Susana Chou pede transparência sobre morte de Lai Man Wa

A ex-presidente da Assembleia Legislativa escreveu no seu blogue que está chocada com a morte da antiga directora dos Serviços de Alfândega e que estranha o suicídio, dado que Lai Man Wa desempenhava um cargo importante da carreira

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]mais uma voz a questionar uma morte que tem gerado polémica e muitas questões. Susana Chou, ex-presidente da Assembleia Legislativa (AL), escreveu no seu blogue que acha “estranho” o suicídio de Lai Man Wa, directora dos Serviços de Alfândega, dada a fase em que esta se encontrava no topo da carreira. Susana Chou defendeu ainda que o Governo deve tratar o caso de forma pública e transparente, pelo facto de Lai Man Wa ter desempenhado um cargo público e possuir uma “identidade especial”.
Afirmando não conhecer muito bem Lai Man Wa, Susana Chou referiu ter ficado chocada quando viu as notícias sobre a sua morte. “Com base na sua formação académica e a sua experiência profissional, e tendo apenas 56 anos, deveria estar no topo da carreira. Por que é que tomou a decisão de se matar? Será que encontrou uma dificuldade que não conseguia ultrapassar?”, questionou.
A morte da responsável pelos Serviços de Alfândega não apenas gerou dúvidas e ansiedade a Susana Chou, como a fez “reflectir o sentido, objectivos e dignidade da vida”.
A ex-presidente da AL apontou ainda que as explicações do Governo em relação ao processo e localização do corpo de Lai Man Wa após a autópsia chocaram a sociedade uma segunda vez. Para Susana Chou, o facto das autoridades policiais não terem avisado os meios de comunicação social sobre o local da morte fez com que tenham surgido rumores e questões sobre o caso.
Ainda assim, a antiga responsável máxima pelo hemiciclo diz “respeitar a defunta e a sua família”, além de que “confia no Governo de Macau”. Susana Chou diz que os cidadãos devem acreditar no tratamento do caso que está a ser feito pelo Executivo.
O corpo de Lai Man Wa foi encontrado numa casa de banho pública no edifício Ocean Gardens, na Taipa, sendo que as autoridades afastaram quase de imediato a hipótese de homicídio. O caso já espoletou várias reacções públicas junto da sociedade, tendo a Associação Novo Macau e outras exigido uma “investigação exaustiva” à morte da ex-directora. No hemiciclo, o deputado José Pereira Coutinho foi o único a questionar todo o caso, numa interpelação oral apresentada ao Governo.

17 Nov 2015

Lai Man Wa | Autoridades continuam a negar homicídio

Com Andreia Sofia Silva

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] morte da directora dos Serviços de Alfândega, Lai Man Wa, que foi encontrada numa casa de banho pública junto ao edifício Ocean Gardens, continua envolta em mistério. Apesar da autópsia ainda não estar concluída, por serem precisos “mais testes, mais pormenores”, as autoridades continuam a afirmar que Lai Man Wa se suicidou. 
“A Polícia Judiciária e os médicos forenses não encontraram quaisquer outras provas fortes que possam indicar que a morte não foi através de suicídio”, indicou o Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, citado pela Rádio Macau.
Numa conferência de imprensa, as autoridades descreveram os últimos passos dados pela directora dos Serviços de Alfândega antes da morte. Lai Man Wa regressou a casa no dia 31 por volta das 13h24, fazendo-se acompanhar pelo seu motorista. Para esse dia estava agendada uma reunião em Zhuhai, assunto que Lai Man Wa discutiu com o comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários, Ma Io Kun. Às 14h35 as câmaras de videovigilância captaram imagens da sua saída do prédio. Depois de ter entrado na casa-de-banho pública, foi encontrada por uma mulher com um saco de plástico na cabeça, com o qual, segundo as autoridades, terá causado a morte por asfixia. O corpo tinha ainda golpes de faca, na zona dos pulsos e pescoço, e havia sangue no local. O alerta só seria dado às 15h30, sendo que Lai Man Wa ainda foi para o hospital, onde acabaria por ser declarada morta às 16h41.
Num comunicado posteriormente divulgado, o Governo nega alguns rumores vindos a público. “Quanto aos rumores de pancadaria de elementos dos Serviços de Alfândega devido à Sra.Lai ter conhecimento de assuntos relacionados com os casinos, tornando-se um alvo de assassínio, isso não corresponde à verdade”, pode ler-se.
O Executivo frisa ainda que “as investigações sobre este caso estão de acordo com as práticas, directivas internas e com a lei. É injusto e infundado criticar a polícia por não querer apurar a veracidade do caso e não deixar os media fazer uma visita ao local. É de salientar que, tanto ao Governo da RAEM, as Autoridades de Segurança como os Serviços de Saúde nunca tentaram encobrir o caso.”
Apesar do óbito de Lai Wan Ma ter sido decretado às 16h41, o comunicado aponta que esta “não tinha na sua posse qualquer documento de identificação, pelo que se desconheceu a sua identidade até às 17h30”. Para além disso, “a família da Senhora Lai verificou que ela deixou os seus documentos de identificação em casa, apontando esses indícios para um caso de suicídio”. Só às 17h38 é que o cadáver da directora dos Serviços de Alfândega seria identificado.
As autoridades afirmam, com base na investigação da Polícia Judiciária (PJ) e análise do médico-forense que “considerámos preliminarmente que não haviam suspeitos, podendo-se excluir a possibilidade de crime”. Contudo, “no dia a seguir aos acontecimentos, 31 de Outubro, obtivemos ainda mais fundamentos de facto e científicos sobre a conclusão que aponta para um suicídio”. Quanto à tese de alegados envolvimentos em corrupção, o Comissário do CCAC interveio, segundo o Executivo, voluntariamente no caso, negando qualquer investigação.  

Imprensa questiona suicídio

A morte de Lai Man Wa foi noticiada pelos jornais e pelas agências noticiosas próximas do Governo Central, que apontaram que a tese de suicídio “é estranha” e que “esperam (mais resultados) da investigação”.
A edição chinesa do jornal Global Times, que pertence ao grupo do Diário do Povo, escreveu que a morte de Lai Man Wa foi o primeiro caso de alegado suicídio cometido por um alto dirigente em Macau, em funções, desde a transferência de soberania.
O mesmo jornal escreveu que o alegado suicídio “já levantou suspeitas de estar envolvido num caso de corrupção”, tendo citado o jornal de Hong Kong Economic Times sobre o facto do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ter referido que a directora não estava a ser investigada.
A agência Xinhua escreveu que a morte se deveu a asfixia, com cortes nos pulsos e pescoço causados por uma faca, mas que a alegada “origem do suicídio precisa de ser investigada de forma avançada”.
O Jornal de Investimento de Hong Kong escreveu que Lai Man Wa tinha por hábito diário tirar os ingredientes do frigorifico para que a sua empregada fizesse a sopa habitual, algo que fez no dia da sua morte. Este jornal avançou ainda que a família de Lai Man Wa tem ligações com o Partido Comunista Chinês (PCC), com pais “patrióticos” e irmãs com trabalhos em empresas próximas desta linha política.
“Uma fonte interna revelou que Lai Man Wa conseguiu progredir no trabalho porque o Governo Central procurou descendentes com ligações de esquerda na década de 90 para gerir a RAEM. Lai Man Wa beneficiou dessa oportunidade da sua geração”, escreveu o Jornal de Investimento de Hong Kong.
Em Macau, o jornal Today Macau publicou que Lai Man Wa tinha um jantar marcado com as colegas de trabalho para o fim-de-semana seguinte, apresentando também dúvidas sobre a tese de suicídio. 
As cerimónias fúnebres de Lai Man Wa começam hoje na casa mortuária Kiang Vu, seguindo, na quinta-feira, para o cemitério de S. Miguel Arcanjo.

4 Nov 2015