Hoje Macau MancheteNovo Macau | Scott Chiang chamado a prestar declarações na PSP O presidente da Associação Novo Macau, Scott Chiang, foi convocado para prestar declarações na Polícia de Segurança Pública, alegadamente devido às manifestações promovidas a 15 de Maio que exigiam a demissão do Chefe do Executivo, na sequência da polémica da doação da FM à Universidade de Jinan [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]cott Chiang foi ontem chamado para prestar declarações às autoridades. O activista pró-democracia afirma ao HM desconhecer os motivos da polícia para a sua convocatória. Segundo a Rádio Macau, um porta voz do corpo de Polícia de Segurança Pública (PSP) avançou que o presidente da Novo Macau é acusado de não cumprir a lei que regula as manifestações com a agravação de desobediência à polícia. O processo estará relacionado com as manifestações de 15 de Maio contra o Chefe do Executivo, organizadas pela Associação a que o activista pela democracia preside, sendo que a PSP continua com as averiguações depois do Ministério Público ter avançado com um processo contra Scott Chiang. O activista revelou ao HM que foram vários os membros da Associação Novo Macau (ANM) convocados pelas autoridades sendo que as mesmas não terão adiantado detalhes. No entanto, Scott Chiang já suspeitava que estaria a ser preparada uma acusação contra si adiantando que “vários membros da ANM foram chamados pela PSP para falar acerca de um caso em determinada data que coincide com a manifestação de 15 de Maio” . Para o líder da Associação o que está a acontecer é que se “está a fabricar um caso contra aqueles que saíram à rua contra a doação” referindo-se ao recente financiamento por parte da Fundação Macau à Universidade de Jinan de 100 milhões de patacas. Os números facultados pela Novo Macau revelam que a manifestação agora em causa juntou mais de 3000 pessoas que pediram a demissão de Chui Sai On. Scott Chiang considera ainda evidente que o acto da PSP em convocar membros da Associação visa perseguir quem se opõe a esta doação bem como manifesta uma forma de repressão política de intimidação. “É desanimador ver que a administração não deu qualquer resposta à nossa exigência de reformas e de recuperação da doação, muito menos sobre a demissão” adianta, enquanto que “por outro lado estão a tentar criar um caso contra os denunciantes” afirma o visado. Scott Chiang considera ainda que “a resposta natural da administração não é focar-se no problema mas perseguir aqueles que o denunciam”. As declarações foram agendadas para esta manhã e só depois das mesmas é que se saberá ao certo a acusação de que é alvo. Dos recursos públicos As declarações de Scott Chiang coincidiram com a conferência de imprensa convocada pela Novo Macau para o anúncio de uma consulta pública sobre reformas na Fundação Macau (FM). Segundo a Rádio Macau, o objectivo é que a atribuição de subsídios seja mais transparente. “ A estagnação da economia torna o uso apropriado de recursos públicos uma prioridade”, defende o colectivo que lançou ontem e até 30 de Julho uma consulta pública. A intenção é receber sugestões acerca de reformas ao mesmo tempo que pede propostas quanto ao método de votação. O presidente da Novo Macau fala em interesse público: “não deve haver um monopólio de opinião e por isso levamos esta matéria à sociedade em geral” considerando que “o processo de deliberação é tanto ou mais importante que a decisão pública final”. A referida consulta é ainda para perceber se vale a pena “tentar manter os requisitos e a restrições do referendo de 2014 ou se o tornamos mais aberto ao público para que mais pessoas possam participar”, acrescenta. Em causa está o saber se deverá haver o mesmo grau de integridade utilizado no referendo de 2014 sobre as eleições para o Chefe do Executivo na altura em que se pedia o número dos bilhetes de identidade dos eleitores. A mostra de identidade esteve na origem da constituição como arguidos de alguns membros da organização da votação por violação da lei de protecção de dados. “Cabe ao público decidir se desta vez as regras poderão ser diferentes bem como diferentes também devem ser as regras da atribuição de subsídios da Fundação Macau” sendo que “as propostas para receber subsídios deviam ser publicas para que a população decida se é, ou não, justo que determinada organização receba, ou não, dinheiro”, remata o activista. Para além da atribuição de dinheiros públicos, Scott Chiang considera ainda que é importante acompanhar a sua aplicação e os relatórios de actividades, sendo que os mesmos devem ser tornados igualmente públicos.
Andreia Sofia Silva MancheteCroupiers | Chui Sai On recebeu mais três petições. Exigida saída de Cheang Chi Keong do hemiciclo As palavras de Cheang Chi Keong continuam a fazer mossa. Ontem três associações do sector do Jogo entregaram petições a pedir ao Chefe do Executivo para que mantenha a política de não introdução de não residentes para a profissão de croupier. Associações pretendem continuar a reagir e uma pede a saída do deputado da Assembleia [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]rês associações dirigiram-se ontem à sede do Governo para entregar petições a Chui Sai On. São mais reacções às palavras do deputado Cheang Chi Keong, que referiu ao jornal Ou Mun que o Executivo deveria ponderar a introdução de trabalhadores não residentes (TNR) para o cargo de croupier nos casinos. A Forefront of Macau Gaming juntou-se à Associação dos Empregados de Jogo de Macau para entregar uma petição com mais de 12 mil assinaturas. Não só estão insatisfeitos com as palavras de Cheang Chi Keong (deputado eleito pela via indirecta à Assembleia Legislativa), como pedem uma redução de TNR em vários sectores económicos. Dados do Governo mostram que já foram aprovadas mais de 210 mil quotas para TNR, sendo que as empresas locais já importaram mais de 180 mil TNR. Para os responsáveis das associações, este panorama faz com que os empregados portadores de BIR fiquem numa situação passiva na altura de discutir salários e condições de trabalho. As duas associações sublinharam que, embora os croupiers ainda não tenham sido afectados pela entrada de TNR, a verdade é que também são trabalhadores e sentem-se preocupados com a possível mudança de política. Os assinantes da petição esperam que Cheang Chi Keong possa voltar atrás nas suas declarações, para que seja mantida a justiça no acesso ao emprego. “A introdução de TNR não é adequada para o território”, disse Ieong Man Teng, presidente da Forefront of Macau Gaming. “Recolhemos as assinaturas dos trabalhadores do Jogo que se sentem descontentes com o discurso feito. O Governo já respondeu negativamente às declarações de Cheang Chi Keong e nós apoiamos isso, mas caso o Governo assuma outra posição, vamos ter novas acções”, frisou. Feiras inspeccionadas Ieong Man Teng exemplifica. “Numa feira de recrutamento organizada pela Melco Crown estavam imensos candidatos locais à procura de emprego, e o Governo não precisa de estudar a introdução de TNR. Vamos fazer alguns relatórios sobre estas feiras de recrutamento e vamos entregá-los ao Governo”, adiantou. Nesta feira, “os candidatos começaram a chegar entre as sete e meia da manhã até às nove, tendo os responsáveis da operadora dito que as vagas já estavam preenchidas e que não havia mais quotas. Muitos dos candidatos não foram seleccionados através de uma entrevista e alguns deles ficaram muito insatisfeitos”, disse Ieong Man Teng. Cloee Chao, membro da Forefront of the Macau Gaming e secretária-geral da Associação dos Empregados de Jogo de Macau, garantiu que têm recebido queixas de candidatos a vagas de emprego que participaram em mais de dez feiras mas que não receberam quaisquer respostas. Os locais suspeitam, assim, que essas feiras não sirvam, de facto, para o recrutamento. Cloee Chao disse ainda que o sector dos croupiers está cheio e que algumas operadoras têm vindo a pedir aos empregados para gozarem os feriados ou licenças sem vencimento, ou então para saírem do trabalho mais cedo. Ng Kim Yip, outro responsável da Forefront of the Macau Gaming, disse que vão “realizar mais relatórios sobre a fiscalização das feiras de recrutamento. A saída de TNR é um tema que reúne consenso na sociedade e isso terá uma influência positiva no preço das casas”, rematou. Grande “reacção social” A associação de trabalhadores “Macau Selfhelper” defendeu em comunicado que as declarações de Cheang Chi Keong originaram uma “grande reacção junto da sociedade” e que a introdução de TNR só deve acontecer quando há falta de recursos humanos locais. Também esta associação fala dos pedidos de licença sem vencimento feitos aos croupiers, o que mostra que o sector não necessita de mais recursos humanos. A “Macau Selfhelper” espera que o Governo garanta de forma clara a protecção dos direitos dos trabalhadores locais, esperando uma revisão quanto ao número de TNR. A associação frisou que a maioria dos TNR ilegais vem dos países do sudeste asiático, o que traz consequências negativas para os locais que estão à procura de trabalho. Grupo pediu saída de Cheang Chi Keong do hemiciclo Um grupo intitulado “Poder do Povo” entregou ontem uma petição à Assembleia Legislativa (AL) a pedir a saída de Cheang Chi Keong do cargo de deputado. Segundo um comunicado enviado às redacções, o grupo considera que as declarações do deputado indirecto têm um efeito negativo para os trabalhadores do Jogo e representam um problema para o Governo. “Sabemos que Cheang Chi Keong não é eleito pela via directa e pelo público, não tem qualquer responsabilidade para com os cidadãos, então porque é que afirma coisas que podem tirar o ganha pão aos residentes?”, questionou o grupo. Este defende que os deputados recebem salários pagos pelos cofres públicos e que Cheang Chi Keong fez declarações que prejudicam o interesse público, afirmando que este não tem qualificações para se sentar na Assembleia Legislativa. O “Poder do Povo” considera que o sistema de recursos humanos em Macau é mau, dando como exemplo o sector da construção civil, onde, afirmam, a maioria dos trabalhadores são não residentes. “Economicamente é um desastre”, dizem analistas O medo de que trabalhadores não residentes (TNR) invadam o sector dos croupiers há muito que existe. Apesar do Governo ter referido sempre que a política não vai mudar, as acções de rua têm-se sucedido. Ao HM, Albano Martins garante que o deputado Cheang Chi Keong só agora veio levantar esta questão pelo facto da abertura dos casinos estar prestes a chegar. “Esse deputado é um dos principais interessados nos casinos e sabe que os casinos precisam de mão-de-obra. A maior parte dos empresários sabe que não tem qualquer sentido económico qualquer profissão estar confinada a locais. Mais dia ou menos dia alguém tinha de acordar. Interpretaram que os croupiers e os condutores tinham de ser locais por mero interesse político de ganhar votos e evitar no período eleitoral que alguma população se virasse contra eles. O que ele diz faz todo o sentido, é das poucas coisas felizes que alguma vez disse”, referiu o economista. Já o analista de Jogo Grant Govertsen não acredita numa mudança de política, e frisa que os casinos não estão por detrás destas declarações feitas ao jornal Ou Mun. “Os empresários, em geral, preferem um mercado aberto em vez de um mercado restrito, e os casinos têm a inteligência suficiente para perceber que esta medida poderá provocar polémica e que é difícil perseguir este objectivo. Não me parece que os casinos estejam por detrás destas declarações.” “Penso que não é algo que o Governo vá considerar (uma mudança na política). Os locais vão ficar muito insatisfeitos se a política for alterada. Mas a realidade é que mais casinos vão abrir portas e não vão existir trabalhadores locais suficientes”, acrescentou. Não dizer o que se pensa Albano Martins defende o que tem vindo a defender desde o início. “Temos problemas complicadíssimos para resolver, não só a nível dos croupiers mas dos condutores de autocarros, e continuamos na mesma, não temos pessoas. Com a entrada em funcionamento dos novos casinos, vamos precisar de muitas mais pessoas e com essa medida tudo vai ficar mais complicado. Estão a criar uma situação difícil de pôr os residentes todos nos casinos, e isso não faz sentido. Economicamente é um desastre. É irracional que sectores estejam vedados à população do exterior. É absurdo e um pouco xenófobo e do ponto de vista económico é irracional.” O economista acredita que muitos deputados da Assembleia Legislativa (AL) defendem a manutenção da medida por medo da perda de votos. “Chui Sai On vai mantendo essa política irracional. O Chefe do Executivo, que não vai ter mais mandato nenhum, devia ter assumido com coragem que isso é irracional. Mas a sua postura não é, do ponto de vista económico, a mais correcta. Está com medo da sombra. A maior parte dos deputados não diz o que pensa porque tem medo dos votos no período eleitoral e deixou-se a economia estar amarrada a um grupo de pessoas que não sabe bem o que quer”, concluiu.
Andreia Sofia Silva MancheteDespejos | Mak Soi Kun defende fim do recurso judicial para arrendatários [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Mak Soi Kun entregou uma interpelação escrita ao Governo onde sugere a possibilidade dos arrendatários perderem o direito a recurso, caso uma acção de despejo de um imóvel chegue a tribunal. “Há que introduzir alterações às actuais disposições do Código do Processo Penal (CPP), nas acções de despejo interpostas por não pagamento de rendas, para poder cancelar o direito de recurso dos arrendatários. Isto para que não possam apresentar recurso no sentido de reduzir uma série de procedimentos e tornar o processo mais rápido. O que pensa o Governo sobre esta situação?”, questionou. Mak Soi Kun alerta ainda para a alegada ausência de eficácia na resolução deste tipo de casos através de um processo sumário. “De acordo com especialistas e académicos há que reconhecer a realidade. Um caso de não pagamento de rendas entra em processo sumário e quando o proprietário da fracção ganha a acção descobre que o arrendatário já não está na fracção, mas as portas e janelas estão bloqueadas e ainda lá estão os objectos do arrendatário. O que pode fazer o proprietário? O processo sumário teve os efeitos desejados? Atendendo às actuais rendas do sector imobiliário e com base em rendas de 12 meses, a maioria já excede 50 mil patacas, portanto “são poucos os casos de 50 mil patacas” a que se aplica o processo sumário. É possível que todo o caso possa durar três, cinco ou mesmo sete anos”, rematou o deputado.
Andreia Sofia Silva MancheteEnsino | Fim do modelo de memorização será gradual, dizem especialistas Duas especialistas em educação defendem que o fim do modelo de memorização nas escolas vai acabar de forma gradual e que a mudança depende não só de professores mas da sociedade, por se tratar de algo cultural [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Zheng Anting pediu o fim do modelo de ensino “duck stuffing”, em que os alunos se limitam a decorar aquilo que vai ser no exame. Os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), em resposta à interpelação do membro do hemiciclo, confirmaram que isso pode vir a acontecer. Duas especialistas contactadas pelo HM consideram que o modelo de ensino baseado na memorização de conteúdos é algo cultural, defendendo que uma mudança irá ocorrer de forma gradual. “Não se mudam as mentalidades nem dos professores, nem dos alunos ou da própria sociedade de um dia para o outro, porque o facto das escolas se basearem nesse método não tem apenas a ver com os professores. Tem também a ver com as expectativas das famílias. Toda a sociedade, aos poucos, há-de mudar”, disse Ana Correia, directora da Faculdade de Psicologia e Educação da Universidade de São José (USJ). A memorização das matérias “é uma questão cultural, os alunos desta região gostam de aprender dessa maneira. É um estilo de aprendizagem que tem muito a ver com a cultura local”, acrescentou ainda. Teresa Vong, docente da Faculdade de Educação da Universidade de Macau (UM), também fala de uma mudança gradual. “Se o Governo quer reduzir esse sistema, tudo vai depender de como os professores estão preparados para isso ou se há métodos de ensino alternativos em uso. Não estou optimista porque há muitos professores que ainda usam a memorização como único método. Ainda há lugar para melhorar”, disse. “O grupo profissional de professores em Macau é muito jovem e isso dá-nos esperança de que ainda estejam em idade de aprender de encontrar alternativas”, lembrou Ana Correia. “Com o apoio de medidas incluídas na presente reforma educativa penso que os professores vão ajustar-se a modelos pedagógicos que põem o ensino mais focado no aprender do que obter produtos que têm um valor a muito curto prazo. Os alunos preparam-se para os exames mas esquecem tudo duas semanas depois, e o que fica é muito pouco”, acrescentou a directora da Faculdade de Psicologia e Educação da USJ. Acima da média Tanto Ana Correia como Teresa Vong referem que a memorização no ensino é uma ferramenta útil para a compreensão e aprendizagem, mas não deve ser a única. Há até quem tenha bons resultados no seguimento da vida académica. “Os alunos de Macau e desta região do mundo quando vão estudar para universidades estrangeiras obtêm geralmente resultados acima da média, comparando com alunos que pertencem a uma cultura não confuncionista. Os alunos que vêem das escolas de Macau para as universidades são muito variados. Há uns que, de facto, apanham bocadinhos das coisas e esses não conseguem depois partir do pormenor para o todo. Esses sim seguem pelo caminho da memorização. Mas há outros alunos, que apesar de se sentirem confortáveis com a memorização, são capazes depois de passar daí para a compreensão e até para uma perspectiva critica”, frisou Ana Correia. Teresa Vong, que realiza visitas às escolas locais, fala de maus exemplos que continuam a ser o único modelo adoptado. “Acredito que possamos promover um ambiente de ensino mais aberto e dar mais apoio aos alunos para que possam ter espaço para essa criatividade. Hoje em dia os estudantes não têm sequer uma voz. Em muitas aulas que observo há apenas uma forma de comunicação: o professor está de pé a falar até ao fim da aula e não há qualquer ligação com os alunos. Há muitos professores que forçam os alunos a memorizar o vocabulário em inglês, por exemplo”, rematou a docente da UM. Na sua interpelação escrita, o deputado Zheng Anting fez várias críticas ao modelo “duck stuffing”, o qual “priva os alunos do seu tempo de descanso e da vida extracurricular, e resulta na sua falta de capacidade para pensar e analisar de forma independente, enfraquecendo a sua competitividade social”, concluiu. No arranque dos exames nacionais a luta continua É uma luta antiga. A Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (EPM) continua a reunir esforços para que os horários dos exames nacionais sejam alterados em Macau. Com o arranque ontem, os exames nacionais devem ser respeitar as regras do Ministério da Educação e por isso serem realizados à mesma hora. Acontece que com o fuso horário de Macau os alunos de cá realizam as suas provas às 16h30 e às 21h. “Todos os anos temos lutado para que a escola consiga falar com o Ministério da Educação de Portugal para que se conseguia resolver este problema”, começou por explicar, ao HM, Fernando Silva, presidente da Associação. O representante recorda que “há dois anos”, com as provas de aferição, alunos do ensino primário que “tinham de fazer os exames à noite”. Isto, aponta, sem contar com os alunos de Timor, onde se acrescenta mais uma hora do que em Macau. “Levantamos sempre este problema, mais do que uma vez. Nesse ano o Ministério da Educação atendeu o nosso pedido e mudou o horário”, recorda. No entanto, não é suficiente e a luta continua. “Temos tentado, a escola tem tentado expor o problema para ver se conseguimos reduzir um pouco as horas”, conta, assumindo “que tem sido muito difícil”. Não é segredo, até “porque está pedagogicamente provado”, que fazer os exames quando começa o dia é melhor. “Para os alunos do 10ª e 11ª ano até pode ser menos difícil, mas o mesmo não acontece com os alunos mais pequenos”, explica. Mesmo assumindo uma “luta quase inglória”, Fernando Silva garante que os pais vão continuar no caminho para a mudança.
Manuel Nunes Eventos MancheteAlexandre Marreiros expõe no MAM: “Uma leitura do tempo com T maiúsculo” Arquitecto, mas apaixonado por desenho e pelo trabalho manual desde pequeno, Alexandre Marreiros foi para o Rio de Janeiro estudar os grandes arquitectos brasileiros contemporâneos mas acabou apaixonado pelas favelas. Um lugar onde “as coisas vão-se aniquilando mas sempre com um final feliz”. O resultado é “um registo documental que acabou na pintura” [dropcap style=’circle’]“C[/dropcap]omo arquitecto interessa-me a arquitectura que se desenvolve de uma forma vernacular. A casa, o lugar onde nós como humanos nos sentimos seguros”, começa por nos contar Alexandre Marreiros. Foi para o Rio de Janeiro estudar os grandes arquitectos contemporâneos brasileiros mas acabou, como ele diz “fulminado, de uma forma quase alérgica” pelas favelas. Um fenómeno urbano que descreve como “um manto bordado que cobria aquelas montanhas”. É também esta ligação quase natural do construído pelo homem com o disposto pela natureza que interessou Marreiros. “O Rio tem aquela topografia especial, montanhosa, e é admirável como pessoas sem know-how conseguiram adaptar-se ao local e o deixam falar por si, como a acção do homem se adapta ao que já lá estava”, diz Alexandre, confessando mesmo que “não conseguiria fazer um manifesto arquitectónico melhor”. Naturalmente, Alexandre não acha a melhor forma de vida mas considera que “à medida de que vai sendo construída a história bate sempre certo, há uma relação com o lugar. As coisas vão-se aniquilando mas há sempre um final feliz” Curioso por saber como tudo aquilo se desenvolvia passou grande parte dos seis meses que esteve no rio de Janeiro a deambular pelo Complexo do Alemão (o maior complexo de favelas do mundo) e na favela do Tabajaras. Indo às origens “Cnidosculos Quercifolius”, assim se designa a exposição, é o baptismo latim para – a planta favela, endémica do Brasil, que deu origem ao termo “favela” como fenómeno de habitação marginalizada, ilegal. Uma definição que, garante Marreiros, “deve-se a ao regresso dos soldados ao Rio de Janeiro após a Guerra dos Canudos, onde encontraram condições miseráveis de habitação na primeira favela do Brasil, o morro da Providência. Mas, para Alexandre, as favelas também “são cor e são luz”, que assim começa por explicar ao HM como chegou a este trabalho. O objectivo não é o de gerar grandes reflexões mas sim o de “proporcionar algumas pistas que possam conduzir as pessoas a descodificarem as histórias que existem na arquitectura e que são transportadas para a pintura”, explica. O particular que forma o todo “Tento apresentar ao observador a ideia de espaço que começa com um registo de desenho e um registo fotográfico exaustivo e acabou, por minha necessidade, na pintura”, adianta Alexandre, porque só a pintura consegue “transportar o registo para uma composição de cor, de espaço, de vazio, de afastamento entre as coisas que também podem ser lidas como um todo”. A sua sensação da favela. Um local delimitado, onde em que o particular forma o todo. A fita cola colorida, que pode ser observada nalguns dos trabalhos, surge pelo interesse plástico que o material lhe suscitou e por lhe aportar a cor da favela. “Aparece de uma forma tosca porque ou faço as coisas muito certinhas ou muito toscas. Ando nessa procura”. Para Alexandre, “as favelas são como a construção de um quadro”. “Um lugar onde existe um espaço e um limite, em que as formas, as linhas e as manchas se vão adequando a esse limite”, explica. “A preocupação foi transportar para esta exposição o que entendo ser a arquitectura hoje em dia”. Ou seja, para Alexandre a arquitectura é “a história das coisas construídas, vividas, habitadas e que manifestam sempre a sua cultura”. Para o artista, “através da arquitectura podemos ler o nosso tempo. A favela não fazia sentido há 200 anos mas hoje é necessária. É uma leitura do tempo com T maiúsculo”. Transformação fulminante Macau não podia fugir da conversa e aproveitámos para saber como Alexandre Marreiros vê a cidade. A resposta não tardou. “É fulminante a forma como se transforma”. A falta de planeamento, todavia, é algo que o preocupa esperando que este venha a existir pelo menos nos novos aterros. “Ainda consigo ler muitas histórias nesta tradição de conquista de terras ao mar. Afastar tecido antigo do que se foi desenvolvendo menos bem. É uma cidade que ainda me conta histórias bonitas mas com alguns capítulos mais negros de permeio.” Mas também existem vislumbres do futuro que, para ele, será “uma massificação de descaracterização”, com alguma pena sua mas, como não acredita que a arquitectura seja intemporal, mas sim “muito efémera”, entende que a descaracterização que se adivinha será apenas uma marca do que foi este tempo de agora. “Não é mau nem bom, mas talvez outro tipo de estratégia fosse mais adequado”. Algo o anima, todavia, a recente abertura da faculdade arquitectura dá-lhe esperança. “Espero que. daqui a uns anos, (os novos arquitectos) possam ter uma opinião clara e, acima de tudo, competente da cidade.” A culpa é do desenho Nascido em 1984 em Cascais, Portugal, Alexandre Marreiros estudou artes no liceu, formou-se em arquitectura pela Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa, onde posteriormente obteve o grau de mestre. “O que me conduziu à arquitectura foi o desenho. Sempre gostei de desenhar. Fiz muitas cabanas , muitas árvores, muitos carrinhos de rolamentos. Tive um percurso de artes antes mas na altura de decidir optei pela arquitectura sem nunca me desligar muito das artes plásticas”. Exibiu em exposições colectivas em Lisboa, individualmente na Galeria GivLowe e na Casa Lusitana. Recentemente, participou como artista convidado no Festival Silêncio de Lisboa e no Festival Literário de Macau. Em 2015 recebeu uma menção honrosa da Ilustração Contemporânea Portuguesa. Vive e trabalha em Macau. A exposição inaugura hoje, pelas 18:30H no Museu de Arte de Macau.
Filipa Araújo Manchete SociedadePedofilia | Casos escondidos e sem protecção num território de lei curta Vivem nas sombras. Nas mais escuras de todas. São famílias a esconder um problema que deveria ser “uma responsabilidade social”: a pedofilia. Uma psicóloga relata-nos casos. “Muitos, muitos casos”. Vergonha, medo e mundo que desaba levam a que se viva este drama em silêncio. Macau diz querer rever o Código Penal. Enquanto isso crianças vêm o seu mundo ser estilhaçado. Para sempre… [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão quer dizer quantos casos já lhe passaram pelas mãos. Nem estamos ali para isso. Recorda o primeiro e o choque que foi perceber o que tinha à sua frente. Mas agora já não é surpresa por, infelizmente, ser tão comum. Goreti Lima, psicóloga, conta que há “muitos, muitos, mas mesmos muitos casos de pedofilia em Macau”. Este não é um território especial. Aqui, como em qualquer parte do mundo, as crianças sofrem de abusos sexuais. Um drama que se vive em silêncio, que mora em casas com cortinas fechadas, portas trancadas e corações partidos. Perceber o que leva uma família, uma mãe, uma avó, um pai ou alguém que ama uma criança, vítima de pedofilia, a esconder esta tragédia pode ser um desafio difícil de enfrentar. “O que leva os pais a esconder… bem, para já é super-difícil acreditar que isto [a pedofilia] está a acontecer. Então o que normalmente fazem é achar que a criança está a inventar ou que não é bem aquilo que ela diz ou que até está a fazer confusão. Isto porque aquela pessoa [que pratica pedofilia], por norma, até é uma pessoa amiga da família”, começa por explicar. Um acto que é calculado, ao milímetro. “É maquiavélico, tudo é muito bem preparado. A actuação de um pedófilo é muito calculada. Não são casos rápidos. Vão conhecendo a criança, o seu ambiente, vão fazendo a preparação para o acto. Vão preparando a sua presa e isto leva o seu tempo. O grande alvo deste processo, por norma, é a família para minimizar todas as suspeitas. Quando a criança começa a deixar de querer estar onde aquela pessoa está, a família nunca pensa que é por isto, mas sim outra razão qualquer”, relata. Um perfil definido Os casos que trabalhou, e tantos outros que estudou, trazem uma infeliz certeza à psicóloga. A pessoa pedófila age de forma padronizada e respeita um perfil muito próprio, como por exemplo, vontades, desejos ou concretização dos seus ímpetos durante pelo menos seis meses. Reconhecido como uma patologia no mundo da psicologia e psiquiatria, os doentes, “normalmente são pessoas muito bem vistas na sociedade. Têm posições de estatuto, são sempre muito amáveis, muito prestáveis, muito simpáticas e super metódicos. À partida não existe nenhum indício que leve a crer que aquela pessoa possa sequer ter actos pedófilos”, caracteriza, frisando que este perfil despista qualquer desconfiança. Conquistando uma postura de confiança é nesse momento que se desenrola o crime. “Depois de conquistar a criança, de entrar no mundo dela e de lhe fazer entender os laços de carinho e amor que os liga, é aqui que o pedófilo actua”, aponta. Será errado? No outro lado da moeda, temos a criança, que nem sempre percebe que é errado. “O que acontece é que a criança sente-se muito baralhada”, aponta. Algo perfeitamente natural depois de tanto trabalho de conquista. “As crianças têm imensas dúvidas sobre sexualidade ou sobre as mudanças no corpo e eles normalmente fazem essa aproximação. Portanto, quando um dia tocam, mostram ou querem ver, não é uma coisa totalmente despropositada, porque eles já foram expondo a criança ao estímulo, ou seja, nunca é um acto totalmente descontextualizado”, indica. Ainda assim, para a criança, é uma surpresa, porque lhe suscita dúvidas. “Se esta pessoa é minha amiga, está próxima de mim, diz que gosta de mim, será errado? É o pensamento da criança”, relata. No entanto, há sempre uma altura em que a vítima percebe que não está certo, mas sente vergonha por tudo o que aconteceu. “Ao mesmo tempo o pedófilo faz com que a criança sinta culpa no assunto, porque introduz-lhe ideias de que ela [a criança] o quis fazer, e teve prazer nisso”, continua, assinalando que os dados mundiais indicam que há mais pedófilos homens do que mulheres. “Mas há pedófilos homens e mulheres”, assinala. Verdade escondida Depois de, no início do mês passado, terem surgido dois casos de alegada pedofilia, envolvendo um português e um idoso chinês, a sociedade de Macau parece ter ficado chocada. “A verdade é que todos os dias há casos destes que nunca chegam a ser conhecidos”, garante Goreti Lima. Fonte do HM, responsável por uma associação que acolhe crianças, confirma esta realidade. Existem muitos casos e algumas das crianças que o espaço acolhe são vítimas. Os números oficiais em nada compactuam com estes relatos. Indica-nos a Polícia Judiciária (PJ), por email, que desde 2011, as autoridades receberam um total de 11 casos, quatro em 2012 e três no ano passado. Números que não batem certo com a realidade, porque a PJ garante que este ano ainda não recebeu qualquer acusação. Assobiar para o lado Em Macau, as crianças vítimas de pedofilia estão protegidas pelo Código Penal, mais precisamente pelo capítulo que diz respeito aos crimes contra a liberdade e autodeterminação sexuais, mais especificamente nos artigos 166º ao 170º. Diz a lei que “quem praticar acto sexual de relevo com ou em menor de 14 anos, ou o levar a praticá-lo consigo ou com outra pessoa, é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos”. Pena que poderá aumentar até aos 10 anos de prisão se o agente tiver cópula ou coito anal com menor de 14 anos. No artigo seguinte é definido que “quem tiver cópula com menor entre 14 e 16 anos, abusando da sua inexperiência, é punido com pena de prisão até 4 anos, sendo que é alvo da mesma pena quem praticar coito anal. Violação sexual a crianças em momento algum é referido na lei. “É uma falha”, frisa a responsável pela associação de crianças. “Na lei não está definido se é ou não é criança, trata a violação de forma igual. Não pode ser assim, não deve ser assim”, argumenta. As penas são também alvo de crítica. Goreti Lima aponta o dedo a um Direito que não protege as crianças. Já Song Pek Kei, deputada por sufrágio directo, caracteriza as penas de “muito leves” para crimes que mereciam “mãos mais pesadas”. “Em Macau não existe uma punição muito exigente, como por exemplo a pena de morte, mas podemos abordar essa questão”, garantiu a deputada, ao HM. Para a legisladora, as notícias “de casos de abusos de crianças” têm sensibilizado a sociedade para este drama. “É preciso pensar nisto, admitirmos que existe este problema na nossa sociedade, ao fazê-lo será mais fácil tratarmos do assunto e evitar que mais casos venham acontecer. O que está a faltar é a consciencialização deste drama”, defende. Para o advogado Miguel de Senna Fernandes, “nos tempos que correm”, apesar de não existir, em Macau, um alto registo de números de casos, há “todo o interesse em rodear o tratamento desta matéria com uma medida penal acentuada”. Para Goreti Lima, este devia ser uma “responsabilidade social”. A sociedade devia sentir que têm a obrigação de tornar estes casos públicos e puni-los. Numa conferência na Florida, Estados Unidos da América, a psicóloga espantou-se com a defesa de introdução do ensino sexual no jardim de infância. “Na altura pensei, que horror, esta gente está doida, estão a acordar quem está a dormir. Porque não estava a ver o outro lado da questão, que é quanto mais informação a criança tiver, mais alerta pode estar e pode dizer ‘isto não está certo’”, explica. Abrir de olhos É, por isso, que a solução passa sempre pela educação. “Tocar numa criança de forma a estimular os órgãos sexuais ou a própria criança é pedofilia”, garante Goreti Lim, indicando que muitas vezes as crianças “não sabem porque é que aquilo está a acontecer mas até gosta”. “São festinhas, é carinho, é mimo, portanto a criança gosta, mas não está preparada para saber se aquilo está certo. Mas não está. É errado”, frisa. “Temos de avisar que não é certo tocar nas suas zonas íntimas, nem que a criança toque em alguém”, remata. Da sua experiência, a especialista não tem qualquer dúvida “todos nós temos à nossa volta casos de pedofilia, muitas vezes de pessoas já adultas que foram vítimas em crianças”. As consequências, aponta, são nefastas. Crianças que se tornam problemas com auto-estimas destruídas, com problemas relacionais, marcas profundas. Adultos que em crianças acreditaram numa pessoa amiga. Que, finalmente, lhes roubaram a possibilidade de acreditar e de sonhar.
Andreia Sofia Silva MancheteTabaco | Diploma não está a ser arrastado, dizem deputados Chan Chak Mo garante que a comissão do hemiciclo não está a arrastar propositadamente o debate sobre o fim das salas de fumo nos casinos. O deputado referiu que quebra das receitas não é a única razão para um retrocesso na política “tolerância zero” [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stá longe de ficar concluído o debate na especialidade sobre a revisão do regime de controlo e prevenção do tabagismo. O diploma passou meses sem ser discutido e agora os deputados vão reunir uma quarta vez sobre as opiniões a serem entregues ao Executivo, através de um memorando. Contudo, o deputado Chan Chak Mo garantiu ontem, no âmbito de mais uma reunião da 2ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), que não há qualquer intenção de arrastar o processo. “É uma questão que preocupa toda a sociedade e temos de agir cautelosamente. São apenas sugestões. Não quer dizer que estejamos a arrastar o nosso trabalho”, apontou. Chan Chak Mo destacou ainda o facto da quebra das receitas dos casinos não ser o único factor para que os deputados estejam contra a política da “tolerância zero” face ao fumo dos casinos, conforme defendeu Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. “Não é por pressão económica que propomos a alteração, é para fazer lembrar ao Governo algumas situações que têm de ser consideradas”, referiu Chan Chak Mo. “Tenho de dizer que não sou fumador e entendo que não se deve estar sujeito a um ambiente de fumo passivo. Não sei se as salas para fumadores são 100% estanques. Foram feitos largos investimentos e se os casinos entenderem que a criação de salas de fumadores ajuda a recuperar a quebra das receitas…Deu-se um grande passo em frente com a criação de salas para fumadores e temos de ver, por exemplo, qual a distância que os jogadores têm de percorrer para fumar. (A economia) é uma das considerações. A minha opinião individual é que dependemos de uma única actividade económica da proibição do fumo nos casinos e da origem dos jogadores.” E os eleitores? Questionado sobre o facto de ter sido aprovada na generalidade uma lei que deverá ser completamente diferente no seu conteúdo, Chan Chak Mo considerou essa situação normal. “É normal na generalidade ser-se a favor e na especialidade ser contra, cada um tem a sua justificação. Trata-se de uma decisão política e cada um tem que se justificar perante o seu eleitorado. Há várias propostas de lei que foram totalmente alteradas na especialidade. São as regras do jogo, há deputados que concordam e discordam, é normal. Todos sabem o que se está a passar e cada deputado tem o seu eleitorado. Esta é uma decisão política”, explicou o deputado indirecto. Dúvidas e clarificações O memorando que será agora entregue ao Executivo contém pedidos de clarificação dos deputados relativamente a questões como o cigarro electrónico ou a venda de tabaco em máquinas. “Os produtos não podem ser expostos ou vistos de fora. Queríamos saber junto do Governo qual será o grau de aplicação. As tabaqueiras têm uma opinião contrária e isso vai afectar o negócio. Outra questão é a proibição de comercialização do cigarro electrónico. Agora é só proibida a sua comercialização, mas não quer dizer que seja proibido o seu consumo.” Chan Chak Mo alertou ainda para a necessidade de clarificar a proibição de fumar junto aos autocarros. “Agora a proibição de fumar estende-se a menos de dez metros de distância das paragens. Entendemos que não é exequível essa medida e temos de pedir ao Governo para nos explicar como vai ser executado, porque as vias são muito estreitas e também é proibido fumar do outro lado. É difícil de pôr em prática”, concluiu.
Hoje Macau MancheteNotários | Governo não sabe quantas vagas vai abrir A Assembleia Legislativa começou ontem a analisar o estatuto dos notários privados. A Secretária para a Administração e Justiça não sabe quantos concursos vão ser abertos. Deputados pedem mais inspectores [dropcap style=´circle´]A[/dropcap]rrancou ontem a análise da proposta de lei relativa ao estatuto dos notários privados em Macau pela 1ª comissão permanente da Assembleia Legislativa (AL). Em discussão esteve a falta de profissionais na área e as directrizes para a reintegração de habilitados, para além da possibilidade de abertura de concurso que abranja a inspecção dos notários. A Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, disse aos jornalistas que ainda não sabe quantas vagas vão abrir para que novos notários possam concorrer. Presidida pela deputada Kwan Tsui Hang, a comissão serviu para abordar as questões relativas à falta dos profissionais no território da RAEM bem como a possível reintegração de profissionais, para além da ausência de inspectores suficientes. Actualmente existe apenas um profissional para monitorizar a qualidade profissional do serviço dos notários privados, número evidentemente escasso para os 57 notários. Neste sentido Kwan Tsui Hang adianta a possibilidade da presente proposta de lei poder vir a abranger um concurso para admissão ao curso de formação nesta área. No que respeita à possível reintegração de profissionais já considerados habilitados pelo Regime Transitório que data da fase anterior a 1999, a presidente da 1ª Comissão Permanente adianta que neste momento há 15 pessoas nesta situação que não estão em Macau. Para estes casos, e assim que a proposta de lei for aprovada, será enviada uma notificação informativa em que é dado um prazo de três meses para os interessados informarem a sua intenção de exercer a profissão no território. Mais formação O diploma abrange ainda a abertura de um concurso para admissão ao curso de formação organizado pelo Centro de Formação Jurídica e Judiciária tendo em conta a escassez de notários privados na RAEM. Desde 2002 que não é aberto um curso de admissão para as funções, sendo que dos cinco cursos ministrados até essa data foram qualificados 99 notários privados. Hoje exercem na RAEM 57 profissionais que não garantem a necessidade de estabelecer o equilíbrio entre a procura de serviços notariais e a capacidade de resposta do sector com vista à eficaz satisfação das necessidades da população. Cartório Notarial vai sair do Leal Senado O Primeiro Cartório Notarial Público situado nas instalações da Santa Casa da Misericórdia no Largo do Senado vai mudar de casa. Kwan Tsui Hang revelou a decisão do Governo de mudar o serviço para a zona norte da cidade, não adiantando quaisquer informações acerca do destino do edifício que ocupa actualmente. Ao ser confrontado com a decisão, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macau, António José de Freitas, em declarações à Rádio Macau, afirma que ainda não recebeu qualquer denúncia do contrato de arrendamento por escrito, salientando a preocupação com a situação: “Entendemos que o Governo deveria ter uma maior responsabilidade em zelar pela imagem daquele edifício.” Afirma ainda que lamenta que a Santa Casa seja a primeira vítima da política de austeridade do governo ao mesmo tempo que refere que a renda de um milhão e duzentas mil patacas que a Santa casa recebe anualmente do aluguer do espaço representa cerca de 1% dos cerca de 100 milhões de patacas que o Governo gasta em arrendamentos de vários espaços públicos de Macau É intenção da Santa Casa continuar a arrendar este espaço sendo que considera que o inquilino “deveria ser um departamento do Governo, ou então um banco ou qualquer coisa que não seja de comes e bebes” de modo a zelar pela imagem e dignidade do edifício em si, remata.
Manuel Nunes MancheteGoverno não divulga plano de contingência em caso de acidente nuclear Após a polémica gerada pela central de Taishan, o Governo disse ter um plano de contingência em caso de acidente mas não explicou qual. O HM quis saber mais mas nada conseguiu. Jason Chao diz que o plano deveria até contemplar “uma nova localização para Macau”. Agnes Lam apela à “necessidade da população se sentir segura” e Wang Zhishi, especialista da UM, diz não acreditar em acidentes [dropcap style=´circle´]“A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) irá prestar estreita atenção à respectiva situação junto dos serviços competentes, e executar os devidos trabalhos para articular com o respectivo plano de contingência.” Foi assim que a DSPA respondeu às questões que o HM colocou relativamente ao nível de preocupação que a população da RAEM deve ter relativamente às cinco centrais nucleares que a rodeiam, com especial ênfase para a central de Taishan ainda em construção, e que tantos protestos tem levantado junto de alguns sectores da população, ou não estivesse a apenas 67 km do território. Do leque de perguntas formuladas pelo HM constava ainda o teor do plano de contingência. Para Agnes Lam, docente universitária e dirigente da Energia Cívica de Macau, é compreensível que “exista matéria militar sensível que não possa ser divulgada”. Todavia, para a académica “deveria existir um plano de evacuação e, pelo menos parte dele, deveria ser divulgado para que a população se sinta segura”. Na mesma linha, segue a Associação Novo Macau (ANM). “O Governo responde em meia dúzia de linhas não, é?, pergunta ao HM Jason Chao da ANM, “não é aceitável”. Mudar Macau de sítio Jason Chao vai ainda mais longe dizendo que o plano não só deveria ser público como “em face da construção de tantas centrais à volta de Macau, a população deveria conhecer um plano para a relocalização de Macau”. Chao justifica a sua posição com uma entrevista dada por Gorbachev. “Vinte anos após Chernobyl, Gorbachev disse que uns dois dias depois do acidente foi-lhe dito que as centrais nucleares eram tão seguras como ferver água na Praça Vermelha”, diz Jason, afirmando ainda que “para além do risco que as centrais nucleares representam, não temos confiança nas práticas do Governo comunista”. “Eles dizem-nos para estarmos tranquilos porque as centrais são geridas pelo Governo mas o Governo chinês é conhecido por esconder uma série de incidentes”, diz Jason. No caso de Taishan, grande parte da crítica de diversos especialistas relaciona-se com o facto de elementos principais da central terem sido fabricados na China. Para Chao, “existe falta de confiança nas fábricas chinesas.” Por isso mesmo, reforça que “devemos estar preparados para desastres nucleares e, particularmente no caso de Taishan, porque vai utilizar tecnologias novas e não provadas.” A única possibilidade É precisamente o facto de a central de Taishan utilizar tecnologias novas que descansa o professor Wang Zishi, da Universidade de Macau (UM), que nos foi indicado como, provavelmente, a voz mais autorizada neste tipo de assuntos em Macau. “Desastres como Fukushima e Chernobyl não são possíveis nesta zona”, diz o professor alegando que “não existe historial de tremores de terra nesta região”. Quanto a Chernobyl, diz Wang Zhishi, “a fábrica era muito antiga. Não acredito que isso possa acontecer em fábricas modernas como a de Taishan”. O professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UM diz mesmo que “a energia nuclear é mais limpa do que combustíveis fosseis”, alegando ser a única solução possível para “responder às necessidades de desenvolvimento económico na região”. Confrontado com a possibilidade de acidentes, Wang Zhishi, recusa-se a pensar nisso garantindo que “as fábricas foram construídas após estudos de impacto dos riscos”. Relativamente à necessidade do Governo divulgar um plano de emergência junto da população, praticamente a única pergunta que o HM lhe endereçou, o académico acabou por dizer que “não sei que plano Macau deve ter mas deve existir alguma forma de contingência”, dizendo ainda que “devemos fazer uma avaliação rigorosa para perceber os riscos”. Articular com Hong Kong Para Agnes Lam o plano, a existir, deveria mesmo incluir Hong Kong. “Os Governos de Macau e Hong Kong deveriam coordenar-se num plano de gestão de crises e prepararem exercícios de evacuação”, diz a académica. Para Scott Chiang, da ANM, o Governo devia ser claro para convencer população que tem, em primeiro lugar, capacidade para desenvolver trabalhos de descontaminação e, em segundo, competência para assegurar o abastecimento de comida, água e outros bens vitais que podem vir a ser afectados em caso de um acidente em Taishan”. No fundo, diz Chiang, “apenas queremos saber se existem planos que nos permitam continuar a viver as nossas vidas”. A DSPA voltou a ser inquirida pelo HM sobre o plano de contingência e continuamos à espera de uma resposta.
Manuel Nunes MancheteHenrique Nunes, treinador do Benfica de Macau: “Joga-se bom futebol para as condições que temos” Aos 61 anos, e depois de uma vida dedicada ao futebol com títulos pelo meio, Henrique Nunes estava decidido a encerrar a carreira quando chegou o convite do Benfica de Macau. Uma experiência gratificante mas frustrante, pois a “falta de condições de treino não deixam nem atletas nem treinadores evoluírem”. Caso contrário, há jogadores locais que até poderiam ambicionar ligas mais competitivas Várias vezes tem sido referido que a sua adaptação a Macau não foi fácil. Quer consubstanciar? Não foi e continua a não ser. Vamo-nos adaptando, mas continua a ser muito difícil. A grande dificuldade é a falta de espaços para treino, que é diária, e o facto de mesmo os que temos serem extremamente duros. Reconheço que é igual para todos mas é difícil conviver com esta realidade. Além disso, o facto de os atletas locais não terem o culto do treino também não ajuda. Para eles, o futebol é algo lúdico. Não estava habituado a isso uma vez que sempre treinei equipas profissionais. A falta de espaços é então o principal problema… Sim, naturalmente. Veja o nosso caso esta semana: temos um jogo na quinta-feira e terça e quarta não pudemos treinar. Se quisermos fazer alguma coisa temos de ir para a pista correr quando a nossa finalidade é jogar futebol. Estas dificuldades fazem com que o futebol em Macau não tenha uma evolução maior. Mas, já disse e volto a dizer: em Macau joga-se muito bom futebol para as condições de treino que as equipas têm. Que solução vê para isso? Macau tem pouco espaço mas poderia ser feito algo diferente? Sabemos que Macau tem problemas de espaço. Mas existem formas de contornar isso. A ideia do Desporto para Todos é muito boa mas, se realmente existe uma selecção de Macau e se se pretende evoluir a modalidade, deveria existir preferência de treino pelo menos para os dois principais escalões. Às vezes chegamos ao terreno do hóquei e estão lá seis ou sete amigos a tentarem acertar na barra… Se a ideia for fazer evoluir a modalidade em Macau deviam existir espaços garantidos para as equipas da primeira e da segunda divisões. Têm de marcar campos todos os dias, não é? Todos os dias e às 6 da manhã. Ainda assim, frequentemente chegamos a essa hora e os campos já estão marcados. Planear o microciclo semanal assim é muito difícil porque nem sabemos que tipo de campo vamos ter na semana seguinte. É uma anarquia. Comparando com equipas dos distritais em Portugal, lá quase todas têm mais de um campo para treinarem. Com relvados sintéticos, naturalmente. A relva sintética seria a solução para Macau? Acho que é a única solução. Especialmente se continuarmos a privilegiar o Desporto para Todos. Com a intensidade de utilização que existe actualmente, os relvados sintéticos de ultima geração iriam resolver muitos problemas e até darem mais horas às equipas para treinarem. Que tipo de reacções têm da associação de futebol? Reportamos isto à nossa direcção e eles comunicam à associação. Mas, pelo que me apercebo, a associação está muito mais preocupada com o Desporto para Todos do que com a evolução do futebol local. Pelo que vê dos jogadores que treina e observa nas outras equipas, acha que alguns, reunidas as condições de treino, poderiam ambicionar ligas mais competitivas? Acho que sim. Comparando com Portugal, onde treinei sempre, temos aqui jogadores com condições. Não para chegarem já à Primeira Liga mas claramente para a Segunda. E, com algum trabalho, penso que chegariam à Primeira com alguma facilidade. Mas também não há dúvida que os jogadores ao chegarem a Macau estagnam. Não pode haver evolução do futebol em Macau enquanto não existirem espaços para treinos diários. É frustrante, ou não? É muito. Os primeiros meses foram muito difíceis e pensámos várias vezes em irmo-nos embora. Tivemos foi a felicidade de apanhar um grupo de trabalho que está junto há muito e que nos ajudou a suprir as dificuldades. Hoje posso dizer não estar arrependido de ter ficado mas, mesmo do ponto de vista da evolução como treinadores, é muito frustrante. O exemplo do Tiago. Veio como treinador de guarda-redes. Mas como pode ele treiná-los num piso quase tão rijo como o mármore e com balizas de sete? É frustrante. Macau oferece muito poucas condições aos seus atletas. Existem equipas a mais em Macau? De forma global, não há dúvida nenhuma. Poderiam existir menos divisões com menos equipas mas muito mais estruturadas para podermos ter um campeonato mais forte. Mesmo no caso da Liga Elite, um campeonato de 10 equipas, deveria privilegiar um play-off com as quatro primeiras. Que lhe passou pela cabeça quando recebeu o convite de Macau? Estou com 61 anos e já tinha assumido o final de carreira. Todavia, fiquei a pensar no assunto, falei com muitos amigos, alguns com negócios na região e todos me diziam para vir porque Macau era interessante e até seria uma forma de acabar bem a carreira. Pensei e achei que se as condições fossem agradáveis, porque não, e acabei por vir. Está mesmo decidido a encerrar a carreira, então? Sim, mais um ou dois anos e acabo. Não quer ser um Trapattoni, então? Não, até porque tenho quatro netinhas e elas ocupam-me muito tempo. Também comecei como jogador aos 14 anos, depois dei aulas de educação física, fui bancário mas quando subi o Feirense à I Divisão acabei por me dedicar como profissional. Mas já são muitos anos e esta profissão é muito desgastante. Mas já existe contrato para a próxima época, ou não? Tudo aponta que ficarei pelo menos mais um ano mas provavelmente será a minha ultima época. Não está tudo definido, já conversámos mas tudo indica que vou ficar mais um ano em Macau. Que é preciso para ser um bom treinador? Ora bem…. Gostava de ser melhor do que sou… Porque diz isso? Nestas coisas os momentos contam. Reconheço que quando apareci no futebol e subo o Feirense à I Liga se fosse hoje se calhar teria chegado a uma equipa maior. Hoje com grande facilidade um treinador que ainda não fez nada aparece na I liga com uma facilidade tremenda porque os empresários dominam muito o desporto mas eu nunca tive um. Caso contrário talvez tivesse tudo uma ascensão maior. Mas não é fundamental ter-se sido jogador para se ser um bom treinador mas é um dos princípios. Há espaço para todos claro, até porque hoje um em dia um treinador sozinho não consegue dar conta do recado. Mas acho importante ter-se vivido o desporto como atleta, a vivência do balneário, do jogo, dos treinadores que tivemos. E depois é o gosto, o trabalho e as ideias de cada um. E se depois lhe aparecer uma proposta de Portugal? Termina? Ainda pode vir a arranjar um empresário? (risos) Já não. Isto cansa um pouco… A sério? (risos) De facto, apesar da idade que tenho ainda me sinto com força para treinar. E sinto essa necessidade. Uma das grandes razões que me levou a vir para Macau foi estar parado há quase um ano. Estava farto do sedentarismo e tinha saudades. Há uma relação muito especial com o Feirense… Há. Mais de metade da minha carreira foi passada lá e como sou natural de Santa Maria da Feira, é o clube do meu coração e o clube que mais gosto de representar. Como atleta representei sempre o Feirense. Deixei de jogar com 28 anos porque tive de colocar uma prótese na anca. Depois comecei a treinar a formação, felizmente com algum sucesso, e fui convidado a assumir a primeira equipa, tinha eu 32 anos. Logo no primeiro ano subimos à Primeira Liga. Foi campeão quantas vezes? Pelo Gondomar, Arouca e Feirense, onde subi duas vezes, uma à Primeira e a outra à Segunda Liga. Qual o treinador com melhores ideias? O Guardiola. Para mim é o melhor. Foi um homem que trouxe uma ideia de jogo completamente diferente do que estávamos habituados e com grande sucesso. O Mourinho é mesmo um treinador defensivo? Fez grandes épocas e é um grande treinador, isso nem está em discussão, mas gostei essencialmente dele no Porto e nos primeiros anos no Chelsea quando as equipas dele jogavam muito à bola. Claro que foi campeão europeu no Inter mas estas suas equipas mais recentes não praticavam um bom futebol. Que se terá passado? O processo dele mudou? Os jogadores… Não faço ideia mas, por exemplo, não gostava nada do futebol que praticava o Inter. Era uma equipa muito defensiva que, dizem, devia-se à idade elevada dos jogadores. Mesmo no Real Madrid, existiam muitos bons jogadores mas nunca vi a equipa com um fio de jogo para chegar ao golo. Acho que era mais fruto da qualidade individual dos jogadores do que propriamente outra coisa. Para terminar o assunto Mourinho, foi uma boa aposta para o Manchester? Sim, ele é sempre uma boa aposta. Além disso, vai numa boa altura. O Manchester não tem ganho nada e o Mourinho tem a capacidade para colocar a equipa a ganhar. “Poderiam existir menos divisões com menos equipas mas muito mais estruturadas para podermos ter um campeonato mais forte” Quais devem ser as primeiras coisas que um treinador deve fazer quando chega a um clube com as condições essenciais para trabalhar? O princípio é sempre formar o plantel de acordo com os objectivos da direcção mas, claro, tendo em conta os orçamentos e a sua respectiva adequação. Como se gere o processo quando um treinador diz que precisa de reforços para atingir objectivos? Como se gere isso com os jogadores que já lá estão? Não se sentem menorizados? Por isso é que se deve montar o plantel no princípio. A meio da época deve ter-se algum cuidado. Europeu. Como o está a ver? Mal. Não tenho visto muitos jogos por causa do adiantado da hora. Mas dos que vi ainda não vi grandes jogos. O melhor terá sido o do País de Gales. De início achava a Espanha e a Alemanha como favoritos mas depois de ter visto a Espanha fiquei um bocado na dúvida em relação a eles. Já da Alemanha gostei. E Portugal? Não estou tão optimista como o Fernando Santos mas acho que podemos fazer um bom campeonato. A equipa tem uma boa mescla de jogadores novos e outros mais experientes, todos com muita qualidade. Não está optimista então, porquê? Porque ao longo dos anos as nossas selecções chegam a esta fase e vão-se abaixo. Mas pode ser que a mudança de mentalidades que chegou aos clubes tenha agora também chegado à selecção. Mas não tenho grandes expectativas. Temos capacidade, mas… Porque há falta de pontas de lança no futebol português? Defeitos de formação, mentalidade dos treinadores, o quê? É pena termos tantos jogadores de qualidade no meio campo e não surgirem pontas de lança. Mas passa pela formação, pela necessidade de vocacionar atletas para jogarem naquela zona porque, por norma, toda a gente quer jogar no meio campo. Tem-se mais bola, os defesas não andam tão em cima… Por norma, quem gosta de jogar futebol e tem qualidade, quer ir para o meio campo. Têm de andar mais mas sentem-se mais à vontade. O Éder foi uma boa escolha para a selecção? Acho que sim. Estou com o Fernando Santos. Pode não ser o ponta de lança de sonho que todos desejamos mas é o melhor que temos disponível. “A associação está muito mais preocupada com o Desporto para Todos do que com a evolução do futebol local” O treinador que lhe causou mais problemas em jogo? Considerando equipas de nível equiparado, o Victor Oliveira. Só ele, por acaso, tem mais jogos na II Liga que eu. Ele parece não querer outra coisa… Ele é que está correcto. Assim, acaba por arranjar bons projectos para subir, exige o plantel que quer e ganha muito mais do que se estivesse na Primeira. Ele é pago na Segunda ao nível da Primeira. Então é o mais difícil, porquê? Porque monta equipas muito homogéneas. Não praticam um futebol exuberante mas são muito coesas. Não marcam muitos golos mas também não sofrem muitos. São equipas compactas, difíceis. E o Jesus? É assim tão bom como ele diz? (risos) Ele é um bom treinador. Gosto muito da forma como as equipas dele jogam mas no restante acho-o extremamente convencido. Por isso, acaba por não ser uma pessoa simpática no nosso meio. Há muitos de nós que não o vêem com bons olhos porque ele, para atingir os seus fins, se tiver que atropelar, atropela. E depois fala demais e acaba por dizer coisas que não deve. A sua melhor recordação do futebol Tive duas subidas à I Divisão com o Feirense. Uma como jogador, outra como treinador e esta foi, claramente, a que me deu mais gozo além de termos sido campeões nacionais da II Divisão.
Filipa Araújo MancheteEstética | Saúde pública em risco devido à falta de legislação Sempre gerou muita controvérsia na sociedade. A cirurgia estética é um prazer para uns, um erro para outros. Em Macau não há dúvidas: intervenções estéticas colocam em causa a saúde pública. Para evitar riscos é preciso legislar, frisam médicos [dropcap style=’circle’]“Q[/dropcap]uando não acontece nada até o sapateiro pode ser médico”. A afirmação é de Fernando Gomes, médico, reagindo à falta de legislação para a especialidade de medicina estética. Em termos práticos, o exercício da actividade privada de prestação de cuidados de saúde está regulada pelo Decreto de Lei 84/90/M, publicado em Dezembro de 1990, alterado em 1998 e 1999. Acontece que nada diz sobre medicina estética, mas não é por isso que não se deixa de a praticar em Macau. “Não existe qualquer regulamentação sobre o exercício da especialidade, nem sequer da profissão. Qualquer um que tenha licença para o exercício o pode fazer [bastando ter uma licenciatura em medicina ou acreditação para tal], mesmo que não seja a sua especialidade”, começa por explicar Fernando Gomes. Reforçando a opinião está o também médico Rui Furtado que aponta esta “inexistência de lei” como uma “profundo risco para a saúde pública”. Os culpados O que seria suposto estar a acontecer em Macau, e no mundo da saúde, é que sempre que existe um acto médico o profissional deveria ser responsabilizado pelo mesmo acto, desde que praticado em instituições idóneas e responsáveis, e também responsabilizado pelo administrar medicamentos aos pacientes. Como? Com a assinatura da receita. Em Macau só o hospital Conde São Januário é que passa estas receitas, sendo que todas as outras instituições não o fazem. “Como se sabe aqui ninguém passa receitas, tirando o hospital e, claro, aí há responsabilidade médica, na medicina privada não o fazem. O que acontece é que os utentes vão ao médico e no fim recebem uns comprimidos coloridos num saquinhos de plásticos (…) se houver algum problema, se o doente morrer ninguém sabe quem é que deu aquilo aos doentes. Portanto não há responsabilidade nenhuma de quem administrou aquilo ao doente”, exemplifica Rui Furtado, frisando que esta é a prática “normal em Macau”. Apesar de ser um problema geral, a área da estética está claramente em destaque. Pelos piores motivos. “Aqui qualquer curioso vai a um centro de beleza e faz uma cirurgia estética, algo que só deveria ser feita por médicos credenciados, em hospitais”, continua. “Em Macau qualquer curioso vai a um Centro de beleza e faz a cirurgia. Os procedimentos que têm de ser feitos pelos especialistas, por exemplo o botox, é feito por qualquer curioso, em qualquer lado. Portanto qualquer acto médico em Macau é feito sem responsabilidade nenhuma porque ninguém assina papéis”, acusa. Pulso firme A deputada Wong Kit Cheng, numa interpelação escrita, acusou o Governo de nada fazer num assunto bastante sério. “(…) os Serviços de Saúde (SS) afirmaram que já formaram grupos de trabalhos internos para investigar a regulamentação do serviço de medicina estética, incluindo a proficiência dos médicos, equipamentos, avaliação de risco, entre outros, mas até agora não foi anunciado qualquer progresso”, apontou, sublinhando que “os médicos inscritos não tem conhecimento profissional suficiente ou treino sobre medicina estética, pois o decreto-lei presente [Decreto-lei 84/90/M] não consegue garantir a qualidade do serviço relacionado”. A deputada vai ainda mais longe e afirma que a sociedade estão mal preparada porque nem consegue “distinguir entre medicina estética ou actos de cosmética ordinários”. “Com a falta de informações correctas e claras, o direito e beneficio dos consumidores estão a ser afectados”, apontou. Não são comuns, acrescenta ainda a deputada, casos infelizes de cirurgias em que a única pessoa lesada foi o paciente, sem qualquer responsabilização atribuída ao médico. Fernando Gomes, exemplifica, com o mais recente caso na região vizinha, Hong Kong, da morte de uma paciente depois de desencadear uma reacção alérgica após uma cirurgia plástica. “As pessoas aqui em Macau também correm risco de vida. Até o simples botox. Por exemplo, as pessoas fazem botox hoje em dia quase em cada esquina da rua. Claro que há pessoas que podem ter uma reacção negativa, ou seja, se precisarem de ser reanimadas, isto pode não acontecer porque estas clínicas podem não estar preparadas”, continuou. Acreditação precisa-se A solução está na aprovação do Regime Legal da Qualificação e Inscrição para o Exercício da Actividade dos Profissionais de Saúde, aponta Fernando Gomes. “Essa lei é que vem prevenir todos os casos (…) é preciso regulamentar o exercício de cada especialidade. As pessoas acreditam que por ser médico se pode fazer isso tudo, mas não. É preciso aprovar a lei para ver se conseguimos normalizar uma situação que hoje em dia não pode ser aceitável, principalmente no sector privado”, rematou. Ainda assim, mesmo com a possível qualificação é preciso depois controlar o exercício da especialidade dentro das próprias clínicas. “Responsabilidade médica é um assunto que muito se tem debatido mas que nada se tem feito para alterar”, lamenta Rui Furtado. Enquanto a lei continua em análise e discussão, torce-se para que ninguém morra numa maca, só porque a beleza comanda o mundo.
Andreia Sofia Silva MancheteLorcha Macau | Governo afasta hipótese do regresso da embarcação Um ano depois de um relatório técnico ter declarado a Lorcha Macau como sendo sucata, a Fundação Oriente continua à espera de um orçamento e de uma decisão final para resolver o dossier de um barco a apodrecer. Da Secretaria de Alexis Tam descarta-se a hipótese de um regresso da histórica embarcação à terra mãe [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Lorcha Macau foi, um dia, um símbolo da cultura portuguesa e chinesa em madeira a navegar no mar, tal como um dia se fez nos Descobrimentos. Hoje é um símbolo morto em Portugal sem possibilidade de regresso a Macau. Há um ano a Fundação Oriente (FO) divulgou um relatório que declarava a Lorcha Macau como sucata. Um ano depois, não há decisão. Em Macau ninguém pode ficar com ela, nem mesmo o Executivo. “O Governo de Macau, através de vários serviços e departamentos, analisou com rigor a possibilidade de ficar com a Lorcha Macau mas, por questões várias, nomeadamente de natureza técnica, foi concluído que não há possibilidade de trazer a Lorcha para Macau”, confirmou o HM junto do gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. “A Lorcha Macau é uma situação irreversível”, defendeu recentemente ao HM Carlos Monjardino, presidente da FO. “Estamos à espera de um orçamento, mas quase de certeza não vai ser possível recuperar devido à idade que tem, quase 30 anos. Há um relatório das autoridades que foram fazer uma inspecção e que diz que a recuperação é impossível.” Monjardino prefere não falar de destruição de uma embarcação que representou Macau na longínqua Expo 98, em Lisboa. “Pode-se chamar outra coisa qualquer. Iremos fazer o desmantelamento da Lorcha, se não encontrarmos entretanto outra solução. Acho difícil para a FO ou mesmo para a Fundação Stanley Ho (receber esse projecto). Havia quem estivesse em Macau interessado na Lorcha mas ultimamente não tem mantido muito interesse.” O relatório, citado pelo jornal Ponto Final, fala do “estado geral de degradação da madeira” e a “deficiente manutenção dos principais equipamentos e sistemas de bordo”. De acordo com o relatório, só se aproveitam os motores de propulsão e alguns acessórios de navegação. Construída na década de 80 e usada como símbolo em 1998, a Lorcha Macau está hoje em Portimão e tem vindo a ser afectada por uma praga de bichos de madeira desde 2011, sendo hoje impossível de navegar no mar. A FO gasta cerca de meio milhão de patacas por ano só na manutenção da embarcação, fora as duas milhões de patacas necessárias para tratar a praga na madeira. Contactos de Lisboa Carlos Monjardino ofereceu, por volta de 2012, a Lorcha Macau a Bibito Henrique, da empresa Macau Sailing, ou mesmo à Casa de Portugal em Macau (CPM). Daria a embarcação se, no território, se encontrassem os fundos necessários para todo o processo de transporte e aproveitamento (ver texto secundário). Confrontado com a resposta do Secretário Alexis Tam, Bibito Henrique não se mostra surpreendido. “Não lamento, ao fim destes anos todos já sabia que seria muito complicado recuperar o barco, a partir do momento em que saiu o relatório que dá o barco como destruído.” Amélia António, presidente da CPM, garante: “sendo o custo uma coisa viável, e uma vez que a Lorcha foi feita aqui, é um exemplar único, faria todo o sentido ela estar aqui e ser posta ao serviço do turismo local.” “O doutor Monjardino, em tempos, mandou uma carta a oferecer a Lorcha à Casa de Portugal, e nós não demos seguimento a esse assunto enquanto não soubemos se o Governo estaria interessado em trazê-la para Macau, porque nunca nos iríamos meter numa aventura dessas. Não temos estruturas para tratar desse assunto, ficar com a Lorcha e tomar conta dela. Só se o Governo estivesse interessado nela é que daríamos o nosso contributo em termos de trabalho. Foi isso que transmiti ao doutor Alexis Tam e ao doutor Monjardino. O doutor Monjardino ficou de manter os contactos da empresa que a levou para lá, mas não tive feedback nem de um lado nem de outro.” Bibito Henrique, que considera que ficaria mais barato fazer uma nova réplica da Lorcha, diz que a não aquisição do barco “não é falta de vontade política”. “É tudo muito novo e a política também se está a adaptar”, concluiu. Muito acima de meio milhão Réplica poderia enquadrar-se nas novas águas marítimas Deparando-se, em 2012, com a venda da histórica embarcação, Bibito Henrique pôs mãos à obra e elaborou um projecto que visava o seu transporte e aproveitamento. Se na altura custava mais de 500 mil patacas (60 mil euros), hoje custaria, provavelmente, o dobro. A ideia era comemorar os 500 anos da chegada de Jorge Álvares à China, se bem que Bibito não sentiu receptividade por parte das entidades locais. “Quando vim para Macau com o projecto senti que as minhas tentativas de falar com as entidades locais não estavam a correr bem, não estavam receptivas e as portas não estavam abertas. Percebi também que a minha ideia inicial de lembrar os 500 anos não estava a ter uma grande adesão por parte de Macau.” “O barco iria servir para duas situações para as quais eu considero que Macau ainda tem espaço. A parte turística, de termos o barco para passeios, como há em Hong Kong, e a nível de história e cultura, para dar apoio a escolas, para servir de um equipamento vivo para os nossos estudantes e interessados nesta área para terem acesso a um museu vivo, com uma parte multimédia”, contou Bibito Henrique. O responsável pela Macau Sailing fala da Lorcha como um bom exemplo para enquadrar na nova gestão das águas marítimas, que desde Dezembro de 2015 passaram a estar sob jurisdição de Macau. “De repente temos este mar imenso, uma área imensa sobre a jurisdição, e temos uma economia do mar que passa por imensas coisas, e há inúmeras actividades que podem ser desenvolvidas. Ainda temos os técnicos em Macau, que estão todos na casa dos 60 anos, em Lai Chi Vun (povoação em Coloane). Do meu lado, com as parcerias que tenho na China, temos o saber fazer.”
Tomás Chio MancheteFundação Macau | Deputados pedem alocação de verbas de jogo para Segurança Social Os deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong pedem que as verbas do Jogo destinadas à Fundação Macau sejam alocadas no Fundo de Segurança Social para apoiar “as pessoas de Macau” Com Ângela Ka [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] polémica doação de 100 milhões de renmimbi da Fundação Macau (FM) à Universidade de Jinan, de Guangdong, continua a gerar debate. Ontem os deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San exigiram, em conferência de imprensa, que o Governo mude os contratos com as operadoras de Jogo para que o Fundo de Segurança Social (FSS) passe a receber a parte de 1,6% das receitas dos casinos, em vez da própria FM. Os deputados frisaram que neste momento as contribuições para o FSS não estão estáveis e as contribuições para o Regime de Previdência Central geram polémica. Ambos defendem que os recursos financeiros da FM são de Macau e devem ser aplicados às “pessoas de Macau”. “Se neste momento não é estável a contribuição para o FSS, porque é que não se transferem a percentagem de 1,6% das receitas da FM para o FSS, para que não haja um abuso dos recursos?”, questionou Ng Kuok Cheong. “Não se deve menosprezar os 1,6% das receitas, porque são sempre mais de mil milhões de patacas. Em 2014 as receitas de jogo foram superiores a 300 mil milhões de patacas, o que significa que a FM recebeu cerca de 5 mil milhões. O ano passado as receitas caíram e a FM ainda recebeu mais de 3 mil milhões”, lembrou Au Kam San. “Antes da transferência de soberania pedi que fosse feita uma transferência de fundos para o FSS. Como o Governo referiu que o FSS pode ter uma crise de falta de capitais, vou voltar a pedir que seja feita essa transferência, porque o Governo ainda não tem um mecanismo financeiro para apoiar o FSS de forma continuada”, referiu Ng Kuok Cheong. Dúvidas contratuais Segundo os estatutos da FM, a fundação recebe, desde 2001, 1,6% das receitas dos casinos, com base nos contratos de Jogo. Contudo, os contratos das operadoras determinam que essa percentagem pode ser aplicada numa fundação pública que tenha por fim a promoção, o desenvolvimento e o estudo de acções de carácter cultural, social, económico, educativo, científico, académico e filantrópico. Não define, portanto, que tem de ser a FM. Edmund Ho, ex-Chefe do Executivo, determinou que seria a FM a beneficiária desse valor. “Edmund Ho definiu que essa percentagem deveria ser atribuída à FM e depois ele próprio se tornou presidente do Conselho de Curadores (que decide apoios superiores a meio milhão de patacas). Será que ele colocou dinheiro no seu próprio bolso?”, acusou Au Kam San. Ambos os deputados falam de abusos na FM. “O Chefe do Executivo (Chui Sai On) já disse que não recebe salário da Universidade de Jinan, mas vários membros da FM desempenham outros cargos noutras associações. Se os membros fizerem o que fez o Chefe do Executivo, vão ser cometidos abusos com o dinheiro da FM”, rematou Ng Kuok Cheong.
Andreia Sofia Silva ManchetePorto Interior | Governo salda dívida a empresa 14 anos depois A Macau Professional Services, empresa ligada à CESL-Ásia, recebeu finalmente as mais de 600 mil patacas que lhe eram devidas após o Governo ter suspendido o projecto de requalificação da zona da Barra e do Porto Interior. O último pagamento tinha sido feito em 2002 [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais vale tarde do que nunca. Este poderia ser o lema aplicado à história do “projecto de reformulação urbanística parcial do Porto Interior e da Barra”, que foi encomendado em 2001 pelo então Chefe do Executivo, Edmund Ho, à Macau Professional Services (MPS), ligada ao universo CESL-Ásia. Só ontem é que foi confirmado à empresa o último pagamento que a Administração tinha de fazer à empresa. O despacho publicado em Boletim Oficial (BO) revela que a MPS recebeu as mais de 626 mil patacas que ainda faltavam pagar, sendo que o último pagamento feito pelo Governo data de 2002 e está também orçado acima das 600 mil patacas. O contrato inicial tinha um valor superior a três milhões de patacas. Ao HM, o director da MPS, Miguel Campina, explicou que este despacho representa o fim de um projecto há muito morto e enterrado, e que visava requalificar zonas que anualmente são afectadas por cheias. “Suspenderam o projecto e nunca mais quiseram saber disso. Fomos insistindo no sentido de sermos ressarcidos de alguns prejuízos em que incorremos, por todo o trabalho que fizemos. É fechar o assunto do ponto de vista financeiro, porque as questões que existiam são hoje muito mais graves e a resolução que devia ter sido feita na altura infelizmente não aconteceu, a zona continua a degradar-se e vão destruindo aquilo tudo”, disse Campina. Afinal havia outra Miguel Campina recorda um projecto que foi abandonado em prol da construção do actual Sofitel Ponte 16, da Sociedade de Jogos de Macau (SJM). “A encomenda foi feita, o projecto foi desenvolvido, as conclusões foram apresentadas, mas chegou-se depois à conclusão que a intenção não era a de pôr aquilo em prática. A conclusão era ter um pretexto para tomar uma decisão que veio a ser tomada pelo Governo para entregar o aproveitamento da Ponte 16 directamente à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM). Naquela altura não havia uma entidade que estivesse designada para fazer a exploração daquilo”, referiu. O director da MPS esteve directamente envolvido nessa intenção de requalificação que continua por concretizar. “Parte da estratégia que a STDM tinha pensado e posto em prática era segurar todos os terrenos em Macau para impedir a concorrência de se instalar. No Porto Interior, na sequência dos estudos que tinham sido feitos e nos quais eu tinha estado envolvido, de reformulação do Porto Interior e da Avenida Almeida Ribeiro, o Governo encomendou uma actualização desse estudo, o que aconteceu. Foram feitas uma série de propostas para que fosse feita a recuperação do Porto Interior e a zona da Barra. Mas tudo tinha um outro destino e uma outra razão. Ficou a dívida, que nunca tinha sido resolvida”, rematou.
Hoje Macau Entrevista MancheteAlexandre Baptista, artista plástico: “O Homem é um bicho de difícil compreensão” Alexandre Baptista está na RAEM para a inauguração de “Drawing is giving one’s heart” que acontece amanhã no Albergue SCM pelas 18h30. Traz consigo o tema que lhe dá mote à vida numa exposição provocadora que previa 40 trabalhos mas que devido à superstição com o número 4 passou a 38, não fosse o mau agoiro tecê-las [dropcap]O[/dropcap] Alexandre é já um artista de sucesso e reconhecimento internacional. Como tem sido este percurso e quais os principais desafios? Não tem sido nada fácil. Não é fácil apresentar o meu trabalho seja onde for. Nos últimos anos comecei a viver em sítios muito diferentes. Depois regresso a Portugal e resolvo ter mais um desafio. O sair constantemente da zona de conforto não é fácil. É penoso e tem imensas consequências. Estas idas e vindas são importantes na sua criação? São, porque é uma forma de conhecer outras realidades, outras pessoas e outras culturas. Começo a olhar para o mundo de um modo diferente e aprende-se muito com o bom e com o mau. Tenho a certeza que tudo isso acaba por ter um forte impacto no meu trabalho. “Acho que os portugueses desperdiçaram Macau. Demos isto de mão beijada” O seu trabalho é provocador… Eu sempre fui muito provocador, mesmo quando não tinha razão tinha que encontrar forma de a ter. O que está na génese dessa vontade de provocar? Acho que tem a haver comigo mesmo. Adoro provocar tudo. Lembro-me já na faculdade, no Porto, enquanto se tinha a ideia de que o artista é aquele que não tem cuidado nenhum com a imagem, eu ia para a escola de fato, gravata e a fumar charuto. Tendo um trabalho marcado pela controvérsia, como tem sido a aceitação do mesmo? Não é nada fácil. Tenho vendido, sim! Tenho exposto em vários sítios e países mas tem sido muito duro. As pessoas no início olham de lado para o meu trabalho. Por exemplo quando cheguei a Miami e comecei a correr as galerias até questionavam se aquilo era mesmo pintura. Pensavam que pela perfeição era stencil. Depois mostrava peças de pequeno formato em papel e que de facto era pintura. Não é para me gabar mas tenho consciência das minhas capacidades técnicas e das minhas limitações. Quando faço alguma coisa tenho que dominar o material para o trabalhar. Na altura tratei também de fazer umas peças em madeira e quando as viram naquele suporte ainda ficaram mais admirados. Foi aí que surgiram algumas exposições em Miami. Mas no início olhavam de lado. Em Portugal também. Lembro-me de uma vez levarem umas peças minhas para uma galeria para mostrar a um coleccionador e disseram que era colagem. As pessoas muitas vezes suspeitam mas tenho tido também alguma aceitação. “Mesmo o que está subjacente à pintura, é desenho. Se uma pessoa não souber desenhar, não sabe fazer rigorosamente nada” Não nos traz aqui pintura mas sim desenho. Porquê esta opção? Para mim desenho também é pintura. Tenho uma relação muito forte com os materiais. Por exemplo, uma folha de papel, tenho que a sentir e que perceber a relação táctil. O papel tem outra coisa muito boa que é o som que o lápis ou o pincel produzem que também me toca. Depois usar um papel e partir do princípio que tenho que deixar uma grande parte deste suporte à vista é muito interessante enquanto desafio. Por outro lado tenho uma grande parte da minha obra desenvolvida só em papel. Se vejo em algum lado papéis que me interessam compro e guardo para depois os poder trabalhar. Traz cá uma série de trabalhos que tem feito ao longo do tempo. Como foi a selecção do que traria a Macau? A primeira ideia que tive para esta exposição foi a de misturar papel com outros suportes. Mas depois comecei a perceber algumas dificuldade em fazer exactamente o que queria do modo que achava mais correcto. A dada altura disse que só havia uma forma: tudo em papel. Depois o título desta exposição “Drawing is giving one´s heart” é uma espécie de mote de vida. Tenho uma relação muito forte com esta frase . O desenho para mim também é muito abrangente. Neste caso, e por exemplo em duas peças que fiz recentemente em Londres, é uma conjunção de fotografia, serigrafia e pintura sobre papel. E isso para mim é desenho. Mesmo o que está subjacente à pintura, é desenho. Se uma pessoa não souber desenhar, não sabe fazer rigorosamente nada. Há um outro lado na sua obra que “mergulha” no ser humano. Porquê? O Homem é muito interessante. Olho para o que se passa à nossa volta e há coisas que não entendo mesmo. A forma como reagimos e interagimos com outras pessoas às vezes são coisas tão absurdas e patéticas que me pergunto porquê? Sem qualquer conotação religiosa ou coisa do género, nós andamos aqui e vivemos o tempo que temos que viver e não percebo porque se criam tantos conflitos. Acho que viveríamos muito melhor e de consciência muito mais tranquila se não tivéssemos envolvidos em atritos. Não consigo perceber essa necessidade do Homem de criar problemas ao outro. O Homem é um bicho de difícil compreensão. Mesmo em relação a mim enquanto costumava fazer um exercício interessante em que estava atento a mim mesmo e acho que tenho vários “eus”. Parece um pouco os heterónimos de Fernando Pessoa, mas curiosamente um dos seus heterónimos era um tipo chamado Alexander Search com o qual me identifico. Há uma identificação não só do nome mas pelo facto de eu também andar sempre à procura. Essa “fragmentação” também aparece no seu trabalho? Sim. Por exemplo na minha pintura tenho o hábito de trabalhar em suportes separados e depois juntá-los. Cada suporte tem uma forma de trabalhar diferente e todos têm princípios distintos, mas quando os junto parecem que são unos. Também têm os meus vários “eus”. Se calhar esta vontade de me perceber também faz com que também trabalhe sobre o Homem. Tem andado em movimento e agora está em Londres… Agora estou “exilado” de Portugal. Estou em Londres há pouco mais de um ano e é uma espécie de exílio porque não contacto com Portugal ou com as comunidades portuguesas. Acho que para perceber melhor o meio onde estamos não há nada melhor do que conviver com as outras comunidades. A portuguesa já eu conheço. É igual em todo o lado. Depois estar longe é também pensar numa língua diferente que é sempre um exercício interessante, além do convívio com as pessoas de lá que é altamente desafiante. Nesta procura permanente, tem algum projecto agora em mãos? Tenho alguns projectos ambiciosos que gostava muito de colocar em prática. Um deles é muito complicado porque não é um tema fácil. Há uma peça dessa série que foi exposta em Macau em 2014 e é um trabalho que aborda a forma como vivemos a liberdade e a ausência dela. Quando somos castrados da nossa liberdade. A investigação começa em Auschwitz e vem até aos nosso dias e à sociedade contemporânea. Isto porque acho que vivemos numa sociedade extremamente hipócrita e castradora. Isso acontece nas questões raciais, religiosas que estão desde sempre associadas a guerras e a questões de modelação social, questões de género ou escolha sexual. Outro aspecto tem a haver com a imagem e ornamentação do corpo e o que isso interfere na nossa liberdade e julgamento. Este trabalho aborda todas estas questões. Dizemos que vivemos numa sociedade livre, mas não. Temos imensas regras que nos condicionam a nós e ao que dizemos. Estamos a viver num país onde se diz que a democracia está implementada mas isso é também uma pura fantochada. Para mim as pessoas devem viver a vida da forma que entenderem. Claro que reconheço que têm que existir algumas regras mas não deveremos castrar as pessoas das suas opções. Tenho um outro que tem a haver muito com a religião e a sua relação com o caos. Como assim? Comecei a olhar para este conflitos todos mais recentes do médio oriente e comecei a recuar no tempo. Com a pesquisa sobressai o facto de todas as guerras que temos tido têm um princípio étnico-religioso. Acho que isso leva ao caos. Esse trabalho está todo feito, é uma instalação que está totalmente pronta na minha cabeça. É constituída por dez fotografias gigantes em que existe um altar a que chamo de “profanação do sagrado” e um espaço em que as pessoas interactivamente possam experienciar um estado caótico proporcionado pelo som que já está feito. Falta-me agora um espaço que possa acolher este projecto. Gostava de pôr estes trabalhos em prática mas, mais uma vez, não é fácil, até porque são delicados e controversos. Por outro lado também são projectos para pôr as pessoas a pensar e as pessoas cada vez mais não o querem fazer. Tendemos para uma sociedade alienada? Sim. É mais fácil as pessoas cada vez mais fugirem do pensar. Caminhamos para o individualismo exacerbado e pela indiferença pelos outros. Isto aliado a uma futilidade muito grande da sociedade de hoje com o culto da imagem. As pessoas só se preocupam com a imagem mesmo sem conteúdo. Não acho isso nada interessante. Não há consciência política nem de cidadania. Em Macau sente a questão racial? Não sinto esse confronto de forma explicita mas a comunidade chinesa e portuguesa vivem totalmente à parte uma da outra. Posso estar redondamente enganado mas para mim são dois mundos que coabitam no mesmo espaço e é só isso. Já esteve em Macau com várias exposições. Como tem sido? Não tenho razão de queixa de Macau. Todas as vezes que tive trabalhos aqui, vendi. Tenho ainda pessoas que sei que são seguidoras do meu trabalho e também tenho pessoas que considero minhas amigas. Em relação a Macau, a primeira coisa que penso é que “isto era nosso e porque é que não aproveitámos?”. Depois penso também que isto é muito pequeno. Quando aqui estive a primeira vez só havia o casino Lisboa e agora estão cá as operadoras americanas todas. Acho que os portugueses desperdiçaram Macau. Demos isto de mão beijada. Que conselho dá hoje aos jovens artistas que se vêm com as dificuldades inerentes a um início de carreira? Que façam aquilo que gostam e que não olhem para trás. Vale a pena correr riscos. Eu ainda continuo a corrê-los todos os dias. Como pessoa devo muito à pintura. Por exemplo lembro-me dos meus pais me darem dinheiro para comer na escola e eu só almoçava para poder poupar e gastar em material de pintura. Começaram aí os sacrifícios. Por outro lado o meu pai apoiava-me de uma forma estranha porque nunca dizia que o meu trabalho era bom. Mais tarde vim a saber por um tio meu que não o fazia para que eu não me acomodasse.
Flora Fong MancheteDesign | Finalistas acreditam que existe mercado mas é preciso melhorá-lo Finalistas de design. Acabaram os estudos e enfrentam o mundo do trabalho. O Governo aposta nas indústrias culturais e criativas e os alunos agradecem. No entanto, ainda há muito a fazer. O mercado precisa de se desenvolver e enquanto uns tentam a sua sorte por aqui, outros vêem o estrangeiro como uma mais-valia [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]elix Vong é um dos 99 finalistas da licenciatura em Design Gráfico do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Apaixonado por fotografia, para o jovem o trabalho ideal seria conseguir uma oportunidade de se tornar fotógrafo a tempo inteiro, sem nunca descurar a área de design. Em conversa com o HM, Felix Vong admite que está um “pouco indeciso” quanto ao futuro, mas frisa que quando tomar uma decisão profissional não esquecerá a realidade dos dias de hoje: ter dinheiro para viver. “Sejamos francos, o dinheiro é muito importante em Macau. Todos os meus colegas, todos os alunos de design também pensam nisto”, começa por partilhar. A verdade, aponta, é que neste território que vive do Jogo, mas insiste em tentar diversificar-se, é a própria massa crítica que “pensa que trabalhos na área do design são piores do que trabalhar no Jogo”. “Existe esta ideia porque os licenciados quando procuram um emprego numa empresa de design nunca vão receber ordenados chorudos. Mas o facto é que o trabalho não é tão duro quanto noutros sítios”, indicou, abrindo a excepção daqueles profissionais “que sejam amigos dos donos das empresas”. Esses, diz, são os mais sortudos, com “bons salários”. Jogo de interesse Agora, de testa franzida, puxando de um tom de voz mais sério, Felix Vong não esconde que “nem tudo pode ser dinheiro”. Nesta área é muito importante uma coordenação entre entidade patronal e funcionários. “Não é um trabalho que funciona da mesma maneira em todas as empresas, depende do estilo da empresa, das suas opções de mercado. Cabe-nos a nós, profissionais, escolhermos com quem queremos trabalhar, que tipo de trabalho queremos representar e fazer”, explica. Esta foi uma das grandes questões apresentadas logo no primeiro ano do curso do IPM. O finalista recordou as palavras do docente que o encorajou para o futuro. “Um professor tranquilizou-nos, logo no início do curso, quando nos disse que não nos precisávamos de preocupar em procurar trabalho, porque muitas empresas têm falta de designers”, citou. Contudo, desengane-se quem acha que o design gráfico chega. “As empresas exigem muito mais de nós, não podemos ser só bons designers, temos de ter experiência, ou pelo menos conhecimento, em outras áreas”, aponta. A olhar para os exemplos de outros alunos, Felix Vong conta que, nos últimos anos, muitos colegas que terminavam o curso criaram pequenos negócios em Macau, mas que nem sempre atingiram o sucesso. Segundo os mais recentes dados dos Serviços de Economia, em Macau existem 33 mil pequenas e médias empresas, sendo que as PME com apenas cinco funcionários ocupam 80% do bolo total. Sou Tim Peng, director dos serviços, afirmou à imprensa local, em Abril deste ano, que em 13 anos de existência do Plano de Apoio a Pequenas e Médias Empresas (PME) já foram concedidos 2200 milhões de patacas, num total de 8144 pedidos, bem como 163 milhões no âmbito do Plano de Apoio a Jovens Empreendedores, com 1029 pedidos. Relativamente às industrias culturais e criativas, o IC afirmou que vai publicar um relatório com estatísticas sobre as empresas na área no final deste ano. Mas nem todos quiseram ter o seu próprio negócio. “Muitos conseguiram entrar em grandes empresas e até em operadoras de Jogo. Mas há ainda quem tenha conseguido ir para o Governo, como técnico para o Instituto Cultural (IC) ou até para o Museu de Arte de Macau (MAM)”, frisa. Este último, diz, é o “trabalho ideal”. “Este é mesmo um bom trabalho. Para quem não quer ter um negócio, este é o cargo ideal, porque no Governo há um maior grau de criatividade. Isso vê-se nos cartazes publicitários de vários departamentos da Administração Pública. São bem lindos”, sublinha. Num último apontamento, o finalista adverte à necessidade de perceber que jeito não é tudo. “Há muitos colegas meus que não vão continuar nesta área porque gostar de design não é a mesma coisa que saber trabalhar. Também há alunos que têm jeito e depois ao estudar percebem que não querem esta área”, remata. Em Macau, para além do IPM, a Universidade de São José (USJ), a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), a Universidade de Cidade de Macau (UCM) também oferecem os cursos de Design. Porém, é no Politécnico que mais alunos se encontram matriculados, seja na área de design gráfico, digital, espacial, publicitários, assim como em Arte Visual. Este ano formaram-se mais 99 novos profissionais no IPM e 13 na USJ. Investir em mais Na área de Media Digital, também do IPM, acaba de se formar Jonze Leong que, partilha com o HM, não sabe se os estudos acabam por aqui. Nos planos para o futuro está a possibilidade do curso de mestrado, portanto encontrar um trabalho a tempo inteiro não deve ser a opção a curto prazo. A ideia, partilha, é fazer trabalhos como free lancer em Web design e fotografia até começarem as aulas. Com formação em produção de filmes, vídeos de animação e imagem em movimento, Jonze tem conseguido, ao longo dos últimos anos, fazer pequenos trabalhos e “ganhar algum dinheiro”. Talvez este seja o segredo para um futuro em que de imediato o mercado esteja aberto aos recém-finalistas, irem produzindo durante os anos de licenciatura. “Eu comecei logo no segundo ano, fiz vários trabalho como fotógrafo, depois foi uma questão de melhorar, diariamente, expandindo as áreas de actuação.” Como trabalho ideal, o finalista acredita que o sonho de qualquer profissional é poder ser criativo sem barreiras, sendo que isto poderá implicar não ter um contrato de trabalho fixo com uma empresa só. Macau não é, para Jonze, um lugar onde possa depositar as suas esperanças profissionais, pois isso o ideal é avançar com o mestrado noutro país qualquer e conseguir ganhar a confiança do mercado. Contrariamente a Felix, Jonze não acha que o trabalho ideal seja ser contratado pelo Governo. Antes pelo contrário, para ele, muitos dos finalistas querem ser jovens empreendedores e ter o seu próprio negócio. “Acredito que para eles [os finalistas] criar o seu próprio negócio lhes trará mais ensinamentos, outro tipo de experiência que o Governo não pode dar. E se o próprio Executivo tem medidas de apoio às Pequenas e Médias Empresas (PME’s), então eles aproveitam”, defendeu. Futuro em números Opiniões à parte, Patrick Lei, coordenador do programa de Design da Escola Superior de Artes do IPM, indicou, ao HM, que 80% a 90% dos estudantes de área procuram emprego em empresas de design, incluindo as de publicidade, multimédia e construção. Os restantes, diz, por norma continuam a estudar em mestrados ou pós-graduações. “Segundo os dados dos últimos anos, não foram muitos os estudantes que escolheram continuar os estudos. A causa é fácil de perceber: em Macau não é difícil encontrar emprego na área do design, por isso, os finalistas preferem começar logo a trabalhar e, talvez, voltar a estudar no futuro”, explica. É o caso de Winky Lam, finalista do curso de Artes Visuais do IPM, que sem hesitar diz-se pronta para trabalhar. Ainda não foi a sua festa de graduação e Winky Lam já tem um trabalho em mãos. Nos próximos dias vai começar um trabalho na área de floricultura no Wynn Palace e Winky não podia estar mais entusiasmada. A apostar na inspiração da criação, com dedicação e entusiasmo, a mais recém profissional diz-se pronta para trabalhar “com a beleza das flores”. Esta não é a sua primeira experiência. A finalista, antes de o ser, realizou alguns estágios em Macau, um deles na área de ensino. O estágio de Winky obrigava a aluna a ser professora de arte num estúdio, mas logo percebeu que a pedagogia não está nos seus planos. “Gosto mais de ensino de arte fora das escolas, em jeito mais criativo, com mais liberdade, sem aquelas restrições naturais das escolas. O que acho que é com esse método os alunos não conseguem absorver muito os ensinamentos e depois isso reflecte-se no futuro”, aponta. Sobre a possibilidade de abrir um negócio seu, Winky descarta a hipótese. “O meu trabalho ideia é atingir o cargo de directora de arte, assumindo um papel de coordenação em projectos e obras de vários artistas, por exemplo, um trabalho no Festival de Artes de Macau”, esclarece. Os estudos, esses não acabaram por aqui, mas será noutro país, depois de conseguir poupar dinheiro para isso. Ao contrário de Jonze, Winky quer voltar, depois de tirar o mestrado, a Macau e trazer tudo o que aprendeu para cá. “O mercado de trabalho é bom, tem muito espaço para se desenvolver, quero usar a minha capacidade para mudar o actual”, frisou. Formação prática Quando questionados sobre o tipo de curso, todos os finalistas afirmaram que este é bastante prático e vai ao encontro do que o mercado pede. Felix explica que o IPM está muito actualizado sobre as necessidades reais do mercado, apostando também em projectos para a comunidade, envolvendo o maior de entidades possível. Jonze complementou que os trabalhos finais permitem os alunos treinar as suas capacidades e fazerem-se mostrar à comunidade, através de exposições ou feiras de trabalho. O docente Patrick Lei reafirma a iniciativa, afirmando que há o cuidado de que os projectos dos alunos possam interagir com outras entidades, permitindo que os estudantes participem e experienciem trabalhos reais. A pensar nisso, explicou, o IPM implementou um estágio de mais de um mês durante as férias de verão, antes do quarto ano do curso, para que possam ganhar noções do mundo de trabalho. Abrir de portas Para o docente Álvaro Barbosa, director da Faculdade de Indústrias Criativas da USJ, todos os alunos conseguem emprego na área de design, principalmente nas vertentes de gráfico e de interacção. Contudo, o mais importante é ter alunos empreendedores que possas abrir novas empresas nesta área. “Parte do processo de empreendedorismo é fomentado e despoletado ainda durante o curso. O design é uma disciplina que tem cada vez mais importância nos processos de inovação”, disse, acrescentando muitos alunos têm também oportunidades de trabalho em áreas laterais, utilizando as suas experiências como criativos e “Design Thinkers”. O director salientou que o curso de design da USJ é bastante abrangente, cobrindo áreas como design de produto, design gráfico, design de interacção e design de interiores. As cadeiras, continuou, têm componente teórico-prática. A instituição vai ainda abrir um novo curso do Design de Moda este ano. “Tudo o que ensinamos é com base na realidade e tendências da indústria do design e todos os nossos professores são experientes na indústria”, rematou. Mercado de arte desenvolveu-se mas não é suficiente Profissionais falam na melhoria Para Patrick Lei, coordenador do programa de Design do IPM, o mercado de design e arte está muito mais desenvolvido do que dez anos. Crescimento que aconteceu devido ao boom económico, que aumentaram o número de empresas de design e de produção de conteúdos. Também com a promoção do Governo nas indústrias culturais e criativas, Patrick Lei considera que há cada vez mais oportunidades e a empregabilidade é, por isso mesmo, positiva. “Noto que cada vez mais há estudantes que têm a sua própria empresa, depois de terem ganho experiência durante dois ou três anos”, afirmou. O docente Álvaro Barbosa acredita que este mercado irá desenvolver-se ainda mais, tornando-se cada vez mais sofisticado. Isto depende, claro dos recursos humanos qualificados na área e da massa crítica da própria sociedade. “O facto de haver várias universidades e institutos politécnicos a proporcionar formação avançada nesta área, irá por si só transformar a qualidade e exigência desta indústria em Macau e, consequentemente, criar mais procura de profissionais de excelência”, aponta. O finalista do IPM, Felix Vong, considera também que a taxa de aceitação do mercado de arte de Macau aumentou, sobretudo face aos jovens. Por outro lado, Winky Lam lamenta que o ambiente de arte em Macau não tenha melhorado de forma mais drástica, mesmo com a organização de muitas exposições e programas últimos tempos. É preciso, diz, desenvolver o mercado. “O mercado de arte e design de Macau tem falta de orientações, por exemplo, numa exposição no MAM, reparei que o número de visitantes nunca é alto. Penso que existem carências na coordenação entre as políticas sobre cultura e a população, uma não conhece a outra e o desenvolvimento deste mercado não é controlado. Jonze Leong é mais radical, Macau não tem mercado. “Não quero ficar em Macau, só agora é que se está a desenvolver este mercado, precisa de se desenvolver, portanto quero ir trabalhar para fora”, rematou.
Hoje Macau MancheteComemorações 10 de Junho | Chui Sai On elogiou comunidade portuguesa Não haja dúvidas: a comunidade portuguesa, residente em Macau, deve ser mesmo muito especial. Por um lado, o nosso “contributo activo” é importante para a RAEM, segundo Chui Sai On. Por outro, somos “insubstituíveis” para o futuro de Portugal, segundo o secretário de Estado, Jorge Gomes. Os habituais discursos do 10 de Junho, na residência consular, reafirmaram o costume, mas desta vez, ainda foram mais longe. Ele é muita responsabilidade… [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] chefe do Executivo de Macau referiu nas cerimónias do 10 de Junho que as relações entre Portugal e Macau “têm vindo a ser concretizadas com sucesso” em áreas como a Justiça e sublinhou o contributo da comunidade portuguesa para o desenvolvimento da região. No âmbito da celebração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Chui Sai On começou por agradecer a camisola da selecção portuguesa de futebol com o número 8 – o número da sorte – e o seu nome em português [Fernando], que, momentos antes, lhe foi entregue pelo cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong. “As relações entre Portugal e Macau são de longa data e, desde o estabelecimento da Região Administrativa Especial têm vindo a ser concretizadas com sucesso, em especial nas áreas do comércio, turismo, educação e saúde”, disse. “Também na área da Justiça, a cooperação entre Portugal e Macau saiu consolidada e reforçada, com as recentes visitas da senhora Procuradora-Geral da República Portuguesa e do senhor presidente do Supremo Tribunal de Justiça de Portugal”, observou. O chefe do Executivo reconheceu “o contributo activo dos portugueses e dos macaenses (…) para a construção e desenvolvimento da região”. Também referiu que, hoje em dia, Macau tem “a relevante missão de elo de ligação nas relações culturais e comerciais entre a China e Portugal e também entre a China e os países de língua portuguesa”. Neste âmbito, invocou a preparação em curso, “com o forte apoio do governo central, da quinta edição da conferência ministerial no âmbito do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. “Estamos convictos de que, apoiando-se na estratégia nacional de ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e, tirando partido destas singularidades, Macau continuará a fomentar e reforçar as suas relações na cooperação com os países de língua portuguesa”, afirmou. Os insubstituíveis O secretário de Estado da Administração Interna disse que comemorar este dia em Macau tem “uma carga emocional” por se celebrar “uma relação histórica de cinco séculos entre Portugal e a China, de admiração e de respeito mútuo” Jorge Gomes disse que em Macau “verifica-se o empenhamento em manter uma matriz portuguesa, facto que bem simboliza o sucesso da transição”. “As informações que nos chegam, designadamente das autoridades portuguesas e do Executivo de Macau, comprovam que aqui os portugueses não são apenas bem-vindos. Mais do que isso são vistos como um pilar essencial desta comunidade empreendedora e virada para o futuro”, acrescentou. Por outro lado disse que “esta comunidade tem um papel insubstituível no futuro de Portugal. A distância não diminuiu em nada esse papel”. Da relação entre Portugal e Macau salientou o Acordo Quadro da Cooperação em matéria de segurança pública interna, que se tem traduzido na realização de actividades conjuntas pelas forças de segurança, nomeadamente na área da formação, afirmando haver condições para o reforço desta cooperação bilateral. Jorge Gomes falou ainda do plano de reformas que está a ser realizado pelo governo português e descreveu Portugal como um país de oportunidades de investimento e recordou a participação de investidores chineses nos processos de privatização de empresas portuguesas, e a internacionalização de outras que têm identificado negócios com a China. “Fora da Europa, não podemos esquecer: a China é um dos principais parceiros comerciais de Portugal”, salientou. Além disso, destacou a cooperação multilateral, desejando “os maiores sucessos” para a próxima reunião ministerial do Fórum Macau a realizar em Macau no final deste ano. O cônsul de Portugal em Macau e Hong Kong, Vítor Sereno, afirmou que “não gostaria que, quando se chegar a 2049 [data até à qual é garantido o funcionamento do princípio ‘Um país, dois sistemas’], exista a possibilidade de Portugal ser apenas lembrado por aqui ter deixado um conjunto de edifícios que são património histórico da humanidade”. Referindo o contributo da comunidade para o desenvolvimento de Macau, Vítor Sereno referiu a importância da vinda de mais quadros especializados de Portugal para a região. “Queremos estar na primeira linha de apoio, com mais professores de todos os graus de ensino, com mais médicos, com mais enfermeiros, com mais engenheiros, com mais técnicos especialistas”, disse. Presidente da República: “Foi sempre o povo a lutar por Portugal quando elites falharam” O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu que foi o povo português, “sempre o povo”, quem assumiu o papel determinante quando o país foi posto à prova, lutando por ele, mesmo quando as elites falharam. No discurso das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, no Terreiro do Paço, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa fez o elogio do povo português, “o povo armado e não armado”, que, “nos momentos de crise, quando a pátria é posta à prova”, assumiu o “papel determinante”. “Foi o povo quem, nos momentos de crise, soube compreender os sacrifícios e privações em favor de um futuro mais digno e mais justo. O povo, sempre o povo, a lutar por Portugal. Mesmo quando algumas elites – ou melhor, as que como tal se julgavam – nos falharam, em troca de prebendas vantajosas, de títulos pomposos, meros ouropéis luzidios, de autocontemplações deslumbradas ou simplesmente tiveram medo de ver a realidade e de decidir com visão e sem preconceitos”, afirmou. “Portugal é o seu povo, que não vacila, não trai, não se conforma, não desiste”, declarou. “Aqui em Lisboa, seguro de estar a interpretar a vontade popular, condecoro militares cujo pundonor e percurso no passado ou no presente são exemplo para todos nós”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, no discurso que antecedeu a condecoração de seis militares, três no ativo e três outros que combateram na Guerra Colonial. No elogio ao povo, Marcelo Rebelo de Sousa percorreu vários momentos da história de Portugal, desde a fundação, passando pelas perdas e recuperação da independência, às invasões estrangeiras do século XIX e o 25 de Abril. “Esse mesmo povo que hoje é garante do nosso desenvolvimento económico, da justiça social na reconfiguração de Portugal como país de economia europeia, de raiz multicultural, expressão da língua portuguesa, plataforma entre continentes, culturas e civilizações, é esse povo que hoje queremos celebrar”, afirmou. Numa intervenção curta (durou cerca de nove minutos), de tom mobilizador, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se também ao simbolismo do lugar em que decorreram esta primeira parte das cerimónias, o Terreiro do Paço. “Podemos dizer que devemos aos acontecimentos ocorridos neste espaço o que somos hoje e o que fomos sendo desde o século XV”, afirmou, referindo-se a vários acontecimentos, culminando no terramoto de 1755. “Foi aqui também que demos prova de que somos capazes, novamente a partir do nada, planeamos, reconstruímos, reerguemo-nos, Lisboa renasceu e a esta praça tornou-se uma das mais belas da Europa. Mostrámos ao mundo de então de que fibra somos feitos e do que somos capazes”. “Hoje, em 10 de Junho de 2016, desta mesma praça, que é símbolo maior do nosso imaginário colectivo, partimos, uma vez mais, rumo ao futuro. Somos portugueses, como sempre, triunfaremos”, concluiu.
Andreia Sofia Silva MancheteConselho das Comunidades | Secretário de Estado defende continuação Jorge Gomes, Secretário de Estado da Administração Interna do Governo em Portugal, defende a continuação do Conselho das Comunidades Portuguesas, depois de Tiago Pereira, da secção do Partido Socialista em Macau, ter pedido o seu fim [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] secretário-coordenador do Partido Socialista (PS) em Macau, Tiago Pereira, foi a Lisboa defender o fim do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) no congresso do partido, mas esse desejo não deverá ser concretizado. Jorge Gomes, Secretário de Estado da Administração Interna, defendeu a continuação do trabalho desta entidade. “Têm tido uma óptima relação com o Governo português e são pessoas que fazem um trabalho de excelência, o qual deve ser mantido”, disse Jorge Gomes no âmbito de uma visita às instalações da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), da qual fazem parte os três conselheiros de Macau: José Pereira Coutinho, Rita Santos e Armando de Jesus. Jorge Gomes, que faz parte de um Governo de coligação entre o PS, Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português (PCP), e que é militante do PS, optou por se distanciar das palavras de Tiago Pereira. “Há duas áreas distintas que temos de respeitar: aqui represento o Governo de Portugal e não o PS, apesar de eu ser militante. Quando temos um congresso todos nós temos o direito de ir lá manifestar as nossas opiniões. Isso não vincula nada o programa e as posições que o Governo deve ter. O PS tem o direito à sua opinião e estratégia. O Congresso do PS tem uma moção aprovada, o resto são propostas que aparecem mas não são vinculativas.” A visita de Jorge Gomes à ATFPM foi acompanhada pelos três conselheiros e pelo cônsul-geral de Portugal em Macau, Vítor Sereno. Na sua visita guiada, Coutinho aproveitou por falar do trabalho realizado pela ATFPM e da sua candidatura à Assembleia da República pelo partido Nós! Cidadãos, descrevendo os cartazes espalhados pela sala. Óptimas relações Jorge Gomes, que visitou o território de forma oficial pela primeira vez, destacou as boas relações de Portugal com a China. “Trago essa mensagem do Governo português, a de que a nossa relação com a China e Macau tem sido uma relação extremamente facilitadora. A China é dos países mais importantes nas relações com Portugal fora da Europa. Temos aqui duas junções importantes: Macau com todos os portugueses e a relação com a China, que é de excelência.” “A minha vinda aqui em representação do Governo português é uma vinda de solidariedade para com todos os portugueses que aqui estão, pelo reconhecimento do papel e trabalho que os portugueses têm tido, e também um reconhecimento para os conselheiros e o cônsul que faz uma representação diplomática de muito bom nível”, concluiu Jorge Gomes. Voto electrónico | Caro demais para o país Questionado sobre a possibilidade de implementar o voto electrónico, outro pedido feito por Tiago Pereira no Congresso do PS, o Secretário de Estado da Administração Interna disse que o projecto deverá custar mais de 360 milhões de patacas (cerca de 40 milhões de euros), algo que leva à adopção de alguma prudência por parte do Governo. “Fica muito mais caro (do que o actual sistema). O orçamento que temos no Ministério da Administração Interna rondaria os 40 milhões de euros de investimento imediato, e temos de ter o bom senso para perceber qual o momento em que o país está preparado para o fazer. Para além disso é um projecto sobre o qual não temos ainda segurança suficiente para o implementar.” Jorge Gomes referiu que será adoptado, para já, o voto antecipado em mobilidade nas eleições regionais dos Açores. “Todo e qualquer cidadão dos Açores pode votar em qualquer ponto do país. Este vai ser um projecto piloto, não falamos em voto electrónico porque falamos de valores incomportáveis para o nosso país, mas vamos fazer o primeiro teste e depois iremos progredir. É um assunto que faz parte da modernização administrativa do nosso país, queremos progredir mas com muita segurança e com muito realismo, com cuidado, porque as eleições são um acto muito importante”, rematou Jorge Gomes.
Andreia Sofia Silva MancheteCroupiers | Associação rejeita inclusão de TNR e responde a Cheang Chi Keong Associação Power of the Macau Gaming entregou uma petição ao Chefe do Executivo a pedir a pedir a manutenção exclusiva dos locais nos cargos de croupier. Cheang Chi Keong, que defendeu a inclusão de TNR, está a dar voz a um lobby, diz Coutinho As declarações foram feitas ao jornal Ou Mun e as reacções não se fizeram esperar. Dias depois do deputado indirecto Cheang Chi Keong ter defendido que os trabalhadores não residentes (TNR) poderiam desempenhar a função de croupiers nos casinos, sem consequências negativas para a economia, eis que a associação Power of the Macau Gaming decidiu reagir e entregar uma petição ao Chefe do Executivo, Chui Sai On. “Estamos para apresentar uma petição para que o Chefe do Executivo respeite e cumpra as promessas que fez na altura da candidatura ao cargo máximo da RAEM, de que no seu mandato não haveria mudanças ao nível da importação de mão-de-obra nas funções de croupier”, disse ao HM o deputado directo José Pereira Coutinho, que também pertence à Power of the Macau Gaming. Coutinho acusa Cheang Chi Keong de estar a dar voz ao lobby dos patrões. “Ele é a voz desses interesses e é sobretudo a voz desses empresários junto do Chefe do Executivo. Está a testar as águas, para ver se estão quentes, frias ou mornas e se há ou não reacções. Ele veio (fazer as declarações) a mando de alguém”, referiu. O Governo já reagiu através de um comunicado oficial em que frisa que não vai importar TNR para a profissão de croupier. Coutinho garante que os locais perderiam imediatamente os seus postos de trabalho. “Abrindo essa brecha viriam muitas raparigas elegantes da República Popular da China. As pessoas de Macau ficariam prejudicadas. Hoje em dia viola-se diariamente a Lei Básica no aspecto do princípio da igualdade.” Não foi apenas o deputado Cheang Chi Keong que por estes dias defendeu a vinda de TNR para as mesas de Jogo. Numa recente sessão de consulta pública sobre o Plano de Desenvolvimento Quinquenal, virada para a área da educação, foi dada uma sugestão de que seria importante recrutar TNR para trabalharem como croupiers nos turnos da noite, para que os locais pudessem estar mais tempo em casa com os seus filhos. Não aos ilegais Na petição entregue a Power of Macau Gaming pediu ainda um maior controlo dos trabalhadores ilegais. “O Governo deve fiscalizar rigorosamente a proliferação de trabalhadores ilegais, sendo que os cargos dos três sectores (arquitectura, decoração doméstica) devem ser ocupados por trabalhadores locais, já que neste momento muitos deles estão desempregados”, pode ler-se. “O Governo deve formar talentos da nova geração no ensino secundário por via do ensino politécnico para ocupar vagas no sector da electricidade, electromecânica, canalização de águas e outros ofícios, não devendo a nossa sociedade estar a formar jovens somente de colarinho branco”, defendeu a associação. Tabaco | Coutinho quer tolerância zero O deputado José Pereira Coutinho falou ainda da revisão do regime de controlo e prevenção do tabagismo, criticando as palavras de Chan Chak Mo, que preside à comissão que analisa o diploma. “O presidente da 2ª Comissão Permanente diz que a maioria dos seus membros estão a favor da existência de salas de fumo nos casinos. Chamo atenção ao Governo de que esse é um projecto deles e lembro-me que o Secretário fez questão de dizer que haveria tolerância zero no fumo nos casinos. Tratando-se de tolerância zero, o Governo não pode neste momento ceder às alterações do projecto de lei do Governo e em respeito da Convenção sobre o fumo em espaços fechados, se a AL retirar as normas que o Governo submeteu, retira o projecto, porque já está adulterado. Estando adulterado viola a convenção sobre o fumo em espaços fechados e põe um fim às promessas feitas pelo Secretário.”
Hoje Macau MancheteJusta Nobre e José Bengaló, chefs de cozinha: “É uma profissão de amor” Justa Nobre e José Bengaló são os chefs portugueses que puseram mãos na cozinha do Clube Militar em mais uma quinzena gastronómica. Pela segunda vez na RAEM e em final de mais uma iniciativa de sucesso salientam os reencontros e o interesse pelas suas criações das receitas da terra [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]e regresso a Macau, a convite do Clube Militar, a dupla de Chefs Justa Nobre e José Bengaló mostram do que melhor se faz na cozinha portuguesa numa iniciativa bianual dedicada à gastronomia lusa. Paralelamente à mesma sai uma nova ementa composta pelos pratos com mais sucesso para acompanhar os mais saudosos e apreciadores dos sabores de Portugal. Começaram ambos a cozinhar desde pequenos. Justa Nobre lembra a paixão pela cozinha “desde o berço” diz ao HM. “Desde pequena sempre adorei tachos e panelas. Vinha das escola e a primeira coisa que fazia era destapar as panelas e provar a comida” para dizer à mãe o que faltava. Para ela, “cozinhar ou brincar era igual”. Aos 21 anos sai de Trás os Montes para chefiar um restaurante em Lisboa e não mais largou o sucesso. Autodidacta, considera-se “muito intuitiva para a cozinha.” Apesar de criar pratos mais dentro da gastronomia portuguesa, nomeadamente transmontana, a sua terra natal, desfruta da mesma forma pelo amor à criação de novos pratos. Por seu lado José Bengaló partilha o amor pela confecção de pratos, principalmente de peixe. Nascido em Cascais, na altura terra saloia esteve sempre em contacto com o mar e a ligação à cozinha vem desde pequeno. “Sempre gostei de comer e sempre me fui interessando pelas cozinhas”. Na origem do interesse esteve também a família, neto de dono de restaurante e filho de alentejanos e dos pitéus locais. Depois vieram as viagens pela Europa para a apanha da fruta e vindimas e com isso o interesse por outros sabores. Refere que “acabei por me interessar por isto, mas foi no Sul de França onde estive antes de cumprir serviço militar que o amor se revelou”. Mais tarde fez parte da equipa que abriu a Escola de Hotelaria do Estoril. Para ambos “cozinhar é um estado de espírito que vem de dentro” sem esquecer as técnicas e a mão, salienta o cozinheiro, enquanto Justa Nobre adianta ainda a importância do gostar de comer” porque só assim se entende o paladar dos outros também. . Casas cheias Desde a primeira vez que a dupla conta com um forte interesse pela iniciativa. A chef lembra que “tivemos muita adesão tanto de portuguesas como chineses”. Agora, e dada a casa cheia com carácter permanente, justifica que “as pessoas estavam com saudades nossas e quiseram regressar, temos aqui pessoas que vêm cá todos os dias almoçar e jantar.” Sendo que por parte dos criadores de pratos há o cuidado de trazer sempre receitas diferentes. Apesar de algumas limitações relativas a “um ou outro ingrediente”, nomeadamente de peixe, “têm sempre o bacalhau”. Para Justa Nobre “quando temos bom bacalhau e bom azeite está meio caminho andado”. Já o chef salienta a cuidado com a qualidade que sente por parte do Clube Militar. Justa Nobre e José Bengaló apesar de terem os seus restaurantes independentes, “há muitos anos que trabalham juntos e que são amigos” sendo esta mais uma oportunidade de cada um fazer as suas criações e depois, juntos, chegarem a um consenso: “não faz sentido estar a cozinhar em pratos separados, é em conjunto! Assim é que se faz bem!”remata a cozinheira. Novo cardápio Depois de 15 dias de degustação é o feedback dos clientes que lança os nomes para a nova ementa do Clube. Tendo em conta os pratos mais apreciados é feito o novo menu sendo que o resultado deste ano já anuncia a integração da canja de amêijoas, da sopa de crustáceos folhada ou o cesto de sapateira e, claro, o bacalhau com couve e grão, entre outros. No entanto, “o importante é que eu e a Justa deixemos este cunho de como fazer as receitas portuguesas”. Aliado a este legado está a formação da equipa permanente da casa em que “eles têm que aprender a fazer correctamente os nossos pratos” adianta Justa. Salienta ainda a mais valia de conhecimentos bem como o dinamismo do cardápio. Da equipa à qual dão formação, há quem conte já com 20 anos de casa. Para os chefs “é de fácil formação e constituída por elementos que gostam de aprender e que pela humildade dá gosto ensinar.” O Festival Gastronómico vai dando esta aprendizagem com os chefs que vai convidando e os que ficam “já entendem os pormenores que fazem realçar os nossos sabores”, conclui José Bengaló. Da cozinha de Macau, são ambos fãs: “Uma cozinha rica cheia de cor e de sabor” afirma a cozinheira. Levam consigo a familiaridade e os reencontros . Bengaló gosta também de “ ver os amigos que já não via há trinta anos e é uma oportunidade de avivar memórias”, salientado que sente uma grande ligação entre Portugal e Macau. “É bom que Portugal ainda tenha deixado alguma coisa e que continue a manter uma boa presença em Macau”. Por outro lado refere com espanto “o crescimento assustador” que regista neste últimos quatro anos. Justa Nobre também reencontra na RAEM amigos e vai “ganhando outros e também clientes.” Ao mesmos tempo, vem sempre gente nova e “é sempre bom conversar com outros portugueses” enquanto que “a respeito dos chineses e macaenses são pessoas muito simpáticas, sempre com um sorriso para nós” . Remata ainda que se sente em casa nestas idas e vindas que vão gerando laços.
Filipa Araújo Entrevista MancheteAntónio Katchi: “Executivo tem tratado a lei cada vez pior” Um Governo que não cumpre a lei e a utiliza em seu bel-prazer, um território que está a perder as suas liberdades e um Direito local cada vez pior. São algumas das opiniões de António Katchi, jurista e docente do Instituto Politécnico de Macau, que afirma não ter medo de dizer o que pensa Em 2011 afirmou que Macau caminhava para um sistema anti-democrático. Já atingimos esse ponto? De facto, sempre houve a expectativa que Macau pudesse ser um regime democrático ou, pelo menos, caminhasse para esse lugar. A verdade é que Macau tem apenas um pequeno elemento democrático que é a eleição por sufrágio directo de uma parte dos deputados. Claro, havia a expectativa que essa parte fosse aumentando até que se chegasse à eleição integral da Assembleia Legislativa (AL), por sufrágio directo, e também à eleição do próprio Chefe do Executivo através do mesmo sistema. Ora passaram quase 17 anos sobre a transferência da soberania e não houve nenhum passo nesse sentido. Pelo contrário, houve até um passo atrás com a extinção dos municípios. Que eram eleitos de forma parcial… Sim, havia um órgão que era parcialmente eleito por sufrágio directo e os municípios, os dois, o Leal Senado e o das Ilhas, foram extintos e substituídos pelos Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), cujo Conselho de Administração é inteiramente nomeado pelo Governo. Portanto, não houve a evolução que se espera, mesmo que fosse gradual, para um regime mais democrático. Mas Macau poderia algum dia sê-lo? Não. Não se pode ter essa ilusão, de que em Macau poderia haver um regime plenamente democrático, porque Macau é uma região em que o regime é totalitário. Mesmo que por hipótese a AL e o Chefe do Executivo fossem eleitos por sufrágio universal directo, o facto é que eles estariam sempre subordinados a autoridades políticas nacionais destituídas de democraticidade. Mas há outros sinais… No capítulo dos direitos, liberdades e garantias têm surgido, por vezes, ameaças. Houve uma deterioração daquilo que normalmente se diz o primado da lei, portanto, no comportamento da Administração Pública. Isto é, após a transferência da soberania o Executivo tem tratado a lei cada vez pior. Porque muitas vezes as autoridades administrativas invocam a lei não como um fundamento que, de acordo com a interpretação possa justificar a acção, mas apenas como um pretexto que manifestamente não oferece qualquer justificação para a acção concreta. Por exemplo? Um dos exemplos mais conhecidos é quando se invoca a Lei da Segurança Interna para impedir a entrada em Macau de pessoas que não põe minimamente a segurança interna do território. Pessoas que não estão ligadas a organizações terroristas, nem a qualquer outro tipo de organização criminosa, nem em relação às quais existem menor fundamento para que as mesmas queiram vir aqui causa distúrbio, ou exercer qualquer actividade ilícita. Quando se proíbe a entrada de um jornalista, um advogado, de um professor universitário, de um deputado, de um sindicalista ou até de uma pessoas que só vem apanhar o avião para qualquer outro lado, como já aconteceu, tudo isto significa que o Governo invoca esta lei, sem especificar o artigo. Mas mesmo que especificasse não existiria a menor relação naquilo que está previsto e aquilo que é o motivo real do qual eles estão a proibir a entradas das pessoas. A proibição do chamado “referendo”, em 2014, avançado pela Associação Novo Macau é outro exemplo de como o Governo usou a lei de forma errada e para seu interesse? Sim. O Governo invocou uma série de argumentou que nada tinham a ver com a situação. Primeiro, aquilo não era um referendo, se não o era e era apenas uma sondagem como é que se pode dizer que aquilo era ilegal pelo facto da constituição chinesa e a Lei Básica não preverem a figura de referendo? Logo aqui já está errado. Depois o Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais veio a invocar uma parte do segundo acórdão do Tribunal de Última Instância (TUI), repare, uma parte apenas, a que lhe interessava. Com esta parte pegaram ainda na Lei de Protecção de Dados Pessoais e fizeram uma mixórdia para dizer que os movimentos que organizavam o chamado referendo, estavam a violar a lei. O Governo usa a lei de forma ilegal, para atingir os seus próprios interesses? Exactamente, neste caso, para interesses do regime chinês. O Governo está agir contra a lei. Neste caso, foi deste o Chefe do Executivo e da Secretária para a Administração e Justiça, que estavam envolvidos neste processo, até à antiga coordenadora do Gabinete para os Dados Pessoais, Sónia Chan, actual Secretária, todos eles, juntamente com a polícia, foram coniventes com esta violação da lei. Violação de direitos fundamentais com a invocação de uma disposição legal, mas que estava a ser manipulada. Assim como estava a ser manipulado o acórdão do TUI. E no futuro? A maior ameaça que as pessoas poderão vir a sofrer na sua liberdade de expressão ainda está para vir. Essa ameaça está contida no documento que o Governo divulgou recentemente sobre a Lei Eleitoral. É uma autêntica lei mordaça. Quais os riscos se esta proposta for aprovada? Se isto vier a ser uma lei obviamente que virá violar de uma forma bruta a liberdade de expressão, em geral, e nomeadamente a liberdade de propaganda política que é uma decorrência da liberdade de expressão. De acordo com a proposta, o que está previsto é que a partir do momento que o Chefe do Executivo fixa a data das eleições e até duas semanas antes do acto eleitoral, ou seja, até ao início do período oficial de campanha eleitoral, ninguém poderá falar publicamente sobre as eleições. Nem as pessoas que se vão apresentar como candidatos se podem assumir como tal, nem as pessoas que pretendem apoiar essa candidatura poderão falar em abono dessa mesma candidatura ou criticar outras, nem nós. Nem jornalistas, nem os residentes, nem os membros das associações, nem simpatizantes. Ficaremos amordaçados e não poderemos dizer nada. Isto é como uma suspensão da liberdade de expressão. Mas mesmo no período eleitoral há entraves… Sim. Os candidatos só poderão realizar as actividades que tiverem sido previamente indicadas à Comissão Eleitoral. O documento prevê que antes do início da campanha eleitoral os candidatos forneçam à Comissão em causa, uma informação completa sobre todas as actividade de campanha que pretendam realizar e que lhes entreguem todos os materiais de campanha. Isto é claro de um controlo total. E as pessoas só poderão falar em abono ou em critica de algum candidato se se tiverem registado como apoiante. Quem não o fizer não poderá sequer dar a sua opinião. Isto não é suspender a liberdade de expressão? Sempre se mostrou uma pessoa que aponta do dedo ao que considera errado. Outros docentes universitários sofreram represálias por expressão livremente as suas opiniões. Não tem que o mesmo lhe aconteça? Não tenho medo, mas tenho noção que podem existir consequências. Achei chocante os casos de Eric Sautedé e Bill Chou. Foram demonstrativos da tal degradação do ambiente de liberdade que se vive em Macau. Felizmente isso não aconteceu em todas as instituições, não sei de nenhum caso no Instituto Politécnico de Macau (IPM) em que alguém tenha sido perseguido por exprimir as suas opiniões. Espero que assim continue. O que aconteceu na Universidade de Macau (UM) e na Universidade de São José (USJ) foi bastante grave, eu diria até que seria razão suficiente para o Governo demitir o reitor da UM, se outras razões não houvesse, como por exemplo a repressão que foram vítimas alguns estudantes, em 2014, na cerimónia de graduação, que estavam a manifestar o seu apoio ao professor Bill Chou. Portanto, medo não direi que tenha, mas consciência que as pessoas correm alguns riscos, sim, correm. Se algum dia aparecer num canal de televisão chinês a confessar algum crime, com certeza não estarei a falar de minha livre e espontânea vontade. Rematando: coloca de parte a possibilidade de Macau atingir o sufrágio universal? Acho que pode depender da correlação de forças que se estabeleça em Macau, Hong Kong e na China. Claro que podemos dizer que o regime chinês é muito mais poderoso do que a população de Macau. Isto é, mesmo que Macau lute muito é claro que sabemos que se o regime chinês quiser recusar o sufrágio universal, terá possibilidade de o fazer. Mas é preciso avaliar os custos dessa decisão, porque isso poderá fazer com que a nossa sociedade se torne altamente instável. O regime chinês terá de avaliar os prós e contras, e pensar que apesar de detestar a democracia, e a temer, poderá chegar a um ponto em que considere que é melhor ter uma sociedade tranquilizada com um regime político que não lhe agrade, a uma sociedade constantemente agitada, e com prejuízo para a economia local. É possível que venha a existir o sufrágio universal, mas tudo isto depende da luta popular. Sem a mobilização da população em favor de um regime democrático, o regime chinês não o irá fazer. Depois da adesão histórica na manifestação de 2014 contra o Regime de Garantias, acha que estamos a perder o ritmo? Isto tem altos e baixos. As pessoas, em geral, mesmo aquelas que gostam de estar em manifestações também não têm disponibilidade para estar de forma constante. Acho que as pessoas do sector público temem participar, principalmente as que estão com vínculos precários. Mas mesmo as que estão no quadro têm medo, nomeadamente por temerem consequência a nível de classificação de serviço. E esta luta dos jovens pró-democratas, Jason Chao, Scott Chiang? Tenho muita consideração por eles, acho-os bastante dedicados à causa pública, bastante corajosos. Nós bem sabemos que há muitas pessoas com esta idade que preferem estar, com todo o direito, tranquilos na sua vida. Estes novos jovens sacrificam o seu tempo e até a sua liberdade, como foi o caso de Jason Chao, para lutar pelas suas ideias e mudanças que acham que são boas para a sociedade. Posso não concordar com tudo mas acho que, de forma geral, lutam por boas causas, questões de maior liberdade, ambiente, maior participação das pessoas nos assuntos públicos, entre outras. Quando o ex-procurador é acusado de corrupção e detido, o que é que isto releva de Macau? Sou muito céptico em relação à campanha “Anti-corrupção” da China. Esta campanha não é contra a corrupção, isto é uma purga dentro do partido comunista. Não estou a dizer que as pessoas que tenham sido apanhadas, não sejam realmente desonestas, e não tenham feito aquilo de que são acusadas. Primeiro, não temos a certeza se estas pessoas fizeram aquilo a que são acusadas; depois, não sabemos quantas pessoas que fizeram coisas destas, ou pior, e que não são apanhadas, nem sequer incomodadas. Por outro lado, nós não podemos esquecer o procedimento que tem sido seguido na China continental. É que não é o Ministério Público (MP) que aparece com uma acusação, começa sempre por um acto da Comissão de Disciplina e Controlo dentro do Partido Comunista, ou seja, podemos crer que o Comité Permanente do Partido Chinês, ou seja, aquele conjunto de sete pessoas que dominam superiormente o partido, dá indicações para investigar ou acusar, eventualmente sem investigação, determinadas pessoas. Só depois é que passa para o MP e depois essas pessoas são levadas para tribunal, e já se sabe que não há garantia de independência dos tribunais na China. E em Macau? Em princípio não será assim, mas não sabemos. Como é que eu posso saber se o Comissariado Contra a Corrupção não se transformou num braço da cúpula do partido chinês, nesta campanha anti-corrupção? Não estou a dizer que sim, mas também não ficava admirado que assim fosse. Passando para o Direito de Macau. Está a ganhar, ou ganhou, uma identidade própria? Acho que o Direito de Macau se não piorou muito foi graças a certas correcções feitas na AL. Isto porque muitas vezes há anteprojectos de propostas de lei horríveis, por exemplo a da Lei Eleitoral, mas depois, com as consultas públicas, melhoram, mas pouco, e quando chegam à AL ainda estão muito maus. Depois, devido à intervenção de alguns deputados, principalmente os eleitos por sufrágio directo, e dos seus assessores, são melhorados. Mas ainda assim aquém? Sim, mesmo assim aquém. Por que é que este trabalho dos assessores da AL não é feito pelos assessores do Governo? Na AL os deputados, em princípio, deixam falar os assessores jurídicos, porque os deputados não são superiores hierárquicos dos assessores. Portanto, cada deputado não é chefe dos assessores e por isso não têm autoridade para proibir que os mesmos se manifestem, e parto do princípio que até têm interesse em ouvi-los para eles próprios ficarem informados e terem argumentos para discutir com o Governo. Isto é diferente com o que acontece na Administração. Às vezes há pessoas que podem pensar que os assessores jurídicos do Governo são menos bons, ou que não cumprem o seu papel, mas isso não é verdade. Eles muitas vezes tentam fazer o melhor trabalho mas são impedidos. E muitas vezes o que escrevem é posto na gaveta. Antipatia pelo Governo chinês não implica antipatia contra a China Passando à região vizinha, concorda com a separação de alguns jovens democratas da vigília para recordar Tiannamen? De todo, não concordo absolutamente. Isso implica uma ruptura pela luta da democracia em Hong Kong, como além significa uma quebra na solidariedade nacional que seria bom que existisse, pela luta da democracia na China. Seria muito importante que existisse uma unidade entre os activistas que lutam pela democracia, pela liberdade, pelos direitos humanos e pelos direitos laborais na China. Por outro lado, evidentemente que a luta pela chamada independência de Hong Kong é algo que é virtualmente impossível, além de que, no meu ponto de vista, isto é ilegítimo. Hong Kong não é uma nação: é uma parte da China, que foi roubada pelo imperialismo britânico através das guerras do ópio. Portanto, que Hong Kong é território historicamente chinês não suscita qualquer dúvida. Não há fundamento para a exigência da sua independência. Esta divisão do movimento democrático de Hong Kong vem enfraquecer o próprio movimento e vem dar argumentos ao regime chinês para lançar a ideia de separatismo, alegando que as pessoas de Hong Kong não são patriotas, sobretudo os democratas. Mais ainda, esta separação está a dar força à ideia da China que dar a liberdade aos democratas para apresentar candidatos ao Chefe de Executivo, iria colocar em risco a soberania chinesa sobre Hong Kong. Mas há uma atitude de ódio ao regime chinês? Pois, a cúpula dirigente do Partido Comunista tem responsabilidades na crescente antipatia da população de Hong Kong relativamente ao regime chinês. É óbvio que, de um ponto de vista racional, a antipatia ao Governo chinês não deveria implicar antipatia contra a China. Eu, por exemplo, antipatizo com o regime, mas adoro a China como nação, ao mesmo tempo que odeio o regime. Infelizmente algumas pessoas criam esta aversão à China, não são raros os exemplos de pessoas que se recusam a falar mandarim, alguns nem sequer querem aprender. Há um culto de ódio. É irracional detestar a China porque se detesta o regime. Porque é que isto acontece? Não é só desinformação em Hong Kong, é também a atitude arrogante, prepotente, sobranceira, odiosa do Governo chinês, que não consegue gerar a simpatia a alguém, nem nos dirigentes norte-coreanos. É uma atitude além fronteiras… Sim, não é só com o seu povo, mas também com os países vizinhos. Uma atitude que cada vez mais a deixa isolada, e os países vizinhos, mesmo com regimes semelhantes ao chinês, acabem por cair nos braços do imperialismo americano. É o caso do Vietname, que se tem vindo a aproximar dos Estados Unidos da América que, por exemplo, vai agora comprar armas aos americanos. Porque é que isto acontece? Só por causa dos EUA que querem aumentar a sua presença? Sim, talvez. Mas a outra parte é por culpa da China que se afasta em vez de se aproximar. Em vez de suscitar confiança, tenta mostrar a sua força, ao mesmo tempo que de forma hipócrita diz que ninguém tem nada a temer. Há uma tendência, a nível mundial, para este tipo de regime actualmente? Como por exemplo, a eleição de Rodrigo Duterte, actual presidente das Filipinas. É um facto que quer a recente eleição do Duterte e a possível eleição do Donald Trump (nos EUA), significam vitórias de extrema-direita, como poderá acontecer em França, como esteve prestes a acontecer na Áustria. Claro que isto não é assim em todos os países, mas é um facto que ultimamente tem acontecido. Isto resulta do descontentamento da população em relação a outros candidatos que não fizeram nada, ou quase nada, para melhorar as condições de vida das pessoas. Nas Filipinas o Governo anterior nada fez para resolver problemas estruturais do país. Com a pobreza existe esta possibilidade.
Hoje Macau ManchetePrevidência Central | Proposta contribuição de 10% para regime não obrigatório O Conselho Executivo já analisou a proposta de contribuições de 10% para o Regime de Previdência Central não Obrigatório, pagas por patrões e empregados [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]pós anos de debate, o Governo de Macau apresentou esta quarta-feira uma proposta para o Regime de Previdência Central não Obrigatório, que fixa as contribuições mensais mínimas de trabalhadores e patrões em 10% do salário, divididas irmãmente. Este segundo nível do regime de segurança social não será obrigatório, pelo menos nos primeiros três anos – ao fim dos quais é feita uma revisão. Mas para encorajar a adesão por parte das empresas, o Governo estabelece benefícios fiscais às entidades empregadoras, definindo que as contribuições são consideradas custos de exploração ou exercício de actividade. Ao contrário do regime de primeiro nível, que é obrigatório, este sistema de pensões fixa contribuições mínimas em igual proporção. No primeiro nível, actualmente, os patrões pagam 30 patacas mensais e os trabalhadores 15 patacas, embora o valor total vá aumentar para 90 patacas mas mantendo a proporção de 1 para 2. Garantia de reforma Neste momento, o regime de primeiro nível representa a única garantia de reforma para os residentes de Macau. Com o segundo nível, o Governo espera permitir que a população “prepare em conjunto a vida pós-aposentação”. “Cinco por cento [cada] é o limite mínimo. As duas partes podem acordar em mais”, explicou o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, citado pela agência Lusa. “Tomámos com referência os modelos das regiões vizinhas”, justificou o presidente do Fundo de Segurança Social, Iong Kong Io, indicando que, deste modo, se promove a “justiça e igualdade de tratamento para as duas partes”. Os trabalhadores com vencimentos inferiores ao salário mínimo (6.240 patacas) ficam isentos de contribuir, mas não os seus empregadores. Segundo Leong Heng Teng, 40% das empresas de Macau já oferecem sistemas de pensões privados. Após a aprovação pela Assembleia Legislativa, estes regimes serão articulados, mas caso o regime anterior seja mais favorável ao trabalhador, este não deve ser alterado. “O empregador não pode baixar o valor contribuído. Se for 8% [do salário], mantém-se 8%”, explicou Iong, indicando que a contribuição do trabalhador, nesses casos, “depende de negociação”, mas nunca poderá ser inferior a 5%. Quem não trabalhe por conta de outrem pode também contribuir com um mínimo de 500 patacas mensais. Caso a relação laboral termine, o trabalhador pode reclamar 30% das contribuições do empregador ao fim de três anos, a que se somam 10% por cada ano completo de contribuição. Ao fim de dez anos o trabalhador tem direito à totalidade das contribuições do empregador. Estes montantes são geridos por entidades gestoras de fundos de pensões, consoante o grau de risco que o trabalhador quiser assumir. Às contribuições junta-se uma dotação anual do Governo, que já é efectuada desde 2012, e que este ano será de 7.000 patacas. Apesar de ser portável – ou seja, a conta não está dependente de uma relação laboral –, o montante só pode ser levantado após os 65 anos, salvo excepções. Este regime só se aplica aos residentes permanentes de Macau. Críticas e incapacidade Chiang Chong Sek, presidente da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), referiu ao jornal Ou Mun que não há uma garantia do pagamento das contribuições, pois o sistema continua a não ser obrigatório. O responsável lembra ainda que em Macau a maior parte dos contratos são com prazos inferiores aos previstos no regime de previdência, sobretudo no sector da construção civil. Chiang Chong Sek teme, assim, que haja trabalhadores que nunca recebam as suas contribuições. Ieong Weng Seng, presidente da Associação de Pequenas e Médias Empresas da Restauração de Macau que os negócios de pequena dimensão não vão ter capacidade para contribuir devido à recessão económica Valores dos cheques mantém-se O Conselho Executivo confirmou também o montante da contribuição pecuniária, os cheques anuais que o Governo distribui à população: 9.000 patacas para os residentes permanentes e 5.400 para os não permanentes. Os cheques foram introduzidos em 2008 e foram gradualmente aumentando até 2014, mantendo o mesmo valor desde então. Este ano, a medida vai custar mais de 5,9 mil milhões de patacas aos cofres públicos. Os cheques começam a ser distribuídos em Julho.
Tomás Chio MancheteEnsino | DSEJ confirmou pedido de suspensão da Escola do Santíssimo Rosário Depois de mentir sobre o método de ensino, a escola Santíssimo Rosário deve suspender a sua actividade. A DSEJ diz que a prioridade é recolocar alunos e professores em novas escolas. O bispo confessa: “estou envergonhado” [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Escola do Santíssimo Rosário, com pelo menos 62 anos de docência no território, vai suspender o seu funcionamento já no próximo ano lectivo. O bispo Stephen Lee diz-se envergonhado depois de tornado público o caso “Método Montessori”, que envolve a instituição num caso de publicidade falsa, para atrair mais alunos. Em reacção a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) confirmou ter recebido o pedido de suspensão e diz-se em fase de avaliação. A notícia foi avançada pela publicação Macau Concealers que explica ainda que nos últimos anos lectivos a instituição tem perdido muitos alunos. Apesar de ainda não estar confirmada a suspensão, a direcção da escola já informou professores, estudantes e os encarregados de educação. Para atrair mais alunos, o jardim de infância da escola em causa, publicitava que aplicava o Método Montessori – que aposta no respeito pelo desenvolvimento natural das habilidades físicas, sociais e psicológicas da criança, frisando a sua autonomia – nas aulas. Algo que na prática não se verificava. Contudo, a responsável pelo jardim de infância, Ieong Wai Cheng, garantiu que os seus professores têm licenças para aplicar este método pedagógico. Em reacções à comunicação social chinesa, o bispo responsável diz que o caso é “vergonhoso”, sendo por isso a principalmente razão para o pedido de suspensão. Na sua publicação, a Macau Concealers acrescentou que a comissão de educação católica da Diocese, criada em Abril e dirigida por Stephen Lee, tem actualmente duas tarefas em mãos: a primeira passa por resolver a questão das propinas do Colégio Diocesano de São José, que pratica preços mais altos do que outras instituições da Diocese; a outra é o pedido da suspensão. Posto isto, a Comissão decidiu avançar com uma proposta caso a suspensão seja aprovada pela DSEJ. O grupo de trabalho sugere que seja criada um conselho de curadores para aferir as finanças, pagamentos de despeças, controlo e gestão dos meios de comunicação sobre o assunto, em qualquer plataforma. Diz a Comissão que este trabalho é necessário para “evitar confusões de possíveis noticias falsas sobre o assunto”. Actualmente, a escola conta com 80 alunos que, conforme se pode ler na publicação, serão distribuídos por outras escolas, também elas da responsabilidade da Diocese. Para os 25 professores contratados ainda não está definido um destino mas, explica a Comissão, estes profissionais devem integrar na Associação das Escolas Católicas de Macau, para que seja possível a sua recolocação noutras escolas, sendo que existe falta de recursos humanos. Ponto por ponto Questionada sobre o assunto, a DSEJ indicou que neste momento está a avaliar o pedido de suspensão tendo como prioridade os trabalhos ligados à transferência dos estudantes e professores. A direcção diz que é preciso manter um contacto próximo com a unidade de educação em causa, sublinhando que esta escola deve tratar da suspensão com base na lei vigente. A escola foi criada pelo Padre Joaquim Guerra, da Companhia de Jesus, em 1954. No início começou a funcionar como jardim de infância, expandindo-se para primária e secundária, depois de várias mudanças de localização. Em tempos de muitas inscrições a escola recebia mil alunos por ano lectivo.
Flora Fong ManchetePearl Horizon | Polytec perdeu em tribunal contra Governo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Grupo Polytec perdeu uma das suas muitas batalhas judiciais ao ver recusado pelo Tribunal de Segunda Instância (TSI) o pedido de suspensão da eficácia da declaração de caducidade do terreno onde iria ser construído o edifício Pearl Horizon. Já em Fevereiro o Tribunal Administrativo tinha rejeitado o primeiro pedido da Polytec quanto à possibilidade de se estender o prazo da concessão do terreno por mais cinco anos. Numa conferência de imprensa organizada para reagir ao caso, os proprietários prometeram não baixar os braços. Kou Meng Pok, presidente da União dos Proprietários do Pearl Horizon, disse ao HM que a Polytec tem mais quatro processos em tribunal e que este é apenas um “pequeno caso”, sendo que a concessão do terreno ainda não está totalmente perdida. O responsável considera “irracional” o facto dos proprietários, que investiram o dinheiro nos imóveis, terem de ir a tribunal para conseguir reaver o terreno, afirmando que o Governo “fugiu à responsabilidade”, por considerar que este é um conflito no sector privado. “Todos os lesados do Pearl Horizon, incluindo eu, estamos muito ansiosos, porque a Polytec perde sempre os casos em tribunal e nós podemos sujeitar-nos a não receber nada. O que podemos fazer?”, questionou. Pensados mais protestos A união dos proprietários planeia voltar a manifestar-se junto ao Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau. Kou Meng Pok defende que os últimos protestos não alteraram a situação, mas espera que Pequim dê mais atenção ao caso. Kou Meng Pok referiu ainda que há vários proprietários que querem pôr a Polytec em tribunal por considerar que a empresa enganou os proprietários, já que o Governo deixou a construção avançar num terreno cuja concessão ia chegar ao fim, sendo que nada foi explicado a quem investiu. “Já lemos os contratos e não sabemos como podemos acusar a Polytec, e o Governo também não nos deu qualquer apoio jurídico. A Polytec não vai fazer nada até ter mais resultados”, revelou. Os proprietários ainda mantém a esperança de que a Polytec ganhe os restantes processos em tribunal e possa terminar a construção do edifício, na zona da Areia Preta.