Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemAs soluções para as cheias do Porto Interior que teimam em não sair do papel A zona da Barra, Porto Interior e Praia do Manduco estão habituadas às cheias, mas não teria de ser assim. Falta de vontade política, de soluções integradas a longo prazo e o choque com interesses privados têm impossibilitado uma solução para as inundações crónicas. Além disso, existe uma evidente insuficiência da rede de esgotos assim como a falta espaço no estuário do Rio das Pérolas para a subida da maré [dropcap style≠’circle’]“F[/dropcap]oi tudo empurrado para dentro, tinha em casa água do mar, lodo, lama, esgoto de sanita e os diabos da cidade”, conta António Conceição. O empresário que vive no bairro da Almeida Ribeiro, junto aos tintins, ficou com a casa inundada a partir de dentro. “Aconteceu pela parte de escoamento da canalização, retrete, pia e ralos”. Dejectos que deviam ter uma viagem só de ida, fizeram o retorno pelas canalizações acima das casas da zona do Porto Interior, trazendo, por arrasto, todo o tipo de detritos e águas. “Há uma deficiência muito grande para controlar a subida do nível da água em Macau, mas a inundação da minha casa deveu-se, sobretudo, à insuficiência estrutural da rede de canalização”, explica António Conceição. Este é um problema crónico de certas zonas da cidade, em particular das zonas da Barra, Porto Interior e Patane, que estão sujeitas a estas situações quando se dá a conjugação de factores normais como a subida da maré, chuvadas intensas, ou ocorrência de tufões. Têm-se procurado soluções para resolver do problema da zona ribeirinha, como a criação de uma bacia de retenção temporária e a construção de uma central de bombagem para assegurar a drenagem das águas da chuva, mas os projectos nunca saíram da gaveta. Foram também apresentadas propostas para remendar os problemas, quase simbolicamente, como a construção de muros mais altos junto à margem. Estas são consequências. As causas não se ficam pela normal acção da natureza. Mário Duque, arquitecto, encontra nas várias transformações ao longo do estuário a causa para as constantes subidas dos níveis das águas. Com as contínuas construções de aterros e urbanizações o espaço para a entrada da maré no estuário foi diminuindo. “É um problema conjunto causado por toda a região de Guangdong, relacionado com a necessidade de captar água para consumo em pontos acima do estuário”, explica o arquitecto. Pias e fontes A necessidade de fazer aterros cada vez mais altos também tem consequências ao nível da transferência da vulnerabilidade para os aterros mais antigos e baixos, isto numa cidade com um solo predominantemente impermeável, com um tempo rápido de concentração de água da chuva e sem bacias de retenção. Tudo ingredientes que fomentam as calamidades crónicas que se reflectem na destruição que arruína a vida de quem vive nas zonas baixas. Além da ausência de mecanismos estruturais para lidar com as transformações do estuário do Rio das Pérolas, há outro elemento de “chicoespertice” que origina calamidades domésticas como a que sofreu António Conceição. “Em Macau proliferam ligações de esgoto doméstico ilegal, ou seja, instalações sanitárias improvisadas e ligadas directamente ao esgoto pluvial mais próximo”, elucida Mário Duque. O arquitecto esclarece que esta é uma “situação tipificada como crime contra a saúde pública e ambiente”, mas uma realidade que só é revelada por um cenário de inundação. António Conceição sentiu isso, uma cheia que veio de dentro dos canos e que transformou a sua casa numa piscina com mais de um metro de profundidade. Na altura, o empresário não estava em casa, mas estava um amigo que “pegou nas coisas mais valiosas e conseguiu guarda-las no mezzanine”. Ficou um espólio submerso constituído por centenas de livros, muita informação digital e uma colecção de desenhos feitos ao longo de uma década de trabalho. Além de bens de valor intangível, António Conceição fez um “cálculo redondo das despesas que devem rondar cerca de 85 mil patacas, com muito equipamento à mistura”. Também a casa ficou, naturalmente, inabitável, num estado bastante degradado. O empresário destaca os pobres acabamentos da construção de Macau que potenciou o “impacto brutal na casa”. Ainda assim, António Conceição entende que está longe de ser um caso grave, uma vez que “houve pessoas que passaram perigo de vida e perderam tudo”. Gaveta de projectos O tufão Hato deixou a nu todos estes problemas estruturais que deixam a zona ribeirinha vulnerável à fúria dos elementos. Vítor Chan, porta-voz do Governo, revelou que foram feitos dois estudos para resolver o problema. O primeiro é a criação de uma barreira. O segundo é uma avaliação conjunta com as cidades de Zhuhai e Zhongshan para a criação de um plano integral “que resolva o problema na fonte”, explicou o representante do Executivo. Ambos os estudos foram submetidos ao Conselho de Estado, estando o Governo da RAEM a aguardar resposta. Os trabalhos de avaliação de impacto ambiental e orçamento foram acelerados e vão decorrer ao longo do segundo semestre deste ano, sendo que é expectável que no próximo ano esteja concluída uma versão final do estudo. Esta é uma conversa que se vem repetindo há mais de trinta anos. Miguel Campina, arquitecto que acompanha estudos que intervenham neste domínio desde os anos 1980 não entende “o que se anda a estudar há tanto tempo”. O arquitecto equipara a resolução deste problema à falta de acção para a concretização do plano director. “A única coisa que fizeram, pensando que iam resolver alguma coisa, foi um murozinho para evitar situações mais comuns da maré alta entrar para a zona mais baixa do Porto Interior”, recorda Miguel Campina. O arquitecto considera que esta não chega a ser uma solução. “Não funciona, é como tratar uma doença grave com aspirina, não tem qualquer efeito prático a médio longo prazo”, acrescenta. Miguel Campina vai mais longe e afirma que “aquilo que se tem feito é fingir que se faz alguma coisa, mas na prática é só adiar”. Na década de 1980 houve um projecto para solucionar os problemas de inundações do Porto Interior relacionado com a drenagem da bacia do Rio das Pérolas. “Era preciso criar um sistema de retenção subterrâneo e uma central de bombagem para assegurar que a drenagem da água da chuva pudesse continuar a ocorrer mesmo nas situações de maré alta”, explica o arquitecto. Soluções que tentam resolver o problema resultante da diferença entre os pontos de descarga e o nível da água que fica mais alto. Devido à sobrecarga dos colectores, a água não só fica impedida de sair como, pelo contrário, sai pelos pontos de drenagem das vias circundantes. Tudo trabalhos de grande envergadura do ponto de vista da engenharia, “mas nada que fosse particularmente difícil”. Porém, os projectos esbarraram na falta de vontade política e nos diversos lobbies que controlam a decisão política, de acordo com Miguel Campina “O Governo teria de exercer aquilo que é a sua prerrogativa, mas isso não aconteceu porque nunca há vontade de mexer nos interesses instalados, é preferível manter tudo na mesma”, comenta Miguel Campina. O arquitecto apenas vê uma solução para o problema se esta for lucrativa. “Ficamos à espera que um dia apareça uma situação milagrosa, que se traduz na prática na oportunidade de um negócio”, projecta. Em conferência de imprensa, o porta-voz do Governo pediu compreensão e paciência para a resolução do problema da zona ribeirinha. Vítor Chan enumerou a necessidade de conjugação de trabalhos por parte de vários departamentos e da interligação com os serviços das cidades vizinhas como um factor de complexidade que atrasa os trabalhos. No entanto, a população que vive no Porto Interior espera uma solução para um problema crónico que não tem de resultar nas consequências catastróficas que se verificaram na semana passada e que, por certo, se vão repetir. O arquitecto Miguel Campina, fez parte de uma equipa que elaborou o projecto para tratar desta situação ainda antes da transferência, corria a década de 1980, há mais de trinta anos. Um plano que nunca foi posto em prática, mas que poderia ainda ser aproveitado nos dias de hoje. “Nada é impossível, o contexto alterou-se mas a validade das propostas formuladas mantém-se. Pode-se salvaguardar o essencial da filosofia de intervenção é possível fazer-se qualquer coisa”, considera Miguel Campina. No entanto, o arquitecto alerta que “quanto mais tempo passar, menos coerência final haverá do ponto de vista daquilo que poderia ser alcançado”. Entretanto, a população das zonas ribeirinhas de Macau continuam à espera de uma solução, muitas das vezes com água pela cintura.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaChui Sai On | Criada comissão de revisão para resposta a catástrofes O mecanismo já existe desde 2012, mas não foi eficiente. Ontem foi criada uma versão para a sua revisão e melhoria. Trata-se da Comissão para a Revisão do Mecanismo de Resposta a Grandes Catástrofes e o seu Acompanhamento e Aperfeiçoamento. As alterações parecem ser poucas e, de acordo com António Trindade, da CESL Asia, Macau precisa de medidas executivas, mais do que políticas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 25 de Outubro de 2012 foi criado o Conselho de Tratamento de Incidentes Imprevistos que, lê-se no despacho publicado em Boletim Oficial (BO) na mesma data, “tem por objectivo a coordenação, orientação e fiscalização global das entidades públicas na adopção de medidas de urgência com vista a responder à ocorrência repentina de incidentes relativos a catástrofes naturais, acidentes e calamidades, saúde pública e segurança pública que produzam ou sejam susceptíveis de produzir danos graves no tecido social”. No entanto, e com a passagem do tufão Hato pelo território, o mecanismo mostrou-se ineficaz em várias frentes, desde a prevenção à normalização, nada funcionou. Com os resultados à vista, Chui Sai ON publicou ontem, em BO, a criação de uma nova entidade. A recém concebida Comissão para a Revisão do Mecanismo de Resposta a Grandes Catástrofes e o seu Acompanhamento e Aperfeiçoamento tem como objectivo “rever o actual mecanismo de gestão de crises, designadamente a previsão meteorológica, a coordenação dos trabalhos de protecção civil, a coordenação da divulgação de informações, bem como o estado das respectivas infra-estruturas”. Sem grandes diferenças a assinalar, relativamente ao Conselho, a nova Comissão parece colocar a tónica na acção dos mecanismos de antecipação de divulgação de informação aquando da ocorrência de catástrofes naturais. Faz ainda parte dos objectivos da Comissão, “apresentar um plano geral sobre a gestão de crises no futuro, visando potenciar os efeitos sinergéticos da gestão de crises, designadamente no que respeita à uniformização do planeamento, da acção e da divulgação de informações, como forma de elevar a capacidade de resposta a crise”. Tudo para “proteger efectivamente a segurança da vida e dos bens dos residentes e assegurar a harmonia e a estabilidade da sociedade”. Descubra as diferenças Conselho e Comissão aparecem com conteúdos muito idênticos, sendo que o segundo pretende ser uma versão melhorada do primeiro. Algumas diferenças podem ser encontradas e a mais evidente diz respeito à composição: os directores de serviços foram substituídos pelos secretários, estando os cinco governantes presentes. Acresce ainda na composição, o director-geral dos Serviços de Alfândega. Outra novidade prevista na Comissão é que “pode convidar especialistas, académicos e individualidades sociais para participar nas reuniões, sempre que julgue necessário e criar vários grupos de trabalho especializados para participar nos trabalhos”. Resta saber da sua eficácia. Medidas executivas O Conselho criado ontem parece ser mais uma medida política do que executiva, numa altura em que o território recupera dos danos causados pela passagem do tufão Hato, o que, para o CEO da CESL Asia, António Trindade, poderá não ser a prioridade do momento. “Macau ainda cheira mal e precisa não de medidas políticas mas sim de medida concretas executivas para limpar, acabar com os maus cheiros, evitar epidemias e consertar o que está estragado”, disse o responsável ao HM. “Mais que políticas Macau precisa de medidas executivas”, reiterou António Trindade, até porque “o que lá estava antes não funcionou”. A questão, para António Trindade, tem ainda que ver com a própria composição da nova Comissão. “Será que agora com os secretários vai funcionar? Ou porque podem convidar académicos como consultores será que vai funcionar? Vai ser formada um entidade específica para lidar com estes assuntos?” questiona. No entanto, admite o responsável pela CESL Asia, “é preciso ver se se reconhece que houve muita coisa que não funcionou e se se está a tomar medidas para corrigir as falhas”, refere. A passagem do Hato pelo território veio acentuar as deficiências de Macau. “Há claramente uma necessidade de ter mecanismos de recuperação e é necessário criar estruturas profissionais para o fazer. Não se vai projectar um prédio por exemplo com delegados políticos. Não é assim”, exemplifica. Para que a situação mude é necessário ter profissionais e assegurar que as infra-estruturas públicas estão correctamente dimensionadas, não exclusivamente para o funcionamento diário, mas para o funcionamento em caso de emergência ou de desastre”, sublinha.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTufões | Recolhidas cerca de duas mil toneladas de lixo A passagem do tufão Hato obrigou à recolha de cerca de duas mil toneladas de lixo nos últimos dias, e ainda não há uma data certa para que as ruas voltem à normalidade. Existem ainda 25 edifícios sem água potável [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o dia em que o exército chinês regressou ao quartel, depois de três dias intensos de limpeza dos destroços causados pela passagem do tufão Hato, o Governo chamou os jornalistas para fazer o balanço daquela que foi a maior tempestade dos últimos 50 anos e que levou à ocorrência de dez mortes. Fong Vai Seng, do serviço de licenciamento e ambiente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), referiu que, no último fim-de-semana, 1787 toneladas de lixo foram recolhidas das ruas, sendo que só na madrugada de domingo para segunda-feira foram recolhidas 150 toneladas. O trabalho tem vindo a ser feito em parceria com grupos de voluntários e a empresa responsável pela recolha do lixo, sendo que não há, até ao momento, uma data para que as ruas do território voltem a estar limpas como antes. “Temos vindo a melhorar a situação mas ainda há zonas com lixo de grande porte, cremos que ainda vai levar algum tempo até regularizar a situação.” Sobre o fornecimento de água, Susana Wong, directora dos Serviços Marítimos e da Água (DSAMA), garantiu que cinco estações de fornecimento da Ilha Verde estão agora a operar normalmente. A água produzida “é suficiente para abastecer todo o território”, apontou, apesar de ainda existirem “25 edifícios que não têm água abastecida de forma normal”. Susana Wong assegurou ainda que não há qualquer perigo em consumir a água que sai das torneiras. Quanto aos edifícios que possuem tanques de reserva de água, os moradores devem fervê-la um pouco antes do seu consumo, uma vez que esse bem essencial vem indirectamente da rede pública e está armazenado em tanques que podem ter sido danificados. Sem doenças Ung San Hong, do IACM, referiu que já foram detectadas situações em que lojas e supermercados procuram colocar nas prateleiras produtos que estiveram em contacto com água suja, algo que tem vindo a ser controlado. “Temos feito inspecções junto de restaurantes e supermercados. Os alimentos não estão em condições de revenda pelo facto de terem estado em contacto com água suja.” Lam Cheong, representante dos Serviços de Saúde, adiantou ainda que, até ao momento, não foram registados casos de febre da dengue ou outras doenças transmissíveis devido ao lixo acumulado na rua e à falta de água potável. “A Barra e a Ilha Verde são zonas muito afectadas e temos feito o trabalho de erradicação dos mosquitos. Temos enviado um total de 150 trabalhadores e todos os dias temos feito este trabalho”, frisou. Registaram-se apenas alguns casos de gastroenterites no hospital público e no Kiang Wu. Vítor Chan, porta-voz do Governo, adiantou que não há dados sobre os estragos ocorridos nas concessionárias de jogo. O mesmo responsável defendeu que o Governo não deve intervir no dinheiro que, até ao momento, foi doado pelas operadoras, por se tratarem de “iniciativas da sociedade civil”.
Hoje Macau Manchete SociedadeTufão Hato | CCAC abre inquérito sobre procedimentos dos SMG O Comissariado Contra a Corrupção de Macau (CCAC) anunciou ontem a abertura de um inquérito aos procedimentos dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), após a passagem do tufão Hato, que fez dez mortos. [dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] CCAC determinou, por despacho, que tivesse lugar um inquérito sobre os procedimentos de previsão de tufões e sobre a gestão interna dos SMG”, nomeadamente “procurando determinar responsabilidades a assumir, no âmbito dos procedimentos de previsão de tufões e da gestão interna por parte do ex-director do SMG Fong Soi Kun”, referiu o CCAC em comunicado. O resultado do inquérito, a realizar pela Direcção dos Serviços de Provedoria de Justiça, vai ser entregue ao Chefe do Executivo. O curto intervalo de tempo entre o içar de sinais de tempestade tropical após a passagem do Hato, em particular atendendo à velocidade a que se movia o tufão, fez gerar dúvidas sobre a capacidade de previsão dos SMG. Macau içou o sinal 3 de tempestade tropical às 03:00 de quarta-feira, elevando-o a 8 seis horas depois. Passada uma hora e meia foi hasteado o sinal 9 e, volvidos somente 45 minutos, içado o sinal máximo (10), o que não sucedia desde 1999. Queixas antigas Fong Soi Kun – que apresentou a demissão um dia depois do tufão Hato – tinha estado debaixo de fogo devido ao hastear dos sinais de tempestade tropical há um ano, por ocasião da passagem do tufão Nida, altura em que os SMG içaram apenas o 3, tendo sido criticados por não terem elevado o alerta para 8. No comunicado, o CCAC lembrou ter realizado no passado uma investigação aos SMG, após ter recebido “muitas queixas apresentadas pelos cidadãos, pondo em causa a decisão de não içar o sinal 8 de tufão” aquando da passagem do Nida, em Agosto de 2016. “Após investigação, apesar de não ter sido detectada uma violação grosseira das disposições legais, o CCAC verificou a existência de alguns problemas nos procedimentos relativos à previsão de tufões e nos respectivos critérios adoptados pelos SMG, bem como relativamente à gestão interna do mesmo serviço”, indicou o CCAC, numa referência ao que sucedeu no ano passado. Esses problemas “já foram comunicados à direcção dos SMG”, à qual foram também submetidas “as respectivas sugestões de melhoramento”, acrescentou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaTufão Hato | O lado político e falhado de uma tempestade Nas redes sociais circularam fotografias de alguns governantes na ajuda à limpeza nas ruas, mas para o politólogo Eric Sautedé o Governo reagiu tarde e falhou por completo na comunicação à população. Apesar das reuniões com a protecção civil, só ontem Chui Sai On foi ver de perto a calamidade que muitos viveram [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oras depois da passagem do tufão Hato pelo território, muitos questionavam a ausência dos secretários e do próprio Chefe do Executivo nas ruas, numa altura em que, sem água ou electricidade, as pessoas se deparavam com as suas casas e lojas viradas do avesso. Circulariam mais tarde fotografias de governantes a ajudar nas acções de limpeza, tal como o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça. Também Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, andou nas ruas. Wong Sio Chak foi, aliás, afectado pelo tufão, tendo ficado sem algumas portas e janelas de casa. O Chefe do Executivo, apesar de ter participado em diversas reuniões com bombeiros e protecção civil, só saiu à rua ontem, tendo visitado a zona da Ponte e Horta e também junto ao templo Hong Kung. Eric Sautedé, politólogo, tece críticas ao comportamento do Executivo na forma como lidou com a catástrofe. Na sua visão, as respostas foram tardias e incompletas. “Se o Chefe do Executivo tivesse ido para as zonas mais prejudicadas teria ajudado. Mas em vez disso foi mais tarde e houve alguns comentários que referiram que ele fez por se manter em segurança. Claro que ter um problema de saúde como a gota faz com que as suas deslocações sejam limitadas, mas ele demonstrou várias vezes uma total falta de empatia.” Eric Sautedé dá vários exemplos, tal como a publicação de um texto inserido na rubrica “Palavras do Chefe do Executivo”, no website do Governo, que “quase roça a caricatura”, sem esquecer a conferência de imprensa na quinta-feira ao final do dia. “A mensagem que foi lida pelo Chefe do Executivo foi um desastre em termos de comunicação política: limitou-se a ler um guião e fez um grande esforço para esconder o embaraço”, apontou. Para Eric Sautedé, a população precisava de dados concretos e de acções, e muita coisa falhou nas primeiras horas. “Houve muitas contradições, previsões (sobretudo no que diz respeito ao número de vítimas), em vez de terem sido providenciadas respostas às verdadeiras preocupações das pessoas, tal como quando é que a água e a electricidade iriam estar novamente disponíveis.” “Pedir desculpas é importante, mas tal foi feito com uma total falta de empatia, que foi assumida e compreendida como existindo uma total incompetência”, acrescentou o professor universitário. Caso único Alexis Tam, que fez por visitar alguns bairros afectados na zona norte e o hospital público, foi o único “capaz de falar para o público sem ler um discurso”. Ainda assim, Eric Sautedé considera que “não foi capaz de dar respostas às pessoas”. “A ajuda providenciada por membros do Governo foi, na maioria, apenas para a fotografia, e esperamos sempre que os líderes liderem, e não que carreguem objectos e limpem as ruas. Alguns tiveram um melhor comportamento do que outros: Lionel Leong chegou tarde, mas foi genuíno, enquanto Sónia Chan apareceu de mocassins brilhantes e parecia constrangida com a situação”, recorda o ex-docente da Universidade de São José. Eric Sautedé não deixou de apontar a presença de alguns deputados nas ruas, sendo que uns “agiram com mais boa-fé do que outros”, dada a aproximação do acto eleitoral de Setembro. “A forma tardia como o Governo reagiu, e de forma inapropriada, são produto de um sistema em que os interesses empresariais prevalecem e a lealdade está acima da competência”, frisou, lembrando a ocorrência de dez mortes. “Era suposto a situação melhorar com o novo Executivo, que tomou posse em Dezembro de 2014, mas, obviamente, falharam na missão e desta vez isso custou vidas humanas”, concluiu ao HM. Porto Interior | Ng Kuok Cheong questiona atrasos nas obras [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong interpelou o Governo sobre os efeitos das obras temporárias na zona do Porto Interior para a prevenção das inundações. O objectivo é tentar compreender se o adiamento dos trabalhos de erradicação das inundações na zona está relacionado com as obras do metro ligeiro. Ng Kuok Cheong recorda que, já em 2014, obteve respostas dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), bem como da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) sobre a prevenção das inundações. À data, a resposta dos SMG previa a conclusão das obras temporárias em 2015, sendo que existiria uma proposta, de médio e longo prazo, para uma reconstrução da zona. Iria ainda ser levada a cabo uma integração com o projecto do metro ligeiro. O deputado deseja saber, portanto, se esse projecto foi adiado por causa dos atrasos ocorridos na primeira fase da obra do metro ligeiro. Ng Kuok Cheong pede ainda uma responsabilização dos funcionários e que se avancem de imediato com os trabalhos de reconstrução. A interpelação faz ainda referência aos dez mortos causados pela passagem do tufão Hato, que fez a maior parte dos estragos nas zonas baixas da península, tal como o Porto Interior e a zona da Barra. Além das vítimas terem morrido por incidentes nas ruas, houve ainda corpos encontrados em parques de estacionamento.
João Luz Manchete SociedadeBalanço | Tufão Pakhar passa por Macau com menos intensidade que o Hato [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ois tufões fustigam com violência regiões do Mar do Sul da China. Depois do Hato ter colhido, pelo menos, dez vidas em Macau, foi a vez de Hong Kong registar um morto à passagem do Pakhar. Por cá, contabilizaram-se apenas feridos ligeiros e inundações de dimensão reduzida. Autoridades de Macau ponderam uma revisão profunda ao mecanismo de resposta a tufões Depois da tempestade costuma vir a bonança. Isso não aconteceu este fim-de-semana em Macau, Hong Kong e nas regiões circundantes. Na quarta-feira o tufão Hato devastou a RAEM, deixando no seu rasto, pelo menos, dez vítimas mortais e 244 feridos. Além disso, o desastre natural deixou a olhos vistos os problemas e as falhas de infra-estruturas tanto no domínio da construção, como na falta de luz e água, deixando a cidade num caos. Assim que houve notícia de um possível segundo tufão, que viria a ser baptizado como Pakhar, temeu-se o pior. Porém, os efeitos da última tempestade foram bem menores, com a intensidade das rajadas máximas a não chegar a metade da dos ventos mais intensos do seu antecessor. Apesar da menor intensidade, o Pakhar originou 107 incidentes registados pelo Cento de Operações de Protecção Civil (COPC). No rescaldo do tufão de ontem, Leong Iok Sam, director da COPC, revelou que o Pakhar fez oito feridos ligeiros, seis homens e duas mulheres. Depois da calamidade de quarta-feira de manhã, que deixou Macau fragilizada em todos os sentidos, temia-se que apesar da intensidade menor, os estragos pudessem ser grandes. Situação que não ocorreu, mas ainda assim registaram-se 56 casos de queda de objectos como painéis publicitários, toldos e janelas. Aliás, Leong Iok Sam revelou que grande parte dos feridos ligeiros se deveu à queda de objectos suspensos que não chegaram a ser removidos na sequência da passagem do Hato. Nove árvores que não foram abaixo com o tufão de quarta-feira acabaram por cair ontem, devido ao seu estado de fragilidade. Neste sentido, o director da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, Li Canfeng anunciou uma medida para dar resposta aos problemas de estrutura de edifícios revelados pela força do Hato. “Coordenámos associações de engenheiros e de peritos em electricidade para acorrerem aos prédios necessitados de intervenção”, disse. O dirigente revelou que há mais de vinte equipas para ajudar à remoção de objectos suspensos em fachadas e nos revestimentos exteriores, assim como para o reforço de janelas. Foi também aberta uma linha de apoio para responder a estas a situações com o número 85903800. O Pakhar resultou ainda em 16 inundações de pequena intensidade, sendo que oito ocorreram em Macau, seis na Taipa e duas em Coloane. Transportes parados Ontem, por volta das 7h25, foram encerradas as pontes que ligam Macau à Taipa. As condições de segurança nas estradas deterioraram-se, tal como seria de esperar, levando à ocorrência de 31 acidentes rodoviários. No que diz respeito ao transporte por ferry, o Terminal do Porto Exterior encerrou tendo ficado cerca de 100 pessoas a aguardar que o sinal de alerta baixasse para conseguirem embarcar. A circulação de barcos foi retomada no Porto Exterior às 14h30 de ontem, enquanto que no novo Terminal da Taipa as operações regressaram à normalidade às 16h. Durante a tarde de ontem todos os postos fronteiriços retomaram o seu normal funcionamento. O Aeroporto Internacional de Macau cancelou 65 voos com partida ou chegada prevista para domingo. Na região vizinha, a Autoridade Aeroportuária de Hong Kong reportou 300 voos cancelados, ou com atrasos significativos, e cerca de 42 aviões abortaram a aterragem e tiveram de ser desviados para outros aeroportos na sequência da passagem do Pakhar. Meia centena de aviões não puderam descolar e ficaram na pista do Aeroporto de Hong Kong a aguardar a melhoria das condições meteorológicas. A companhia de bandeira de Hong Kong, Cathay Pacific Airways alertou os passageiros para possíveis atrasos para hoje tanto em partidas, como em chegadas. A tempestade tropical resultou em múltiplas estradas bloqueadas devido à queda de árvores, andaimes e inundações, incluindo na ilha de Hong Kong e nos Novos Territórios. Também os serviços de autocarros e metro ficaram afectados pela passagem do Pakhar. Registou-se a morte de uma pessoa, um condutor de uma carrinha que se despistou numa auto-estrada em Yuen Long na altura em que os ventos do tufão se começavam a intensificar. Do acidente resultaram ainda dois feridos com alguma gravidade. Menos intenso Por volta das 13h de ontem, quando o Pakhar já estava a 150 quilómetros de Macau, movendo-se para noroeste, a uma velocidade de 25 quilómetros/hora, o sinal de alerta era reduzido para 3 e o tufão tocou terra na cidade de Taishan, na província de Guangdong. Nessa altura, já quase esquecido o Pakhar, as ruas de Macau voltaram aos trabalhos de remoção de lixo e detritos. Neste domínio, o novo tufão trouxe um pouco mais de caos ao terreno. “Recolhemos um grande volume de lixo nestes últimos dias, todos os dias a quantidade foi aumentando”, explica José Tavares, presidente do conselho de administração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Na quarta-feira, logo a seguir ao sinal 8 do Hato ter sido retirado, as ruas começaram a ser limpas, tendo sido removidas 1700 toneladas de lixo. No dia seguinte, foram retiradas 2500 toneladas e na sexta-feira a quantidade de detritos removidos ascendeu às 2900 toneladas. A quantidade anormal forçou o IACM a mobilizar mais recursos humanos, tendo as operações sido facilitadas pelos mais de 3000 voluntários que ajudaram os serviços municipais a limpar as ruas de Macau. A partir de ontem à tarde, as autoridades da província de Guangdong disponibilizaram uma dezena de veículos para a recolha de lixo. O facto é que o Pakhar teve uma intensidade menor do que a do Hato, além de ter passado um pouco mais ao lado de Macau. O tufão de ontem registou uma força de vento média de 106 km/hora, seguindo uma trajectória final mais encostada para leste, ainda assim mais próxima de Macau do que estava previsto. A rajada mais forte registada ontem foi de 125.3 quilómetros/hora. Por volta das 8 da manhã os ventos também aumentaram um pouco, tendo tocado a terra por volta das 9h, ou seja, com uma hora de antecedência em relação às previsões dos Serviços de Meteorologia e Geofísica. A chuva foi mais intensa do que fora prognosticado, tendo-se registado uma precipitação de 56.6 milímetros, um nível superior ao que era esperado. As chuvadas originaram inundações que chegaram aos 15 centímetros de altura de cheias, sendo que a maré subiu 1,5 metros. Porém, as inundações não foram severas porque o Pakhar não coincidiu com o horário normal da maré cheia. Exército nas ruas Na passada sexta-feira, um contingente de mil soldados do Exército de Libertação Popular foi para as ruas ajudar na operação de limpeza e remoção de detritos. Ontem, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, lembrou que “o dever do Exército de Libertação Popular é salvaguardar a segurança nacional, enquanto o salvamento deve estar a cargo da polícia e dos bombeiros”. Porém, devido à gravidade do tufão Hato, o Governo da RAEM pediu ao Governo Central a participação dos tropas. De acordo com Wong Sio Chak, “o pedido foi feito na manhã do dia 24 e de uma forma muito rápida foi conseguida a autorização”. O secretário para a Segurança chegou mesmo a mostrar-se emocionado com um caso de um soldado chinês que apesar de a mulher ter falecido ficou em Macau a ajudar às operações de limpeza, faltando ao funeral da esposa. O secretário para a Segurança não quis avançar com uma estimativa dos prejuízos causados pelos tufões que assolaram Macau. “Ainda estamos em fase de socorro, remoção de lixo e assistência à população, ainda não fizemos essa contabilidade, mas os prejuízos não serão pequenos”, comenta. No entanto, Wong Sio Chak, realça que apesar dos danos materiais serem avultados, existem perdas para a população que não são contabilizáveis através de patacas.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaJornalistas barrados | Secretário e AIPIM com visões distintas Foi proibida a entrada de quatro jornalistas de Hong Kong em Macau. O secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, afirma que o procedimento nada tem que ver com a profissão enquanto a Associação de Imprensa em Português e Inglês “lamenta profundamente” tal decisão das autoridades e diz que “prejudica a imagem” do território [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] proibição de entrada no território nada tem que ver com a profissão exercida e é uma questão de segurança pública. A ideia foi deixada ontem, em conferência de imprensa pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak. “Ninguém gostaria de ter a sua entrada proibida no território independentemente da sua profissão e não estamos concentrados numa só profissão”, disse o secretário. Em causa está a proibição de entrada em Macau de quatro jornalistas de Hong Kong, no passado sábado. Wong Sio Chak salientou ainda que foi executada a lei e que se foram impedidos de entrar foi porque ameaçavam a segurança pública. No entanto, as razões que levam a que estes jornalistas representem uma ameaça não foram esclarecidas. “São casos confidenciais e que não podem ser divulgados o que também é conforme a lei”, apontou o secretário. Má imagem Já a Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) disse ontem que “lamenta profundamente” a decisão das autoridades locais de recusar entrada a quatro jornalistas de Hong Kong, considerando que tal “prejudica a imagem” da cidade. Num comunicado, a AIPIM “considera incompreensíveis e insatisfatórias as justificações dadas pelas autoridades locais para a decisão, e alerta que esta atitude, tal como outras semelhantes no passado, prejudica a imagem internacional da RAEM no que toca ao respeito pela liberdade de imprensa”. A proibição de entrada dos quatro profissionais da região vizinha, que desejavam fazer reportagens sobre o impacto do tufão Hato, foi noticiada no sábado pelo South China Morning Post (SCMP), que dava conta que um deles era um dos seus fotógrafos. Segundo o jornal, Félix Wong recebeu uma declaração escrita dos Serviços de Migração de Macau, referindo que “representa um risco para a estabilidade da segurança interna” de Macau. Noutro comunicado conjunto, a Associação de Jornalistas de Hong Kong e a Associação de Fotojornalistas de Hong Kong lamentaram igualmente o incidente e instaram Macau a respeitar a liberdade de imprensa. De acordo com o SCMP, as duas associações defenderam que Macau tem uma política de imigração arbitrariamente restritiva e que vários jornalistas de Hong Kong foram impedidos de entrar na cidade nos últimos anos. Questionado sobre o assunto numa conferência de imprensa no dia em que os jornalistas foram barrados, Ma Io Kun, coordenador do Centro de Operações da Protecção Civil (COPC) de Macau, admitiu que houve pessoas que foram impedidas de entrar na cidade, mas não confirmou que tivessem sido os jornalistas. “Em princípio, proibimos a entrada de pessoas que possam causar perigo à ordem pública e à ordem da sociedade. É de acordo com a lei que proibimos a entrada dessas pessoas”, disse, sublinhando não saber se os ‘barrados’ eram ou não jornalistas.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTufão Hato | Voluntários ajudaram a limpar as ruas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ssociações e cidadãos arregaçaram as mangas para ajudar a limpar uma cidade que se transformou, sexta-feira e sábado, num sítio nauseabundo. A limpeza era urgente antes da chegada do tufão Pakhar Fosse a recolher lixo ou a distribuir comida e água, centenas de voluntários fizeram “o que podiam e o que não podiam” pelo regresso à normalidade em Macau, após a passagem do tufão Hato. As zonas mais afectadas pelas inundações foram invadidas por verdadeiros ‘exércitos’ empenhados em remover as toneladas de lixo amontoado nas ruas. Tsé Fung foi um dos muitos jovens que trocou o refrescante conforto do ar condicionado de casa pelo intenso calor da rua. Por volta das 16h00 encontrava-se pela Rua dos Ervanários. “A minha casa não foi afectada, mas este é o meu bairro, por isso, tinha de vir ajudar”, disse o estudante de 19 anos à agência Lusa, com a voz abafada pela máscara que usa a cobrir a boca e o nariz, como tantos outros, para não respirar o cheiro nauseabundo, durante uma pausa ao fim de seis horas consecutivas de labuta. Sio, de 37 anos, pôs mãos à obra na véspera. Faz-se o que pode e o que não pode pela terra onde nasceu: “Se vês algo [como isto] tens de reagir”. “Não há recursos humanos suficientes para dar resposta a tudo”, lamentou, enquanto ajeita as luvas de borracha que vão até ao cotovelo. “As pessoas estão simplesmente a seguir os seus instintos porque não esperam – nem podem esperar – nada. Só se valem a si próprias”, sublinhou, antes de voltar a pegar na vassoura. “Um trabalho excepcional” Não muito longe andava Sandra Carrilho, de 45 anos, que também começou na sexta-feira a ajudar a remover o lixo, inserida num grupo que conheceu na véspera nestas andanças. “Hoje há imensa gente na rua”, comparou, antes de fazer um ponto da situação: “Não se podia circular aqui, mas os voluntários limparam isto tudo e no Porto Interior, onde moro, o trabalho também foi excepcional”. “As pessoas têm noção da gravidade, havia comida solta, dispersa na rua, daí o esforço enorme para se recolher todo o lixo até porque pode voltar a haver inundações”, observou. Enquanto filas de dezenas de contentores aguardavam vez para serem ‘tombados’ para o camião do lixo, chegaram “reforços” sob a forma de carrinhas de caixa aberta de particulares e empresas que estacionam ao lado de mobílias e electrodomésticos sem salvação. A onda de voluntariado não se cingiu apenas à recolha de lixo, uma vez que houve também muita gente a distribuir comida e água. Ana Cristina Vilas, por exemplo, além de recolher lixo, foi distribuir água em Coloane na sexta-feira. No sábado, com o apoio de amigas, decidiu ajudar outros e de outra forma: comprou centenas de tecidos da loja onde se costuma abastecer, gastando mais de quatro mil patacas. Isto além de ter lançado antes um apelo pelo Facebook nesse sentido para que “a única loja de tecidos do centro da cidade”, que estava a vender “tudo ao desbarato não feche as portas”. “Esta é a única forma de ajudar os pequenos comerciantes” afectados pelas inundações, sublinhou Ana Cristina Vilas, mostrando os panos húmidos dentro do ‘trolley’ de compras que, quando estiverem secos, vão servir o “Dress a Girl Around the World”, pelo qual é responsável em Macau desde Abril. “São pessoas que conheço há 30 anos”, enfatiza a funcionária pública que, depois da experiência de trabalho que viveu na quinta-feira, o dia a seguir à passagem do tufão Hato, decidiu tirar um dia de férias na sexta-feira. “Não tínhamos água nem ar condicionado. Não tínhamos condições para trabalhar. Chegámos ao mais baixo possível e por isso fui antes ajudar quem precisa”, realçou. Por todo o lado A Associação dos Jovens Macaenses (AJM) também organizou acções de rua. Na sexta-feira, a partir das 18h00, cerca de 70 pessoas ajudaram a limpar a zona adjacente ao Mercado Vermelho. No sábado houve outras tantas na zona da Almeida Ribeiro. Ontem foi dia de “andar a correr de um lado para o outro a distribuir comida aos idosos ou a limpar as ruas”, contou ao HM Guiomar Pedruco, presidente da AJM. “Não houve muita destruição mas houve muito lixo. As pessoas das lojas estavam desesperadas”, recorda Guiomar Pedruco, que tece uma crítica à actuação do Executivo. “Houve gabinetes que não tiveram água e electricidade e o Governo deveria ter reunido esses funcionários públicos para ajudarem a limpar as ruas, em vez de estes ficarem sentados nos seus gabinetes.” Guilherme e Cíntia Leite Martins, criadores do projecto Mana Vida, também organizaram uma acção de limpeza na vila de Coloane, que ficou também bastante afectada.
João Luz MancheteCidadão em Fúria [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]úsculos contraem-se, maxilares prendem-se, punhos apertam-se e projecto mentalmente uma adaga enterrada no lugar onde não existe remorso ou consciência. Uma fúria surda nasce-me no peito, avoluma-se como uma maré que sobe sem ter para onde ir, que conjura catástrofes vingativas dirigidas àqueles que fundaram a minha indignação. Cresce a angústia vinda de um sentido disperso de injustiça e assombro perante o mal e a ignomínia. Sinto a cólera a fazer galopar o meu coração, como um cavalo sedento de retribuição. Hasteio o alerta de raiva em sinal 10. Quero cantar-vos uma leve e irada ária, mais velha que qualquer canção. Mas não sei por onde começar, para onde e como dirigir os meus desorientados agravos. Tenho estado preso no binómio “fuga ou luta” há demasiado tempo, optando sempre pela retirada, pela cobarde e ordeira saída de um conflito perdido por definição. Sempre que me esquivo permito que me calquem mais e mais e mais. Sou a outra face solícita para além de todos os montanhosos sermões, a vítima devota que se oferece fiel ao enxovalho. Sem pensar, por instinto, deixo que me rebaixem e me roubem dignidade. Até que a docilidade é esbofeteada para fora da minha cara dando lugar a outro tipo de semblante, os meus olhos mudam, tornam-se fulminantes. Transformo-me na raiva de todos, na frustração superlativa de uma cidade governada por perfídia e ganância desmesurada. Sou a resposta à traição, sou a aguardada retribuição poética. Sou têmpora palpitante, pupila dilatada, a indignação dos humilhados que anseiam respeito. Quero enlamear-vos os sapatos de pele com a inglória labuta das ruas desesperadas do Porto Interior, mostrar-vos como se sobrevive na cidade submersa e distante dos vossos dourados tronos. Mas, acima de tudo, quero mostrar-vos que somos eternos, que já cá estávamos antes de vocês darem os primeiros passos na suja escalada do poder. Aí reside a verdadeira lama. Vocês terminam mandatos enquanto nós continuamos por cá, para sempre. Somos omnipresença no vosso mundo ditado por ciclos políticos. Que a minha voz calada se torne num eco plural. Confesso que não fazemos qualquer ideia acerca da promiscuidade dos bastidores do poder, não conhecemos o medo da possível não renovação de mandato, não sabemos o que é uma camisa de seda, ou que porra é exactamente o caviar. Sabemos o que é a escassez e alma esmagada, essas são as nossas realidades. Vivemos em dois mundos totalmente diferentes, aceitamos isso, mas exigimos respeito. Merecemos, é o nosso mais prezado direito. Eu amo a minha terra, amo o meu país, mas não me peçam para confundir complacência cega com patriotismo e amor. Ser indiferente à destruição e agir com negligência é a antítese da paixão, a negação total do romance. Tentar comprá-la é uma ofensa capital para a qual não existe severidade suficiente. A desconsideração a que nos votam é uma ferida que nunca sara, um traumatismo perpétuo e o fermento para o tipo de raiva que se tinge de vermelho. Quero gritar para além da capacidade da minha garganta, berrar para que venham a terreiro e se mostrem feitos de carne e osso, como nós. Merecemos muito mais que palavras vazias como “harmonia” e “felicidade”, queremos uma liderança assumida, humana, presente, que não se esconda atrás de frios comunicados e discursos formatados pelos envidados esforços dos burocratas. Exigimos concretização. Queremos que as causas sejam levadas a sério porque quem sofre com os efeitos somos nós. Tenho estado calado, discreto, a acumular décadas de desconsideração, a fermentar a minha ira. Mas temam-me, pois eu sou uma das fúrias de Némesis, a fonte do remorso de Orestes, não me virem as costas. Estou em todo o lado. Sou o homem que vos conduz, que prepara a vossa faustosa comida, a mulher que vos engoma a roupa, o técnico que repara as imperfeições do vosso quotidiano. Sou a base da pirâmide e tenho nas mãos as fundações do edifício, sou em simultâneo alicerce e fonte de ruína. Não brinquem com a raiva dos desapossados, pois ela é mais forte e presente que qualquer passageiro tufão.
Hoje Macau Manchete SociedadeTufão Hato | Pedidos de apoio isentos de apresentação do registo predial [dropcap style≠’circle’]W[/dropcap]u Zilliang, presidente do conselho de administração da Fundação Macau (FM), esteve ontem reunido com associações e organismos públicos para melhor decidir a concessão de apoios a quem sofreu estragos causados pela passagem do tufão Hato. Segundo um comunicado, quem quiser pedir subsídio para a reparação de estragos em edifícios residenciais “fica dispensado de apresentar as informações escritas do registo predial, pois a FM vai obtê-las directamente junto dos serviços públicos competentes”. Esta medida foi tomada em parceria com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça. Wu Zilliang esteve ainda reunido com o presidente da Associação dos Engenheiros Electrotécnicos e Mecânicos de Macau, Wu Chou Kit. Ficou decidido que “as obras de consolidação provisória respeitantes às portas e janelas danificadas serão abrangidas pelo Projecto de Ajuda Especial aos prejuízos causados pela passagem do tufão”. É ainda sugerido que “os residentes que pretendam solicitar subsídio para estas obras devem guardar os recibos de pagamento acompanhados das fotografias justificativas dos danos sofridos e das obras realizadas”. Além disso, a FM anuncia que vai criar um “grupo de trabalho específico” e promover a participação de representantes da referida associação neste grupo, “de modo a analisar e avaliar os processos recebidos e proceder à fiscalização e para acompanhar e verificar as obras subsidiadas”. A própria associação vai criar um “grupo de voluntários qualificados para prestar apoio aos trabalhos da FM neste âmbito”. A associação considera que “devido ao elevado número de residências que sofreram danos é bastante difícil levar a cabo, em tempo recorde, todas as obras de recuperação integral das habitações”.
Hoje Macau Manchete SociedadeTufão Pakhar | Sinal 3 içado às 13h00 deverá manter-se “durante algum tempo” [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) de Macau baixaram hoje o alerta de tempestade tropical para sinal 3 depois de o tufão Pakhar, o segundo em menos de uma semana, ter ‘tocado’ terra na província de Guangdong. O sinal 8 de tempestade tropical foi substituído pelo sinal 3 pelas 13:00, quando o Pakhar se localizava a cerca de 150 quilómetros de Macau, movendo-se a uma velocidade de 25 km/h em direção a noroeste. O sinal 3 significa que o centro da tempestade tropical movimenta-se de forma a que se façam sentir em Macau ventos entre 41 km/h e 62 km/h com rajadas de cerca de 110 km/h. O sinal 3 vai continuar içado “por mais algum tempo”, segundo os SMG, sendo que os serviços sugerem ainda à população que evite andar na rua, pois poderão ocorrer ventos e chuvas fortes. O tufão Pakhar ‘tocou’ terra na cidade de Taishan em Guangdong, província adjacente a Macau, uma hora antes do previsto. O aviso de grau amarelo de ‘Storm Surge’, o mais baixo de uma escala de 3, continua em vigor, mas os Serviços Meteorológicos e Geofísicos não descartam a possibilidade de o substituir por um grau mais elevado devido ao nível da água. O aviso ‘Storm Surge’ de nível amarelo indica a possibilidade de que “o nível de água atinja valores inferiores a 0,5 metros acima do nível do pavimento”. Segundo o Centro de Operações de Proteção Civil (COPC), até às 12:30 foram registados 95 incidentes na sequência da aproximação a Macau do Pakhar, incluindo 16 devido a inundações. Em comunicado, o COPC reportou ainda quatro casos de incêndio em caixas elétricas e dois casos de corte de energia, a somar a dez ocorrências de queda de árvores e cabos elétricos e a uma de deslizamento de terras. Um total de 140 voos cancelados Pelo menos 140 voos foram hoje cancelados até às 06:00 em Hong Kong devido à passagem do tufão Pakhar, informou a autoridade aeroportuária da antiga colónia britânica. Ventos fortes continuam a afetar as partidas e chegadas nas pistas do aeroporto e as condições vão continuar instáveis durante a tarde, disse a autoridade aeroportuária, citada pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK). A tempestade tropical provocou quedas de árvores, de andaimes e inundações, causando o bloqueio de algumas estradas, incluindo na ilha de Hong Kong e nos Novos Territórios. Os serviços de autocarros e de metro também foram afetados. Tanto em Hong Kong como em Macau, os serviços meteorológicos disseram que o tufão Pakhar já tocou terra em Taishan, na província chinesa de Guangdong, e que ponderam substituir o sinal de alerta pelo número 3 ao início da tarde de hoje, quando os ventos fortes já não afetarem os dois territórios.
Hoje Macau Manchete SociedadeInundações voltam a Macau [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] tufão Pakhar volta a inundar algumas zonas da cidade. De acordo com um comunicado da Polícia de Segurança Pública (PSP), as inundações são de diferentes níveis. Os locais afectados são o Terminal de autocarros das Portas do Cerco, a Rua da Missão de Fátima, a entrada da Ponte de Sai Van junto ao Bairro da Barra, o túnel da Praça do Lago Sai Van. Os estaleiros da estação do metro ligeiro na Barra também foram afectados por inundação junto da porta principal e no Silo Jai Alai. Nas Ilhas, as águas subiram na Rotunda do Aeroporto, Estrada da Baía de Nossa Senhora da Esperança, Rotunda do Istmo, no troço entre a Rotunda da Central Térmica de Coloane e Avenida do Aeroporto. Segundo o comunicado da PSP, as inundações ligeiras que se verificaram no tabuleiro inferior da Ponte Sai Van, no sentido Taipa-Macau e junto à Avenida Panorâmica do Lago Nam Vam já diminuíram. A polícia aconselha prudência e atenção aos condutores.
Hoje Macau Manchete SociedadeGoverno recebeu mais de 700 pedidos de apoio financeiro para PME [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo de Macau recebeu, até sexta-feira, mais de 700 pedidos de apoio para Pequenas e Médias Empresas (PME), depois de ter lançado dois planos para ajudar os negócios a recuperar dos estragos provocados pelo tufão Hato. Até às 18h de sexta-feira, a Direção dos Serviços de Economia distribuiu dois mil boletins de candidatura aos apoios – um na forma de empréstimo, outro de abono – e recebeu “mais de 732 pedidos”, segundo um comunicado enviado na noite de sexta-feira. Após a passagem do Hato, o mais forte tufão a atingir Macau em 50 anos, o Governo de Macau lançou uma linha de crédito, sem juros, para as PME afetadas até ao montante máximo de 600 mil patacas. Anunciou ainda um pacote de “Medidas de abono” paras as empresas “responderem às situações emergentes”, “de natureza pós-calamidade” com um limite máximo de 30 mil patacas.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTufão Pakhar: Sinal 3 içado “esta noite ou madrugada”. Sinal 8 amanhã de manhã [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) acabam de informar que o sinal 3 de tempestade tropical deverá ser içado “esta noite ou madrugada”, graças à passagem do tufão Pakhar pelo território. “Espera-se que os ventos se fortaleçam gradualmente já esta noite e amanhã”, aponta a entidade. Amanhã, domingo, durante o período da manhã, “perto do meio-dia”, o tufão aproximar-se-á de Macau “cruzando a cerca de 100 ou 150 quilómetros a sudeste”. Os SMG ponderam ainda içar o sinal 8 amanhã de manhã. “Na altura, será um momento alto do impacto do ciclone tropical para o território. Aguaceiros e ventos vão tornar-se mais frequentes. Desde modo, os SMG não descartam a hipótese de içar o sinal de tempestade tropical 8, amanhã de manhã”, lê-se no comunicado. Mais inundações Os SMG prevêem também a ocorrência de “ligeiras inundações” nas zonas situadas perto do Rio das Pérolas. Hoje as limpezas dos destroços e do lixo continuam para que se possa prevenir a propagação de doenças. O trabalho tem sido feito não só pelo serviço de protecção civil bem como por vários grupos de voluntários. Deverá ser içado o sinal amarelo de “storm surge” “em breve”. “Recomenda-se à população que toma medidas preventivas contra a tempestade tropical e inundação”, alertam os SMG. Por volta das 14h00 a tempestade tropical estava localizada a cerca de 720 quilómetros de Macau, à medida que se movimenta em direcção à costa oeste da província de Guangdong.
Hoje Macau Manchete SociedadeIACM diz que limpeza das ruas é o mais urgente nas próximas horas O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) de Macau definiu a recolha do lixo como prioridade “número um” nas próximas 24 horas face à aproximação de nova tempestade tropical, lançando apelos à população para cooperar. [dropcap style≠’circle’]”A[/dropcap] higiene é, neste preciso momento, o ponto fulcral no nosso trabalho”, afirmou, na noite de sexta-feira, o presidente do IACM, José Tavares, sublinhando a importância de se “aproveitar as tais 24 horas douradas para recolher o máximo de lixo possível e desinfetar o máximo possível”, dado que a situação se vai “complicar” com a aproximação da tempestade tropical Pakhar. A nova tempestade tropical deve atingir Macau no domingo, sem que os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) afastem a possibilidade de içar o sinal 8 (numa escala máxima de 10) quatro dias após a passagem do tufão Hato que provocou dez mortos e mais de 240 feridos, segundo o mais recente balanço. “Se a higiene e limpeza não estiverem bem feitas, o novo tufão que vier só vai disseminar mais a contaminação, por isso, o nosso objetivo neste presente momento é recolha de lixo e fazer o melhor possível”, insistiu. Só na quinta-feira foram recolhidas 1.500 toneladas de lixo, “mais 700 do que é o normal”, enfatizou José Tavares que falava numa conferência de imprensa que juntou, entre outros, a Proteção Civil. As dificuldades relacionadas com o processamento do lixo verificam-se em toda a linha — da recolha, ao transporte até ao tratamento. Não obstante as “tarefas constantes” e os “reforços” — nomeadamente de centenas de voluntários ou dos militares da Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo chinês que participaram em trabalhos de resposta à catástrofe — José Tavares observou que “é preciso uma certa cooperação por parte do público”. “Sem essa cooperação a nossa tarefa torna-se muito mais difícil, portanto, esta nova ideia que lançamos agora de manter 40 pontos diferentes de recolha de lixo é para facilitar”, realçou o presidente do IACM, após o anúncio na conferência de imprensa dessa medida. Assim, as pessoas saberão onde colocar o lixo, sendo que nessas zonas estarão ainda “alguns contentores com rodas para facilitar o transporte”, ou seja, a pessoa pode empurrar o contentor até junto da sua casa/loja, por exemplo, depositar o lixo no interior, e conduzi-lo de volta ao local definido como um desses novos “pontos”. “O que estamos a ver agora é que há uma propagação de lixo. Porquê? Porque as pessoas apenas despejam para a rua”, salientou José Tavares, descrevendo o cenário registado nomeadamente no Porto Interior, uma das zonas afetadas pelas inundações, onde os produtos que ficaram molhados foram atirados para a rua “sem qualquer critério”. Neste sentido, o presidente do IACM apelou à população para cooperar de modo a que se possa “restabelecer a normalidade”.
Hoje Macau Manchete SociedadeTufão Pakhar | Içado sinal 1 de nova tempestade [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] sinal 1 de tempestade, o mais baixo numa escala de 10, foi esta manhã içado em Macau, devido à aproximação do tufão Pakhar, três dias após o Hato ter feito dez mortos. De acordo com a página dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), o sinal foi içado às 11:30, localizando-se nessa altura a cerca de 780 quilómetros de Macau. A tempestade encaminhava-se para a costa oeste da província de Guangdong. A escala de alerta de tempestades tropicais é formada pelos sinais 1, 3, 8, 9 e 10. Hoje, a Direção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transporte emitiu um comunicado apelando aos cidadãos para que procedam “com a maior brevidade possível à reparação das janelas danificadas e a consolidação das instalações exteriores na fachada, de modo a evitar mais estragos no interior das casas devido a ação da chuva e do vento, e eliminar os riscos subjacentes”. Na sexta-feira, quando já se previa a chegada do Pakhar, os SMG explicaram à Lusa que a tempestade deve passar próxima de Macau às 12:00 (05:00 em Lisboa) de domingo. Previam-se “altas possibilidades de ser içado sinal superior” ao 1, mas a subida até ao 8 era ainda improvável, apesar de não descartada. “Devido à incerteza da trajetória e força da tempestade tropical não está descartada” essa hipótese”, caso o tufão “se desvie mais para oeste, ou seja, para próximo de Macau”, ressalvou na altura a porta-voz dos SMG, Vera Varela. O Pahkar deve ‘tocar’ terra entre Zhanjiang (na província vizinha de Guangdong) e Macau. As autoridades alertam para riscos de inundação e aceleraram a recolha do muito lixo disperso pelas ruas devido ao impacto do tufão Hato, que atingiu a cidade na quarta-feira e deixou um rasto de destruição. Na quinta-feira o Governo anunciou que o diretor dos SMG apresentou demissão. O seu serviço tem sido alvo de duras críticas devido ao ‘timing’ do hastear dos sinais de tufão, que, consoante a intensidade, permitem ativar uma série de medidas, como encerramento de escolas e serviços públicos. Na sexta-feira, a substituta de Fong, Florence Leong, indicou que “a possibilidade de se içar o sinal 03 no domingo é de 70%”. Leong disse considerar ser necessário melhorar a prevenção e a comunicação nos alertas à população, mas sem alterar o funcionamento deste departamento. “Vamos rever o mecanismo e melhorar os nossos trabalhos de previsões”, relativamente à nova tempestade tropical Pakhar.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemPorto Interior e Barra | Comerciantes com perdas de milhões e sem informações Caminhar a partir da Rua dos Mercadores, no Porto Interior, até à zona da Barra é tropeçar em lixo e coisas que a água e o vento desarrumaram e destruíram. Muitos deles exigiram a presença de membros do Governo no local e questionaram a ausência do estado de calamidade [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s pés, enfiados em chinelas, chapinham na lama que se formou de uma tempestade que ainda não se compreendeu de onde veio, mas que todos já sabem o que deixou. Os rostos são tristes com uns sorriso pelo meio porque, no fim de contas, o Porto Interior inunda todos os anos, porque todos os anos há um ou outro tufão. Há um estranho hábito de lavar e arrumar impregnado na pele de quem vive junto ao rio das pérolas. Com o tufão Hato tudo foi diferente, e agora olha-se para o futuro com mais matemática na cabeça. Há quem tenha perdido milhões de patacas em negócios acabados de criar, há outros a quem só resta limpar o lixo que ficou na loja de uma vida, porque não há outra hipótese de sobrevivência. Depois da tempestade, o senhor Lau limpa o seu espacinho de venda de carnes secas que fica mesmo ali na esquina da Rua dos Mercadores. A ajudá-lo está a mulher, enquanto vários comerciantes como ele vêm falar-lhe das últimas. Aquele que ficou com a água até ao pescoço porque foi salvar o arroz que tinha no armazém, o outro que ficou preso no parque de estacionamento. Sofia Margarida Mota O senhor Lau aponta para um pedaço de espelho e assegura: “a água chegou até aqui!”. “As pessoas não tinham tempo de fugir. Foi muito grave este tufão, todos ficaram com muitos prejuízos e ainda não sei quanto me vai custar tudo isto”, contou ao HM. “O maior problema foi a água da chuva, que subiu repentinamente”, disse ainda, apontando o dedo ao Executivo. “O Governo precisa de melhorar o sistema contra inundações aqui na zona.” Na Rua dos Mercadores cada um está por si. Todos os que ali moram ou trabalham se entre ajudam, mas não se vê nenhum membro das forças de protecção civil a dar uma ajuda nas limpezas. Há quem não queira contar a sua história da tempestade porque “não tem tempo”. Ali ao lado, no Louceiro Foc Iu Cheong, limpam-se os estragos ao mesmo tempo que se aproveita para ir vendendo umas coisas. O negócio existe há largas décadas e agora o senhor Foc, com mais de 80 anos, nem sequer sabe que contas fazer à vida. Ainda assim, defende que o Governo não tem culpa. “Isto não tem nada a ver com o Governo, tudo aconteceu devido à natureza. Nunca aconteceu isto em Macau.” Naquela manhã, o senhor Foc ainda não tinha água na loja, nem luz. “Não consigo estimar os prejuízos e não sei se o Governo vai dar apoio.” O Executivo já anunciou apoios às pequenas e médias empresas, através da concessão de empréstimos sem juros acima das 600 mil patacas. Esta foi uma das primeiras medidas decretadas nas primeiras horas após a tragédia que já vitimou oito pessoas. No rescaldo dos acontecimentos, são ainda poucos os que têm conhecimento. Becos da balbúrdia Se entrarmos pelos becos adentro, o caos começa a adensar-se. Há papéis e coisas espalhadas, cheiros que se misturam, objectos amontoados em cima da lama. Os moradores da zona, sobretudo idosos, lavam as sapatilhas com água roubada das bocas de incêndio porque não há mais nada. Uns metros mais à frente, o senhor Cheong Kuok Veng, alfarrabista, assume: “nunca vi nada assim”. Lá dentro amontoam-se livros em chinês, mas muitos deles vão para o lixo. “Vamos continuar com a loja porque temos de sobreviver, não somos funcionários públicos”, ironiza, chamando a atenção para o facto do dia ter acordado como se nada tivesse acontecido. “O Governo deveria ter declarado estado de calamidade. Tive água até ao peito nesta zona, e os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) deveriam ter içado o sinal 8 mais cedo, fizeram uma previsão muito incorrecta. Vamos levar uma semana até termos tudo arranjado”, disse. Sofia Margarida Mota Pela Rua do Pagode abaixo, comenta-se a mesma história que tem vindo a partilhar-se nas redes sociais. Uma família cujos filhos morreram porque quiseram salvar os bens e acabaram sugados pela água. Chao, que vende velharias na Rua das Estalagens, atira ao chão um monte de livros molhados, cujo destino é o lixo. O nível da água chegou até ao peito naquele pedaço de loja minúsculo. “Devo ter aqui cerca de 100 mil patacas de prejuízo, mas ainda não fiz bem as contas. Ainda não sei como é que vai ser o apoio do Governo, mas de certeza que vai ajudar alguma coisa.” Por ali vende-se roupa molhada por todo o lado e há calças de ganga de lojas penduradas para quem as quiser comprar. O número 80 da Rua das Estalagens, onde Sun Yat-Sen morou e instalou uma farmácia, parece ter ficado intacto, ainda que com uma ligeira inundação. Danos na Portuguese Street Pedro Esteves abriu há poucos meses o espaço “Food Truck”, junto à chamada rua portuguesa, que trouxe para Macau a bifana tipicamente portuguesa. Agora o cenário é de vazio e destruição. “Quando aluguei isto perguntei se a água chegava aqui. Não sou novo em Macau e sei como são as coisas. Mas hoje, logo ali a partir da zona do Mercado de São domingos percebi logo. Fiz amizades com os chineses aqui da rua e só olhávamos uns para os outros. Toda a gente ficou prejudicada.” Pedro Esteves estima ter perdido cerca de 250 mil patacas com os danos causados pelo tufão Hato. “Perdi tudo e não imaginava como isto ia estar. Quando cheguei aqui encontrei o caos. Não conseguia abrir a porta sequer. Estava tudo no chão.” O proprietário do espaço Food Truck lembra, contudo, que o espírito de entreajuda se fortaleceu com a tragédia. “O tufão fez com que as pessoas tenham ficado mais próximas umas das outras. Estamos a ajudar-nos.” Pela rua adentro, o cenário é semelhante. Onde antes estava água há agora um rasto de destruição. Todos os produtos das lojas estão amontoados cá fora. Limpa-se o que ficou, tenta-se encontrar um rumo. Restaurantes destruídos Na zona da Barra o trânsito é quase normal, não fossem as paragens de autocarro estarem cheias de objectos caídos e árvores que roubam os passeios às pessoas. Não há um pedaço de rua que não tenha lixo ou água suja. Há caixas com garrafas espalhadas, usam-se mangueiras para apagar a destruição, enquanto várias pessoas almoçam onde podem. António Rodrigues, alentejano, há 35 anos em Macau, nunca viu nada assim e está tão desesperado que assegura: “se tivesse aqui um fósforo pegava fogo a isto e quem viesse a seguir fazia tudo de novo, para não se aproveitarem do que fizemos aqui”. A Casa do Porco Preto foi um dos novos restaurantes que abriu na zona da Barra, bem perto do templo de A-Má, e nada restou. A água subiu muito e destruiu o negócio de uma vida. António Rodrigues mostra-nos os seis lugares que lhe pertencem e que ficaram destruídos: o restaurante, a futura padaria, os armazéns e a carrinha que faz o abastecimento dos produtos que importa do Alentejo para Oriente. No total, estão ali mais de dois milhões de patacas perdidos. “É pena que em vez de virem aqui vocês, jornalistas, não venham representantes do Governo para ver como isto está. Estão fechados nos seus gabinetes. Tudo isto aconteceu porque há um problema com a drenagem das águas e não resolveram ainda”, disse. No chão pousam enchidos e queijos prontos a ir para o lixo, dezenas de garrafas de vinho molhadas pela água, frigoríficos que já não funcionam, papéis com dívidas acumuladas molhados. “Pergunta-me porque é que estamos aqui. Este é o sítio mais baratinho, os contentores chegam aqui é mais fácil fazer o desembarque”, explica. Fornecimento atrasado Os armazéns da empresa de António Rodrigues ficam ao lado dos armazéns da Nam Kwong, responsável pela distribuição dos supermercados e mercados do território. À hora em que o HM visita o local, não há luz e ainda se arrasta a água com vassouras. Há caixotes por todo o lado com garrafas de refrigerantes que estão por chegar às prateleiras. Ninguém consegue estimar quando é que o fornecimento regressará ao normal. Questionado sobre o apoio que o Governo quer conceder às PME, António Rodrigues lança mais críticas. “O apoio que deviam dar era virem aqui. Vão conceder empréstimos sem juros? Com tanto dinheiro deveriam dar, já que dão a universidades chinesas que ninguém conhece”, defende. Para o empresário, “o senhor Fung Soi Kun (director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos) deveria demitir-se e não esperar para ser exonerado. O secretário Raimundo do Rosário também, porque já foi director das Obras Públicas e sabe muito bem que havia estudos para esta zona”. António Rodrigues critica também o facto do Executivo não ter decretado estado de calamidade. “Neste momento não há condições para Macau ter uma vida normal. Está tudo cheio de lixo, deveriam ser garantidos apenas os serviços mínimos.” Lorcha sem luz À porta do restaurante A Lorcha, do macaense Adriano Neves, há cadeiras espalhadas por todo o lado e empregados a comer Mcdonalds porque, lá dentro, o cenário é de escuridão. “Tudo o que conseguimos ver está aqui fora. Do resto ainda não sabemos porque não temos luz. Tudo o que estava dentro do frigorifico foi para o lixo. Não consigo fazer uma previsão. Só sei mais coisas quando me derem água e luz.” Adriano Neves também não compreende porque é que, até aquela hora, nenhuma autoridade se dirigiu à Barra para ver de perto os estragos. “Já passei por muitos tufões, mas este assim, tão violento, é o primeiro. O Governo devia vir ver in loco e não olhar para as notícias. Não vi aqui ninguém, nem um polícia apareceu aqui.”
Hoje Macau Manchete SociedadeAbastecimento de água normalizado daqui a “um ou dois dias” [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Macau Water acaba de emitir um comunicado onde aponta que “o reabastecimento de água em Macau [deverá] voltar à normalidade dentro de um ou dois dias”. “Após a reparação das instalações afectadas da Estação de Tratamento de Águas da Ilha Verde, uma bomba de água voltou a falhar. Contudo, aquela Estação já se encontra em condições mínimas de voltar a entrar em funcionamento, ou seja, o reabastecimento de água deverá voltar, de forma gradual, à normalidade. Porém, é necessário tempo para estabilizar a pressão de água.” Foi feita a instalação de oito postos de abastecimento de água de emergência, que estão situados nos seguintes locais: Beco do Padre António Roliz Rotunda de Carlos da Maia Zona entre a Avenida de Horta e Costa e a Rua de Manuel de Arriaga Zona entre a Travessa da Barca e a Rua de Manuel de Arriaga Entrada principal do Edifício Mong Sin, bloco 1, na Avenida de Venceslau de Morais Junto ao McDonald’s do Fai Chi Kei Junto à passagem superior para peões do One Oasis Cotai South de Seac Pai Van Entre os blocos 1 e 2 do Supreme Flower City. A península de Macau continua a ser a área mais afetada, mas a agência Lusa também confirmou a existência de casas sem água na Taipa e em Coloane. A origem do problema na península está na estação de tratamento de águas da Ilha Verde. Fonte da Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau (SAAM) disse à Lusa esta manhã que, apesar de a estrutura ter sido reparada na noite de quinta-feira, estima-se que entre 10 a 15% da população não tenha água, ressalvando que se trata de um número pouco preciso. A mesma fonte alertou para a elevada probabilidade de o abastecimento total só ser conseguido no sábado. “Se tivermos sorte há uma oportunidade de ficar solucionado à meia-noite. [Mas] não há garantias para hoje”, disse. A dificuldade em determinar quantas pessoas estão ainda com os canos a seco prende-se com o volume reduzido de água que está a ser fornecido. Assim, há prédios já com água, mas a falta de pressão impede-a de chegar aos andares mais elevados, disse a mesma fonte. Duas das três estações de tratamento de água voltaram a funcionar pelas 19:00 no dia do tufão, mas a estação da Ilha Verde, que abastece mais de metade da península de Macau, ficou danificada e apenas na quinta-feira à noite foi reparada. As reparações das duas bombas de água da estação permitiram que se recomeçasse “parcialmente o abastecimento de água, com várias zonas da cidade a recuperar gradualmente”, de acordo com um comunicado enviado esta manhã pelo Centro de Proteção Civil. Luz ainda a meio gás Em termos de fornecimento de energia, a Companhia de Eletricidade de Macau (CEM) informou que às 10:00 de hoje 5.500 de clientes estavam ainda sem luz, 2,2% do total, nas zonas da Almeida Ribeiro, Fai Chi Kei e Ilha Verde. “Como 36 postos de transformação foram seriamente danificados pelas inundações, vai ser necessário mais tempo para substituir as instalações. Estamos a colocar todos os nossos esforços de modo a completar a reparação ainda hoje”, de acordo com um comunicado da empresa. Esta manhã, o Centro de Proteção Civil disse que continua a acompanhar os técnicos das companhias da água, electricidade e telecomunicações que procedem a trabalhos de recuperação dos respectivos serviços.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaChui Sai On aceita demissão de director dos Serviços de Meteorologia O “Hato” passou e arrasou. O director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), Fong Soi Kun, apresentou a demissão e Chui Sai On aprovou a decisão. O Chefe do Executivo considera que é altura de avaliar o sucedido e não adianta planos para situações idênticas futuras. Para já, há dinheiro para apoiar as vítimas e ajudar na recuperação dos estragos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] director dos serviços de Meteorologia e Geofísica demitiu-se ontem. “O director pediu a demissão e eu aprovei”, referiu o Chefe do Executivo, no final do dia de ontem, em conferência de imprensa. Depois do silêncio, e ainda assim sem se dirigir à população, teve lugar um encontro com os jornalistas, que contou com a representação de todo o Governo e a presença de Chui Sai On. Quanto ao futuro do responsável pelo SMG, a probabilidade é que venha a reformar-se. A informação foi adiantada pela secretária para Administração e Justiça, Sónia Chan. Um processo disciplinar relativo ao um possível içar tardio do sinal 8, ainda não é certo, sendo que, afirmou a secretária, “este é um procedimento que só pode vir a ter lugar, ou não, após finalizado todo o processo relativo à demissão de Fong Soi Kun”. Chui Sai On fez ainda questão de referir que, não tendo visitado as áreas mais atingidas pelo “Hato”, esteve sempre em contacto com o Centro de Operações da Protecção Civil, e de alguma forma, “em contacto com todos”, pois, sublinhou, não discrimina ninguém na sociedade local. Já o secretário Alexis Tam deslocou-se ontem ao Bairro do Fai Chi Kei para visitar os idosos, os residentes do Bairro da Ilha Verde e o pessoal de acção social. Calamidade só ao sinal 8 No que respeita a um eventual estado de calamidade ou de emergência a ter lugar no território, no dia seguinte à passagem do tufão que atingiu o sinal 10 e que deixou o território num estado caótico, Chui Sai On limitou-se a referir que o estado de calamidade foi levantado ao içar do sinal oito, na quarta-feira, às nove da manhã. O espírito de entreajuda no território sensibilizou o Chefe do Executivo que garantiu “envidar esforços para que volte tudo ao normal”. O choque parece ter sido muito, mas as acções e planos em situação idêntica no futuro ainda não estão definidos, sendo que agora “é necessário fazer um balanço alargado do que se passou com a passagem do “Hato” pelo território”, disse o Chefe do Executivo. Sem grandes medidas para uma futura ocorrência, visto ser tempo de balanço, Chui Sai On adiantou que serão reforçados os mecanismos de alerta e de divulgação de notícias de modo a que no futuro exista um maior trabalho de prevenção”. Toma lá dinheiro No total são cerca de 1,35 mil milhões de patacas que vão ser disponibilizadas pela Fundação Macau. O objectivo é apoiar as vítimas do tufão “Hato” em dois sentidos. Uma parte dos fundos é destinados a ajudar residentes e famílias das vítimas para que possam recuperar gradualmente dos danos sofridos. Para as famílias que ficaram sem os seus entes próximos, a Fundação Macau vai dar 300 mil patacas. Já os residentes, vão ter acesso a um súbsidio de duas mil patacas para ajudar nos gastos extra. O montante será deduzido nas contas de água e de luz. Para as despesas com janelas partidas, a Fundação Macau vai disponibilizar até 30 mil patacas por arranjo. O objectivo, afirmou ontem o representante da Fundação Macau presente na conferência de imprensa, “é ajudar nas despesas extra que a população pode estar a ter”. Para os feridos, que já ultrapassam os 200, as despesas médicas serão cobertas pelo mesmo fundo. No total, e até ao fecho da edição, há oito mortos e 244 feridos. Por outro lado, a Fundação Macau, dada a escassez de água à venda no território e a falta de água em casa, está a fazer uma campanha junto da comunidade. “Já foram recolhidas cerca de 100 mil garrafas de água que podem ser distribuídas e esperamos que a Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau consiga restabelecer o fornecimento o mais brevemente possível”, disse o responsável. Os residentes que reúnem as condições para solicitar os subsídios poderão formular o seu pedido pessoalmente no balcão de atendimento da Fundação Macau. Já a Direcção dos Serviços de Economia (DSE) vai apoiar as pequenas e médias empresas. Tal como a Fundação Macau, os apoios são dados em duas vertentes. Para as pequenas e médias empresas vão ser dados empréstimos de 600 mil patacas sem juros enquanto que vendilhões e titulares de veículos comerciais vão ter acesso a um subsídio. No total vai ser disponibilizado um montante de 2,3 mil milhões e patacas. Com os preços a inflaccionarem nos supermercados de Macau, o representante da DSE, presente no encontro de ontem, garantiu que vão ser feitas inspecções de modo a “garantir a estabilidade”. Trinta em risco Para já e em risco eminente, estão 30 construções. “Há 30 casos que têm de ser resolvidos imediatamente”, disse ontem o director das Obras Públicas, Li Cengfei. A informação é dada após terem sido feitas várias inspecções do estado dos edifícios danificados pelo “Hato”. Em causa estão as estruturas que apresentam risco de queda de objectos suspensos. A prioridade no tratamento destes casos vai ser definida em conjunto com o Centro de Protecção Civil. Já o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion, garantiu que a prestação dos cuidados mínimos não esteve em risco nos hospitais do território. No enatnto, e de acordo com o responsável, “houve falta de água em alguns centros de saúde, mas continuaram a manter serviços mínimos”, disse. Lei Chin Ion apelou ainda a uma maior preocupação com a higiene por parte da população apesar da falta de água no território. Para Lei Chin Ion, e de modo a prevenir o alastrar de doenças associadas ao lixo e à falta de higiene, as pessoas têm, mesmo sem água, de ter atenção aos cuidados de limpeza pessoal da melhor forma possível. O conselho, deixou, “é usar toalhetes quando não existir água”. Essa ainda não tem data para estar acessível à totalidade da população. Mais de metade do território é abastecido pela estação de tratamento da Ilha Verde que sofreu sérios danos com a passagem do “Hato”. A responsável pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA), Susana Wong, afirmou que os arranjos da estação poderiam estar concluidos na passada madrugada, por volta da meia-noite sendo que após estes reparos, o fornecimento de água vai ser retomado gradualmente em todo o território.
Hoje Macau Manchete PolíticaLionel Leong | Bens essenciais não vão faltar [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para a Economia e Finanças de Macau assegurou ontem que os bens essenciais não vão faltar no território, na sequência da passagem do tufão Hato que causou pelo menos nove mortos, 594 incidentes e 244 feridos. Lionel Leong Vai Tac, que falava aos jornalistas à chegada de uma deslocação oficial a Pequim, sublinhou que a Direcção dos Serviços de Economia vai realizar ações de fiscalização para “garantir o abastecimento dos bens essenciais para a vida quotidiana da população e a estabilidade dos preços” de alimentos e combustíveis. Para isto, o responsável disse que o Ministério do Comércio chinês comprometeu-se a garantir “o abastecimento estável a Macau” dos bens essenciais à vida da população, num encontro na quarta-feira. Leong Vai Tac manifestou “profundo pesar” pelas vítimas do Hato e solidariedade com os familiares e a população em geral, destacando a necessidade de a vida em Macau regressar “à normalidade” o mais depressa possível. O secretário lembrou que a direção dos serviços de Economia, a direção dos serviços de Finanças, a Autoridade Monetária de Macau, o Conselho de Consumidores, a direção dos serviços para os Assuntos Laborais, a direção de Inspecção e Coordenação de Jogos, o Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau, entre outros departamentos, vão efetuar “avaliações sobre o impacto provocado pelo tufão”. Cada um destes departamentos accionou “trabalhos relacionados, tais como lançamento de várias medidas de apoio, acompanhamento dos assuntos de indemnizações pelo seguro, investigação dos preços dos produtos, inspecção às acções desenvolvidas em torno da segurança e saúde ocupacional”, reiterou. Leong Vai Tac lembrou as medidas já apresentadas pelo Governo para ajudar as micro, pequenas e médias empresas (PME) afetadas pelo tufão, vendedores ambulantes e titulares de veículos comerciais e trabalhadores por conta própria. O Fundo de Desenvolvimento Industrial e de Comercialização (FDIC) lançou dois tipos de programas: o “Plano de apoio especial às PME afectadas pelo tufão Hato”, através do qual oferece um empréstimo sem juros no montante máximo de 600 mil patacas e as “Medidas de Abono” que garantem uma verba cujo limite é de 30 mil patacas, para responder a situações de emergência. Os dois planos referidos tem um valor total de 2,6 mil milhões de patacas. O secretário acrescentou que os casinos forçados a suspender as operações devido à falta de água e electricidade “também serão apoiados”, situação cujo acompanhamento cabe à direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos. “Neste momento, a prioridade é ajudar a população a regressar à normalidade o mais breve possível”, frisou.
Hoje Macau Manchete SociedadeTufão Hato: Exército chinês ajuda na limpeza das ruas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês vai participar nos trabalhos de resposta à catástrofe causada pela passagem do tufão Hato, uma medida inédita desde a transferência de soberania, em 1999. “A partir de hoje, a Guarnição em Macau, em conjugação de esforços com o Governo e a população, prestará apoio nos diversos trabalhos construtivos e de socorro”, informa o gabinete do porta-voz do Executivo em comunicado. O tufão Hato, que atingiu Macau na quarta-feira e foi o pior dos últimos 50 anos, fez nove mortos e 244 feridos, segundo o balanço oficial mais recente, divulgado hoje. O tufão levou o chefe do Executivo, Chui Sai On, na quinta-feira a pedir desculpas à população, reconhecendo que as medidas tomadas não foram suficientes. Em comunicado, o gabinete do porta-voz do Governo indica que Pequim “autorizou o auxílio da Guarnição em Macau nas acções de socorro em período pós-catástrofe”. Ao abrigo da Lei do Estacionamento de Tropas na Região Administrativa Especial de Macau, o Governo “pode, quando necessário, pedir ao Governo Popular Central o auxílio da Guarnição em Macau, para manter a ordem pública ou acorrer a calamidades”. Os militares da Guarnição do Exército de Libertação do Povo Chinês (ELP) estão a realizar trabalhos de limpeza em pelo menos duas zonas da cidade, uma na península de Macau e outra na ilha da Taipa.
Hoje Macau Manchete SociedadeProtecção Civil garante não haver pessoas retidas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] comandante Centro de Operações de Protecção Civil (COPC), Leong Iok Sam, afirmou terem já terminado os trabalhos de socorro e salvamento no edifício Classic Bay, estando a decorrer nos parques de estacionamento subterrâneos em outros três edifícios. “Até ao momento, não encontraram ninguém ali retido”, aponta um comunicado. O director do Corpo de Policia de Segurança Pública (CPSP), Leong Man Cheong, afirmou que todos postos fronteiriços já se encontram a funcionar e que o trânsito nas principais artérias da cidade já circula praticamente dentro da normalidade, desde esta manhã. Leong Iok Sam revelou que, conforme a informação recolhida até às 16h30, o COPC recebeu 432 relatórios de incidentes, relacionados com queda de reboco, reclamos, toldos e janelas em iminência de queda, andaimes de bambu, e ainda de cabos eléctricos e árvores,. Houve 47 casos de inundações e 75 casos de pessoas que ficaram retidas em elevadores. A passagem do tufão por Macau provocou mais de 244 feridos, oito mortos, um dos quais num acidente de viação, sendo que as restantes foram vítimas do tufão e inundações. O mesmo comunicado aponta que o CPSP tem trabalhado 24 sob 24 horas “no sentido de remover todos os objectos”. PSP, bombeiros e IACM “estão a dividir tarefas com o objectivo de acelerar a remoção dos mesmos o mais rápido possível”. O responsável do CPSP afirmou ainda que “várias associações de construção e empresas tomaram a iniciativa de conceder equipamentos de remoção de objectos de grande porte, por forma a apoiar as autoridades na limpeza dos objectos que estão obstruir as ruas”. Leong Man Cheong disse ainda que “vários semáforos continuam a não estar a funcionar dentro da normalidade, tendo sido mobilizado mais pessoal, nas ruas principais, para ajudar na sinalização”. Foram destacados agentes para “manter a ordem pública na cidade”, sobretudo nas zonas onde ainda falta água e luz. Estão a ser realizadas operações de salvamento em vários parques de estacionamento.
Hoje Macau Manchete SociedadeMacau Water não vai suspender fornecimento de água [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m comunicado emitido pela Macau Water desmente rumores que surgiram nas redes sociais sobre a possibilidade de ocorrer novamente uma suspensão do fornecimento de água. A Macau Water aponta que “por causa do pico do uso de água surgiu alguma instabilidade, mas nunca a suspensão de abastecimento”. Apesar de ainda existir 40 por cento da população sem água nas canalizações, “o fornecimento já foi retomado em algumas zonas”, sendo que a empresa “procura acelerar as operações para retomar a normalidade”. As forças de protecção civil apelam “junto da população para poupança no consumo da água”. Alerta sobre pragas A passagem do tufão Hato pelo território deixou muitas zonas do território cobertas de lixo e outro tipo de sujidade. Em comunicado, os Serviços de Saúde (SS) alertam para a necessidade de “reduzir a incidência de doenças transmissíveis”, uma vez que existe “dificuldade de limpeza, a curto prazo, do lixo acumulado”. As zonas da Praia do Manduco, na Barra, Hoi Pong e zona norte são apontadas como as mais afectadas por este problema, sendo que os SS já enviaram “funcionários para a desinfecção de pragas nas zonas mencionadas e distribuição de folhetos informativos a residentes”. Os SS emitiram ainda algumas recomendações, sendo uma delas “beber água de fonte confiável”, nomeadamente “da rede pública de abastecimento de água”. Contudo, 40 por cento da população continua sem fornecimento de água nas suas habitações, existindo uma corrida aos supermercados. Há ainda relatos de que estão a ser vendidas duas garrafas de água a cada pessoa. É ainda sugerida “cautela no manuseamento dos alimentos” e a necessidade de se prestar “atenção à higiene ambiental”. É necessário eliminar “as fontes de proliferação de vectores” para que se previnam mais casos de febre de dengue. “Após o tufão, os cidadãos ou associações de condomínio dos edifícios devem tomar a iniciativa de inspeccionar o edifício e os espaços comuns dos mesmos, limpar fontes de proliferação no interior e exterior do edifício”, aponta o comunicado dos SS.