No meio dos impérios

[dropcap]C[/dropcap]oração GT acelera prego a fundo, ardente de desejo de colisão. Mira apontada ao ponto que separa os dois eixos que dominam o mundo, bisturi que separa os dois monstros siameses. Velocidade que galga estrada rumo à inevitável vitória contra as forças do Mal e do Passado.

A velha dicotomia relativista de escolha necessária do mal menor tem os dias contados, o mundo a branco e preto onde se escolhe um dos impérios, arrastando princípios e decência para a sarjeta, não consegue conter a erupção do vulcão multicolor.

Vivemos ensanduichados entre impérios. O mero desdém por autocracia e absolutismo não é suficiente neste novo mundo ultra-político e, como tal, monocromático. Hitler ou Estaline, cancro no pâncreas ou tumor cerebral? Se crítico um deve ser porque concordo com o outro. É assim que se justificam massacres, simplesmente entoando “então e não sei o quê?”, desviando a atenção do essencial com o whataboutism de que falam os anglófonos.

Não tenho nem quero escolher entre os Estados Unidos e a China. Apontar os crimes e atentados aos direitos humanos de um, não iliba as atrocidades do outro. Que raio de lógica é esta?! É a lógica de caixa de comentário de rede social, o mecanismo primário de defesa do status quo, a relativização apologética dos fanáticos que revitalizaram idiotas como os terraplanistas e os movimentos anti-conhecimento. Prefiro a fome a ver-me forçado à escolha entre uma sandes de merda e uma tosta de bosta.

Permitam-me um sonho violento de visões tensas de pré-apocalipse. Quem vive sem solo debaixo dos pés, sem contratos, sem tecto fixo, sem projectos de longo prazo, sem confiança no poder, não tem de escolher o menor de dois males. Esse conformismo está reservado para a comodidade de quem não quer chatices.

O novo século trouxe-nos a primeira geração que é mais pobre que os seus pais em muito tempo, depois do século do grande crescimento económico e tecnológico. Uma geração perdida que vive a angústia da aniquilação do planeta, que arde com as florestas tropicais e derrete com os glaciares. Esta inquietude é gasolina, é cisão do átomo, é ansiedade que não permite concessões a escolhas predeterminadas, nem meias verdades impostas que mancham a liberdade.

O desespero é a exterminadora espada cuja lâmina anseia as carótidas dos dois dragões imperiais. Só sei que venceremos, não no sentido militar, não precisamos disso. A nossa “energia” simplesmente prevalecerá face aos monólitos do passado, o poder cinético da força dos tempos impele-nos, o “agora” está do nosso lado, nós somos o zeitgeist, o espírito dos tempos, a fruta madura da época. Cavalgamos juntos esse deslumbrante tsunami que vai destruir os edifícios bolorentos do relativismo burguês. (obrigado pela boleia, Hunter. Vou voltar ao volante).

Atentem nesta geração que nasceu com a repulsa iconográfica à rebeldia mercantilizada do punk vendido pela H&M, à arte de rua abençoada pelo Estado, às golas altas das gerações que se esqueceram de como lutar contra os vampiros. Eles continuam a comer tudo, ainda com maior voracidade. A vossa revolução deu-nos o neoliberalismo e a prostração mansa que abriu portas ao renascimento do fascismo.

As nossas paixões são destrutivas, temos a morte a dissolver debaixo da língua para mais rápida absorção. Sonhamos com novo terror jacobino, a purificação pelo fogo, a queda dos impérios.

Todos! Não temos facínoras favoritos, nem atribuímos valor de mercado a sangue derramado. Preferimos pessoas que vendem no mercado a mercados que vendem pessoas.

Mas nada disto é novo. Todos os sistemas calcinados precisam, de tempos a tempos, de um pontapé nos tomates, um murro certeiro no fígado inchado por vintages desferido por mãos gretadas por aguardente rasca para se lembrarem que estamos aqui e que não vamos a lado nenhum. Este texto não tem qualquer relação com o que se passa em Hong Kong, e está muito além dos protestos na região vizinha. Zoom out!

2 Set 2019

Hong Kong | Dirigente barrado associa proibição de entrada em Macau a ataque em Yuen Long

Galileo Cheng, membro da Comissão Justiça e Paz da diocese católica de Hong Kong, foi este sábado impedido de entrar em Macau pela fronteira do Porto Exterior. Ao HM, o responsável disse acreditar que esta proibição pode estar relacionada com o ataque ocorrido na estação de metro de Yuen Long. “A polícia pode ter passado as informações a meu respeito à polícia de Macau”, disse

 

[dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Macau proibiram, este sábado, a entrada de Galileo Cheng, membro da Comissão Justiça e Paz da diocese católica de Hong Kong, que tentou entrar no território pela fronteira do Porto Exterior. A informação foi difundida na rede social Twitter, não só pelo próprio, mas também pelo jornalista do New York Times em Hong Kong, Ezra Cheung.

Na sua conta na mesma rede social, Galileo Cheng partilhou o documento das autoridades onde se lê que a sua proibição de entrada ocorreu “por existirem fortes referências em como pretendia entrar na RAEM para a prática de actos que, pela sua natureza, podiam por em risco a segurança ou ordem pública da RAEM”.

Em declarações ao HM, Galileo Cheng suspeita que a sua proibição de entrada está relacionada com o ataque ocorrido na estação de metro de Yuen Long, no passado dia 21 de Julho, onde esteve presente.

“Suspeito que o relatório elaborado pela polícia de Hong Kong aquando do assalto na estação de metro de Yuen Long, a 21 de Julho, está relacionado com esta proibição, uma vez que a polícia de Hong Kong pode ter transmitido informações sobre mim à polícia de Macau”, disse.

O ataque de Julho ocorreu durante um protesto pacífico relacionado com a proposta de lei da extradição, quando um grupo de homens de cara tapada, envergando t-shirts brancas e paus de bambu, começaram a atacar os manifestantes que se encontravam no local. A polícia de Hong Kong foi acusada de chegar demasiado tarde a Yuen Long e de não ter travado a onda de violência.

Férias em família

Galileo Cheng disse ainda ao HM que é provável que continue na lista das autoridades, apesar de assegurar que há muito que está afastado de movimentos sociais.

“Sei que posso estar na lista (das autoridades) há muito tempo, e fui questionado há alguns anos pelos serviços de imigração dos dois territórios. Mas é ridículo que continue a ser banido quando estou fora dos movimentos sociais há anos.”

No dia do ataque em Yuen Long, Galileo Cheng assegura que foi ferido e que deu apoio a uma jornalista no local. “Na fase em que estive ligado aos movimentos sociais, fazia trabalho de jornalista para a plataforma In Media HK.”

Depois de deixar o hospital, em Julho, o responsável reportou os ferimentos de que foi vítima à polícia. A sua visita a Macau tinha dois objectivos específicos, conforme relatou ao HM. “Disse-lhes (às autoridades de Macau) que a minha visita ao território tinha como objectivo fazer férias e visitar familiares pró-Pequim.”

Galileo Cheng assegura que o facto de esses familiares serem pró-Pequim coloca-o “numa posição difícil”. Por questões de segurança, o dirigente católico não quis avançar com quaisquer nomes.

Questionado sobre a possibilidade de apresentar uma queixa contra as autoridades de Macau, Galileo Cheng garantiu que não o vai fazer, uma vez que essa acção seria “inútil”, pelo que “não vale a pena”.

2 Set 2019

Hong Kong | Dirigente barrado associa proibição de entrada em Macau a ataque em Yuen Long

Galileo Cheng, membro da Comissão Justiça e Paz da diocese católica de Hong Kong, foi este sábado impedido de entrar em Macau pela fronteira do Porto Exterior. Ao HM, o responsável disse acreditar que esta proibição pode estar relacionada com o ataque ocorrido na estação de metro de Yuen Long. “A polícia pode ter passado as informações a meu respeito à polícia de Macau”, disse

 
[dropcap]A[/dropcap]s autoridades de Macau proibiram, este sábado, a entrada de Galileo Cheng, membro da Comissão Justiça e Paz da diocese católica de Hong Kong, que tentou entrar no território pela fronteira do Porto Exterior. A informação foi difundida na rede social Twitter, não só pelo próprio, mas também pelo jornalista do New York Times em Hong Kong, Ezra Cheung.
Na sua conta na mesma rede social, Galileo Cheng partilhou o documento das autoridades onde se lê que a sua proibição de entrada ocorreu “por existirem fortes referências em como pretendia entrar na RAEM para a prática de actos que, pela sua natureza, podiam por em risco a segurança ou ordem pública da RAEM”.
Em declarações ao HM, Galileo Cheng suspeita que a sua proibição de entrada está relacionada com o ataque ocorrido na estação de metro de Yuen Long, no passado dia 21 de Julho, onde esteve presente.
“Suspeito que o relatório elaborado pela polícia de Hong Kong aquando do assalto na estação de metro de Yuen Long, a 21 de Julho, está relacionado com esta proibição, uma vez que a polícia de Hong Kong pode ter transmitido informações sobre mim à polícia de Macau”, disse.
O ataque de Julho ocorreu durante um protesto pacífico relacionado com a proposta de lei da extradição, quando um grupo de homens de cara tapada, envergando t-shirts brancas e paus de bambu, começaram a atacar os manifestantes que se encontravam no local. A polícia de Hong Kong foi acusada de chegar demasiado tarde a Yuen Long e de não ter travado a onda de violência.

Férias em família

Galileo Cheng disse ainda ao HM que é provável que continue na lista das autoridades, apesar de assegurar que há muito que está afastado de movimentos sociais.
“Sei que posso estar na lista (das autoridades) há muito tempo, e fui questionado há alguns anos pelos serviços de imigração dos dois territórios. Mas é ridículo que continue a ser banido quando estou fora dos movimentos sociais há anos.”
No dia do ataque em Yuen Long, Galileo Cheng assegura que foi ferido e que deu apoio a uma jornalista no local. “Na fase em que estive ligado aos movimentos sociais, fazia trabalho de jornalista para a plataforma In Media HK.”
Depois de deixar o hospital, em Julho, o responsável reportou os ferimentos de que foi vítima à polícia. A sua visita a Macau tinha dois objectivos específicos, conforme relatou ao HM. “Disse-lhes (às autoridades de Macau) que a minha visita ao território tinha como objectivo fazer férias e visitar familiares pró-Pequim.”
Galileo Cheng assegura que o facto de esses familiares serem pró-Pequim coloca-o “numa posição difícil”. Por questões de segurança, o dirigente católico não quis avançar com quaisquer nomes.
Questionado sobre a possibilidade de apresentar uma queixa contra as autoridades de Macau, Galileo Cheng garantiu que não o vai fazer, uma vez que essa acção seria “inútil”, pelo que “não vale a pena”.

2 Set 2019

Protestos em Hong Kong | A perspectiva de Pequim, no jornal Diário do Povo

[dropcap]N[/dropcap]os últimos dois meses, actos violentos de manifestantes radicais em Hong Kong aumentaram, causando cada vez mais danos sociais. A polícia de Hong Kong afirmou que quase 900 pessoas foram presas até agora e pretendem fazer cumprir a lei rigorosamente para levar os criminosos à justiça.

O Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) apoia firmemente o governo da Região Administrativa Especial (RAE) de Hong Kong e a força policial na luta contra a violência de acordo com a lei, salvaguardando resolutamente a soberania nacional, a segurança, os interesses de desenvolvimento e a prosperidade e estabilidade de Hong Kong, e nunca permitirá o rapto violento do futuro de Hong Kong.

É inegável que a sociedade de Hong Kong tem várias exigências, mas o maior anseio da população é alcançar a estabilidade e a paz. Algumas pessoas afirmam que “esta tempestade violenta alcançou proporções maiores do que o surto de epidemia SARS em Hong Kong (no ano de 2003)”, porque uma vez que a reputação da cidade foi danificada, será muito difícil de recuperá-la; algumas pessoas ponderam que se a violência e o caos continuarem, resultará na decadência de todos os aspectos da vida em Hong Kong e no desemprego.

Qualquer forma de amenizar a violência é uma indulgência da violência. Algumas contradições profundas em Hong Kong precisam ser resolvidas por todos os sectores da comunidade, mas a violência nunca será uma “opção razoável”. Se as pessoas com diferentes opiniões políticas e apelos justificam o uso da violência para obter “justiça”, então a sociedade de Hong Kong nunca será pacífica? Qualquer compromisso baseado na violência só encorajará mais violência.

Decididamente dizer “não” à violência é a linha de fundo de uma sociedade governada pela lei e o consenso de uma sociedade civilizada.

Hoje em dia, as tentativas de violência radicais e oposição são bem conhecidas. Descobriu-se que a sua “regra anti-revisão” original era apenas uma desculpa. Quando o governo da RAE parou de alterar seus regulamentos, eles gritaram palavras de ordem extremas como “Recuperação de Hong Kong, Revolução dos Tempos” e desafiou seriamente a soberania nacional. O objectivo do aumento da violência é paralisar o governo da RAE e a força policial, mergulhar Hong Kong na anarquia e competir com as autoridades centrais para a governança de Hong Kong.

Tendo visto isto claramente, será que podemos afastar-nos desta ameaça política irracional, radical e infundada? Poderá haver algum compromisso junto a este ato ilegal, que desafie seriamente o princípio “um país, dois sistemas”? A resposta é absolutamente negativa. Se alguém se julgar esperto a ponto de pensar que o agravamento da violência obrigará o governo central a abdicar do princípio, está imensamente enganado. Se houver agitação para além do controle do governo da RAE de Hong Kong, o Comité Central do PCCh jamais ficará de braços cruzados. De acordo com as disposições da lei fundamental, o Comité Central dispõe de medidas e de forças poderosas suficientes para reprimir rapidamente todas as perturbações possíveis.

O futuro de Hong Kong reside na prevenção de motins. Prestamos homenagem à força policial de Hong Kong e às forças patrióticas que defendem o Estado de Direito. Vocês estão defendendo o alicerce da prosperidade e estabilidade de Hong Kong, protegendo a posição de Hong Kong como um centro financeiro, comercial e marítimo internacional, e salvaguardando os interesses comuns da sociedade de Hong Kong e dos investidores estrangeiros. Devemos alertar todas as forças “caóticas anti-China” que não julguem erroneamente a situação, nem tratem a contenção como fraqueza, ou subestimem a vontade e determinação do governo central e do povo de todo o país para salvaguardar a soberania nacional, a segurança e a unidade e manter a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong.

in Diário do Povo

2 Set 2019

Protestos em Hong Kong | A perspectiva de Pequim, no jornal Diário do Povo

[dropcap]N[/dropcap]os últimos dois meses, actos violentos de manifestantes radicais em Hong Kong aumentaram, causando cada vez mais danos sociais. A polícia de Hong Kong afirmou que quase 900 pessoas foram presas até agora e pretendem fazer cumprir a lei rigorosamente para levar os criminosos à justiça.
O Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) apoia firmemente o governo da Região Administrativa Especial (RAE) de Hong Kong e a força policial na luta contra a violência de acordo com a lei, salvaguardando resolutamente a soberania nacional, a segurança, os interesses de desenvolvimento e a prosperidade e estabilidade de Hong Kong, e nunca permitirá o rapto violento do futuro de Hong Kong.
É inegável que a sociedade de Hong Kong tem várias exigências, mas o maior anseio da população é alcançar a estabilidade e a paz. Algumas pessoas afirmam que “esta tempestade violenta alcançou proporções maiores do que o surto de epidemia SARS em Hong Kong (no ano de 2003)”, porque uma vez que a reputação da cidade foi danificada, será muito difícil de recuperá-la; algumas pessoas ponderam que se a violência e o caos continuarem, resultará na decadência de todos os aspectos da vida em Hong Kong e no desemprego.
Qualquer forma de amenizar a violência é uma indulgência da violência. Algumas contradições profundas em Hong Kong precisam ser resolvidas por todos os sectores da comunidade, mas a violência nunca será uma “opção razoável”. Se as pessoas com diferentes opiniões políticas e apelos justificam o uso da violência para obter “justiça”, então a sociedade de Hong Kong nunca será pacífica? Qualquer compromisso baseado na violência só encorajará mais violência.
Decididamente dizer “não” à violência é a linha de fundo de uma sociedade governada pela lei e o consenso de uma sociedade civilizada.
Hoje em dia, as tentativas de violência radicais e oposição são bem conhecidas. Descobriu-se que a sua “regra anti-revisão” original era apenas uma desculpa. Quando o governo da RAE parou de alterar seus regulamentos, eles gritaram palavras de ordem extremas como “Recuperação de Hong Kong, Revolução dos Tempos” e desafiou seriamente a soberania nacional. O objectivo do aumento da violência é paralisar o governo da RAE e a força policial, mergulhar Hong Kong na anarquia e competir com as autoridades centrais para a governança de Hong Kong.
Tendo visto isto claramente, será que podemos afastar-nos desta ameaça política irracional, radical e infundada? Poderá haver algum compromisso junto a este ato ilegal, que desafie seriamente o princípio “um país, dois sistemas”? A resposta é absolutamente negativa. Se alguém se julgar esperto a ponto de pensar que o agravamento da violência obrigará o governo central a abdicar do princípio, está imensamente enganado. Se houver agitação para além do controle do governo da RAE de Hong Kong, o Comité Central do PCCh jamais ficará de braços cruzados. De acordo com as disposições da lei fundamental, o Comité Central dispõe de medidas e de forças poderosas suficientes para reprimir rapidamente todas as perturbações possíveis.
O futuro de Hong Kong reside na prevenção de motins. Prestamos homenagem à força policial de Hong Kong e às forças patrióticas que defendem o Estado de Direito. Vocês estão defendendo o alicerce da prosperidade e estabilidade de Hong Kong, protegendo a posição de Hong Kong como um centro financeiro, comercial e marítimo internacional, e salvaguardando os interesses comuns da sociedade de Hong Kong e dos investidores estrangeiros. Devemos alertar todas as forças “caóticas anti-China” que não julguem erroneamente a situação, nem tratem a contenção como fraqueza, ou subestimem a vontade e determinação do governo central e do povo de todo o país para salvaguardar a soberania nacional, a segurança e a unidade e manter a prosperidade e a estabilidade de Hong Kong.
in Diário do Povo

2 Set 2019

Hong Kong | Polícia detém 40, activistas visam aeroporto

[dropcap]P[/dropcap]elo menos 40 pessoas foram detidas em Hong Kong na sequência de protestos não autorizados de sábado passado, durante os quais 31 pessoas ficaram feridas, cinco em estado grave, informaram ontem as autoridades. Ao final da noite de sábado e início da madrugada de domingo registaram-se violentos confrontos entre a polícia e manifestantes em vários pontos da ex-colónia britânica.

Cerca de um milhar de manifestantes anti-governamentais que protestou junto à sede do Governo de Hong Kong abandonou o local pelas 19:00, após confrontos com a polícia, que tinha proibido a iniciativa. As cenas de violência demoraram um par de horas, com os manifestantes a arremessarem tijolos e bombas incendiárias sobre as forças de segurança e com a polícia a responder com gás lacrimogéneo e canhões de água.

Para trás, nas ruas, ficou um cenário de destruição, com o jornal South China Morning Post a noticiar que os manifestantes também causaram alguns focos de incêndio junto do quartel-general da polícia em Wan Chai, também no centro da cidade.

Ataques variados

Em Victoria Park, dois polícias foram cercados e atacados por um grupo, obrigando-os a dispararem dois tiros de aviso para o ar, informaram as forças de segurança num comunicado no qual se condena a “escalada de violência” e o uso de “armas letais” por parte dos manifestantes.

Após um protesto pacífico que juntou milhares de pessoas no centro da cidade, alguns manifestantes envolveram-se em confrontos com a polícia junto à sede do Governo, para rumarem depois para Wan Chai, Causeway Bay e North Point, bloqueando ainda várias outras ruas na ilha de Hong Kong, numa das quais atearam fogo a uma barricada que representou “um sério perigo para os moradores”, indicou a polícia.

Milhares de pessoas também se manifestaram ilegalmente em vários distritos de Kowloon, cercaram esquadras, bloquearam estradas e vandalizaram edifícios públicos e estações de metro. Numa delas, em Prince Edward, foram realizadas dezenas de detenções, com a polícia a perseguir os manifestantes e a lançar gás pimenta sobre estes, depois de muitos deles terem trocado de roupa para se misturarem com os passageiros.

Nos últimos dias, a polícia deixou de fazer policiamento a pé pelas ruas para evitar quaisquer emboscadas às forças de segurança. Esta semana, um activista foi atacado com tacos de basebol por homens com o rosto tapado. Um polícia foi alvo também de um violento ataque com uma faca à saída de um turno, na sexta-feira.

Metro para o aeroporto suspenso

Entretanto, a empresa gestora do metro de Hong Kong decidiu ontem suspender os serviços para o aeroporto internacional do território, um dos mais movimentados do mundo, devido aos protestos na antiga colónia britânica.

De acordo com a estação RTHK, a operadora MTR anunciou a decisão por volta das 13:30, com base num parecer do Governo e da Autoridade Aeroportuária de Hong Kong.

Manifestantes pró-democracia tinham já planeado interromper as ligações rodoviárias e ferroviárias para o aeroporto durante a tarde de ontem, um dia depois de se terem registado violentos confrontos entre a polícia e manifestantes em vários pontos da cidade.

De acordo com o jornal South China Morning Post, centenas de manifestantes estavam já reunidos no aeroporto, onde formavam barricadas. O objectivo é bloquear os transportes no aeroporto internacional de Hong Kong na tarde de domingo. Os activistas estão a pedir ao público que sobrecarregue as estradas e as ligações ferroviárias para o aeroporto no domingo e segunda-feira para que os voos sejam cancelados, numa repetição esperada das suas acções de há duas semanas.

Dois outros grupos de manifestantes também planeiam protestar em Tin Shui Wai, e no exterior do consulado britânico em Admiralty. Os activistas pretendem pedir a Londres que dê ao portador de passaporte nacional britânico (estrangeiro) o direito de viver no Reino Unido.

2 Set 2019

Hong Kong | Polícia detém 40, activistas visam aeroporto

[dropcap]P[/dropcap]elo menos 40 pessoas foram detidas em Hong Kong na sequência de protestos não autorizados de sábado passado, durante os quais 31 pessoas ficaram feridas, cinco em estado grave, informaram ontem as autoridades. Ao final da noite de sábado e início da madrugada de domingo registaram-se violentos confrontos entre a polícia e manifestantes em vários pontos da ex-colónia britânica.
Cerca de um milhar de manifestantes anti-governamentais que protestou junto à sede do Governo de Hong Kong abandonou o local pelas 19:00, após confrontos com a polícia, que tinha proibido a iniciativa. As cenas de violência demoraram um par de horas, com os manifestantes a arremessarem tijolos e bombas incendiárias sobre as forças de segurança e com a polícia a responder com gás lacrimogéneo e canhões de água.
Para trás, nas ruas, ficou um cenário de destruição, com o jornal South China Morning Post a noticiar que os manifestantes também causaram alguns focos de incêndio junto do quartel-general da polícia em Wan Chai, também no centro da cidade.

Ataques variados

Em Victoria Park, dois polícias foram cercados e atacados por um grupo, obrigando-os a dispararem dois tiros de aviso para o ar, informaram as forças de segurança num comunicado no qual se condena a “escalada de violência” e o uso de “armas letais” por parte dos manifestantes.
Após um protesto pacífico que juntou milhares de pessoas no centro da cidade, alguns manifestantes envolveram-se em confrontos com a polícia junto à sede do Governo, para rumarem depois para Wan Chai, Causeway Bay e North Point, bloqueando ainda várias outras ruas na ilha de Hong Kong, numa das quais atearam fogo a uma barricada que representou “um sério perigo para os moradores”, indicou a polícia.
Milhares de pessoas também se manifestaram ilegalmente em vários distritos de Kowloon, cercaram esquadras, bloquearam estradas e vandalizaram edifícios públicos e estações de metro. Numa delas, em Prince Edward, foram realizadas dezenas de detenções, com a polícia a perseguir os manifestantes e a lançar gás pimenta sobre estes, depois de muitos deles terem trocado de roupa para se misturarem com os passageiros.
Nos últimos dias, a polícia deixou de fazer policiamento a pé pelas ruas para evitar quaisquer emboscadas às forças de segurança. Esta semana, um activista foi atacado com tacos de basebol por homens com o rosto tapado. Um polícia foi alvo também de um violento ataque com uma faca à saída de um turno, na sexta-feira.

Metro para o aeroporto suspenso

Entretanto, a empresa gestora do metro de Hong Kong decidiu ontem suspender os serviços para o aeroporto internacional do território, um dos mais movimentados do mundo, devido aos protestos na antiga colónia britânica.
De acordo com a estação RTHK, a operadora MTR anunciou a decisão por volta das 13:30, com base num parecer do Governo e da Autoridade Aeroportuária de Hong Kong.
Manifestantes pró-democracia tinham já planeado interromper as ligações rodoviárias e ferroviárias para o aeroporto durante a tarde de ontem, um dia depois de se terem registado violentos confrontos entre a polícia e manifestantes em vários pontos da cidade.
De acordo com o jornal South China Morning Post, centenas de manifestantes estavam já reunidos no aeroporto, onde formavam barricadas. O objectivo é bloquear os transportes no aeroporto internacional de Hong Kong na tarde de domingo. Os activistas estão a pedir ao público que sobrecarregue as estradas e as ligações ferroviárias para o aeroporto no domingo e segunda-feira para que os voos sejam cancelados, numa repetição esperada das suas acções de há duas semanas.
Dois outros grupos de manifestantes também planeiam protestar em Tin Shui Wai, e no exterior do consulado britânico em Admiralty. Os activistas pretendem pedir a Londres que dê ao portador de passaporte nacional britânico (estrangeiro) o direito de viver no Reino Unido.

2 Set 2019

Hong Kong | Moisés ou como usar a religião

[dropcap]À[/dropcap] frente do protesto ‘religioso’ de sábado em Hong Kong, havia um manifestante destacado entre os demais. Intitula-se Moisés e exibe num cartaz os “cinco mandamentos” do movimento pró-democracia. O cuidado na escolha de todos os acessórios para ‘encarnar’ a figura bíblica esconde também a vontade de não querer ser identificado. “Eu sou um mensageiro. O meu nome é Moisés e tenho uma mensagem para a população de Hong Kong: são os cinco mandamentos”, disse à Lusa.

Os ‘mandamentos’ são inspirados nas cinco reivindicações do movimento pró-democracia : “Retirem a lei ‘chinesa’ da extradição; revoguem o termo motim; retirem todas as acusações que pendem sobre os manifestantes; criem uma comissão independente de inquérito [à actuação da polícia], e finalmente, o 5.º mandamento, verdadeira democracia para a população de Hong Kong”, enumerou o manifestante.

Um dos pontos de ‘peregrinação’ foi a Catedral de São João, com muitos dos manifestantes a transformarem-se em ‘devotos fiéis’ para reforçarem o cariz ‘religioso’ da manifestação, para “rezar pelos pecadores’. Os bancos de madeira da igreja anglicana foram oferecendo descanso aos manifestantes que iam entoando cânticos de inspiração religiosa, entre estandartes onde se podia ler “Sigam Cristo: Fé na cidade”. A manifestação terminou junto aos acessos para a residência da chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, cortados pela polícia antimotim.

Uma manifestante mais idosa ajoelhou-se, ou para rezar ou para meditar, a poucos metros das forças de segurança, munidas de espingardas, escudos e bastões. ‘Moisés’ juntou-se à idosa e, à distância, dirigiu-se aos polícias: “Deus abençoe a polícia de Hong Kong. Vocês serão protegidos do perigo. Tenham fé no vosso juramento”.

Lusa (editado)

1 Set 2019

Hong Kong | Moisés ou como usar a religião

[dropcap]À[/dropcap] frente do protesto ‘religioso’ de sábado em Hong Kong, havia um manifestante destacado entre os demais. Intitula-se Moisés e exibe num cartaz os “cinco mandamentos” do movimento pró-democracia. O cuidado na escolha de todos os acessórios para ‘encarnar’ a figura bíblica esconde também a vontade de não querer ser identificado. “Eu sou um mensageiro. O meu nome é Moisés e tenho uma mensagem para a população de Hong Kong: são os cinco mandamentos”, disse à Lusa.
Os ‘mandamentos’ são inspirados nas cinco reivindicações do movimento pró-democracia : “Retirem a lei ‘chinesa’ da extradição; revoguem o termo motim; retirem todas as acusações que pendem sobre os manifestantes; criem uma comissão independente de inquérito [à actuação da polícia], e finalmente, o 5.º mandamento, verdadeira democracia para a população de Hong Kong”, enumerou o manifestante.
Um dos pontos de ‘peregrinação’ foi a Catedral de São João, com muitos dos manifestantes a transformarem-se em ‘devotos fiéis’ para reforçarem o cariz ‘religioso’ da manifestação, para “rezar pelos pecadores’. Os bancos de madeira da igreja anglicana foram oferecendo descanso aos manifestantes que iam entoando cânticos de inspiração religiosa, entre estandartes onde se podia ler “Sigam Cristo: Fé na cidade”. A manifestação terminou junto aos acessos para a residência da chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, cortados pela polícia antimotim.
Uma manifestante mais idosa ajoelhou-se, ou para rezar ou para meditar, a poucos metros das forças de segurança, munidas de espingardas, escudos e bastões. ‘Moisés’ juntou-se à idosa e, à distância, dirigiu-se aos polícias: “Deus abençoe a polícia de Hong Kong. Vocês serão protegidos do perigo. Tenham fé no vosso juramento”.
Lusa (editado)

1 Set 2019

Intoxicação elementar

[dropcap]O[/dropcap] relógio pára, alguém se senta à mesa e começa a escrever. Tenta arrumar pensamentos e debitar no papel ideias sobre a China. Deixa o cursor correr livremente sem apreensões do que verá escrito ao passar a ponte que separa a verdade da mentira – ficção da realidade, presente do futuro – ou a dúvida da exclamação. De janela aberta para o mundo, saboreia a brisa que corre para outras realidades. Bandeira ao vento, cheio de obstáculos, expõe o que lhe vai no discernimento, apregoando: nós, humanos, estamos aqui!

Arriscará essa pessoa fazer sombra a desmedida soberania, argumentando teimosias como um banal  “Homem do Tanque” – saquinho na mão, silêncio, dor –, de quem nunca se sabe identidade ou paradeiro? Esse homem que atravessou a ponte sem olhar ao precipício, cansado, com o desejo único de chegar a casa e respirar. Atarraxado à surdina da sua teimosia, enfrentou o colosso metálico com uma serenidade relampejante e ao fazê-lo deixou inscrita na retina da humanidade, colada ao ecrã, a bravura no seu esplendor. Trecho para sempre gravado, momento único e sublime. Já deu. Ocupou todos os canais. Mas será interdito falar neles, nos homens do tanque? Onde estão, já se foram? Passam a que horas?

Administrar um país não é tarefa fácil, há malhas irrequietas de indivíduos dotados de raciocínio para ajustar. São cativados a cada pulsar para que tomem determinado partido e direcção. Ao princípio, como todas as relações, é uma história de amor e pura sedução, repleta de alegrias e momentos dóceis. Mas com o passar do tempo outras ânsias se intercalam, o feitio começa a ser visto como defeito; os galanteios, importunações; os afagos, brutalidade; e por aí fora. A linha que define os extremos esfuma-se e a vida torna-se uma extensão perene de conflito e incerteza. Apesar das retractações, pedidos de escusa e elevações de espírito, nada volta a ficar como antes. Em casa, as malas chegam-se à porta. Num país, as ruas ardem e os governos mudam. Para mais tarde, em ambas as situações, o baile voltar a ser o mesmo e a cantilena regressar ao horário nobre da sabedoria. De todos os donos de casas.

Ao tomar conta de uma nação, existe o dever de proteger os ocupantes que nela germinam, dando-lhes conforto, educação e ciência. Este é o cardápio básico. A partir do momento em que a flor brota, os regentes da pátria tentam alistá-la no seu viço, para a vida inteira. Fazem-no na qualidade de jardineiros, assim como os progenitores que inscrevem os filhos ainda por rebentar no clube da sua predileção. É complicado regar esta planta, não basta o gota-a-gota. Em muitos casos, o nutrimento estanca, o gume desprende-se da faca e sementes adversas espigam. Som e fúria. Contrariando as necessidades de um vegetal, o desafio dos animais racionais não é só físico, mas mental. E aí não há sortilégio que atenda a complexidade das carências colectivas em uníssono. De cabeça perdida, o amante opta pelo impulso do malho no cinzel para esculpir o seu dito mais duro. Os governos, por seu lado, não se diferenciam. Apodrece-se o povo, para que se transforme e vingue num verão melhor. E tanta coisa se faz com matéria que apodrece. Um bom vinho, um bom queijo. A colheita precisa de fermentação. O tempo tudo cura.

No juízo vigilante, as redes ilimitadas da sociedade convergem para o mesmo ponto, o mesmo pedaço de alcatrão. Em sequência, as criaturas vão aparecendo no ecrã. “Estás lá?” Caminham juntas, por padrão, ainda ao lado dos famélicos da terra e do ar, encaixados nas caras dos livros, face ao poder dominador sempre que este se expande como domador de leões. Falamos de autoritarismo sem freio. Apesar da mordaça e da mais sofisticada disrupção propagandista, não há como negá-lo, o protesto ergue-se. Convocam-se liberdades. O ser. A voz. Algo que em anuências déspotas é negado na escarna política. Por demais exemplos na História – não é necessário tirar um curso para o aprender –, o ser revolta-se, a dor grita. Esta é a ordem congénita da natureza humana. Não há nenhum homem com o direito de privar outro dessa universalidade. Qualquer um. A liberdade é o ensinamento que circunscreve a identidade de cada indivíduo. Seres análogos. Uma espécie só. Cabeça, tronco e membros. Na semelhança se pungem diferenças. Como franjas de vocabulário.

Em casos alguns, grande parte do poderio é canalizado para toldar o progresso com realidades lineares e sem flatulências. Nem que para isso tenha de se produzir a falsidade e a “re-história”, erguendo a deseconomia e, mais à frente, a extinção. Criam-se modelos ordenados para enfrentar os juízos do povo, moldando clamores com poderes exacerbados que misturam modulações sociais, separando o trigo do joio, ora subindo o tom, ora baixando as acústicas mais graves. O sistema coloca-se em posição, em estéreo, para provocar a indolência. O técnico experiente e equitativo intende para que não se chegue à distorção, para que se entendam todas as nuances – dos instrumentos às vozes – instaurando a harmonia e a ponderação. O funcionário obtuso, às mãos de forças superiores, fá-lo espalmando a circunstância. Como um algoritmo, corta raízes, força pela anulação. Estingue. Seria ideal se todos tivessem oportunidade, sem que se façam das electrónicas estados de direito.

Os ponteiros avançam. Pessoas sem medo enfrentam poderes magnânimos, cá e lá, sabendo de antemão ser causa perdida. Antecipam-se e arrastam o universo às costas. Os astros rebolam, as ciências despertam. Porque o fazem? Modorra, urticária, infortuna? Poder-se-ia pensar que os homens que detêm o domínio na China são gente flexível, capaz de distintas perspectivas e sensibilidades para ultrapassar as limalhas da História ou o rigor do plano mestre. Não dá certo, tenta-se outra configuração, dando um passo maior do que as pernas. No país do meio, que já não é o de outrora, abre-se sempre um novo embrulho. Porque não é este país como o nosso? Será apenas pelo número infinito de gente?

Que dizer dos residentes de Hong Kong que protestam há meses rabiscando o seu destino? Ritual de fim-de-semana transformado em conexão sagrada, tentando – pasme-se! – que o território onde nasceram possa navegar ao sabor dos seus ventos. A base da revolta? Um “país” que possa viver livre. Surdina, colosso, relampejo. Palavras que não definem democracia, mas que a tentam sintonizar, com velas desfraldadas às ventoinhas do artifício.

Que pretendem os homens do Norte – e do Sul – quando esticam e apertam a corda? Que tencionam demonstrar ao mundo? Torná-lo melhor? Sorte ou azar daqueles que nascem num país com liberdades diminutas por uma questão de ideologia, idolatria ou desconfiança. Que pena, não serem livres e determinados sem mão ajustadora a abrir-lhes o caminho desde a nascença. Que fazer quando se cai dentro de um espaço limitado sem o horizonte amplo da vida? Poderá falar-se da China sem rodeios, aconselhando os homens que estão lá em cima com um caderninho na mão? Uma nação global a várias velocidades, onde o desencanto e o sublime rolam em paralelo, gota-a-gota. Dúvida ou exclamação? Que fazer dessa magnitude, com tanto de imperial a correr-lhe nas veias, quando o mundo real se desagrega? Quem o vigia, quem tem o plano mestre? O romantismo autocrático necessita de folga. Na fantasia das grandes muralhas a faísca ateia labaredas e pega-se ao fruto proibido. Quem o apaga?

A inteligência purifica o doping da democracia. Em que rua está escrita esta frase?

É relevante dar importância ao que se escreve, não o fazendo levianamente. Por esta altura, a cadeira já se partiu e o escritor nada escreveu. Escorregando por ideias esparsas, mistura modulações para que se entendam as nuances. Tira as coisas do lugar. Um rodízio de sentenças com semanas de maturação para que se leia e se oiça, chegando a outro escrutínio. Sobem-se escadas para se ler mais alto, para se ouvir melhor. Palavras que passam de mão em mão, como a sede que chega à boca, feita história de encantar. Escrito retirado a fórceps do meio de uma cabeça perdida, que ao alinhar esta exacta palavra precisa de a recuperar, para que a flor não murche. Escreve sem olhar, libertando o fantasma da realidade que não se dá a disputas regionais. Face ao escritor que usa as pernas e se põe a correr liso e sem relevo. Que palavras usar, como descrevê-lo?

A China. Pausa. Hoje não se vive. Amanhã, quando tudo isto passar, a vida retoma o seu lugar. Que fazer, Senhora? Que acústica usar para que o comboio chegue ao fim da ponte sem perder carruagens? “A inteligência purifica o doping da democracia”. Será com aspas? Em que rua está escrita esta frase? Os indivíduos irrequietos não calam o seu raciocínio. Consegue alguém colocar-se dentro da vida de outra pessoa? Os famélicos sobram e escoam para outros países. Hong Kong escoa para o mundo, na cola do ecrã. Um mundo perdido e a afundar-se. Se Deus é cinco, o Diabo é seis. Se o Diabo é seis, o Homem é sete. O técnico experiente não deixa chegar à distorção. A melodia persiste. This monkey is gone to heaven.

30 Ago 2019

Activistas libertados prometem continuar luta pela democracia em Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap]s activistas políticos Joshua Wong e Agnes Chow foram hoje libertados e prometeram continuar a luta pela democracia em Hong Kong, depois de serem detidos e acusados de incitamento à participação num protesto não autorizado em Junho.

“Vamos continuar a nossa luta, não importa como nos detenham e nos processem”, disse Wong aos jornalistas logo após a sua libertação. “Nós, pessoas de Hong Kong, não desistiremos e não teremos medo (…) Continuaremos a lutar pela democracia”, acrescentou Chow.

Para além das detenções de dois dirigentes do partido Demosisto, há que somar pelo menos outras quatro conduzidas pelas forças de segurança esta semana.

Andy Chan, líder de um movimento pró-independência, foi detido no aeroporto quinta-feira à noite. Três outras pessoas foram detidas no início desta semana por vandalizarem o edifício do parlamento de Hong Kong durante a invasão ao Conselho Legislativo a 1 de Julho.

Sobre a detenção de Andy Chan, a polícia informou que pende sobre o activista a suspeita de ter participado em motins, sendo ainda acusado de agressões a polícias. Já Wong e Agnes Chow, que saíram sob fiança, estão a ser investigados pelo seu papel num protesto não autorizado em 21 de Junho, no exterior de uma esquadra. Ambos são responsáveis, de acordo com as autoridades, por participarem no protesto e incitarem outras pessoas a manifestarem-se. Wong também é responsável por organizar o protesto.

Wong é secretário-geral de Demosisto e Chow uma das suas dirigentes proeminentes.
Isaac Cheng, vice-presidente do partido, disse que as detenções são uma tentativa de espalhar o medo e entre a população de Hong Kong.

Logo pela manhã, o Demosisto publicou nas redes sociais a informação de que Wong foi empurrado para um carro particular quando se dirigia para uma estação de metro por volta das 07:30 e foi levado para a sede da polícia. Mais tarde, o partido referiu que Chow também havia sido detida, em casa.

Em Junho, Wong tinha cumprido uma sentença de dois meses relacionada com as manifestações pró-democracia de 2014, um movimento de desobediência pública que ficou conhecido pela “Revolução dos Guarda-Chuvas” e na qual se exigia o sufrágio universal.

O dia de hoje ficou marcado também pelo cancelamento de uma manifestação e uma marcha previstas para sábado. O anúncio foi feito pelo próprio movimento que tem liderado desde Junho os maiores protestos em Hong Kong, após perder o recurso contra a decisão da polícia de proibir as iniciativas.

A organização lamentou que, com a proibição do protesto, as autoridades de Hong Kong estejam “a violar um direito básico da população”. Bonnie Leung sublinhou que, a partir deste momento, os habitantes de Hong Kong têm legitimidade para se interrogarem: “’Como vamos fazer para que ouçam o nosso descontentamento?’”. “E isso pode ser perigoso”, avisou.

Na quinta-feira, a polícia de Hong Kong proibiu a manifestação e a marcha pró-democracia, sublinhando que quem desobedecer pode enfrentar até cinco anos de prisão.

Wong, que chegou a ser indicado para o prémio Nobel da Paz em 2018, voltou a envolver-se nos protestos pró-democracia “para fazer pressão sobre o Governo”, apostado “em mostrar ao mundo a determinação do povo de Hong Kong para lutar pela liberdade”, explicou, em entrevista à Lusa, a 20 de Agosto.

As detenções efectuadas pela polícia surgem, também, um dia após a entrada de tropas chinesas na cidade para renderem as que estão estacionadas na guarnição do Exército de Libertação do Povo. Uma operação de rotina, segundo Pequim, uma forma de intimidação, de acordo com deputados e activistas pró-democracia.

Os protestos, que duram quase há três meses em Hong Kong, focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo Governo à lei da extradição, que permitiria o envio de suspeitos para a China.

30 Ago 2019

UE diz que situação em Hong Kong é extremamente preocupante

[dropcap]A[/dropcap] chefe da diplomacia europeia afirmou hoje que a situação em Hong Kong “é extremamente preocupante” para a União Europeia (UE), e apelou às autoridades que respeitem a liberdade de expressão e as manifestações pacíficas.

“Os desenvolvimentos em Hong Kong, especialmente os das últimas horas, são extremamente preocupantes. Nós esperamos que as autoridades de Hong Kong respeitam a liberdade de expressão colectiva, assim como o direito de as pessoas se manifestarem pacificamente”, vincou a Alta Representante da UE para a Política Externa, Federica Mogherini.

Falando em conferência de imprensa à margem da reunião informal dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, em Helsínquia, no âmbito da presidência comunitária finlandesa, a responsável notou que a União irá “continuar a acompanhar muito de perto” a situação.

“Não só ao nível da UE, como também em coordenação com os Estados-membros, sobretudo no que toca aos direitos dos cidadãos europeus e aos interesses da União em Hong Kong”, precisou Federica Mogherini.

A chefe da diplomacia europeia adiantou que, “nas últimas semanas, os Estados-membros mostraram uma grande união sobre este caso”.

“E vamos, de forma privada ou publicamente, continuar a passar a mensagem e a trabalhar para que este caso tome um rumo correcto”, concluiu.

Os protestos em Hong Kong, que duram quase há mais de três meses, focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo Governo à lei da extradição, que permitiria o envio de suspeitos para a China. Contudo, a lista de reivindicações tem sido alvo de ajustes.

Os manifestantes exigem agora a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da chefe de governo Carrie Lam e sufrágio universal nas eleições para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.

Hoje o movimento que tem liderado desde Junho os maiores protestos em Hong Kong cancelou a manifestação e a marcha previstas para sábado, após perder o recurso contra a decisão da polícia de proibir as iniciativas.

Antes, na quinta-feira, a polícia de Hong Kong proibiu a manifestação e a marcha pró-democracia, sublinhando que quem desobedecer pode enfrentar até cinco anos de prisão.

Durante os protestos, centenas de pessoas têm sido detidas, incluindo alguns dos activistas políticos, como Joshua Wong e Agnes Chow, dois dirigentes do partido Demosisto que foram detidos quinta-feira e hoje libertados.

30 Ago 2019

Atacado coordenador do movimento que lidera protestos pró-democracia em Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] movimento que tem liderado desde Junho os maiores protestos pró-democracia em Hong Kong disse ontem que um dos seus coordenadores foi atacado por dois homens com o rosto coberto, armados com tacos de basebol.

A Frente Civil de Direitos Humanos (FCDH) explicou que Jimmy Sham foi atacado num restaurante na zona de Kowloon, mas foi um outro colaborador do movimento que acabou por ser ferido quando tentou evitar a agressão, sendo obrigado a receber tratamento hospitalar.

O incidente aconteceu depois de, durante a manhã, a polícia ter sido obrigada a intervir, sem realizar quaisquer detenções, para afastar um grupo de elementos pró-governamentais que cercara Sham, segundo a imprensa local.

A polícia de Hong Kong proibiu a manifestação e a marcha pró-democracia que estavam agendadas para sábado.

Em conferência de imprensa, esta tarde (manhã em Lisboa), a polícia justificou a medida por recear que o protesto pudesse resultar numa “destruição em larga escala”, alegando que a organização seria incapaz de controlar muitos dos manifestantes.

A marcha deveria terminar simbolicamente junto do Gabinete de Ligação do Governo Central em Hong Kong, para assinalar o 5.º aniversário do anúncio de Pequim de uma reforma política conservadora que estipulava uma triagem para as eleições do chefe do Executivo por sufrágio universal.

A proposta foi rejeitada pelo parlamento de Hong Kong e a recusa de Pequim em aceitar as reivindicações de sufrágio universal levou ao movimento de desobediência civil que ficou conhecido como a “revolução dos Guarda-Chuvas”, quando activistas pró-democracia ocuparam a zona central da cidade e bloquearam as principais estradas do território durante 79 dias.

O último protesto organizado pela FCDH terá juntado, segundo o movimento, mais de 1,7 milhões de pessoas nas ruas, numa marcha pacífica que também fora proibida pelas autoridades, que estimaram em pouco mais de 100 mil o número de participantes na iniciativa de 18 de Agosto.

Tal como já acontecera anteriormente, após este protesto voltaram a registar-se episódios de violência entre manifestantes e as forças de segurança, com confrontos nos subúrbios de Tsuen Wan, nos quais a polícia de Hong Kong recorreu ao uso de canhões de água e efectuou um disparo com arma de fogo para o ar.

A chefe de Governo de Hong Kong, Carrie Lam, que regista o índice de popularidade mais baixo de sempre, anunciou na passada semana a criação de uma plataforma de diálogo com a sociedade, mas avisou que se os protestos violentos continuarem vai usar todos os meios legais para os enfrentar.

O movimento pró-democracia tem ajustado as reivindicações ao longo destes quase três meses. O FCDH exige a retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da chefe do Governo, Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo.

30 Ago 2019

Polícia de Hong Kong proíbe protesto e sublinha risco de cinco anos de prisão

[dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong proibiu a manifestação e a marcha pró-democracia agendadas para sábado pelo movimento que tem liderado os protestos na ex-colónia britânica, sublinhando que quem desobedecer pode enfrentar até cinco anos de prisão.

A decisão das autoridades foi justificada à Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH) por razões de segurança, dada a natureza violenta que tem caracterizado desde o início de Junho muitas das manifestações em Hong Kong, segundo um documento à qual a agência Lusa teve acesso.

No mesmo documento, a polícia sublinhou que aqueles que desobedecerem à proibição podem incorrer em crimes com uma moldura penal que pode chegar aos cinco anos de prisão.

A marcha deveria terminar simbolicamente junto do Gabinete de Ligação do Governo Central em Hong Kong, para assinalar o 5.º aniversário do anúncio de Pequim de uma reforma política conservadora que estipulava uma triagem para as eleições do Chefe do Executivo por sufrágio universal.

A proposta foi rejeitada pelo parlamento de Hong Kong e a ‘nega’ de Pequim às reivindicações de sufrágio universal levou ao movimento de desobediência civil que ficou conhecido como a “revolução dos Guarda-Chuvas”, quando activistas pró-democracia ocuparam a zona central da cidade e bloquearam as principais estradas do território durante 79 dias.

O último protesto organizado pela FCDH terá juntado, segundo o movimento, mais de 1,7 milhões de pessoas nas ruas, numa marcha pacífica que também fora proibida pelas autoridades.

Tal como já acontecera anteriormente, após este protesto voltaram a registar-se episódios de violência entre manifestantes e as forças de segurança, com confrontos nos subúrbios de Tsuen Wan, nos quais a polícia de Hong Kong recorreu ao uso de canhões de água e efectuou um disparo com arma de fogo para o ar.

“Cercados, sob ataque e enfrentando perigo de vida, seis polícias retiraram as suas pistolas (…) A fim de proteger a própria segurança e de outros polícias, um agente disparou um tiro de advertência para o ar”, lê-se num comunicado da polícia.

De acordo com o mesmo comunicado, pelo menos quinze agentes da polícia ficaram feridos durante os confrontos de domingo e dezenas de manifestantes, incluindo um menor de 12 anos, foram detidos por reunião ilegal, posse de armas e agressão.

Em oposição

A chefe de Governo de Hong Kong, Carrie Lam, que regista o índice de popularidade mais baixo de sempre, anunciou na passada semana a criação de uma plataforma de diálogo com a sociedade, mas avisou que se os protestos violentos continuarem vai usar todos os meios legais para os enfrentar.

“Há cinco anos, o Congresso Nacional do Povo bloqueou o nosso caminho para eleições livres. A sua tentativa de nos privar do sufrágio universal (…) desencadeou o movimento Occupy [Central]”, apontou a FCDH quando convocou o protesto.

Agora, lamentou a decisão da polícia em proibir a manifestação e a marcha de sábado, sublinhando que tem feito todos os esforços para que os protestos sejam pacíficos.

O movimento pró-democracia tem ajustado as reivindicações ao longo destes quase três meses. O movimento exige a retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da Chefe do Governo, Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo.

30 Ago 2019

Protestos de Hong Kong marcam festival de cinema de Taiwan

[dropcap]U[/dropcap]m documentário sobre o movimento pró-democracia em Hong Kong abre no dia 6 de Setembro a edição deste ano do Festival Internacional de Cinema e Direitos Humanos de Taiwan.

Numa altura em que Hong Kong enfrenta protestos regulares desde Junho, a terceira edição do festival arranca com “Umbrella Diaries: The First Umbrela”, do realizador James Leong, de Singapura, que acompanha a “Revolta dos Guarda-Chuvas” em 2014.

Segundo um comunicado do Ministério da Cultura de Taiwan divulgado na segunda-feira, o programa do festival inclui ainda “Last Exit to Kai Tak”, um outro documentário, do britânico Matthew Torne, que segue quatro activistas pró-democracia de Hong Kong.

“Hoje Hong Kong, Amanhã Taiwan” e “Movimentos Juvenis Contemporâneos” são aliás dois dos três temas do festival organizado pelo Museu Nacional dos Direitos Humanos de Taiwan, juntamente com “Destino: Igualdade de Género”.

A actual crise política é o maior desafio que Hong Kong já enfrentou, disse o director do Museu, Chen Jung-hong, durante a apresentação do festival, que vai decorrer entre 6 e 8 de Setembro na capital Taipé e entre 17 e 25 do mesmo mês na cidade de Kaohsiung.

Minas e armadilhas

O programa do festival inclui “Deslembro”, um filme da realizadora brasileira Flávia Castro sobre os desaparecidos políticos durante a ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985, assim como discussões após as sessões e workshops “para explorar os direitos humanos na perspectiva das vítimas políticas”.

A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-Wen, recebeu no mês passado cativistas pró-democracia de Hong Kong e referiu que a ilha iria seguir “princípios humanitários” para lidar com eventuais pedidos de asilo dos activistas.

Em resposta na semana passada, Ma Xiaoguang, porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Governo chinês, exigiu que o governo de Taiwan “pare de minar o Estado de Direito” e de interferir nos assuntos de Hong Kong.

28 Ago 2019

Hong Kong | Carrie Lam dialogou com jovens, mas recusou exigências

[dropcap]A[/dropcap] líder de Hong Kong disse ontem que se encontrou com um grupo de jovens, depois de na semana passada ter dito estar a criar uma plataforma de diálogo com a sociedade, mas voltou a rejeitar as exigências dos manifestantes.

“Não é uma questão de não responder”, mas de “não aceitar essas exigências”, disse Carrie Lam em conferência de imprensa no Conselho Legislativo, antes da reunião semanal com o seu conselho executivo.

Na segunda-feira, a Chefe do Executivo e os secretários da Educação e Assuntos Internos estiveram reunidos com cerca de 20 pessoas, a maioria entre os 20 e 30 anos, sem ligações partidárias conhecidas, segundo o Jornal South China Morning Post.

Esta reunião, à porta fechada e sem aviso prévio, aconteceu dois meses depois de os sindicatos de estudantes universitários terem rejeitado a oferta de Lam para um diálogo.

De acordo com o mesmo jornal, que cita fontes que estiveram na reunião, alguns participantes disseram a Lam que não era necessário que satisfizesse todas as exigências de uma só vez: a retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da chefe do Governo, Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo (parlamento local).

De acordo com as mesmas fontes, citadas pelo jornal de Hong Kong, os participantes na reunião disseram a Lam que ela deveria começar por anunciar a retirada definitiva das emendas à lei da extradição e organizar um inquérito independente à violência policial.

A Chefe do Executivo terá respondido que seria difícil retirar completamente a lei, mas não chegou a explicar os motivos.

Esta reunião aconteceu um dia depois de violentos confrontos nos subúrbios de Tsuen Wan, em que a polícia de Hong Kong recorreu ao uso de canhões de água e de um disparo com arma de fogo para o ar.

“Cercados, sob ataque e enfrentando perigo de vida, seis polícias retiraram as suas pistolas (…) A fim de proteger a própria segurança e de outros polícias, um agente disparou um tiro de advertência para o céu”, lê-se num comunicado da polícia.

De acordo com o mesmo comunicado, pelo menos quinze agentes da polícia ficaram feridos durante os confrontos de domingo e dezenas de manifestantes, incluindo um menor de 12 anos, foram detidos por reunião ilegal, posse de armas e agressão.

Preparados para tudo

Os protestos maciços de rua, que traduzem a maior crise política em décadas na cidade, acontecem desde o início de Junho, e alguns deles terminaram em confrontos violentos entre a polícia e manifestantes.

Ainda na conferência de imprensa de ontem, Lam reiterou que quer estabelecer uma plataforma de diálogo com os manifestantes, mas avisou que se os protestos violentos continuarem vai usar todos os meios legais para os enfrentar.

“Devemos estar preparados para comunicar com diferentes pessoas da sociedade”, afirmou Carrie Lam em conferência de imprensa no Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
“Temos de dizer não à violência, queremos pôr um fim a esta situação caótica em Hong Kong”, afirmou, acrescentando que não vai desistir da construção de uma plataforma de diálogo.

A líder do executivo da antiga colónia britânica reiterou, contudo, que começar um diálogo não significa desculpar a violência. “Se a violência continuar, a única coisa que devemos fazer é estancar a violência através de acções que imponham a lei”, sublinhou.

Em preparação
Para sábado está marcado uma nova manifestação, organizada pelo movimento liderado os grandes protestos em Hong Kong, para assinalar os cinco anos do veto de Pequim à possibilidade de sufrágio universal na ex-colónia britânica, apesar da possibilidade do território poder ser atingido por um tufão.
Em declarações ontem à Lusa, a porta-voz da Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH), Bonnie Leung, disse que a convocatória da manifestação se mantém, mas admitiu que o tufão pode ter impacto na capacidade de mobilização do protesto.
Numa nota, à qual Lusa teve acesso, a Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH), convocou uma marcha com início em Chater Garden, no centro da cidade, e que termina em frente ao Gabinete de Ligação de Pequim em Hong Kong, que já foi alvo de anteriores protestos.

28 Ago 2019

Hong Kong | Pequim “extremamente descontente” com declaração do G7

[dropcap]O[/dropcap] Governo chinês disse hoje que está “extremamente descontente” com a declaração do G7 sobre Hong Kong a apelar a que se evite a violência no território, depois de três meses de protestos anti-governamentais.

Em conferência de imprensa, o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang afirmou que a ex-colónia britânica é uma “assunto interno” da China e que nenhum “Estado, organização ou indivíduo tem o direito de ingerir”.

“Expressamos extrema insatisfação e firme oposição à declaração emitida pelos líderes do G7”, disse Geng. A China apelou ainda aos membros do G7 que “parem de agir com más intenções, meter o nariz em assuntos alheios e preparar secretamente actividades ilegais”, acrescentou.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora aquilo que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica, enquanto apelam à demissão de Carrie Lam, a chefe do governo local, pró-Pequim e à eleição de um sucessor por sufrágio universal directo, e não nomeado pelo Governo central.

A declaração emitida após a cimeira do G7 – grupo informal composto por sete países (Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Japão, França, Reino Unido e Itália) que estão entre as maiores e mais industrializadas economias do mundo – “reafirma a existência e importância da Declaração Conjunta Sino-Britânica de 1984” e pede que “seja evitada a violência”.

A polícia de Hong Kong defendeu na segunda-feira o uso de canhões de água e o disparo de um tiro de alerta face a manifestantes “extremamente violentos”. Os confrontos de domingo nos subúrbios de Hong Kong foram dos mais violentos desde o inícios dos protestos.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse após a cimeira do G7 que todos os líderes expressaram a sua “profunda preocupação”. “Todos os países do G7 apoiam uma Hong Kong estável e próspera e estamos comprometidos com o princípio ‘um país, dois sistemas'”, numa referência à autonomia da região em relação à China continental.

27 Ago 2019

Países do G7 pedem respeito pelo estatuto de autonomia de Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap]s países do G7 pediram esta segunda-feira o respeito pelo estatuto de autonomia de Hong Kong, para evitar mais violência, após dois meses de manifestações por reformas diplomáticas na antiga colónia britânica.

Num comunicado emitido no final da cimeira do G7, na cidade francesa de Biarritz, os países do G7 reafirmam “a existência e importância da Declaração Sino-Britânica, de 1984, sobre Hong Kong e apelam a que se evite a violência”.

Na conferência de Imprensa no final da cimeira do G7, o Presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião do encontro, disse que houve consenso entre os países para o apelo à estabilidade social em Hong Kong, no respeito dos acordos estabelecidos entre o Reino Unido e a China.

“A mensagem que se quis transmitir é que é fundamental travar a violência que se tem verificado nas ruas de Hong Kong, apelando ao Governo chinês para encontrar soluções”, explicou Emmanuel Macron.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Iniciada em Junho, a partir da recusa do polémico projecto de lei, a mobilização tem alargado as suas reivindicações, para exigir um sufrágio universal, com receio da crescente interferência de Pequim.

27 Ago 2019

Hong Kong | Polícia usa armas de fogo pela primeira vez em protesto

[dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong disparou este domingo pelo menos um tiro depois de manifestantes pró-democracia terem atacado agentes com paus e varas, e usou gás lacrimogéneo para dispersar um grupo em protesto numa rua central do território. Esta é a primeira vez, em três meses de protestos no território, que as autoridades usam armas de fogo contra os manifestantes.

“Pelo que entendi, um colega acabou de disparar a sua arma. O que me apercebi é que foi um agente fardado que disparou o tiro”, declarou um elemento da polícia de Hong Kong aos jornalistas, citado pela agência de notícias AFP, falando em violentos confrontos entre manifestantes e forças policiais.

Segundo um jornalista da estação de rádio e televisão pública RTHK, o único tiro foi disparado para o ar. De acordo com as agências noticiosas internacionais, a polícia também recorreu neste domingo, pela primeira vez, a canhões de água, apesar de não os terem utilizado directamente nos manifestantes.

O maior confronto teve lugar na zona de Tsuen Wan, a cerca de 10 quilómetros do centro da cidade. Enquanto uma multidão protestava num parque, um grupo invadiu uma rua principal, espalhou paus de bambu no chão e alinhou barreiras de tráfego e cones para tentar bloquear a passagem às autoridades.

Depois de fazer avisos, a polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, mas os manifestantes responderam atirando tijolos e artefactos explosivos artesanais contra os agentes de segurança.

Após este episódio, os manifestantes acabaram por recuar. Dois canhões de água e veículos da polícia juntaram-se aos elementos da polícia de choque que avançaram pela rua, tendo encontrado pouca resistência.

Imagens televisivas mostram que um dos canhões de água foi usado uma vez, mas não pareceu ter alcançado os manifestantes que se retiravam. Alguns manifestantes afirmaram ter recorrido à violência porque o Governo não respondeu às iniciativas pacíficas.

“A escalada a que se assiste agora é apenas resultado da indiferença do nosso Governo perante as pessoas de Hong Kong”, disse Rory Wong, que se encontrava no confronto.

Centenas de manifestantes pró-democracia reuniram-se ontem num estádio, debaixo de chuva, e começaram a desfilar pelas ruas de Hong Kong, onde outros ajuntamentos se preparam, após os violentos confrontos na cidade no sábado, depois de 10 dias de calmaria.

26 Ago 2019

Polícia de Hong Kong anuncia detenção de 29 pessoas no violento protesto de sábado

[dropcap]U[/dropcap]m total de 29 pessoas foram detidas em Hong Kong depois de terem participado sábado numa manifestação pró-democracia marcada pela violência entre manifestantes e as forças de segurança, informou hoje a polícia em comunicado.

O protesto resultou na detenção de 19 homens e 10 mulheres, com idades entre 17 e 52 anos, por crimes como reunião ilegal e agressão a elementos da polícia. “Alguns manifestantes radicais desviaram-se do percurso original e obstruíram as estradas, danificaram as lâmpadas de rua e atacaram polícias. A polícia condena veementemente o comportamento dos manifestantes”, pode ler-se na mesma nota.

Um dos detidos é Ventus Lau, um dos organizadores da marcha que foi autorizada pela polícia, por reunião ilegal, disse seu advogado à agência de notícias Efe. Pelo menos dez pessoas receberam tratamento em hospitais públicos e duas estão “em estado grave”, segundo a autoridade de saúde da cidade.

Depois de 10 dias de relativa paz na ex-colónia britânica, a tensão voltou às ruas no sábado, quando milhares de pessoas se manifestaram em Kwun Tong, no leste de Kowloon.

De acordo com relatos da polícia, um grande grupo de manifestantes montou barreiras para paralisar o tráfego e “usou serras eléctricas para danificar uma série de postes de luz (…), o que representa uma séria ameaça à segurança das pessoas no local utilizadores das vias”.

Os manifestantes, acrescenta-se na mesma nota, também arremessaram objectos e bombas de gasolina aos polícias, causando danos a veículos das forças de segurança e lesões nas pernas de um jornalista.

A polícia realizou uma operação com “a força apropriada para anular os actos violentos dos manifestantes”, acrescenta-se. Os protestos maciços de rua, que traduzem a maior crise política em décadas na cidade, acontecem desde o início de Junho, e alguns deles terminaram em confrontos violentos entre a polícia e manifestantes.

Quando os protestos começaram, os cidadãos expressaram a sua rejeição a uma lei de extradição apresentada pelas autoridades locais que permitiria a entrega de suspeitos a jurisdições sem acordos prévios como a China continental, algo que os opositores ao texto consideram como o fim das garantias judiciais oferecidas pelo sistema de Hong Kong.

No entanto, as manifestações evoluíram nas últimas semanas para reivindicações mais amplas sobre os mecanismos democráticos da cidade e para a rejeição da crescente influência de Pequim nos assuntos locais. Novas marchas são esperadas hoje, especialmente na área de Tsuen Wan.

25 Ago 2019

Novos protestos em Hong Kong com cordão humano e manifestação de contabilistas

[dropcap]O[/dropcap]s protestos anti-governamentais e pró-democracia voltaram hoje às ruas de Hong Kong com um cordão humano marcado para junto das estações das três principais linhas de metropolitano e uma manifestação promovida por contabilistas. A manifestação dos contabilistas começou às 12:30, com a previsão de ocorrência de um cordão humano para as 20:00.

As duas iniciativas antecedem um protesto convocado para 31 de Agosto para assinalar os cinco anos do veto de Pequim à possibilidade de sufrágio universal na ex-colónia britânica.

Por outro lado, acontecem após a manifestação pacífica de domingo – que juntou mais de 1,7 milhões de pessoas, segundo a organização, e 128 mil, de acordo com a polícia – e um tenso protesto esta semana numa das estações de metro que quase resultou em confrontos entre manifestantes e forças de segurança.

Os contabilistas vão marchar no centro da cidade, num desfile autorizado pela polícia, para exigir ao Governo de Hong Kong uma resposta às cinco reivindicações da Frente Cívica dos Direitos Humanos, o movimento que tem liderado os maiores protestos.

Em causa está a retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da chefe do Governo, Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo.

O cordão humano não tem uma liderança conhecida e tem sido promovida nas redes sociais, uma iniciativa para “continuar a dar eco aos apelos das pessoas de maneira pacífica, racional e não-violenta” e, “ao mesmo tempo, elevar a consciência internacional” para as reivindicações da população de Hong Kong.

Na quinta-feira, a empresa gestora do metro em Hong Hong anunciou que, daqui em diante, ao mínimo sinal de violência, vai suspender os serviços e fechar as estações sem qualquer aviso. “A polícia pode ter que entrar na estações para tomar as acções necessárias para garantir o cumprimento da lei”, indicou a MTR, num comunicado citado pelo jornal South China Morning Post.

Os protestos na região administrativa especial chinesa duram desde 9 de Junho e têm sido marcados por violentos confrontos entre manifestantes e polícia.

23 Ago 2019

Manifestantes barricam-se em estação de metro de Hong Kong contra polícia anti-motim

[dropcap]C[/dropcap]entenas de manifestantes barricaram-se ao princípio da noite contra a polícia anti-motim numa estação de metro de Hong Kong, para assinalar um mês sobre o violento ataque contra dezenas de manifestantes por alegados membros do crime organizado.

O protesto realizado hoje na estação de Yuen Long, estava a ser pacífico até à chegada de carrinhas policiais. Alguns manifestantes muniram-se de chapéus de protecção da construção civil e máscaras de gás, enquanto outros usavam extintores, e espalharam detergente, cerveja e óleo na entrada da estação para tentar a entrada da polícia.

Há um mês, gangues de homens armados com cassetetes, hastes metálicas e tacos de beisebol, vestidos com ‘t-shirts’ brancas, espancaram manifestantes pró-democracia que estavam a regressar a casa depois de um protesto. O ataque de 21 de Julho deixou quase 50 pessoas feridas, incluindo transeuntes, alguns dos quais foram gravemente afectados. Nessa altura, muitas vozes se levantaram para criticar a polícia, acusada de ter demorado mais de uma hora para chegar ao local, sem ter detido qualquer atacante.

O chefe da polícia, Stephen Lo, qualificou como “difamação” a ideia de um possível conluio entre as forças de segurança e as tríades, e garantiu que os agressores seriam processados. Este ataque atingiu a confiança do povo de Hong Kong nas autoridades públicas.

Os protestos, que duram há nove semanas, focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo Governo à lei da extradição, que permitiria a extradição de suspeitos para a China.
A lista de reivindicações tem sido alvo de ajustes.

Os manifestantes exigem a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão de Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.

22 Ago 2019

China confirma detenção de funcionário do consulado britânico em Hong Kong

[dropcap]A[/dropcap] China confirmou hoje a detenção de um funcionário do consulado britânico em Hong Kong, desaparecido desde 8 de Agosto, numa altura de tensão diplomática entre Pequim e Londres, devido aos protestos na antiga colónia britânica.

Geng Shuang, o porta-voz da diplomacia chinesa, confirmou que o homem está detido na cidade de Shenzhen, que faz fronteira com Hong Kong, por ter violado uma lei chinesa de segurança pública.

Geng não avançou detalhes ou se ele será libertado após uma detenção administrativa de quinze dias, como está previsto na lei chinesa, caso não seja formalizada uma acusação criminal.

“Perturbar a ordem pública” ou “ameaçar a segurança nacional” são acusações frequentemente usadas contra dissidentes e activistas políticos no país asiático, e que podem resultar em duras penas de prisão.

O porta-voz lembrou que o funcionário não é britânico, mas antes natural de Hong Kong. “Isto é, chinês e, portanto, trata-se inteiramente de um assunto interno”, argumentou.

Na terça-feira, o ministério britânico dos Negócios Estrangeiros disse estar “extremamente preocupado” com o desaparecimento do funcionário, durante uma viagem à China continental.

A polícia de Hong Kong confirmou também a abertura de uma investigação sobre um caso de desaparecimento, em 9 de Agosto.

Através da rede social Facebook, a sua família revelou que o funcionário, chamado Simon Cheng, foi a Shenzhen, em 8 de Agosto, para uma reunião de negócios. A família disse que ele passou a estar incontactável à noite, quando atravessava a fronteira para Hong Kong.

Segundo a sua conta oficial no LinkedIn, Cheng trabalhava como director de investimentos e comércio na Scottish Development International, uma agência de investimento da Escócia, no Consulado Geral Britânico de Hong Kong.

O Reino Unido e a China têm trocado algumas acusações, à margem dos quase três meses de protestos na antiga colónia britânica.

Hong Kong vive um clima de contestação social desencadeado pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

A China criticou já o secretário dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, no início do mês, após este ter falado com a líder de Hong Kong, Carrie Lam, sobre os protestos, e pedido uma “investigação totalmente independente” à actuação da polícia, para “reconstruir a confiança”.

“É simplesmente errado que o governo britânico fale directamente com a presidente do Executivo de Hong Kong para exercer pressão”, afirmou então um porta-voz da diplomacia chinesa.

No início do ano, a China deteve um empresário e um antigo diplomata canadianos, após a directora financeira do grupo chinês das telecomunicações Huawei, Meng Wanzhou, ter sido detida em Vancouver, a pedido dos Estados Unidos, por suspeita de que a Huawei tenha exportado produtos de origem norte-americana para o Irão e outros países visados pelas sanções de Washington, violando as suas leis. Ambos os cidadãos canadianos permanecem detidos por “prejudicarem a segurança nacional”.

21 Ago 2019

Activistas desconfiam de plataforma de diálogo anunciada pelo Governo de Hong Kong

[dropcap]A[/dropcap] “plataforma de diálogo” anunciada hoje pela chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, foi recebida com desconfiança por activistas pró-democracia contactados pela agência Lusa.

“Já vimos isto anteriormente (…) e ficamos com a sensação de que se tratará de uma falsa consulta, (…) mas não uma verdadeira resposta” às reivindicações dos manifestantes, defendeu a porta-voz Frente Cívica de Direitos Humanos, que tem liderado os grandes protestos em Hong Kong desde o início de Junho.

Bonnie Leung, que é também vice-coordenadora do movimento, afirmou que pela experiência de controvérsias anteriores, o modelo de diálogo será “muito limitado em termos de tempo” e “com muitos sectores pró-Pequim”.

Ao mesmo tempo que reiterou a vontade de se avançar para “negociações sérias”, Leung criticou que na conferência de imprensa, esta manhã, de Carrie Lam não tenha sido dada qualquer resposta às reivindicações do movimento.

A activista sublinhou que a plataforma será “inútil se não se apostar na comunicação com os diversos representantes pró-democratas”.

Já o fundador do partido pró-democrata Demosisto, Joshua Wong, elogiou a decisão, mas colocou sérias dúvidas sobre a capacidade de Carrie Lam para liderar esta plataforma.

“É uma boa decisão e boa oportunidade para as pessoas de Hong Kong encetarem um diálogo com os decisores de poder”, começou por comentar o activista, que chegou a ser indicado para o prémio Nobel da Paz em 2018 e que lidera o partido, defensor da autodeterminação do território.

“Mas perguntamo-nos se Carrie Lam é realmente a pessoa certa”, sustentou Wong, que foi libertado em Junho da prisão, na sequência das manifestações de 2014 em Hong Kong, conhecidas como a “Revolução dos guarda-chuvas”, uma campanha de desobediência civil que durou mais de dois meses e na qual se exigia o sufrágio universal na ex-colónia britânica administrada pela China.

O Governo de Hong Kong anunciou a criação imediata de uma “plataforma de diálogo” com “pessoas de todas as áreas sociais”, dois dias após um protesto pacífico que juntou, segundo a organização, 1,7 milhões de pessoas.

Em conferência de imprensa, Lam recusou avançar com um inquérito independente para investigar a alegada violência policial, uma das reivindicações dos manifestantes.

A Frente Cívica de Direitos Humanos, movimento que tem liderado os protestos pró-democracia em Hong Kong, já veio dizer que o derradeiro objectivo dos protestos passa por garantir o sufrágio universal no território.

Os protestos, que duram há nove semanas, focaram-se inicialmente na rejeição das emendas propostas pelo Governo à lei da extradição, que permitiria a extradição de suspeitos para a China.
A lista de reivindicações tem sido alvo de ajustes.

Os manifestantes exigem a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão de Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.

O protesto visou aumentar a pressão sobre o Governo de Hong Kong, num momento em que Pequim mobilizou milhares de tropas na cidade vizinha de Shenzen, fazendo crescer os receios de uma intervenção chinesa.

20 Ago 2019