Andreia Sofia Silva SociedadeTrânsito | SJM é a operadora com maior redução de shuttle bus A Sociedade de Jogos de Macau deverá reduzir em mais de 40% o número de autocarros que coloca na estrada, passando de 12 para apenas sete. Anthony Wong diz que redução de shuttle bus sem boas alternativas de transporte público pode trazer problemas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) anunciou recentemente que está a ser levada a cabo uma redução de 20% no número de shuttle bus que diariamente circulam nas estradas. Dados mais detalhados fornecidos ao HM revelam que a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) é a operadora que lidera neste processo de redução, prometendo uma diminuição dos seus autocarros de 12 para sete, sendo que actualmente apenas circulam nove autocarros da SJM. Trata-se, assim, de uma redução de 41,6%. Em segundo lugar surge a Sands, com a promessa de redução de pouco mais de 19%, passando de 21 para 17 autocarros. A Galaxy é a terceira operadora com uma maior redução, de 18,7%, passando de 16 para 13 autocarros. A DSAT garantiu ao HM que até Janeiro deste ano operavam em Macau 65 rotas, um decréscimo de 10% face aos 73 autocarros que antes circulavam no território. Anthony Wong, actualmente docente na Universidade Cidade de Macau (UCM), realizou um estudo sobre o funcionamento dos shuttle bus no período em que deu aulas no Instituto de Formação Turística (IFT). E assume: sem opções viáveis de transporte, a redução dos autocarros de turismo pode causar problemas ao nível do congestionamento de pessoas. “Promover uma redução nos shuttle bus irá afectar os turistas e recomendaria que esperássemos até que tenhamos um bom sistema de transportes públicos, e o metro ligeiro construído. Aí faria sentido reduzir os shuttle bus, mas sem uma boa alternativa para transferir os turistas para as atracções, o aeroporto ou as fronteiras, tenho sérias dúvidas quanto a isso”, disse o docente ao HM. “A circulação dos shuttle bus tem sido um bom apoio para os turistas em termos de transporte. São um meio de circulação muito confortável e os turistas de facto apreciam isso. A sua redução irá influenciar de forma negativa o turismo, porque se não temos shuttle bus teremos de providenciar outro tipo de transporte, tal como os táxis ou autocarros. E para ser honesto, o sistema de transportes públicos não só não é confortável como é de difícil acesso”, acrescentou ainda. Também Tong Ka Io, director da Iniciativa para o Desenvolvimento da Comunidade de Macau, acredita que o Governo, mais do que reduzir os shuttle bus para melhorar o trânsito, deve promover um melhor sistema de transportes públicos. “O Governo tem de analisar como pode melhorar o sistema de transporte públicos e, hoje em dia, os cidadãos deparam-se com um dilema, porque querem utilizar os transportes públicos mas não conseguem, muitas vezes é mesmo impossível, e por isso usam o seu próprio carro ou mota”, disse. Tong Ka Io defende ainda que a redução dos shuttle bus deve ser feita consoante o número de turistas, lembrando que, no futuro, com a abertura dos novos casinos no Cotai, as operadoras poderão começar a operar mais rotas. “É difícil fazer previsões, mas vão existir mais casinos e haverão mais motivos para as operadoras aumentarem as carreiras de shuttle bus”, rematou.
Hoje Macau SociedadeDirector da PJ não sabe se subcomissário está em segurança O director da Polícia Judiciária (PJ) disse ontem não “ter quaisquer informações sobre a segurança” do subcomissário Iao, dado como desaparecido desde o dia 28 de Fevereiro. Questionado pelos jornalistas sobre o caso deste agente, Chau Wai Kuong recusou divulgar mais informações do que aquelas tornadas públicas pelo Secretário para a Segurança. “Já foi dito que este indivíduo foi interrogado aqui (…) e como é testemunha não é conveniente revelar mais nada”, respondeu, citado pela rádio Macau, sem esclarecer se o subcomissário Iao saiu do território por livre vontade ou se é uma testemunha-chave no caso dos seis agentes policiais suspeitos de associação criminosa, corrupção passiva e usurpação de funções por terem facilitado entradas ilegais no território. O director da PJ adiantou, no entanto, estar ainda longe de terminar a investigação ao caso dos agentes, que terão operado em grupo durante quatro anos, com ligação a seitas. No âmbito desta colaboração, os polícias permitiram a entrada e saída ilegal de pessoas da China, que desejavam frequentar casinos, mediante pagamentos.
Flora Fong Manchete SociedadeIC | Réus e testemunhas negam revelação de dados secretos Stephen Chan e Lei Man Fong, os dois funcionários do Instituto Cultural (IC) que vão acusados de abuso de poder pelo Ministério Público, negaram ontem ter revelado quaisquer informações para que uma empresa de uma familiar do primeiro arguido vencesse um concurso público. Testemunhas do caso também negam que tenha havido transmissão de dados [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]sessão no Tribunal Judicial de Base (TJB) continuou ontem, com o juiz Lam Peng Fai a dirigir o julgamento que tem o ex-vice-presidente do IC como principal arguido. Stephen Chan é acusado de ter dado informações que beneficiaram a empresa do irmão, a Empresa de Engenharia Vo Tin, para que esta vencesse mais de meia dúzia de concursos públicos em adjudicação de serviços. Lei Man Fong é acusado de ajudar o superior a fazê-lo, mas ontem, ao lado de testemunhas, defendeu que nunca revelou ou recebeu as informações sobre as cotações das outras empresas candidatas antes ou durante os concursos públicos do IC. No entanto, segundo a acusação, no computador da empresa foram descobertos documentos que pertencerão ao IC. Os serviços adjudicados diziam respeito à manutenção de instalações da Biblioteca Central de Macau e a instalação de electricidade e de iluminação básica e monitorização na Casa do Mandarim, em 2008. Stephen Chan era presidente da comissão de selecção dos concursos públicos, mas não terá pedido para ser retirado da função por conflito de interesses. Ontem foi questionado sobre quem do IC é que fez a lista de comparação de preços das cotações das empresas candidatas, mas o arguido disse não saber exactamente quem foi, garantindo apenas que foi o chefe do Departamento do Património Cultural – na altura Cheong Cheok Kio – quem distribuiu os trabalhos aos funcionários. Stephen Chan disse ainda que “nunca conversou” com o seu irmão sobre o seu trabalho. Lei foi questionado sobre onde guardou os documentos dos concursos públicos e este respondeu que “normalmente guarda no seu computador onde outros não podem aceder”. Contudo, referiu, “quando acabam os concursos públicos e as informações não são secretas, guarda-os no servidor comum”. Toca a copiar Chan e Lei confirmaram que também o irmão de Stephen Chan, Chan Koi Seng, e o seu patrão, Sou Tong Hang, “foram ao IC copiar as informações das cotações das outras empresas”, mas depois de já terem acabado os concursos públicos. Lei afirma, no entanto, que depois de 2005, outros departamentos do Governo permitiam que isto acontecesse, apenas para que as empresas candidatas soubessem qual a diferença dos preços a candidatura. Lei diz ter considerado isto “normal” e não ter, por isso, avisado os superiores. O primeiro concurso público para a prestação de serviços de manutenção de instalações da Biblioteca Central de Macau foi cancelado porque outra empresa candidata entregou uma cotação atrasada. O IC, dizem ainda os arguidos, também considerou que o concurso devia ser melhorado e decidiu repeti-lo. O MP suspeita que foi isto que permitiu que, no segundo concurso público, a empresa Vo Tin mostrasse uma cotação muito inferior à das outras empresas – a primeira proposta foi de quatro milhões e a posterior foi de 1,9 milhões. Stephen Chan “não se lembra se a comissão de selecção discutiu isso” e Sou Tong Hang, dono da empresa, disse também não se recordar. Momento verde Stephen Chan disse também que não levava documentos do trabalho para casa e assegura que “não estava a acompanhar muito os trabalhos de concursos públicos em 2008”, estando apenas focado em “elaborar políticas”. No entanto, o MP diz que em casa do irmão de Stephen Chan foram descobertos papéis com o logótipo do IC. Stephen Chan diz que esses papéis eram “de reciclagem” e foram entregues a outros locais para que se poupasse papel “como forma de protecção ambiental”. Sou Tong Hang, dono da empresa Vo Tin, assegurou ontem que o irmão de Stephen Chan é apenas funcionário e não sócio da empresa e trabalha como engenheiro, ainda que num cargo de gestão. Contudo, referiu, o seu pagamento salarial não é fixo. Sou Tong Hang defendeu ainda que “nunca ouviu Chan Koi Seng dizer que poderia ter benefícios” face a obras do IC, porque o seu irmão trabalhava no organismo. O preço certo Sou Tong Hang foi questionado pelo MP sobre se o irmão de Stephen Chan sugeriu baixar os preços das cotações para a candidatura. O empresário diz que os preços foram decidiram por ambos, mas não se lembra se o irmão do vice-presidente sugeriu realmente os montantes. No computador do escritório da empresa, foram descobertas listas onde estão os preços das empresas candidatas aos concursos públicos, com o logótipo do IC. Mas tanto Sou Tong Hang como Chan Koi Seng defenderam que a lista foi feita por eles, com base nas informações copiadas no IC após o término dos concursos públicos. O juiz, contudo, disse que essa lista “não parece feita por eles” e que os papéis parecem, sim, “internos do IC”. A sessão continua na próxima quarta-feira
Tomás Chio SociedadeMetro | Mais carruagens para a linha de Seac Pai Van [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Gabinete de Infra-estruturas de Transportes (GIT) defendeu, em resposta ao deputado Si Ka Lon, que a compra de mais carruagens para o metro ligeiro se destina à linha que vai funcionar em Seac Pai Van. A entidade prometeu controlar as despesas de manutenção das mesmas, tendo ainda assegurado a conclusão de todos os processos referentes aos concursos públicos da 1ª fase do metro ligeiro. “Os materiais adquiridos destinam-se à linha de Seac Pai Van. Para responder ao aumento do número de passageiros no futuro, essa compra foi incluída no planeamento do desenvolvimento do metro ligeiro. Embora não tenhamos um calendário para a sua entrada em funcionamento, o Governo teve em conta as sugestões feitas pelos consultores do projecto, com vista a garantir o desenvolvimento a longo prazo”, disse Ho Cheong Kei, coordenador do GIT. “O Governo já reuniu com a empresa que irá fornecer as carruagens por forma a adiar a data de entrega, para que possamos diminuir as despesas de manutenção”, referiu Ho Cheong Kei. O GIT está ainda a preparar a “revisão dos documentos do concurso para a prestação de serviços de operação e manutenção da 1ª fase do metro ligeiro e assistência técnica” em conjunto com os empreiteiros. Isto porque, segundo explicou Ho Cheong Kei, havia incertezas quanto ao traçado da península de Macau, sendo ainda feitas mais análises técnicas ao nível da fiscalização. O deputado Si Ka Lon havia exigido na sua interpelação escrita explicações junto do Governo quanto à compra de carruagens extra para o sistema do metro ligeiro, apontando ainda para a ausência de um calendário para o projecto.
Andreia Sofia Silva SociedadeAperfeiçoamento Contínuo | Instaurados 13 processos por irregularidades O Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo já gerou 13 processos por irregularidades, sendo que oito deles acabaram por justificar a actuação das autoridades policiais. Ainda assim, Governo prepara terceira fase do programa [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) divulgou ontem o relatório de avaliação intercalar do Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo, referente aos anos de 2014 a 2016. Segundo dados apresentados por Kong Ngai, chefe da Divisão de Extensão Educativa da DSEJ, já foram instaurados 13 processos a entidades fornecedoras de cursos, sendo que oito deles foram parar às mãos das autoridades policiais. A última situação foi resolvida o ano passado, quando foi descoberto um caso de burla. A DSEJ fez ainda 1272 advertências verbais às entidades e 269 escritas, medidas realizadas antes da instauração de qualquer processo. Kong Ngai apresentou mais dados. Até 29 de Fevereiro deste ano registaram-se no Programa de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento Contínuo um total de 110 mil pessoas, sendo que cada pessoa se inscreveu duas vezes. Isto representa um aumento da participação em 20% face à primeira edição do programa. Em média, cada residente utilizou quatro mil patacas de um subsídio de seis mil, sendo que “os cursos técnicos registaram uma maior subida de inscrições, enquanto que foi registada uma descida nas inscrições para os exames de condução”, explicou Kong Ngai. Para já a terceira fase do programa está a ser planeada pela DSEJ, não tendo sido avançados dados quanto ao orçamento que será disponibilizado ou o subsídio a atribuir a cada residente. Diversificar é preciso O relatório ontem apresentado, e que foi realizado pela empresa Sociedade Policy 21, de Hong Kong, mostra que 94% dos residentes e 98% das entidades concordam com a continuação do programa. Cerca de 86% dos residentes afirmaram que “o subsídio lhes permitiu fazer a sua aprendizagem contínua, participando nos cursos e exames de credenciação que gostam”. Em relação à terceira edição, 69% dos entrevistados e 77,5% das entidades colaboradoras acreditam que o programa “se deve posicionar em áreas diversificadas”. “O relatório sugere que a terceira fase do programa também pode estabelecer uma linha [de concordância] com o desenvolvimento da indústria económica de Macau, por exemplo, em articulação estreita com o desenvolvimento certificado da economia e das indústrias de Macau, colocando mais recursos nos cursos de formação profissional e na formação de pessoal”, apontou a DSEJ em comunicado. Desde a criação do programa, em 2011, a DSEJ gastou 930 milhões de patacas em subsídios, tendo recebido mais de 520 mil inscrições. Os cursos já possuem a certificação do Sistema de Gestão da Qualidade, reconhecido pelo serviço de acreditação do Reino Unido. Suspensão de aulas devido a temperaturas As aulas vão ser suspensas quando as temperaturas subirem ou descerem acentuadamente. Isso mesmo anunciou ontem a DSEJ, que diz que vai alterar as actuais regras em vigor. “Fixamos um critério de 3ºC ou abaixo para suspender as aulas do ensino infantil, primário e especial. Quando a temperatura for 0º ou menos todo o ensino é suspenso. Com 38º C ou acima, as aulas são também suspensas para as turmas infantil, primário e especial e acima de 40º todas as aulas ficam suspensas.” Reunião com Colégio de São José O aumento de propinas no Colégio de São José, que tem sido contestado pelos encarregados de educação, será alvo de uma análise por parte da DSEJ. “Temos marcada uma reunião para esta ou para a próxima semana”, disse ontem Leong Lai, directora da DSEJ. “As informações estão a ser preparadas e vão ser entregues em breve à DSEJ. O colégio disse que tomou como referência outras escolas que também aumentaram as propinas e temos de procurar saber junto do director para termos mais informações. Temos tentado saber junto do Colégio de São José quanto às cobranças, e temos procurado saber as informações dos últimos dez anos. Temos procurado saber quantas prestações é que os pais têm vindo a pagar”, explicou a directora.
Joana Freitas SociedadeSaúde | Kiang Wu recebe mais de 420 milhões em apoios do Governo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]hospital Kiang Wu recebeu novamente a maior fatia de subsídios provenientes dos Serviços de Saúde (SS). Dados publicados em Boletim Oficial, ontem, mostram que no último trimestre do ano passado, o hospital privado recebeu mais de 400 milhões de patacas directamente dos SS. Mais de 1,07 mil milhões de apoios financeiros foram concedidos a diversas entidades, com especial destaque para a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), que conseguiu 15,6 milhões de patacas. A instituição, da qual são membros diversos deputados, alocou a maior parte do dinheiro – 6,3 milhões – na Clínica dos Operários e contou ainda com 1,7 milhões de patacas para obras e a instalação de um elevador na Clínica de Recuperação. Na lista está ainda a Associação de Beneficência Tung Sin Tong, presidida pelo deputado e empresário Chui Sai Cheong, que recebeu do Governo mais de 5,7 milhões de patacas para “apoio a serviços de consulta externa e estomatologia para crianças”. A Associação dos Moradores de Macau, presença habitual na lista dos beneficiados, conseguiu 1,9 milhões de patacas, a Associação Geral das Mulheres quase dois milhões e a Cruz vermelha cerca de um milhão de patacas para o transporte de doentes. Entre atribuições independentes, está também a Caritas, que recebeu apenas 340.700 patacas para a prestação de assistência médica em seis dos seus asilos. Sempre à frente Mas foi o Kiang Wu quem liderou, novamente, a lista dos apoios. O hospital liderado pelo deputado Fong Chi Keong conseguiu 426,328,824 milhões de patacas, em conjunto com o Instituto de Enfermagem que lidera. O valor mais alto diz respeito a “subsídios protocolares para a prestação de serviços de consultas externas e de urgência”, sendo que mais de 10,2 milhões foram para “apoio financeiro ao Centro Hong Ling”. Os protocolos são autorizados pelo Governo, para que o hospital público não fique sobrecarregado. Mais de 35 milhões atribuídos ao Kiang Wu serviram para “financiamento das despesas médicas dos doentes do foro cardíaco não transferidos pelo São Januário” e 19,2 milhões serviram para “subsídios para a formação do pessoal médico do hospital” e “subsídio para o Fundo de Intercâmbio e Formação”. Outros 18,7 milhões foram alocados em subsídios de investimento e desenvolvimento, com 21,6 milhões de patacas destinadas ao Instituto de Enfermagem do Kiang Wu a servirem para um “apoio financeiro relativo à segunda prestação”, sem mais detalhes. Lei Chin Ion com nomeação renovada O director dos Serviços de Saúde (SS), Lei Chin Ion, vai manter-se no cargo durante mais dois anos. O anúncio foi ontem feito por despacho publicado em Boletim Oficial, assinado por Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Lei Chin Ion é reconduzido por “possuir capacidade de gestão e experiência profissional adequadas para o exercício das suas funções”, sendo que a nomeação tem efeitos a partir de 1 de Abril. Alexis Tam, recorde-se, deu o prazo de um ano a Lei Chin Ion para que os SS melhorassem.
Flora Fong Manchete SociedadeJogo | Investigar promotores sim, mas sem interferência de Pequim Apertar com a fiscalização aos promotores de jogo da China é preciso, mas agentes do sector não querem a intromissão de Pequim. Reforçar a legislação local para que o background destes trabalhadores seja passado a pente fino é uma ideia forte, mas Macau deverá fazê-lo sozinho. Até porque, defendem, esse é o princípio de ‘Um país, dois sistemas’ [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]presidente da Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM), Ho Sut Heng, sugeriu esta semana que o Governo Central ajude Macau a perceber o contexto dos promotores de Jogo e os seus trabalhadores vindos do interior da China. Alguns promotores de Jogo e académicos concordam com a medida, mas descartam a ajuda de Pequim. Por outro lado, há quem considere tal medida “ridícula” e “impossível”. Ho Sut Heng apresentou a sugestão numa reunião da Assembleia Popular Nacional (APN) em Pequim, frisando que o Governo Central deveria coordenar-se com o Governo da RAEM para arranjar forma de investigar o contexto dos residentes da China continental que trabalham no sector do Jogo de Macau. O maior problema relacionado com os promotores de Jogo do continente prende-se com o facto destes poderem desaparecer de Macau, sem nunca serem apanhados ou extraditados, por não haver legislação neste sentido. Para Charlie Chou, responsável pelo site Wonderful World onde eram expostas informações dos devedores da indústria de Jogo, e presidente da Associação de Informações dos Jogos de Macau, criada oficialmente no mês de Fevereiro, a ideia de Ho Sut Heng é “ridícula”. É quase impossível, diz, pedir ajuda ao Governo Central para supervisionar este sector de Macau. “É impossível e temos como exemplo o caso Dore: o Governo de Macau não consegue fazer nada, é ridículo pedir ajuda ao Governo Central, até porque existem aqui imensos trabalhadores provenientes do interior da China. Não é razoável. O que é preciso fazer é que o Governo de Macau reforce a troca de informações com a China continental”. Ao HM, Charlie Chou defendeu mesmo que não considera que os “backgrounds” dos sócios de empresas junket sejam complicados. Estes, diz, criam apenas negócios e investimentos “de forma normal” em Macau. Chou diz mesmo à presidente da FAOM para “não pensar demais”. Metam-se na vida deles Seja como for, a verdade é que os casos de junket que fugiram com dinheiro de Macau para a China continental existem. Ainda que a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos assegure ter apertado as regras – tanto que 30 junket reprovaram na obtenção da renovação da licença -, Kuok Chi Chong, presidente da Associação de Mediadores de Jogo e Entretenimento de Macau, concorda com a ideia de Ho Sut Heng. Considera que os valores de negócios de empresas de junket são muito elevados e precisam de ser ainda mais supervisionados – sendo que, refere, não basta as informações que a DICJ diz ter em conta e que poderão não passar pelo estudo do background dos promotores. “Quando reunimos com o Governo, apresentámos também a opinião de haver uma supervisão mais apropriada através do Governo. Espero que a revisão do regulamento administrativo relativo aos junket inclua isto e seja mais rigorosa, de forma a termos proprietários de empresas junket de maior confiança”, indicou ao HM. Kuok Chi Chong explicou que ainda que, de facto, o Governo de Macau até está atento ao contexto destes homens, porque os promotores precisam de entregar o registo criminal à DICJ. E sozinhos? Billy Song, director da Associação de Jogo Responsável de Macau, concorda com a necessidade de se apertar mais a fiscalização, mas considera que a ajuda do Governo Central para esta questão é desnecessária. Tal como Kuok Chi Chong frisa, também Billy Song diz que agora o Governo “tem a sua maneira de investigação do background dos promotores de Jogo”. Contudo, também explica que pode “não ser suficiente para perceber totalmente” de onde vêm os empresários, pelo que “vale a pena uma revisão”. No entanto, mesmo que sejam provenientes da China, as pessoas trabalham e criam negócios em Macau, pelo que Billy Song defende que o assunto deve ser assumido exclusivamente pelo Governo de Macau. “É verdade que existem dificuldades para que o Governo de Macau perceba completamente os contextos deles, mas o organismo competente deve pensar como conseguir fazer isso melhor. E não me parece que esteja a acontecer um problema assim tão grande por causa do background dos promotores de Jogo”. Apesar disso, Billy Song concorda com a ideia da presidente da FAOM em reforçar a cooperação com as autoridades do interior da China com o Governo de Macau, para trocar informações que permitam confirmar, e apenas isso, os dados de que a RAEM já dispõe. Para Samuel Huang, professor da área de Jogo do Instituto Politécnico de Macau (IPM), compreender melhor o background dos promotores de Jogo e traz vantagens para um desenvolvimento saudável do Jogo. Mas também este académico considera que a investigação não pode contar com ajuda do Governo Central. “Desde o final do ano passado que o Governo reforçou a supervisão aos promotores de Jogo. Se a ideia é só analisar o background deles, considero que o Governo de Macau pode fazer isso sozinho. Esta questão está relacionado com o princípio ‘Um país, Dois sistemas’ e o Governo Central pode não intervir na investigação a trabalhadores em Macau”, disse. Devedores em estudo Segundo uma resposta da DICJ ao HM, o organismo reuniu com representantes dos promotores de Jogo, ouvindo opiniões sobre a criação de uma base de dados do sector. Kuok Chi Chong, presidente da Associação de Mediadores de Jogo afirmou que o Governo e os promotores de Jogo concordam com a ideia, mas a criação de tal base ainda precisa de ser negociada. A DICJ frisa que deve cumprir os regulamentos e as leis, sobretudo a Lei de Protecção de Dados Pessoais. Kuok prevê que o Governo pode fazê-lo através da revisão da lei, a exemplo do foi feito nos Estados Unidos. O organismo avançou que como a criação da base envolve questões de privacidade, é preciso ter em conta muitos aspectos. Junkets: o fruto perigoso de Macau, dizem EUA – Relatório do Departamento de Estado aponta vulnerabilidade à lavagem de dinheiro O departamento de Estado norte-americano volta a apontar este ano a vulnerabilidade de Macau à lavagem de dinheiro oriundo da China, de onde saem mais capitais que o permitido com a ajuda dos promotores de jogo dos casinos. “A indústria do jogo depende de promotores de jogo e colaboradores pouco regulados, conhecidos como operadores junket”, para a angariação de apostadores na China, sendo também “populares entre os casinos”, que recorrem a eles para cobrar dívidas, algo que as empresas não podem legalmente fazer na no interior da China, onde o jogo é ilegal, lembra o departamento de Estado norte-americano no seu relatório de 2016 sobre a Estratégia Internacional de Controlo aos Narcóticos. “O inerente conflito de interesses, juntamente com o anonimato conseguido através do uso de operadores junket na transferência e mistura de fundos, bem como a ausência de controlos monetários e cambiais, apresenta vulnerabilidades à lavagem de dinheiro, encoraja a fuga de capitais chineses e fomenta sistemas financeiros clandestinos como ‘fei-chien’ ou ‘dinheiro voador’”, é indicado sobre Macau, que consta do segundo volume do relatório, dedicado à lavagem de dinheiro e crimes financeiros. O Departamento de Estado norte-americano sugere que Macau melhore a legislação no sentido de controlar o dinheiro que atravessa as fronteiras e aponta que ainda não foi implementado um “sistema transfronteiriço de declaração de dinheiro eficaz”. Reduções drásticas A China apenas permite que saia do país, anualmente, o equivalente a cerca de 45 mil euros por pessoa. Para contornar estas restrições, “recorre-se por vezes a operadores junket em Macau”, aponta o relatório, exemplificando que “os jogadores chineses podem depositar dinheiro com os junkets na China continental e usar esse dinheiro em Macau ou podem pedir emprestado a um junket”. “Se depositarem dinheiro, os jogadores podem usar esses fundos em Macau. Quando acabam de jogar, podem levar os ganhos em dólares norte-americanos ou de Hong Kong e investir em propriedades ou paraísos fiscais. Muito do dinheiro canalizado através de junkets tem origem em corrupção, desvio de dinheiro e outras actividades ilícitas”, afirma o documento. No relatório deste ano é mencionada também a presença em Macau de “crime organizado, incluindo tríades”, que são “activas nos serviços de jogo e estão envolvidas com agiotagem, serviços de prostituição”, entre outros. O relatório volta a sugerir uma redução drástica do montante de transacções a partir do qual os casinos têm de alertar as autoridades. Actualmente, a indústria do jogo é obrigada a comunicar qualquer transacção de montante igual ou superior a 500 mil patacas, mas o Departamento de Estado sugere que esse valor seja fixado em três mil dólares norte-americanos, 20 vezes menos que o aplicado.
Joana Freitas SociedadeAssociação de Médicos de Língua Portuguesa pede fiscalização aos cuidados geriátricos [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação de Médicos de Língua Portuguesa pediu ao Governo mais fiscalização face aos cuidados geriátricos, normalmente prestados por associações. De acordo com um comunicado do Executivo, o pedido foi feito numa reunião entre a Associação e o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, onde também se referiu a necessidade de criar melhores condições para os médicos de fora. “A Associação dos Médicos de Língua Portuguesa referiu que, face ao aumento constante da população e da sua esperança de vida, os cuidados geriátricos nos lares de idosos deveriam ser fiscalizados o que permitiria antecipar problemas detectados aquando da chegada à urgência hospitalar”, pode ler-se no comunicado disponibilizado aos média. O HM tentou perceber junto de Jorge Sales Marques, presidente da Associação, a necessidade desta fiscalização e ainda obter comentários sobre outros assuntos da reunião, mas o também médico não se mostrou disponível por este ter sido um encontro interno e de “cortesia”. Alexis Tam, contudo, diz concordar com a sugestão. “O Secretário concordou em abordar esta questão com os responsáveis da Saúde e da Acção Social e reconheceu que, também aqui, a melhoria de gestão pode trazer melhorias evidentes. Por outro lado, reiterou que a família desempenha um papel imprescindível e insubstituível no cuidado aos cidadãos seniores.” Melhores salários Da parte da Associação de Médicos fica a promessa de “trabalhar mais para a melhoria dos cuidados de saúde”, ainda de acordo com o comunicado, que refere também que o grupo considera que esta melhoria tem sido atingida graças à “contratação de médicos estrangeiros como os portugueses”. É ainda deixada a mensagem de que “os constrangimentos de recrutamento salariais e de alojamento, uma vez ultrapassados, poderiam ajudar a atrair profissionais de saúde de elevada qualidade”. O Governo compromete-se a arranjar “melhores condições” face a esta situação, sendo que Alexis Tam assegura que a contratação ao exterior – de médicos portugueses e não só – é para continuar. No documento entregue pelo Gabinete de Tam aos jornalistas, fica ainda a saber-se que a Associação está satisfeita com as melhorias que têm vindo a ser feitas na área da Saúde, nomeadamente ao nível da comunicação interna e dos cuidados. “O empenho que tem sido feito na melhoria da comunicação interna entre os diverso departamentos e entre estes e os centros de saúde pode, em muito, resultar benefícios para os utentes. Sales Marques mencionou a importância das reformas que têm sido feitas, nomeadamente a da aposta nos cuidados primários como mecanismo essencial para evitar a sobrecarga dos serviços de urgência e a da formação médica, tendo reiterado o apoio da associação àquelas políticas do Governo.”
Hoje Macau SociedadeAviação | Construção de terceira pista em Hong Kong pode causar problemas [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais de 90% das partidas do aeroporto de Macau e quase 43% das aterragens em Shenzhen (China) podem ser afectadas por problemas de espaço aéreo causados pela construção de uma terceira pista em Hong Kong, conclui um estudo citado na imprensa. O trabalho é citado pelo jornal South China Morning Post, que indica que o grupo ambientalista Green Sense, juntamente com o Airport Development Concern Network, recorreu a dados dos portais FlightAware e Flightradar24 para analisar 1628 partidas de aviões de Macau em Janeiro, que representam cerca de metade do total dos movimentos aéreos. Foram também analisados mais de 16 mil movimentos aéreos de um total de 24 mil que chegaram e partiram do aeroporto Bao An de Shenzhen no mesmo mês. Pelo menos 5200 chegadas e 304 partidas de e para Shenzhen ficam em risco de se cruzarem com três rotas aéreas de Hong Kong. No caso de Macau, quase todas as partidas do aeroporto analisadas podem potencialmente chocar com saídas da pista norte de Hong Kong. Contactada pela agência Lusa, a Autoridade de Aviação Civil de Macau explica que “a gestão do tráfego aéreo da região do Delta do Rio das Pérolas é uma das mais complicadas do mundo” e que, por esse motivo, as autoridades da China, Macau e Hong Kong recorrem a um “mecanismo tripartido” para operarem. “Quaisquer alterações de procedimentos de voo ou desenvolvimentos no Delta do Rio das Pérolas têm de ser discutidas e acordadas entre as três partes, sob o princípio de que qualquer desenvolvimento nos aeroportos da região não pode prejudicar o desenvolvimento de outros aeroportos”, indica o organismo. Assim, “os procedimentos de voo da terceira pista do Aeroporto Internacional de Hong Kong estão a ser estudados e desenvolvidos e serão discutidos no âmbito do mecanismo referido em tempo oportuno”. Divisões de risco O South China Morning Post cita o director-executivo da Green Sense, Roy Tam Hoi-pong, que acredita que os problemas de conflito de rotas, se não forem solucionados, podem fazer com que Hong Kong tenha de ceder algum espaço aéreo à China continental, violando o princípio ‘Um país, dois sistemas’ e gerando uma repetição de uma polémica em torno da ligação ferroviária de alta velocidade para Cantão. Durante a reunião do conselho de planeamento da cidade este ano, o Departamento de Aviação Civil sugeriu que o espaço aéreo fosse dividido em dois, com Hong Kong a gerir a zona inferior e a China a superior. No entanto, Tam acredita que tal iria violar o artigo 130.º da Lei Básica de Hong Kong, que estipula que o território é responsável pelas matérias de gestão empresarial e técnica da aviação civil. “Se ainda acreditamos no princípio ‘Um país, dois sistemas’, então Hong Kong tem de gerir o seu espaço aéreo”, disse, pedindo que o projecto fosse arquivado. A construção de uma terceira pista no aeroporto de Hong Kong, aprovada em 2012, tem sido criticada por organizações ecologistas que alertam para impactos no ruído, poluição e biodiversidade.
Joana Freitas Manchete SociedadeColoane | Novo Macau denuncia alterações à medida e chama pelo CCAC [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação Novo Macau pediu a intervenção do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) numa investigação ao projecto de luxo que poderá nascer no Alto de Coloane, na Estrada do Campo. O grupo diz ter documentos que poderão apresentar irregularidades e alterações feitas à medida para que o projecto fosse aprovado. A Novo Macau diz, por exemplo, que as restrições à construção em altura na zona onde poderá nascer o empreendimento foram “eliminadas” em 2012. Em 2007, afirma, o máximo permitido para a altura da construção no lote era de 11,6 metros, mas em 2012 a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) terá aprovado uma planta para o projecto que permitia a construção até cem metros, sendo que esta tinha a duração de um ano. É aqui que as suspeitas da Novo Macau surgem. “Há alguma ilegalidade administrativa neste processo? Queremos que o CCAC analise esta questão. Poderá haver alguma situação de favorecimento?”, questionam, ao mesmo tempo que pedem que o processo de aprovação para a construção seja suspenso. Além destes dados, a Novo Maca relembra ainda que, apesar de ter estado limitada a um ano, a planta ainda se mantém válida e diz que o anteprojecto da construção foi aprovado em 2013, para que, “talvez, o construtor pudesse começar a obra antes da entrada em vigor da Lei de Salvaguarda do Património Cultural e da Lei do Planeamento Urbanístico”. Pressões múltiplas Recorde-se que o Governo assegurou ao HM que ainda não há condições para que a licença de obra seja emitida, uma vez que o construtor – a empresa de Sio Tak Hong – ainda não apresentou um projecto. Na edição de ontem deste jornal, foi anunciado que o lote não se encontra dentro da área de protecção de Coloane e também que, como é um terreno que serve para aproveitamento de propriedade perfeita, não tem de ser publicada em Boletim Oficial a sua adjudicação. A DSSOPT ainda não deu aval total para o projecto avançar, mas a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental já assegurou que o relatório de avaliação ao impacto no ambiente – feito pela empresa – mostra que não há problemas. Ontem, no dia em que a Novo Macau entregou o pedido de investigação ao CCAC, o grupo “Love Macau” entregou uma carta ao Chefe do Executivo que apela à protecção do “pulmão de Macau” e pede também a suspensão do projecto. Também o presidente da Novo Macau, Scott Chiang, disse ser urgente que tanto a população, como associações locais se unam na defesa de Coloane antes que “seja destruída por promotores imobiliários” e pelo Governo. Scott Chiang pede ainda ao Chefe do Executivo que não permita construções em Coloane até que haja um plano de manutenção da zona.
Joana Freitas Manchete SociedadeFundação Macau | Projecto para escritórios custa 60 milhões A falta de espaços próprios do Governo e de associações vai fazer com que Fundação Macau aposte na construção de um centro de escritórios, que vai nascer ao lado do Centro de Ciência. Só o projecto da obra vai custar 60 milhões [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Fundação Macau vai gastar quase 60 milhões de patacas para a elaboração do projecto de um novo complexo de escritórios. De acordo com um despacho publicado na segunda-feira em Boletim Oficial (BO), e assinado pelo Chefe do Executivo, a ideia é ter espaços próprios para ajudar departamentos governamentais e associações. Ao que o HM apurou, é a Fundação Macau quem pretende construir um Centro Multifuncional e Edifício de Escritórios junto à Avenida Dr. SunYat-Sen, ao lado do Centro de Ciência. Isto porque, assegura a Fundação, “o espaço público do Centro de Ciência não é suficiente, especialmente a sala de reuniões”. Tanto departamentos governamentais, como associações, refere ainda a Fundação, “têm precisado de espaços” e o actual não é suficiente para todas as reuniões e eventos culturais. “A Fundação tem de arrendar espaços a proprietários privados para tratar de coisas da administração, por isso é que tem planeada esta construção, para ter um escritório próprio, a fim de responder aos pedidos do Governo e das associações”, referiram responsáveis da Fundação Macau. Segundo o despacho analisado pelo HM, este montante – de 59,9 milhões de patacas – é apenas para a “elaboração de projecto e apoio técnico”, faltando ainda o valor da construção propriamente dita. A adjudicação deste serviço – que será pago até 2019 – foi feita à P & T Architects and Engineers Limited, Sucursal de Macau. Esta empresa é uma das responsáveis pela concepção do edifício da fronteira da ponte Hong Kong – Macau – Zhuhai, pelo qual recebeu 71 milhões de patacas. Chui Sai On, Chefe do Executivo, é o presidente do Conselho de Curadores da Fundação Macau, que tem como presidente do Conselho de Administração Wu Zhiliang. O Centro de Ciência foi construído com o apoio da Fundação Macau, que injectou 370 milhões de patacas, sendo mesmo a responsável do projecto.
Flora Fong Manchete SociedadeIC | Antigo vice-presidente começou a ser julgado [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]antigo vice-presidente do Instituto Cultural (IC) Stephen Chan começou ontem a ser julgado pelo Tribunal Judicial de Base (TJB), acusado de abuso de poder e de ter revelado informações para que a empresa do irmão vencesse em concursos públicos para adjudicação de serviços. Chan negou no Tribunal os crimes de que vai acusado, mas o Ministério Público (MP) diz que há contradição nas declarações do chefia. Segundo o Jornal Ou Mun, o antigo vice-presidente é actualmente assessor técnico superior, e foi acusado destes crimes a adjudicação da concessão de prestação de serviços de manutenção de equipamentos da Biblioteca Central de Macau. Em 2008, a empresa do irmão deste antigo responsável do IC terá sido candidata a esta concessão e Chan não assumiu estar impedido de participar na selecção do concurso público, a qual, pelo contrário, até presidiu. Chan terá revelado informações sobre os outros candidatos ao seu irmão, o que permitiu que a sua empresa tenha conseguido a prestação deste serviço seis vezes. No mesmo processo está ainda envolvido outro réu, um assessor técnico superior do IC, que também foi acusado de fornecer informações de cotações de uma obra de instalação de electricidade e de iluminação básica e monitorização na Casa do Mandarim ao irmão do antigo vice-presidente. Chan nega, mas o TJB diz que esta declaração é diferente das que foram feitas no MP, onde o antigo vice-presidente assumiu ter revelado estas informações. O juiz leu o conteúdo das declarações feitas no MP em 2011, mas Chan explicou que “estava confuso por causa das perguntas orientadas feitas pelo MP”. Sobre a questão de impedimento, Chan respondeu que o irmão não é responsável da empresa envolvida mas apenas trabalhador e, portanto, não considerou que existissem conflitos de interesse. A sessão continua hoje.
Hoje Macau SociedadeMenos trabalhadores na indústria do Jogo [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o fim do quarto trimestre de 2015 havia menos trabalhadores na principal indústria de Macau, mostram dados dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) divulgados ontem. O âmbito do inquérito exclui os promotores de jogo, mas indica que se encontravam 56.217 trabalhadores a tempo completo no sector das lotarias e outros jogos de aposta, menos 2,7% em relação ao fim do mesmo trimestre de 2014. Os croupiers foram os que diminuíram mais, sendo que de todos os trabalhadores 24.619 desempenhavam essa função, tendo diminuído 4,4%, em termos anuais. Neste ramo de actividade económica os trabalhadores que laboravam por turnos equivaleram a 92,6% do total. Contudo, os números subiram face aos ordenados. Em Dezembro de 2015 a remuneração média dos trabalhadores a tempo completo no sector das lotarias e outros jogos de aposta – excluindo as participações nos lucros e os prémios – situou-se nas 21.630 patacas, correspondendo a um acréscimo de 4,6% em comparação com o mês homólogo do ano anterior. A remuneração média dos croupiers se cifrou nas 18.780 patacas, subindo 4,3%, em relação a Dezembro de 2014. No fim do trimestre em análise existiam 462 postos vagos no sector das lotarias e outros jogos de aposta, equivalentes a uma descida de 379 lugares face ao fim do quarto trimestre de 2014. A maioria das vagas pertencia à área de “empregados administrativos” e ao “pessoal dos serviços e vendedores”, contudo, não se registou nenhuma vaga de croupiers no trimestre de referência. Em relação aos requisitos de recrutamento, 42,0% dos postos vagos requeriam experiência profissional, 70,6% exigiam habilitações académicas iguais ou superiores ao ensino secundário complementar, 88,7% requeriam o Mandarim e 55,8% o Inglês. Durante o quarto trimestre de 2015 foram recrutados 376 trabalhadores, uma redução de 80% face aos 1968 registados no mesmo trimestre de 2014. A taxa de recrutamento (0,7%), a taxa de rotatividade de trabalhadores (1,8%) e a taxa de vagas (0,8%) diminuíram 2,7; 0,8 e 0,6 pontos percentuais, respectivamente. Segundo a DSEC, as quedas reflectem que a procura de recursos humanos no sector das lotarias e outros jogos de aposta abrandou mais do que em anos anteriores.
Filipa Araújo Manchete SociedadeMulher | Macau cresceu nos direitos, mas há espaço para melhorar No dia em que se assinala a luta pelos direitos das mulheres, figuras femininas de Macau frisam as diferenças e os progressos que se têm atingido. As coisas estão melhores e a imagem de uma mulher submissa deixa de fazer sentido. Ainda assim, “há espaço para melhorar” [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]ia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Um dia que marca uma luta feminina, no mundo, que ao longo das décadas tem trazido mudanças estruturais à história mundial. Em Macau, vivem-se tempos felizes, apontam as agentes com quem o HM falou. Mas ainda há trabalho a fazer. “Há sempre espaço para melhorar. Acho que em Macau, tenho esta ideia, fomos tendo pequenos progressos, pelo menos aqueles que estou a testemunhar, mas ainda assim, acho que temos espaço para melhorar toda a área da situação da mulher”, explicou, ao HM, Anabela Richie, ex-presidente da Assembleia Legislativa (AL) e actual membro da Comissão dos Assuntos das Mulheres e Crianças. Sendo da Comissão em causa, Anabela Ritchie tem um papel activo na luta da classe feminina. “Temos tentado, ao longo destes últimos anos, estar mais atentas aos problemas das mulheres. Em Macau há muitas associações que também se dedicam aos problemas das mulheres e crianças. A pouco e pouco nota-se alguma melhoria, mas como digo, temos espaço para fazer mais qualquer coisa”, apontou. O que é importante é que “se criem condições para as mulheres serem melhores profissionais, melhores mães, melhores esposas”. A ajuda que estas mulheres precisam, diz, “é na criação de condições para que possam exercer o seu papel da melhor forma possível”. Para a deputada Melinda Chan, os tempos da queimada de soutien são outros. A igualdade de géneros, defende, está mais elevada que nunca, incluindo na escolha de profissões e de estudos. “Não há diferença ou discriminação do homem para mulher, nem existe nos trabalhos ou nas famílias”, apontou. A idade dos porquês Apesar da igualdade visível, diz a deputada, as mulheres de Macau preocupam-se menos com as questões sociais. Cenário que deveria ser alterado. “Actualmente as qualificações tantos dos homens como das mulheres são iguais, mas ainda assim as mulheres preocupam-se menos com as questões sociais. A taxa de participação activa nos assuntos sociais é baixa. Portanto, é natural que para os assuntos públicos, selecção de membros de comissões ou conselhos do Governo, e também para a eleição de deputados da AL, a presença da mulher seja menor. É preciso que as mulheres lutem mais pelos seus lugares na sociedade, mas para isso é preciso interessarem-se mais, participarem, mostrarem vontade de querer fazer e ser”, apontou a deputada. Questionada sobre a ocupação dos cargos principais, Melinda Chan concorda que ainda há um número muito baixo de participação feminina, mas espera que no futuro esse cenário seja alterado, até porque, diz, há abertura para isso. Abrir os olhos “Comparado com há dez anos as mulheres de Macau aumentaram a consciência de lutar pelos seus direitos, pelo menos sabem procurar maneiras de expressar acções incorrectas para com a classe feminina”, defende Debbie Lai, subdirectora do Centro Bom Pastor. Apesar dos esforços, e das claras diferenças dos tempos, as desigualdades são para si algo muito presente na sociedade da actualidade. “Por exemplo, os casos de violência doméstica que nos chegam às mãos. As mulheres têm ainda um papel muito inferior no seu grupo familiar. Os agressores ainda têm pensamentos muito tradicionais, aquele pensamento de que o homem é o maior e que a mulher deve ser obediente”, retratou. No ambiente de trabalho, contudo, Debbie Lai defende que algumas profissões são ocupadas tanto por homens como mulheres e que ambos os sexos têm as mesmas regalias. No entanto, aponta, existem profissões em que isto não acontece, exemplificando com os cargos dos dirigentes do Governo e Chefe do Executivo, que são ocupados maioritariamente por homens. Osso duro de roer Uma vida mais difícil, é como a deputada Melinda Chan classifica o trabalho diário das mulheres em Macau, porque para além de trabalharem também lhes cabe os cuidados da família. “De facto, nas famílias gerais, as mulheres contribuem mais do que os homens e a sociedade deveria aceitar e compreender melhor isto. Com isto, os homens devem dar mais apoio e cuidado às mulheres”, apontou. Melinda Chan considera também que a contratação fácil de empregadas domésticas em Macau e as creches ajudam as mulheres a aliviar os seus trabalhos e participar mais na sociedade. Apesar de tudo, lamenta o facto de que a maioria de mulheres precisa de trabalhar a tempo inteiro e ter menos tempo para cuidar dos filhos. Para Debbie Lai há coisas ainda por resolver, tais como as leis relacionadas com os direitos das mulheres que, aponta, ainda precisam de ser aperfeiçoadas, incluindo a Lei da Violência Doméstica. A subdirectora do Bom Pastor nota no entanto que os pensamentos tradicionais não são alterados pelas leis, mas sim pela educação. “A mudança não é imediata, mas através da educação conseguimos ensinar aos alunos o que é a igualdade de géneros e este é que deve ser o primeiro passo”, apontou. Educação para mudar Da mesma opinião partilha Amélia António, presidente da Casa de Portugal, que considera que “as mulheres que decidem, ou que tomam uma decisão de fazer isto ou aquilo, colocam-se eventualmente e de uma maneira geral no mesmo plano que os homens”. Mas o chegar aí, defende, “só pelo caminho da educação”. Para Amélia António, a realidade é que há muitas mulheres que não têm conhecimento daquilo que podem fazer. “O que eventualmente se passa é que muitas mulheres não sabem que podem fazer determinadas coisas ou tomar determinadas iniciativas. Não lhes passa pela cabeça por uma questão de educação”, aponta. “Nos velhos tempos de Macau as mulheres não tinham publicamente a projecção que têm hoje, não participavam nisto e naquilo, ao nível familiar a opinião delas pesava muitíssimo mais do que eventualmente pesa hoje. Lembro-me de, quando cheguei a Macau, quando o assunto era importante, a mãe da família era sempre ouvida”, relembra Amélia António, frisando: “isto é o que eu vejo, para comprovar teriam de ser feitos inquéritos e tentar perceber”. Para a presidente os tempos são outros e a realidade “diferente”. “O papel e a força que tinham a nível familiar dá-me ideia de que diminuiu. Portanto são duas faces diferentes de uma mesma questão. Não posso dizer que piorou, não piorou. Modificou-se. É mais importante esse peso que as mulheres tinham só nas decisões internas e dentro da família ou é mais importante a autonomia que têm hoje e a capacidade que têm para escolher trabalho, trabalhar fora de casa, entrar num negócio? Eu não posso dizer que é pior ou melhor, é diferente. São coisas diferentes”, argumentou. A falta de poder familiar, explica ainda Amélia António, pode ter sido o preço a pagar pela autonomia agora conquistada pelas mulheres. “Não dá para tirar conclusões em cima do joelho, tudo isto são questões que merecem todo um estudo intenso”, apontou. Não, não e não A discordar está Rita Santos, membro da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), que indica que as mulheres são um alvo fácil e estão sujeitas a muitas críticas. “A mulher em Macau está sujeita a críticas, seja no trabalho, ou na educação dos filhos. Quando há problemas em casa a mulher tem sempre responsabilidades”, defendeu. No mundo do trabalho, as mulheres, diz, não têm acesso ao mesmo lugares que os homens, mesmo que se interessem pelas questões sociais. “Seja no sector público como no privado”, apontou. “Recebo muito pedidos de ajuda de mulheres, que não conseguem arranjar trabalho, ou porque são mais velhas ou porque são recém-casadas e as empresas não as querem porque vão ser mães e vão pedir licença [de maternidade]. Não é fácil, não”, frisou. Para Rita Santos, a mulher é capaz de fazer tudo o que o homem faz mas os direitos das mulheres continuam a não ser respeitados. Os tempos não tendem, prevê, a mudar, visto que os “jovens estão cada vez mais materialistas” e pouco ou nada interessados nas questões sociais. “No meu tempo não era assim, porque nós víamos as coisas, preocupávamo-nos, não tínhamos os que os jovens têm agora”, rematou.
Joana Freitas Manchete SociedadeColoane | Adjudicação “não tem de estar” em BO. Terreno fora da zona de protecção O lote adjudicado a Sio Tak Hong “não tem” de estar publicado em BO, mas o Governo garante que se encontra fora da área de protecção em Coloane [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]adjudicação do terreno em Coloane onde poderá ser construído o empreendimento de luxo de Sio Tak Hong não está – nem tem de ser – publicada em Boletim Oficial. Isso mesmo garante a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) ao HM, numa resposta onde é ainda assegurado que o lote se encontra fora da área protegida de Coloane. “Não é necessário, nos termos legais, a publicação no Boletim Oficial da RAEM do aproveitamento dos terrenos em regime de propriedade perfeita”, diz a DSSOPT, que reitera que o projecto não vai ser entregue ao Conselho de Planeamento Urbanístico (CPU) porque não tem ainda planta. “O processo não será enviado ao CPU para debate, uma vez que o titular do terreno ainda não solicitou a emissão de Planta de Condições Urbanísticas.” A questão em torno do empreendimento que pode vir a nascer na Estrada do Campo tem levantado polémica não só pelo facto da empresa responsável pertencer a um ex-membro político, Sio Tak Hong, mas também por ter sido permitida a construção de torres de habitação com cem metros de altura na montanha de Coloane. O facto da adjudicação ter sido feita directamente e “de forma rápida” – em menos de dois meses – como denunciaram deputados e do relatório de avaliação ao impacto ambiental ter sido feito pela construtora e aprovado pelo Executivo também não ajuda. Além das questões acima, o HM quis ainda saber junto da DSSOPT se o empreendimento está fora da zona de 198 mil metros quadrados de área protegida em Coloane. O organismo diz que sim. “[A lei] define claramente que a zona classificada da Ilha de Coloane abrange a área acima da cota de 80m (nível médio do mar) da Colina de Coloane. Porém, o aludido empreendimento não se encontra dentro do âmbito da zona classificada definida pelo diploma legal acima referido”, pode ler-se. Kwan pede bloqueio A deputada Kwan Tsui Hang juntou-se recentemente às vozes que têm vindo a pedir para que o projecto seja bloqueado, ideia também apresentada por Lam Iek Chit, membro do CPU. Ao Jornal do Cidadão, Kwan Tsui Hang disse que o Governo tem um “padrão duplo” face a diferentes projectos. “O projecto vai envolver a escavação da montanha e provoca polémica na sociedade. Porque é que o Governo tem que avançar com o projecto?”, questionou, pedindo que o assunto seja mais transparente e que o projecto seja entregue à discussão do CPU. “Coloane é o único pulmão da cidade e deve manter-se a natureza pelas futuras gerações”, diz Kwan Tsui Hang, juntando-se à União Macau Green Student, que pediu ao Governo a publicação do último relatório de avaliação ambiental do projecto que foi aprovado pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). O Governo, recorde-se, disse que a publicação do documento dependeria da empresa construtora. A semana passada, contudo, Chui Sai On assumiu que se “podia compreender a possibilidade de se poder aumentar a transparência das informações divulgadas e permitir uma maior participação de todos”.
Filipa Araújo Manchete SociedadeEnsino | Apoio para estudantes que queiram melhorar idiomas O Governo vai criar uma bolsa de apoio a recém-licenciados que queiram viajar até um país estrangeiro para aprender, ou melhorar, o idioma local. É uma bolsa temporária, com duração de 12 meses, e que pretende preparar e adaptar os recursos de Macau ao mundo internacional [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, anunciou ontem que o Governo irá lançar, ainda este ano, um programa de empréstimos a recém-licenciados para que estes possam aprender ou melhorar uma língua estrangeira no exterior. A ideia é fazer com que os recursos de Macau melhor se adaptem à globalização. “Estamos a pensar lançar um programa que tem por objectivo dar bolsas aos alunos para que estes se possam deslocar ao exterior. Lugares que dominem a língua inglesa, por exemplo, como a Inglaterra ou Estados Unidos. Isto para que dominem melhor a língua”, exemplificou o Secretário. Apesar dos poucos detalhes, Alexis Tam explicou que, em princípio, este programa terá uma duração de 12 meses e o dinheiro emprestado terá de ser devolvido. “Vamos discutir no futuro, nos próximos meses daremos uma resposta. Os jovens terão de devolver o dinheiro. Os critérios serão muito rigorosos para a escolha dos bolseiros”, afirmou ainda, indicando que isto ajudará a garantir que o montante possa, de facto, ser devolvido. Questionado sobre o valor, o Secretário indicou ainda não existir um valor fixo. A vontade do Governo é implementar o programa ainda este ano. “Pretendemos ter resposta ainda este ano. Coloquei esta ideia a muitos reitores, associações e colegas e estão de acordo”, apontou. A medida, que permitirá melhora as competências profissionais e linguísticas dos recursos humanos de Macau, vai ainda contemplar os residentes de Macau que foram estudar para fora e que agora retornam ao território, assegurou ainda Tam. Esses alunos, que talvez estejam um pouco mais afastados do mandarim, poderão também usufruir de uma bolsa para “fortalecerem e aprofundarem” a língua do continente. “Macau como um centro de plataforma entre os países de Língua Portuguesa [será beneficiado] com este programa, que vem contribuir e ajudar os estudantes”, disse, incluindo nesta lista os estudantes de Língua Portuguesa que poderão voltar, durante este período, a Portugal. Confiança na USJ Relativamente à decisão da China continental em não permitir que a Universidade de São José (USJ) possa receber alunos do continente, Alexis Tam diz que a instituição deverá preparar-se melhor para que possa convencer a China e os encarregados de educação que é a melhor opção para os futuros alunos. Depois da construção das novas instalações, a decisão, acredita o Secretário, poderá mudar. “Desde o início estava a apoiar a USJ. Penso que é uma universidade boa. Tem cooperação com a Universidade Católica portuguesa e outras do mundo. Esta vai ser uma boa universidade de Macau, mas está ainda em construção (…) Ainda não temos um campus concreto. Talvez daqui para a frente, quando tiver as instalações, se funcionar bem, penso que de certeza vai atrair os alunos da China para estudarem lá. Vou apoiar. Tenho muita confiança. Vamos ver, temos que mostrar que é uma boa universidade”, indicou o Secretário aos jornalistas. E a nossa história? Questionado sobre a ideia defendida pela Associação de Educação de Macau em reformular os manuais escolares colocando mais matéria do território no ensino em vez de Hong Kong e China continental, Alexis Tam afirmou que a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) já está a levar a cabo esse trabalho. “Estamos muito interessados, cabe à DSEJ analisar, aliás já está a fazer esse trabalho. (…) Os alunos de Macau devem conhecer a história de Macau, para nós é muito importante. E devem conhecer a história da China e também do mundo”, apontou. Relativamente às declarações de Guo Xiaoming, inspector da DSEJ, de que os bons e os maus momentos da história da China devem ser ensinados nas escolas, Alexis Tam disse não poder “estar mais de acordo”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeMacau | Presença portuguesa é “anacrónica”, diz Pacheco Pereira Para o político e historiador português, a presença portuguesa em Macau é “anacrónica”, por depender de um tempo histórico, mas deve ser aproveitada pelo Governo local, porque “não dá dinheiro, mas dá mundo”. José Pacheco Pereira critica ainda a entrada de capitais chineses na REN [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi o rosto que abriu a 5ª edição do festival literário Rota das Letras e confessa que a Macau que viu nada tem a ver com aquela que conheceu quando veio, com Jorge Sampaio, inaugurar o Centro Cultural de Macau. José Pacheco Pereira, político e historiador, revela, em entrevista, que a presença portuguesa em Macau depende da história, mas deve ser valorizada. “Quando vimos de fora, é evidente que quando olhamos para a presença portuguesa, vimos que ela é anacrónica. Não há mal nenhum nisso. Ela é anacrónica no sentido em que está presa a um momento histórico e sobrevive pelo seu valor cultural e histórico. Mas isso não é só em Macau, noutras circunstâncias também, como em Goa, por exemplo”, disse ontem à margem de uma palestra na Universidade de Macau. Para Pacheco Pereira, cabe ao Governo local aproveitar as vantagens dessa presença portuguesa. “Um Governo consciente gosta da diferença. É evidente que ser a capital do jogo dá dinheiro. Esta diferença não dá dinheiro nenhum, mas dá mundo. E isso é uma coisa com valor”, apontou. O político e historiador, que também enveredou pela escrita com a biografia de Álvaro Cunhal, falou ainda do facto de Portugal ter deixado de apostar na diplomacia cultural e linguística. “Aceitámos a perda de importância do português em muitos países onde tinha cátedras e em que era ensinado como primeira língua. Desinvestimos no Instituto Camões, nos leitorados e nas universidades, e substituiu-se isso com a ideia de que a diplomacia económica iria resolver a influência cultural. Não resolve. É importante, mas depende muito de conjunturas externas. A influência cultural é um factor muito importante”, apontou. Os problemas na China Referindo que a China é “uma experiência única sem nenhum paralelo”, José Pacheco Pereira considerou que a permanência de uma economia capitalista “necessariamente irá gerar tensões sobre o sistema político”. “Quando olho para a China, penso que mais cedo ou mais tarde esta situação não é sustentável. O crescimento económico, a vinda de pessoas para as cidades, a reivindicação de direitos do trabalho, gera de facto alguma tensão política que não se resolve apenas com o crescimento económico. Mais cedo ou mais tarde haverá um problema político na China, porque o crescimento económico não pode continuar sem que mude o modelo da sociedade. Ao mudar o modelo da sociedade muda o modelo político”, apontou. Pacheco Pereira falou ainda dos investimentos chineses que têm sido feitos em Portugal, criticando a entrada de capitais na Rede Energéticas Nacional (REN), pelo facto da rede eléctrica ser “um activo estratégico”. “Ninguém admitia que há dez anos a Energias de Portugal (EDP) ou companhias de seguras fossem chinesas, e isso é uma diferença drástica. Quando falamos sobre globalização normalmente falamos da China, mas ainda assim há muita ignorância sobre a situação concreta da politica chinesa, a não ser da circunstância de que uma parte importante de Portugal foi comprada por empresas, algumas estatais, da China”, lembrou. Pacheco Pereira considerou ainda que a crise económica tornou Portugal um país mais virado para si mesmo. “Vivemos muito dominados pelos problemas da dívida pública e pelos problemas de anos de ajustamentos. Isso funciona como uma barreira na nossa relação com o mundo, e nestes últimos anos tornamo-nos mais paroquiais. A crise económica atirou para fora de Portugal um conjunto de gente qualificada, muito jovem, e ao mesmo tempo tornou-nos mais paroquiais e menos cosmopolitas”, rematou. Instrumentos para Direito Confrontado com o caso do regresso dos magistrados portugueses a Portugal, Pacheco Pereira defendeu que o país deve apoiar os mecanismos que permitem a manutenção do Direito de Macau. “Gabamo-nos de ter deixado o Direito, mas depois temos de deixar instrumentos para que esse Direito se mantenha. Mas não conheço o caso”, frisou. Vistos Gold sem influência José Pacheco Pereira acredita que o caso dos Vistos Gold não vai influenciar as relações entre Portugal e a China, muito menos levar ao fim da política. “Não porá em causa o mecanismo, poderão ser feitas alterações na forma como se desenvolve. Como o grosso dos investimentos foi feito no imobiliário de luxo, foi bom para as agências que trabalham nessa área, mas não há praticamente investimento noutras áreas. O processo irá normalizar-se e não virá um problema de eventuais conflitos com a China”, disse.
Andreia Sofia Silva SociedadeATFPM | Rita Santos diz que mulheres ainda são discriminadas Para Rita Santos, dirigente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública, há ainda “uma discriminação muito grande” entre homens e mulheres em Macau [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]or ocasião da celebração do Dia Internacional da Mulher, a 8 de Março, a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) organizou uma palestra no passado sábado intitulada “Direitos e Regalias das Mulheres de Macau”. Ao HM, Rita Santos, dirigente da ATFPM, garantiu que em Macau ainda há “uma discriminação muito grande”, inclusivamente a nível salarial. “Veja-se na Assembleia Legislativa, quantas mulheres há? E nos principais cargos, quantas mulheres há? Na Função Pública quantos directores são mulheres? E no sector privado a maioria são homens que lideram os cargos de chefia. E se forem mulheres, questionam-se as relações de proximidade que possam ter”, referiu. O debate focou-se ainda na nova Lei de Prevenção e Correcção da Violência Doméstica, que já determina que esta deve ser crime público. No encontro várias mulheres contaram a violência de que foram vítimas no seio do casamento. “Todas as mulheres consideram que a violência doméstica deve ser um crime público, quanto a isso já não há nenhuma dúvida. Muitas das mulheres também trabalham fora de casa e questionam porque é que em Macau continua a existir esse pensamento [da subjugação da mulher], porque já não é como antigamente, em que o marido é que trabalhava e sustentava a casa. Hoje as rendas são tão caras, e com a inflação também, que as mulheres têm de trabalhar fora de casa e enfrentar pressões da família e da sociedade”, disse Rita Santos. A questão da amamentação foi outro dos assuntos abordados. “Todas sabem que o leite materno é muito saudável para as crianças, mas não existe nenhuma protecção da parte do Governo. Nem na Função Pública há espaços dignos para que as mães possam retirar o seu leite”, atirou a dirigente, acrescentando que a ATFPM, desde o estabelecimento da RAEM, tem estado a lutar o aumento da licença de maternidade para 90 dias para o sector privado à semelhança da legislação vigente na China e na Função Pública em Macau. “Todas mulheres [do privado] apoiaram a referida luta”, lê-se num comunicado. CCP reuniram com novo bispo Os membros do Conselho das Comunidades Portuguesas José Pereira Coutinho e Armando de Jesus estiveram reunidos com o novo bispo de Macau, Stephen Lee. Segundo um comunicado, “os conselheiros sugeriram maior investimento na qualidade educativa dos jovens locais por muitos deles poderem vir a desempenhar importantes funções de responsabilidade em Macau”. Stephen Lee terá destacado a criação de um “grupo de trabalho para se inteirar sobre a questão da educação nas escolas católicas bem como incentivar no ensinamento dos valores de família e de entreajuda”.
Joana Freitas Manchete SociedadeConselho de Magistrados tem sido “negação de fiscalização” [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]facto de o Chefe do Executivo ter o poder de nomear magistrados e membros para o Conselho de Magistrados é incompatível com a ética e não permite a fiscalização. É a ideia de Jorge Neto Valente, presidente da Associação de Advogados de Macau (AAM), que falava aos jornalistas depois de ter sido questionado sobre a possibilidade de existir incompatibilidades com a renomeação de Chui Sai Cheong, irmão do Chefe do Executivo, como membro do Conselho de Magistrados. O advogado diz que a incompatibilidade não é só neste caso: “há incompatibilidades sempre que o Chefe do Executivo nomeia magistrados para qualquer situação” – algo que só começou a acontecer desde o regresso de Macau à pátria. “O Chefe do Executivo também não devia designar deputados sem autorização da AL, isso só mostra que os deputados não são tão independentes como isso. No nosso sistema, a separação de poderes é condicionada pela liderança do poder executivo, que nomeia deputados e membros para comissões.” O presidente da AAM ressalva que o líder do Governo nomeia magistrados de acordo com uma comissão “chamada independente”, que não depende directamente do Executivo, ainda que tenha pessoas de lá, mas diz também “acontecem situações em que há colocação de magistrados e movimentos que são feitos”, de forma que não parece ser independente. “Na política não interessa só a incompatibilidade jurídica ou legal, interessa a ética, quando se toma alguma decisão deve passar para a sociedade que essa é ética. Se parece mal à sociedade, então está mal, mesmo que seja consentido por uma lei qualquer”, defende. Quem controla? Também o caso de Ho Chio Meng, nomeado por Chui Sai On, demonstra essa falta de supervisão. “O caso [de Ho Chio Meng] veio pôr a nu as fragilidades do sistema e isso é preocupante. Quem fiscaliza o fiscal? O que se vê é que o sistema não é transparente, porque deveria haver um equilíbrio onde, seja quem for o titular do cargo, pode estar sujeito a fiscalização.” Neto Valente diz que o trabalho de Ho Chio Meng como procurador é motivo para estar mais preocupado do que a adjudicação ilegal de obras, devido à existência de “tráfico de influências”, que acontece porque “ninguém fiscalizava” o trabalho de Ho Chio Meng enquanto procurador da RAEM. “O procurador é presidente do Conselho de Magistrados do MP com mais quatro pessoas e isso é o que faz a corporativização dos órgãos. No Conselho dos Magistrados Judiciais o presidente é o presidente do Tribunal de Última Instância e mais quatro pessoas e isso indica que não se passa nada. Esses conselhos têm sido a negação de qualquer fiscalização e o sistema tem de ser alterado para que possa funcionar sem ser em regime de corporação fechada, em que se tapam uns aos outros.” Fong Chi Keong | “Não estou envolvido no caso Ho Chio Meng” O deputado nomeado Fong Chi Keong assegura que não está envolvido no caso de alegada corrupção do ex-procurador do Ministério Público, Ho Chio Meng. Segundo o canal chinês da Rádio Macau, o também representante de Macau no Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês foi questionado sobre a existência de rumores que indicavam o seu envolvimento no caso, uma vez que é construtor, mas Fong Chi Keong diz que estes não são verdadeiros. “Ganhar dinheiro é com a cabeça, não através de corrupção”, frisou. Presidente da AAM nega estar a ceder a pressões Jorge Neto Valente descarta a acusação de estar a sofrer “pressões” no cargo de presidente da Associação de Advogados de Macau (AAM) e diz que não pode ceder a todos os pedidos. Instado a comentar o que a advogada Manuela António disse ao HM, na semana passada – que o presidente estaria a ceder a pressões e, por isso, a não desempenhar tão bem o seu papel -, Neto Valente defende que o que está em jogo por parte da advogada “não tem a ver com ceder a pressões, porque não houve alterações de coisa nenhuma”. “Tenho dito que estamos preocupados com a qualidade do ensino, que tem vindo a degradar-se, e devemos exigir mais da qualidade dos cursos de Direito – e alguns até deviam fechar. Sobre isso não há alterações. O que houve – e que está a preocupar a Dra. Manuela António – foi o fechar do protocolo e o impedir que venham advogados de Portugal aos cinco e seis por mês”, começou por defender. “A AAM não trabalha só para advogados portugueses. Representamos 400 advogados e temos em conta o interesse de todos, não podemos preocupar-nos com um caso em particular – se a Dra. tem situações de pessoas que gostavam de vir, eu também tenho. (…) Talvez a maioria ache que não deve vir ninguém e a opinião da maioria é que conta”, frisou, salientando que vai haver em breve uma assembleia-geral da Associação onde se vão discutir esses pontos.
Joana Freitas Manchete SociedadeDecisão do TUI sobre recusa de habeas corpus criticada [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]recusa do pedido de Habeas Corpus ao ex-procurador Ho Chio Meng é fruto de “um resultado absurdo” e sinónimo de falhas na justiça. É o que defende o presidente da Associação de Advogados de Macau (AAM), Jorge Neto Valente, quando questionado pelos jornalistas sobre a questão. O responsável critica o facto de Ho Chio Meng – que continua listado como magistrado e é ainda procurador-adjunto – não ter sido considerado pelo Tribunal de Última Instância (TUI) como magistrado por estar a exercer funções de presidente da Comissão de Estudos do Sistema Jurídico. “Acho preocupante um senhor que é magistrado, ter dias em que não é. Já não sei em que lei estamos. Se calhar a lei de Macau não deveria era deixar alguém ser magistrado sem ser magistrado de carreira”, começou por dizer Neto Valente, referindo-se ao facto de o ex-procurador não ter tirado Direito de Macau. “Em Macau arranjou-se um esquema onde é possível nomear comissários políticos [para o lugar de magistrado] (…), ele não estudou Direito de Macau, nem em Macau. Tem de se evitar [ter] um magistrado não independente e sem sólidos conhecimentos do Direito de Macau”, disse, ressalvando, contudo, que ele foi, de facto, nomeado para o cargo. “Se alguém é magistrado, nunca o deixa de o ser. Esta interpretação conduz a resultados absurdos: numa semana é-se magistrado, na a seguir já não se é. Isto é difícil de compreender. [Afecta a imagem da justiça] o facto dele agora não ser considerado magistrado”, diz o presidente da AAM, salientando que não faz sentido “um senhor que tenha saído de procurador e que passou a ser procurador-adjunto, de repente, deixar de ser magistrado porque estava em comissão de serviço”. O advogado reitera que o principal “problema está em que o sistema tem sido analisado à luz de casos pontuais” e a lei, diz, deveria ser reformulada. “Há aqui situações que roçam o sinistro.”
Filipa Araújo SociedadeWanzai | Fronteira continuará encerrada. Governo garante apoio [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois de, em Janeiro último, aos autoridades chinesas terem encerrado a fronteira marítima do Porto Interior, sem aviso prévio, o Governo de Macau vem agora explicar que a mesma continuará encerrada, mesmo depois de várias reuniões entre as entidades responsáveis. “Realizaram-se várias reuniões de trabalho entre Zhuhai e Macau de forma a obter uma solução adequada para o Posto Fronteiriço de Wanzai. O Governo da RAEM realizou ainda reuniões interdepartamentais para estudar o impacto do encerramento temporário do referido Posto Fronteiriço, bem como as respectivas soluções”, indicou o Governo, num comunicado à imprensa. Ainda assim, explica, o posto fronteiriço continuará fechado, ainda que o Executivo garante que não vá deixar os comerciantes que apresentaram queixa de perdas nos negócios desamparados. “Os serviços competentes da RAEM visitaram e inquiriram as pequenas e médias empresas circundantes ao Terminal Marítimo de Passageiros do Porto Interior, bem como as operadoras de serviços de navegação. Promete-se maior atenção às empresas afectadas e os serviços competentes irão acelerar, a título excepcional e de acordo com a lei, o processo de apreciação de requerimentos [das que se candidataram ao Plano de Apoio a Pequenas e Médias Empresas], no sentido de ajudá-las a superar as dificuldades temporárias”, garantiu. Serão também, diz o Governo, criados esforços para manter negociações com os “ministérios e as comissões competentes da China interior e com o Governo da cidade de Zhuhai sobre as soluções possíveis para a situação do encerramento temporário do Posto Fronteiriço de Wanzai, no sentido de minimizar o impacto sobre as populações e as empresas dos dois lados”. Sem portas abertas, e como alternativa, a população terá de recorrer ao Posto Fronteiriço das Portas do Cerco ou ao Posto Fronteiriço Flor de Lótus até uma nova decisão das autoridades.
Flora Fong Manchete SociedadePatrimónio | Associações exigem autonomia na gestão dos templos O incêndio no templo de A-Má levantou a questão: quem deve gerir os templos espalhados pela cidade? A deputada Kwan Tsui Hang entende que deve ser uma entidade governamental, mas as associações não concordam e defendem a autonomia na sua gestão [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau possui 47 templos chineses e todos eles podem ser considerados históricos, por terem sido construídos antes ou depois de 1800, século XIX. Ao longo de décadas, os templos têm sido geridos de forma voluntária pela população, incluindo grupos de moradores ou até famílias, sendo que essa gestão tem sido transmitida de geração em geração. Actualmente cabe a associações de beneficência. O incêndio ocorrido no templo de A-Má no mês passado trouxe a público a questão da gestão dos templos e a quem cabe a responsabilidade de garantir a sua segurança. Numa interpelação recente, a deputada Kwan Tsui Hang defendia que o Governo deveria elaborar uma lei sobre esta situação, para além de criar uma entidade própria para gerir estes espaços. Contudo, essa ideia parece não ser aceite pelos responsáveis dos templos com quem o HM falou. Lok Nam Tak, secretário-geral da Associação de Beneficência do templo Tou Tei, localizado na zona do Patane, defende que o Governo deve respeitar a autonomia de cada templo, já que cada um representa parte da história de Macau e é uma forma de unir os moradores. Lok Nam Tak acredita que a intervenção do Governo na gestão dos templos não só vai diminuir o seu valor como vai aumentar a pressão relativamente aos dinheiros públicos a aplicar, problemas que considera serem “desnecessários”. Lok Nam Tak mostra-se contente com o facto do templo Tou Tei nunca ter tido um incêndio com a mesma dimensão daquele que ocorreu em A-Má, frisando que a associação sempre esteve atenta aos actos de queimar incensos e papéis, bem como a situação do fornecimento de electricidade. Dúvidas profissionais Lou Shi Kiang, que gere o templo Hong Kung por adjudicação desde 1999, considera “impossível” a criação de uma única entidade governamental para gerir os templos, já que “cada um é diferente”. O responsável diz ter dúvidas quanto à existência de “verdadeiros profissionais” que compreendam o funcionamento destes espaços ou os seus costumes e religiões. Ip Tat, presidente da associação que gere o templo Na Tcha há mais de 20 anos, diz que este é um espaço que “gasta mais do que ganha”, situação semelhante a todos os templos de Macau. “Os templos não são uma questão de superstição, mas de tradição que nós queremos transmitir às novas gerações. Nenhum membro da associação é pago. Mas se todos os templos forem geridos por um único departamento do Governo, vai haver mais confusão e conflitos. Em nenhum lado do mundo existe uma gestão unificada. O Governo deve apoiar as crenças, mas de forma independente.” Oi, que trabalha para a Associação do Templo Na Tcha e que é responsável pela gestão diária do templo situado atrás das Ruínas de São Paulo, foi a única pessoa com quem o HM falou que concorda com a ideia da deputada Kwan Tsui Hang. Para ela, a criação de uma entidade pelo Governo poderia significar melhores condições de trabalho, numa altura em que não tem um único dia de descanso. Aqui não é A-Má – Gestão autónoma feita com poucos fundos Gerir os templos de forma autónoma nos dias de hoje significar manter crenças e tradições com base em poucos fundos financeiros com recurso ao voluntariado e à boa vontade dos residentes. O lado comercial que se verifica diariamente no templo de A-Má não se verifica na maioria dos templos de Macau, defendem intervenientes. O templo Tou Tei, na zona do Patane, tem uma história de centenas de anos e é composto por quatro grandes salas, onde se presta o culto aos deuses Tou Tei ou Kun Iam, entre outros. Um assistente, de apelido Kwan, trabalha lá há quatro anos e o seu trabalho consiste em limpar o espaço e mantê-lo. Há três anos começou-se a proibir a queima de incenso e de papéis dentro das salas do templo. Sem muitos visitantes ou doações, o templo Tou Tei apenas foi alvo de duas renovações desde a transferência de soberania, em 2001 e 2015. Tem sido sempre gerido pelos moradores. Para Lok Nam Tak, este templo não tem uma “natureza comercial”. Sem subsídios do Governo, o responsável garante que as doações não são suficientes, sendo que muitas vezes nem chegam para pagar a Kwan. As rendas recebidas dos imóveis detidos pela associação é que garantem o sustento do templo. “Todos os meses temos mais despesas do que rendimentos, mas não nos importamos, porque achamos que temos a responsabilidade de preservar aquilo que os nossos antepassados nos deixaram”, referiu Lok Nam Tak. O Templo Hong Kung é gerido, desde 1999, por Lou Shi Kiang e a esposa. A sua propriedade pertence à Associação de Piedade e Beneficência “Hong Kong Mio, sendo que Lou entrega todos os meses um montante à associação. Sem gozar os feriados, todos os dias, Lou Shi Kiang entra no templo às oito da manhã, hora em que começa a arrumar o espaço e os utensílios ligado ao culto. Os rendimentos do templo Hong Kung dependem também de doações, das vendas de incenso ou papéis. Também este espaço se afasta da imagem de um templo comercial. “Não sugerimos aos visitantes que comprem produtos, tudo depende da sua vontade.” Sem comércio Atrás das famosas Ruínas de São Paulo situa-se o templo de Na Tcha. Apesar dos muitos visitantes que encontrámos a um domingo, a maioria não entra. Oi, da Associação do Templo Na Tcha, explica como tudo funciona. “Aqui não somos como o templo de A-Má, que é muito conhecido internacionalmente e para onde os guias levam todos os turistas. Somos um templo pequeno e não temos o lado comercial”, explicou ao HM. O templo de Na Tcha também sobrevive à custa de doações e de vendas de produtos ligados ao culto, sempre com lucros muito baixos. Ip Tat, presidente da associação, contou que gere o templo Na Tcha há mais de 20 anos, sendo este um espaço que “gasta mais do que ganha”, situação semelhante a todos os templos de Macau. Outro templo ligado ao culto Na Tcha, localizado na Calçada das Verdades, é gerido por Hou, uma trabalhadora não residente contratada pela Associação de Beneficência do Templo Na Tcha. Hou disse ao HM que no dia-a-dia são poucos os turistas que por ali passam, sendo que moradores acabam por constituir a maior parte dos visitantes. Cheang Kun Kuong, director da associação, garante que muitas vezes os membros da associação têm de investir dinheiro do seu próprio bolso. “Os templos de Macau têm sido mantidos pela população ao longo do tempo. Não nos importamos de servir o templo porque quando temos saúde, o dinheiro não é nada”, referiu. IC autorizou obras em 29 espaços em dois anos Numa resposta enviada ao HM, o Instituto Cultural (IC) defende que os proprietários e gestores dos templos têm a responsabilidade de proteger os espaços classificados pela UNESCO mas que, devido a exigências técnicas, e “de acordo com as necessidades reais”, o IC “ajuda os templos tanto quanto possível nas obras de restauro”. Em dois anos o IC já deu apoio a obras de restauro em 29 templos, nomeadamente no tratamento e prevenção da formiga branca, garantindo sempre o traço original do templo e das estátuas. O IC diz ainda que colabora anualmente com o Corpo de Bombeiros na promoção de sensibilização para a prevenção contra incêndios nos templos, sendo que todos os anos faz inspecções regulares, registando o estado da manutenção e relembrando aos proprietários e gestores o reforço dos trabalhos de gestão. Contudo, Lou Shi Kiang fala de problemas nas reparações, apontando que o IC financia as reparações, mas que devido à Lei de Salvaguarda do Património Cultural “é fácil entrar num dilema”, sobretudo quando é necessário reparar as estátuas dos deuses. “Se repararmos uma parte do templo mas o IC considerar que está mal feita, podemos ser acusados de destruir o património. Temos pressões quando fazemos as limpezas diárias, porque não há regras que determinem se a destruição aconteceu por acção humana ou de forma natural”, disse o responsável do templo Hong Kung. Lou Shi Kiang diz que não há comunicação entre o Governo e os gestores dos templos. No caso do templo Na Tcha junto às Ruínas de São Paulo, Oi explicou que o IC já deu instruções para a mudança das mesas e cadeiras, mas a funcionária não concorda, referindo que são “históricos e úteis”. Oi também lança criticas às reparações suportadas pelo Governo. “Precisamos de reparar a ventoinha há um ano e temos crentes com vontade de nos ajudar, mas o IC não permite. Só que estamos à espera do IC há muito tempo e a ajuda ainda não chegou. Já nos aconteceu um crente querer-nos ajudar a reparar uma porta sem pagarmos, mas o IC acabou por pagar a reparação de dez mil patacas”, rematou. Crença Tou Tei candidata a protecção da UNESCO Lok Nam Tak, secretário-geral da Associação de Beneficência do templo Tou Tei, garantiu ao HM que vai apresentar a candidatura da crença de Tou Tei a Património Mundial Imaterial da UNESCO, sendo que os documentos oficiais para o processo deverão ser entregues ao Instituto Cultural “em breve”. Para Lok Nam Tak, a crença Tou Tei está bem preservada em Macau, por comparação a Hong Kong, Taiwan e até interior da China. Isto porque só em Macau se realiza um festival anual.
Joana Freitas Manchete SociedadeCaso Lisboa | Defesa diz não haver provas para condenar arguidos e critica MP A sentença para o chamado Caso Lisboa acontece a 17 de Março, mas a decisão não vai ser fácil para o TJB: se a acusação fala em diversos crimes, a acusação destrona os argumentos, criticando não só a actuação do MP – que apelida até de “ficcional” – como assegurando que não há quaisquer provas que levem Alan Ho e cinco funcionários do hotel à cadeia [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão há provas que sirvam de base à condenação dos arguidos do caso que tem Alan Ho como principal arguido. É o que defende a defesa dos seis réus, no que às acusações de associação criminosa e controlo de prostituição diz respeito. Numa audiência marcada por muitas críticas ao Ministério Público (MP) – acusado de seleccionar informação e de tecer acusação com base em suposições -, os advogados de Alan Ho, Kelly Wang, Bruce Mak, Peter Lun, entre outros, pediram a absolvição dos arguidos. O principal ponto prendeu-se com a questão da “gestão das prostitutas” dentro do hotel. O MP diz que os arguidos decidiam quais as mulheres que poderiam ficar alojadas no hotel, quantas delas e “a forma como se vestiam”. Acusação refutada pela defesa, na voz de Jorge Neto Valente (Alan Ho) e de Francisco Leitão (Kelly Wang), que relembram que o controlo das “meninas do Lisboa” era algo necessário, sendo que “até o Governo” pediu para que se implementassem medidas. E as autoridades, frisam os advogados, também estavam cientes do que se passava no Lisboa, mesmo antes da entrada de Alan Ho para dirigente do hotel. “No Nevada, por exemplo, há regras para conter e disciplinar a prostituição. Em Macau proíbe-se a exploração, mas permite-se que exista a prostituição e não há regras públicas, portanto é evidente que tem de existir margem de tolerância. Não pode ser considerado auxílio, aliciamento ou controlo quando se tentam implementar essas regras, até porque o hotel reserva-se ao direito de admissão dos hóspedes e estes são diferentes do habitual”, defendeu Francisco Leitão, advogado de Kelly Wang, gerente. “Ainda por cima, ao limitar o local, o número de pessoas e a dizer-lhes para não vestir roupa ousada, o hotel está apenas a dificultar a actividade. Está a trazer dificuldades acrescidas à prostituição, ao apertar as medidas em relação ao pedido do Governo, que reclamava que se implementasse algum controlo.” O MP acusa os suspeitos de controlarem as prostitutas a troco de benefícios, especialmente por reservarem o quinto e sexto andares do empreendimento para as mulheres, mas os advogados evocam testemunhos e o próprio relatório da Polícia Judiciária para dizer não só que “a maioria das mulheres” admitiu que se prostitua a troco de benefícios próprios, como para dizer que os pisos definidos era para as mulheres não se misturarem com os restantes clientes. “A prostituição acontece em vários hotéis em Macau e não é ilegal. Nunca existiram instruções para que não se pudessem celebrar contratos de hospedagem com mulheres que a praticam. Antes [de Alan Ho] ser chefia já se sabia da prostituição no Lisboa. A polícia era chamada frequentemente para resolver problemas, havia rusgas no hotel e elas voltavam lá sem que este fosse informado para não lhes dar quarto”, frisou Neto Valente, defensor de Alan Ho. “A polícia nunca advertiu para que se deixassem de alugar quartos, as autoridades estavam cientes da prostituição e as condutas agora imputadas aos arguidos e a estrutura do funcionamento eram publicamente conhecidas pelas autoridades”, adiantou Francisco Leitão. Ordem na casa Os advogados ressalvam que a reserva de dois pisos para as “meninas” era apenas para que se limitasse essa actividade a determinados locais do hotel, de forma a que os clientes não “fossem incomodados”, e às rusgas da polícia. Rusgas que, assegura a defesa, sempre tiveram a colaboração dos funcionários do hotel. “Sempre houve prostitutas, apenas depois do ano 2000, como disseram testemunhas, decidiu pôr-se ordem na casa para o hotel não se transformar num bordel. Alan Ho deu ordens para não haver proxenetas nas imediações e, se houvesse, recusavam-se quartos. Muitas vezes era o hotel que chamava a polícia e a PJ admitiu que o hotel os deixava ir aos quartos sem mandato”, defendeu Neto Valente. “Davam até acesso a salas de vigilância e salas onde as mulheres eram interrogadas. Os seguranças não deixavam as mulheres sair quando vinha a polícia e os funcionários do hotel prestavam colaboração quando não eram eles que chamavam as autoridades. Se a intenção era ajudar as mulheres a fugir da polícia, então o plano era contraditório, para não dizer que era estúpido”, acrescentou Francisco Leitão. O MP fala de um código entre os seguranças – que a defesa diz ser algo normal ao nível de um hotel e ressalva não ser o único – e de um sistema de registo das prostitutas, supostamente conhecidas sob códigos como “YSL – Young Single Ladies”, e de um balcão de registo. Código que a defesa diz que existia antes destes funcionários lá estarem e balcão que, defende, servia apenas para não incomodar os outros clientes. “Elas pagavam os quartos como os outros hóspedes. O MP está a tentar convencer-nos que a prostituição em Macau começou em 2013 com um quadro superior da STDM e uma rapariga de 28 anos vinda da China. O próprio MP parecia não estar muito certo da razão porque está a perseguir os arguidos. Temos na acusação elementos que querem dar sofisticação à rede. O sistema YSL é muito anterior a 2013, o software de que fala a acusação é o mesmo que servia para gerir todos os outros hóspedes do hotel, não era secreto. O balcão de registo não servia exclusivamente para este fim, não é como a acusação quer fazer parecer. Eram os próprios clientes não queriam misturas e o balcão foi adoptado devido a queixas”, reiterou Leitão. Ficção e histórias mal contadas De acordo com o MP, os arguidos vão acusados de associação criminosa pela forma como geriam as mulheres e por delas receberem comissões a troco de as deixar ficar no hotel. Contudo, segundo a defesa, não houve quaisquer provas de pagamentos e as mulheres nunca conseguiram identificar nenhum dos arguidos como tendo recebido pagamentos. Mais ainda, assegura a defesa, foram identificados, sim, três proxenetas exteriores ao hotel que nem sequer figuram na acusação. “A moral não está em causa. [A actividade] não lesa a liberdade de ninguém. As mulheres vieram para cá e disseram que exerciam a actividade de livre vontade. Disseram que nunca lhes foi dito que tinham de pagar. No relatório final, a PJ dizia que a maioria exercia actividade sem pagamento de contrapartidas. Elas admitiram que se prostituíam porque queriam”, defendeu Neto Valente. “Se pagam a proxenetas é com elas.” O advogado afirmou que o MP eliminou da lista todas as mulheres que disseram não ter feito pagamentos, além do quarto de hotel, nem ter tido condicionalismos e fez também menção a um processo “muito idêntico”, que resultou na absolvição dos arguidos acusados de associação criminosa e exploração de prostituição. Realçou que a principal diferença se prende com a “mediatização” dada a este caso, por razões como “para mostrar que ricos e poderosos também se abatem”. Francisco Leitão disse ainda que não havia quaisquer provas de pagamentos feitos a algum dos arguidos e em especial a Kelly Wang, identificada por testemunhas como alguém que tinha recebido pagamentos no valor de 150 mil patacas. A defesa diz que o valor é o semelhante ao pagamento dos quartos e que serviria para tal e ainda que, a ter existido transacção, aconteceu por mensagem – onde não é possível identificar a voz da gerente – e para uma conta da qual a jovem não é titular. “Não chega para vencer a dúvida razoável.” As críticas à actuação do MP não foram poucas. “Estava a ouvir as alegações do MP e, em certos pontos, pareceu-me que estavam noutro julgamento. Não foi produzida qualquer prova que permita a condenação [de Alan Ho]”, atirou Neto Valente, que fez questão de frisar ser amigo pessoal do dirigente da STDM. “A acusação é má e repleta de falhas e imprecisões, para não dizer mentiras”, juntou-se Vítor Gomes, defesa de Peter Lun, que considerou a acusação de associação criminosa como uma “ficção”, sendo que o seu cliente “nem gostava de Kelly Wang” e que até pediu para que esta fosse despedida. Algo que, a ver da defesa, não se coaduna sequer com o sentimento de pertença a uma associação criminosa. “O que Peter Lun ganhou com esta associação criminosa foram 14 meses de prisão em Coloane”, apontou ainda, defendendo que não há quaisquer indícios ou provas de vantagens financeiras obtidas por Peter Lun. A leitura da sentença está marcada para dia 17 de Março, ainda que possa vir a ser adiada. “Denúncia pouco inocente” – Advogados voltam a acusar funcionário que deu origem ao caso Uma das maiores questões colocadas pela defesa dos seis arguidos no caso que tem Alan Ho como principal arguido foi precisamente o que desencadeou o processo. Que a prostituição era algo recorrente no hotel não é novidade, sendo a dúvida por que é que a polícia actuou apenas no ano passado. Esta diz que deteve os funcionários do Lisboa porque Kelly Wang, uma das arguidas, se preparava “para fugir” de Macau. Mas o caso, soube-se em julgamento, acabaria por ter sido denunciado por Louis Ieong, um funcionário do Hotel Lisboa que estaria, afinal, envolvido no “esquema” anteriormente. Segundo o testemunho de Qiao Yan Yan, quinta arguida, ex-prostituta e adjunta de Wang, assegurou que “Louis Ieong lhe cobrou dinheiro para assegurar que podia trabalhar na unidade hoteleira”. Depois disso, no decorrer do julgamento, outros funcionários do hotel que prestaram depoimento confirmaram a existência de queixas e denúncias contra o mesmo funcionário. Por que razão é que o MP – desafiado pela defesa a extrair certidão para instaurar um processo contra Ieong – não investigou o funcionário não se sabe. “Não podemos esconder a perplexidade de não ter sido extraída certidão [para investigá-lo], quando o foi para situações em que foi feito muito menos que ele”, começou por dizer Vítor Gomes, advogado do terceiro arguido. “A acusação é má, cheia de falhas e imprecisões e, diria mesmo, mentiras. Começa logo inquinada: não parte de uma denúncia inocente, parte de um próprio confessor de crimes graves, que quis acautelar-se e ficar fora da acusação, eventualmente para voltar a liderar o hotel e a receber das mulheres.” Ieong teria tido o posto de gerência anteriormente, antes de ser substituído por Kelly Wang, e a defesa assegura que este admitiu em tribunal ter sido ele próprio a criar os códigos para as mulheres que se prostituíam – códigos que a acusação agora diz serem prova de associação criminosa e controlo de prostituição. “Se foi ele que criou os códigos, como admitiu, então a acusação está coxa, para não dizer que não tem pernas para andar”, atirou Vítor Gomes. “O Louis Ieong não gostou de ser substituído, há uma testemunha que diz que ele recebeu dinheiro das prostituas e à polícia e ao MP não lhe interessou investigar? Porquê?”, acrescentou Neto Valente, advogado de Alan Ho. Os advogados falam ainda da existência de identificação de três proxenetas da China continental, com “fotografias e tudo”, que não foram também acusados. Contraditório O Ministério Público, antes mesmo de ter ouvir os advogados, começou por defender-se: “quem denunciou o caso pode não ter praticado um acto correcto, mas este é um processo autónomo. Nem sempre conseguimos acusar as pessoas que cometeram os factos, há muitos proxenetas que não conseguimos acusar. O objectivo é detê-los, mas não são objecto do processo.” Outra das questões levantadas pela defesa diz respeito à acusação de 90 crimes de controlo de prostituição, quando apenas 46 mulheres foram ouvidas e as outras foram todas “descartadas por não serem úteis à acusação”. Ainda assim, o MP volta a trazer o número inicial de detidas à acusação. “Numa semana onde a justiça de Macau foi tão maltratada, ainda quero acreditar [nela]”, atirou Vítor Gomes, referindo-se ao caso do ex-procurador Ho Chio Meng, detido por suspeita de corrupção e a quem foi negado o pedido de habeas corpus “por não ser magistrado”, ainda que continue nomeado como procurador-adjunto.
Tomás Chio SociedadeTráfego | Governo quer enviar carros abandonados para Cantão [dropcap style=’circle]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) está a estudar a possibilidade de transferir os carros abandonados para Cantão. Já os membros do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários das Ilhas defendem que os donos dos veículos fora de circulação devem pagar mais pela manutenção da sucata e o reboque dos carros, apontando que os veículos velhos podem causar um problema de saúde pública. Segundo o jornal Ou Mun, Kou Kun Pang, membro do Conselho, explicou que a DSAT “vai estudar o planeamento da transferência dos carros abandonados da zona das ilhas para Cantão, sendo que neste momento o planeamento não passa de uma ideia preliminar, não existindo um calendário”. O Conselho espera poder avançar mais detalhes ainda este ano. Lo Wa Kit e Leong Meng Ian, também membros do grupo, consideram que a situação dos veículos abandonados é muito grave nas ilhas, especialmente na zona ao lado da escola de condução, em Coloane. Os responsáveis alertam para o facto destes carros estarem naquele espaço há mais de cinco anos, o que trouxe mais mosquitos e insectos para a área, esperando que o Governo tenha mais preocupação em relação a este assunto. O Conselho referiu ainda que a DSAT já tratou de mais de cinco mil veículos abandonados nos últimos anos, mas devido ao facto do período de inspecção dos veículos ter sido cortado, o número de carros abandonados vai continuar a ser grave, com tendência a aumentar.