Arte contemporânea | Intercâmbio entre Macau e Taiwan leva pintura e fotografia ao Museu Sun Iat Sen

Até ao final do mês, a Casa-Museu do Dr. Sun Iat Sen irá acolher a exposição “The Other Side”. A mostra inclui cerca de 50 obras de sete artistas de Macau e Taiwan, em áreas como a fotografia, ilustração, aguarela e pintura a óleo. Para a curadora e artista, Gigi Lee, o tema da exposição, resulta da vontade de, perante a pandemia, almejarmos chegar a lugares inacessíveis, mesmo aqui ao lado

 

O outro lado é muitas vezes uma questão de perspectiva, ainda para mais quando parece estar já ali. Fruto de um intercâmbio entre artistas de Macau e Taiwan, “The Other Side” é uma exposição que inclui, no total, 50 criações produzidas por sete artistas dos dois territórios. A mostra, inaugurada no primeiro dia do ano, está patente na Casa-Museu do Dr. Sun Iat Sen até ao final de Janeiro.

De acordo com a curadora da exposição, Gigi Lee, natural de Macau e uma das artistas com obras expostas no evento, a realização de “The Other Side” é uma “boa oportunidade” para expor juntamente com outros artistas de Taiwan, já que este ano ficaram impossibilitados de vir a Macau, devido às restrições que têm vindo a ser impostas, em virtude do surto de covid-19.

Quanto à escolha do tema que empresta o nome à exposição, Gigi Lee explica que pode ter um duplo significado, dado o contexto que atravessamos marcado pela pandemia, mas também relacionado com a vida depois da morte.

“O tema ‘The Other Side’ é uma ideia minha. Como no ano passado não nos conseguimos ver uns aos outros, apesar de estarmos tão perto em territórios como Macau, Taiwan e Hong Kong, tive a ideia de propor este tema. Na verdade, é o mesmo sentimento que temos quando queremos chegar a algum lugar inalcançável. Além disso, em chinês, o termo ‘The Other Side’ tem uma conotação religiosa, pois simboliza o lugar para onde se vai depois de morrer ou o momento da chegada a um local idílico”, partilhou com o HM.

A curadora refere ainda que, na prática, o “outro lado” no contexto da exposição poder simplesmente ser “o lugar onde não se pode ir” e que, mesmo estando perto, “está muito longe”.

Referindo que “todos os trabalhos expostos são bidimensionais”, Lee partilhou ainda que aqueles que visitarem nos próximos dias a Casa-Museu do Dr. Sun Iat Sen, irão deparar-se com “uma mostra completa e muito variada”, que inclui trabalhos de fotografia, pintura, aguarela, pintura a óleo, ilustrações, colagens e litografias.

“Tendo em conta os diferentes tipos de materiais utilizados na exposição, acho que é uma mostra completa, que inclui temas alegres e outros mais sérios. É também possível ver expressões diferentes ao nível da ilustração, com alguns deles a serem baseados num método de impressão tradicional. O estilo que podemos ver é muito variado”, acrescentou Lee.

Sete magníficos

Para além de Gigi Lee, estão contempladas na exposição as obras de mais três artistas locais Yolanda Kog, Cai Gou Jie e Francisco António Ricarte. Se Francisco António Ricarte participa na exposição com quatro fotografias, Yolanda Kog foi responsável por materializar nove ilustrações patentes em “The Other Side”.

De Taiwan, chegaram a Macau obras dos artistas, Leanne Chang, Lin Chun Yung e Lai Hsin-Lung. Do expólio de cerca de 30 peças de Taiwan que pode ser visto até 31 de Janeiro, Gigi Lee destaca as 10 peças de acrílico da autoria de Lai Hsin-Lung, que se debruçam sobre a temática dos “tipos de vegetais que se podem encontrar em Taiwan”.

Lai Hsin-Lung é um artista galardoado e com uma vasta experiência, tendo já visto as suas obras expostas em Pequim, Estados Unidos, Reino Unido, Malásia, Japão e Coreia do Sul. Além disso, o artista é considerado um pioneiro sobre as teorias de arte pública, tendo publicado diversos artigos académicos sobre o tema.

6 Jan 2021

Joana Vasconcelos em Paris para abrir arte contemporânea a novos públicos

[dropcap]A[/dropcap] exposição “Branco Luz”, de Joana Vasconcelos, é inaugurada hoje, em Paris, e a artista portuguesa considera que expor em sítios menos tradicionais abre “os públicos para o meio artístico”, aumentando “a intervenção da arte na sociedade”.

“A estrutura estabelecida diz que o artista deve expor numa galeria ou num museu. Obviamente aqui [nos armazéns Bon Marché] estamos a transgredir a tradição. Mas em vez de fechar o meio artístico, estes locais abrem os públicos para o meio artístico. A arte contemporânea, quanto mais vista, mais influência tem e mais altera as formas de pensar. Ora, vir a estes locais mais inusitados para a arte contemporânea é ampliar a sua intervenção na sociedade”, disse a artista portuguesa em entrevista à Lusa na capital francesa.

A exposição de Joana Vasconcelos no Bon Marché é inaugurada oficialmente na quinta-feira e fica patente até dia 17 de Fevereiro, englobando uma das suas Valquírias com 30 metros que abrange a escadaria principal e os três andares deste armazém parisiense, assim como as suas montras que dão para algumas das ruas mais prestigiadas da margem esquerda do Sena.

A valquíria, figura recorrente na obra da artista portuguesa, tem desta vez o nome de Simone, inspirada tanto na política e activista Simone Veil como na escritora e filósofa Simone de Beauvoir, mulheres que Joana Vasconcelos considera como “grandes personagens francesas”.

“É a ideia que há mulheres que marcam a sua cultura e a transformam, trazendo uma nova perspectiva para a cultura onde se inserem. A ideia de transformação é o que me interessa, mulheres que no seu tempo transformaram através da sua perspectiva. É uma projecção da minha parte, era o que eu gostava de fazer no meu tempo”, explicou a artista.

Desta vez, é uma valquíria inteiramente branca – inserida no tradicional mês do branco do Bon Marché que nos últimos quatro anos tem chamado alguns dos artistas mais prestigiados da arte contemporânea para expor no seu espaço – intercalando tricot, crochet e LED que envolve o percurso dos clientes desta loja francesa.

“Há uma interacção de técnicas entre o ‘craft’ e as tecnologias, nós misturamos duas coisas que no mundo existem separadamente. Nós construímos coisas grandes com uma técnica que usa as mãos”, descreveu Joana Vasconcelos, revelando que este projecto demorou cerca de dois anos a ser concluído, teve o contributo de mais de 60 pessoas e que vieram cerca de dez pessoas do seu ateliê para a montagem na capital francesa – que está a decorrer desde o início do ano.

Para Vasconcelos, é um regresso às suas origens. Nascida em Paris, onde viveu até aos quatro anos, e educada em Portugal, a artista admite que esta seria a segunda cidade, depois de Lisboa, onde poderia viver devido à relação que mantém a capital francesa a diversos níveis.

“A minha relação com Paris é bastante íntima, pessoal e, ao mesmo tempo, profissional. Eu nasci aqui há 47 anos e todo este tempo depois estou a colocar aqui duas peças: uma que é o ‘Coração de Paris’, na Porta de Clignancourt, onde eu nasci e onde o meu coração começou a bater, e estou a vir ao Bon Marché, que é um local iconográfico da história francesa onde integro aqui uma dimensão do luxo, do social”, disse a artista portuguesa.

O projecto do “Coração de Paris” foi escolhido pelos habitantes do 18.º bairro e pela Câmara Municipal, tendo inauguração prevista entre o fim de Janeiro e o início de Fevereiro. A artista não esquece as dificuldades passadas pelos pais na transição entre Portugal e França e considera “um privilégio” ter nascido e crescido em democracia.

“Eu sou a primeira fornada a ser educada desde a primeira classe em democracia em Portugal e isso significa um privilégio grande e agora, com a minha idade, quem deu valor a essa democracia e ao país que temos, está em locais de destaque naquilo que faz. É na minha geração que se recoloca o país no mapa. Assim como os portugueses da diáspora também têm lugares importantes e olham para Portugal de outra maneira. É fruto dessa democracia”, resumiu a artista.

Joana Vasconcelos inaugura, no dia 14 de Fevereiro, uma exposição em Serralves, no Porto, e nos meses seguintes vai ainda expor em Colónia, na Alemanha, Edimburgo, na Escócia, Roterdão, na Holanda e Madrid, em Espanha.

17 Jan 2019

MAM | Ciclo de exposições engorda cultura local com arte contemporânea

O Museu de Arte de Macau apresenta uma série de exposições que abarcam fotografia, pintura a óleo, multimédia, caligrafia e pintura chinesas. É até Setembro que inauguram, mas muitas podem ser vistas ainda em 2016. A ideia é dar aos visitantes várias opções

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Museu de Arte de Macau (MAM) acolhe uma série de exposições, algumas já inauguradas e outras por estrear. Em destaque está certamente a arte contemporânea, à qual o MAM parece estar a dedicar grande parte do seu tempo e orçamento. Neste momento, estão em exposição duas mostras de fotografias de autores locais que, de algum modo, retratam a história de Macau. A primeira, intitulada “Chuvadas e Cheias” compreende uma série de fotografias da autoria de Choi Vun Tim, que fez mais com os dias chuvosos da cidade do que apenas calçar as galochas e correr de casa para o trabalho. As películas revelam intensidade de movimento das pessoas e das próprias gotas gordas. “Chuvadas e Cheias” inaugurou em Maio passado e está aberta ao público até 8 do próximo mês. “Até há relativamente pouco tempo, as fortes chuvadas de estação causavam frequentes inundações em Macau. Nas décadas de 1969 e 1970, devido à sua localização ribeirinha, quando havia tempestades, infiltração de água salgada ou a forte pluviosidade típica dos tufões, as zonas da Rua do Visconde Paço de Arcos, Rua de Cinco de Outubro, Avenida de Almeida Ribeiro e o bairro San Kiu ficavam rapidamente inundadas, com o nível das águas a chegar aos joelhos”, explicou o director do MAM, Chan Hou Seng, na apresentação da mostra. Em jeito de agradecimento, Chan refere que as fotografias do autor servem para partilhar memórias, nomeadamente entre os mais idosos, que viveram estas questões, e os mais novos, que pouco sabem sobre eles. A segunda mostra foca-se na história dos templos de Macau, monumentos típicos da cidade. A mostra “Templos de Macau” fica no MAM até final deste ano e abriu em Junho, mas não se centra apenas nos edifícios em si, mas sim em rituais, vontades e tradições, algumas delas existentes há mais de 400 anos.

Vai muito além da vista

Além de se dedicar à fotografia, o MAM guardou espaço para a pintura, neste caso moderna. Desta vez, expõe numa galeria 26 retratos a óleo dos séculos XIX e XX, do artista chinês Lam Qua e outros 14 também nacionais e estrangeiros. A grande maioria, de acordo com nota da curadora da mostra, Weng Chiao, são realistas, mas há também impressionistas, expressionistas e da era moderna. Lam Qua é de Cantão e especializava-se em pinturas de estilo ocidental, sobretudo encomendadas por estrangeiros. As suas obras estão espalhadas um pouco por todo o mundo, desde galerias na China até à Universidade de Yale ou espaços artísticos em Londres. Entre 1836 e 1855, o autor dedicou-se à pintura de retratos de pacientes do médico missionário norte-americano, Peter Parker. A mostra começou no início deste ano e encerra em Dezembro.
Por último, seguem-se duas exposições distintas relacionadas com caligrafia e pintura chinesa. “Artefactos de Excelência” estreou-se no passado fim de semana e prolonga-se até 28 de Fevereiro de 2016, compreendendo obras de Luo Shuzhong, famoso calígrafo e gravador de sinetes. “Shuzhong criou uma nova técnicas de gravação, o corte da escola Zhe, que combina as técnicas amadurecidas pela Escola de Yishan e a técnica de corte da Escola Zhe. Para ele, a estética da gravação de sinetes residia na simplicidade e contenção”, adianta uma nota de apresentação da organização. Por outro lado, “A Tensão do Talento” tem inauguração marcada para 11 do próximo mês e inclui pinturas e caligrafias de Wu Rangzhi e Zhao Zhiqian. Em exposição estão 220 peças da época da Dinastia Qing. Finalmente, Gigi Lee apresenta “Atonal”, uma peça que prioriza o elemento multimédia, ao qual se juntam imagens e música para dar sentido a uma exposição que se estreia a 10 de Setembro. Lee pretende, com esta peça abstracta, explorar o conceito de atonalidade, ou seja, de um tom “desfocado” e que “desafia a técnica tradicional”.

18 Ago 2015