Presidente da Associação Médicos de Língua Portuguesa: “É altura de Portugal pedir ajuda à China”

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau (AMLPM) defendeu à Lusa que esta é a altura de Portugal pedir ajuda à China para combater o surto de Covid-19.

“A Itália já pediu ajuda à China. Espanha já pediu ajuda à China. Portanto, eu penso que se calhar o Governo português, antes que seja tarde, vai precisar de equipamentos, que são insuficientes. Será uma altura apropriada também de pedir ajuda às autoridades chinesas”, defendeu José Manuel Esteves.

“Porque a China está a ultrapassar este grande embate, que foi a epidemia no seu território. As fábricas estão a arrancar, estão a produzir os ventiladores, estão a produzir as máscaras, estão a produzir equipamentos de proteção aos milhões, mas a procura a nível mundial é muita e está na altura de Portugal se pôr na fila e tentar também ter acesso ao que é produzido” e que “vai fazer falta em Portugal dentro de uma semana ou dentro de duas semanas”, salientou o cirurgião.

Uma das hipóteses poderá passar por utilizar o papel de Macau enquanto plataforma de cooperação sino-lusófona, mas a abordagem directa a Pequim poderá ser privilegiada.

“Se calhar utilizando a plataforma que é Macau ou se calhar abordando diretamente o Governo central da China. Obviamente penso que em Macau há uma predisposição da própria sociedade (…). Mas simultaneamente, parece que seria apropriado o próprio Governo de Portugal fazer um pedido de ajuda formal através dos canais diplomáticos à China para uma outra dimensão”, explicou.

Afinal, frisou, o líder da AMLPM, Portugal pode vir a necessitar, mas, como disse, a concorrência para [garantir] essa ajuda vai ser enorme”.

Falta de meios e treino preocupa em Portugal

José Manuel Esteves disse também à Lusa que a falta de meios e treino em Portugal contrasta com a “enorme tranquilidade” sentida no território no combate ao coronavírus. “Sinto uma enorme tranquilidade a trabalhar aqui”, até porque “toda a sociedade e não apenas os serviços de saúde têm demonstrado um grau de organização e articulação entre as diferentes estruturas”, defendeu José Manuel Esteves.

“Há, no âmbito da saúde pública em Macau, uma experiência e traquejo muito grande, que permitiu que esta primeira onda de casos fosse controlada e Macau tivesse estado 40 dias sem novos casos”, assinalou o cirurgião.

Uma situação que contrasta com o que se vive em Portugal, sustentou: “Tenho andado em contactos permanentes com muitos dos meus colegas em Portugal e verifica-se uma preocupação extraordinária com a falta de meios, da falta de máscaras, de equipamentos de proteção, (…) e a falta de treino”.

O líder da AMLPM frisou que o uso generalizado de máscaras, a adoção de medidas que permitissem lavar e desinfectar espaços públicos, bem como o controlo nas fronteiras têm provado serem eficazes, sustentou.

“O caso que nós tivemos hoje, do mundo do homem de negócios espanhol que chegou ao aeroporto e foi identificado como tendo febre (…), nas condições praticadas em Portugal não teria sido possível porque foi sempre divulgado que o controlo não era eficaz. Mas o controlo de fronteiras em Macau provou que pode ser uma medida eficaz”, salientou.

Por outro lado, frisou, os casos de médico infectados, e outros em quarentena, não se verificaram em Macau, devido à metodologia adoptada atempadamente pelas autoridades, com a devida separação e proteção das equipas dos profissionais de saúde.

“Tudo isto foi devidamente pensado em tempo útil e é isso que os hospitais em Portugal também deveriam ter preparado atempadamente. (…) Houve mais do que tempo para que (…) tivesse havido uma preparação efetiva para aquilo que poderia vir a acontecer”, criticou.

“Com grande tristeza minha eu assisti à senhora diretora-geral da Saúde em Portugal a dizer que talvez nunca chegasse a Portugal. E, portanto, com informações destas, que parecem pouco sensatas, é que se perde a credibilidade e se perde a capacidade de mobilizar as pessoas”, lamentou.

José Manuel Esteves disse que não se deve “menorizar a inteligência das pessoas”, que “é preciso transmitir mensagens que as pessoas entendam”. Isto para que “quando se lhes pedem que façam uma coisa, como foi feito aqui em Macau, para que fiquem todos em casa, as pessoas ficaram”, afirmou, fazendo a comparação com o que sucedeu em Portugal: “Não é para andar em festas, almoços, jantares, ou ir para a praia”.

As epidemias do dengue, da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), a Influenza Aviária A (H5N1) e a gripe suína permitiram “desenvolver toda uma série de mecanismos, e a própria população criou esses mecanismos para se defender destas epidemias”, afirmou o líder da AMLPM.

Afinal, “muitas delas tiveram início na Ásia e, portanto, as pessoas aqui têm outra preparação e outra mentalidade em relação a estas epidemias”, acrescentou.

18 Mar 2020

Associação dos Médicos de Língua Portuguesa elege José Manuel Esteves para presidente

[dropcap]J[/dropcap]osé Manuel Esteves foi eleito o novo presidente da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau na sexta-feira, com 42 votos entre 44 votantes. O acto eleitoral decorreu na biblioteca do IPOR.

A lista única encabeçada por José Manuel Esteves tinha como principais metas uma maior unidade entre os médicos de língua portuguesa, assim como a integração com as outras comunidades médicas de Macau e da Grande Baía.

“Dado o avançado da hora, a prioridade agora passa por celebrarmos o resultado e a partir de amanhã arregaçar mangas e trabalhar”, afirmou o recém-eleito presidente, ao HM, momentos depois da eleição. “Acho que o número de 44 votantes, dentro dos médicos que falam português e que estão efectivamente em Macau, é uma boa participação e uma boa percentagem”, considerou.

José Manuel Mendes sucede assim a Jorge Sales Marques, que já tinha anunciado não desejar recandidatar-se.

Lacunas na investigação

Na mesma lista constavam ainda os nomes de Mário Évora, reeleito como presidente da Assembleia-Geral, e Lai Fee, que vai dirigir o Conselho Fiscal. “Foi uma eleição que correu bem, com muita harmonia e estamos todos com vontade de fazer cada vez melhor [nos nossos cargos]”, afirmou Mário Évora, ao HM.

Sobre as perspectivas futuras, o médico que vai liderar a assembleia mostra-se disponível para colaborar nos objectivos da lista, que passam por “uma maior integração dos médicos de língua portuguesa na comunidade, na comunidade chinesa e na defesa do prestígio da medicina de matriz portuguesa”.

Por outro lado, Évora acredita que a associação vai trabalhar para incentivar os médicos mais jovens a fazer mais investigação. “Queremos dar apoio aos médicos mais jovens, com incentivos para se dedicarem à investigação, também para que não se foquem exclusivamente a exercer”, referiu. Ainda sobre a vertente da investigação, Mário Évora considera que é uma lacuna geral na medicina de Macau, que também afecta os médicos de língua portuguesa.

1 Abr 2019

Saúde | Shee Vá afasta candidatura a associação dos médicos

[dropcap]S[/dropcap]hee Vá afastou a hipótese de se candidatar à Associação dos Médicos de Língua Portuguesa, onde é actualmente vice-presidente. Em declarações ao Canal Macau da TDM, o médico admitiu que chegou a ver-se como pré-candidato, para dar continuidade ao projecto da direcção actual.

Contudo, o facto de planear aposentar-se dentro de dois anos e de o mandato ser de três, fez com que voltasse atrás na intenção. A Associação dos Médicos de Língua Portuguesa tem actualmente como presidente o médico Jorge Sales Marques. As próximas eleições para os corpos sociais ainda não foram agendadas.

13 Fev 2019

Ex-sócio de associação de médicos de língua portuguesa denuncia uso indevido de dinheiros públicos

José Gabriel Lima, médico e ex-sócio da Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau, acusa a entidade de ter usado de forma indevida dinheiros públicos na realização de um congresso em 2011. Rui Furtado, ex-presidente, nega tudo

A única lista candidata à direcção da Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau (AMLPM), encabeçada por Jorge Sales Marques, vai hoje a votos, mas persistem problemas advindos da anteriores direcção. José Gabriel Lima, médico vogal do Conselho Fiscal da AMLPM, enviou uma carta ao HM onde acusa a anterior direcção, liderada por Rui Furtado, de usar de forma indevida dinheiros públicos.
“A existência da AMLP veio a conduzir a um clima de grande conflitualidade perante questões graves que foram fruto do modo como foram utilizados donativos ou subsídios de entidades públicas durante a I Conferência Internacional de Medicina de Macau-China e Países de Língua Portuguesa, que teve lugar em Novembro de 2011”, escreveu o médico na carta.
José Gabriel Lima fala de “actos” cometidos durante o congresso, tais como a “falta de critérios nos convites efectuados”. A carta fala da inclusão de “membros de família e amigos pessoais” de médicos, “a atribuição generosa de ‘pocket money’ muito acima do que é praticado em idênticas situações, a entrega de dinheiro em cash, o pagamento de passagens em classe executiva a pessoas que viajaram e o facto de terem sido desdobradas em viagens de classe económica para permitir ou facilitar a inclusão dos cônjuges no passeio turístico a Macau”. josé gabriel lima
José Gabriel Lima garante que depois destes actos as contas não foram aprovadas pelo Conselho Fiscal, tendo os valores sido chumbados em assembleia-geral de Junho de 2012. Para além disso, houve uma demissão dos órgãos sociais e marcação de novas eleições marcadas para daí a três meses.

Dinheiro devolvido

José Gabriel Lima acabaria por se afastar da AMLPM em Agosto de 2012 “com o propósito de demarcar-se do que se passava e para a salvaguarda do direito ao bom nome”, falando da “recusa ao diálogo por parte da direcção da associação, com impedimentos do legítimo acesso dos associados à acta da assembleia-geral”.
Segundo o médico, a associação teve de “passar a vergonha de ser intimida” a devolver centenas de milhares de patacas à Fundação Macau (FM) e Serviços de Saúde (SS)
A carta de José Gabriel Lima faz ainda referência à polémica das eleições ocorridas esse ano, em que Jorge Humberto foi candidato e se queixou da falta de acesso a uma lista actualizada de sócios para realizar a campanha. Recentemente o Tribunal de Segunda Instância (TSI) deu razão a Jorge Humberto e anulou o recurso apresentado por Rui Furtado.
José Gabriel Lima considera que esse caso levou a uma “violação da cultura de honestidade que constitui as bases do exercício da profissão médica”. Sobre as eleições de hoje, o médico espera mudanças. “Desejo que quem venha a liderar os destinos da AMLPM lute pelo prestígio seriamente abalado da medicina de matriz portuguesa nestas paragens”, escreveu.
Ao HM, José Gabriel Lima garantiu que a divulgação desta carta no dia das eleições prende-se apenas com a denúncia de “coisas que não estavam bem”. “Foi toda uma sequência da minha renúncia e da eleição de Jorge Humberto, em que as coisas não foram muito transparentes. Achei que tinha de marcar uma posição”, explicou.

Rui Furtado nega tudo

Confrontado com a carta pelo HM, o presidente cessante da AMLPM, Rui Furtado, negou todas as acusações. “As contas foram aprovadas, não houve utilização indevida de dinheiros públicos, todos os actos do congresso foram decididos em reunião de direcção, e portanto não houve má gestão dos dinheiros. O que se passou é que houve uma queixa anónima para os SS e para a FM, sendo que pelos vistos neste momento já se conhece o autor da carta. Entregámos a gestão do congresso a uma empresa que nos disse que, como já tinham passado dois ou três meses, não tinha documentos. Então não conseguimos comprovar algumas das contas que iam ser apresentadas à FM, pelo que foi essa a razão por que tivemos que devolver o excesso do montante”, apontou Rui Furtado.
O médico aponta o dedo a José Gabriel Lima, a quem acusa de ser “talvez o principal responsável das dificuldades que a associação teve enquanto existiu e existe”. “Ninguém se apoderou de dinheiros públicos e as contas estão à vista de toda a gente. Limito-me a esperar e ver se tomaremos algumas medidas nos meios legítimos contra essa carta”, rematou o presidente cessante da AMLPM.

4 Fev 2016