Kim Jong-nam | Coreia do Norte atribui morte a ataque cardíaco

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m emissário da Coreia do Norte negou ontem que Kim Jong-nam, meio-irmão do líder do país, Kim Jong-un, tenha sido assassinado com veneno e atribuiu a sua morte em 13 de Fevereiro a um ataque de coração.

Ri Tong Il, embaixador da Coreia do Norte na ONU, que dirige uma delegação norte-coreana enviada à Malásia para reclamar o cadáver, negou a versão malaia numa declaração à imprensa diante da embaixada norte-coreana, segundo o canal televisivo Channel News Asia.

O embaixador adiantou que a vítima tinha um historial médico de problemas cardíacos e pressão sanguínea alta e assegurou que há fortes indícios de que a sua morte se deveu a um ataque de coração, adiantou a mesma fonte.

Ri disse ainda que se a causa da morte fosse o veneno VX, como disseram as autoridades da Malásia, deveriam enviar-se amostras do agente tóxico para a Organização para a Proibição de Armas Químicas.

Outra verdade

A Malásia indicou, com base numa autópsia preliminar, que Kim Jong-nam morreu minutos depois de duas mulheres, uma indonésia e uma vietnamita, terem lançado para o seu rosto o agente VX, no aeroporto internacional de Kuala Lumpur, a 13 de Fevereiro.

A polícia malaia crê que ambas foram recrutadas por quatro norte-coreanos que fugiram do país no mesmo dia 13 de Fevereiro, horas após o incidente, e pediu a ajuda da Interpol para os localizar.

Siti Aisyah, de 25 anos e nacionalidade indonésia, e Doan Thi Huong, de 28 e oriunda do Vietname, foram formalmente acusadas de homicídio na Malásia na quarta-feira e podem ser condenadas à pena capital se forem consideradas culpadas.

Horas depois de as duas mulheres suspeitas do ataque serem formalmente acusadas, a agência oficial norte-coreana KCNA escreveu que a alegação, no relatório da autópsia, de que pequenas quantidades do veneno extremamente tóxico foram detectadas no cadáver é “um absurdo” a que falta “rigor científico e coerência lógica”.

5 Mar 2017

Kim Jong-nam | Suspeitas acusadas de homicídio. Seul propõe suspensão de Pyongyang na ONU

 

Insistem que são inocentes, que foram enganadas, mas arriscam a pena de morte. Já há duas acusações formais em relação ao homicídio de Kim Jong-nam mas, para já, os mentores do ataque continuam a monte. Ou protegidos pelo regime de Kim Jong-un. O uso de uma arma química altamente mortífera deve ser entendido como um aviso, dizem os vizinhos do Sul e quem trabalha na defesa dos direitos humanos na Coreia do Norte

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s duas mulheres alegadamente envolvidas na morte de Kim Jong-nam foram ontem formalmente acusadas de homicídio. A indonésia Siti Aisyah, 25 anos, e a vietnamita Doan Thi Huong, de 28, foram presentes a tribunal em Sepang. Além das duas mulheres, foram acusados quatro homens de nacionalidade norte-coreana que se encontram em paradeiro desconhecido, depois de terem saído da Malásia em meados do mês passado.

As arguidas são acusadas de terem atacado Kim Jong-nam no Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, no dia 13 de Fevereiro, ao colocarem-lhe no rosto um gás tóxico asfixiante – o VX, um agente nervoso letal. Ao abrigo da legislação da Malásia, as duas jovens poderão ser condenadas à morte, por enforcamento, se forem consideradas culpadas. Não foi interposto qualquer recurso após a leitura da acusação.

Ambas disseram aos representantes diplomáticos dos seus países que foram pagas para participarem no que acreditaram ser uma brincadeira para um programa de televisão.

As agências internacionais de notícias relataram que o dispositivo policial nas imediações do tribunal era grande, com cerca de 200 agentes presentes. A polícia conduziu as mulheres algemadas para o tribunal. À saída, envergavam coletes à prova de bala, um reflexo da preocupação das autoridades malaias em relação à possibilidade de que outros envolvidos no crime queiram silenciar as arguidas.

Espera de mês e meio

Ainda antes do início da audiência, em declarações aos jornalistas, o advogado de Siti Aisyah, Gooi Soon Seng, mostrou-se preocupado com questões processuais prévias ao julgamento. Está marcada uma nova sessão no tribunal para 13 de Abril, altura em que a acusação vai pedir que as duas mulheres sejam julgadas em simultâneo, num só processo.

À porta do tribunal, o advogado de Doan Thi Hong afirmou aos jornalistas que a sua cliente lhe disse estar inocente. “Negou, negou tudo. Disse ‘sou inocente’”, relatou Selvam Shanmugam. “Claro que está obviamente muito nervosa porque arrisca a pena de morte.”

Ontem, as acusações contra Siti Aisyah foram lidas em primeiro lugar, seguindo-se o processo relativo a Doan Thi Huong. Há um homem norte-coreano detido, identificado pela polícia como sendo Ri Jong Chol, mas ainda não foi acusado de qualquer crime.

A polícia malaia deteve as duas mulheres nos dias que seguiram ao ataque. As imagens do circuito de segurança do aeroporto, que tiveram uma ampla divulgação pelos media, mostrava as arguidas a abordarem Kim Jong-nam, com uma delas a colocar-lhe um objecto sobre o rosto. O filho mais velho de Kim Jong-il, que se preparava para apanhar um voo com destino a Macau, morreu 20 minutos depois.

Em declarações feitas em Jacarta, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros manifestou a esperança de que Siti Aisyah possa ser julgada de forma justa. “Esperamos que o princípio da presunção da inocência seja respeitado. O advogado de defesa de Siti fará o seu melhor e desejamos que tenha um julgamento justo, em que sejam respeitados os seus direitos, e que não seja julgada pela opinião pública.”

Doan Thi Huong, a mulher vietnamita, foi detida 48 horas depois do homicídio no mesmo terminal do aeroporto onde Kim Jong-nam foi assassinado. Será a mulher que usava uma t-shirt branca com o acrónimo “LOL” estampado, e que foi captada pelas imagens do circuito de segurança enquanto esperava um táxi, já depois do ataque.

A suspeita indonésia, Siti Aisyah, foi apanhada no dia seguinte. A polícia explicou que, na prisão, teve ataques de vómitos, admitindo que se tratará de efeitos secundários da exposição ao VX. Os diplomatas indonésios que a visitaram depois disseram que se encontra bem.

Segundas intenções

Kim Jong-nam morreu vítima de uma das mais mortíferas armas químicas alguma vez criadas. O VX é muito mais potente do que o gás Sarin, usado na Síria em 2013 e no metro de Tóquio em 1995. Os especialistas dizem que umas gramas de VX são suficientes para causar a morte a muita gente. Existem fortes dúvidas sobre o modo de manuseamento do VX pelas arguidas, uma vez que, sem as devidas precauções, também elas teriam morrido.

De acordo com os serviços secretos sul-coreanos, a Coreia do Norte tem centenas de toneladas de armas químicas, incluindo VX, espalhadas por todo o país. Pyongyang nega que assim seja. Parece não haver dúvidas, entre os analistas, de que o regime de Kim Jong-un, o meio-irmão mais novo de Kim Jong-nam, é o responsável pelo que aconteceu.

“É impossível a uma associação criminosa vulgar obter VX, pelo que é uma prova de que o Estado norte-coreano está envolvido”, assinalou ao HM o activista e investigador japonês Ken Kato. O director da Human Rights in Asia vinca que “não há outro país, além da Coreia do Norte, com razões para matar Kim Jong-nam”.

A utilização deste tipo de químico levanta questões acerca dos verdadeiros motivos de Pyongyang num dos homicídios mais estranhos dos últimos anos. Há quem entenda que a escolha do VX teve que ver com a necessidade de os autores terem a certeza de que não haveria falhas. Outros analistas especulam que, ao matar um homem – aquele homem – num aeroporto internacional, a Coreia do Norte quis mostrar ao mundo o que é capaz de fazer com armas químicas, facilmente esquecidas pela comunidade internacional, que está preocupada com os avanços nucleares do regime.

Depois, existe ainda a teoria de que Pyongyang não pretendia que o VX fosse descoberto, por não querer arriscar mais sanções impostas pelas Nações Unidas.

Ken Kato acredita que a Coreia do Norte entrou num “comportamento que demonstra a incapacidade de tomar decisões racionais”. Se assim não fosse, prossegue o activista, não teria entrado em conflito directo com a Malásia, um dos poucos aliados do regime. “Isto é extremamente perigoso para a comunidade internacional porque o Norte pode vender armas nucleares, químicas e biológicas a terroristas”, sublinha o activista, com vasto trabalho desenvolvido sobre o regime. “Não é um assunto que diga respeito à Malásia, mas sim ao mundo todo.”

O castigo

Os estados que assinaram a Convenção sobre Proibição de Armas Químicas podem invocar que existiu uma violação da legislação internacional no caso Kim Jong-nam. A Malásia faz parte deste pacto desde 1993 – que proíbe a produção, a transferência e a utilização deste tipo de armamento –, mas a Coreia do Norte não.

As autoridades policiais de Kuala Lumpur já deram indicações de que estão disponíveis para fazerem chegar os resultados da autópsia e das investigações às Nações Unidas. Resta agora saber se o Conselho de Segurança da ONU irá tratar o caso como altamente prioritário.

No limite, os estados que ratificaram a convenção podem invocar o pacto e tomar medidas colectivas em relação a Pyongyang que poderão mesmo resultar na suspensão dos direitos e privilégios da Coreia do Norte no âmbito das Nações Unidas. Seul defende este caminho: esta semana, numa convenção sobre desarmamento em Genebra, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Sul, Yun Byung-se, afirmou que a utilização de armas químicas é um aviso, pelo que a comunidade internacional deve agir. O diplomata entende que o regime de Kim Jong-un deve ficar temporariamente impedido de ocupar o assento que detém nas Nações Unidas.

“A comunidade internacional não está habituada a lidar com um país como a Coreia do Norte”, considera o japonês Ken Kato. “Devia perceber que o regime norte-coreano é uma associação criminosa. Deve ser tratado como tal e não como um país em desenvolvimento, em fase de aprendizagem das normas internacionais. De outro modo, o regime jamais mudará.”

 

 

 

 

Só Pyongyang pede o corpo

Membros do Governo da Malásia estiveram reunidos com uma delegação norte-coreana que chegou a Kuala Lumpur esta semana para um encontro de alto nível sobre a libertação do cidadão da Coreia do Norte que se encontra detido, bem como para a entrega do corpo de Kim Jong-nam.

O ministro da Saúde, Subramaniam Sathasivam, disse aos jornalistas que não esteve presente no encontro, mas adiantou que terá de ser tomada uma decisão acerca do que fazer com o corpo, uma vez que não apareceu qualquer parente próximo para identificar formalmente a vítima do ataque do passado dia 13.

A Coreia do Norte diz que o morto é um cidadão norte-coreano, mas nega que seja o meio-irmão do líder Kim Jong-un. Logo a seguir ao assassinato ter sido tornado público, o regime exigiu que o corpo lhe fosse entregue e tentou evitar a realização da autópsia.

A morte de Kim Jong-nam desencadeou o pior conflito diplomático entre Kuala Lumpur e Pyongyang de que há registo, com a Malásia a insistir que o corpo do homem assassinado no aeroporto internacional da capital só será entregue a um familiar próximo após exame de ADN. As agências internacionais de notícias ainda chegaram a dizer que o filho mais velho de Kim Jong-nam, Kim Han-sol, estava a partir de Macau para a Malásia, para resgatar o corpo do pai. Até à data, tal não se verificou.

2 Mar 2017

China | Novas medidas contra a Coreia do Norte a caminho

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China afirmou ontem que continuará a adoptar medidas contra a Coreia do Norte, visando aplicar integralmente a resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra o programa nuclear e de mísseis balísticos de Pyongyang.

Pequim suspendeu no fim-de-semana passado as importações de carvão a partir do país vizinho.

Em conferência de imprensa, o ministro do Comércio chinês, Gao Hucheng, disse que a China “é séria” no cumprimento das suas obrigações internacionais, não tendo, porém, detalhado quais serão as novas medidas contra a Coreia do Norte.

Pequim, o mais importante aliado de Pyongyang, cortou com um dos poucos canais que o regime de Kim Jong-un tem para obter divisas externas, ao proibir as compras de carvão do país, a partir de domingo passado e até ao final deste ano.

Esta decisão inscreve-se na aplicação da resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em Novembro passado, segundo afirmaram num comunicado conjunto o Ministério do Comércio e a Administração Geral de Alfândegas da China.

Em Dezembro passado, as importações chinesas de carvão da Coreia do Norte aumentaram, num fenómeno que Gao justificou com os “ciclos normais” de adaptação das políticas internacionais à legislação local.

Sem margem para dúvidas

O ministro insistiu que a seriedade da China na implementação da resolução do Conselho de Segurança “é inquestionável”.

A decisão surge depois do assassínio de Kim Jong-nam, irmão do líder da Coreia do Norte, na Malásia, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês recusou qualquer relação entre ambos os acontecimentos.

Até há pouco tempo, as relações entre Pequim e Pyongyang eram descritas como sendo de “unha com carne”.

A insistência de Pyongyang num controverso programa nuclear levou, porém, Pequim a alinhar com a Coreia do Sul, Japão, Estados Unidos da América e Rússia, condenando os testes com explosões atómicas do país vizinho.

As duas nações mantêm, no entanto, laços diplomáticos e comerciais.

22 Fev 2017

Kim Jong-nam | Malásia e Coreia do Norte às avessas. Televisão divulga filme do assassinato

[vc_row][vc_column][vc_column_text css=”.vc_custom_1487807239079{margin-bottom: 0px !important;}”]

A Coreia do Norte não assume que o homem que morreu na semana passada em Kuala Lumpur é o filho mais velho do Querido Líder. E acusou, mais uma vez, a Malásia de estar a conduzir investigações com pouca credibilidade. A polícia procura quatro norte-coreanos. O filho de Kim Jong-nam já terá partido de Macau para a capital malaia

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m conjunto de imagens dos circuitos de segurança do Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur foi ontem tornado público, mostrando o ataque de que Kim Jong-nam foi alvo. O vídeo, divulgado por uma estação de televisão do Japão, acompanha o meio-irmão do líder da Coreia do Norte a entrar no terminal e a ser abordado por uma mulher, que lhe tapa o rosto.

Com bastante nitidez, vê-se também o pedido de ajuda de Kim Jong-nam a funcionários do aeroporto, que o levam aos seguranças. Depois, o primogénito de Kim Jong-il dirige-se à clínica do aeroporto, sendo que o vídeo termina já com uma imagem da vítima numa maca. Recorde-se que morreu a caminho do hospital.

As imagens, que já correram mundo, foram divulgadas numa altura em que aumenta o conflito diplomático entre a Malásia e a Coreia do Norte, na sequência de divergências sobre o modo como deve ser tratado o corpo e conduzidas as investigações.

A Malásia chamou o seu representante diplomático em Pyongyang, tendo ainda convocado o embaixador norte-coreano em Kuala Lumpur, para obter explicações sobre as acusações de que as autoridades do país estavam em conluio com “forças estrangeiras” na investigação do homicídio.

Ir ao engano

Entretanto, a polícia está à procura de quatro norte-coreanos que saíram da Malásia no dia do ataque, tendo já detido um suspeito da Coreia do Norte, uma mulher vietnamita, outra da Indonésia e um homem de nacionalidade malaia. Acredita-se que o detido de nacionalidade norte-coreana não desempenhou um papel de relevo no ataque.

Pelo menos três dos suspeitos norte-coreanos procurados apanharam um voo da Emirates com destino ao Dubai, de acordo com informações recolhidas pela Reuters junto dos serviços de migração de Kuala Lumpur. Já o jornal local Star diz que os quatro homens regressaram a Pyongyang – a mesma versão é contada pelo Channel NewsAsia (CNA), que cita uma fonte da polícia malaia.

“Os quatro homens planearam e executaram o homicídio. Foram eles que recrutaram as duas mulheres”, explicou a fonte. Os suspeitos entraram na Malásia entre 31 de Janeiro e 7 de Fevereiro.

A mãe da mulher indonésia detida disse à Reuters que a filha, Siti Aishah, foi enganada, pois achava que tinha sido contratada para um anúncio ou programa de televisão. A imprensa malaia diz que a suspeita vietnamita, Doan Thi Huong, contou à polícia que achou que estava a participar numa brincadeira inofensiva.

Filho a caminho

Mal a notícia da morte de Kim Jong-nam foi conhecida, tanto os Estados Unidos, como a Coreia do Sul acusaram Pyongyang do homicídio. A morte do filho mais velho do Querido Líder – que desde 2001 se encontrava a viver fora do país – não mereceu um comentário imediato da Coreia do Norte. Foi preciso esperar e as palavras do regime mais isolado do mundo foram em tom acusatório.

A determinação da Malásia em levar por diante a autópsia e a recusa em entregar de imediato o corpo a Pyongyang levaram o embaixador norte-coreano a questionar os motivos da postura das autoridades malaias, num comentário raro feito à imprensa na passada sexta-feira.

Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Malásia rejeitou as acusações e anunciou o regresso do embaixador malaio na Coreia do Norte “para consultas”.

Quanto ao corpo, será entregue ao parente mais próximo – mas ainda ninguém da família o pediu formalmente. As agências internacionais de notícias diziam que o filho mais velho de Kim Jong-nam, Kim Han-sol, era esperado ontem na Malásia. Apanhou um voo para Kuala Lumpur a partir de Macau.

O Ministério da Saúde acredita que amanhã poderão ser divulgados os resultados da autópsia.

Sul em alerta

A morte de Kim Jong-nam fez com que a Coreia do Sul tivesse ontem uma reunião do Conselho Nacional de Segurança. O Presidente sul-coreano em funções disse no encontro ter “a certeza quase absoluta” de que Pyongyang – ou seja, Kim jong-un – é o culpado do homicídio.

Hwang Kyo-ahn deixou ainda um apelo ao reforço da segurança do país perante possíveis “provocações” da Coreia do Norte, tendo pedido a altos funcionários e militares que estejam alerta para a possibilidade de o país vizinho levar a cabo actos terroristas contra funcionários do Governo ou contra a Coreia do Sul “para desviar a atenção internacional” do crime.

“Se juntarmos o anúncio das autoridades malaias e várias informações e circunstâncias, parece que o regime norte-coreano está por detrás do incidente”, disse Hwang, que apoiou assim a posição do Ministério da Unificação de Seul que, no domingo passado, acusou Pyongyang ser responsável pelo crime.

O Presidente em funções classificou o homicídio de Kim Jong-nam como um “acto criminoso desumano inaceitável” e pediu aos funcionários que procurem cooperação internacional para que a Coreia do Norte pague pelo “acto de terrorismo”. “Isto demonstra claramente a natureza temerária e brutal do regime norte-coreano, que usa qualquer meio para manter o poder”, acrescentou Hwang Kyo-ahn.

Menos amigos

O modo agreste como a Coreia do Norte tem estado a lidar com Kuala Lumpur, na sequência da morte de Kim Jong-nam, faz com que o regime de Pyongyang possa ficar ainda mais isolado em termos internacionais.

A Malásia encontra-se entre um número cada vez menor de aliados do tempo da Guerra Fria com quem Pyongyang tem conseguido manter laços. De acordo com informações do Governo da Coreia do Sul, o regime de Kim Jong-un tem 53 embaixadas e missões diplomáticas no estrangeiro.

Especula-se também que a paciência da China com a Coreia do Norte possa estar a ser testada. Depois de ter deixado a Coreia do Norte, o filho mais velho de Kim Jong-il passou a viver entre Macau e Pequim, sendo que viajava precisamente para o território quando foi alvo do ataque fatal.

No sábado passado, Pequim anunciou a suspensão, até ao final do ano, de todas as importações de carvão da Coreia do Norte – os analistas dizem que se trata de um duro golpe para a já frágil economia do regime. O gesto tem sido lido como uma forma de bater o pé a Kim Jong-un, depois de Pyongyang ter vindo a comportar-se de forma cada vez mais agressiva, com ensaios nucleares que causam preocupação ao nível internacional.

Na edição desta segunda-feira, o Global Times, jornal do Partido Comunista Chinês, justificava a suspensão das importações de carvão com a determinação de Pequim em trabalhar em conjunto com a comunidade internacional para travar os esquemas nucleares norte-coreanos, mas não deu pistas sobre uma eventual mudança radical de atitude perante o vizinho.[/vc_column_text][vc_column_text css=”.vc_custom_1487807395168{margin-top: -20px !important;margin-bottom: 14px !important;}”]

O filme

[/vc_column_text][vc_cta h2=”Síndroma da negação” h2_font_container=”font_size:44px” h2_google_fonts=”font_family:Oswald%3A300%2Cregular%2C700|font_style:300%20light%20regular%3A300%3Anormal” h2_css_animation=”none” shape=”square” style=”flat” color=”chino” use_custom_fonts_h2=”true” css=”.vc_custom_1487807037533{margin-bottom: 0px !important;border-top-width: 1px !important;border-right-width: 1px !important;border-bottom-width: 1px !important;border-left-width: 1px !important;padding-top: 20px !important;padding-right: 20px !important;padding-bottom: 20px !important;padding-left: 30px !important;border-radius: 1px !important;}”]O enviado da Coreia do Norte na Malásia afirmou ontem que não se pode confiar na investigação da polícia sobre o homicídio da semana passada no principal aeroporto de Kuala Lumpur. O diplomata de Pyongyang insiste ainda que a vítima não é Kim Jong-nam, o meio-irmão do líder Kim Jong-un. Em declarações aos jornalistas, depois de um encontro com as autoridades malaias, Kang Chol afirmou que a embaixada identificou sempre a vítima pelo nome Kim Chol, com base no passaporte na posse do homem que morreu na segunda-feira da semana passada. “Já passaram sete dias desde o incidente, mas não há uma prova clara sobre a causa da morte em neste momento, não podemos confiar na investigação da polícia da Malásia”, vincou o embaixador. “A embaixada já o identificou como sendo Kim Chol, um cidadão norte-coreano, como vem referido nos seus documentos de viagem”, reiterou. Kim Chol era um nome frequentes vezes utilizado por Kim Jong-nam – era, de resto, a identidade que usava, por exemplo, na sua conta de Facebook.[/vc_cta][/vc_column][/vc_row]

21 Fev 2017

Pequim suspende importações de carvão da Coreia do Norte

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China vai deixar de importar carvão da Coreia do Norte até final de 2017 – anunciou este sábado Pequim, após um novo teste de um míssil por Pyongyang e de um apelo dos EUA para a aplicação de sanções.

“A China vai cessar momentaneamente as importações de carvão proveniente da Coreia do Norte até ao final do ano”, uma interrupção que será aplicada a partir de domingo e será válida até 31 de Dezembro, indicou o Ministério chinês do Comércio.

Esta suspensão “inclui cargas em relação às quais os procedimentos aduaneiros não estejam concluídos”, precisou o comunicado, citado pela agência France Press.

A decisão de Pequim é tornada pública menos de uma semana depois de um novo teste de um míssil balístico por Pyongyang, o Pukguksong-2, que percorreu no passado dia 19 cerca de 500 quilómetros, antes de cair no mar do Japão, o suscitou fortes reacções tanto na Ásia com em Washington.

O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, que se encontrou na passada sexta-feira pela primeira vez com o seu homólogo chinês, Wang Li, apelou a Pequim para usar “todos os meios” no sentido de “moderar” os ímpetos turbulentos do seu vizinho e aliado tradicional.

Em resposta, o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros apelou para o restabelecimento das negociações a seis (as duas Coreias, Japão, Rússia, China e Estados Unidos), considerando imperioso ultrapassar-se o ciclo viciosos dos ensaios nucleares e das sanções.

A interrupção das importações “mete em execução a resolução 2321 do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, explicou sábado o Governo chinês num comunicado breve, no que parece ser uma decisão de Pequim assumir a política do ‘pau e da cenoura’.

A resolução do Conselho de Segurança, adoptada no passado dia 30 de Novembro, resulta no apertar da rede das sanções contra a Coreia do Norte, em resposta aos avanços no seu programa nuclear com objectivos militares.

A resolução estabelece, nomeadamente, um ‘plafond’ das vendas norte-coreanas de carvão nos 400,9 milhões de dólares, ou 7,5 milhões de toneladas, por ano, a partir de 1 de Janeiro de 2017, o que representa uma redução de 62% em relação a 2015.

Pequim suspendeu as importações em Dezembro de carvão norte-coreano por três semanas, mas retomou-as no início de Janeiro.

Parceiro de relevo

A China é o único parceiro económico relevante de Pyongyang praticamente o único interessado no carvão norte-coreano.

Ao abrigo do anterior regime de sanções, o Conselho de Segurança autorizava a compra de carvão e de minerais de ferro à Coreia do Norte, desde que os ganhos comerciais não fossem utilizados por Pyongyang para financiar o seu programa nuclear ou de armamento.

Esta possibilidade permitiu a Pequim, sob o argumento da sua boa-fé, aumentar fortemente as suas importações de carvão, que ascenderam a 24,8 milhões de toneladas no período de Março a Outubro de 2016, três vezes mais do que o ‘plafond’, entretanto, imposto pelas Nações Unidas.

20 Fev 2017

Kim Jong-nam | Activista acredita que “questão de sangue” esteve na origem do homicídio

Ninguém duvida que se tratou de um homicídio. Washington e Seul acreditam que Kim Jong-nam morreu a mando de Pyongyang. Mas por que sentiu Kim Jong-un necessidade de matar o meio-irmão? Há um investigador japonês que tem uma teoria: por uma questão de sangue, o líder da Coreia do Norte não tem direito ao poder. É a verdadeira guerra dos tronos

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]aiu do país em 2001 e, segundo contou há uns anos a um órgão de comunicação social japonês, já nos últimos tempos em que viveu em Pyongyang se sentia afastado do pai. O primogénito de Kim Jong-il, assassinado esta semana num aeroporto de Kuala Lumpur, era defensor da reforma e abertura do país, um pouco aos moldes do que aconteceu na China de Deng Xiaoping. Por isso mesmo, era contra a lógica da sucessão no poder da Coreia do Norte.

Kim Jong-nam não parecia ter aspirações políticas – pelo menos foi essa a sensação que deixou nas poucas entrevistas que concedeu e junto dos amigos que fez em Macau, terra onde passou longos períodos, até começar a sentir que teria a cabeça a prémio. Foi nessa altura que passou a viajar mais, sendo que França era um dos destinos predilectos do homem que estudou no Liceu Francês de Moscovo. Foi nessa altura também que a actividade no Facebook, com o nome Kim Chol, deixou de ser tão regular – mas é possível ver ainda fotografias junto a vários casinos de Macau.

A residência no território, casa também da mulher e dos dois filhos, tem um significado claro para os analistas, reforçado pelas viagens frequentes a Pequim: a China protegia o filho mais velho do Querido Líder, apesar de as relações com o pai terem deixado de ser as melhores. Era Kim Jong-nam, de certa maneira, um trunfo para Pequim, numa altura em que Pyongyang lhe escapa, por ser controlada por um líder imprevisível? Teria Kim Jong-nam um papel importante a desempenhar numa eventual abertura do país ao mundo? 

São perguntas que ficarão, por certo, sem resposta. Assim como deverá ficar sem justificação a verdadeira razão do homicídio do meio-irmão de Kim Jong-un. As agências internacionais de notícias davam ontem conta de que a Malásia vai entregar o corpo à Coreia do Norte, a pedido de Pyongyang, depois de concluídos os procedimentos em curso – à hora de fecho desta edição, ainda não tinha sido divulgado o resultado da autópsia. Desconhece-se que tipo de funeral pretende Kim Jong-un organizar para o meio-irmão que não terá conhecido em vida.

Uma linha de sangue

O investigador Ken Kato não tem dúvidas sobre quem mandou matar Kim Jong-nam. “Ao assassinar o irmão mais velho, Kim Jong-un atravessou mais uma linha vermelha e o regime é mais perigoso do que nunca”, comentou ao HM. O activista japonês – que se dedica sobretudo à luta pelos direitos humanos na Coreia do Norte – faz um enquadramento familiar do clã Kim para sustentar a afirmação.

“O pai de Kim Jong-un, o ditador Kim Jong-il, também teve um irmão que foi seu adversário, Kim Pyong-il. No entanto, Kim Jong-il não o mandou matar ou prender”, observa o director da Human Rights in Asia. De facto, Kim Pyong-il foi embaixador da Coreia do Norte durante várias décadas. “Até mesmo Kim Jong-il se sentia incapaz de matar um filho de Kim Il-sung [o fundador da Coreia do Norte]. Mas Kim Jong-un matou um filho de Kim Jong-il e um neto de Kim Il-sung”, sublinha. “Isto tem um enorme significado.”

Ken Kato aponta uma razão concreta para que o que aconteceu no aeroporto da Malásia, admitindo que haverá outros motivos para o homicídio. Trata-se de uma “fraqueza” de Kim Jong-un, uma “questão de sangue” que o líder da Coreia do Norte jamais poderá resolver, porque se trata de uma traição imperdoável aos olhos da cultura e da lei norte-coreanas.

“Tenho provas documentais de que o avô materno de Kim Jong-un trabalhou para o Exército Imperial Japonês, o que faz dele ‘um traidor’ na Coreia do Norte”, declara o activista. Ora, o avô materno do jovem líder nada era a Kim Jong-nam. Já o fundador da Coreia do Norte era avô dos dois. E foi ele que determinou, em 1972, que “faccionários ou inimigos da classe, independentemente de quem sejam, a sua semente deve ser eliminada nas três gerações seguintes”. Ou seja, pela lógica política de Pyongyang, “Kim Jong-un deveria ser enviado para um campo de detenção e morrer lá”, uma vez que teria de pagar pelos pecados do avô materno.

A filha que valeu a vida

“Para os estrangeiros, isto pode não parecer uma questão importante”, continua o investigador, que viu a descoberta de há cinco anos ser publicada pela imprensa internacional. “Mas, para os norte-coreanos, trata-se de uma questão de legitimidade extremamente importante.”

De acordo com a documentação encontrada por Ken Kato, o avô materno de Kim Jong-un, Ko Gyon-tek, trabalhou numa fábrica em Osaka, no Japão, onde eram feitos os uniformes para o exército que queria derrubar Kim Il-sung.

O facto de Ko Gyon-tek ter colaborado com a nação que ocupou a Península da Coreia teria valido o seu encarceramento, bem como o de toda a sua família. O avô de Kim Jong-un conseguiu escapar a semelhante destino, quando viajou para o Norte no início dos anos 1960, porque a filha caiu nas graças de Kim Jong-il.

Os documentos que sustentam a teoria de Ken Kato foram encontrados nos arquivos militares do Japão e na biblioteca do parlamento nipónico. “A Coreia do Norte não desmentiu a minha descoberta”, salienta. O activista acredita que Kim Jong-un desconheceria o passado do avô, que teria feito dele um elemento da classe mais baixa da sociedade norte-coreana.

Nascido na ilha de Jeju, território que hoje pertence à Coreia do Sul, Ko Gyon-tek mudou-se para o Japão em 1929, numa altura em que muitos coreanos procuravam uma vida melhor no país vizinho. A filha, Ko Young-hee [a mãe de Kim Jong-un], nasceu em Osaka em 1953, mas a família foi obrigada a mudar-se para a Coreia do Norte em 1961, depois de Ko Gyon-tek ter sido detido e deportado pela polícia japonesa, acusado de tráfico humano – isto de acordo com as investigações feitas pelo académico Lee Yong Hwa, professor da Universidade Kansai.

O avô materno do líder de Pyongyang conseguiu resolver as questões do passado e encontrou trabalho numa fábrica de produtos químicos, indicam os arquivos que Ken Kato encontrou. Já a filha começou a dançar no grupo artístico Mansudae. Foi precisamente como bailarina que despertou a atenção de Kim Jong-il, com quem viria a casar. A mãe de Kim Jong-nam não tinha contraído matrimónio com aquele que viria a ser o Querido Líder. Doente, morreu no exílio em Moscovo.

“Há um sistema de classificação muito rígido na Coreia do Norte, baseado na linhagem”, reitera o activista japonês. “De acordo com a filosofia norte-coreana, Kim Jong-un não reúne condições para ser líder porque a legitimidade de todo o regime tem a linhagem como fundamento.”

Ken Kato contou ainda ao HM que, há já alguns anos, enviou uma carta ao filho de Kim Jong-nam, Kim Han-sol, com cópias das provas documentais que reuniu sobre a família materna do tio.

Agora, numa altura em que teme como nunca pelos direitos humanos em solo norte-coreano, o activista tem apenas uma esperança. “Espero que possa agir pelo pai e pelas pessoas da Coreia do Norte, e atacar ‘a fraqueza’ de Kim Jong-un”, diz. É tudo uma questão de sangue nesta guerra dos tronos que acontece aqui bem perto.


E vão três

A polícia da Malásia deteve ontem um terceiro suspeito, durante a caça ao homem que está a ser feita por causa do homicídio de Kim Jong-nam. De acordo com a Agência Reuters, o detido mais recente é namorado de uma mulher indonésia que também ontem, ao princípio do dia, tinha sido levada para a esquadra.

A nacionalidade do homem não foi revelada. “Ele foi detido para facilitar as investigações, uma vez que mantém uma relação com a segunda suspeita”, explicou o chefe da polícia do Estado de Selangor.

A mulher indonésia vai ficar, para já, detida durante sete dias, juntamente com outra suspeita, que tinha um documento de viagem do Vietname e foi apanhada quando tentava sair do país, no terminal das companhias aéreas de baixo custo do Aeroporto de Kuala Lumpur.

Ainda em relação à suspeita de nacionalidade indonésia, sabe-se apenas que estava sozinha quando foi detida. A diplomacia de Jacarta pediu já para ter acesso à mulher.

Apesar de o regime da Coreia do Norte ter, no passado, ordenado execuções fora do país, as fontes das agências internacionais têm dificuldade em encontrar uma razão que ligue Pyongyang à morte de Kim Jong-nam.

Até à hora de fecho desta edição, a Coreia do Norte não tinha feito qualquer referência pública à morte do primogénito do Querido Líder, sendo que a embaixada de Pyongyang na Malásia não tem estado a atender o telefone.

A Reuters cita uma fonte não identificada de Pequim, com relações tanto aos governos da Coreia do Norte como da China, que garantiu que Kim Jong-un não esteve envolvido no homicídio, até porque não havia motivo para tal. “Kim Jong-nam não tem nada que ver com a Coreia do Norte. Não há razão para a Coreia do Norte o mandar matar”, frisou a fonte da agência de notícias, que adiantou que Pyongyang também está a investigar o sucedido.

A morte do filho mais velho de Kim Jong-il passou igualmente ao lado da imprensa estatal da Coreia do Norte. Ontem, o exército sul-coreano anunciou que o país iria recorrer aos altifalantes instalados na fronteira com o Norte para informar a população acerca do que aconteceu. Os militares estavam apenas à espera da confirmação oficial, o que aconteceu ao princípio da noite: a Malásia anunciou que o homem que morreu na segunda-feira em Kuala Lumpur era Kim Jong-nam.

17 Fev 2017

Macau, o “exílio dourado” para onde Kim Jong-nam regressava quando foi morto

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau foi para Kim Jong-nam, irmão do líder da Coreia do Norte, assassinado na segunda-feira, uma “exílio dourado”, onde passou parte do seu tempo e onde os dois filhos frequentaram a escola e até os escuteiros lusófonos.

“Dizer que estava à espera disto seria claramente um exagero, mas ele era de facto uma pessoa que estava numa situação de grande risco”, disse à Lusa Ricardo Pinto, jornalista em Macau e que, ao longo dos anos, escreveu e acompanhou a passagem do filho mais velho do ‘Querido Líder’ Kim Jong-il.

O meio-irmão do actual líder Kim Jong-un morreu no aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia, envenenado por duas mulheres. O destino do voo que nunca chegou a apanhar era Macau, uma cidade onde pelo menos desde 2001 viveu e passou temporadas e onde os seus filhos e mulher moraram.

Kim Jong-nam chegou a ser apontado como o sucessor do pai, mas tudo mudou depois de ser apanhado a entrar no Japão, em 2001, com um passaporte falso da República Dominicana.

“Ao que parece, essa tentativa de entrada no Japão não foi dada a conhecer a Kim Jong-il, o que o terá feito cair em desgraça. Para grande parte dos observadores, a sua presença em Macau passou a ser uma espécie de exílio dourado”, descreve o dono do jornal Ponto Final.

Poucas certezas

Como quase tudo o que se sabe sobre a Coreia do Norte, nada é definitivo e os verbos são conjugados no condicional: terá sido desde 2001 que Kim Jong-nam passou a viver em Macau de forma permanente, situação que terá mudado após ter sido alvo, anos depois, de uma tentativa de homicídio na cidade, o que terá feito com que passasse a dividir o seu tempo em Pequim; a mulher e os filhos terão, no entanto, permanecido em Macau até irem para a universidade.

“Grande parte da informação que chegava era veiculada pelos serviços de inteligência [e transmitida pelos media sul-coreanos]. Ao longo de todos estes anos, sempre que noticiávamos sobre a presença do Kim Jong-nam aqui em Macau isso não nos ajudava muito a ter absoluta certeza das informações que cá chegavam, porque vinham muito pouco associadas a fontes”, explica.

Segundo Ricardo Pinto, entendia-se que Kim veio para Macau como “uma espécie de representante do regime numa zona exterior, responsável por alguns negócios que o regime teria a fazer aqui”.

No entanto, “pelo que sempre foi noticiado, o seu estilo de vida dava conta que, mais do que um homem de negócios, era um ‘bon vivant’, uma pessoa que estava mais preocupada em viver bem a vida, fazendo aqui uma vida de constante permanência em bons hotéis, bons restaurantes, de jogo”.

Apesar de Kim ter frisado o seu desinteresse pela política do seu país, seria visto “por algumas fontes ligadas a estas questões”, incluindo o Governo chinês, como um potencial líder de “mentalidade mais aberta” e reformista.

Isso fez com que, segundo Ricardo Pinto, se mantivesse sempre como “um alvo” e o seu homicídio parece confirmar que o Governo norte-coreano quis “eliminar de uma vez por todas a possibilidade de ser utilizado como futuro dirigente do país”.

O jornalista nunca conheceu pessoalmente Kim Jong-nam, mas, num artigo em 2009, descreveu, com o pormenor possível e recorrendo sempre a fontes que pediram anonimato, as rotinas dos dois filhos adolescentes, que frequentavam inclusive os escuteiros lusófonos.

Ricardo Pinto aponta para uma situação “surreal”, em que os “netos de Kim Jong-il frequentavam os escuteiros lusófonos, cantavam cânticos alentejanos”.

“Só não estiveram nunca no jardim do consulado português no 10 de Junho a cantar o hino nacional e a olhar para a bandeira a erguer-se no mastro pela simples circunstância de não ser feriado em Macau e a escola internacional que frequentavam ter aulas. Participavam em todas as cerimónias dos escuteiros lusófonos, desde os passeios, idas à missa. Não eram sequer católicos, mas havia essa preocupação de os pôr em contacto com outros miúdos da mesma idade”, resume.

“Por favor, poupa-me e à minha família”
Kim Jong-Nam tinha pedido ao líder norte-coreano para lhe poupar a vida

Kim Jong-Nam, implorou ao líder norte-coreano para lhe poupar a sua vida e a da sua família após uma tentativa de assassínio em 2012, afirmaram ontem deputados sul-coreanos aos jornalistas, após uma reunião à porta fechada com o chefe do Serviço Nacional de Inteligência (NIS, na sigla em inglês), Lee Byung-Ho. Agentes da Coreia do Norte tentaram assassinar Kim Jong-Nam em 2012, incidente que levou depois o meio-irmão de Kim Jong-Un a implorar ao líder norte-coreano que poupasse a sua vida e a da sua família.

“Segundo [Lee Byung-Ho], ele foi vítima de uma tentativa de assassínio em 2012 e Kim Jong-Nam enviou em Abril desse ano uma carta a Kim Jong-Un dizendo: ‘Por favor, poupa-me e à minha família’”, relatou Kim Byung-Kee, membro de comissão parlamentar sobre os serviços de informação, aos jornalistas.

A família de Kim Jong-Nam – a sua actual e anterior mulher e os seus três filhos – vive actualmente em Pequim e em Macau, segundo Lee Cheol-Woo, um outro membro da mesma comissão parlamentar sul-coreana. “Eles estão sob a protecção das autoridades chinesas”, afirmou, confirmando que Kim Jong-Nam entrou na Malásia no dia 6, ou seja uma semana antes de ser morto.

Entretanto, o corpo de Kim Jong-Nam foi transferido numa ambulância, escoltada por diversos veículos da polícia, até ao Hospital Geral de Kuala Lumpur, para a realização da autópsia, de modo a determinar-se a causa da morte e a confirmar a identidade, segundo o jornal The Star.

Pelo menos três carros com matrícula diplomática e pertencentes à representação da Coreia do norte no país encontram-se estacionados no recinto hospitalar.

Alertas do Sul

Ontem o primeiro-ministro e actualmente Presidente em funções da Coreia do Sul, Hwang Kyo-Ahn, declarou que o assassínio de Kim Jong-Nam por agentes ao serviço da Coreia do Norte, se confirmado, ilustra “a brutalidade do regime” de Pyongyang.

“A confirmar-se que o assassínio foi levado a cabo por parte do regime norte-coreano tratar-se-ia de um flagrante exemplo da sua natureza brutal e desumana”, afirmou Hwang Kyo-Ahn, durante a referida reunião, convocada ontem de urgência pelo Executivo para analisar a situação, segundo a agência noticiosa Yonhap.

Hwang Kyo-Ahn sublinhou a “grande importância” de se esclarecer o caso, assinalando que Seul se encontra a “analisar de perto os movimentos da Coreia do Norte” para determinar o seu eventual impacto na segurança da Coreia do Sul.

16 Fev 2017

Óbito | Kim Jong-nam, irmão do líder norte-coreano, assassinado na Malásia

Era esperado ontem em Macau para um jantar com amigos. Kim Jong-nam, o filho mais velho do Querido Líder, morreu a caminho do hospital, depois de ter sido encontrado inconsciente no Aeroporto de Kuala Lumpur. Por cá, quem o conhecia ficou em choque

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hegou a viver em Coloane, com os dois filhos e a mulher, numa altura em que dividia o tempo entre Pequim e Macau. Nos últimos anos, já não passava temporadas tão longas no território como nos primeiros anos, mas por cá tinha ainda familiares e mantinha uma casa. Também tinha amigos, pelo que vinha, de quando em vez, até à cidade que o acolheu depois de ter deixado a Coreia do Norte. Era esperado para jantar por alguns amigos de Macau, que receberam a notícia da morte “em estado de choque”, segundo apurou o HM.

Kim Jong-nam, meio-irmão do líder norte-coreano Kim Jong-un, morreu na Malásia na passada segunda-feira. A notícia só foi tornada pública ontem ao princípio da noite, através da Yonhap, a agência de notícias oficial da Coreia do Sul, que citava fonte do Governo de Seul.

A TV Chosun, uma televisão por cabo sul-coreana, avançou o motivo da morte do filho primogénito de Kim Jong-il: Kim Jong-nam foi envenenado no aeroporto de Kuala Lumpur por duas mulheres que, acredita-se, são operacionais da Coreia do Norte. As suspeitas encontram-se em paradeiro desconhecido, depois de terem apanhado um táxi. A televisão citava também fontes governamentais da Coreia do Sul.

Na Malásia, o comandante da polícia responsável pelo Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, Abdul Aziz Ali, explicou à Agência France-Presse que um homem coreano na casa dos 40 foi encontrado doente no aeroporto, na segunda-feira. Foi transportado para o hospital, tendo morrido no caminho.

“Não temos quaisquer outros detalhes acerca deste homem coreano. Não sabemos a sua identidade”, disse Abdul Aziz Ali, não obstante o facto de o indivíduo em causa se encontrar num aeroporto, o que pressupõe estar na posse de documentos de viagem.

Ao Channel NewsAsia, a polícia avançou que foi pedida uma autópsia. Uma fonte das autoridades policiais acrescentou ao canal que o incidente aconteceu no HKIA2, o novo aeroporto da capital malaia.

Uma fonte do Governo de Kuala Lumpur garantiu que a polícia está a levar a cabo investigações para “encontrar impressões digitais”.

“Amigo do seu amigo”

Kim Jong-nam, o filho mais velho do Querido Líder, nasceu em Maio de 1972, fruto da relação que Kim Jong-il manteve com a actriz Sung Hae-rim, natural da Coreia do Sul. O homem que comandou os destinos da Coreia do Norte entre 1994 e 2011 nunca chegou a casar com a mãe do seu primogénito, que acabaria por morrer em Moscovo.

Em tempos considerado o herdeiro de Kim Jong-il, caiu em desgraça aos olhos do pai em 2001, depois de ter tentado entrar no Japão com um passaporte falso. Pretendia visitar a Disneylândia. Desde então, viveu no exílio, sendo que as agências de notícias internacionais indicam que passou grande parte do tempo em Macau.

Após a morte de Kim Jong-il, em Dezembro de 2001, foi o filho mais novo – Kim Jong-un – que assumiu o poder em Pyongyang. O irmão mais velho, conhecido por não concordar com o modo como era gerido o regime mais isolado do mundo, não escondia, nas entrevistas que foi dando, que se opunha à transmissão dinástica do poder.

A confirmar-se o homicídio, Kim Jong-nam terá sido a figura de maior relevo da Coreia do Norte a ser assassinada a mando do actual líder, depois de o jovem Kim Jong-un ter ordenado a execução do tio, o outrora influente Jang Song Thaek, em Dezembro de 2013. Kim Jong-nam e Jang Song Thaek, que era dado como mentor do actual líder, mantiveram, em tempos, uma relação de proximidade.

Houve alturas em que Kim Jong-nam era avistado em Macau. Apesar de procurar ter uma presença discreta, tinha alguma vida social. Ao HM, foi descrito como sendo “um bom vivant, amigo do seu amigo, que deixa saudades”. Era apreciador de vinho português e francês. Os filhos, Kim Han-sol e Kim Sol-hei, chegaram a fazer parte dos escuteiros lusófonos de Macau.

A família deixou de ser vista em público depois de vários artigos publicados, sobretudo pela imprensa japonesa, numa altura em que o caso Delta Asia dava muito que falar, por causa das sanções aplicadas ao banco pelos Estados Unidos devido a fundos norte-coreanos. Supõe-se que Kim Jong-nam terá tentado preservar a privacidade dos filhos e da mulher. Quem o conheceu dizia que o filho mais velho de Kim Jong-il só queria viver em paz.

As outras vezes

A notícia da morte deixou em choque os amigos de Macau, mas não é totalmente surpreendente, atendendo às características obscuras do país de onde vem e a outras tentativas que terão sido feitas no passado.

Em Outubro de 2012, o Ministério Público sul-coreano revelou ter detido um norte-coreano acusado de espionagem, que admitiu estar envolvido num esquema que tinha como objectivo a morte de Kim Jong-nam. O homicídio estava a ser planeado na China – o alvo seria apanhado num acidente rodoviário.

Já em 2009, a estação de televisão sul-coreana KBS avançava que as autoridades do Continente tinham abortado um plano para abater o primogénito de Kim Jong-il, na altura ainda no poder, mas já bastante doente. A estratégia estaria a ser elaborada por aliados de Kim Jong-un. A estação de televisão dizia que o plano consistia em assassinar pessoas próximas de Kim Jong-nam, sendo que o principal alvo seria morto em Macau.

A partir do momento em que deixou a Coreia do Norte, o paradeiro do filho mais velho do Querido Líder foi sempre objecto de especulação por parte da imprensa asiática.

Em 2014, foi dado como estando em Jacarta. Terá sido então visto num restaurante italiano acompanhado por um empresário japonês. Dizia-se então que dividia o tempo entre a Indonésia, a Malásia e França.

Em 2012, um jornal de Moscovo contava que Kim Jong-nam estava a enfrentar problemas financeiros depois de ter deixado de receber verbas da Rússia, em retaliação às críticas que fez sobre a política de sucessão da Coreia do Norte.

No ano passado, a Coreia do Sul lançou um aviso sobre possíveis tentativas de homicídio no país levadas a cabo por agentes norte-coreanos. O alerta tinha Kom Jong-nam como principal destinatário.


O defensor da reforma

Deu poucas entrevistas na vida, mas as que concedeu serviram para ilustrar como via a política do país onde nasceu. Em 2009, numa conversa com o jornal japonês Shimbun, Kim Jong-nam garantia não estar interessado em suceder a Kim Jong-il. O pai viria a morrer dois anos depois, mas discutia-se a questão da sucessão, sendo que já era apontado Kim Jong-un, o que acabou por acontecer.

Na altura, o primogénito do Querido Líder defendia que tinha chegado a hora da “abertura e reforma” na Coreia do Norte. E afirmava que a passagem da chefia do Estado norte-coreano através de uma lógica de sucessão hereditária não era o desejo do pai. A decisão de passar o poder para o irmão mais novo tinha sido tomada apenas “para garantir a estabilidade nacional”.

“Acredito que a decisão tenha sido tomada para estabilizar a nação. A instabilidade na Coreia do Norte significaria instabilidade para toda a região envolvente”, afirmou.

Na mesma entrevista, Kim Jong-nam deixava um apelo ao meio-irmão, para que melhorasse a vida da população norte-coreana, pedido que terá caído em saco roto, tanto quanto é possível perceber pelas notícias que chegam de Pyongyang.

Uns anos mais tarde, em 2012, num texto publicado pelo Guardian, o homem que agora morreu na Malásia dizia acreditar que o regime de Pyongyang tinha os dias contados – com ou sem reformas. O diário tinha como ponto de partida um livro escrito por um jornalista do Shimbun, a partir de conversas do autor com Kim Jong-nam.

Na obra, o filho mais velho de Kim Jong-il descrevia a sucessão dinástica como “uma piada para o mundo cá fora” e reiterava a ideia de que esse não era o desejo do seu pai.

15 Fev 2017

Ensaio nuclear norte-coreano condenado pela China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês condenou ontem o lançamento de um míssil de médio alcance realizado pela Coreia do Norte no domingo e apelou a todos os países envolvidos para que assumam as suas responsabilidades.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Geng Shuang condenou a acção de Pyongyang e apelou aos Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão para que se abstenham de realizar acções que possam provocar o aumento das tensões. Guang desvalorizou ainda o apelo de outros países para que a China pressione a Coreia do Norte e apelou para que os países implicados no conflito “assumam a sua responsabilidade” e trabalhem em prol de uma solução “apropriada e pacífica”.

“A China está a fazer esforços para resolver o problema. Os nossos esforços são evidentes”, afirmou Geng, pouco depois de o Governo japonês ter pedido a Pequim que pressione a Coreia do Norte a abandonar os seus programas nuclear e de mísseis.

Todos juntos

Japão, Coreia do Sul e EUA pediram ao Conselho de Segurança da ONU para que se reúna urgentemente, após o novo ensaio de Pyongyang, e Geng disse que a China vai participar na reunião de “forma construtiva”. O porta-voz recusou, no entanto, precisar se Pequim vai apoiar um reforço das sanções impostas à Coreia do Norte.

“Todas as partes envolvidas deveriam manter a calma e actuar com moderação”, disse Gang, afirmando que Pequim sempre promoveu o diálogo, face às “diferenças” entre a Coreia do Norte e os EUA.

O Conselho de Segurança da ONU aprovou no ano passado dois pacotes de sanções contra a Coreia do Norte, depois de o país ter feito dois testes atómicos no espaço de oito meses e ter lançado 20 projécteis balísticos. O último, realizado em 7 de Fevereiro de 2016, é considerado pela comunidade internacional como um ensaio encoberto de um míssil balístico de alcance intercontinental.

A China é o principal aliado internacional de Pyongyang e EUA e Japão consideram que o país poderá fazer mais para travar os avanços do regime de Kim Jong-un.

14 Fev 2017

Nova lista de exportações interditas para a Coreia do Norte

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China proibiu as exportações para a Coreia do Norte de materiais e tecnologias que possam ser utilizados para construir equipamento militar, como componentes para desenvolver mísseis ou sensores, informou ontem o ministério do Comércio.

A lista, composta sobretudo por produtos químicos e ligas raras, inclui também programas informáticos, maquinaria, câmaras de alta velocidade e motores de aviões.

O ministério explicou que as medidas, que entraram em vigor na quarta-feira, estão em linha com as últimas sanções contra o regime de Pyongyang, aprovadas pelas Nações Unidas em Novembro, em resposta a ensaios nucleares.

O jornal oficial Global Times sugere que a aprovação da lista, nas vésperas da passagem do ano novo lunar na China, terá sido feita por nesta altura, no ano passado, a Coreia do Norte ter testado o lançamento de um míssil e, em 2013, ter realizado o seu terceiro teste nuclear.

Recados de Pequim

O anúncio “é também um aviso para o lado norte-coreano não realizar outro teste nuclear durante o festival da Primavera”, disse Jin Qiangyi, especialista na Universidade Yanbian, usando outro termo para o ano novo lunar, citado pelo jornal.

A China é o principal parceiro comercial e fonte de ajuda económica da Coreia do Norte, mas a postura de Pyongyang, que tem desafiado as Nações Unidas com testes com mísseis balísticos e armas atómicas, tem resultado num afastamento entre os dois países comunistas.

No entanto, Pequim teme uma queda do regime, que poderia levar uma enorme vaga de refugiados a entrar no país e ao estabelecimento de tropas dos Estados Unidos e da Coreia do Sul junto às suas fronteiras.

No início do mês, o Presidente norte-americano, Donald Trump, queixou-se que a China “não ajuda com a Coreia do Norte”, apesar de beneficiar dos laços comerciais com os EUA.

O novo secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, acusou mesmo a China de fazer “promessas vazias” na questão da Coreia do Norte e ameaçou impor sanções contra empresas chinesas que violem as resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

“Se a China não cumprir com as sanções aprovadas pelas Nações Unidas, será apropriado que os EUA ponderem acções que forcem ao cumprimento”, afirmou Tillerson, no início deste mês.

1 Fev 2017

Seul | Pyongyang tem plutónio para dez bombas nucleares

 

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte tem plutónio suficiente para fazer dez bombas nucleares, informou ontem a Coreia do Sul, uma semana depois de Kim Jong-Un ter dito que estava perto de testar um míssil balístico intercontinental.

A Coreia do Norte, que realizou cinco testes nucleares e vários lançamentos de mísseis, planeia, alegadamente, uma iniciativa nuclear para 2017 e procura desenvolver um sistema de armamento capaz de atingir os Estados Unidos.

Os analistas dividem-se sobre quão perto Pyongyang está de completar totalmente as suas ambições nucleares, mas concordam que o país fez enormes avanços desde que Kim assumiu o poder após a morte do pai, Kim Jong-Il, em 2011.

O Ministério da Defesa de Seul diz que o Norte tinha cerca de 50 quilos de plutónio para armas no final de 2016, o suficiente para fazer cerca de dez armas, mais que os 40 quilos que tinha há oito anos.

O Norte tem também uma capacidade “considerável” de produzir armas com base em urânio altamente enriquecido, segundo o ‘livro branco’ publicado de dois em dois anos, que não faz, no entanto, estimativas de ‘stock’ de urânio para armas, apontando para os segredos impenetráveis do programa de urânio.

O ‘think-tank’ dos Estados Unidos Institute for Science and International Security estimou em Junho que o arsenal nuclear total do Norte era de mais de 21 bombas, acima das 10 a 16 de 2014.

Contra-ataque

O programa nuclear da Coreia do Norte levou o país a sofrer sanções impostas pela ONU que, em 2016, levaram a perdas equivalentes a 7,4% do valor das suas exportações no ano anterior, segundo um estudo do Instituto de Estratégia para a Segurança Nacional, em Seul, ontem publicado.

A percentagem foi calculada estimando que o regime de Pyongyang perdeu, entre Março (quando o primeiro pacote de sanções de 2016 foi aplicado) e Dezembro, 200 milhões de dólares.

O número foi estimado tendo em conta a limitação das exportações norte-coreanas (principalmente para a China, o seu principal parceiro comercial), e também a queda das remessas dos trabalhadores norte-coreanos no exterior (cerca de 50 mil, principalmente na Rússia e na China).

O estudo sublinha que países como a China e o Kuwait se tornaram mais restritos na autorização de entrada de trabalhadores norte-coreanos após as sanções.

No entanto, foi o “encerramento do complexo industrial intercoreano (de Kaesong) que prejudicou em maior medida a entrada de moedas de peso no Norte”, explica o relatório.

12 Jan 2017

Coreia do Norte | Diplomata desertor fala dos planos nucleares do regime

Alguns dizem que sim, os mais optimistas relativizam a ameaça. Um antigo embaixador norte-coreano, que desertou em Agosto passado, veio esta semana dar conta de que Kim Jong-un quer aproveitar 2017 para afirmar o país como potência nuclear. O poder vai mudar nos Estados Unidos, o que complica o quadro. O próximo ano é para ser seguido com atenção

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi a primeira vez que falou desde que desertou e as notícias deixadas na conferência de imprensa não dão ao mundo motivos de descanso. Thae Yong-ho, antigo diplomata da Coreia do Norte em Londres, anunciou que Pyongyang entende que 2017 é a melhor altura para avançar, de forma significativa, com o programa nuclear. A ideia será aproveitar as mudanças de poder nos Estados Unidos e na Coreia do Sul.

Thae Yong-ho é o funcionário norte-coreano mais importante a desertar em quase duas décadas. Fê-lo em Agosto, motivando alguma especulação acerca da consistência do regime de Kim Jong-un, mas manteve-se em silêncio até agora. Esta semana, decidiu falar à imprensa da Coreia do Sul.

Apesar de ressalvar que, enquanto diplomata, não estava por dentro dos detalhes do programa de armamento nuclear do seu país, Thae Yong-ho deixou algumas ideias sobre o modo como o regime pensa. Pyongyang acredita que a China não vai punir, de forma muito severa, os ensaios nucleares que venham a ser feitos, porque Pequim receia que, com um eventual colapso do Norte, nasça uma Coreia unificada próxima dos Estados Unidos, o que seria um vizinho pouco desejável.

“O regime conhece esta fraqueza da China”, afirmou, citado pelas agências internacionais de notícias. “Enquanto Kim Jong-un estiver no poder, a Coreia do Norte jamais desistirá do armamento nuclear, mesmo que lhe seja oferecido um bilião ou dez biliões de dólares como recompensa.”

A imprensa estrangeira não pôde entrar na conferência de imprensa de duas horas e meia em Seul, destinada apenas a repórteres locais. Mas foi disponibilizada uma transcrição das declarações do antigo diplomata.

Thae Yong-ho garantiu que Kim Jong-un não encara o programa nuclear como uma moeda de troca, mas sim como uma forma de lidar com os Estados Unidos, uma vez que pretende que o país seja reconhecido como uma potência nuclear – estatuto que Washington não quer, de modo algum, atribuir.

Este ano, a Coreia do Norte levou a cabo dois testes nucleares e lançou mais de 20 mísseis balísticos, tendo anunciado que está a desenvolver uma ogiva nuclear com capacidade para atingir os Estados Unidos.

O Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou já que está aberto à ideia de que o Japão e a Coreia do Sul construam armamento nuclear para deter a Coreia do Norte, uma afirmação fortemente contestada pela Administração Obama, que entende que se corre o risco de acabar com décadas de uma política de não-proliferação.

Quanto à Coreia do Sul, tem vivido momentos políticos conturbados. As eleições presidenciais estão marcadas para o próximo ano.

Sem dinheiro e sob controlo

Thae Yong-ho, diplomata de carreira, esteve na Dinamarca e na Suécia antes de ser enviado para a embaixada da Coreia do Norte em Londres, onde esteve quase uma década. Na capital do Reino Unido, foi visto a discursar em eventos da extrema-esquerda, incluindo o Partido Comunista Britânico. Eram discursos apaixonados de defesa do regime de Pyongyang.

Esta semana, falou da frustração que sente um diplomata do regime quando vive no estrangeiro. Contou que os embaixadores da Coreia do Norte ganham entre 900 a 1100 dólares por mês (o melhor salário não chega às nove mil patacas), o que faz com que o pessoal do corpo diplomático esteja em constante desespero e à procura de formas de aumentar o vencimento fora das embaixadas. Acabam por ter de morar dentro das representações diplomáticas, ao “estilo comunitário”, para poderem poupar nas despesas.

No entanto, acrescentou Thae Yong-ho, enquanto viveu fora do país pôde usufruir de um luxo vedado às elites que vivem no Norte: teve acesso à Internet, sem censura, e lia as notícias da Coreia do Sul, incluindo relatos sobre a vida de desertores norte-coreanos.

De acordo com antigo número dois da embaixada em Londres, o regime de Pyongyang é tão paranóico com a possibilidade de a informação que chega de fora poder influenciar a população que mantém os diplomatas que regressam a casa sob vigilância apertada, com receio de que possam contar como se vive no estrangeiro. Ironicamente, isto acontece ao mesmo tempo que aumenta o contrabando de DVD produzidos na China de novelas e filmes sul-coreanos, cada vez mais populares no Norte. Thae Yong-ho confessa ser fã deste tipo de conteúdos.

Aquando da deserção do diplomata, a Coreia do Sul considerou que se tratou de um sinal de que Kim Jong-un estava a perder força junto da elite norte-coreana. Já Pyongyang classificou Thae Yong-ho como “escumalha humana”, acusou-o de ter fugido depois de se ter apropriado de fundos públicos e de ter abusado sexualmente de uma menor.

Thae Yong-ho negou estas acusações e disse que a sua desilusão com Kim Jong-un aumentou depois de vários altos funcionários terem sido executados, entre eles o tio do líder, Jang Song-thaek, numa tentativa de assegurar o poder através da criação de um clima de terror.

A Coreia do Norte obriga os diplomatas a deixarem alguns membros da família no país, precisamente para evitar deserções. Thae Yong-ho assume que teve sorte: conseguiu fugir para o Sul com a mulher e os dois filhos.

Os membros do corpo diplomático são ainda incentivados a vigiarem-se uns aos outros para que não haja traição. Mas existem falhas neste sistema de vigilância, apontou o desertor, que recusou fornecer detalhes sobre a forma como conseguiu escapar ao regime de Pyongyang. “É um mundo feito de pessoas e é impossível controlar alguém constantemente”, disse apenas.

Teoria da provocação

A situação na Coreia do Norte e a liderança de Kim Jong-un – que dura há já cinco anos, desde a morte do pai – são motivo de preocupação, até pela dificuldade em se traçar um retrato concreto do jovem líder e pela relação pouco clara com a China, parceiro económico de longa data que, de certo modo, tem vindo a funcionar como um travão às eventuais aspirações belicistas do regime.

Alguns analistas consideram que a ameaça nuclear é, para já, exagerada. No entanto, admitem que o líder do regime mais isolado do mundo vai aproveitar a mudança de poder nos Estados Unidos para testar Washington. É bem provável que, nos próximos tempos, sejam feitos novos ensaios nucleares, a título de trabalho de casa: mostrar aos norte-coreanos que o regime é poderoso, capaz de enfrentar os inimigos da América.

O impacto de uma provocação deste género não deverá surtir grandes alterações. Até à data, não existem provas concretas de um plano para uma guerra entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos ou os seus aliados ocidentais. Há uma única razão para a ausência de planos bélicos: a Coreia do Norte sabe que iria ser arrasada pelos adversários.

Já Ken Kato, responsável pelo Human Rights in Asia, acredita que a ameaça que a Coreia do Norte representa é “muito real”. O activista – que ainda na semana passada denunciou o financiamento norte-coreano de uma universidade de Tóquio – não hesita em classificar Kim Jong-un como um “perigoso assassino com armas nucleares na mão”.

Em declarações ao HM, Ken Kato destaca que, de acordo com o relatório dos serviços secretos sul-coreanos ao Parlamento do país, entre Janeiro e Setembro deste ano, o líder de Pyongyang ordenou 64 execuções públicas. “É o tipo de pessoa que mata o próprio tio”, vinca. Para o também membro da International Coalition to Stop Crimes Against Humanity in North Korea, o armamento nuclear produzido pela Coreia do Norte “pode ainda ser vendido pelo regime a grupos terroristas do Médio Oriente com os quais Kim mantém relações”.

Uma incógnita chamada Trump

Nesta equação de relações internacionais, há ainda que ter em consideração o que vai fazer a Administração Trump em relação a Pyongyang. De acordo com o Wall Street Journal, Obama avisou a equipa do seu sucessor que a Coreia do Norte deve estar no topo das preocupações da segurança nacional norte-americana.

Ken Kato alinha no pensamento da Casa Branca ao dizer que não tem dúvidas de que “é uma das maiores ameaças que a comunidade internacional está a enfrentar”.

Há peritos que acreditam que, dentro de quatro anos, Kim Jong-un vai ter ao seu dispor a tal ogiva nuclear com capacidade para chegar aos Estados Unidos, bem como submarinos que podem atacar os aliados de Washington. Por isso, para os observadores mais pessimistas, é essencial que Donald Trump consiga controlar o líder norte-coreano.

Enquanto candidato, Trump disse que Kim é um “maníaco” e disse também que é “preciso dar crédito” ao que diz. Na altura, acrescentou estar desejoso de encontrar o líder para comerem “um hambúrguer”.

Atendendo a que ninguém acredita que Kim Jong-un está disposto a abandonar as suas pretensões nucleares – e tendo ainda em consideração que décadas de sanções, ameaças, conversações e negociações resultaram em coisa nenhuma – o próximo Presidente dos Estados Unidos tem um dossiê difícil nas mãos.

A Coreia do Norte é ainda uma questão que serve para medir forças na região Ásia-Pacífico. Um falhanço norte-americano será um sinal de fraqueza enviado à China, numa altura em que Pequim está a desafiar o papel de proeminência dos Estados Unidos na região.

O director da Human Rights in Asia considera que chegou a hora de pesar os interesses que estão envolvidos nesta questão e tomar decisões a bem da paz. “A comunidade internacional deve aperceber-se da ameaça que a Coreia do Norte representa, e pressionar a China e a Rússia para a implementação total das sanções das Nações Unidas”, defende. Ken Kato considera também que “Pequim deve pensar que é do seu interesse travar o programa nuclear, porque é também uma séria ameaça à China”. É a bomba-relógio no quintal.

29 Dez 2016

Proibidas expressões impróprias contra Kim Jong-un na internet

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s autoridades chinesas proibiram o uso na internet e redes sociais da expressão “Gordinho Kim III” para se referir ao líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, embora insistiram nesta quarta-feira que não tenha se tratou de um pedido do governo de Pyongyang.

“Desautorizamos que se fale do líder de qualquer país com expressões insultantes”, afirmou ontem um porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang.

Geng acrescentou que “o governo chinês está comprometido com a criação de um meio ambiente saudável e civilizado para as opiniões” na internet. No entanto, Geng rejeitou a veracidade de informações que consideravam a decisão tomada a pedido do governo norte-coreano.

O uso do citado termo e outros similares para se referir ao líder norte-coreano era muito comum nas redes sociais chinesas.

No entanto, uma busca nestas redes chinesas da expressão “Gordinho Kim III” (que faz referência a sua obesidade e a ser o terceiro membro da família que exerce o cargo de forma ininterrupta desde 1945) já não aparece hoje.

Assim, a rede social Weibo (o equivalente chinês ao Twitter) oferece uma mensagem que diz que “segundo a legislação vigente, não há resultados para a busca”.

17 Nov 2016

Coreia do Norte | EUA condenam lançamento de mísseis

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Estados Unidos condenaram ontem o lançamento de três mísseis balísticos pela Coreia do Norte, considerando-o uma ameaça para os seus aliados e para os voos comerciais, e defenderam uma acção diplomática contra Pyongyang.
“Os lançamentos irresponsáveis da Coreia do Norte são uma ameaça para a aviação civil e para o comércio marítimo na região”, disse uma fonte oficial da administração norte-americana.
O responsável, que falava à margem da cimeira do G20 na China, disse que Washington irá “apoiar uma acção internacional para responsabilizar a Coreia Norte pelas suas acções provocadoras”.
A Coreia do Norte disparou ontem três mísseis balísticos a partir da sua costa leste, cerca de duas semanas depois de testar um míssil balístico a partir de um submarino, noticiou a agência sul-coreana Yonhap.
Os mísseis foram disparados para o Mar do Japão, a partir da região de Hwangju, pelas 04:00, segundo a Yonhap, que cita os chefes de Estado-maior sul-coreanos.
Ainda não se sabe de que tipo são os mísseis disparados, com um porta-voz do Ministério da Defesa de Seul a informar que o exército sul-coreano está agora a analisar o ensaio.

Acção contínua

A Coreia do Norte realizou uma série de testes de mísseis este ano, o mais recente a 24 de Agosto, quando foi lançado um míssil balístico a partir de um submarino que se deslocou 500 quilómetros na direcção do Japão.
Esse lançamento, amplamente condenado, marcou o que analistas de armamento descreveram como um claro passo em frente nas ambições nucleares da Coreia do Norte.
O lançamento de ontem surge horas depois de a Presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, e o Presidente chinês, Xi Jinping, se reunirem, à margem da cimeira do G20 em Hangzhou.
A China é o único grande aliado de Pyongyang, mas os laços entre os dois países têm vindo a enfraquecer devido aos testes nucleares da Coreia do Norte, que causaram tensão na península.

6 Set 2016

Papéis do Panamá | Ligações a empresa de fachada norte-coreana

Uma empresa de fachada norte-coreana usada para ajudar a financiar o programa nuclear do país foi cliente da sociedade de advogados panamiana no centro da investigação jornalística conhecida como “Papéis do Panamá”, informa ontem a imprensa britânica.
Com uma morada norte-coreana, a DCB Finance Ltd. foi registada nas Ilhas Virgens Britânicas em 2006 e legalmente constituída pela empresa panamiana Mossack Fonseca, informaram o jornal The Guardian e a estação BBC.
Nesse mesmo ano, a Coreia do Norte fez o seu primeiro teste nuclear, provocando a primeira de várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas que impõem sanções a Pyongyang.
A DCB Finance Ltd. foi registada pelo norte-coreano Kim Chol-Sam e por Nigel Cowie, um banqueiro britânico que se mudou para a Coreia do Norte em 1995 e liderou o primeiro banco estrangeiro no país – o Daedong Credit Bank. A DCB Finance é referida como sendo um desdobramento deste banco.
Os documentos sugerem que, apesar da morada em Pyongyang, a Mossack Fonseca não detectou a ligação da DCB à Coreia do Norte até a Agência de Investigação Financeira das Ilhas Virgens lhe ter enviado uma carta em 2010 a pedir informações sobre a empresa.
Foi então que a empresa de advogados do Panamá deixou de ser agente da DCB.
No ano seguinte, Cowie, que diz que não estava a par de qualquer transacção ilícita, vendeu a sua parte no Daedong Credit Bank a um consórcio chinês.
O banco e o DCB – assim como Kim Chol-Sam – foram visados por sanções norte-americanas em Junho de 2013, por alegadamente terem, desde 2006, fornecido serviços financeiros a duas entidades norte-coreanas com um “papel central” no desenvolvimento do programa nuclear e de mísseis balísticos da Coreia do Norte.
O Tesouro norte-americano disse que a DCB Finance tinha sido usada para “levar a cabo transacções financeiras internacionais como forma de evitar o escrutínio por instituições financeiras que evitam negócios com a Coreia do Norte”.

Mea culpa

Um email da empresa Mossack Fonseca, em Agosto de 2013, parece reconhecer a sua própria falta de diligência em relação à empresa norte-coreana.
“Ainda não abordámos a razão pela qual mantemos uma relação com a DCB Finance, quando nós sabíamos ou devíamos ter tido conhecimento (…) de que o país – a Coreia do Norte – estava na lista negra”, refere o email.
“Devíamos ter identificado desde o início que esta era uma companhia de elevado risco”, acrescenta.
A maior investigação jornalística da história, divulgada na noite de domingo, envolve o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa), com sede em Washington, e destaca os nomes de 140 políticos de todo o mundo, entre eles 12 antigos e actuais líderes mundiais.

6 Abr 2016

Kim Jong-un afirma possuir bomba de hidrogénio

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] líder da Coreia do Norte afirmou pela primeira vez que o país tem a bomba de hidrogénio, noticiou ontem a agência oficial KCNA, embora vários peritos duvidem que Pyongyang tenha conseguido desenvolver esta arma.
Kim Jong-un disse que a Coreia do Norte “se transformou num poderoso Estado, que possui armas nucleares, capaz de fazer detonar uma bomba atómica e também uma bomba H (de hidrogénio) para defender eficazmente a soberania e dignidade da nação”, de acordo com a KCNA.
O “Grande Sucessor” proferiu esta afirmação durante uma visita ao sítio de Phyongchon, na capital norte-coreana, onde foi construída a primeira fábrica de munições do país há seis décadas.
O líder, de 32 anos, reafirmou em várias ocasiões que a Coreia do Norte possui armas nucleares e que este recurso é o principal pilar da defesa contra os alegados planos de invasão pelos Estados Unidos.
De acordo com peritos sul-coreanos, esta é a primeira vez que o regime da Coreia do Norte assegura possuir a bomba de hidrogénio, um explosivo que pode multiplicar por milhares a potência de um míssil nuclear comum, como os que foram lançados sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945.
Os serviços secretos sul-coreanos (NIS) afirmaram desconhecer que o regime de Kim Jong-un tenha desenvolvido a bomba de hidrogénio, indicou um dos responsáveis do NIS à agência noticiosa sul-coreana Yonhap, em Seul.
“A Coreia do Norte não teve êxito na miniaturização das bombas nucleares, por isso não pode contar com a tecnologia para produzir uma bomba H”, acrescentou a mesma fonte, que considerou as declarações de Kim Jong-un de “simples retórica”.
No caso das bombas nucleares comuns, a Coreia do Norte conseguiu um grande desenvolvimento tecnológico, tendo realizado três explosões em 2006, 2009 e 2013.
Os especialistas desconhecem se Pyongyang é ou não capaz de miniaturizar os explosivos atómicos para serem instalados nas ogivas dos seus mísseis.

11 Dez 2015

Hyeonseo Lee, dissidente norte-coreana e escritora

Dissidente, imigrante ilegal, refugiada. Hyeonseo Lee passou por vários estatutos e já assumiu vários nomes para que nunca fosse descoberta. Uma norte-coreana que aos 17 anos quis saber se tudo o que o líder do seu país diz corresponde à verdade. A percorrer o mundo com a sua história, Lee quer fazer mais. Mais que isso, quer voltar, quando Kim Jong-Un cair

Depois de várias voltas ao mundo em conferências onde partilha a sua história, lança agora um livro, “The Girl With Seven Names”, divido em três fases: infância, adolescência e depois de sair da Coreia de Norte. Fale-nos um pouco sobre este projecto.
O meu maior objectivo [através de conferências e agora o livro] é chegar à comunidade internacional e sensibilizá-la para a situação vivida na Coreia do Norte e por todos os norte-coreanos. Para que assim a comunidade se possa envolver directamente no assunto e na ajuda aos dissidentes, ajudando ainda na mudança no meu país.

Daí a sua dedicação ao estudo da língua inglesa…
Sim, esta é também uma das maiores razões que me fez dedicar-me tanto à aprendizagem do Inglês. Estudei intensa e arduamente para que me fosse possível chegar directamente à comunidade e às pessoas do mundo exterior, falando-lhes e transmitindo-lhes a situação ainda hoje vivida na Coreia do Norte.

Uma partilha essencial?
Sim. Estou a planear lançar uma organização que permita trazer mais norte-coreanos para estudar, envolvendo-se com a comunidade internacional de uma forma directa. Actualmente muitos norte-coreanos dissidentes vivem numa bolha que os protege do exterior e, por isso, não conseguem conhecer pessoas de todo o mundo. Se cada vez mais, estes dissidentes trouxerem a público as suas histórias, as suas experiências, e partilharem com a comunidade internacional, mais as pessoas perceberão a necessidade de se envolver. Assim todos nós teremos a oportunidade de promover a verdadeira mudança na Coreia do Norte.

[quote_box_left]“Sonho em voltar para o meu país. Odeio o nosso governo mas amo as pessoas da minha terra. Acredito, sim acredito, que voltar possa ser uma possibilidade, mas só depois da ditadura de Kim cair”[/quote_box_left]

Por quê o título “The girl with seven names”?
Vivi durante muito tempo com nomes diferente na China, pois como passei a fronteira de forma ilegal era considerada uma migrante ilegal e seria repatriada pelas autoridades chinesas caso fosse apanhada. Isso seria terrível, nestes casos os dissidentes enfrentam um horrendo destino. Como fui mudando tantas vezes de nome acabei por me tornar a rapariga com setes nomes, expressão que acabei por atribuir ao meu livro.

Ao longo do livro vai relatando aspectos da vida quotidiana que, agora, longe daquela realidade são totalmente erradas.
Sim, é verdade. Aprendíamos e ouvíamos histórias de torturas e coisas horrendas que os americanos faziam aos norte-coreanos e ainda hoje [estas histórias] acontecem. Existe propaganda anti-americana e as próprias crianças são ensinadas a assumir actos contra, por exemplo, os soldados americanos. Estas crianças ainda hoje cantam músicas insultuosas sobre os americanos e em todas as escolas espalhadas pela Coreia do Norte existem imagens dos soldados norte-coreanos a esfaquear soldados americanos, japoneses e sul-coreanos. É de tal forma que, durante a crise alimentar nos anos 90, segundo o regime da propaganda, o povo da Coreia do Norte só estava a sofrer e a passar fome por causa dos americanos e das suas sanções. É por isto que o povo culpa a América e os americanos dessa crise e de outras coisas. Nunca pensaram em culpar o nosso próprio governador. Lembro-me muitas vezes da minha avó me dizer, de forma simples e curta: “até durante o período colonial por parte do Japão as pessoas sofriam menos, bem menos do que agora”.

Como é que se sentiu quando percebeu que o mundo era bem diferente do que aquele que lhe mostraram durante anos? Toda a sua educação teve como base uma mentira…
Até a crise alimentar dos anos 90 começar a minha vida era bastante normal. Nós, os norte-coreanos, somos vítimas de lavagens cerebrais e afastados do resto do mundo. Essa falta de conhecimento e lavagem cerebral faz-nos não queixar, não nos permite queixar do nosso país porque é a única realidade que conhecemos, portanto achamos que as coisas são assim e é assim que devem ser. Aprendíamos que os sul-coreanos eram vítimas dos imperialistas americanos, que eram os seus escravos, por isso sempre assumimos que tínhamos o dever de os libertar. Ao mesmo tempo, aprendíamos que o nosso país era o melhor do mundo. Por um longo período de tempo, eu pensei que o resto do mundo, todos os países, eram piores que a Coreia do Norte, portanto sentia-me agradecida pelos nosso líderes nos oferecerem condições de um excelente país. Ainda hoje temos uma música de propaganda sobre isto que aprendemos logo em pequenos, chamada “Nothing to Envy”.

Mas o seu olhar mudou com a crise alimentar…
Sim, durante a crise e desde o momento que vivi junto à fronteira com China, comecei a perceber que o meu país não era de facto o melhor país do mundo, como pensava. As pessoas estavam a morrer à fome nas ruas, sofríamos constantemente de falhas de energia e, ao olhar do outro lado do rio, do lado da China conseguia ver que as coisas estavam bem melhores que no meu país.

Quando é que decidiu que ia atravessar? Foi planeado?
Não pensei em sair da Coreia do Norte até aos meus 17 anos, foi nessa altura que deixei o país. O meu irmão era contrabandista e estava de forma constante a passar entre a China e a Coreia do Norte, não achei que seria uma coisa muito grave se por uma vez fosse com ele e explorasse a China por algum tempo. Como toda a minha família vivia perto da fronteira com a China acabámos por desenvolver fortes relações com os guardas do posto fronteiriço. Foi assim que o meu irmão conseguiu manter o seu negócio. Também criei amizade com vários guardas. Foi então que um deles concordou em permitir que eu passasse a fronteira. Lembro-me que na altura menti à minha mãe. Ainda hoje me arrependo de lhe ter mentido. Disse-lhe que ia a casa de uma amiga, mas na realidade passei a fronteira sem que ela imaginasse. A minha mãe esperou-me durante horas, sem nunca lhe passar pela cabeça, nem a mim, que ficaríamos mais de uma década sem nos vermos. Foi muito doloroso, tanto para mim como para ela.

Como foi a vida na China logo depois da passagem da fronteira?
Estava tão assustada, tinha tanto medo quando vivia na China, medo de ser apanhada a qualquer momento. Por isso nunca me aproximei, nunca criei relações mais próximas com as pessoas, nunca disse a verdade sobre a minha identidade. Cheguei a ser apanhada pela autoridades chinesas que me acusavam de ser uma fugitiva norte-coreana, mas como estudei de forma tão intensa, e me dediquei tanto à cultura chinesa e à língua para sobreviver, consegui convencê-los que de facto era chinesa. Eles deixaram-me em liberdade. Foi um milagre.

Falemos um pouco sobre Kim Jong-un: apesar ter estudado fora da Coreia não trouxe uma visão diferente dos seus familiares antecessores.
Nos pontos principais ele de facto não é diferente do seu pai ou do avô. A Coreia do Norte continua a manter uma conduta de desrespeito pelos direitos humanos, de abuso, não existe liberdade de informação, de opinião, de associação ou sequer permissão para viajar, entre muitas outras coisas. Acredito que a grande maioria da população do meu país não sabe que o actual ditador estudou no estrangeiro. Foram muitos os estrangeiros que pensaram que esta formação no exterior pudesse trazer uma mudança positiva no actual líder, tornando-o, quem sabe, mais liberal. Mas a realidade é que na verdade não o fez ter uma mais mente aberta para o mundo exterior, nem para possíveis mudanças políticas na própria Coreia do Norte.

Acredita que o cenário será diferente no futuro?
Os fluxos de informação vindos do mundo exterior são, provavelmente, a forma mais eficaz de mudarmos a Coreia do Norte. Está a acontecer. A geração mais nova já assumiu os mercados negros e as negociações, isto faz com que a ideia da propaganda norte-coreana seja menos eficaz, dizimando a ideia de um paraíso socialista em que os seus líderes tudo fazem pelo bem da sociedade. Actualmente a propaganda tem um maior foco em como é horrível a vida na Coreia do Sul, por exemplo. A entrada de filmes estrangeiros, no país, e que acabam por se expandir pelo território, permite que as pessoas percebam e vejam como é que é o mundo fora da Coreia do Norte. Muito diferente de tudo aquilo que foi ensinado.

Quer voltar? Acredita que isso possa ser uma possibilidade?
Sonho em voltar para o meu país. Odeio o nosso governo mas amo as pessoas da minha terra. Acredito, sim acredito, que voltar possa ser uma possibilidade, mas só depois da ditadura de Kim cair.

A China é também vista como um mundo fechado e de censura. Como é que alguém que fugiu da Coreia do Norte vê o país?
De facto existe censura e outras formas de opressão pelo regime comunista na China, mas não se compara ao que acontece na Coreia do Norte. Em exemplos práticos, a sociedade chinesa, apesar de censura, tem acesso à internet. Um chinês se quiser sair da China pode fazê-lo, um norte-coreano não. Para mim, quando olho para a Coreia do Norte e para a China penso que este último é um país livre.

Neste momento tem estatuto de refugiada na Coreia do Sul. Esse procedimento foi fácil?
A situação dos refugiados da Coreia do Norte é diferente daquela que está a acontecer agora na Europa com os refugiados da Síria. A Coreia do Sul recebe-nos e oferece-nos benefícios. Somos todos considerados pela constituição por isso temos direitos. Ainda assim tanto a Coreia do Norte como a China tentam impedir-nos de conseguir alcançar a liberdade e, por causa disto, às vezes é difícil chegarmos em segurança ao nosso destino. A verdade é que somos sempre perseguidos e muitos que tentam fugir são apanhados na China e mandados de volta para os campos prisão na Coreia do Norte.

26 Out 2015

Autópsia a residente morto na Coreia do Norte foi inconclusiva

[dropcap style=’cricle’]L[/dropcap]ei Weng Fu, de 29 anos, era trabalhador no Casino Pyongyang na Coreia do Norte, tendo sido transferido da Sociedade de Jogos de Macau para o espaço norte-coreano, também operado pela empresa. Conforme avançou o HM, o homem morreu em Junho, sendo que a família contesta a tese de suicídio e diz que este foi assassinado. À espera do resultado da autópsia há alguns meses, José Pereira Coutinho – que tem sido o contacto entre a família e a SJM – explica ao HM que este chegou finalmente e que a família lhe pediu para ajudar a percebê-lo. É inconclusivo.
“O resultado da autópsia feita em Macau não é conclusivo, no aspecto do suicídio”, começa por dizer o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau. “Aliás, pedimos ajuda a dois médicos da Função Pública, com muita experiência, que nos ajudaram a perceber os termos utilizados na descrição das lesões detectadas no corpo do jovem.”
De acordo com as “interpretações” desses médicos, explica, “ele eventualmente poderá ter sido objecto de espancamento antes de cair da altura que caiu”.

Labirinto informativo

O jovem fora transferido para trabalhar no Casino Pyongyang, que foi quem anunciou a sua morte à família. O casino indicava que a morte derivou de suicídio, tendo até a equipa médica do espaço avançado que o trabalhador sofria de uma deficiência mental. A família entrou em contacto com a SJM exigindo que o corpo do jovem fosse trazido para Macau – custos da transladação assumidos por Angela Leong – e que aqui fosse feita uma autópsia para perceber a possível causa da morte de Lei. Chegou em Julho e, mais de um mês decorrido, ainda não tinha sido feito o relatório da autópsia, nem o funeral.
Ontem, questionado pelos jornalistas à margem de uma visita, Wong Sio Chak disse que o caso não é suspeito, de acordo com o que foi avançado ao Governo de Macau pela Interpol.
“A informação que recebemos é que não é um caso suspeito”, disse o responsável, explicando que a Polícia Judiciária só recebeu informações através da Polícia Internacional. O Secretário admite, contudo, que ainda vai pedir mais informações porque não tem sido “fácil” obtê-las.
A família de Lei Weng Fu, que rejeita a tese de suicídio, disse que Lei estaria a ser ameaçado, tendo recebido até mensagens do familiar no sentido de “não acreditarem em nada” que lhes fosse contado por outras pessoas.

9 Out 2015

SJM |Coreia pede silêncio à família sobre morte de trabalhador. Resultados da autópsia atrasados

O caso do jovem trabalhador da SJM que morreu na Coreia do Norte ainda não terminou, com a família a não ter acesso aos resultados da autópsia por faltar autorização do MP. De Pyongyang chegam convites para que se mantenham em silêncio

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]jovem trabalhador que morreu na Coreia do Norte, onde trabalhava num casino do grupo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), ainda não foi enterrado e não há ainda resultados da sua autópsia.
No final do Julho, o HM avançou com o caso da morte do trabalhador da SJM, que fora transferido para o Casino Pyongyang, na Coreia do Norte. Sem encontrar grandes explicações para a morte do jovem Lei Weng Fu, de 29 anos, a família não acreditou nas justificações do casino norte-coreano que indicavam suicídio, tendo até a equipa médica do casino em causa avançado que o trabalhador em causa sofria de uma deficiência mental.
Sem quase nada perceber, a família entrou em contacto com a SJM exigindo que o corpo do jovem fosse trazido para Macau – custos da transladação assumidos por Angela Leong – e que aqui fosse feita uma autópsia para perceber a possível causa da morte de Lei.
Mais de um mês decorrido e o desenvolvimento do caso pouco ou nada de novo traz, excepto que a família não teve ainda acesso aos resultados da autópsia e que o funeral ainda não aconteceu. casino pyongyang
“O funeral do meu sobrinho era para ser realizado no início de Agosto, depois de termos conseguido trazer o corpo dele para Macau, mas o casino [da Coreia do Norte] disse que pagava o funeral e nós esperámos”, explicou ao HM Mei Chao, tia do trabalhador, adiantando que esta é apenas uma das razões para que o funeral ainda não tenha acontecido. “O corpo continua no Hospital Conde São Januário”, indicou ao HM.

O preço do silêncio

“Depois da publicação da notícia no jornal português [HM], o advogado do casino contactou-nos e disse que se não falássemos mais sobre o casino que eles nos davam dinheiro para fazermos um funeral melhor, mas já passaram duas semanas e ainda não recebemos nada, não sabemos de nada”, contou a tia da vítima, indicando que a família aceitou não voltar a falar sobre o casino até agora.
Com alguns problemas financeiros, a família mostra-se exausta e cansada de uma situação com contornos pouco normais, não sabendo como agir. Feitas as contas, explica a tia, são necessários mais de 50 mil patacas para todo o processo, dinheiro que a família não tem.

MP mudo e calado

A segunda razão pelo qual o funeral ainda não aconteceu, explica a familiar, deve-se ao silêncio do Ministério Público (MP) de Macau.
No seu direito, a família exigiu que quando o corpo entrasse em território de Macau fosse realizada uma nova autópsia para verificar a veracidade do exame feito pelos médicos norte coreanos. “Sabemos que a autópsia já foi feita, mas nós [família] não temos acesso ao resultado porque ainda não houve um juiz do MP que desse a autorização, é preciso isso para as autoridades nos darem o resultado. Até hoje, continuamos sem saber as causas da morte do meu sobrinho”, explicou.
O exame feito pelas autoridades médicas da Coreia do Norte indicavam que Lei se suicidou, algo em que a família nunca acreditou. As mesmas autoridades indicaram ainda que o trabalhador sofria de uma doença mental, mas, sabe-se agora, que nunca foram realizados quaisquer exames.
“Foi diagnosticada uma doença mental ao meu sobrinho, mas afinal nunca foi feito nenhum exame, essa informação foi apenas espalhada pelos colegas de trabalho, há muitas coisas que não batem certo”, indicou.
As perguntas que foram feitas pela família às autoridades da Coreia do Norte, à SJM e até ao amigo mais próximo do jovem morto nunca foram respondidas. O assunto continua a ser uma incógnita e aquele jovem com apenas 29 anos continua sem ter direito ao seu último adeus, o funeral.

8 Set 2015

SJM | Funcionário a trabalhar na Coreia do Norte aparece morto. Família não acredita em suicídio

Um funcionário da SJM, a trabalhar num casino na Coreia de Norte, foi encontrado morto. Suicídio foi a causa apresentada pelas autoridades norte-coreanas. Mas um aviso prévio e o desaparecimento durante cinco dias leva a família a apontar que esta é uma história “muito mal contada”. Depois de conseguir a transladação do corpo, através da SJM, a família quer saber o que realmente aconteceu

[dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ei Weng Fu tinha 29 anos e era residente de Macau. Trabalhava no departamento de fichas para os casinos pertencentes à Sociedade de Jogos de Macau (SJM). Um dia concorreu internamente para ser colocado no Casino Pyongyang, na Coreia do Norte. O objectivo era claro: amealhar dinheiro suficiente para, juntamente com um amigo, abrir um restaurante de sopa de fitas em Macau.
“Ele gostava de lá estar, não se queixava, tinha algumas limitações, mas quando veio a Macau uma semana de férias disse que gostava de lá trabalhar”, conta ao HM Lin Chao, mãe de Weng. “Contou-me que estava a poupar dinheiro e também comprou acções, assim ia ter dinheiro suficiente para abrir o restaurante de sopas com o amigo”, continuou.

No dia 31 de Maio, o pai de Weng estranha uma mensagem que recebeu do filho pela aplicação WeChat. “Lá [na Coreia do Norte] o telemóvel e o passaporte ficam retidos, ele falava connosco pelo iPad e mandava mensagens pelo WeChat, às vezes”, conta a mãe do trabalhador, sublinhando a dificuldade de acesso à internet no país. “Nesse dia, o nosso filho escreveu que estava a ser ameaçado, por causa de dinheiro, e que uma das empresas sócias do casino queria bloquear-lhe a conta bancária de Macau. Disse-nos que não sabia o que podia acontecer, mas que não acreditássemos em nada que nos pudessem contar”, relembra a mãe.

Também um amigo do filho, residente e trabalhador da SJM no território, contou aos pais que Weng lhe tinha contado que tinha sido vítima de violência física e tinha recebido várias ameaças.

“Soubemos no dia seguinte que tinha sido despedido, mandou-nos uma mensagem a avisar que pela manhã, quando chegou ao trabalho, foi despedido, acusado de roubo de fichas”, acrescenta a progenitora. “Ele nunca roubaria”, adiciona a tia, Mei Chao, presente no encontro da família com o HM.

Silêncio mortal

casino pyongyangForam cinco dias de silêncio. Weng esteve sempre incontactável, nunca surgiu online e nunca viu as mensagens que os pais lhe enviavam, algo detectável na aplicação que usava. “No dia 5 de Junho o gerente do nosso filho ligou-nos e disse que o ia buscar ao aeroporto de Macau”, relata a mãe, adiantando que horas depois receberam um novo telefonema. Neste, é-lhes dada a notícia. “Era da SJM, não era preciso ir buscar o nosso filho, porque ele estava morto. Disseram: ‘ele suicidou-se’”, conta.

A ideia de suicídio nunca foi aceite pela família. “Esta história está muito mal contada, tudo é muito estranho. Isto é muito estranho”, reforça.

Em busca de mais informações, a família fez várias perguntas à empresa da Coreia do Norte, que nunca lhe deu as respostas. Nem respostas, nem os pertences do filho.

“A SJM quis – através de um advogado – que assinássemos um papel – que pertencia à empresa do casino na Coreia – a permitir que o corpo fosse cremado lá. Não aceitámos e nunca assinámos. Conversámos com o advogado e decidimos que queríamos ir lá. Tínhamos de perceber o que aconteceu”, conta a mãe da vítima.

O pai não pôde ir, devido a um problema de coração, seguindo a para a Coreia do Norte a mãe e irmã de Weng. “Chegámos e os nossos telemóveis e passaportes foram retidos, não podíamos ir onde queríamos, nunca nos foi possível falar com colegas de trabalho do Weng e nunca chegámos a recolher os seus bens. Desapareceram”, indica.

Da empresa só chegava a justificação de que o filho, padecendo de uma doença mental – diagnosticada por uma equipa médica designada pela empresa proprietária do casino – roubava fichas e, por isso, depois de descoberto, terá optado pelo suicídio.

“Eu não acredito nisto, nem o meu filho era deficiente, nem nunca teve comportamentos que indicassem uma coisa destas. Isto não é verdade e eu preciso de saber a verdade”.

[quote_box_left]“Nesse dia o nosso filho escreveu que estava a ser ameaçado, por causa de dinheiro e que uma das empresas sócias do casino queria bloquear-lhe a conta de banco de Macau. Disse-nos que não sabia o que podia acontecer, mas que não acreditássemos em nada que nos pudessem contar” – Lin Chao, mãe de Weng[/quote_box_left]

Custos elevados

Durante 17 dias, a mãe e a irmã permaneceram no país, para trataram de tudo o que lhes foi possível para a transladação do corpo de Weng para Macau. “Queríamos enterrá-lo na sua terra”, diz a mãe.

Os custos da transladação superaram os 7500 dólares (cerca de 60 mil patacas) e a família não tinha como pagar. “Mesmo com o dinheiro da conta do meu sobrinho, era a empresa da Coreia que devia pagar. Por isso é que entrámos em contacto com a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau. Pedimos ajuda para trazer o corpo do meu sobrinho”, indica a tia.

Com o pedido nas mãos, a ATFPM, liderada pelo deputado José Pereira Coutinho, entrou em contacto com Angela Leong, administradora da SJM, “duas vezes por telefone”.

“Chegámos a ter um encontro com um advogado da SJM que não se mostrou muito à vontade para lidar com esta situação. E foi então, num almoço da Polícia Judiciária, que encontrei Angela Leong e falei directamente com ela. Voltei a insistir mais tarde”, conta o presidente da Associação.

Em pouco tempo, as contas estavam pagas. “Não sei se foi a Angela [Leong] que pagou, não sei de onde veio o dinheiro, sei que foi a SJM que pagou as contas. É uma caso de dignidade humana, de um residente de Macau que era trabalhador da SJM e a operadora só tinha que assumir os custos. O corpo já cá está e agora a família pode realizar o funeral do jovem”, indica.

Um fim sem vista

Com um saco de perguntas por responder, a família de Weng não fará o luto até ter respostas. “Colocámos a questão à Polícia Judiciária – e já está envolvida a Interpol – para tentarmos perceber o que realmente aconteceu”, indicou o presidente, reforçando, todas as “pontas soltas” da história que parece não ter fim para a família. O HM tentou contactar Angela Leong para confirmar as informações, mas até à hora do fecho desta edição, Angela Leong não respondeu às perguntas colocadas.

O casino, que fica na cave do hotel com o mesmo nome, foi aberto em parceria com a SJM nos anos 1990.

29 Jul 2015