João Santos Filipe SociedadeEmpresa responsável pelo IKEA gere vários franchises A abertura da loja do franchise sueco de mobiliário reforçou a aposta do grupo Dairy Farm em Macau, que além do IKEA gere ainda o supermercado San Miu, as lojas 7 Eleven, Mannings e tem uma participação de 50 por cento na Maxim’s [dropcap]N[/dropcap]o dia 23 de Abril, em plena época de pandemia da covid-19, abriu a primeira loja da IKEA em Macau. As limitações da época fizeram com que as visitas ao espaço fossem precedidas por marcação online. No entanto, a expectativa levou à rápida lotação esgotada das vagas da primeira semana, apesar da empresa não divulgar o número de visitantes até ao momento. Contudo, o sucesso do IKEA em Macau não é alheio ao grupo que está a gerir a marca no território, ou seja à companhia Dairy Farm, que tem sede em Hong Kong e está registada nas Bermudas. Apesar de o nome poder ser desconhecido da maior parte dos clientes, a empresa de Hong Kong, liderada por Ian McLeod, é responsável por mais de 112 lojas só na RAEM, de acordo com o relatório anual de 2019 da empresa. Caso não tenha havido nenhum encerramento, desde a abertura do IKEA, o número de espaços comerciais subiu para 113. Entre as marcas geridas pela Dairy Farm, além da IKEA, constam ainda os supermercados San Miu, as lojas de conveniência 7 Eleven, as lojas de cosméticos Mannings. Segundo a informação disponibilizada no relatório do grupo, no final de 2019, a Dairy Farm tinha 20 supermercados San Miu em Macau, 51 lojas 7 Eleven e 19 Mannings. Além disso, o grupo detém, de acordo com o relatório anual e a informação no seu portal, uma participação de 50 por cento na cadeia de restaurantes e pastelarias Maxim’s, que tem 22 espaços comerciais na RAEM. Aposta nos hambúrgueres O lançamento do IKEA não era a única estreia agendada para Macau este ano. No sector da restauração, a Dairy Farm anunciava no relatório anual de 2019, que a Maxim’s, definida como parceira, planos para abrir o primeiro restaurante de hambúrgueres do franchise Shake Shack. A cadeia de restaurantes norte-americana é relativamente recente, com 15 anos de actividades, e é especializada em hambúrgueres e cachorros quentes. Actualmente, já tem nove restaurantes na China, três dos quais em Xangai em seis em Hong Kong, além da presença em vários países europeus e asiáticos. No entanto, no contexto da pandemia, e como muitas vezes a estratégia em Macau passa por servir essencialmente os clientes dos grandes hotéis e casinos, não é de excluir que a estreia seja atrasada, devido à redução do número de visitantes. Lucros de milhões Incertezas à parte, só no ano passado o grupo que além de Macau gere franchises em Hong Kong, Interior da China, Taiwan, Malásia ou Singapura registou um total de 27 mil milhões de dólares americanos em vendas, o que equivale a 220,5 mil mil milhões de patacas. Este montante permitiu que os lucros para os accionistas atingissem os 321 milhões de dólares norte-americanos (2,6 mil milhões de patacas), apesar de a empresa admitir que no mercado de Hong Kong, um dos mais importante para a marca, a instabilidade social acabou por afectar directamente o negócio. Os resultados do grupo não permitem conhecer os números das vendas em Macau, uma vez que não especificam os dados por mercado. Porém, segundo o volume de vendas em Hong Kong e Macau no sector da venda de comida a retalho registou um aumento, ainda que com lucros menores, o que também aconteceu com a venda de cosméticos.
Hoje Macau SociedadeIKEA | Loja na Taipa vai abrir até Março de 2020 [dropcap]A[/dropcap] empresa sueca IKEA vai abrir uma loja na Taipa até durante o primeiro trimestre do ano que vem. A informação foi dada ontem pela empresa, através da representação de Hong Kong. O espaço, cuja localização ainda não foi revelada, vai ter cerca de 8 mil metros quadrados e além de divisões com a exibição de móveis vai incluir ainda um café IKEA e um mercado para venda de produtos alimentares suecos. “Como forma de celebrar um novo marco no compromisso do IKEA com Macau, a nova loja vai oferecer móveis desenhados de forma ímpar, a preços acessíveis e práticos, que vão ao encontro das necessidades dos consumidores de Macau,” afirmou o gestor do grupo para o mercado do Norte da Ásia, Adrian Worth, em comunicado. Como parte da abertura da loja, a marca sueca vai igualmente recrutar cerca de 100 trabalhadores, através de uma campanha entre 8 e 10 de Novembro, que vai ter lugar no Centro Ngai Chon, que pertence à União Geral das Associações dos Moradores de Macau.
Hoje Macau SociedadeIKEA | Loja na Taipa vai abrir até Março de 2020 [dropcap]A[/dropcap] empresa sueca IKEA vai abrir uma loja na Taipa até durante o primeiro trimestre do ano que vem. A informação foi dada ontem pela empresa, através da representação de Hong Kong. O espaço, cuja localização ainda não foi revelada, vai ter cerca de 8 mil metros quadrados e além de divisões com a exibição de móveis vai incluir ainda um café IKEA e um mercado para venda de produtos alimentares suecos. “Como forma de celebrar um novo marco no compromisso do IKEA com Macau, a nova loja vai oferecer móveis desenhados de forma ímpar, a preços acessíveis e práticos, que vão ao encontro das necessidades dos consumidores de Macau,” afirmou o gestor do grupo para o mercado do Norte da Ásia, Adrian Worth, em comunicado. Como parte da abertura da loja, a marca sueca vai igualmente recrutar cerca de 100 trabalhadores, através de uma campanha entre 8 e 10 de Novembro, que vai ter lugar no Centro Ngai Chon, que pertence à União Geral das Associações dos Moradores de Macau.
Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasNada de especial [dropcap]U[/dropcap]m homem dorme sossegado no muro da mesquita. Tem meias pretas mas não lhe encontro os sapatos. O corpo curvado parece não ter espinha, só flexibilidade. As pessoas que saíram agora do trabalho passam para cima e para baixo. Passam-lhe ao lado. O miúdo sentado no passeio segura um helicóptero amarelo. Em pé, a mãe vê um avião passar. No IKEA, encostada a uma mesa alta, como um de dois cachorros quentes. Não aprecio a versão vegetariana por aí além. “Deviam ter muito mais cadeiras, é uma vergonha”, diz este homem de cabelos brancos, enquanto ajeita o pesado banco que acarretou durante uns metros para me ceder. Vai-se embora com a esposa silenciosa. Espantada e agradada com o gesto, quando acabo de comer tento fazer o mesmo por outra pessoa, mas ninguém parece prestar-me atenção, ou perceber o que quero, e acabo por desistir. Na paragem de autocarro passa um homem com um miúdo de uns três anos, segurando um boneco. Sorrimos um ao outro. Alguns minutos depois, o miúdo já não vem de queixo colado ao ombro do pai e sim pendurado, todo desengonçado, de lado. Páram ao começo de nova birra. “Fica aí então, eu vou-me embora”. O miúdo chora, lágrimas bem gordas que realçam os olhos verdes contra a pele negra. É muito belo, como aliás o pai. A mãe, que não fica atrás em beleza nem em caminho, aparece não sei de onde com duas amigas e convence-o a erguer-se das cócoras, a tirar os punhos das bochechas e a dar-lhe a mão, embora não abdicando da birra. Ele é tão pequenino, e toda a gente se vira para vê-lo melhor. Deixei de dar os parabéns às pessoas nos seus aniversários por tempo indeterminado. A Sara trouxe-me um boneco representativo da ópera chinesa. De cada vez que se lhe inclina o chapéu, o boneco muda de cara. Somos todos boneco. O David perguntou-me como foi o resto daquele sábado. Digo que correu bem. “Fui-me embora quando começaste a falar”, admite. É o que todos queremos ouvir, respondo. Gosto demasiado de dizer aos outros como poderiam viver uma vida mais plena, mas a verdade é que ando há meses com a haste dos óculos torta, como se isso fosse mudar a minha perspectiva das coisas. Quero usar o cabelo apanhado e não posso, porque a afro ajuda a equilibrar a minha visão. Concluo, portanto, que não sou a melhor life coach do mundo. Mas também não devo ser a pior amiga, afinal recebo mensagens do Brasil a perguntar como era mesmo a receita das chips de couve kale (galega para os amigos) que servi certa noite ao jantar, e pedidos de uma certa menina de olhos azuis em relação à roupa que vai usar em cada uma das suas inúmeras reuniões de trabalho. Agora que está desempregada sinto que eu também estou, de certo modo. Vivo alheada da maioria das notícias e isso contribui muito para a minha tranquilidade. Decido ver toda a primeira temporada de Euphoria de uma assentada, abandonando The Wire. Rue, a personagem principal, interpretada por Zendaya, ameaça outra, no último episódio, citando nomes que reconheço como sendo de personagens de The Wire. Apanhada pela vida a fazer batota pela segunda vez, esta semana. Entro no regional. Aprecio o quão vazio vai e o ar condicionado, tão menos exagerado que nos autocarros. Penso que gosto da expressão “Eu cá…”, como quem diz, eu cá gosto da Ana Cássia Rebelo, que tantas gargalhadas me tem arrancado. Mentira, dou-lhas de bom grado. Mas entretanto sinto comichão no nariz porque vai uma família de cinco ingleses com um português e acabaram de pôr, os ingleses, um perfume qualquer que, não sendo mau, também não é bom, e que multiplicado assim se torna difícil de suportar. Agora estão a falar de queijos. Eu coço o nariz com o marcador que veio com o livro. Tem a foto da Patti Smith em jovem e protege-me do cheiro real a perfume, do cheiro virtual dos queijos e da risada que continua aqui, à espera que um deles me olhe para sair. No supermercado: mulher ao telefone declara a alguém que ele é seu e só seu, e que é bom que fulana o saiba. Outra conta à filha como a avó lhe deu a comer atum até enjoar. “Só voltei a comer atum quando conheci o teu pai”, revela. Tive uma conversa assim com o meu ex-namorado sobre queijo da ilha, mas deixei de comer quando terminámos. “Queriam levar o meu marido para o Monsanto, para a má vida”. Ou fico mais sã ou passo a aborrecer-me de morte, quando abdicar dos transportes públicos. Na biblioteca, folheio tudo excepto livros da autora que procuro. Nada como a morte. Num romance, encontro uma carta dobrada em três. “Cara professora Sara, gostaria de lhe pedir para deixar a Ariel trazer o livro de Estudo do Meio para casa, este fim de semana. Obrigada. A mãe – Inês, 4 de Outubro de 2018”. A mãe é daquelas pessoas cujo apelido é o mesmo que o do cônjuge, pelo que se repete. Se há algo de que não posso abdicar, é da minha solidão. Quando deixei de descurá-la, passei a nutrir-me. Entretanto, demorei tanto a escrever este texto que a haste dos meus óculos já foi arranjada. Pondero lentes, apesar de ter avançado três casas no tabuleiro de leitura.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | História de um designer português ao serviço da IKEA [dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]adicado na China desde 2012, o português Filipe Martins trabalha para a multinacional sueca Ikea em Tianjin, cidade portuária do nordeste chinês, onde aprendeu a viver com uma “raiz humana completamente diferente da nossa”. “Tem sido muito interessante: ver a cultura corporativa sueca aplicada a um contexto do norte da China, que é bastante particular”, conta à agência Lusa o designer de 33 anos. “Sinto que a minha cultura está um pouco entre estas duas culturas”, diz. Natural de Lisboa, Martins desembarcou em Tianjin há quatro anos para estudar chinês. “Cheguei a uma altura em que queria mudar de vida”, recorda. A primeira visita ao país asiático ocorreu em 2009, numa viagem organizada pelo Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino da língua chinesa. “Foi um admirável mundo novo”, recorda. “Viver na China é capaz de ser das experiências mais semelhantes a viver noutro planeta”. “Com pessoas que são iguais a nós e que têm os mesmos prazeres na vida, mas que fazem isso de uma forma muito diferente da nossa e que agem por princípios completamente distintos”, diz. No ano passado, foi contratado pelo grupo de mobiliário Ikea como designer da loja em Tianjin: “Sou responsável por tudo o que estimula a visão”, explica. A partir da sua experiência no país, Filipe Martins contraria a ideia de que os chineses são pouco criativos. “A criatividade existe. Simplesmente, não têm muito à-vontade”, afirma. “Os chineses temem muito o erro, devido à responsabilidade que não querem assumir”. Nas lojas do Ikea na China é frequente ver pessoas que recorrem aos móveis expostos para descansar, em lazer ou até para dormir. Em Outubro passado, a direcção do grupo em Xangai proibiu mesmo os clientes de permanecerem muito tempo no restaurante da loja sem consumirem, depois do espaço se ter tornado local de convívio entre idosos. “Os chineses estão muito à vontade para na loja do Ikea se sentarem, deitarem ou adormecerem”, conta Filipe Martins. “Não têm as mesmas inibições sociais que nós temos”, explica. Influências limitadas A conversa com a agência Lusa decorreu na zona antiga de Tianjin, cidade outrora sob domínio estrangeiro e hoje uma das quatro cidades com estatuto de município – as outras três são Pequim, Xangai e Chongqing. Em Tianjin, a China foi forçada, no final do século XIX, a conceder uma área com oito quilómetros quadrados às principais potências estrangeiras, criando uma malha urbana de raiz europeia que ainda hoje se mantém. Os edifícios, de traço arquitectónico alemão, francês ou italiano, servem agora como restaurantes, cafés ou galerias, onde ocorre a emergente classe média local. No entanto, Filipe garante que a influência estrangeira na cidade se ficou pela arquitectura. “O ‘software’ é ainda muito tradicional”, diz. Quanto ao que sente mais falta em Tianjin, o designer responde sem hesitar: “O mar”. “Tianjin tem um mar, mas é um mar interno. Não tem ondas. Sinto muitas saudades das ondas da costa da Caparica, da espuma, da ferocidade do mar no inverno”, afirma. “Quando descrevo aos chineses o mar de onde venho, o oceano, eles ficam assustados e maravilhados ao mesmo tempo”.