Espectáculos | Zona ao ar livre pode estar concluída em Novembro

A presidente do Instituto Cultural revelou que a construção da zona de espectáculos ao ar livre no Cotai poderá estar concluída em Novembro e que serão organizados concertos e espectáculos para testar a capacidade das instalações, o fluxo de trânsito e ouvir opiniões da população. Para já, estão a ser ultimados regulamentos para o arrendamento do espaço

 

Os primeiros acordes a soarem na zona para espectáculos ao ar livre no Cotai podem estar para breve. Segundo a presidente do Instituto Cultural (IC), Deland Leong, a construção da área, ao lado do Grand Lisboa Palace, poderá estar concluída no próximo mês. A responsável pela área cultural adiantou ainda que o IC está a ultimar a regulamentação que irá estabelecer as regras para o arrendamento e uso do espaço.

Em declarações citadas pelo jornal Ou Mun, Deland Leong revelou ainda que o Governo irá organizar espectáculos não só para celebrar a inauguração do espaço com a população, mas também afinar detalhes e testar os equipamentos. Sem especificar a natureza dos eventos, ou quantos serão organizados, a presidente do IC indicou que os principais objectivos passam por testar os equipamentos do recinto, reunir sugestões e permitir que a população se familiarize com os transportes e os acessos à zona.

Além disso, a lotação do recinto irá ser aumentada gradualmente, depois dos eventos que irão testar a capacidade da zona. Recorde-se que o recinto foi pensado para acolher cerca de 50 mil espectadores.

A zona de espectáculos ficará situada num terreno do Governo, com uma área de 94 mil metros quadrados, “na intersecção entre a Avenida do Aeroporto e Rua de Ténis, virada a norte para a Rua de Ténis e a nordeste para a Avenida do Aeroporto”, perto do Grand Lisboa Palace.

No final de Julho, foi adjudicada à Companhia de Construção & Engenharia Shing Lung a empreitada para a construção do recinto. A empresa apresentou a proposta mais barata, no valor de 84,8 milhões de patacas.

Ruínas e estaleiros

Deland Leong confirmou também que vão continuar a ser organizados concertos nas Ruínas de São Paulo até às vésperas do Ano Novo Chinês, também porque estamos a atravessar a época ideal para assistir a concertos ao ar livre. Apesar de ainda não existirem planos concretos, a presidente do IC indicou que será organizado um concerto da Orquestra de Macau no Natal.

Sobre os progressos das obras de recuperação dos estaleiros navais de Lai Chi Vun, Deland Leong referiu que a concessionária responsável pela revitalização do local, o grupo Galaxy, deverá concluir, até ao fim do ano, a instalação de equipamentos destinados à diversão familiar.

No próximo ano, será iniciada a segunda fase da obra de revitalização da área, incluindo a reparação dos estaleiros navais restantes, cujo plano de design está a ser desenvolvido.

29 Out 2024

Um espectáculo, digo eu!

[dropcap]N[/dropcap]o caminho para a paragem, onde se cruzam eléctricos e autocarros, distraída e com sono, quase piso a passadeira ainda a ser pintada de fresco. Há operários, cones de sinalização, luzes amarelas e coletes reflectores. Alguns metros à frente, os homens do lixo fazem a recolha. Levo a mão à cabeça para ter a certeza de que não trouxe um capacete em vez do gorro. Fico confusa por momentos; poderia julgar que o ensaio acabara e que já não estava em directo do grande auditório do CCB, onde o público aguarda o início de mais uma criação da mala voadora e sim na rua, em Lisboa. O autocarro chega e a viagem é feita aos solavancos. O cheiro a frango assado que o passageiro sentado atrás de mim devora torna tudo mais real. É o descanso do trabalhador, a marmita tradicional, o piquenique em movimento para quem ainda tiver forças para comer a esta hora da noite.

As últimas semanas foram intensas e exigentes, e nesta viagem que nunca começa para todos ao mesmo tempo, apenas termina, encontramo-nos cada vez mais lado a lado para ensaiar, jantar quando conseguimos, fumar um cigarro, tocar piano a quatro mãos, apertar um botão da camisa ou acertar colarinhos no último segundo, mandar calar, matar os colegas cem vezes na nossa cabeça, apenas para depois com eles dançar em conjunto entre cada cena, fazer rir e trocar histórias, para desesperar e zangar. Temos pouco tempo e no entanto há sempre tempo para atrasos, faltas, momentos de diva, para ficar doente, mudar de ideias, perder e reaver objectos, habituar-se a que tudo mude todos os dias e mais do que uma vez por dia, cortar e acrescentar cenas, cimentar e criar amizades, e ainda cobiçar todo o guarda-roupa do director artístico. Não importa como se chegou aqui, agora estamos juntos nisto.

Sábado de tarde: turistas e locais passeiam, fotografam, lancham e apanham sol, como sempre ou talvez com maior fervor, pois afinal é um feriado religioso. Técnicos fazem greve, como é de seu direito. O espectáculo é cancelado. Sucedem-se as mensagens, telefonemas, suspiros e brados de revolta, tristeza, desilusão e frustração. Como manda o figurino, há uma reunião de última hora com quem de direito e com direito a explicação, que sabe naturalmente a pouco, sabe talvez a algum do material usado na construção do cenário. Existe solidariedade de parte a parte, só tenho pena que o “crítico” não tenha escolhido o dia de hoje para vir ao teatro. Provavelmente teria apreciado mais esta versão. Fausto não é para todos, não agrada a todos (de qualquer um dos lados do palco, pois acreditem que é possível fazer um espectáculo de que não se gosta) mas é, inegavelmente, sobre todos e dá um lugar e visibilidade a todos. Sou suspeita mas, pessoalmente, é isso o que me interessa na arte. E o respeito por quem trabalha, claro. Em Fausto, trabalhou-se e aprendeu-se muito.

Um coro, um rancho e um stripper entram num palco… Ganhamos mais do que perdemos. Para trás ficam lantejoulas, folhos, escudos, luvas e cacetetes, azulejos e leques, camas de hospital e os vinte cinco anos do Centro Cultural de Belém. Fica a festa possível, sem esquecer que são as pessoas que fazem as instituições. As recentes greves demonstram isso, sejamos estivadores ou actores na tv ou no teatro. Ou todas as profissões que estes últimos representam, por vezes até fora do blueroom. Alguém disse que a ambição é necessária para a realização. Eu penso nos Apanhados TVI e RTP e em maquilhagem que serve para nos fazer parecer que estamos sem maquilhagem e, de algum modo, tudo isto parece fazer sentido.

Conto, para que vocês acreditem. Talvez este seja o final, o único final possível. Mais irónico e genial do que qualquer um de nós poderia ter criado intencionalmente. Nós, a equipa, saímos de malas e bagagens como tantas vezes estivémos em cena. Talvez a arte não imite a vida, apenas a amplifique, pois em Fausto houve manifestações, revoluções, feridos e queimados, migrantes e desempregados. Talvez esta greve tenha o seu quê de justiça poética, não houvesse também um grupo de juízes em cena. Mas agora é hora de arrumar tudo, apagar as luzes, apanhar novo eléctrico, novo autocarro, e voltarmos a ser as pessoas de todos os dias, sem fronteiras e quase sem limites. Caótica e elegantemente, como um povo e uma família de artistas que se preze.

13 Dez 2018