, material outrora utilizado na antiga muralha da cidade que atravessa o local do projecto”, explicou também, citado pela mesma nota.

Os French Design Awards são uma competição internacional organizada pela International Awards Associate (IAA), visando reconhecer profissionais nas áreas de arquitectura, interiores, produtos e embalagens.

7 Fev 2025

Arquitectura | Nuno Soares eleito secretário-geral da CIALP

Nuno Soares foi eleito secretário-geral do Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa (CIALP) para o triénio 2023-2026. A eleição aconteceu durante a Assembleia Geral do CIALP no 25º Encontro do Conselho, em Foz do Iguaçu, Brasil, a 17 de Novembro de 2023.

Também Francisco Ricarte foi escolhido membro do Conselho Fiscal, para o triénio 2023-2026. Anteriormente, Rui Leão desempenhou as funções de presidente do Conselho Directivo nos anos 2017-2019 e 2019-2023. O CIALP serve de plataforma para mais de 250,000 arquitectos de língua portuguesa, representados pelos delegados das associações profissionais dos respectivos países e territórios, um universo que engloba cerca de 250 milhões de falantes de português.

A organização conta com membros espalhados por quatro continentes, em nove países e territórios, nomeadamente Angola, Brasil, Cabo Verde, Goa, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, e São Tomé e Príncipe, e Macau.

22 Nov 2023

Arte Macau | “Intertwine”, o pavilhão que também olha para o futuro 

É hoje inaugurado, às 18h, o pavilhão de bambu construído pelos finalistas do curso de arquitectura da Universidade de São José. O projecto “Intertwine” integra a edição deste ano da Bienal Internacional de Arte de Macau e, além de recorrer a uma técnica tradicional de construção em bambu, traz também inovação e um olhar sobre o futuro

 

O campus da Universidade de São José (USJ), na Ilha Verde, recebe hoje um novo pavilhão inteiramente construído em bambu pelos alunos finalistas do curso de arquitectura.  “Intertwine” celebra não só as técnicas tradicionais de construção de andaimes em bambu no sector da construção civil mas acrescenta-lhe ainda técnicas inovadoras, conforme contou ao HM o arquitecto Nuno Soares, coordenador do projecto.

“Todos os anos, desde 2013, que fazemos um pavilhão de bambu em que são usadas as técnicas tradicionais juntamente com novas técnicas digitais e a criatividade dos nossos alunos. Neste caso, o exterior do pavilhão entrelaça-se com o interior e é usado um material tradicional, mas cria-se uma forma e existência especial muito dinâmicas, fluídas e inovadoras.”

O projecto “Intertwine” integra a edição deste ano da Bienal Internacional de Arte de Macau, algo que para Nuno Soares constitui uma boa oportunidade para os alunos mostrarem aquilo que valem antes de integrarem o mercado de trabalho.

“Este é o último projecto antes de se licenciarem, e queremos que saiam em grande e que acabem o curso com um projecto de excelência. Este tem grandes dimensões, [é feito] com uma técnica construtiva original e é o momento em que os alunos conseguem fazer o projecto do início ao fim num curto período de tempo, uma vez que normalmente os projectos de arquitectura demoram meses a ficarem concluídos.”

Pátio com céu

“Intertwine” não é mais do que um pátio onde, quando se entra, se vê o céu. Além de já integrar uma exposição, a ideia é que este pavilhão possa também receber outro tipo de eventos. “Temos uma chamada para projectos onde diferentes organismos dentro da USJ e da comunidade à volta podem fazer eventos. Não queremos que seja uma escultura mas sim um espaço usado pela comunidade académica e envolvente. Estamos a convidar a cidade para entrar no campus da USJ e trocar ideias com a comunidade académica”, explicou o arquitecto.

Nuno Soares considera o “Intertwine” “aliciante”, uma vez que permite “olhar para uma técnica que todos conhecemos no nosso quotidiano e ver que pode ser usada para criar uma arquitectura inovadora ou pode ser levada para o futuro”.

Para o arquitecto, construir com bambu é recorrer “a um elemento do passado que tem muito futuro ainda”. Mas há também uma ideia de sustentabilidade em torno deste pavilhão, uma vez que “o bambu vai continuar a ser usado depois”. “Há também uma mensagem de reutilização e de sustentabilidade, e que é uma das marcas do curso de arquitectura”, adiantou.

O pavilhão de bambu “Intertwine” pode ser visitado ou utilizado pela comunidade até ao dia 28 de Setembro de segunda-feira a sábado das 9h às 19h.

30 Jul 2021

TEDX Senado Square | Edição deste ano é online e acontece a 9 de Agosto

A edição deste ano do TEDX Senado Square acontece no dia 9 de Agosto entre as 14h e 16h numa versão online. Venus Loi, promotora do evento, diz que a lista de inscrições já excedeu as expectativas. Painel de convidados conta com a presença do arquitecto português Nuno Soares e de Kitty Choi, que, a partir de Hong Kong, falará sobre sexualidade e relações, entre outras personalidades

 

[dropcap]A[/dropcap] pandemia da covid-19 ditou que a edição deste ano do painel de debates do TEDX Senado Square seja online, mas nem por isso menos diverso. O evento acontece no dia 9 de Agosto, domingo, entre as 14h e 16h e já é conhecido o programa deste ano que se pauta, acima de tudo, pela diversidade, conforme explicou Venus Loi, promotora do evento, ao HM.

“Tentámos obter alguma diversidade. Alguns oradores falam de questões pessoais e outros falam também do desenvolvimento da cidade de uma maneira geral. Temos diferentes ângulos e espero que possamos partilhar boas ideias nesta altura de pandemia.”

Nuno Soares, arquitecto português, é um dos convidados e irá abordar o tema do desenvolvimento urbanístico do território. Derek Wong, professor da Universidade de Macau, irá apresentar o seu projecto da máquina de tradução automática de chinês para português e de português para chinês. “Ele tem vindo a trabalhar neste projecto nos últimos 14 anos e ganhou vários prémios internacionais. Penso que esta é uma boa oportunidade para deixar as pessoas saberem que também temos boas invenções em Macau”, disse Venus Loi.

Segue-se Kitty Choi, mestranda em psicologia pela Universidade de Hong Kong e directora da Sticky Rice Love, uma plataforma onde jovens podem discutir sobre sexualidade e relações amorosas. Com esta entidade, Kitty Choi promove também a educação sexual em Hong Kong.

“Não nos queremos focar num tema em específico e queremos ter uma variedade de tópicos para discussão”, adiantou a promotora do TEDX Senado Square. “Temos o arquitecto que irá falar sobre o planeamento urbanístico e o desenvolvimento da cidade, e temos uma educadora de Hong Kong que vai abordar muitas questões que os jovens de hoje em dia têm em relação à sexualidade e relações. Teremos também uma convidada [Daisy Ma] que o ano passado viajou até ao Nepal e que irá partilhar connosco algumas das experiências que viveu, nomeadamente as questões ambientais com as quais se deparou durante essa viagem.”

Música incluída

O cartaz da edição deste ano do TEDX Senado Square fica completo com mais duas convidadas de Hong Kong, Cintia Nunes e Dorothy Lam. Juntas criaram a Dream Impact 2.0, focada no conceito de lugar de trabalho partilhado e na criação de uma comunidade de empreendedores e de startups com recursos e impacto social.

As duas oradoras “vão revelar a experiência de empreededorismo social e de inovação porque trabalham nesta área há muito tempo”, explicou Venus Loi. “Pode-se encontrar um equilíbrio entre uma organização não-governamental e um modelo de negócio, mas Macau não está tão desenvolvido como Hong Kong neste âmbito. É um conceito novo para o território e queremos mostrar isso”, adiantou a responsável pelo evento.

Para já, a adesão do público ao TEDX Senado Square parece ser muita. “A nossa lista de registos está acima das expectativas neste momento. Esta não está limitada a pessoas de Macau, embora Macau seja sempre a nossa prioridade em termos de público.” Além dos discursos e debates, o evento conta também com a presença musical do DJ Akitsugu Fukushima e espectáculo com uma associação de dança. Mesmo com os desafios da pandemia, Venus Loi assume querer continuar a organizar este evento anual, procurando captar novos membros para a edição de 2021.

28 Jul 2020

CURB integra Aliança de Designers Urbanos da Grande Baía

[dropcap]U[/dropcap]ma associação de Macau ligada a projectos de arquitectura, liderada por Nuno Soares, integrou uma aliança de organizações para melhorar o espaço urbano no projecto da Grande Baía.

“O objectivo é muito claro: promover a qualidade do desenho urbano, planeamento urbano, da arquitectura da Grande Baía e fazer com que as populações e os governos dêem mais valor à qualidade do planeamento urbano no desenvolvimento das cidades”, disse à Lusa o presidente do CURB – Center for Architecture and Urbanism, o arquitecto Nuno Soares.

Na quarta-feira, a organização não-governamental criada em Macau em 2014 para promover pesquisa, educação, produção e disseminação de conhecimento nas áreas de arquitectura, urbanismo, design e cultura urbana integrou a fundação da Aliança de Designers Urbanos da Grande Baía (GBAUDA, na sigla em inglês).

A cerimónia de assinatura dos cinco institutos fundadores teve de ser feita ‘online’, devido às contingências da covid-19, e contou com a participação da Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam.

“Esta aliança surge num contexto de desenvolvimento urbano estratégico desenvolvido pelo Governo Central da China de fazer com que esta zona do Rio das Pérolas passe a ser a Grande Baía”, explicou Nuno Soares. Contexto esse que criou a necessidade de se criarem políticas e colaborações entre as várias cidades, acrescentou.

No futuro, frisou o arquitecto português, “estas cidades vão ter um planeamento coordenado (…) vão ser criadas bastantes sinergias e interdependências e isso vai espoletar uma série colaborações ao nível da academia, institutos profissionais”. Esta ‘aliança’ surge por isso mesmo: “instituições profissionais no campo do desenho urbano da Grande Baía que resolveram juntar-se, fazer uma aliança, para com isso promoverem a qualidade do espaço urbano, desenho urbano, na Grande Baía”.

Muito no pouco

Neste momento, a associação conta com representantes de cinco das 11 cidades, mas o objectivo é alargar a cooperação aos restantes territórios, sublinhou Nuno Soares.

O arquitecto português explicou ainda que o objectivo da GBAUDA não é uniformizar a arquitectura na Grande Baía, mas sim dar mais importância ao espaço público. “Cada uma das cidades vai continuar a ter a sua idiossincrasia e a sua especificidade”, disse.

Nuno Soares acredita que Macau tem condições para se promover um desenvolvimento urbano de excelência, apesar das limitações impostas pela elevada densidade populacional. Macau cresceu muito em termos económicos e em Produto Interno Bruto, disse, “mas não melhorou ainda a qualidade de vida. Acho que Macau tem de se concentrar em melhorar a qualidade de vida”. Mais espaços verdes, melhores transportes, melhores espaços públicos, deve ser o foco, concluiu.

24 Jun 2020