Armazém do Boi | Histórias de migração inspiram exposição colectiva

Na próxima sexta-feira, é inaugurada no Armazém do Boi uma exposição colectiva que reúne peças de arte contemporânea de seis criadores. A essência transitória da vida e experiências de migração dos povos do Delta do Rio das Pérolas do interior para o litoral foram inspirações para instalações e peças de vídeo-arte

 

 

Desde o início de Novembro e ao longo de três meses e 23 dias, Situ Jian construiu um “Jardim Secreto” no Pátio do Espinho, transportando terra e plantas do seu estúdio para o pequeno recanto nas traseiras das Ruínas de S. Paulo. No próximo domingo, entre as 14h30 e as 18h, o artista irá ministrar um workshop que tem como pilar duas cartas escritas pela filha de Situ Jian, as plantas e a natureza multicultural de Macau como pontos de partida para uma discussão com os participantes.

Este é um dos seis vectores de intervenção criativa proposto pelo Armazém do Boi que inaugura na sexta-feira, a partir das 18h30, a exposição de arte contemporânea do Delta do Rio das Pérolas “The Old People’s Restaurant and the Sea”. O evento, que decorre até 24 de Março no Antigo Estábulo Municipal, reúne obras de seis artistas, Yu Guo, Zhu Xiang, Cai Guojie, Lee Kai Chung, Situ Jian, Hu Wei, em vários meios de expressão artísticas, com predominância da projecção de vídeo-arte e instalação. Porém, haverá também lugar às manifestações mais interventivas, provocadoras através de workshops com o “Jardim Secreto” de Situ Jian.

Horizontes e emoções são temas centrais da obra de autoria de Lee Kai Chung que procurou verter em vídeo a transformação e história das pessoas e paisagens contemporâneas da área da Grande Baía, com particular incidência sobre a estrutura emocional dos indivíduos deslocados.

O seu projecto mais recente, “Tree of Malevolence”, é encarado pelo artista como forma de expansão deste contexto criativo. No sábado à noite, entre as 19h e as 21h30, Lee Kai Chung irá exibir a sua árvore da malevolência, que ainda se encontra em fase de edição, e arrancar daí para uma sessão de troca de experiências com o público centrada no tema da identidade, para o qual foram convidados artistas locais. A obra explora a história do indivíduo “Y” na Feira de Cantão em Guangzhou durante a era da Guerra Fria, e representa um catalisador para a reflexão e troca de ideias.

 

A caminho da costa

“The Old People’s Restaurant and the Sea” apresenta narrativas únicas e micro-histórias da região do Delta do Rio das Pérolas. A organização do evento indica que “depois de explorar a exposição em profundidade, os espectadores poderão compreender a imaginação espacial dos habitantes das montanhas do interior em relação às zonas costeiras. Poderão também aperceber-se das estratégias de sobrevivência usadas pelos residentes das ilhas costeiras que ‘saltam’ de ilha em ilha” à procura de uma vida melhor.

Memórias de fuga, dispersão e dramas familiares são usados como pontos de confronto e partilha com o público. Por vezes, a própria montanha percorre os trilhos migratórios dos humanos, tema explorado pelas histórias da extração, transporte e deposição de pedras na região do Delta do Rio das Pérolas.

“Num lugar próximo do mar, os jovens só têm memória de pontes e enquanto os barcos caíram no esquecimento. Para alguns, as ilhas são como buracos numa sala, roídos e ocupados por ratos. Os arquipélagos são zonas de retaguarda para humanos, enquanto as terras continentais podem não o ser”, aponta a organização da mostra.

A saída de um espaço amplo para o sufoco da densidade populacional, onde reside ainda assim o sustento, são temas transversais à exposição que conta com a curadoria de Song Yi e direção do presidente Armazém do Boi, Noah Ng Fong Chao.

A entrada para a exposição é livre.

21 Fev 2024

Armazém do Boi | Exposições de He Liping e Zha Ba a partir de segunda-feira

Resultado de duas residências artísticas, o Armazém do Boi acolhe, a partir de segunda-feira, duas exposições dos artistas He Liping e Zha Ba. No antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino será possível ver os “livros de artista” de Zha Ba e as suas mensagens, bem como as memórias de Macau espelhadas na arte de He Liping

 

O Armazém do Boi inaugura, na próxima segunda-feira, duas exposições dos artistas He Liping e Zha Ba que resultam de duas residências artísticas realizadas no território. Ambos os projectos podem ser vistos, de forma gratuita, no antigo Estábulo Municipal do Gado Bovino, na intersecção entre a Avenida do Coronel Mesquita e Avenida Almirante Lacerda.

“My Nostalgic Memories” [As Minhas Memórias Nostálgicas], da autoria de He Liping, conta com curadoria de Tian Meng. Esta é uma mostra de trabalhos que remetem, como o nome indica, para as lembranças do artista em relação ao território.

Segundo um comunicado do Armazém do Boi, estão em causa “as memórias nostálgicas de He Liping”, tratando-se de uma “narrativa sobre uma pessoa e um lugar”, já que “muitas vezes recordamos o que nos escapou, acontecimentos e objectos”.

“Talvez as pessoas se perguntem se He Liping já viveu em Macau e se teve alguma experiência memorável na cidade. As memórias nostálgicas de He Liping não dizem respeito às suas breves viagens e participação em eventos artísticos em Macau, mas a algo mais distante e abstracto. A sua adolescência e início da idade adulta decorreram durante as décadas de 1980 e 1990, um período caracterizado pelo rápido desenvolvimento económico da China através de reformas e abertura. No domínio da cultura popular, as influências de Hong Kong, Macau e Taiwan foram substanciais”, descreve a organização.

Assim, a primeira ligação de He Liping a Macau “foi estabelecida através de filmes, produções televisivas e música popular”.

Assim, na sua perspectiva, “Macau é, ao mesmo tempo, familiar e desconhecido, tangível e intangível”. “He Liping utiliza um tema aparentemente nostálgico e as sete canções antigas, outrora populares, para reexaminar a relação entre um indivíduo e um lugar, que são os seus laços com Macau, à sua maneira única”, descreve o Armazém do Boi. Esta mostra está patente até ao dia 10 de Dezembro.

O livro do artista

Outra exposição acolhida pelo Armazém do Boi, intitula-se “Turn the Page” [Virar a Página], da autoria de Zha Ba. Esta é uma mostra sobre os chamados “livros de artista” do autor, revelando a relação deste com páginas que não são um “mero conjunto de papéis”.

Esta exposição prova como o “livro se apresenta numa gama ilimitada de suportes e com todas as interacções cognitivas envolvidas”, sendo que “o ‘livro do artista’ é uma forma de expressão concebida como arte por direito próprio.”

Este tipo de peça “utiliza a forma ou a função de ‘livro’ como inspiração, abrindo as fronteiras que definiriam a ontologia de um livro”, pelo que “o que faz verdadeiramente um ‘livro de artista’ é a intenção deste de explorar e investigar”.

Os últimos “livros de artista” de Zha Ba fazem a conexão entre a literatura e as artes visuais, tratando-se de “obras que revelam novas possibilidades, abrindo-se a discussões” e “reflectindo as suas decisões de incluir ou omitir certos elementos”.

“O que ele escolheu dar, tirar ou preservar vai permanecer para que o público possa desfrutar. A sua prática artística passa, sobretudo, por modificações, em que livros publicados e materiais impressos são escritos por cima, rasgados e cortados, reconfigurados e incorporados” nas obras de Zha Ba. Esta mostra também está patente, no mesmo local, até ao dia 10 de Dezembro.

17 Nov 2023

Exposição | “Crisscross Paths” marca o regresso ao Armazém do Boi

Depois de quatro anos na Rua do Volong, o Armazém do Boi regressa a casa, o Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino, com a exposição colectiva “Crisscross Paths — Exhibition of Environmental Art in Community”. A mostra reúne mais de 50 trabalhos de 10 artistas locais com o tema unificador da protecção ambiental como epicentro inspirativo

 

A Associação de Arte Armazém do Boi está de regresso a casa, depois de quatro anos de actividade na Rua do Volong, enquanto o Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino fechou para obras.

O retorno está a ser celebrado a preceito com a exposição “Crisscross Paths — Exhibition of Environmental Art in Community”, que agrega mais de meia centena de trabalhos de arte contemporânea uma dezena de criadores locais sob o tema da protecção ambiental, em exibição até 30 de Junho.

“Depois da mudança para a Rua do Volong em 2018, o Armazém do Boi está de volta à sua comunidade e ao seu espaço familiar para organizar esta exposição. Tal como na agricultura, a terra torna-se mais fértil depois de recuperada”, escreve a organização.

A exposição resultou de uma chamada aberta à comunidade, com escolas e centros comunitários a trabalhar sob a orientação de 10 artistas locais, que se focaram no conceito chinês de caminhos que se entrecruzam, evocando os trilhos estreitos entre parcelas de campos cultivados. Assim sendo, como o nome indica, o público é convidado a dar um passeio pela natureza e a examinar os trabalhos criados “por pessoas de todos os quadrantes sociais”, usando uma vasta gama de materiais recicláveis. A associação descreve esteticamente as obras como “simples e dotadas de uma pureza desastrada, naturais e sem maquilhagem, dando eco à estética dos caminhos entre parcelas de campos cultivados”.

Paredes cheias

Manuel Variz, que toca nos Náv, foi convidado para orientar um workshop com alunos da Escola Oficial Zheng Guanying (do jardim de infância até ao ensino secundário), onde também é professor, com o objectivo de expressar a importância de proteger o mar”. O fruto do trabalho dos alunos, sob a tutela artística de Manuel Variz, materializou-se numa obra de grandes dimensões, intitulada “Eco-piratas”.
Ainda na categoria de trabalhos tridimensionais, destaque para a participação de John Leung com representações bíblicas usando caixas de ovos, e dirigiu a criação de “Incêndio Florestal”, uma compilação de fragmentos queimados de papéis votivos. O artista pintou também dois quadros para a mostra: “Kung Hei Fat Choy” e “Queen’s Photo Frame”.

Nascido em Macau, em 1993, John Leung tirou bacharelato em escultura no Instituto de Belas Artes de Sichuan e mestrado na University for Creative Arts em Inglaterra.

“Inosculation” é nome da obra de Wong Soi Lon, composta a partir de desperdício e lixo industrial. Duas jantes de automóvel formam as raízes de duas árvores que se juntam numa única copa metalúrgica. Nesta obra, Wong Soi Lon saiu do espaço de conforto de instalações vídeo e pintura a óleo e aventurou-se no mundo da escultura com uma obra de grandes dimensões.

Através dos séculos

“Crisscross Paths — Exhibition of Environmental Art in Community” marca o regresso à agenda cultural do Armazém do Boi, desde que fechou portas ao público a 1 de Outubro de 2017 para renovar as instalações.
Localizado na Avenida do Almirante Lacerda, o Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino e o Canil Municipal de Macau foi classificado em 2017 como edifício de interesse arquitectónico.

O edifício que alberga o Armazém do Boi foi construído em 1912 e reconstruído em 1924, ganhando a sua aparência actual. Composto por dois edifícios paralelos com a tipologia de grandes armazéns, foi transformado num espaço expositivo em 2003 e passou a estar sob a égide do Instituto Cultural em 2016.

Volvidos quatro anos de intensas obras de remodelação devido aos riscos de segurança encontrados numa vistoria, causados pelo envelhecimento e degradação da estrutura, o Governo reparou o telhado, paredes externas e internas e sua impermeabilização. Foram executados trabalhos de drenagem e o chão, janelas e portas foram substituídos.

16 Jun 2022

Performances ao vivo e vídeo em destaque na nova edição do MIPAF 

É já amanhã que decorre a nova edição do Festival Internacional de Artes Performativas de Macau (MIPAF, na sigla inglesa), uma iniciativa organizada pelo Armazém do Boi. Ao HM, o curador do evento, Ng Fong Chao, presidente do Armazém do Boi, garantiu que o principal objectivo é “explorar a relação entre a “arte corporal” e a “imagem”. O programa dá ênfase à arte performativa ao vivo, onde o corpo assume um papel primordial. Além do MIPAF decorre em simultâneo o Festival de Vídeo Experimental de Macau (EXiM, na sigla inglesa).

“Vamos mostrar performances ao mesmo tempo que são exibidos vídeos, sendo que os artistas vão poder gerar outro tipo de arte através do seu trabalho”, referiu o responsável.

Entre as 18h e as 20h de amanhã, os espectáculos podem ser vistos no espaço Macau Art Garden, na avenida Dr. Rodrigo Rodrigues, com entrada livre.

Para o cartaz deste ano, foram convidados artistas da China, como é o caso de He Libin e Tang Weichen, de Kunming, Tan Tan, de Wuhan e Long Miaoyuan, de Shenzhen. Todos eles vão apresentar as suas performances elaboradas com base no tema “Image in Body Art”.

“Os artistas terão a liberdade de integrar vídeos nas suas performances. Desta forma, tentámos encontrar artistas com experiência nestas áreas, como é o caso de Tan Tan e Long Miaoyuan.”

O curador acrescentou ainda que “os artistas têm necessidade de trabalhar com a ideia de ‘o que mostrar’ com duas formas artísticas diferentes”. Desta forma, “o público poderá olhar para os trabalhos do MIPAF e os vídeos do EXiM, ter diferentes experiências e interpretá-las de diferentes formas”.

A culpa é da covid

Ng Fong Chao declarou também que o MIPAF sempre quis ter uma vertente internacional e ser uma plataforma para os artistas de todo o mundo revelarem o seu trabalho. Esta é a reacção a uma crítica apresentada pelo ex-deputado Au Kam San, que na página de Facebook do evento disse que não havia quaisquer artistas de fora da China no cartaz.

“Temos tido muita pressão devido à pandemia ao longo destes dois anos. Temos procurado uma melhor altura para nos ligarmos a diferentes países desde o início deste ano, mas os custos em termos de saúde, tempo e recursos são muito altos.”

O curador adiantou que a ocorrência de surtos de covid-19 na China obrigou a organização do festival a dividir o programa em duas partes. Depois da primeira parte do evento, que teve apenas artistas locais, ter acontecido em Dezembro, surge agora a segunda parte.

21 Jan 2022

Armazém do Boi | Nova edição do MIPAF a partir de sábado 

Arranca este sábado a nova edição do Festival Internacional de Artes Performativas de Macau (MIPAF, na sigla inglesa), promovido pelo Armazém do Boi e que conta com a curadoria de Ng Fong Chao, presidente desta associação de cariz cultural.

Além disso, acontece também o Festival de Vídeo Experimental de Macau. Ambos os eventos decorrem no Macau Art Garden, na avenida Dr. Rodrigo Rodrigues. A entrada é livre. As performances do MIPAF acontecem este sábado entre as 18h e 20h e contam com a presença de artistas da China, como He Libin e Tang Weichen, de Kunming, Tan Tan, de Wuhan e Long Miaoyuan, de Shenzhen.

O tema desta iniciativa é “Image in Body Art”. He Libin é arista e curador, trabalhando com artes multidisciplinares. Desde 1997 que tem participado em mais de 100 exposições realizadas em mais de 40 cidades, num total de 14 países.

20 Jan 2022

Armazém do Boi | Exposição de Un Sio San inaugura amanhã

Com o título “There is no There There”, Un Sio San pretende levar as pessoas a repensarem a noção de espaço e ligar Macau ao arquipélago de Svalbard, no Árctico. A exposição inclui poemas, vídeos e fotografias e outros materiais recolhidos pela artista durante um período de residência artistística nas Ilhas da Noruega

 

A mais recente exposição da artista Un Sio San é inaugurada amanhã às 18h30 e vai poder ser vista até 22 de Agosto no Armazém do Boi. Com o título “Não existe ali, ali” (“There is no There There”, em inglês), a poetisa local utiliza não só as palavras, mas também instalações, fotografias e vídeos para repensar a noção de “espaço”, através da desconstrução do ali e da relação entre Macau e as Ilhas de Svalbard, na Noruega.

“Quando visitamos Svalbard e o Árctico pode-se cair na tentação de considerar que é um espaço parado, que não acontece muita coisa, o que é uma ideia errada. Há muita coisa a acontecer”, contou Un Sio San, ao HM. “Essa tentação é mais presente quando vivemos em Macau, uma terra onde a mutação da paisagem urbanística é constante”, continuou. “Mas faço uma ligação entre os dois territórios através do espaço. É este o tema da exposição que convida os interessados a pensar no espaço e no tempo da vida quotidiana”, acrescentou.

E que elementos fazem a ligação entre dois terrenos tão distantes? O aquecimento global é um exemplo. Durante um período de três semanas de residência artística em Svalbard, Un assistiu aos efeitos das alterações climáticas. “É muito chocante ver icebergues com milhares de anos a derreterem. Mostra-nos que o aquecimento global é uma realidade e está a acontecer”, explicou “Nesse aspecto, a ligação com Macau é notória, como podemos assistir com a intensificação dos tufões, como o Hato. Quando pensamos no aquecimento global não existe aqui e ali, o aquecimento global não é algo distante. Vivemos no mesmo mundo e partilhamos o espaço”, justificou.

A ligação não se fica por fenómenos naturais, a destruição do ali é também apresentada com uma componente humana, através da economia global. Este aspecto é apresentado na exposição com a instalação de uma mini loja de conveniência em Macau, mas com produtos de outras zonas, como uma cerveja com sal do mar do Ártico.

Poesia como arte extrema

Com a exposição “There is no There There”, a poetisa Un Sio San opta também por abarcar outros meios de expressão artística, que vão além do texto e das palavras.

Com formação em Literatura Chinesa e Cinema, Un organizou a exposição com a poesia no centro e o vídeo, as instalações e as fotografias como complemento.

A lógica com vários meios foi adoptada para transmitir melhor a mensagem, no entanto, Un acredita que toda a arte pode ser considerada poesia. “Eu acredito na expressão: ‘a fronteira de todas as artes é a poesia’. Quando as artes são levadas ao extremo tornam-se poesia”, defendeu. “A poesia não deve ser vista apenas como um texto, mas como um meio de expressão que assume diferentes formas”, complementou.

19 Jul 2021

Armazém do Boi | Experimentalismo multimédia em exibição até 30 de Maio

Arte performativa, videografia, instalação, fotografia, pintura e tudo o que estiver à mão de Wang Yan Xin pode ser veículo de expressão. Até 30 de Maio, o Armazém do Boi, na Rua Volong, tem exposto “Post-truth: Fool Others As Well As Oneself”, o resultado de um diálogo que Wang manteve com a cidade e consigo próprio durante um mês de residência artística

 

Imagine que Macau é uma mensagem que necessita de interpretação e que o artista é o meio para a exprimir. Wang Yan Xin tem exposto até 30 de Maio a mostra “Post-truth: Fool Others As Well As Oneself”, o resultado da digestão da cidade ao longo da residência artística que fez entre 4 de Abril e 3 de Maio. A mostra espelha a experiência de liberdade expansiva em termos de utilização de diversos meios de expressão artística.

O criador, originário de Lanzhou, capital da província de Gansu, utilizou elementos de videografia, instalação, fotografia, pintura e performance para discutir consigo próprio as possibilidades da criação artística. As obras acabam por ser o resultado da uma série de observações, consciência e admissão de vulnerabilidades e os limites do ego.

A jornada até ao fim da criação levantou questões a Wang Yan Xin, tais como o que faz uma pessoa querer aparentar dureza, e quais as origens do medo e do sentimento de impotência que levam à autocrítica e à autorreflexão. Citado num documento que apresenta “Post-truth: Fool Others As Well As Oneself”, Wang pega asserção perspectivista de Friedrich Nietzsche que estabelece que “não existem factos, apenas interpretações” para concluir que as emoções são mais influentes que a factualidade. Também as mentiras podem ser interpretadas como “um ponto de vista” ou “opinião”, porque “tudo é relativo” e “toda a gente tem a sua própria verdade. Apesar de ser uma abordagem muito actual, Wang admite que este projecto artístico é também uma experiência de reconstrução da verdade sobre ele próprio.

Visão de fora

Em resposta ao HM, a organização do Armazém do Boi refere que Wang interpretou Macau com um olhar de outsider, com a cidade a providenciar-lhe espaço para criar e interagir.

“Em vez de encontrar protagonistas ou actores, ele próprio representa e relaciona-se com o ambiente e com muitos elementos improvisados que lhe surgem pelo caminho”, explica a curadoria da exposição. O resultado é a entrega total, que dá ao público “100% de autenticidade”. Por exemplo, no trabalho “8 Hours of Searching for Death” Wang Yan Xin usou uma câmara GoPro na cabeça, enquanto deambulou pela cidade tirando fotografias de insectos mortos, registando todo o processo de busca com anotações da hora e local do achado.

Outra das obras, “Indelével”, tem como palco os estaleiros de Lai Chi Vun, onde o artista sente as superfícies, polindo e removendo ferrugem de pregos que encontrou no local. Com o pó de ferrugem escreveu a palavra que retrata o desaparecimento de uma indústria marcadamente artesanal.

A elevada exposição que as obras revelam sobre o processo de criação e o criador tocam no cerne da mostra: A verdade enquanto conceito abstracto. Assim sendo, o artista convida o público a descobrir o que é verdade no seu trabalho, julgando e questionando a genuinidade das obras.

13 Mai 2021

Luciano Ho, o escritor e performer que fala do cansaço extremo dos professores 

Luciano Ho foi um dos artistas de Macau que participou na última edição do Festival Internacional de Artes Performativas, organizado pelo Armazém do Boi. Cronista do jornal All About Macau, músico, escritor e performer, Luciano Ho deposita em todas as suas expressões artísticas uma única ideia: as emoções no trabalho, com foco na área do ensino e tendo como base a sua experiência pessoal

 

No chão formam-se linhas, e o corpo vai-se enchendo de folhas até não se poder mexer mais. É esse o sinal de um cansaço extremo, uma metáfora da exaustão mental que muitos docentes sentem no seu trabalho na sala de aula e fora dela e sobre o qual pouco se fala na sociedade de Macau.

É assim o espectáculo protagonizado por Luciano Ho, o artista de Macau que participou na última edição do Festival Internacional de Artes Performativas, organizado pelo Armazém do Boi. Artista multifacetado, Luciano Ho é também cronista do jornal chinês All About Macau, onde escreve sobre esta noção de “emoções no trabalho” e músico.

Licenciado em literatura chinesa em Taiwan, Luciano Ho chegou a dar aulas e foi aí que se deparou com um tema pouco abordado nos dias que correm, apesar de tão real.

“Nestes dois anos tenho vindo a estudar um projecto por mim próprio, tentei escrever artigos, romances e performances para deixar as pessoas conhecer o meu trabalho. Nestes dois anos tenho vindo a estudar sobre o termo emoções no trabalho, sobretudo aplicado aos professores de Macau.”

Luciano Ho considera que as gerações anteriores não entendem a exaustão mental que existe em muitos trabalhos em Macau. “A maior parte dos nossos pais têm um trabalho físico, ou tiveram, nas fábricas ou na construção civil. Os meus pais não sabiam porque é que estava cansado quando era professor, porque só tinha de falar com os alunos. O trabalho mental não pode ser quantificado, mas existe.”

Na opinião do artista, o conceito de emoções no trabalho “aparece em qualquer área do nosso dia-a-dia”. “Não vejo este tema nos jornais ou em qualquer outra área da nossa sociedade. Qualquer professor depois do seu trabalho sente-se muito cansado”, frisou.

Luciano Ho confessou que muitos dos seus amigos se identificaram com o que viram em palco. “Alguns dos meus amigos, que são professores, viram a minha performance e sentiram aquilo que faço, compreenderam. Sentiram-se tocados por aquilo que fiz.”

Novo livro na calha

Além dos estudos na área da literatura, Luciano Ho está a frequentar um mestrado em administração pública na Universidade de São José. Depois de escrever no All About Macau, prepara-se para publicar um novo livro de ficção, intitulado “Classes Do Not Dismiss”, cujo tema central é também as emoções no local de trabalho.

“Quando comecei o meu romance não tinha nenhum plano de o vender, de o transformar em livro. Só queria publicar no All About Macau, ter uma coluna de opinião que servisse de teste ou experiência para o conceito de emoções no trabalho, para que mais pessoas tivessem conhecimento deste termo.”

Luciano Ho não sabe quando vai sair o seu novo livro, mas assume que não é fácil publicar em Macau. “O mercado editorial em Macau é pequeno e é difícil vender, e também chegar ao mercado chinês.  O nosso mercado é muito mais fraco do que o mercado chinês. O mercado editorial em Portugal, por exemplo, é muito diferente do nosso.”

Apesar de apostar na literatura e na performance para abordar a temática da exaustão mental no trabalho, o artista promete apostar noutras formas artísticas para explorar este tema. “Estou satisfeito por poder fazer as minhas performances e talvez use outra forma para mostrar este conceito, como teste”, concluiu.

5 Mar 2021

Armazém do Boi | 15º Festival Internacional de Artes Performativas continua amanhã

Depois de um primeiro evento no último fim-de-semana, o 15º Festival Internacional de Artes Performativas, organizado pelo Armazém do Boi, continua amanhã e sábado no edifício do Antigo Tribunal. Um total de 20 artistas expõem os seus trabalhos num evento que celebra 15 anos de existência. O corpo humano como meio de comunicação é o tema principal de workshops, palestras e exposições

 

O edifício do antigo tribunal recebe, já a partir de amanhã, dia 26, a continuação da 15ª edição do Festival Internacional de Artes Performativas (MIPAF, na sigla inglesa), organizado pelo Armazém do Boi, depois do arranque do evento no passado fim-de-semana.

A edição deste ano marca o 15º aniversário daquele que é um dos eventos mais importantes da associação de cariz cultural. Um total de 20 artistas, oriundos de Macau, Hong Kong, Chongqing ou Shenzhen, entre outras cidades, participam no festival cujo cartaz apresenta workshops, exposições, palestras e performances ao vivo. O programa divide-se em três áreas distintas, “MIPAF Talk”, “MIPAF Live Performance Art” e “MIPAF Fórum”. A curadoria do evento está a cargo de Ng Fong Chao, presidente do Armazém do Boi.

O “corpo humano como um meio de comunicação aberto” é o tema do evento, que se centra “nos elementos do teatro experimental como o tempo (processo/curso), espaço (lugar), ocasionalidade (incerteza) e interactividade (fluidez)”. Esta edição pretende, acima de tudo, “observar e examinar o novo meio ambiente partilhado, com o foco na exploração de ideias únicas e da essência da arte corporal”, explica o Armazém do Boi.

A organização observa ainda que o MIPAF “promove a arte conceptual que se foca na performance individual através do uso do corpo, criada através da integração de técnicas artísticas e formatos que incluem performance, som, instalação, internet, imagens e multimédia”. “Ao misturar vários meios de comunicação, materiais e elementos de uma forma aberta para a apresentação final, traz maior diversidade aos trabalhos, ao mesmo tempo que se desvanecem os limites da criação artística”, acrescenta ainda a organização.

Dois artistas de Macau

O festival teve início no último sábado e domingo, dias 20 e 21, com um workshop no espaço Art Garden. Para amanhã está agendada uma performance ao vivo, no edifício do antigo tribunal, entre as 19h e as 21h. Este espectáculo repete-se no domingo, no mesmo local, mas entre as 15h e as 18h. O evento “Forum” tem lugar no sábado entre às 20h e às 22h, também no edifício do antigo tribunal.

De Macau participam artistas como Luciano Ho e Judy Lei Iok Kuan. Nascida em Macau, Judy Lei Iok Kuan formou-se no Instituto de Artes Plásticas da Universidade Nacional de Tainan. “O foco central do meu trabalho é explorar o interior das pessoas e a sua relação externa com os outros, centrando-me na opressão da vida diária e também nos meus próprios pensamentos sobre a vida”, declarou a artista.

Para Judy Lei, a sua geração “está cheia de violência”, algo que “causa opressão no nosso corpo e na nossa mente”. A artista tem como objectivo, com o seu trabalho, “realizar cenas ficcionais através de performances ao vivo, provocando o público para participar, a fim de ver o que vai acontecer e experimentar os momentos actuais de cada tempo e espaço específico com esse mesmo público”.

Luciano Ho, que também revela o seu trabalho este fim-de-semana, formou-se em literatura chinesa e história na Universidade Nacional Cheng Kung. Mais tarde fez um mestrado em Administração Pública na Universidade de São José. Luciano Ho escreve para o jornal All About Macau sobre temas tão diversos como cinema, teatro e literatura.

As suas atenções viram-se também para a música, uma vez que toca os instrumentos Naamyam e Banhu, associados à cultura cantonense, além de ter tentado aprender saxofone. Neste momento Luciano Ho está a trabalhar num texto de ficção com o nome “Classes Do Not Dismiss”.

A 15º edição do MIPAF conta também com artistas oriundos de algumas cidades da China e também de Hong Kong. Ren Qian, natural de Chongqin, é um deles. Nascido em 1971, Ren Qian formou-se em pintura a óleo em Sichuan, sendo que actualmente trabalha e vive entre as cidades de Chogqin e Nova Iorque.

Desde 1999 que o artista chinês se dedica ao trabalho artístico revelado em diversas plataformas, onde se incluem performances ao vivo, instalação, som e vídeo, sem esquecer a fotografia. O trabalho de Ren Qian também será revelado este fim-de-semana no edifício do antigo tribunal.

Destaque ainda para o trabalho de yuenjie MARU, nascido em Hong Kong. Yuenjie MARU é um bailarino que trabalha sobretudo com a arte do improviso, embora aposte também em outros meios artísticos como o desenho, a escrita, o teatro e a instalação.

A 15ª edição do MIPAF conta também com a participação de Shi Ke, He Libin e Xu Tan, responsáveis pelo trabalho de observação académica.

25 Fev 2021

Armazém do Boi | Shi Wenhua expõe trabalhos em vídeo inspirados na cianotipia

O artista chinês radicado em Boston utiliza técnica de impressão fotográfica do século XIX para produzir imagens em tons de ciano que servem de base a vídeos exploratórios sobre a tecnologia e os novos tempos. Intitulada “Blue on Blue”, a exibição integrada no EXiM 2020, estará patente até 6 de Dezembro

 

[dropcap]H[/dropcap]á tons de azul que o próprio azul parece desconhecer. Pelo menos para Shi Wenhua, artista da diáspora chinesa radicado em Boston, onde é professor na Universidade de Massachusetts. Inaugurada na passada sexta-feira no Armazém do Boi, “Blue on Blue” é uma exposição integrada no Festival de Vídeo Experimental de Macau (EXiM 2020), onde o artista propõe uma abordagem poética às suas criações em vídeo, baseadas em imagens produzidas através de uma técnica impressão fotográfica em tons de azul, chamada cianotipia.

Através desta técnica descoberta no século XIX e que permitia reproduzir, em tons de ciano, fotografias de forma pouco dispendiosa e cópias de projectos, também conhecidas como blueprints, a obra de Shi exposta no Armazém do Boi resulta da reprodução sequencial de várias capturas, frame a frame, que pretendem levar a audiência numa viagem, não só sensorial, mas também retrospectiva da própria utilização dos média. Do palpável ao menos palpável, que é como quem diz, da imagem fixa ao vídeo projectado e distorcido, impossível de agarrar.

“Neste trabalho, o artista pretende levar o público numa viagem no tempo, que vai desde os ‘memes’, largamente massificados nos dias que correm, até ao centenário período da cianotipia, passando pela animação fotográfica e o vídeo em alta definição. Essencialmente, podemos assistir aqui a uma viagem retrospectiva sobre o desenvolvimento da imagem, onde os meios não materiais são transformados em imagens tangíveis, em papel, através de ferricianeto de potássio e efeitos de raios ultravioleta”, descreve Bianca Lei, curadora da exposição, através de uma nota oficial.

Exemplo disso é a instalação “Point of No Return”, criada a partir de três canais vídeo e um processador electrónico, que tem como missão distorcer o conteúdo audiovisual original em “linhas e padrões abstractos”.

De acordo com a curadoria, a obra em o condão de nos mostrar que “a tecnologia está a conduzir-nos para um novo e enigmático mundo”.

Pontos de vista

Procurando chamar a atenção para os problemas colocados pelo rápido desenvolvimento urbano, Shi Wenhua apostou também na irreverência do ponto de vista a partir do qual as imagens da obra “Water Walk” foram captadas. Isto porque, de visita ao Lago Este de Wuhan, o artista resolveu fixar duas câmaras aos remos de um barco para, ao ritmo padronizado do seu movimento, captar imagens dentro e fora de água daquela região, outrora povoada por montanhas e agora pejada de construções em altura.

“A paisagem que aparece no vídeo contrasta brutalmente com a imagem descrita na canção que acompanha a obra e que faz parte da infância do artista. Esta obra foi gravada com duas câmaras GoPro agarradas aos remos do barco, enquanto este se move no Lago Este de Wuhan (…), criando quase que um padrão respiratório na audiência, através da alternância de imagens captadas dentro e fora de água, repetidamente”, aponta Bianca Lei.

“Blue on Blue” estará patente no Armazém do Boi até ao dia 6 de Dezembro, de terça-feira a domingo, entre as 12h e as 19h. A entrada é livre.

26 Out 2020

Armazém do Boi | Novos criadores podem enviar propostas de exposições

O Armazém do Boi está a receber propostas de jovens artistas para realizar exposições no próximo ano. A nova geração de criadores locais terá as salas do Armazém do Boi para expor novas ideias e conceitos artísticos. As candidaturas podem ser submetidas até ao fim do mês

 

[dropcap]A[/dropcap]s revoluções artísticas, mudanças de paradigmas e conceitos, nascem normalmente da emergência de uma nova geração, de novo sangue, com diferentes ideias de contemporaneidade, reflectindo vivências invisíveis à percepção dos progenitores. O Armazém do Boi quer captar essa frescura criativa e conceptual e materializa-la em exposições, num programa que encha a temporada artística de 2021. Essa é a ideia de Innovate G, “a iniciativa organizada pelo Armazém do Boi para apoiar a nova geração de jovens e emergentes artistas de Macau”, refere a organização em comunicado.

Assim sendo, o Armazém do Boi prontifica-se a colocar à disposição o seu espaço e o total apoio de curadoria e a servir de plataforma “para quem queira expressar novas ideias e novas formas”, num convite aberto para expor no ano que vem.

Os novos projectos podem ser para exposições individuais ou colectivas, a realizar entre Fevereiro e Dezembro de 2021. Cada mostra terá um período de exibição de quatro semanas. O período de candidatura vai estar aberto até ao dia 31 de Julho.

Os artistas vão ter três dias para montar os seus trabalhos no espaço do Armazém do Boi antes do dia da inauguração e, da mesma forma, outros três dias para desmontar. No caso de ser necessário mais tempo, ou de se desejar um período de exibição específico, a organização exige que esses detalhes sejam especificados na candidatura.

Regras do jogo

Além de ideias frescas, os candidatos devem ter, pelo menos, 18 anos e as obras submetidas têm de ter menos de três anos desde a sua concepção. Como é natural, os artistas precisam ter a totalidade dos direitos de autor sobre as obras submetidas e assinar uma declaração que garanta que os trabalhos são originais. Qualquer violação das regras de direitos autorais resulta na desqualificação da candidatura.

No que ao conteúdo diz respeito, o Armazém do Boi ter como propósito encorajar a expressão de novas ideias através de formatos originais, não impondo qualquer limite ao meio ou género de expressão artística.

Além da proposta da exposição, os candidatos precisam entregar um programa e introdução ao tema e conteúdo dos trabalhos.

De resto, o Armazém do Boi será responsável pela assistência na montagem da exposição, pela sua promoção e publicidade, assim como pelos materiais usados nas criações, ficando o artista obrigado a ceder os direitos de imagem para material promocional.

14 Jul 2020

Armazém do boi | Trabalhos de Dennis Wong e Xiaoqiao Li em exposição a partir de 2 de Junho

[dropcap]O[/dropcap] Armazém do Boi prepara-se para receber duas exposições de dois artistas residentes, intituladas “Eerie Scenery”, do fotógrafo de Hong Kong Dennis Wong, e “Journey-Memory-Fragment”, do artista multimédia Xiaoqiao Li. A inauguração das duas mostras acontece a 2 de Junho.

No caso de Dennis Wong Chun-keung, será exposto um trabalho de fotografias tiradas essencialmente a “estranhos, vagabundos, na zona de Sham Shui Po e imagens de corpos humanos”, descreve um comunicado do Armazém do Boi. “Muitas vezes as suas fotografias levam-nos a um jogo de adivinhação, e quanto mais olhamos para elas, mais dúvidas encontramos. As conexões lógicas demoram tempo a encontrar-se e as ‘pessoas’ que surgem nas imagens são peças intrigantes das crónicas da vida contemporânea”, acrescenta a mesma nota.

Como parte da série de exposições intitulada “Art-City-People” surge a mostra “Journey-Memory-Fragment”, do artista multimédia Xiaoqiao Li. Este encontra-se a fazer o doutoramento em artes visuais na Universidade Baptista de Hong Kong e apresenta agora uma exposição em nome próprio composta por vídeos, fotografia, jogos interactivos e trabalhos impressos a três dimensões. A parte multimédia desta exposição pode ser vista no primeiro e segundo andar do pequeno edifício que alberga o Armazém do Boi.

Tempo e espaço

O trabalho de Xiaoqiao Li pretende revelar ou quebrar com as limitações da arte a duas dimensões. Esta ideia reflecte-se quando o artista decide combinar a fotografia com impressões a três dimensões numa reconstituição de fragmentos, sendo este um “trabalho experimental elevado à lógica da impressão e da sintaxe”. “Num outro trabalho, ‘Fragment-Don’t clear’, o jogo instalado permite ao artista uma forma alternativa de comunicar através da aplicação digital, num estudo em como as imagens se manifestam no tempo e no espaço”, acrescenta o mesmo comunicado.

Estas exposições contam com o apoio da Fundação Macau e podem ser vistas até ao dia 12 de Julho. Trata-se da segunda mostra do Armazém do Boi desde que a associação se viu obrigada a fechar portas devido à pandemia da covid-19. Oscar Cheong, colaborador do espaço, disse ao HM que as coisas voltaram à normalidade com algumas mudanças.

“Temos vindo a fazer um novo agendamento dos projectos e mantemos o funcionamento da nossa associação com um ambiente seguro. Tivemos o nosso espaço encerrado até meados de Fevereiro e garantimos que todo o espaço é esterilizado para visitas do público.”

O facto de Macau ter ainda poucos turistas não é sinónimo para que a arte não aconteça. “Não temos muitos visitantes por dia, mas isso não significa que tenhamos de fechar portas e pôr um fim às nossas tarefas normais. Temos alguma responsabilidade para proporcionar ao público alguma experiência cultural neste período”, frisou Oscar Cheong.

25 Mai 2020

Wonderland | MJ Lee e Maing Hee Won, artistas: No país das bizarrias

Aberta aos olhos dos visitantes até ao próximo dia 24 de Maio no Armazém do Boi, Wonderland é uma exposição que parte em busca do lado oculto e menos óbvio de Macau. Nas mesmas ruas, religião e superstição convivem cordialmente com prostituição disfarçada. O enquadramento é oferecido pela obra das sul-coreanas MJ Lee e Maing Hee Won, onde a lama, os néons e a mitologia grega albergam os paradoxos de uma cidade próspera, mas rebuscada. Boa sorte

 

 

[dropcap]D[/dropcap]e que forma Macau e as suas camadas serviram de base para materializar as obras que podemos ver em Wonderland?

MJ Lee: Como residente de Macau e esposa de um macaense é interessante observar o estilo de vida do meu marido, metade português e metade chinês. Vamos à missa no dia de Natal e aos templos para rezar durante o ano novo chinês e isso acaba por ser, de certa forma, bizarro. Eu cresci como cristã, onde rezar a outro Deus é quase insultuoso. Mas em Macau, no geral, não sinto esse peso e o culto acaba quase por assumir uma perspectiva mais cultural do que religiosa e por isso, as pessoas têm prazer em ir rezar em família aos templos ou numa missa. É complicado e bizarro e é o que sinto em relação a esta cidade. Por exemplo, junto às ruínas de São Paulo existe um templo, algo que seria impossível na Coreia do Sul, porque aqui as religiões e as culturas têm coexistido de forma pacífica há mais de 500 anos e é bonito que assim seja.

Maing Hee Won: Acho que me foquei num ponto muito mais específico dessas camadas que todos sabemos que existem em Macau. A mistura de culturas é muito interessante, mas sempre me atraiu mais o negócio dos casinos. Fico sempre à espera de encontrar algo mais parecido com Las Vegas. Quando vi pela primeira vez os grandes hotéis, deu-me a sensação de estar num enorme parque de diversões e fiquei com muita vontade de entrar. Mas quando entrei senti que era muito pouco interessante. É tudo igual, o Venetian, o Parisian… todos os hotéis parecem ser o mesmo lugar por dentro e não há muito para ver. Por isso, continuei a pensar o que faz de Macau um lugar único, ou seja, que tipo de cenários resultam do negócio gerado em torno dos casinos. Continuei a questionar-me sobre isto e deparei-me finalmente com as saunas que têm aqui características únicas.

Como decidem por onde começar a trabalhar um determinado tema e como surgiu a ideia da exposição?

ML: Por estar há muito tempo fascinada com o estilo de vida das pessoas de Macau, tentei imaginar de que forma poderia mostrar a minha perspectiva, ou seja, as emoções que sinto quando testemunho a ligação que as pessoas têm com os rituais religiosos. Por isso, dei por mim a pensar qual seria a melhor forma de criar algo que transmitisse, simultaneamente, este tipo de sentimento bizarro e a minha crença de que nada é permanente. Quando pensámos numa exposição chamada Wonderland [País das Maravilhas], decidimos que íamos fazer algo, lá está, bizarro, mas próspero e ao mesmo tempo instável, quase como que uma ilusão. Esta exposição foca-se nas contradições e no carácter irónico de Macau. No entanto, acho que as pessoas de Macau não sentem esta cidade tão bizarra como eu, talvez porque cresceram aqui. Mas agora, mesmo esse lado mais oculto faz parte do ar que respiram.

MHW: Normalmente começo por algo que me faz ficar zangada. Acho que o principal sentimento que associo ao meu trabalho é a raiva. Sinto que perante a sociedade, e porque persigo a feminilidade, tenho de agir de determinada forma. Isso faz-me continuar a questionar a sociedade e a mim própria. Gosto de coisas bonitas, mas não sei se é um gosto pessoal ou um outro que fui forçada a adquirir. Na verdade, acho que é algo que vem de fora e por isso pergunto-me sempre quem é e de onde vem essa força que decide sobre o que é o sentido estético. Quando me deparei com as saunas de Macau, não posso dizer que senti raiva, mas fez-me lembrar que a sociedade continua a ser dominada por uma perspectiva masculina sob vários aspectos, apesar de considerar que actualmente existe bastante igualdade entre géneros.

O que pode simbolizar um santuário que mistura elementos tão diferentes como a argila, ouro e uma televisão?

MJ Lee: Gosto das emoções que resultam da colisão entre materiais heterogéneos e essa combinação transforma-se em algo estranho. Quando vejo figuras religiosas ou estátuas de porcelana nas ruas de uma cidade cosmopolita como Macau, fico sempre com a sensação de serem apenas decorativas e desprovidas de significado. Gosto das emoções que resultam da mistura de materiais diferentes e até lhes poderia atribuir algum significado, mas acho que assim estaria a limitar a imaginação de quem vê as obras. O meu objectivo era fazer combinações bizarras e focar-me na materialidade e não tanto no significado. A fragilidade é outros dos pontos principais do meu trabalho. Na obra que fiz podemos ver um objecto de barro que aos poucos se vai desfazendo na água. Eu própria quando fiz a instalação tive medo que a televisão fosse cair devido ao seu peso e à instabilidade do material que a suporta. Queria criar algo capaz de provocar ansiedade às pessoas quando vissem estes materiais, que não são propriamente estáveis ou sólidos.

Nos dias que correm, marcados pela pandemia, que papel podem ter as superstições e as crenças religiosas?

MJ Lee: Acho que a crise da covid-19 tornou mais clara a forma como vejo o mundo, ou seja, nada é para sempre. Estamos a testemunhar a destruição da civilização tal como a conhecemos e a forma como de um momento para o outro se instalou o caos, com enormes perdas económicas e humanas. Isto tudo faz-me pensar que, na vida, não existe nada que valha a pena adorar ou que nos faça ficar obcecados. As superstições não podem ajudar a acabar com este incidente, certo? Acho que, neste momento, há cada vez mais pessoas a deixar de acreditar na religião e não nos podemos esquecer que ela também faz parte da civilização e que foi criada por pessoas. Uma vez perguntaram ao Dalai Lama se seria possível travar o aquecimento global e os problemas inerentes a essa questão. Ele respondeu que o planeta também reencarna e que tal como todos nós nasceu e um dia vai morrer. Ou seja, é impossível impedir a destruição do mundo. Temos de aceitar este tipo de mudanças e desastres. No final, vamos acabar todos por ser apenas uma porção de poeira sem importância. É isto que quero transmitir com a minha obra. É obscuro e triste, mas acho que é precisamente isso que fundamenta a existência humana.

Se tudo é assim tão ténue, o que devemos procurar ao longo da vida?

ML: Não sei a resposta. Como artista, penso que é importante colocar as questões às pessoas, mas não lhes dar as respostas. Temos de continuar a questionarmo-nos e tentar perceber o que realmente importa na vida. Pode ser diferente de pessoa para pessoa, mas para mim o que é importante é o sentimento que tiramos de cada momento. Não é uma coisa física, é algo que pode ser desmaterializado. Por exemplo, quando as pessoas têm experiências de quase morte elas vêem apenas momentos importantes das suas vidas. O meu pai experienciou este tipo de sensação e contou-me que foi quase como um filme, em que viu momentos da sua vida em catadupa. Por isso, o que ele viu talvez seja o que realmente importa para ele. Para mim, cada momento é muito importante.

Que equação é esta capaz de ligar a mitologia grega e o Renascimento ao submundo das saunas de Macau?

MHW: Os mitos gregos e os clássicos são uma ferramenta que uso para dar mais força às minhas imagens, inspiradas nas personagens do Manga japonês. Normalmente a principal estética das mulheres do Manga japonês fixa-se na imagem da juventude. São raparigas com cara de bebé, olhos enormes, bochechas gigantes, narizes pequenos, mas de corpo amadurecido, seios enormes e tudo aquilo que possamos desejar. É possível encontrar uma ligação entre essa estética, o ideal de beleza do Renascimento e as deusas dos mitos gregos. Todos os estes elementos transportam-nos para a existência de um desejo comum. A partir daí, transformar estes objectos de desejo em formas de arte clássicas, de certa forma recatadas e alinhadas em série numa linha sem fim à vista, foi a forma que arranjei para pôr a nu esse paradoxo. No final da linha onde estão expostas todas as mulheres, tal como acontece nas saunas de Macau, surge a figura de Vénus inspirada na obra de Botticelli [Nascimento de Vénus], como símbolo de algo precioso e elevado. Desenhei-a ao estilo do Manga japonês, mas na sua vertente pornográfica. Na minha obra, Vénus não tem nada a esconder e apresenta-se de forma erótica. Perante isto, questiono-me sobre se uma deusa como Vénus pode, ao mesmo tempo, ser reduzida a um objecto de desejo e ser contemplada, sem qualquer tipo de perversão.

O que pensa do negócio da prostituição em Macau?

MHW: Às vezes sinto raiva, mas não fico particularmente zangada em relação a este negócio. Há mulheres que lucram com a prostituição e querem fazê-lo porque conseguem ganhar muito dinheiro e esse dinheiro faz com que muitas mulheres de diferentes países venham parar a Macau. No entanto, é um negócio feito às escondidas. Actualmente o poder que as mulheres detêm na sociedade está a crescer e por isso acho que é natural que ainda haja algum sigilo, mas também significa que vivemos numa sociedade dominada por homens. Os homens querem que este negócio exista para que possam continuar a sentir-se como os imperadores que existiam noutros tempos.

Então qual é a solução?

MHW: Acho que não há solução. Porque tal como referi na minha obra, esta é uma questão que vai continuar a existir para sempre. Por outro lado, se a prostituição fosse legalizada talvez pudessem existir ambientes seguros e justos.

Quando pensam em executar uma obra, existe a preocupação de mudar mentalidades?

ML: Acho que a arte é uma boa plataforma para servir de escape para as pessoas contactarem com diferentes perspectivas, por isso, através dela podemos colocar essas questões às pessoas. Quando as pessoas têm uma vida ocupada não têm tempo para se questionarem, mas a arte é uma boa plataforma para trazer à ribalta algumas dúvidas sobre a vida. Acho que é por isso que a arte existe, porque nós artistas somos em menor número e estamos sempre a duvidar de alguma coisa e não estamos inseridos no funcionamento normal da sociedade.

MHW: Sou uma pessoa muito sarcástica. Acho que a arte não tem a capacidade para mudar o mundo, mas pode ser quase como uma guloseima. Às vezes podemos dar uma trincadela num rebuçado estranho e picante. Acho que a arte pode acordar as pessoas e fazer barulho, mas acho que não pode mudar o mundo e a sociedade.

5 Mai 2020

Armazém do Boi | “Women in a Foreign Land – a Saiyin Project” até 17 de Maio 

[dropcap]O[/dropcap] espaço cultural Armazém do Boi apresenta ao público, até 17 de Maio, a exposição “Women in a Foreign Land – a Saiyin Project”, uma iniciativa desenvolvida ao abrigo das residências artísticas na Rua do Volong. Neste projecto, da autoria de Sai Yin, artista de Zhuhai, participaram Gong Siyue, curador do Rockbund Art Museum e Shi Hantao, académico, além de Noah Ng, presidente do Armazém do Boi.

A história de mulheres divorciadas em Macau serve de base ao projecto artístico, mas, como aponta um comunicado do Armazém do Boi, “o artista não conta as suas histórias”. “Terminada a sua licenciatura na universidade, Tatiana, uma mulher portuguesa, veio para Macau para ter uma relação. Mais de uma década depois, a relação chegou ao fim e ela gradualmente apaixonou-se pela cidade e decidiu ficar por aqui.”

O projecto revela também a história de Amy, chinesa de Guizhou, que é “mais complicada”. A protagonista, uma mulher sem estudos, decidiu acompanhar, aos 20 anos de idade, um amigo numa aventura que a levaria a trabalhar na província de Guangdong. Contudo, as voltas que a vida dá, à mistura com a desonestidade do amigo, fizeram com que se visse divorciada e com dois filhos.

“Enquanto divorciada tornou-se promotora de vendas e empregada de mesa, aceitando todo o tipo de trabalhos para criar os filhos, até que conheceu o actual marido que a trouxe para Macau.”

Estas narrativas são contadas através de trabalhos áudio e vídeo, enquanto que as imagens descrevem situações do dia-a-dia, tentando contar as histórias destas “estranhas” numa “cidade que cresce rapidamente”.

24 Mar 2020

Armazém do Boi | Residência artística focada na imigração

[dropcap]É[/dropcap] inaugurada na próxima sexta-feira, no espaço do Armazém do Boi, a exposição do programa de residência artística “Women in a Foreign Land – a Saiyin Project”. A mostra vai estar patente até 17 de Maio. É a primeira exposição deste ano no espaço, tendo o convite sido feito a um artista pós-1995.
Neste programa, Saiyin foca-se em assuntos identitários e de imigração, com o seu trabalho a desenvolver-se em volta das histórias de duas mulheres que emigraram respectivamente da China Continental e de Portugal para Macau. De acordo com o comunicado do Armazém do Boi, a exposição abrange vídeo, fotografia e trabalhos de áudio, que incluem narrativas pessoais e referências aos espaços da vida diária das mulheres, explorando o dia a dia e as vidas amorosas destas pessoas. A mostra tem entrada gratuita.
O artista vive e trabalha em Macau e Zhuhai, trabalhando com diferentes estilos, passando pela fotografia, vídeo, pintura a óleo, design gráfico e escrita. A nota explica que os seus trabalhos se focam em “explorar formas de exprimir amor e relacionamentos frágeis presentes” interligados com a sua vida. Tem como inspiração experiências diárias e reflexões sobre o tempo.

16 Mar 2020

Armazém do Boi | Residência artística focada na imigração

[dropcap]É[/dropcap] inaugurada na próxima sexta-feira, no espaço do Armazém do Boi, a exposição do programa de residência artística “Women in a Foreign Land – a Saiyin Project”. A mostra vai estar patente até 17 de Maio. É a primeira exposição deste ano no espaço, tendo o convite sido feito a um artista pós-1995.

Neste programa, Saiyin foca-se em assuntos identitários e de imigração, com o seu trabalho a desenvolver-se em volta das histórias de duas mulheres que emigraram respectivamente da China Continental e de Portugal para Macau. De acordo com o comunicado do Armazém do Boi, a exposição abrange vídeo, fotografia e trabalhos de áudio, que incluem narrativas pessoais e referências aos espaços da vida diária das mulheres, explorando o dia a dia e as vidas amorosas destas pessoas. A mostra tem entrada gratuita.

O artista vive e trabalha em Macau e Zhuhai, trabalhando com diferentes estilos, passando pela fotografia, vídeo, pintura a óleo, design gráfico e escrita. A nota explica que os seus trabalhos se focam em “explorar formas de exprimir amor e relacionamentos frágeis presentes” interligados com a sua vida. Tem como inspiração experiências diárias e reflexões sobre o tempo.

16 Mar 2020

Armazém do Boi | Residência artística de Yingmei Duan a 1 de Novembro

[dropcap]A[/dropcap] agenda cultural do Armazém do Boi prossegue esta semana com uma nova exposição fruto de uma residência artística de Yingmei Duan. A mostra será inaugurada esta sexta-feira, 1 de Novembro, e tem como nome “Yingmei Curious”, com trabalhos que são resultado da curiosidade natural da artista em relação a Macau.
De acordo com uma nota oficial do Armazém do Boi, “para Yingmei Duan, Macau seria o local perfeito para iniciar uma conversa mais íntima”, uma vez que o território “despertou imenso a curiosidade da artista por ser tão pequeno, e dada essa pequena dimensão seria ideal para uma comunicação efectiva”.
Desta forma, a residência artística no Armazém do Boi proporciona à artista, nascida na China, “a oportunidade de falar com pessoas oriundas de todas as camadas sociais, com aquelas que trabalham no sector criativo ou na indústria do jogo, dos macaenses aos pescadores”.
Esta mostra de arte performativa interdisciplinar “reúne a artista com o seu público”, sendo que o resultado final deste trabalho “está aberto a todas as interpretações”. “Uma vez que Macau despertou tanto a curiosidade de Yingmei, que tipo de perguntas vai inspirar?”, questiona o Armazém do Boi.
Nascida em 1969, na cidade de Daqing, província de Heilongjiang, Yingmei Duan formou-se, em 1989, na Northeast Petroleum University, na China, tendo começado a sua carreira em 1991. Mais tarde faria estudos na área da pintura mural e a óleo, desenho e escultura na Central Academy of Fine Arts e Central Academy of Art and Design, também na China. Desde 1998 que Yingmei Duan trabalha como freelancer em Pequim. A exposição poderá ser visitada até ao dia 22 de Dezembro.

28 Out 2019

Armazém do Boi | Residência artística de Yingmei Duan a 1 de Novembro

[dropcap]A[/dropcap] agenda cultural do Armazém do Boi prossegue esta semana com uma nova exposição fruto de uma residência artística de Yingmei Duan. A mostra será inaugurada esta sexta-feira, 1 de Novembro, e tem como nome “Yingmei Curious”, com trabalhos que são resultado da curiosidade natural da artista em relação a Macau.

De acordo com uma nota oficial do Armazém do Boi, “para Yingmei Duan, Macau seria o local perfeito para iniciar uma conversa mais íntima”, uma vez que o território “despertou imenso a curiosidade da artista por ser tão pequeno, e dada essa pequena dimensão seria ideal para uma comunicação efectiva”.

Desta forma, a residência artística no Armazém do Boi proporciona à artista, nascida na China, “a oportunidade de falar com pessoas oriundas de todas as camadas sociais, com aquelas que trabalham no sector criativo ou na indústria do jogo, dos macaenses aos pescadores”.

Esta mostra de arte performativa interdisciplinar “reúne a artista com o seu público”, sendo que o resultado final deste trabalho “está aberto a todas as interpretações”. “Uma vez que Macau despertou tanto a curiosidade de Yingmei, que tipo de perguntas vai inspirar?”, questiona o Armazém do Boi.

Nascida em 1969, na cidade de Daqing, província de Heilongjiang, Yingmei Duan formou-se, em 1989, na Northeast Petroleum University, na China, tendo começado a sua carreira em 1991. Mais tarde faria estudos na área da pintura mural e a óleo, desenho e escultura na Central Academy of Fine Arts e Central Academy of Art and Design, também na China. Desde 1998 que Yingmei Duan trabalha como freelancer em Pequim. A exposição poderá ser visitada até ao dia 22 de Dezembro.

28 Out 2019

Armazém do Boi | Festival Internacional de Artes Performativas este fim-de-semana

Decorre este fim-de-semana o Festival Internacional de Artes Performativas no Armazém do Boi que tem como tema “Poemas Sem Título”. Mais de uma dezena de artistas, oriundos da China, Europa e América Latina, vão mostrar o seu trabalho durante três dias numa tentativa de revelar um pluralismo ao nível das artes plásticas, sempre com a humanidade como tema central

 
[dropcap]A[/dropcap]quele que é considerado um dos maiores eventos anuais do Armazém do Boi acontece este fim-de-semana, entre 18 e 20 de Outubro. O Festival Internacional de Artes Performativas (MIPAF, na sigla inglesa) contém um cartaz com 18 artistas vindos de países tão diferentes como a China, Suíça ou Chile, que vão revelar o seu trabalho lado a lado com artistas de Macau.
A exposição, intitulada “Poemas Sem Título”, tem como objectivo “adoptar a troca de abordagens artísticas com uma manifestação de distintas personalidades”. “É objectivo do MIPAF revelar uma nova geração de artistas, com os seus personagens idiossincráticas e disposições para as práticas criativas”, acrescenta a mesma nota.
A curadoria desta mostra está a cargo de Noah Ng, que seleccionou trabalhos que resultam de “diálogos multifacetados que invocam transformações culturais, teorias sociais realizadas de forma dinâmica, psico-análise e ecologia política”. A diversidade cultural dos artistas visa levar o público a estimular a imaginação, graças às “profundas preocupações sobre a humanidade” reveladas pelos trabalhos expostos.

Humanidade em foco

Na mesma nota, os promotores do MIPAF esclarecem que a humanidade é o tema central destes trabalhos, com uma ligação à poesia chinesa tradicional. “A poesia chinesa tradicional enfatiza a verdadeira essência da literatura clássica, e numa nota curiosa alguns poemas foram deixados ‘sem título’. Os trabalhos ‘sem título’ podem indicar que é melhor deixar algumas coisas sem nome, ou significa que o seu autor não quis contextualizar o que viu, ao revelar o tema da poesia. Deixar algo por dizer pode ser uma poderosa ferramenta.”
“Poemas Sem Título” é, acima de tudo, uma mostra que visa apresentar “uma visão compreensiva de trabalhos regionais e internacionais ligados a questões humanitárias”.
As performances podem ser vistas esta sexta-feira, entre as 19h00 e 22h00, sábado, entre as 14h00 e as 18h00, e domingo das 13h00 às 20h00. A entrada é gratuita. Além dos artistas individuais, o Armazém do Boi vai também contar com a presença do colectivo PRINZpod, oriundo da Áustria, composto pelos artistas Brigitte Podgorschek e Wolfgang Podgorschek. Do Chile chega o projecto DEFORMES, com Gonzalo Rabanal, Valeria León Ibánez e Teresa Catalina Varas Reyes.
O Armazém do Boi conta com o apoio da Fundação Macau para esta iniciativa, além de outras entidades internacionais.

17 Out 2019

Armazém do Boi | Festival Internacional de Artes Performativas este fim-de-semana

Decorre este fim-de-semana o Festival Internacional de Artes Performativas no Armazém do Boi que tem como tema “Poemas Sem Título”. Mais de uma dezena de artistas, oriundos da China, Europa e América Latina, vão mostrar o seu trabalho durante três dias numa tentativa de revelar um pluralismo ao nível das artes plásticas, sempre com a humanidade como tema central

 

[dropcap]A[/dropcap]quele que é considerado um dos maiores eventos anuais do Armazém do Boi acontece este fim-de-semana, entre 18 e 20 de Outubro. O Festival Internacional de Artes Performativas (MIPAF, na sigla inglesa) contém um cartaz com 18 artistas vindos de países tão diferentes como a China, Suíça ou Chile, que vão revelar o seu trabalho lado a lado com artistas de Macau.

A exposição, intitulada “Poemas Sem Título”, tem como objectivo “adoptar a troca de abordagens artísticas com uma manifestação de distintas personalidades”. “É objectivo do MIPAF revelar uma nova geração de artistas, com os seus personagens idiossincráticas e disposições para as práticas criativas”, acrescenta a mesma nota.

A curadoria desta mostra está a cargo de Noah Ng, que seleccionou trabalhos que resultam de “diálogos multifacetados que invocam transformações culturais, teorias sociais realizadas de forma dinâmica, psico-análise e ecologia política”. A diversidade cultural dos artistas visa levar o público a estimular a imaginação, graças às “profundas preocupações sobre a humanidade” reveladas pelos trabalhos expostos.

Humanidade em foco

Na mesma nota, os promotores do MIPAF esclarecem que a humanidade é o tema central destes trabalhos, com uma ligação à poesia chinesa tradicional. “A poesia chinesa tradicional enfatiza a verdadeira essência da literatura clássica, e numa nota curiosa alguns poemas foram deixados ‘sem título’. Os trabalhos ‘sem título’ podem indicar que é melhor deixar algumas coisas sem nome, ou significa que o seu autor não quis contextualizar o que viu, ao revelar o tema da poesia. Deixar algo por dizer pode ser uma poderosa ferramenta.”

“Poemas Sem Título” é, acima de tudo, uma mostra que visa apresentar “uma visão compreensiva de trabalhos regionais e internacionais ligados a questões humanitárias”.

As performances podem ser vistas esta sexta-feira, entre as 19h00 e 22h00, sábado, entre as 14h00 e as 18h00, e domingo das 13h00 às 20h00. A entrada é gratuita. Além dos artistas individuais, o Armazém do Boi vai também contar com a presença do colectivo PRINZpod, oriundo da Áustria, composto pelos artistas Brigitte Podgorschek e Wolfgang Podgorschek. Do Chile chega o projecto DEFORMES, com Gonzalo Rabanal, Valeria León Ibánez e Teresa Catalina Varas Reyes.

O Armazém do Boi conta com o apoio da Fundação Macau para esta iniciativa, além de outras entidades internacionais.

17 Out 2019

Exposição | Armazém do Boi organiza retrospectiva com artistas do Delta 

[dropcap]C[/dropcap]hama-se “Fluxos Ardentes – Retrospectiva de Artes do Delta do Rio das Pérolas em Macau” e é a nova exposição que estará patente no Armazém do Boi a partir do dia 23 deste mês até ao dia 13 de Outubro. Esta mostra parte de uma parceria com a Academia de Belas-Artes do Museu de Arte de Guangzhou e conta com curadoria de Hu Bin, director do museu, e Noah Ng, presidente do Armazém do Boi.

De acordo com um comunicado, o principal objectivo desta mostra é “olhar para o meteórico progresso do Delta do Rio das Pérolas em termos de urbanização e fenómeno cultural com um dualismo considerável”. Neste contexto, a exposição nasce de parcerias já antes estabelecidas, onde é feito um escrutínio daquilo que tem vindo a ser realizado nas cidades que compõem esta zona “nas mais diversas comunidades criativas, colectividades e instituições”.

Ao longo dos tempos “tem vindo a ser estabelecida uma forte ligação na esperança de estimular uma ecologia não ortodoxa e práticas artísticas”. Em 2016 foi feita uma exposição semelhante onde se revelaram trabalhos de nove artistas.

Três anos depois da segunda edição da exposição, a “Hot Flows” volta a mostrar nove artistas que prometem mostrar a sua “trajectória de integração num modelo orientado para a comunidade no contexto do Delta do Rio das Pérolas”, onde a questão ambiental desempenha um importante papel.

A exposição conta com artistas como Fong Fo, Xi San Chorus, Luwei HD e Jin Society, entre outros, incluindo os grupos Macau Comuna de Pedra e Soda City Experimental Workshop. A mostra vai estar patente na Rua do Volong, 15 e conta com os apoios do Instituto Cultural e Fundação Macau.

13 Ago 2019

Armazém do Boi mostra cartazes de artista francesa

Se quisesse manifestar-se neste momento através de palavras escritas num cartaz, o que teria para dizer sobre o mundo? Foi a proposta lançada por Delphine Richer, a artista que assina a exposição “Insight”, patente no Armazém do Boi até 18 de Agosto

 

[dropcap]I[/dropcap]nsight” é a exposição individual de Delphine Richer, artista residente do Armazém do Boi, que está patente na galeria da Rua do Volong até ao dia 18 de Agosto. Trata-se de uma tentativa de reunir visões, introspecções, pensamentos ou impressões em relação ao que nos preocupa no mundo, seja lá o que for.

“Nós podemos sentir que o mundo é instável com tantos desafios à nossa volta, o que para artista francesa Delphine Richer parece inspirar pensamentos e questões que ela colocou em “Insight”. Neste mundo globalizado, conseguimos aceder de forma instantânea a toda a informação do planeta, através da internet e das redes sociais. As nossas ideias são atravessadas e fundidas neste mundo digital, onde informação objectiva e “fake news” se cruzam e misturam quase numa só”, contextualiza o curador da exposição.

Como refere a artista, “num mundo com um incrível poder de comunicação, combinado com uma notável poluição mediática, nós vivemos aprisionados dentro de um volátil e violento tufão de informação”. Delphine Richer é uma artista visual francesa que tem trabalhado com performances visuais, instalações, vídeos, fotografia e som, em diversos media. A própria revela, na sua página web, que “o meu trabalho é principalmente contextual”, e que as situações que se propõe desenvolver “são frequentemente as intrigas, os pretextos que desencadeiam a acção, a mudança, o jogo, a comunicação”.

“Insight” é uma exposição de intervenção, de demonstração e de comunicação através da arte, com frases diversas em placas, prontas para pegar e ir empunhar numa qualquer manifestação.

A artista recolheu as suas palavras de ordem recorrendo a entrevistas feitas pessoalmente, por email e pelas redes sociais. A questão colocada foi: “Se pegasse agora num cartaz para ir mostrar num espaço público ou numa manifestação, qual seria para si a mais importante mensagem em 2019 que gostaria de lá ver escrita?”.

O resultado é uma colecção de slogans sobre causas e preocupações que ilustram a actual paisagem social, que o público poderá comparar com a sua própria opinião face à pergunta original, segundo refere a nota de imprensa da organização. “Utilizando uma linguagem humana, a exposição “Insight” apresenta o interesse de Delphine Richer pelas preocupações sociais e políticas” que actualmente mobilizam cada indivíduo, “que a artista calmamente foi destacando para criar uma visão global”.

Cartazes para todos

Ao longo da sua residência artística, que teve um mês de duração, Delphine Richer auscultou as vozes da comunidade local, procurando entender melhor a especificidade de Macau, mas abriu também o âmbito da sua consulta às redes sociais e a toda a população interessada em participar, de diferentes culturas e origens geográficas. “A exposição começou com cerca de cem placas e slogans, mas é um projecto em andamento, porque a artista continua a acrescentar as ideias e sugestões das pessoas que visitam a exposição”, explicou ao HM o responsável pelo Armazém do Boi (Ox Warehouse), Oscar Ho.

Nos cartazes e placas podem ser lidas frases como: “Bouge Toi Pour Ta Planete!”, “Justicia y voz para todos los seres vivos invisibilizados”, “Vive L’Europe Ecologique et Sociale”, “Think Less” ou “I fight for my home. I have to”. Mas há mais palavras de ordem para conhecer, e outras ainda por criar, até ao final da mostra que termina em meados de Agosto.

A cerimónia de inauguração, que aconteceu no dia 3 de Julho, contou com a participação do vice-presidente do Instituto Cultural (IC), Chan Kai Chon, e com o representante do Centro da UNESCO em Macau, Kuok Wai Kei, como convidados de honra.

11 Jul 2019

Armazém do Boi | “Everywhere and Anywhere”, a nova mostra de Yang

[dropcap]É[/dropcap] inaugurada no próximo dia 26 deste mês, no espaço Armazém do Boi, a exposição de ilustração “Everywhere and Anywhere”, do artista Yang, e que estará patente até ao dia 4 de Agosto.

A exposição está incluída no projecto intitulado “New Art People Project”, que visa “nutrir uma nova geração de jovens artistas ao providenciar-lhes um espaço para as suas tentativas e experimentações”.

A curadoria da exposição está a cargo de Leong Fei In e oferece ao público “uma nova aproximação visual, com as possibilidades que a ilustração oferece ao nível da linguagem artística”.

Yang, natural de Macau, é formado em literatura inglesa e tem um mestrado em ilustração da University for Creative Arts, do Reino Unido. Esta exposição revela uma “interacção da ilustração com o espaço em diálogo com si mesmo”, ao mesmo tempo que Yang “apresenta as suas experiências emocionais tal como um estado mental de solidão e alienação partilhado com os moradores urbanos”.

17 Jun 2019

Exposição | “Sunless Asteroid AO22” de Sun Xiaoyu amanhã no Armazém do Boi

Fazer uma viagem futurista a um asteróide imaginário, que um dia teve o nome de Macau, é a proposta da artista multimédia chinesa que se apresenta amanhã no Armazém do Boi

 

[dropcap]A[/dropcap] viagem começa com uma simbólica cerimónia de desmagnetização da identidade, antes da partida marcada para um mundo alternativo, onde a reflexão sobre o futuro é uma metáfora cosmológica da visão da terra. A exposição “Sunless Asteroid AO22”, da jovem artista de multimédia chinesa Sun Xiaoyu, ocupa a partir de amanhã, 5 de Junho, o espaço do Armazém do Boi, que pretende ser o portal de passagem para esse outro lugar.

Equipada com nove ecrãs, que serão janelas para olhar o universo, a galeria vai projectar o mais recente trabalho videográfico de Sun Xiaoyu, intitulado “No Destinations”, resultante da residência artística de um mês que a trouxe ao território, em Maio passado. As imagens então recolhidas, e agora expostas, gravitam à volta do título “Asteróide sem Sol”, nome de código AO22, uma espécie de planetóide imaginário outrora chamado Macau (AoMen, 1998).

“Após o colapso do sistema solar, o asteróide perdeu a sua estrela e tem andado à deriva pelo universo. Em AO22 não existe dia nem noite, a areia preta semi-fluida contém solo e água. Não se dorme e as nuvens baixas, compostas de mercúrio, estão carregadas com altos níveis de oxigénio.

Na linha do horizonte, amarelo-brilhante, podem ver-se camadas de miragens paradisíacas, construídas por colonos humanos neste asteróide morto. Depois de muita fusão de histórias de colonos e imigrantes, foi imposta uma ‘lei de isolamento’: apenas é permitida a existência a pessoas sem identidade”, é o repto da exposição.

Eis o ponto de partida para a viagem, onde os espectadores são convidados a forjar uma não-identidade, para entrarem de uma forma clandestina no AO22. “Durante gerações, lendas misteriosas sobre o AO22 espalharam-se por todos os quadrantes, relatando como incontáveis criaturas tentaram viajar até lá e nunca regressaram”, afirma o manifesto da artista.

Novo mundo

Sun Xiaoyu é uma artista de vídeo que se graduou em 2017, na Escola de Artes Intermediáticas da Academia de Artes Chinesa, com um mestrado em Narrativa da Imagem Espacial. Actualmente vive entre as cidades de Hangzhou e Xangai, e trabalha em fotografia artística para instalação de painéis de vídeo, criando narrativas de linguagem visual que reflectem o pensamento actual, através do ritmo entre a imagem e o espaço expositivo.

“O seu trabalho é construir um novíssimo mundo da imagem, recorrendo a metáforas surreais e rompendo com a linguagem intrínseca à própria construção. Explora também a percepção e a lógica interna da narrativa, através da imagem, sobre a realidade presente e o espaço futuro”, pode ler-se no comunicado de imprensa.

Apesar da curta carreira, Sun Xiaoyu participou já em diversas mostras nacionais – no Western Art Museum de Xi’an, no New Media Art Festival em Chongqing, no CAA Art Museum em Hangzhou, no Times Art Museum de Pequim, e recentemente no Wuhan Art Museum – e internacionais – no San Francisco Art Institute, EUA, no Brüder Grimm-Museum em Kessel, Alemanha, e na Saatchi Gallery de Londres, Reino Unido.

O projecto de “Sunless Asteroid AO22”, organizado pelo Armazém do Boi (Ox Wharehouse), foi desenvolvido pela curadora Lin Canwen, mestre de Arte Contemporânea no Instituto de Investigação de Ideologia Social da Academia de Artes Chinesa. A mostra estará patente na Rua do Volong, entre 5 de Junho e 4 de Agosto, todos os dias das 12h às 19h, encerrando à segunda-feira. A entrada é gratuita.

4 Jun 2019