Análise | Empresas chinesas buscam mercados emergentes para contornar sanções

A economista Fernanda Ilhéu defende, no recém-publicado Anuário da Economia Portuguesa 2024, que as empresas chinesas “estão a entrar numa nova fase de expansão global” com aposta em mercados emergentes do chamado “Sul Global”, para contornar “atitudes proteccionistas do Ocidente”

 

A economia chinesa é um dos destaques do mais recente Anuário da Economia Portuguesa, relativo a este ano, pela mão da economista Fernanda Ilhéu, que assina o artigo “Modelo Económico da China e Nova Fase de Globalização”.

A economista, ex-residente em Macau, defende que as empresas do país procuram cada vez mais novos mercados para expandirem e fugirem a novos constrangimentos comerciais.

“As empresas chinesas estão a entrar numa nova fase da sua expansão global utilizando a sua tecnologia e marcas, desenvolvendo, sobretudo no Sul Global, as suas cadeias de valor com vista a vendas nesses mercados, mas também em mercados desenvolvidos, evitando assim as tarifas alfandegárias aplicadas a alguns produtos feitos na China”, pode ler-se.

Entende-se por Sul Global o conjunto de países ligados à ideia de Terceiro Mundo ou, até, com economias em desenvolvimento.

Fernanda Ilhéu menciona também o actual cenário de abrandamento económico chinês, em linha com as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) tornadas públicas esta quarta-feira.

“O abrandamento do crescimento da procura no mercado interno chinês, e a feroz concorrência ali existente, tem levado as empresas chinesas a disputar os mercados das multinacionais americanas, europeias, japonesas, e não apenas nos países desenvolvidos, mas também em muitos países do Sul Global, onde a sua entrada está a ser facilitada pelos esforços diplomáticos do Governo chinês junto dos países com investimentos BRI”, ou seja, na Belt and Road Initiative, ou Faixa e Rota.

A autora destaca os exemplos de empresas chinesas nesta situação, citados na edição da The Economist de Agosto deste ano. Temos, assim, “a empresa Transsion, que produz mais de metade dos smartphones comprados pelos africanos, e a Mindray, que é a fornecedora líder de sistemas de monitoramento de pacientes na América Latina”.

A marca de retalho Shein vende, sobretudo, para “os consumidores brasileiros e mexicanos”, enquanto os “veículos eléctricos chineses com relevo para [as marcas] SAIC e BYD e as turbinas eólicas estão a expandir-se no mundo em desenvolvimento”. Segundo a The Economist, entre 2016 e 2023 “as vendas das empresas chinesas ao Sul Global quadruplicaram, atingindo 800 biliões de dólares e excederam as realizadas no mundo desenvolvido”, referiu a economista.

Recorde-se que as mais recentes previsões do FMI apontam para um possível agravamento da situação do mercado imobiliário na China, tendo reduzido as expectativas de crescimento para aquela que é considerada a segunda maior economia do mundo.

No relatório World Economic Outlook, o FMI reduziu a previsão de crescimento da China para este ano para 4,8 por cento, menos 0,2 por cento do que na projecção difundida em Julho. Em 2025, o crescimento deverá situar-se em 4,5 por cento, indicou a instituição, sublinhando também que a contracção do sector imobiliário chinês acima do esperado é um dos muitos riscos negativos para as perspectivas económicas globais.

“As condições para o mercado imobiliário podem piorar, com novas correções de preços no meio de uma contracção das vendas e do investimento”, lê-se no relatório.

Globalização é o caminho

Para Fernanda Ilhéu, as respostas para o sector empresarial chinês passam cada vez mais pelas oportunidades que a globalização pode fornecer, tendo em conta que “as atitudes proteccionistas do Ocidente têm levado a China a reforçar a sua presença no mundo emergente”.

Um dos exemplos mais notórios tem sido o braço de ferro entre países europeus e a China nas aquisições da rede 5G, ou ainda as tentativas de impor limites à exportação de carros eléctricos chineses com a aplicação de sanções provisórias.

Em Outubro do ano passado, a Comissão Europeia começou uma investigação que concluiu que a China beneficiaria de subsídios desleais na produção destes veículos, o que estaria “a ameaçar os produtores destes veículos na União Europeia”, lê-se no comunicado da instituição europeia no passado dia 4 de julho, no qual anunciava as novas medidas.

Foram, assim, aplicados os chamados “direitos de compensação” que, na prática, são impostos adicionais a marcas como a BYD, Geely e SAIC, respectivamente, de 14,4, 19,9 e 37,6 por cento. Os restantes produtores de veículos chineses elétricos a bateria estão sujeitos a uma tributação de 20,8 por cento e “outras empresas que não cooperem” estão sujeitas à mesma percentagem da SAIC.

Assim, segundo o artigo publicado no Anuário da Economia Portuguesa, “a entrada [da China nos mercados emergentes] faz-se cada vez mais através das cadeias de abastecimento globalizadas chinesas, por investimento directo estrangeiro green field que, de acordo com a fDi Markets, triplicou em 2023 alcançando o valor de 162,7 biliões de dólares”.

“A última vez que, nos últimos dez anos, a China tinha ultrapassado os 100 biliões de dólares de investimento no exterior tinha sido em 2016”, acrescenta-se.

O que virá?

Fernanda Ilhéu destaca que a China é “um país de classe média alta, de acordo com os critérios do Banco Mundial”, tendo a “pobreza absoluta sido erradicada em 2020”, embora “17,2 por cento da população chinesa ainda viva com menos de 6,85 dólares por dia (em termos de 2017 Paridade de Poder de Compra)”.

Porém, o cenário é hoje de abrandamento, sobretudo depois da covid-19. “As previsões são que, em 2024, o crescimento da economia chinesa desça para 4,5 por cento porque as vendas a retalho e a produção industrial estão a desacelerar, e o investimento em activos fixos a recuar.”

Fernanda Ilhéu destaca que “apesar das medidas que têm sido tomadas para evitar uma distribuição do rendimento muito desigual, elas permanecem entre o rendimento urbano e rural e entre as províncias”. Desta forma, “a procura interna permanece lenta, assim como a confiança nos negócios, muito afectada pela descida do valor do imobiliário na sequência da falência de grandes empresas do sector como o gigantesco colapso do Grupo Evergrande”.

Tratou-se de uma “falência de 340 biliões de dólares com efeitos sinérgicos em todo o tecido empresarial na China, nos investidores e nos consumidores”, destaca a economista, que aponta ainda outras explicações para este cenário de abrandamento.

“O fraco crescimento da economia reflecte também uma demografia adversa, pouco aumento de produtividade e o aumento de restrições a um modelo de investimento suportado pela divida, que é enorme, embora tenha vindo a diminuir”.

Assim, as autoridades chinesas já assumiram, segundo a economista, “a necessidade de introduzir políticas que relancem e reequilibrem a economia chinesa com elevadas repercussões na economia mundial”. Tratou-se de algo que gerou “enormes expectativas, interna e externamente, para a reunião do Terceiro Plenário do Comité́ Central do Partido Comunista da China, que se reuniu em Pequim, nos dias 15 a 18 de Julho de 2024”.

Assim, o grande objectivo do 14º Plano Quinquenal, pensado para os anos de 2021 a 2025, é, segundo Fernanda Ilhéu, “a passagem do crescimento de alta-velocidade para alta-qualidade”, existindo o objectivo de “modernizar o sector industrial, melhorar a ciência e tecnologia, impulsionar o rendimento das famílias e o consumo e expandir a classe média”.

Pretende-se ainda “revigorar as zonas rurais, coordenar o desenvolvimento regional e os programas de urbanização”, apresentar “soluções económicas avançadas, subir e integrar as cadeias de fornecimento completas com a ajuda de empresas estrangeiras” e garantir uma “maior abertura de mercado para atrair investimento directo estrangeiro”.

Em termos gerais, as autoridades de Pequim pretendem construir “um mercado interno unificado sem barreiras entre províncias que facilite o desenvolvimento de várias entidades do mercado”, bem como uma “interacção entre as políticas” da iniciativa Faixa e Rota.

No Plenário de Julho ficou também confirmado, para Fernanda Ilhéu, que “as autoridades [chinesas] estão a tomar medidas para reduzir as despesas familiares aumentando o seu rendimento disponível, melhorar a segurança social, mas também medidas para aumentar a criação de emprego de alto valor acrescentado, uma vez que o desemprego maior é nos jovens que têm elevados níveis de educação”.

Em termos dos governos das províncias, o Plenário de Julho tentou trazer novas medidas para “reduzir a sua vulnerabilidade financeira, como reformas que rebalançam as responsabilidades orçamentais e as receitas entre os governos locais e o central”. Desta forma, descreve Fernanda Ilhéu, “fortalece-se a autonomia financeira local e a melhoria da gestão da dívida”.

Até 2035 pode-se esperar o alcance de uma “modernização socialista” do país, descreve o artigo, graças a cenários de “autossuficiência económica e tecnológica, inovação e produtividade, uma transição ecológica e igualdade”. A prioridade é a “segurança nacional e o fortalecimento das relações entre o partido, a sociedade e a economia”, remata a análise de Fernanda Ilhéu, que também preside à Associação Amigos da Nova Rota da Seda.

24 Out 2024

Fernanda Ilhéu | Economista quer ver mais produtos portugueses legais na China

Economista, docente universitária e presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda, sediada em Portugal, Fernanda Ilhéu participou no III Fórum Faixa e Rota para Cooperação Internacional e falou com os media chineses sobre o evento, o trabalho da sua Associação e as relações China-Portugal, sublinhando que no campo das relações comerciais a balança tende demasiado para um dos lados.

Começando por fazer um balanço positivo da sua participação no evento, Fernanda Ilhéu afirmou que a iniciativa chinesa permite obter uma “imagem mais global” dos acontecimentos actuais e expressou o desejo de que a iniciativa mantenha “uma estratégia de desenvolvimento sustentável” e que crie “confiança nos diversos países para continuarem a trabalhar em conjunto”.

A Associação Amigos da Rota da Seda, instituição a que preside, é um think tank que, explica, analisa a cooperação Portugal-China e estuda possibilidade de desenvolver essa cooperação no contexto do memorando de entendimento assinado entre os dois países aquando da visita de Xi Jinping a Portugal em 2018. “Fazemos permanentemente conferências, estudos, almoços de networking, várias iniciativas que divulgam o que está a acontecer e analisam o que pode ser feito”, expande.

“Existe uma vontade de cooperar, tem existido nos últimos anos bastante investimento da China em Portugal, nós esperamos que continue”, afirma. Essa disponibilidade, elabora, existe no sector empresarial e governamental. “Por exemplo, durante a Covid houve uma boa cooperação entre o governo português e chinês, primeiro na ajuda à China e depois na ajuda da China a Portugal”.

No sector do “ensino da língua portuguesa, existem cerca de 60 universidades na China com estudos de português, existe uma boa colaboração a nível das trocas culturais. Também ao nível do turismo começamos agora a ver outra vez o turismo chinês a chegar a Portugal. Os investimentos da China em Portugal têm sucesso, portanto, estou a falar da participação de empresas chinesas no capital de empresas portuguesas”.

“As empresas portuguesas, que têm parcerias com a China, estão satisfeitas com esses parceiros e têm fortalecido as suas empresas, têm criado dimensão e têm expandido a sua actividade internacional. Nesses sectores do investimento destacamos a energia, a saúde, a parte financeira, a parte da construção, portanto, tem variado”, prossegue.

No entanto, a entrevistada deixa a ressalva de que “existe um aspecto que não tem tido muito sucesso, que é o aspecto comercial”. “A nossa balança de pagamentos está muito deficitária e existem muitos produtos que nós poderíamos vender à China se tivéssemos licenças de importação do lado chinês. Os produtos, muitas vezes, têm clientes, mas não podem entrar na China porque não têm certificado, não têm licença. Mas era importante que fosse desbloqueado, são problemas burocráticos, que por vezes levam muitos anos e nós não compreendemos porque é que estão tanto tempo parados”, adverte.

Fernanda Ilhéu conclui as suas declarações destacando o potencial da cooperação trilateral entre Portugal, a China e os países de língua portuguesa. “Penso que poderia haver uma maior colaboração trilateral, e penso que deveria haver maior trabalho do governo português, do governo chinês, das empresas portuguesas e das empresas chinesas, no sentido de, em conjunto, encontrarem modelos de negócio e de desenvolvimento em colaboração com esses países de língua portuguesa, nomeadamente com os países africanos de língua portuguesa”, conclui.

in Diário do Povo (editado)

20 Out 2023

Maria Fernanda Ilhéu, economista: Uma Rota de “aprendizagem conjunta”

Conversámos com a presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS) por ocasião da celebração do sexto aniversário da instituição. A economista Maria Fernanda Ilhéu acredita que os casinos vão continuar a ser fundamentais, enquanto o país assim o entender, e que serão criadas alternativas em prol do “equilíbrio” económico

 

São seis anos de existência da ANRS. Que balanço faz?

Registámos a associação no dia 21 de Dezembro de 2016, e foram 21 os sócios fundadores. Começámos a trabalhar com o objectivo de dar a conhecer o projecto da nova rota da seda e tentar identificar áreas de cooperação entre Portugal e China no âmbito desta iniciativa. Logo em 2017 produzimos um documento de trabalho utilizando várias áreas de cooperação. Foi um pontapé de saída para a reflexão. Fizemos variadas conferências sobre esse tema. Queríamos que as pessoas entendessem o que estava patente nesta iniciativa, como efectivamente ela se financiava e quais as áreas de interesse. Todos os anos fazemos uma grande conferência que vai focando em várias áreas desta Iniciativa. Queremos que as pessoas e as empresas se consciencializem da importância do relacionamento com a China e da forma de trabalho conjunto com diversas entidades de Portugal, China e terceiros mercados, de forma a conseguirmos um desenvolvimento sustentável global.

Como encara a evolução da Iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” ao longo dos últimos seis anos?

Evidentemente que com o contexto da pandemia e, mais recente, da desestabilização que a guerra na Ucrânia tem provocado, dificultou ou atrasou alguns projectos, mas a Iniciativa continua a funcionar do ponto de vista das entidades envolvidas. Há dias vi que a Argélia aderiu. Nos últimos anos, foi sempre agregando mais vontades no sentido de cooperação. Neste momento, 141 países e 32 organizações internacionais assinaram acordos de cooperação com a China no âmbito da Iniciativa, e foram assinados cerca de 207 projectos de grande envergadura. A nova rota da seda, além dos grandes projectos de cooperação, tem também uma posição de cooperação entre a China e os parceiros que engloba várias áreas. Em Portugal, verificamos o bom relacionamento que continua a existir com a China e que proporciona diálogo que continua a existir com essas parcerias.

No entanto, a Iniciativa tem sido criticada pela dependência financeira, em relação à China, da parte de alguns países.

Há aí uma série de pontos que são politizados de uma forma que não tem uma análise racional da situação. Temos de ver que esta Iniciativa e as políticas de financiamento ao longo do tempo. Quando surgiu a Iniciativa, constituíram-se, na China, fundos de investimento, nomeadamente o “Fundo Rota da Seda” e outro ligado ao Banco de Desenvolvimento chinês. Foi-se vendo, aos poucos, que esses projectos não podiam ser feitos sem uma análise financeira que permitisse concluir se o país que queria desenvolver determinado projecto tinha capacidade financeira para explorá-lo de forma sustentável. A primeira grande ideia, e que marcou, de certa forma, a ideia que as pessoas tinham dessa Iniciativa, é que eram, sobretudo, infra-estruturas de comunicação, nomeadamente comboios. Esses países tinham necessidade disso, na via-férrea, portos ou barragens. O que aconteceu é que não foi feita uma análise inicial séria desses países. A China não acautelou algumas situações, nomeadamente a construção de um porto no Sri Lanka, uma vez que o país não tinha capacidade nem de investimento nem de exploração do porto. Estes investimentos não são ofertas. No caso do Sri Lanka, a entidade financiadora teve de assumir a gestão do porto por cerca de 100 anos. Nesse consórcio estavam também entidades francesas, pelo que não foram apenas financiadores chineses. Ao longo do tempo algumas coisas se concluíram.

Tais como?

Em primeiro lugar são projectos que se pagam a longo termo e é necessário ter análises sérias financeiras e económicas para a sua sustentabilidade. Depois são investimentos muito grandes e a China não é o grande investidor. Há cada vez mais o recurso às multilaterais financeiras e já foi feito o apelo para a participação de entidades privadas. Há uma evolução, que é de análise racional e económica, com efeitos de progressão do relacionamento entre países. Há movimentação de pessoas, equipamentos e conhecimento, e há uma interligação entre entidades. O país que está à cabeça destes projectos tem sido a China, mas o país vê com muitos bons olhos parcerias trilaterais. A estrita politização da análise da Iniciativa pode ser, de certa forma, tendenciosa para servir determinados fins e objectivos políticos.

Portugal tem sabido tirar partido da nova rota da seda, ou há ainda um grande desconhecimento de empresas e outras entidades?

Esta é uma Iniciativa de longo prazo e de aprendizagem conjunta, e o pontapé de saída foi muito orientado para a construção de projectos de comunicação, como disse. Mas tem evoluído. Hoje em dia fala-se da Rota da Seda digital, por exemplo, da saúde e bem-estar, na Rota da Seda Cultural. Há várias áreas em que se pode cooperar e algumas nem exigem um investimento muito avultado. Em relação às parcerias com Portugal, elas têm existido em várias áreas, nomeadamente na área da saúde e bem-estar, bem notória quando começou a covid-19 na China. Várias entidades portuguesas disponibilizaram-se a apoiar a China e depois vimos o reverso. Não há um grande projecto de infra-estruturas a decorrer, mas há investimento chinês que tem sido bastante importante na sustentabilidade e desenvolvimento das empresas onde foi feito. Relativamente ao Porto de Sines, a forma como o concurso público [para a sua exploração] foi feito não atraiu nenhum investidor, e não apenas os chineses. É sempre num contexto de concurso público internacional que as infra-estruturas se desenvolvem. Não há uma situação em que o Governo chinês vem falar com o Governo português para desenvolver algo, nunca será por essa via.

A China está a relaxar gradualmente as restrições no âmbito da pandemia. Isso poderá criar uma nova fase para a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”?

Sem dúvida. Por muito que funcionem as relações online não há nada como o contacto e diálogo com diversos agentes económicos. Falamos de relações de cooperação que são muito dinâmicas e que estão em permanente alteração. O que era importante há três anos hoje terá outra perspectiva. Em 2019 essas relações estavam a sofrer um boom enorme, e vimos a quantidade enorme de entidades chinesas que vieram a Portugal em várias áreas. Esperemos que em 2023, com estes sinais de abertura, esses contactos possam recomeçar lá mais para meados do ano.

A Iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” está muito presente no discurso político de Macau. O território está a aproveitar devidamente esta matéria ou poderia ser um actor mais activo?

Temos sempre dificuldade em fazer esse tipo de análise. É certo que em Macau existem as plataformas certas para desenvolver essa parceria, mas se podem ser melhoradas, podem. Porque é que a sua dinâmica, às vezes, não é tão profunda? Porque uma coisa são políticas, outra coisa são os tecidos empresariais. É necessário que os tecidos de Macau e de Portugal se acertem, e penso que isso ainda não aconteceu. As empresas podem não ter tido ainda os diálogos certos. Aí podemos tentar apostar em mais plataformas, e isso tem sido fomentado pelos Governos, mas talvez da parte das empresas não tenha ainda a dimensão necessária. A ANRS quer participar nisso.

Macau está numa fase de transição, com as novas licenças de jogo, enquanto o Governo mostra sinais de querer menos dependência dos casinos. É o desígnio certo para que o território possa corresponder à Iniciativa?

Sim. Esse é o grande desafio de Macau, mas não é de agora, é de há muitos, muitos anos. Quando fui para Macau, em 1979, fui precisamente para desenvolver o Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização, cujo objectivo era apoiar a economia para não depender do jogo. A minha função era apoiar a internacionalização das empresas de Macau e reforçar as suas vantagens competitivas. Mas encontrámos uma série de obstáculos.

Quais?

Muitos foram resolvidos enquanto esteve lá a Administração portuguesa. Até 1999 houve surtos de desenvolvimento, construção, formação de pessoas, criação de universidades… tudo se passou no caminho certo. Mas temos de perceber que o jogo é avassalador, traz rendimentos enormes. Quando temos uma actividade que, de repente, permite às pessoas viver bem economicamente, as pessoas perguntam porquê fazer outra coisa.

Isso aconteceu consigo?

Sim. Cheguei à Universidade de Macau e o meu papel era trazer jovens para estudarem no ISEG [Instituto Superior de Economia e Gestão], onde era professora. Os professores que falaram comigo disseram-me que os alunos não queriam vir para Portugal, queriam acabar os cursos e começar a trabalhar porque em Macau tinham muitas solicitações de emprego. Vamos ter sempre essa situação, o jogo vai ser sempre a grande centralização económica e as pessoas vão sempre ter uma grande dependência do jogo. Mas podem-se criar áreas alternativas, e penso que a Grande Baía e a expansão de Macau para Hengqin são grandes oportunidades, porque trazem dimensão, o que Macau já não tem, e outros activos humanos. Enquanto houver jogo em Macau essa área vai ser sempre importante, pode é ser equilibrada e não haver uma substituição. São precisos apoios e entidades empresariais nessas actividades.

O desemprego aumentou e têm-se verificado situações sociais graves devido à pandemia. Isso pode mudar o paradigma que falou?

Acredito que empresas e jovens vão começar a olhar mais para fora. Os jovens estavam muito acomodados e tranquilos com o seu futuro. Este foi um grande acordar para a realidade. Daqui para a frente vamos assistir uma grande evolução em Macau.

Ontem celebrou-se mais um aniversário da transição. Que olhar traça relativamente à Macau de hoje?

A economia sempre foi dominada pelo jogo, mas quando fui para lá havia um sector fabril muito interessante que se desenvolveu mais a partir de 1979 e meados dos anos 80. O sector de exportação foi importante e viveu de vantagens competitivas externas, da existência de quotas de exportação do sector têxtil. Os empresários de Macau aproveitaram essas oportunidades e isso deu azo a uma actividade industrial interessante que proporcionou também um grande desenvolvimento da área urbana. Em função das novas zonas industriais foram construídas mais infra-estruturas de saneamento básico e comunicações. Acredito que se podem criar dinâmicas que equilibrem o peso do jogo, mas não acredito no total desaparecimento dos casinos enquanto a China decidir que eles têm de estar ali. Enquanto existir aval político o jogo não vai desaparecer e até se pode reforçar. Penso que esta lição de crise foi também para o jogo e não apenas para os jovens. Os casinos perceberam que têm de criar novas formas de expansão. Mas com a integração de Macau na China vão-se potenciar oportunidades de investimento noutras actividades. Mas respondendo à sua pergunta, Macau vai ser sempre uma plataforma entre a China e os países de língua portuguesa e penso que isso poderá ser reforçado. O país tem feito bastante esforço para que isso continue. O jogo vai continuar, mas serão criadas outras actividades e outros modos de vida. Macau estava confinado à sua dimensão física e humana, e não podem ser feitas omeletes sem ovos.

21 Dez 2022

Maria Fernanda Ilhéu, economista: “Não me surpreendia se a política de zero casos começasse a ser ajustada”

Convidada a comentar os recentes projectos de integração regional, Maria Fernanda Ilhéu defende que, com a pandemia, Macau e HK podem sofrer maior impacto económico do que as outras cidades da Grande Baía. Sobre a ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, lamenta que “não esteja a ter um impacto significativo na integração económica”. Já quanto à política de zero casos covid-19, a economista diz que é possível que a China venha a seguir outro caminho que tenha também em atenção a economia, como fizeram outros governos na Europa

 

Que análise faz à evolução do projecto da Grande Baía desde que foi anunciado?

É expressamente referido [nos planos anunciados pela China] que se espera que em 2035 a área da Grande Baía se torne num ecossistema económico, com um modo de desenvolvimento suportado pela inovação de competitividade internacional. A estratégia nacional do Governo chinês assenta em seis princípios básicos, como a orientação pela inovação e reforma, o desenvolvimento coordenado e o planeamento holístico, a prossecução de um desenvolvimento verde e conservação ecológica, a abertura e cooperação com um resultado win-win [ganhos mútuos], a partilha de benefícios do desenvolvimento para melhorar a qualidade de vida das pessoas e aderir ao princípio “Um País, Dois Sistemas” de acordo com a lei.

Mas há ideias fundamentais por detrás destes princípios.

Há dois pilares estruturantes. Um político, de integração de Hong Kong e Macau na província de Cantão, percebendo-se que na cidade de Guangzhou ficará a governação da coordenação regional do Delta do Rio das Pérolas. Há também o pilar económico, de diversificação e de complementaridade, em que as 9 + 2 cidades do Delta irão simultaneamente concorrer e cooperar, sendo que à partida cada um trará para o processo mais valias. Existe um encorajamento aos empresários para pensarem os negócios em termos regionais. Estamos a falar de um mercado doméstico de 71 milhões de pessoas com um poder de compra médio-alto dos mais elevados ao nível chinês e comparável ao poder de compra da classe média nos países do Sul da Europa. Mas esta região do Delta do Rio das Pérolas é também uma das mais abertas da China, com uma elevada proximidade e conectividade económica com os Países da ASEAN, que em conjunto têm cerca de 8,8 por cento da população mundial. Se fossem uma só entidade seriam a sexta economia do mundo e a terceira da Ásia.

Mas estamos perante a evolução esperada?

É difícil de dizer. O que vemos é que estão a cumprir-se os prazos para a criação das infra-estruturas físicas e legais. Podemos falar, por exemplo, da abertura do comboio de alta velocidade Guangzhou-Shenzhen-Hong Kong Express Link e da Ponte Hong Kong – Zhuhai – Macau, ambos essenciais para as pessoas que trabalham nestas cidades, ou entre estas cidades. Não nos devemos esquecer que muitas empresas têm actividade em várias delas e que muitas pessoas trabalham numa cidade e vivem noutra, portanto a rápida mobilidade é muito importante. No entanto, podemos ter as infra-estruturas físicas de mobilidade, mas se não se puderem usar fácil e livremente, então o objectivo integração económica para que foram construídas, fica prejudicado.

Em que sentido?

Quando vivia em Macau e tinha de me deslocar a Hong Kong, considerava a viagem de jetfoil muito desconfortável e pensava que se tivéssemos uma ponte seria fantástico porque poderia deslocar-me no meu carro. Como economista, antecipava o grande boom económico que seria para Macau, porque muitas pessoas que trabalhavam em Hong Kong iriam preferir o estilo e qualidade de vida local. Para mim, a construção de uma ponte era o grande projecto. Agora temos uma ponte que liga Macau a Hong Kong, mas ali só podem circular transportes públicos e só algumas entidades têm direito a utilizar o carro nessa ponte, sendo que o jetfoil continua a ser a solução de transporte preferível para a maioria das deslocações individuais. Não vejo que [a ponte] esteja a ter um impacto de integração económica significativo.

Ao nível das fronteiras também houve mudanças.

Sim, temos também um novo posto fronteiriço em Macau, inaugurado em 2020, mas aguarda-se que o corredor permanente para a passagem de automóveis esteja concluído. Foi considerado pelo Executivo de Macau que este posto facilitará a expansão da actividade para Hengqin. Mas se nesse corredor rodoviário só poderem passar veículos com dupla matrícula de Macau e China, e se essas matrículas forem de difícil obtenção para a maioria dos cidadãos, então os efeitos também não serão espectaculares. Em termos do pilar de integração política foi dado um passo importante na criação do “Projecto Geral de Construção Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”. Esta zona visa o desenvolvimento e diversificação da economia de Macau, que por limitação de espaço, tal como está, não consegue evoluir da perigosa dependência da indústria do jogo.

Ou seja, há aqui uma mudança lenta.

Estão a dar-se passos significativos no processo de integração de Macau na área da Grande Baía, mas é um processo feito a passo e passo, que poderá ser mais ou menos lento, conforme a forma como as infra-estruturas físicas e legais forem sendo impulsionadas pelas autoridades governamentais envolvidas, e se as populações locais as entenderem e aceitarem.

A pandemia e a política de casos zero vai obrigar a um ajustamento dos objectivos económicos traçados para a Grande Baía?

Antes da covid-19 a região estava a crescer muito e mais do que o resto da China. Visitei, em Dezembro de 2019, as cidades de Guangzhou, Dongguan, Foshan, Shenzhen, Zhuhai e Macau. Nestas duas últimas cidades tinha estado há poucos meses, mas as restantes já não as visitava há cerca de cinco anos. Fiquei impressionada com o crescimento e grande dinamismo que ali presenciei. A covid-19 teve um impacto na economia mundial e se atrasar a evolução deste projecto isso será normal. O plano é que este ano esteja formado o enquadramento para que esta área seja uma baía internacional de primeira classe, mas teremos de aguardar até Dezembro para saber se esta meta será cumprida ou não. Não será de estranhar que as economias de Hong Kong e Macau venham a sofrer economicamente mais que a economia das nove cidades que estão no continente.

E porquê?

Por um lado, porque as fronteiras entre Hong Kong e Macau, e de ambas com o continente, têm estado, nestes últimos dois anos, fechadas com frequência. Mas temos agora um outro factor altamente perturbador, a guerra na Ucrânia, que não deixará de ter efeitos disruptores na economia mundial e obviamente também na chinesa.

Até que ponto este conflito vai ter impacto nos projectos chineses?

Não podemos ainda prever como vai afectar os projectos “uma faixa, uma rota” na Eurásia ou o dinamismo da indústria e o comércio externo da China. Portanto, os objectivos económicos para a Grande Baía não ficarão imunes a esta dupla ameaça mundial que estamos a viver, a pandemia e a guerra.

Mas, e quanto aos efeitos da política de casos zero?

Até agora a China privilegiou sempre a saúde à economia, e é assim que encaro a política de zero casos covid-19. Mas, pragmaticamente, a China poderá que ter de seguir uma política que tenha também em atenção a economia, como fizeram muitos governos na Europa, nomeadamente em Portugal, que considero um caso de sucesso. Não ficarei surpreendida se a política de zero casos covid-19 começar a ser ajustada.

Na Grande Baía cada cidade tem os seus objectivos definidos. Macau será a plataforma de ligação com os países de língua portuguesa, mas está a apostar também no desenvolvimento do sector financeiro. Acredita que a região vai conseguir cumprir com estes objetivos a curto prazo?

A situação de Macau como plataforma de ligação com os países de língua portuguesa poderá ser grandemente melhorada a curto prazo, porque já existe muita experiência nesse processo e já percebemos que algumas políticas, e sobretudo algumas formas de implementação, podem ser melhoradas e ensaiadas. Em relação ao sector financeiro será mais difícil de concretizar a curto prazo. Não se cria um ecossistema financeiro confiável [tão rapidamente].

Como encara o projecto da Zona de Cooperação Aprofundada com Hengqin?

Como a grande oportunidade para a economia de Macau crescer de uma forma diversificada. É também um teste à administração conjunta das autoridades de Macau e Guangdong de um espaço económico, dentro de um equilíbrio de políticas e práticas respeitando o princípio “Um País Dois Sistemas”.

13 Abr 2022

Nova Rota da Seda é “iniciativa diferente” que se baseia “em colaborações”

[dropcap]A[/dropcap] presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS), Fernanda Ilhéu, defende que o projecto da Nova Rota da Seda no continente africano é “uma iniciativa diferente” que pretende basear-se na cooperação. “Esta iniciativa é diferente, baseia-se numa colaboração bilateral ou multilateral que tem como objectivo desbloquear certas lacunas que impedem que esses países consigam estabelecer um desenvolvimento sustentado que os leve ao maior bem-estar”, disse Fernanda Ilhéu à Lusa.

Fernanda Ilhéu, professora universitária no Instituto Superior de Economia e Gestão, considerou que a relação entre China e o continente africano é “uma relação que vem de há muitos anos”

A professora defendeu que “há uma preocupação muito grande para que a ajuda seja feita sob a forma de cooperação”, sublinhando que “não é uma dádiva”.

A iniciativa, referiu Fernanda Ilhéu, “está aberta a quem colaborar com a China nesse sentido”, sendo para isso necessário que “os países envolvidos tenham uma grande relação com a China”.

A professora universitária referiu que a Nova Rota da Seda “não é um Plano Marshall”. “Os países deverão, eles próprios, ter a iniciativa de propor à China os projectos que consideram ser fundamentais”, acrescentando que tem de haver uma avaliação para que estes projectos “depois não se venham a mostrar ruinosos”.

Todos juntos

Fernanda Ilhéu defende que o interesse da China em investir nestes países passa pelo “novo modelo de globalização” e pelo “crescimento da economia global”. “Ou crescemos todos, ou dificilmente a China também crescerá. Precisamos do crescimento dos países menos desenvolvidos para nos equilibrarmos todos”.

Para a presidente da ANRS, os projectos de desenvolvimento conjunto são uma forma de ultrapassar o desemprego no continente africano.

Fernanda Ilhéu falou à Lusa dias antes da apresentação do livro “The New Silk Road and the Portuguese Speaking Countries in the New World Context”, que redigiu em pareceria com Francisco Leandro, professor da Universidade de São José e Paulo Duarte, professor do Departamento em Relações Internacionais e Administração Pública da Universidade do Minho.

10 Dez 2019

Nova Rota da Seda é "iniciativa diferente" que se baseia "em colaborações"

[dropcap]A[/dropcap] presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS), Fernanda Ilhéu, defende que o projecto da Nova Rota da Seda no continente africano é “uma iniciativa diferente” que pretende basear-se na cooperação. “Esta iniciativa é diferente, baseia-se numa colaboração bilateral ou multilateral que tem como objectivo desbloquear certas lacunas que impedem que esses países consigam estabelecer um desenvolvimento sustentado que os leve ao maior bem-estar”, disse Fernanda Ilhéu à Lusa.
Fernanda Ilhéu, professora universitária no Instituto Superior de Economia e Gestão, considerou que a relação entre China e o continente africano é “uma relação que vem de há muitos anos”
A professora defendeu que “há uma preocupação muito grande para que a ajuda seja feita sob a forma de cooperação”, sublinhando que “não é uma dádiva”.
A iniciativa, referiu Fernanda Ilhéu, “está aberta a quem colaborar com a China nesse sentido”, sendo para isso necessário que “os países envolvidos tenham uma grande relação com a China”.
A professora universitária referiu que a Nova Rota da Seda “não é um Plano Marshall”. “Os países deverão, eles próprios, ter a iniciativa de propor à China os projectos que consideram ser fundamentais”, acrescentando que tem de haver uma avaliação para que estes projectos “depois não se venham a mostrar ruinosos”.

Todos juntos

Fernanda Ilhéu defende que o interesse da China em investir nestes países passa pelo “novo modelo de globalização” e pelo “crescimento da economia global”. “Ou crescemos todos, ou dificilmente a China também crescerá. Precisamos do crescimento dos países menos desenvolvidos para nos equilibrarmos todos”.
Para a presidente da ANRS, os projectos de desenvolvimento conjunto são uma forma de ultrapassar o desemprego no continente africano.
Fernanda Ilhéu falou à Lusa dias antes da apresentação do livro “The New Silk Road and the Portuguese Speaking Countries in the New World Context”, que redigiu em pareceria com Francisco Leandro, professor da Universidade de São José e Paulo Duarte, professor do Departamento em Relações Internacionais e Administração Pública da Universidade do Minho.

10 Dez 2019

História | Associação organiza viagem sobre portos lusos na Ásia 

A Associação Amigos da Nova Rota da Seda, presidida pela economista Fernanda Ilhéu, está a organizar uma viagem que visa contar a história dos principais portos portugueses na Ásia, e que inclui Macau, Malaca e Goa, entre outros destinos. A associação pretende também lançar um novo livro este ano, com a colaboração de um académico de Macau

 

[dropcap]P[/dropcap]ortugal também tem a sua rota marítima esquecida no tempo e subaproveitada. A ideia é deixada ao HM por Maria Fernanda Ilhéu, a economista e professora universitária que preside à Associação Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS), que está a promover uma viagem que passa pelos principais portos marítimos que marcam a presença portuguesa na Ásia.

Podem inscrever-se sócios e não sócios, com um custo entre 50 a 60 mil patacas, e a ideia é contar a história de lugares como Mascate, Nizwa (antiga capital de Omã), Calicute, Cochin, Goa, Malaca, Singapura e Macau. “Obviamente que não podemos ir a todos os portos, pois levaríamos dois anos de viagem”, adiantou Maria Fernanda Ilhéu ao HM.

“Queremos lembrar o que foi a nossa estratégia de abordagem desta rota marítima do Ocidente para o Oriente, e que tem muitas semelhanças com a nova rota marítima do século XXI, o projecto ‘Uma Faixa, Uma Rota’, mas que vem do Oriente para o Ocidente.”

A presidente da ANRS assume que esta viagem constitui “um pretexto para nos debruçarmos sobre a história”, lamentando que a rota marítima criada pelos portugueses seja muitas vezes esquecida.

“Esta foi uma história importantíssima na globalização mundial, e não foi importante apenas para Portugal, mas também para todo o mundo. Não só nos esquecemos como até parece que estamos um pouco envergonhados desse percurso quando outros povos, tal como os chineses, estão interessados.”

A economista não tem dúvidas de que Portugal “poderia ter a sua própria rota e outra forma de mostrar ao mundo aquilo que foi”.

Para já, a ANRS ainda não recebeu muitas inscrições. “Foi uma viagem difícil de planear. Vamos aguardar até Outubro para termos mais inscrições e depois vemos se a conseguimos fazer. Esta viagem será documentada nos nossos trabalhos e conferências, não sei se faremos outro livro.”
Maria Fernanda Ilhéu desejava publicar outra obra sobre esta temática. “Queríamos fazer um livro sobre os portos portugueses no mundo, algo que seria interessante e vou tentar que aconteça.”

Novas letras

Depois da publicação da obra “A China e a Revitalização das Antigas Rotas da Seda”, coordenado por Maria Fernanda Ilhéu e Leonor Janeiro, eis que a ANRS se prepara para lançar mais uma obra, desta vez sobre as novas rotas da seda. A obra será escrita em inglês e conta com a coordenação da presidente da ANRS e dos académicos Paulo Duarte e Francisco José Leandro, este último professor na Universidade Cidade de Macau.

“Tencionamos pôr cá fora este ano um livro sobre ‘Uma Faixa, Uma Rota’, a China e os países de língua portuguesa e as novas rotas da seda”, apontou a responsável pela ANRS.

O objectivo da obra é “trazer esse conhecimento dos projectos que estão a ser realizados ou que podem vir a ser realizados pela iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, em conjunto com países de língua portuguesa e parcerias que sejam desenvolvidas com Portugal”.

Para Maria Fernanda Ilhéu, estão em causa não apenas negócios a curto prazo, mas “o desenvolvimento de sinergias”. “É necessário planear e pensar esse desenvolvimento e perceber que ele vai ter de contar com a actuação de governos e empresas, mas também da própria sociedade civil”, apontou.

6 Set 2019

História | Associação organiza viagem sobre portos lusos na Ásia 

A Associação Amigos da Nova Rota da Seda, presidida pela economista Fernanda Ilhéu, está a organizar uma viagem que visa contar a história dos principais portos portugueses na Ásia, e que inclui Macau, Malaca e Goa, entre outros destinos. A associação pretende também lançar um novo livro este ano, com a colaboração de um académico de Macau

 
[dropcap]P[/dropcap]ortugal também tem a sua rota marítima esquecida no tempo e subaproveitada. A ideia é deixada ao HM por Maria Fernanda Ilhéu, a economista e professora universitária que preside à Associação Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS), que está a promover uma viagem que passa pelos principais portos marítimos que marcam a presença portuguesa na Ásia.
Podem inscrever-se sócios e não sócios, com um custo entre 50 a 60 mil patacas, e a ideia é contar a história de lugares como Mascate, Nizwa (antiga capital de Omã), Calicute, Cochin, Goa, Malaca, Singapura e Macau. “Obviamente que não podemos ir a todos os portos, pois levaríamos dois anos de viagem”, adiantou Maria Fernanda Ilhéu ao HM.
“Queremos lembrar o que foi a nossa estratégia de abordagem desta rota marítima do Ocidente para o Oriente, e que tem muitas semelhanças com a nova rota marítima do século XXI, o projecto ‘Uma Faixa, Uma Rota’, mas que vem do Oriente para o Ocidente.”
A presidente da ANRS assume que esta viagem constitui “um pretexto para nos debruçarmos sobre a história”, lamentando que a rota marítima criada pelos portugueses seja muitas vezes esquecida.
“Esta foi uma história importantíssima na globalização mundial, e não foi importante apenas para Portugal, mas também para todo o mundo. Não só nos esquecemos como até parece que estamos um pouco envergonhados desse percurso quando outros povos, tal como os chineses, estão interessados.”
A economista não tem dúvidas de que Portugal “poderia ter a sua própria rota e outra forma de mostrar ao mundo aquilo que foi”.
Para já, a ANRS ainda não recebeu muitas inscrições. “Foi uma viagem difícil de planear. Vamos aguardar até Outubro para termos mais inscrições e depois vemos se a conseguimos fazer. Esta viagem será documentada nos nossos trabalhos e conferências, não sei se faremos outro livro.”
Maria Fernanda Ilhéu desejava publicar outra obra sobre esta temática. “Queríamos fazer um livro sobre os portos portugueses no mundo, algo que seria interessante e vou tentar que aconteça.”

Novas letras

Depois da publicação da obra “A China e a Revitalização das Antigas Rotas da Seda”, coordenado por Maria Fernanda Ilhéu e Leonor Janeiro, eis que a ANRS se prepara para lançar mais uma obra, desta vez sobre as novas rotas da seda. A obra será escrita em inglês e conta com a coordenação da presidente da ANRS e dos académicos Paulo Duarte e Francisco José Leandro, este último professor na Universidade Cidade de Macau.
“Tencionamos pôr cá fora este ano um livro sobre ‘Uma Faixa, Uma Rota’, a China e os países de língua portuguesa e as novas rotas da seda”, apontou a responsável pela ANRS.
O objectivo da obra é “trazer esse conhecimento dos projectos que estão a ser realizados ou que podem vir a ser realizados pela iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, em conjunto com países de língua portuguesa e parcerias que sejam desenvolvidas com Portugal”.
Para Maria Fernanda Ilhéu, estão em causa não apenas negócios a curto prazo, mas “o desenvolvimento de sinergias”. “É necessário planear e pensar esse desenvolvimento e perceber que ele vai ter de contar com a actuação de governos e empresas, mas também da própria sociedade civil”, apontou.

6 Set 2019