Pandemia | Vício de jogo online aumentou entre jovens

O confinamento e a impossibilidade de socializar com os colegas, num ambiente em que até os exames foram realizados online, levaram a um aumento do vício do jogo. Os estudantes do sexo masculino são os mais afectados

 

A pandemia e as medidas de controlo levaram a um aumento do vício do jogo online entre os estudantes universitários de Macau. A conclusão faz parte do estudo A Prevalência e os Factores de Risco ligados aos Vício do Jogo Online durante a Pandemia da Covid-19 entre os Estudantes Universitários de Macau, publicado a 27 de Fevereiro na revista científica SAGE Open Nursing.

O trabalho elaborado pelas académicas Wang Yan, Karry Liu e Bernice Lam Nogueira teve por base 229 questionários válidos a alunos do ensino superior local, recolhidos entre Dezembro de 2021 e Março de 2022, que abordaram os hábitos de jogo online e os sentimentos associados ao este tipo de actividade.

Segundo as conclusões, “a prevalência do vício do jogo online era de 7,4 por cento entre os estudantes universitários, um valor superior ao registado antes do início da pandemia”. “Apesar da prevalência entre os estudantes universitários em Macau não ser a mais elevada a nível mundial, nota-se um aumento significativo desde o início da pandemia”, é acrescentado.

Como forma de comparação, é indicado que no Interior a prevalência era de 10,1 por cento e que em Itália chegava a valores de 14,9 por cento.

Em relação ao aumento da prevalência do vício do jogo online, os autores explicam as alterações com o stress relacionado com a pandemia.

“O stress social causado pela pandemia é uma das causas que podem explicar o aumento da prevalência do vício do jogo”, é apontado. “Ao jogarem jogos online as pessoas a sentiram-se menos sozinhas porque estavam entretidas e ligadas aos amigos, apesar de estarem confinadas casa”, foi justificado.

Alunos mais afectados

As autoras recordam também que “durante o pior período da pandemia”, as aulas presenciais estiveram suspensas, tendo sido trocadas pelo ensino à distância. “Os alunos universitários assistiram às aulas, debates e até fizeram os exames através de equipamentos com ligação à internet”, é recordado.

Mais de metade dos inquiridos, mesmo os que não mostram padrões de estarem viciados em jogos electrónicos, admitiram que esta foi uma forma de “escapar ou aliviar estados depressivos”.

Quando analisado o extracto da população universitária mais afectado pelo vício do jogo, a investigação conclui que se trata de jovens do sexo masculino, com uma percentagem de 12 por cento entre a população masculina. O vício é menos presente entre o sexo feminino, não indo além dos 4,8 por cento, quando consideradas todas as estudantes avaliadas.

Com os dados obtidos, as autoras recomendam assim que “os educadores universitários” devem seguir de perto a população jovem masculina, com um hábito de jogo de mais de 10 anos, para se inteirarem de casos de vício. Além disso, devem ensinar os jovens a autodisciplinar-se quanto às horas que passam a jogar.

3 Mar 2023

Macau deve proibir jogos online?

No passado dia 31 de Agosto, a China Press and Publication Administration publicou uma “Comunicação sobre a Prevenção e Restrição do Acesso de Menores a Jogos Online”. Os menores terão autorização para jogar apenas aos fins-de-semana e nos períodos de férias, entre as 20h00 e as 21h00. O objectivo desta medida é muito simples: impedir os menores de jogarem online e proteger a sua saúde física e mental.

O China Economic Information Daily informou que 62.5 por cento dos menores joga com frequência online e 13.2 por cento joga mais de duas horas durante a semana. Partindo do princípio de que os jovens passam oito horas na escola, jogam duas horas no telemóvel e dormem outras oito, sobram seis horas, durante as quais têm de se alimentar, deslocar-se e tratar da higiene pessoal. E será que lhes sobra tempo para estudar?

Em Setembro, um grupo de Hong Kong realizou um estudo para o qual entrevistou pais de alunos de 463 escolas primárias e secundárias. O estudo foi publicado dia 16. Os resultados mostraram que 97 por cento dos filhos dos inquiridos jogava online, mais de 50 por cento destas crianças jogava à volta de três horas por dia, e perto de 20 por cento mais de cinco horas diárias. Já 75 por cento dos inquiridos está convencido de que jogar online prejudica o desempenho académico dos filhos, 90 por cento acredita que prejudica a sua saúde e perto de 80 por cento pensa que afecta as relações familiares. Mais de 95 por cento dos inquiridos pediu ao Governo para tomar medidas que impedissem os menores de jogar online. O grupo intimou as empresas de jogos online a criarem “códigos de conduta” e auto-regulação, caso contrário o melhor seria a Região Administrativa Especial de Hong Kong criar legislação que regulasse o sector. Os promotores do estudo também sugeriram que o Governo da RAEHK seguisse o exemplo do Governo Central para prevenir o vício do jogo nos jovens, exigindo que os jogadores se registassem com os seus nomes verdadeiros, que regulassem o tempo que os menores podem jogar, que restrigissem certos temas, proibissem a pornografia, a violência e outros conteúdos ilegais e bloqueassem o acesso de menores ao pagamento de jogos online.

Um estudo feito em Macau assinalava que os motivos que levavam os chineses a jogar online são o “entretenimento”, a “resistência” e o “escapismo”. Um jogo divertido permite aos jogadores esquecer por momentos as suas preocupações e escapar à realidade. É fácil tornar-se viciado e vir a sofrer de perturbações relacionadas com o jogo. Os viciados em jogos online acabam por perder o interesse no entretenimento, têm consciência de terem um problema, mas mesmo assim continuam a jogar, escondendo muitas vezes das outras pessoas o seu vício. Dados recentes mostram que cerca de 2 por cento dos chineses adultos residentes em Macau sofre de perturbações relacionadas com o jogo.

Hoje em dia, os jogos online não são apenas entretenimento, são também uma espécie de desporto. Os E-sports são disso um bom exemplo. A Asian Games vai registar em 2022 os eventos E-sports como eventos desportivos, e de alguma forma legitimá-los enquanto actividade desportiva. Houve quem descrevesse os jogos online como “ópio mental”, sublinhando que nenhuma indústria ou competição pode assentar a sua actividade em algo que destrói uma geração. Julgando pela avaliação que a maior parte das pessoas faz dos jogos online, este argumento terá muitos apoiantes.

Os jogos online são o produto de uma tecnologia avançada. Quanto mais se desenvolve a tecnologia, mais se desenvolvem os jogos. Os jogos online são uma espécie de brinquedo. As crianças têm naturalmente desejo de brinquedos. No entanto, o alvo dos jogos online não são apenas crianças, mas também adultos. Encontramos muitos adultos viciados em jogos online. Estes jogos introduziram-se em todos os níveis da sociedade. Se as empresas que os desenvolvem tivessem auto-disciplina e introduzissem elementos que combatessem a dependência do jogo, o impacto que teria na vida, no trabalho e no estudo dos jogadores seria menor. Mas isso reduziria o consumo e consequentemente as vendas e os seus lucros baixariam. E estas empresas não querem isso. Alguns destes jogos chegam a incluir conteúdos pornográficos e violentos que vão afectar negativamente os jovens.

Em qualquer dos casos, quem joga online deveria ter auto-disciplina e não se deixar viciar. Jogar de forma controlada é entretenimento. Jogar de forma descontrolada é vício. Quando existem muitos jogadores viciados, estamos perante um problema social. Precisamos de mais informação para avaliar se existe um problema social em Macau devido à dependência do jogo online, antes de considerarmos partir para a regulamentação.

 

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau
Blog:http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog
Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk

21 Set 2021

DICJ | Adriano Ho não afastou possibilidade de jogo online em Macau

O director da DICJ alerta para riscos dos jogos interactivos online, como o branqueamento de capitais, mas indica que o tema está a ser estudado. Além disso, em resposta a uma interpelação de Pereira Coutinho, referiu que as queixas relacionadas com sites de jogo ilegal têm diminuído

 

[dropcap]E[/dropcap]m Setembro, o deputado Pereira Coutinho submeteu uma interpelação escrita a apelar ao Governo que definisse padrões oficiais e condições para o desenvolvimento de jogos interactivos online, para aumentar as receitas fiscais. Em resposta, o director da Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), deixou alertas, mas não excluiu o cenário.

“Os jogos interactivos podem aumentar as receitas do jogo, mas existem certos riscos, incluindo problemas sociais, como o branqueamento de capitais e o vício do jogo. Por isso, antes da sua introdução, o Governo deve proceder a estudos prudentes”, indicou Adriano Ho, acrescentando que as respectivas análises estão em curso.

Os jogos interactivos abrangem, por exemplo, os que se jogam no telemóvel ou com acesso pela internet, e em que se concorda fazer pagamentos em dinheiro ou outro valor. A prática de jogos de fortuna ou azar através de telecomunicações ou da internet é actualmente proibida em Macau.

Pereira Coutinho defendeu que o desenvolvimento de produtos com terminais móveis e da internet reduz as exigências para negócios online, mas que “devido à desactualização da legislação é difícil, licitamente, atrair mais pessoas a aderir aos jogos interactivos”.

Além disso, o deputado considera que face ao impacto da covid-19 e medidas do Interior da China com vista à restrição da saída de fundos, as receitas do jogo físico e presencial “dificilmente” vão regressar a valores anteriores. Pereira Coutinho apelou também a que se tome o Reino Unido como referência e um aumento do grau de fiscalização, evitando os jogos interactivos ilegais que já existem em Macau.

Trabalho anti-burla

Adriano Ho disse que o Governo vai reforçar a fiscalização e intensificar a competitividade da indústria do jogo em termos internacionais.

“Relativamente ao recente aparecimento na internet de ‘websites’ de apostas ilegais explorados em nome dos casinos de Macau, a DICJ, depois de ter detectado ou recebido as respectivas denúncias, irá remetê-las à Polícia Judiciária”, disse o responsável. A DICJ contacta também os principais operadores de motores de busca para ajudar a bloquear os resultados de pesquisa de jogos ilegais e a remover as suas promoções.

Por outro lado, referiu que as queixas relacionadas com as páginas electrónicas de jogo ilegal e aplicações móveis têm diminuído. Algo que atribui ao trabalho de combate e sensibilização educativa para as pessoas estarem atentas a essas plataformas.

De acordo com a resposta, o Governo vai ouvir “seriamente” e “proceder a uma análise prudente” das sugestões sobre o desenvolvimento do sector, como a permissão da exploração de jogos interactivos por parte das concessionárias.

12 Nov 2020

Grupo Suncity | Governo reuniu com operadoras de jogo

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) reuniu ontem com representantes das seis operadoras de jogo depois de ter sido noticiado o alegado envolvimento do Grupo Suncity na gestão de uma rede de jogo online ilegal na China, apesar da empresa liderada por Alvin Chau ter negado essas informações.

Paulo Martins Chan, director da DICJ, referiu que “a exploração de qualquer actividade relacionada com jogos de fortuna ou azar online na RAEM pode constituir um crime”, uma vez que “o Governo não permite ao sector do jogo efectuar qualquer promoção de jogos de fortuna ou azar on-line, de colocação de apostas via telefónica e outras actividades relacionadas, através dos casinos da RAEM”.

Paulo Martins Chan esclareceu também que “as actividades de promoção de jogo exploradas dentro e fora da RAEM têm sido alvo de atenção do Governo”, havendo “ainda a necessidade de relembrar os respectivos sócios para o cumprimento rigoroso das normas legais”.

Do lado dos junkets, ficou a promessa de que as empresas “irão reforçar, junto dos respectivos sócios e dos seus colaboradores, a ideia da necessidade de que a exploração da actividade de promoção de jogos decorra dentro dos parâmetros das normas legais”.

11 Jul 2019

Empresas mundiais de videogames querem atrair público chinês para as competições de eSports, diz Mario Ho

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Federação de eSports de Macau, Mario Ho, declarou ontem que Macau é o lugar ideal para a organização de eventos de jogos de video pela internet, , capaz de destronar cidades como Las Vegas ou Singapura, onde a indústria atrai cada vez mais público jovem e dinheiro de todo o mundo.

A situação geográfica do território é a grande vantagem, por estar próxima do interior da China, onde o aumento de interesse por este tipo de desporto tem sido exponencial. “Quando organizámos o torneio asiático do Global PUBG [em Janeiro de 2019], tivemos 80 por cento da audiência proveniente do continente. Todos os criadores mundiais de video-games querem tirar proveito desta capacidade de chegar ao público chinês, por isso Macau apresenta uma posição melhor, para atrair esses níveis de atenção, do que Las Vegas ou Singapura, por exemplo”.

O filho do magnata Stanley Ho, e empresário de sucesso no ramo, falava ontem no final do painel do Global Gaming Expo 2019 – G2E Asia –, dedicado ao tema “eSports Outlook in Asia: Sports or Entertainment?”, onde participou com o presidente da Associação de eSports de Shenzhen, Jeff Lyndon. Se o fenómeno é considerado desporto ou entretenimento, ainda está por definir. O certo é que a indústria, que promove e realiza estes jogos de video em rede, é uma máquina de negócio que Mario Ho quer potenciar também no território, onde o envolvimento local ainda não é significativo.

“A Federação enfrenta agora o desafio de Macau ser uma cidade muito tradicional e ser preciso que as famílias vejam o eSport não só como entretenimento, mas como um mundo vasto onde se pode fazer muito dinheiro. E os jovens podem vir a desenvolver a sua profissão nesta área, como jogadores, formadores, analistas, comentadores, ‘live streamers’, etc. Se os pais não permitirem que os filhos adiram ao video-gaming, perdemos muito talento jovem local, como está a surgir em cidades modernas como Shenzhen”, considerou.

Não existe idade mínima para se começar a jogar. “É como no futebol, o Ronaldo também começou a jogar aos seis ou sete, e foi para a academia fazer jogo profissional aos treze!”, recordou.

23 Mai 2019

Mensagens de jogo online até no hemiciclo

[dropcap]N[/dropcap]os últimos tempos, as autoridades têm intensificado a luta contras as estações-base que emitem mensagens de portais ilegais de jogo online. O fenómeno já chegou à Assembleia Legislativa.

Durante a sessão de plenário de ontem, várias pessoas receberam mensagens, depois do telemóvel entrar em roaming, com informações falsas sobre uma alegada plataforma online do casino Venetian.

A mensagem está escrita em chinês simplificado e o portal em nada está relacionados com o casino da Sands China. Segundo a legislação em vigor, o jogo online de casino é ilegal e as apostas na Internet apenas podem ser feitas através da empresa Macau Slot.

12 Dez 2018

CAEAL | Jogo que simula eleições chega às mãos da PJ

 

Um jogo online que simula os votos nos candidatos às eleições deste ano levou a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa a pedir à Polícia Judiciária para investigar o assunto. Pode constituir uma ilegalidade, mas ainda não há certezas

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá a funcionar online um jogo em que os seus participantes simulam o voto nos candidatos às eleições legislativas deste ano. Tal levou a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) a pedir à Polícia Judiciária (PJ) para investigar o funcionamento do website que, contudo, não inclui qualquer tipo de apostas.

Nas palavras de Tong Hio Fong, presidente da CAEAL, trata-se de uma “actividade onde as pessoas fazem votos sobre a aceitação dos candidatos”. “Foi por isso que encaminhamos o caso para a PJ, não sabemos ainda qual é o servidor e a sua origem”, explicou.

“Em termos da sua natureza, pode constituir uma irregularidade em relação à campanha eleitoral. Alertamos os cidadãos para evitarem participar nesse tipo de jogo porque, por um lado, pode envolver os seus dados pessoais e, por outro, há uma responsabilidade jurídica”, disse ainda Tong Hio Fong, sem ter referido em concreto quais os artigos da lei eleitoral que não estarão a ser cumpridos.

O presidente da CAEAL frisou ainda o facto de poder estar em causa uma violação da lei dos dados pessoais. “Temos que ver se [as informações do website] são públicas ou não, se recolhem opiniões sobre os candidatos ou se é uma conversa entre os vários participantes. [O website] fala sobre os candidatos de uma forma expressa, se um terá uma posição superior ao outro ou não. Isso poderá afectar os votos dos outros candidatos e os eleitores aquando da sua votação.”

Tong Hio Fong garantiu que os mandatários das listas e os candidatos serão contactados aquando da finalização da investigação por parte da PJ.

Listas mantêm-se

O responsável máximo da CAEAL explicou ainda os resultados quanto às irregularidades encontradas em quatro listas.

As listas Cor de Rosa Amar a População e a Linha da Frente dos Trabalhadores dos Casinos tinham membros que não eram sequer eleitores. Um deles foi substituído, enquanto outro, da lista ligada ao sector do jogo, acabou por desistir. Ainda assim, a lista liderada por Cloee Chao mantém-se candidata, uma vez que é necessário o mínimo de quatro membros para que uma lista seja reconhecida. “Depois do suprimento das irregularidades admitimos as duas listas”, explicou Tong Hio Fong.

Havia ainda duas listas que não tinham apresentado informações completas, sendo uma delas a Ajuda Mútua Grassroots, liderada por Wong Wai Man. Todas essas falhas foram também suprimidas. “De acordo com a lei eleitoral e as nossas exigências foram aceites”, acrescentou o presidente da CAEAL.

Na próxima segunda-feira, a CAEAL vai estar reunida com o Comissariado contra a Corrupção e os candidatos “para os relembrar quais são os assuntos a ter em conta depois da publicação da lista definitiva”. A publicação da lista definitiva das candidaturas acontece na terça-feira.

Até ao momento, o CCAC acumulou um total de 29 queixas sobre alegadas práticas de corrupção eleitoral.

 

20 Jul 2017

Jogo | Campeonatos online “podem ser via” para a diversificação

A inclusão de jogos online na diversificação das actividades turísticas de Macau e por parte dos casinos é uma ideia a considerar por parte da Associação Grow Up eSports. Se noutras paragens o jogo no ecrã é um desporto a ter em conta, em Macau não é reconhecido como tal. Um negócio de milhões, com profissionais qualificados e uma modalidade ainda sem concepção legal ou operacional para integrar o negócio dos casinos, mas que não deixa de dar cartas

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s jogos online são actualmente uma indústria de milhões. Milhões em gente e dinheiro. Já há atletas dos ecrãs e equipas especializadas. Para uns é um desporto, para outros nem por isso, mas na RAEM as cartas estão dadas para que, no futuro, se abram portas a uma actualização da indústria do Jogo e do Turismo.
Em Macau há pelo menos uma entidade empenhada em fazer valer uma nova modalidade na caminhada para a diversificação do turismo e das áreas associadas ao Jogo. Numa sociedade cada vez mais ligada à rede, e em que a vida física dá tantas vezes lugar a uma outra dentro de ecrãs, a Associação Grow Up eSports quer abraçar esta nova tendência no seu lado “saudável”. A Associação sem fins lucrativos, “filha” da homónima em Portugal, tem como objectivo “o desenvolvimento de actividades atentas às novas tendências e que promovam as preferências de entretenimento digital de uma comunidade maioritariamente jovem, incentivando a participação em eventos sociais e competitivos”, como afirma o presidente, Fernando Pereira, ao HM.
A Grow Up eSports, que teve início em terras lusas em 2002, conta por lá com cerca de mil membros e é reconhecida oficialmente pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) “como uma das Associações mais inovadoras de Portugal”. Em Macau, a competição virtual ainda está longe de ser vista como uma actividade desportiva, muito menos capaz de colocar desporto e Jogo no mesmo saco. Em resposta ao HM, o Instituto do Desporto (ID) afirma que “a prática do desporto visa a promoção da saúde física e mental enquanto que o Jogo pode trazer efeitos adversos à mesma”, lê-se.
No entanto, Fernando Pereira juntou-se a Frederico Rosário, membro da Associação, e os dois estão de mãos na massa. Para o presidente é claro que “a tendência dos Desportos Electrónicos como nova forma de entretenimento é inquestionável”. Numa actualidade em que o tempo dos mais jovens é passado em grande parte a jogar Playstation, telemóvel ou computador, é altura de assegurar que esta prática – em vez de acrescentar maleitas sociais – possa entes representar, com a ajuda de entidades como a Grow up, uma prática “saudável e que os benefícios da mesma sejam devidamente aproveitados”.

Perícia VS Sorte

De modo a diversificar também o público e o leque de apostadores daquela que é a indústria rainha da RAEM, Fernando Pereira realça que “as apostas em eSports já estão a começar a ser vistas como uma alternativa às tradicionais slot-machines”. Para o presidente da Associação de jogos online esta é uma área que pode vir a colorir com outros tons não só o tipo de apostas no Jogo, como ainda vir a representar uma área apelativa para faixas mais jovens, sendo que “além de serem acerca de jogos que os próprios jogam ou seguem em casa, são totalmente dependentes de habilidade e não do acaso”.
Também é baseado na habilidade que Frederico Rosário fala ao HM. Para além de membro da Associação, Frederico é um jogador. “Não sou profissional, sou um jogador amador”, apresenta-se. No entanto também lhe é óbvio que “enquanto nas máquinas, que já nem dão moedas mas sim o recibo para quem ganha, o apostador apenas depende da sorte, se falarmos de jogos online não estamos a apostar nas habilidades dos jogadores que são conhecidos”.
Para Frederico Rosário os jogos agora implicam aptidões de processamento cognitivo. “Já não é como no Super Mário”, jogo em que deu os primeiros passos na consola. “Os jogos agora podem incluir cerca de 780 acções por minuto”, diz, enquanto ilustra a complexidade que se vive no mundo virtual. Num minuto, o jogador tem que falar com a equipa de que faz parte e fazer um número de acções conjugando os instrumentos de que dispõe para atingir os objectivos.

Outros hábitos

Frederico Rosário é filho de um engenheiro e lembra-se de, aos dois anos, o pai “ter comprado a máquina” com que jogava na altura Super Mário. Se hoje em dia os jogos são muitas vezes apontados como alguma conotação anti-social, dado o número crescente, apesar de indefinido, de jovens que cada vez mais se fecham nos seus quartos ligados à rede, para este jogador o contentamento não é disfarçado quando fala nos tempos de meninice.
“Quando havia tufões os miúdos juntavam-se todos a jogar.” Agora esta vertente social acontece de outra forma. “Enquanto jogamos em rede não são raras as vezes em que acabamos por partilhar com os outros elementos da nossa equipa o que nos vai acontecendo na vida”, afirma o jogador. Por outro lado, Fernando Pereira refere ainda que, ao trazer os jovens para competições destas modalidades online, também se está a trazer estas pessoas para o convívio social.

Um desporto para fazer vida

Frederico joga por lazer mas também começa a participar em torneios. Em vésperas de competição em Hong Kong, já considera que “se passar a primeira etapa já é um vencedor”. Também é de vencedores que se trata quando se fala das competições online dirigidas por profissionais. “Cada vez mais se pode viver de jogos online.”
Em Macau já há quem o faça e participe nas equipas da China. E não se está a falar de tostões de ordenado. “São pagos cinco ou seis milhões ao ano”, afirma o jogador. No mundo da rede, que não se vê, existem equipas – como a Coreia do Sul, por exemplo – que, tal como no futebol, “roubam os melhores jogadores com contratos mais prometedores. “Quem é bom vai sendo contratado por equipas que pagam cada vez mais”, ilustra.
Para Frederico é como qualquer outro desporto. Há treinadores, equipas e mesmo nutricionistas e psicólogos para manterem em forma estes atletas virtuais. “Macau costuma ser mais lento do que os outros”, afirma, e a Grow Up quer trazer as modalidades para serem por cá disputadas como se faz nos outros sítios. “Acho que um dia o ID vai ver o nosso trabalho e reconhecer que somos uma Associação de desporto”, afirma o jogador.
Trazer a Macau cada vez mais eventos dentro dos parâmetros das competições online e com eles atrair os vizinhos espectadores da Coreia do Sul, China e Japão e das regiões de Taiwan e Hong Kong é um objectivo mais que definido da Associação. Tal como nos desportos com atletas de carne e osso, também aqui uma “grande maioria dos entusiastas destes jogos gosta de assistir aos seus ídolos jogar, tal como acontece em qualquer outra modalidade desportiva”, afirma Fernando Pereira.

Casinos de olho aberto

Frederico Rosário refere ainda que o MGM Cotai já pensou nesta área e o Studio city também estará a fazer o mesmo. O HM tentou resposta das operadoras, mas não conseguiu até ao final da edição. Ainda assim, o entusiasmo dos casinos é reiterado pelo presidente da Associação.
“Os casinos têm-se demonstrado muito abertos à introdução de eventos de eSports nas suas arenas, pois está comprovado serem espectáculos com elevada projecção, tanto offline como online.”
Para o promotor desta modalidade, é fundamental que as operadoras que queiram manter a sua relevância apostem nas novas tendências e comuniquem na língua que os seus possíveis futuros clientes comunicam. “Neste momento, essa língua são os eSports.”
Em Las Vegas, um outro epicentro do sector do Jogo que muito trouxe a Macau, “já existe a vontade de se avançar com esta componente de apostas”, como esclarece Fernando Pereira.

Dúvidas

Até este momento, Davis Fong, académico da área do Jogo da Universidade de Macau, “não consegue ver que exista ainda um modelo legal e operacional de cariz internacional capaz de regular esta área nos casinos. É necessário para Macau que existam estas molduras operacionais e legais em que o território se possa apoiar para eventualmente levar o jogo virtual ao casino. Mas “ainda é cedo” para que isso aconteça em Macau.
Para o investigador, o mercado local “ainda é muito pequeno e, por outro lado, ainda não há uma empresa de tecnologia local envolvida nos jogos virtuais”. Por isso, antes da existência de uma configuração legal e de uma estrutura económica dedicada ao desenvolvimento de meios necessários a esta área, não será fácil o seu estabelecimento no território. Davis Fong não põe de parte que no futuro possa ser uma área a considerar por cá.
Fernando Pereira alerta, por seu lado, para esta necessidade que também já foi pensada em Vegas. “Antes que isso seja possível, é necessário que todo um sistema de regulação e inspecção de jogos seja colocado em prática, de forma a que possa haver controlo sobre possíveis batotas, doping, ou mesmo resultados combinados”, remata.

Números

20 milhões de USD em prémios monetários no evento “The International 2” é o montante que bate todos os recordes estabelecidos até à data em iniciativas do género

200 milhões de RMB definido para 2016 definidos pela World Cyber Arena na China

670 milhões de internautas envolvidos

370 milhões de jogadores

325 milhões de USD em patrocínios em 2016

800 milhões de USD em patrocínios previstos para 2019

32 milhões de espectadores sendo que 8,2 milhões são telespectadores concorrentes

16 Ago 2016