Sarampo | Apelo à vacinação antes de deslocações ao exterior

Os Serviços de Saúde (SS) apelaram à população para se vacinar contra o sarampo antes de se deslocar ao exterior, e indicaram que este ano já morreram duas crianças nos Estados Unidos. O alerta foi deixado ontem de manhã, num comunicado em língua portuguesa.
“Com a aproximação das férias da Páscoa, prevê-se um aumento de residentes de Macau, em viagem no exterior, pelo que os Serviços de Saúde apelam mais uma vez aos residentes que pretendem deslocar-se às zonas epidémicas para reforçarem a prevenção”, pode ler-se no comunicado.
De acordo com o aviso, “os indivíduos que ainda não possuem imunidade contra o sarampo, devem concluir a vacinação com a antecedência mínima de duas semanas” antes da viagem. Em relação às “crianças que ainda não completaram as duas doses da vacina contra o sarampo” e as “grávidas sem imunidade” pede-se que evitem viajar para o exterior “a fim de reduzir o risco de infecção”.
O comunicado aponta os Estados Unidos como um exemplo de um país onde existe um risco elevado de infecção: “Nos Estados Unidos da América, por exemplo, registou-se recentemente o 2.º caso de morte por sarampo infantil, uma criança que não foi vacinada contra o sarampo”, foi indicado. “Além disso, nos Estados Unidos da América foram registados mais de 600 casos confirmados de sarampo, o dobro dos 285 casos registados no ano passado. É de salientar que a grande maioria dos doentes não foi vacinada ou o seu registo de vacinação é desconhecido, dos quais cerca de 70 por cento são crianças ou adolescentes”, foi acrescentado. 

Outros perigos
Os avisos não se ficam pelo país liderado por Donald Trump, e estendem-se à região do Pacífico Ocidental. “De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde, entre Janeiro e Fevereiro do corrente ano, foram registados cerca de 1.500 casos de sarampo na Região do Pacífico Ocidental, um aumento de quase o dobro em comparação com os 900 casos registados no período homólogo do ano passado”, é apontado.
Porém, os alertas também chegam à Europa: “Registaram-se, recentemente, surtos de sarampo no Camboja, nas Filipinas, no Vietname e na Malásia, e vários casos de sarampo em diversos países europeus, nomeadamente, na Roménia, na França, na Espanha, na Itália e na Alemanha”, foi vincado.
O alerta é também estendido às pessoas que vivem em Macau, dado o fluxo de turistas que visitam a RAEM: “Actualmente, embora Macau não seja uma região afectado por uma epidemia de sarampo, enquanto cidade turística, persiste o risco de importação e propagação do sarampo”, foi justificado. “Os Serviços de Saúde salientam que a vacinação contra o sarampo constitui o método mais eficaz para prevenir a infecção e reduzir a transmissão do sarampo”, foi destacado.

11 Abr 2025

Economia | Crescimento revisto em baixa para 6,8%

O Grupo de Investigação Macroeconómica de Macau antevê que o território vai sofrer com as tarifas de Donald Trump, não de forma directa, mas porque estas podem levar a que os turistas do Interior controlem mais os A Universidade de Macau (UM) fez ontem uma revisão em baixa da previsão de crescimento do Produto Interno Bruto para 6,8 por cento. A revisão foi feita para ter em conta as novas barreiras ao comércio mundial, e, em particular, contra a China, impostas pelos Estados Unidos.
Anteriormente, a previsão do Grupo de Investigação Macroeconómica de Macau previa um crescimento de 7 por cento do Produto Interno Bruto, ao longo deste ano. Segundo o jornal Ou Mun, na apresentação da previsão, que decorreu ontem, Kwan Fung, líder do grupo, admitiu que esta previsão é “relativamente conservadora”.
O académico também explicou que a revisão se deve ao facto de a política de imposição de tarifas dos Estados Unidos ir contribuir para uma redução do volume do comércio a nível mundial e que vai afectar o crescimento da economia mundial. Neste cenário, Kwan reconhece que é inevitável que a economia da RAEM seja afectada por estes desenvolvimentos.
Todavia, segundo o académico, o impacto “directo” para economia local vai ser “relativamente pequeno”, porque as tarifas têm como principal alvo o mercado das mercadorias, um tipo de comércio tido como “reduzido” na RAEM.

Casinos investem menos
Os investigadores explicaram igualmente que o efeito das tarifas vai fazer-se sentir na RAEM de forma directa, em virtude do impacto na economia do Interior.
Assim sendo, os investigadores deixaram antever consequências como uma menor capacidade de consumo da população chinesa, que com menos dinheiro, vai gastar menos nas deslocações a Macau. Por esta via, o Grupo de Investigação Macroeconómica de Macau admite que os residentes de Macau também podem sofrer com as consequências.
De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, Kwan Fung afirmou também que as tarifas vão ter impacto nas concessionárias de jogo, o que deverá ser sentido a nível da vontade para investir. Por outro lado, o académico reconheceu que as concessionárias se podem tornar menos atractivas para os investidores.
Na previsão de crescimento, os investigadores tiveram por base um cenário em que a exportações de serviços vai crescer 6,8 por cento ao longo do ano, o consumo privado 3,8 por cento e haverá uma inflação 0,7 por cento.
Ao nível do desemprego, os académicos esperam uma taxa geral de 1,7 por cento, com o desemprego entre os residentes a ser de 2,3 por cento. Ao mesmo tempo, são esperadas receitas correntes da Administração na ordem dos 116,8 mil milhões de patacas.

11 Abr 2025

Mantida prisão efectiva para homem alcoolizado que agrediu ex-namorada

O Tribunal de Última Instância (TUI) decidiu manter a pena de prisão efectiva de três anos e três meses, por cúmulo jurídico, bem como inibição de condução durante um ano e seis meses a um homem que agrediu a ex-namorada dentro do carro desta quando estava sob efeito de álcool, tendo também conduzido quando se encontrava alcoolizado. O TUI manteve também a decisão do pagamento de uma indemnização de 1.867 milhões de patacas, sendo que a seguradora deverá suportar 288 mil patacas.

O caso passou-se a 13 de Setembro de 2020, por volta das 21h34, quando o homem conduziu até à Avenida Comercial de Macau, tendo estacionado à porta do edifício FIT Centre Macau, aguardando que a ex-namorada voltasse para casa. Por volta das 23h30, a mulher, ao conduzir o carro, viu que o ex-namorado a esperava no local e estacionou na faixa de rodagem oposta.

A mulher tinha sido vítima de agressões por parte do homem durante o relacionamento, pelo que parou o carro e ligou a um amigo a pedir ajuda. Foi nesse momento que o agressor saiu do carro, aproximou-se da viatura da ex-namorada e bateu-lhe depois de fazer uma inversão de marcha, “causando-lhe o bloqueio da porta frontal direita, que não pôde ser aberta”.

De seguida, o homem “saiu do seu veículo e, com a chave na mão, bateu violentamente na janela de vidro do lado do lugar do condutor do veículo” da ex-companheira, tendo depois recuado o carro e batido na viatura da mulher. Foi aí que entrou no carro dela e a agrediu, nomeadamente pressionando o seu corpo, batendo-lhe no rosto com a chave, além de lhe ter dado socos na cabeça e no corpo.

O acórdão do TUI descreve que o homem “mordeu subitamente o antebraço esquerdo e os dedos da mão esquerda [da mulher], movendo-se depois para o banco traseiro, onde puxou os seus cabelos para impedir a fuga, causando-lhe a queda de parte dos cabelos”. Algumas pessoas que passaram no local ajudaram a mulher a escapar e a imobilizar o homem.

Stress pós-traumático

No momento do incidente e agressão o homem tinha uma taxa de álcool no sangue de 1,33 gramas por litro, valor acima do limite legal. No tocante à mulher, foi sujeita a tratamento hospitalar. “Após o exame pericial, constatou-se que sofrera contusões e escoriações no couro cabeludo, várias contusões e escoriações no rosto, concussão cerebral, contusão no olho direito, cataratas traumáticas no olho direito, hemorragia na parte inferior da pálpebra direita, concussão na retina do olho direito, deficiência auditiva grave no ouvido direito”, descreve o acórdão.

Além disso, as agressões causaram “a redução da visão e a assimetria entre o olho direito e o esquerdo, afectando obviamente a sua aparência e, ao mesmo tempo, fez com que sofresse de síndrome de stress pós-traumático, que poderia necessitar de tratamento a longo prazo”. Entende-se ainda que o homem “causou danos graves ao veículo e danificou o pavimento de pedra da berma da estrada”.

9 Abr 2025

Tarifas | Fornecedores recorrem a mercados alternativos

Macau estabeleceu acordos comerciais com Canadá, Austrália, Japão, e países europeus e do sudeste asiático que permitem minimizar o efeito das tarifas impostas pela Casa Branca, que entraram ontem em vigor. O presidente Associação da União dos Fornecedores de Macau refere que a partir do fim de Maio os efeitos serão imprevisíveis

 

Entrou ontem em vigor a tarifa adicional a produtos chineses, elevando para 104 por cento a taxa total, implementada pela Administração de Donald Trump, e à qual Pequim respondeu também elevando a parada na guerra comercial que a Casa Branca declarou a um vasto leque de países e regiões.

Para já, a curto-prazo, o presidente da Associação da União dos Fornecedores de Macau, Ip Sio Man, considera que as tarifas impostas pelo Governo dos Estados Unidos da América (EUA) não terão impacto no fornecimento de produtos e nos preços praticados em Macau.

Em declarações ao jornal Ou Mun, o dirigente associativo referiu que nos últimos anos, Macau assinou protocolos comerciais com vários países que garantem a diversificação das fontes de produtos importados, que resultaram na substituição de muitos produtos importados dos EUA. Ip Sio Man revela que, por exemplo, parte da carne oriunda dos EUA foi substituída por carne do Canadá, Austrália e Nova Zelândia, além da fornecida pelo Japão e países europeus.

Em relação a frutas, o representante aponta que a larga maioria é comprada a fornecedores do Interior da China.

Para já, os contentores que foram carregados antes de 5 de Abril e os que já se encontram em rota para Hong Kong foram apenas sujeitos a uma taxa de 10 por cento. Porém, Ip Sio Man confessou ser difícil de prever o que acontecerá às ligações comerciais com os EUA e aos preços quando começarem a chegar navios de carga já com produtos tarifados, algo que deve acontecer no fim do próximo mês.

Problemas de rotas

O presidente da associação de fornecedores tem uma visão optimista do panorama comercial, argumentando que os países e regiões vizinhos, sobretudo do sudeste asiático, podem procurar mercados com impostos baixos, como Hong Kong e Macau, para exportar os seus produtos e que essa concorrência pode levar à descida dos preços.

Além das tarifas de Trump, Ip Sio Man salientou a instabilidade que tem cortado severamente o transporte marítimo no Mar Vermelho, devido às ofensivas de Israel e EUA no Iémen e os ataques dos rebeldes hutis, que têm atacado navios de carga. Esta situação afectou o comércio de bens oriundos de Portugal, com a venda de produtos como o azeite, que passaram a demorar dois meses, o dobro do tempo, a contornar a zona de conflito. O principal impacto foi sentido ao nível dos produtos frescos, de curta validade, como queijos, produtos lácteos e carnes premium, que ficaram mais caros.

O HM falou com um empresário português que importa produtos portugueses e que, devido aos atrasos no transporte marítimo, passou a optar pela via aérea. Apesar do aumento dos custos do transporte, a gestão de stock obrigou à procura de alternativas à rota marítima, que chega a demorar três meses a ligar Portugal a Macau.

9 Abr 2025

Casinos-satélites | PME admitem agonia com encerramentos

Vários empresários de Pequenas e Médias Empresas admitiram que com o encerramento dos casinos-satélite vão ter de fechar os negócios ou avançar para despedimentos em massa

 

As empresas dependentes ou com grandes receitas geradas pelos casinos-satélite reconhecem que estão muito preocupadas com as perspectivas de uma onda de encerramentos, no final do ano. A posição de vários empresários foi tomada em declarações ao jornal Ou Mun.

Os casinos-satélite resultam de acordos entre algumas concessionárias e empresas independentes, que exploram vários espaços de jogo, como acontece com os casinos Kam Pek ou Ponte 16, num total de 11 casinos. Neste modelo, as empresas independentes exploram os casinos, mas com trabalhadores, mesas de jogo e fichas das concessionárias, com quem têm um acordo e a quem efectuam pagamentos.

A última revisão à lei do jogo estabeleceu um período de três anos para acabar com este modelo, que termina no final deste ano. Como resultado, as concessionárias podem optar por assumir, por si, a exploração destes casinos ou fechar os espaços.

Em declarações ao jornal Ou Mun, um residente com o apelido Lam, que é responsável de uma empresa de software, afirmou que metade das receitas da companhia derivam de um dos casinos-satélite. Sem estas receitas, o dirigente admite que a empresa vai começar a perder dinheiro e que nesse cenário só tem duas hipóteses: pagar as perdas com dinheiro do seu bolso, até a situação se tornar insustentável, ou fazer o que apelidou de “cortar um braço”, o despedimento de cerca de 30 a 40 por cento dos trabalhadores.

Lam disse igualmente que os casinos-satélite distribuem muito dinheiro às Pequenas e Médias Empresas, através da contratação de serviços. Porém, se apenas sobreviverem as concessionárias, a economia local vai sentir um impacto que classificou como profundo.

Outro empresário, com o apelido Sin, responsável por uma empresa de limpeza, traçou um cenário semelhante, e reconheceu que com o encerramento dos casinos-satélite vai despedir um quinto do total do pessoal, o que indicou representar cerca de 100 trabalhadores, por falta de trabalho.

Menos transportes

A necessidade de avançar com o despedimento de trabalhadores é igualmente o cenário antevisto por Choi, de acordo com o Jornal Ou Mun. O empresário de uma empresa de transporte privado de pessoas afirmou que actualmente sobrevive no mercado local devido aos serviços prestados aos casinos-satélite.

Choi reconheceu que 80 por cento das receitas provém destes espaços e que em caso de encerramento este volume de negócio não vai ser substituído. O empresário indicou que apesar de Macau receber mais turistas estes têm um perfil muito diferente. Entre as diferenças, apontou que são mais jovens e que não se deslocam através deste tipo de transporte, recorrendo antes aos transportes públicos.

O jornal Ou Mun falou também com um outro empresário Ip, responsável por uma empresa de produtos de iluminação de publicidades. Esta emprega entre 20 e 30 trabalhadores e grande parte dos serviços são prestados aos casinos-satélite. Se estes encerrarem, Ip indica que não só a sua empresa vai encerrar, assim como várias outras lojas nas imediações dos casinos e que dependem destes.

9 Abr 2025

Violência doméstica | Ho Ion Sang pede recursos para ajudar vítimas

Apesar do “sucesso” das políticas de combate à violência doméstica, o deputado dos Moradores considera que as associações locais devem ter mais meios para apoiar as vítimas e os seus filhos. Além de meios de subsistência, Ho Ion Sang realça a importância de planear a carreira profissional e prestar cuidados infantis

 

Ho Ion Sang defende o reforço da cooperação entre o Governo e as associações locais para dotar as vítimas de violência doméstica de mais meios de subsistência. O assunto é abordado através de uma interpelação escrita pelo deputado dos Moradores, em que é pedida uma maior cooperação entre o Governo e as associações locais.

No documento, Ho defende o reforço da “rede de assistência social” e a melhoria do “apoio ao nível de meios de subsistência das vítimas de violência doméstica e dos filhos”, que passa não só pela disponibilização de apoio financeiros, mas também por “serviços mais orientados e diversificados, tais como planeamento de carreira, formação profissional e cuidados infantis”.

Segundo o deputado, no contexto actual, as associações devem assumir um papel fundamental a ajudar as vítimas, na vida após os episódios de violência doméstica, nos casos em que precisam de uma rede de apoios, para reconstruírem a vida.

Ho Ion Sang é deputado pela Associação dos Moradores, uma das mais apoiadas pelo Governo com fundos públicos.

Mais cooperação

O reforço da cooperação entre as associações locais e o Governo não visa só o pedido de mais recursos. Ho Ion Sang pergunta pelo desenvolvimento das directrizes, prometidas pelo Executivo para este ano, que vão definir formas para lidar com casos de violência doméstica quando há crianças envolvidas. Nas perguntas enviadas ao Governo, o deputado recorda que as directrizes foram concluídas em 2023, e que no ano passado as autoridades ouviram os serviços públicos e as associações. Todavia, a meta do Executivo passava por divulgar e implementar as directrizes ao longo deste ano, sem que haja, até agora, mais informações. Por isso, o deputado pede que o Governo revele o calendário de quando vão ser apresentadas.

Na interpelação escrita, o deputado considera igualmente que se deve “intensificar” a “cooperação com as organizações não governamentais e consolidar os recursos de todas as partes envolvidas” para “criar uma atmosfera favorável para que toda a comunidade se oponha e resista unanimemente à violência doméstica”.

Em relação à prevenção, Ho Ion Sang elogia os trabalhos realizados, com a aprovação da legislação que tornou este um crime público, que tem levado a uma redução gradual das ocorrências. No entanto, pede ao Executivo que não facilite nos esforços de combate ao crime, para alertar mais a população para este fenómeno.

9 Abr 2025

Literatura | Dora Nunes Gago fecha trilogia de Macau com “Flores de Cinza”

Dora Nunes Gago, escritora e ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau, acaba de lançar um novo livro de poesia. “Flores de Cinza” encerra a trilogia de obras dedicadas a Macau, composta por “Floriram por engano as rosas bravas” e “Palavras Nómadas”

 

Foram dez anos que se traduziram em muitas palavras. Tantas, que deram três livros, “Floriram por engano as rosas bravas”, com clara referência a Camilo Pessanha; “Palavras Nómadas” e, agora, “Flores de Cinza”. O novo livro de poesia de Dora Nunes Gago, docente e ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau (UM), remete ainda para a Macau que perdura na sua memória e que, por isso, se traduz em palavras.

Com a chancela da Húmus, o livro acaba de sair em Portugal, resultando dos “muitos poemas” escritos por Dora Nunes Gago no período em que esteve em Macau, experiência que a transformou numa autora publicada e premiada.

Escrever poesia nesses anos de docência e vivência a Oriente acabou por ser a forma encontrada para lidar com rebuliços de Macau e as suas dinâmicas. “Talvez por ser um registo mais breve, uma forma de captar instantes, de os cristalizar, no meio de todo o bulício e surpresas de que Macau se veste. A Maria Ondina Braga referia na obra “Estátua de Sal”, escrita em Macau, por volta de 1963, que Macau é ‘terra de sono e poesia’. De sono não sei bem, sendo uma cidade que não dorme, mas de poesia, penso que será”, contou ao HM.

“Flores de Cinza” chama-se assim porque foi buscar inspiração a um poema de Natália Correia: “(…) Jovens alheios à pulcritude do corpo em festa / Passam por mim como alamedas de ciprestes / E a flor de cinza da juventude é uma aresta / Que me golpeia abrindo vácuos de flores silvestres (…) / a galope num sonho com espuma nos dentes.”

Dora Nunes Gago seleccionou os “poemas sobreviventes” dos restantes dois títulos da trilogia. “Houve os que se perderam, entre mudanças, viagens, blocos e cadernos perdidos.” Tal como todo o rebuliço próprio de Macau.

Em “Flores de Cinza”, o território “é representado pelos rituais, as épocas simbólicas como o Ano Novo Chinês, que é aquele tempo festivo em que parece que o mundo renasce e se inventa”. Há também elementos que se transformam em poesia como os dumplings, os templos, a ilha de Hengqin, onde a autora viveu nos tempos em que deu aulas na UM.

“O território está presente nas imagens, mas também na solidão e no silêncio que habita os poemas, todos eles curtíssimos. Neste livro, a minha obsessão pela síntese culminou”, descreve.

Cada livro, uma mensagem

Há poemas que falam por si só, outros que necessitam de ser explicados. E falando da trilogia que escreveu nos últimos anos, Dora Nunes Gago remete para o primeiro, onde se vai buscar o Simbolismo de Pessanha e onde se denota “o primeiro olhar sobre a Ásia e sobre Macau”.

Aqui, não existe poesia, mas sim 24 contos, “muitos deles inspirados em histórias presenciadas, ouvidas ou lidas em jornais”. Já o premiado “Palavras Nómadas”, vencedor do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, no ano passado, contém 50 crónicas. “Foi o modo de achar um fio condutor para unir várias experiências e aprendizagens que teceram um fio condutor para a minha vida.”

Eis que, no último livro da trilogia, se reúnem 55 poemas, organizados em três partes, nomeadamente “exílios, permanências e regressos”. São “uma síntese de todo o meu percurso”, destaca. “Flores de Cinza” é “talvez o livro mais autobiográfico dos três, pois enraíza-se em múltiplos sentimentos, numa espécie de instantâneos que configuraram os meus dias”, destaca a autora.

Do prefácio, da autoria de Maria João Cantinho, lê-se que o primeiro da trilogia, “Floriram por engano as rosas bravas” é “um livro de contos breves, cujo título foi tomado de empréstimo a um belíssimo verso (e um poema) do melancólico Camilo Pessanha, em Clepsidra”. Enquanto “Palavras Nómadas” reúne crónicas que nascem “da sua vivência em Macau, bem como da sua vertente de viajante e aventureira, como precisou Onésimo Teotónio Almeida, de forma muito elogiosa”. Por sua vez, no terceiro, Dora Gago “muda o registo e encontramo-nos diante de uma escrita poética e sensível, construída por poemas breves”, lê-se.

Maria João Cantinho entende ainda que o poema “Destino” é um dos mais belos em “Flores de Cinza”: “Na louca corrida / do galgo abandonado / solitário de existir, lamber as feridas da morte / na pele do poema.”

Aqui, descreve-se “a escrita poética é apresentada como vertigem (‘na louca corrida’) movida por um impulso alegórico, em que a presença da morte emerge”, onde “o destino é certamente essa corrida desvairada em que a morte ronda os vivos e só o poema pode salvar ou redimir aqueles”, considera Maria João Cantinho.

Para esta, “a escrita de Dora Nunes Gago contém uma dimensão reflexiva, abordando temas como a criação ou a passagem do tempo, entre muitos outros, e recorrendo a uma linguagem rica, tanto vocabular, como ao nível prosódico, na busca de efeitos que acentuem a tensão do poema”.

“Exílios”, a primeira parte da obra, arranca com “Início”, nome simples para um poema curto: “Sigo as pegadas da memória / inscritas na areia do tempo / e sou navio / ancorado sem leme / nem alento”. Talvez marcado pela saudade e pela distância, encontramos “Ausência”: “Dançam cinzas solenes / silvando sopros de saudade, / céus / soletrados / no sangue / da solidão.”

E como este livro é feito de idas e vindas, a obra termina com “Retorno”, como se de uma linha do tempo se tratasse: “Regressar a casa / tatuar montes e vales / na retina, / regar as flores de cinza / renascidas / nas frestas pedregosas / da esperança.”

Dora Nunes Gago é natural de São Brás de Alportel e actualmente é docente no Instituto Politécnico de Setúbal. Sobre “Palavras Nómadas”, o júri do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, concedido pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), considerou tratar-se de uma “obra de variadas e ricas observações concernentes aos lugares por onde transcorrem as viagens relatadas, com descrições de grande vivacidade sensorial, a que não falta o olhar íntimo sobre os lugares e as gentes, bem como a capacidade de captação do que se tem vindo a designar como ‘génie du lieu’”.

“Numa prosa de grande fluidez, eivada de reflexões onde se cruzam percepções, memórias, cultura, literatura e história, a autora logra suscitar uma leitura aderente desde as primeiras páginas, cujo ritmo e interesse sabe manter ao longo da considerável extensão da obra”, referiu o mesmo júri.

9 Abr 2025

Incêndios | Menos 15 por cento de ocorrências

Nos primeiros três meses do ano registou-se uma diminuição geral das ocorrências que implicaram a intervenção do Corpo de Bombeiros. Ainda assim, as autoridades foram chamadas a intervir em 13.207 casos

 

Nos primeiros três meses do ano o número de incêndios registados pelo Corpo de Bombeiros (CB) apresentou uma redução de 15,35 por cento com 215 ocorrências, em comparação com o período homólogo. Os números do primeiro trimestre do ano foram apresentados ontem, em conferência de imprensa.

De acordo com os dados oficiais, entre Janeiro e Março deste ano houve menos 39 incêndios em comparação com o período homólogo, quando o número de incêndios tinha sido de 254 ocorrências. Entre os 215 fogos, 155 foram extintos sem necessidade de recorrer à utilização de mangueiras. No ano passado, o número de incêndio extintos sem necessidade de ligar as mangueiras tinha sido de 204.

Em relação aos incêndios dos primeiros meses deste ano, 35 fogos ficaram a dever-se a situações de comida queimada. No ano passado, este tipo de ocorrências tinha contribuído para 61 casos.

Entre as outras causas de ocorrências de incêndios, constam o esquecimento de fogões ligados, chamas que não ficam totalmente extintas, a queima de incensos, velas e papéis votivos, curtos-circuitos em instalações eléctricas e falhas mecânicas.

Apesar da redução dos incêndios, no primeiro semestre registaram-se várias ocorrências em prédios residenciais que causaram pelo menos cinco feridos. Os números mostram que o total geral de ocorrências em que o Corpo de Bombeiros teve de intervir apresentou uma redução de 6,32 por cento, de 14.098 casos para 13.207 casos.

Menos ambulâncias

Em relação aos dados sobre as saídas de ambulâncias houve uma redução dos casos de 3,1 por cento para 11.406 ocorrências, que exigiram a utilização de 12.221 veículos, uma redução de 3,43 por cento. No período homólogo, registaram-se 11.774 ocorrências que exigiram a saída de 12.655 veículos de emergência. Sobre esta diferença, o Corpo de Bombeiros indicou que se deveu “principalmente à redução dos casos de leve indisposição da febre e dificuldades de respiração”. “Os casos gerais de socorro lidaram essencialmente com tonturas, dores abdominais, dificuldades de respiração, vómitos, febres e vários tipos de ferimentos”, foi acrescentado.

Também nas operações de salvamento houve uma redução, de 3,3 por cento, de 454 casos para 439 casos.
Finalmente, no que diz respeito aos serviços especiais, apurou-se uma redução de 29,01 por cento, de 1.616 casos para 1.144 casos, uma diferença de 29,21 por cento.

9 Abr 2025

AMCM | Central de Depósito e Liquidação de Valores Mobiliários perde 7,18 milhões

A Central de Depósito e Liquidação de Valores Mobiliários de Macau, controlada a 100 por cento pela RAEM, continua a registar prejuízos sucessivos. Desde 2022, a empresa criada para diversificar a economia de Macau nunca apresentou lucros

 

A empresa Central de Depósito e Liquidação de Valores Mobiliários de Macau (MCSD, na sigla em inglês) registou prejuízos de 7,18 milhões de patacas no ano passado. Este é o segundo ano consecutivo com perdas da empresa controlada a 100 por cento pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM), que tinha apresentado perdas de 6,7 milhões de patacas no ano anterior.

Criada em 2021, a MCSD surgiu no âmbito da política do Governo de Ho Iat Seng para diversificar a economia na área das finanças e tem como funções a exploração das infra-estruturas financeiras, de serviços de registo central, compensação, liquidação e de depósito de valores mobiliários. No âmbito destas funções, a MCSD tem prestado apoio ao mercado de empréstimos obrigacionistas.

No entanto, os números da empresa teimam em continuar a apresentar prejuízos. No primeiro ano completo de operações, em 2022, a empresa que tem um capital social de 50 milhões de patacas, apresentou prejuízos de 3,9 milhões de patacas. No ano seguinte, os prejuízos subiram para 6,7 milhões de patacas e os dados mais recentes mostram um novo recorde negativo de 7,18 milhões de patacas.

Mais receitas e despesas

Apesar do cenário negativo, as receitas originadas por contratos com participantes no mercado financeiro de Macau até registaram um aumento. Actualmente, no portal da MCSD, surgem registadas como “participantes” cerca de 90 entidades. Em 2024, as receitas derivadas dos contratos de participação subiram para 2,9 milhões de patacas, quando no ano anterior tinham sido de cerca de 966 mil patacas.

Em termos das restantes receitas do ano passado, foi apurado um 1 milhão de patacas em juros, com os outros serviços a geraram 11.300 patacas e os ganhos com câmbios a gerarem 721 patacas.

Em termos das despesas houve igualmente um aumento para 11,2 milhões de patacas em 2024, face aos 9,2 milhões de patacas de 2023.

O custo mais elevado foi para as remunerações dos trabalhadores que subiram de 3,1 milhões de patacas para 4,6 milhões de patacas. Para este aumento contribuiu o recrutamento de cinco funcionários, totalizando 13 trabalhadores no fim de 2024. A outra grande despesa deveu-se ao pagamento dos serviços de correio telecomunicações que foi de 3,2 milhões de patacas, abaixo do custo de 3,3 milhões do ano anterior.

9 Abr 2025

Consumo | Índice de confiança com resultados ambíguos

O índice de confiança dos consumidores subiu ligeiramente durante o terceiro trimestre, mantendo-se ainda assim perto de terreno negativo. Um inquérito, elaborado pela MUST, demonstra o aumento da confiança na compra de casa e investimentos financeiros, mas uma quebra da confiança na economia local, emprego, preços e evolução do nível de vida

 

A Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na siga inglesa) publicou na segunda-feira o mais recente índice de confiança dos consumidores relativo aos primeiros três meses deste ano, revelando uma ligeira subida da crença da população em relação ao panorama económico de Macau.

O inquérito realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável da MUST tem por base a análise a seis categorias: “nível de preços”, “compra de habitação”, “nível de vida”, “emprego”, “investimentos” e “economia local”. Das seis categorias, duas registaram subidas e quatro descidas.

De acordo com um comunicado emitido pela equipa que realizou o inquérito, o índice geral aumentou 0,85 por cento face ao trimestre anterior, situando-se, numa escala entre 0 e 200, em 103,82 pontos, atingindo o quarto trimestre seguido de subida do índice geral.

Tendo em conta os resultados gerais, os académicos consideram que a confiança geral dos consumidores de Macau está numa fase de estabilidade. Refira-se que nos últimos três meses de 2024, o índice geral subiu 2,54 por cento face ao trimestre anterior.

Ponto por ponto

Entre as seis áreas analisadas, duas registaram subidas de confiança no primeiro trimestre de 2025. A confiança no mercado accionista e em investimentos financeiros subiu 16,7 por cento, para 112,37 pontos, registando a maior flutuação. Também a confiança na compra de habitação subiu 2,4 por cento, entrando em terreno positivo (100,22 pontos), depois de já ter aumentado 6,5 por cento nos últimos três meses do ano passado, acompanhando a descidas dos preços da habitação.

No campo negativo, a maior descida aconteceu no capítulo da confiança na economia local, que caiu 3,14 por cento para a fronteira da falta de confiança, com 100,61 pontos, quase repetindo a queda registada nos últimos três meses de 2024 (3,13 por cento) e somando o terceiro trimestre consecutivo em quebra.

Também a confiança em relação preços caiu 2,32 por cento para terreno negativo (98 pontos), depois de no último trimestre de 2024 ter subido 6,38 por cento para a neutralidade (100.35).

A confiança no nível de vida passou a ocupar o segundo lugar do pódio, apesar da descida trimestral de 0,2 por cento para 108,3 pontos. Também a confiança no mercado de trabalho desceu 0,76 por cento para 103,39 pontos.

A equipa da MUST destacou o facto de a confiança na economia local estar a cair há três trimestre seguidos, o que considera ser um sinal de alerta para factores riscos no ambiente económico. Os académicos destacam também o fraco crescimento da economia global enquanto influência nos resultados do inquérito, que foi realizado antes da imposição à escala global de tarifas comerciais pela Administração de Donald Trump.

9 Abr 2025

Habitação | Pedido apoio para quem está em lista de espera

Em plena pré-campanha eleitoral, Nick Lei tem insistido no tema da habitação. O deputado divulgou ontem uma interpelação escrita onde pede o retorno do subsídio para quem espera por uma fracção de habitação social, e a redução do tempo de espera pela entrega de uma casa

 

A mais de três meses do início da campanha para as próximas eleições que vão seleccionar o elenco futuro da Assembleia Legislativa, Nick Lei parece ter escolhido uma das suas prioridades: a habitação pública.

Depois de na segunda-feira, o deputado ligado à comunidade de Fujian ter divulgado uma resposta do Instituto de Habitação a uma interpelação escrita sobre habitação económica, ontem foi a vez de endereçar a habitação social.

Nick Lei insiste no retorno do subsídio para ajudar a pagar a renda a candidatos que esperam por uma fracção. O chamado “abono de residência” foi criado no segundo mandato de Edmund Ho na liderança do Governo, para ajudar famílias que cumpriam os critérios de acesso a uma habitação social, mas que se encontravam em lista de espera, por não existir apartamentos disponíveis.

Na última ronda do apoio, em 2022, o valor do subsídio era de 1.650 patacas por mês, para agregados com um ou dois membros, e de 2.500 patacas por mês, para agregados familiares com mais de duas pessoas.

O deputado reconhece que num futuro próximo, a oferta de habitação social poderá satisfazer a procura. Mas, para já, há quem espere por uma fracção há mais de dois anos e meio.

“Importa realçar que as famílias que esperam por habitação social são todas compostas por residentes desfavorecidos economicamente. Apesar de o Governo ter garantido que a espera por uma fracção foi reduzida para um ano, depois da implementação do mecanismo de candidatura permanente, isso continua a não reflectir a espera real entre os vários tipos de tipologia de apartamentos”, afirmou o deputado.

Mais vale sós

Nick Lei dá o exemplo das candidaturas a apartamentos T1 de habitação social, que largamente excedem a oferta. Mas admite que os blocos deste tipo de habitação pública na Zona A dos Novos Aterros, que devem estar concluídos entre 2026 e 2027, podem ajudar a solucionar a situação, oferecendo cerca de 4.088 apartamentos, dos quais 3.276 são T1. Além disso, também o complexo de habitação social da Avenida Venceslau de Morais, o Edifício Mong Son irá ajudar a colmatar as lacunas do lado da oferta. Este prédio é composto por três blocos, com 24 a 35 pisos, três pisos em cave, disponibilizando 885 fracções de tipologia T1 e 705 fracções de tipologia T2, num total de 1.590 fracções de habitação social.

O deputado defende que a pressão financeira provocada pelo mercado de arrendamento afecta seriamente as famílias mais pobres, principalmente face à subida anual de 3,9 por cento das médias das rendas no ano passado.

Outra das exigências do deputado, prende-se com a garantia máxima que o Governo deu de quatro anos, entre o momento em que uma candidatura a habitação social é aceite e a entrega de uma casa. Nick Lei gostaria que este período de garantia fosse reduzido.

9 Abr 2025

LAG 2025 | Cheques, economia e Grande Baía devem ser apostas de Sam Hou Fai

As Linhas de Acção Governativa para este ano são apresentadas na segunda-feira, marcando a estreia de Sam Hou Fai num dos mais aguardados momentos do calendário político local. As receitas do jogo e previsões económicas devem estar em cima da mesa, segundo José Sales Marques e Lou Shenghua. O futuro dos cheques pecuniários poderá ser outro assunto a ter em atenção

 

Sam Hou Fai está há quase cinco meses no Governo e prepara-se para apresentar, na próxima segunda-feira, o seu primeiro relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. As grandes expectativas costumam residir nos montantes dos cheques pecuniários, os valores atribuídos em apoios sociais e demais previsões orçamentais, sobretudo depois de o território atravessou um duro período económico com a covid-19.

As LAG 2025 deverão centrar-se nesses temas, e na integração de Macau nos vários projectos de cooperação a nível regional, como a ilha de Hengqin ou a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Cumprindo a tradição anual da política local, Sam Hou Fai fez a habitual ronda de auscultações às associações locais, a fim de saber as suas opiniões sobre as principais medidas a tomar.

Ouvido pelo HM, o economista José Sales Marques espera clareza nas políticas anunciadas a nível económico. “Gostaria de ver estas LAG trazerem maior claridade quanto a políticas económicas e a visão para o futuro da RAEM. Falo de medidas de carácter estrutural, que estimulem a confiança do investidor privado, e que concretizem também as tais reformas da administração pública para aumentar a eficiência e eficácia”, destacou.

Sales Marques disse ainda que “gostaria de ver claramente formuladas as posições e prioridades de Macau no seu relacionamento com países e regiões do mundo, incluindo medidas que levem a aprofundar o papel de Plataforma Sino-Lusófona e de base de diálogo multicultural”.

Lou Shenghua, analista político e docente da Universidade Politécnica de Macau (UPM), disse que as principais ideias apresentadas estarão de acordo com aquilo que Sam Hou Fai apresentou no programa eleitoral. “A tónica poderá ser colocada na melhoria da eficácia da governação, na diversificação económica moderada, na construção da Zona de Cooperação de Hengqin e nas questões relacionadas com os meios de subsistência das pessoas”, disse o analista, frisando que “os cidadãos poderão estar mais preocupados com as questões relacionadas com os meios de subsistência”.

E que programa apresentou Sam Hou Fai em Setembro do ano passado, quando se vislumbrou que seria o único candidato ao cargo de Chefe do Executivo? Um programa que tem como “objectivo máximo satisfazer as expectativas dos cidadãos por uma vida melhor” e a “orientação fundamental de implementar o princípio ‘um país, dois sistemas’ de forma plena, correcta e firme”. Não foi esquecida a importância da segurança nacional, referindo-se a necessidade de defesa “da soberania, segurança e interesses do desenvolvimento do país”. Sobre a RAEM, Sam Hou Fai disse querer erguer um “Macau alicerçado no Estado de Direito, dinâmico, cultural e feliz”.

O então candidato único a chefiar o Governo prometeu melhorar a capacidade governativa da administração local. “Empenhar-nos-emos na elevação da capacidade e do nível de governação da RAEM, na mudança dos conceitos de governação, na optimização da forma de governação, na persistência de governação de Macau em conformidade com a lei, e no aprofundamento da reforma da Administração Pública e do sistema jurídico”.

Assim, disse “optimizar as formas de governação, dar maior importância ao papel dos órgãos consultivos, dos especialistas e académicos, e das associações de amor à pátria e a Macau, auscultar amplamente as opiniões e sugestões dos diversos sectores, dos diferentes ramos de indústria e das diversas camadas sociais”. Resta saber o se as LAG vão trazer estes aspectos latos para o campo das acções e medidas concretas.

Cheque mate

Na segunda-feira, a agenda prossegue como habitual na apresentação de um relatório das LAG. Primeiro Sam Hou Fai irá à Assembleia Legislativa, a partir das 15h, fazer uma apresentação geral aos deputados das questões políticas e orçamentais essenciais para este ano, seguindo-se uma conferência de imprensa.

No dia seguinte, é dia de debate no hemiciclo sobre o mesmo relatório, seguindo-se depois os debates sectoriais com todos os secretários até ao dia 30 deste mês.

Um dos temas políticos que têm estado na ordem dia é o valor dos cheques pecuniários e se estes deixam, ou não, de ser atribuídos a residentes que vivem fora de Macau. Há analistas a defender a reformulação do programa, mas Sales Marques recorda que “o valor previsto para os cheques pecuniários na discussão do orçamento para 2025 é de 10 mil patacas para residentes permanentes”.

“As receitas orçamentais previstas tiveram por base de cálculo uma previsão de receita bruta de jogo de 240 mil milhões de patacas à média de 20 mil milhões por mês. Acontece que as receitas efectivas obtidas até ao fim do primeiro trimestre do corrente ano ficaram aquém das previstas, com um desvio de menos cerca de quatro mil milhões de patacas. O Governo da RAEM já anunciou pela voz do secretário para a Economia que as receitas fiscais inscritas no orçamento em vigor podem não ser atingidas.”

Tendo em conta estas previsões menos optimistas, referidas, aliás, pelo próprio secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, na última semana, Sales Marques acredita que, a haver ajustamentos nos cheques, serão “pequenos”. “Quanto ao método de distribuição, prevejo que continue a ser o mesmo”, rematou.

Já Lou Shenghua acredita que “o plano de comparticipação pecuniária pode sofrer alterações”. “Em termos de montante, é provável que se mantenha o valor de dez mil patacas por residente, mas quanto à forma, poderá ser atribuído em vales de consumo”, referiu.

No passado dia 1, o secretário Tai Kin Ip afirmou que as contas orçamentais estão ainda aquém do esperado. “Reparámos que nos primeiros três meses de 2025 as receitas brutas dos jogos atingiram 57,66 mil milhões de patacas, permanecendo o valor praticamente inalterado em termos anuais, não alcançando ainda a esperada média mensal de 20 mil milhões de patacas”.

Assim, foi deixado o alerta de que “as receitas financeiras do corrente ano poderão não ser tão optimistas como o previsto”, sendo necessário “estudar seriamente a futura situação económica e persistir na gestão dos recursos financeiros com prudência”.

Jogo e outras histórias

Relativamente ao sector do jogo, que continua a ter um peso predominante na economia, Sam Hou Fai confirmou há sensivelmente um mês que as concessionárias e os casinos-satélite têm até ao final do ano que preparar a transição para um modelo de exploração sem subconcessões. Ficará nas “mãos” das concessionárias decidir se vão ou não explorar estes casinos directamente.

Para Sales Marques, esse dossier “preocupa diversos sectores da sociedade, não só pela questão do emprego dos seus trabalhadores, mas também pela repercussão que terá o seu encerramento nas zonas da cidade onde se encontram, sobretudo no comércio a retalho e na restauração, pequeno comércio em geral”.

Assim, “será prudente evitar grandes choques na conjuntura actual”. “Tudo se fará para regularizar essas unidades nos termos da lei em vigor, sem provocar o seu encerramento imediato”, acrescentou.

Já Lou Shenghua espera “haver espaço para negociação sobre a distribuição das receitas entre os casinos-satélite e as concessionárias”.

Apesar das preocupações que residem no desemprego destas pessoas, Sam Hou Fai adiantou em Março, à TDM, que podem ser afastados esses receios. “Sei que os trabalhadores dos casinos-satélite estão distribuídos pelas empresas de jogo, portanto as operadoras têm a responsabilidade de os absorver ou de ter planos para estes trabalhadores”, frisou.

Leis para que te quero

Tendo em conta o historial de Sam Hou Fai na justiça, pois presidiu ao Tribunal de Última Instância desde o estabelecimento da RAEM, podem esperar-se algumas medidas novas na área do Direito.

Sales Marques deposita a expectativas na criação de novos regulamentos “que sejam mais facilitadores ao funcionamento da economia”, bem “mais favoráveis ao ambiente competitivo de negócios desta região da Grande Baía, nomeadamente quanto à contratação de recursos humanos qualificados, condições oferecidas à sua estadia e o das suas famílias e regulamentos administrativos menos burocráticos”.

Lou Shenghua acredita que este poderá, de facto, “prestar mais atenção à reforma jurídica”, embora esta “deva estar em conformidade com as políticas governamentais e acompanhar o ritmo dos tempos, não devendo ser reformada só porque sim”, salientou.

9 Abr 2025

Jogo | Acções das concessionárias com quebras acentuadas

As acções da SJM registaram a maior desvalorização, com uma perda de valor de 17,62 por cento. Contabilizado o dia de ontem, desde o início do ano que as empresas cotadas na Bolsa de Hong Kong estão a perder valor

 

As acções das concessionárias do jogo na Bolsa de Hong Kong registaram fortes quebras, seguindo a tendência dos mercados mundiais, depois do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter decidido impor novas tarifas aos produtos importados pelo país americano.

No dia de ontem, o índice Hang Seng, o principal da Bolsa de Hong Kong, apresentou uma quebra de 13,62 por cento, e as concessionárias de Macau seguiram a tendência, com perdas semelhantes.

Em termos relativos, a SJM foi a empresa com a maior desvalorização, com o preço das acções a cair 17,62 por cento. Na altura da abertura do mercado, cada acção estava avaliada em 2,44 dólares de Hong Kong, mas à hora do fecho o valor tinha caído para 2,01 dólares de Hong Kong por acção.

A Melco International Development apresentou a segunda maior diminuição, com uma queda de 16,07 por cento para 3,29 dólares de Hong Kong por acção. Na abertura do mercado os títulos estavam avaliados em 3,65 dólares de Hong Kong por acção.

O pódio da desvalorização foi completado pela Sands China, que explora o casino The Venetian. As acções da empresa desvalorizaram 14,63 por cento de 14,5 dólares de Hong Kong para 13,4 dólares de Hong Kong.

Quanto à Galaxy, a redução de valor foi de 13,27 por cento, de 27,9 dólares de Hong Kong para 26,15 dólares de Hong Kong por acção. A concessionária Wynn Macau teve uma redução de valor de 13,02 por cento, de 5,13 dólares para 4,81 dólares. Por último, naquela que foi a desvalorização menos acentuada, as acções da MGM China caíram 12,18 por cento, de 9,5 dólares de Hong Kong para 4,81 dólares.

Tendência negativa

Apesar de em ritmo mais acelerado no dia de ontem, desde o início do ano que as acções das concessionárias estão em queda, no que tem sido uma tendência contrária à do índice Hang Seng, que apesar do descalabro de ontem está a valorizar 1,04 por cento desde o início do ano.

A concessionária mais afectada pela perda de valor é a Sands China, que desde o início do ano desvalorizou 28,5 por cento, de 18,6 dólares de Hong Kong por acção para 13,3 dólares. A nível das perdas segue-se a Melco com uma desvalorização de 23,3 por cento, de 4,3 dólares para 3,3 dólares de Hong Kong por acção. A Galaxy, com uma quebra de 18,6 por cento de 32,2 dólares para 26,2 dólares também está no pódio.

Por sua vez, a MGM China viu, desde o início do ano, o valor das acções cair 17,4 por cento, de 10,9 dólares para 9,0 dólares de Hong Kong, enquanto a SJM Holdings teve uma quebra de 16,7 por cento de 2,4 dólares por acção para 2,0 dólares de Hong Kong., A Wynn Macau teve uma redução de 15,8 por cento, de 5,7 dólares para 4,8 dólares de Hong Kong.

7 Abr 2025

Habitação | Centaline avisa que preços vão cair até 20 por cento

A agência imobiliária traça um cenário negativo do mercado imobiliário, que afecta o preço das habitações, mas também as rendas das lojas. Segundo a empresa, após anos em negação, os senhorios de lojas começam a perceber que vão perder dinheiro

 

A agência imobiliária Centaline prevê que os preços da habitação apresentem quebrad de 10 a 20 por cento ao longo do ano. A previsão consta do mais recente relatório da agência sobre o mercado do imobiliário local, publicado no final da semana passada, e que aponta que o sector atravessa uma “idade do gelo”.

“O mercado imobiliário de Macau está a atravessar uma fase de desenvolvimento em forma de ‘U’, pelo que se espera que a pressão para reduzir os preços da habitação se prolongue”, é referido. “Os preços da habitação vão atravessar uma nova vaga de quebras entre 10 e 20 por cento”, foi acrescentado.

Ao referir a forma de “U”, a Centaline prevê que a queda seja seguida de um período de crescimento, após uma fase de estagnação. No entanto, é necessário atingir o fundo. E esse momento é difícil de prever: “A dimensão da queda vai depender de vários factores, incluindo o ritmo da redução dos juros nos Estados Unidos, assim como das políticas de auxílio ao mercado”, foi explicado.

Com base nesta tendência, a agência admite que se vive uma “idade do gelo”: “O mercado imobiliário entrou na idade do gelo, com os preços da habitação e o volume de transacções a caírem”, foi escrito. “No segundo trimestre, as nossas estimativas apontam para que o volume das transacções seja de cerca de 200 transacções por mês”, foi previsto.

Acordar para a realidade

Em relação ao mercado de arrendamento de lojas, a situação não é muito diferente, e a Centaline indica que os proprietários das lojas vão ter de aceitar a nova realidade, e possivelmente desfazer-se das lojas. “No ano passado, muitos dos investidores ainda acreditavam que a queda do preço das rendas se devia à pandemia ou ao aumento das taxas de juro. Acreditavam que tudo ia voltar à ‘normalidade’, pelo que preferiam pagar os juros [das hipotecas] e manter a aposta nos seus investimentos”, foi explicado.
“Recentemente, começaram a aperceber-se que os dias dos bons de investimentos nas lojas chegaram ao fim, o sector da venda a retalho sofreu uma transformação e a dependência das lojas físicas diminuiu consideravelmente. Por isso, o valor das lojas está a diminuir gradualmente. No caso de segurarem os seus investimentos, muito dificilmente vão obter bons resultados”, foi acrescentado.

A Centaline traça assim um cenário a duas velocidades. Nas zonas mais centrais para o turismo, admite que houve perto de 20 arrendamentos em que o valor da renda ficou acima das 100 mil patacas. No entanto, nos bairros comunitários a situação é muito diferente, principalmente ao nível das lojas no NAPE ou Horta e Costa.

7 Abr 2025

Habitação económica | Candidatura permanente volta a ser afastada

Com a atenção focada nos concursos para habitação económica lançados e 2019, 2021 e 2023, o Instituto de Habitação afasta a hipótese permitir candidaturas permanentes. Em relação aos cinco projectos habitacionais suspensos na Zona A dos Novos Aterros, o Governo continua sem planos de construção

 

O Instituto de Habitação (IH) está concentrado “nos trabalhos de apreciação e atribuição das candidaturas à habitação económica de 2019, 2021 e 2023”. Como tal, não está a ser ponderada, a curto prazo, a candidatura permanente à habitação económica, uma vez que é necessário considerar, de forma abrangente, as mudanças sociais e outros factores”, indicou o presidente do IH, Iam Lei Leng, em resposta a uma interpelação escrita de Nick Lei.

O deputado ligado à comunidade de Fujian tem insistido na reforma das políticas de habitação, em particular na sua flexibilização. Nick Lei salientou que não existe na lei um mecanismo que permita a troca das fracções habitacionais, situação que penaliza os candidatos individuais que não podem mudar de casa mesmo se ao longo do concurso casarem ou tiverem filhos. Também sobre a possibilidade de mudar casa, Iam Lei Leng não avançou uma posição concreta, limitando-se a responder que o Governo irá optimizar as políticas de habitação e que para isso lançou um estudo sobre a viabilidade do regime de troca de habitação económica. O deputado perguntou quando estaria concluído o referido estudo e se os seus resultados vão ser divulgados, mas o presidente do IH não respondeu.

Boa zona

Há sensivelmente um ano, o então secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, revelou na Assembleia Legislativa que o Governo iria suspender a construção de seis complexos residenciais de habitação económica na Zona A dos Novos Aterros, que iriam acrescentar 5.700 apartamentos ao parque habitacional da cidade. Refira-se que Raimundo do Rosário revelou a suspensão em resposta a uma interpelação oral de Nick Lei.

Um ano depois, o deputado voltou a interrogar o Governo sobre projectos de construção e desenvolvimento. O presidente do IH respondeu que, “tendo em conta a situação das candidaturas à habitação económica verificada nos últimos dois concursos, o Governo da RAEM, após avaliação, decidiu suspender o desenvolvimento dos projectos de habitação económica nos Lotes A13, B13, B14, B15 e B16, não havendo, por enquanto, novos planos”.

7 Abr 2025

Segurança nacional | Governo quer rever leis sobre associações

O Executivo de Sam Hou Fai pretende apoiar o desenvolvimento de associações patrióticas e rever as leis que regulam a gestão associativa consoante as exigências inerentes à segurança nacional. As reformas irão seguir “o importante espírito condutor do Presidente Xi Jinping”

 

O Governo vai “rever e optimizar” as leis que regulam as associações, de forma a aperfeiçoar a gestão e “orientar a sua construção”, “consoante as exigências inerentes à perspectiva geral de segurança nacional e as necessidades reais para o desenvolvimento social de Macau”. O compromisso de actualizar a legislação relativa à vida associativa em Macau para acautelar a segurança nacional foi assumido pela directora do Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), Ng Wai Han, em resposta a uma interpelação escrita de Lei Chan U.

A intenção do Executivo de Sam Hou Fai é a promoção do associativismo patriótico enquanto pilar essencial da governação de base. “O presente mandato do Governo irá apoiar o desenvolvimento crescente das associações que amam a pátria e Macau na governação de base, aperfeiçoar a rede de trabalhos comunitários, consolidar e expandir a adesão dos residentes”, e “expandir os serviços públicos prestados pelo Governo da RAEM para a camada social de base”. Ng Wai Han acrescenta ainda que o Executivo pretende “coordenar a participação das associações que amam a pátria e Macau na construção comunitária e prestar-lhes ajuda para potenciar as suas contribuições na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin”.

Espírito do amor

A directora dos SAFP garantiu também que o Governo pretende “discutir o estabelecimento dos critérios para a qualidade dos serviços sociais e a criação de um sistema de exame e avaliação”.

Na interpelação, o deputado ligado Federação das Associações dos Operários de Macau realçou a importância da governação de base a nível nacional. “Segundo as afirmações do Presidente Xi Jinping, um país é forte quando as suas bases são fortes e o mundo é seguro quando as suas bases são seguras”.

Face a esta linha de pensamento, a directora dos SAFP assegura que “o presente mandato do Governo irá assegurar de modo expedito o importante espírito condutor do Presidente Xi Jinping, atribuindo especial importância à comunicação e cooperação com as associações que amam a pátria e Macau”.

7 Abr 2025

Álvaro Barbosa, vice-reitor da Universidade de São José: “Visto de estudante é muito limitativo”

A Universidade de São José continua a saga de negociações com as autoridades chinesas para recrutar alunos do Interior da China. O vice-reitor Álvaro Barbosa espera, para breve, o aumento a quota de alunos de mestrado de 30 para 200. Quanto à internacionalização do ensino superior, o responsável defende mudanças nos vistos de estudante para facilitar o recrutamento

 

O recrutamento de alunos do Interior da China continua a ser uma questão pendente para a Universidade de São José?

É um processo que está em curso. Temos tido um apoio enorme do Governo de Macau nas negociações para a obtenção da quota para a nossa universidade, e eles têm sido incansáveis no esforço de tentar resolver as questões colocadas pelo Governo Central. Muitas das questões são legítimas e dizem respeito a preocupações que vão surgindo. Foi-nos concedido há cerca de quatro anos uma quota temporária de 30 alunos para mestrados durante um período probatório, que serviu para avaliar como nós, como universidade ocidental, iríamos acolher os alunos da China. Da parte da China, há essa preocupação com o acolhimento dos estudantes em Macau. Acho que temos feito um esforço enorme e os alunos que estão lá, incluídos nesse contingente, estão bastante satisfeitos.

Essa quota é apenas para mestrados?

Sim. Para licenciatura não temos ainda autorização. Desta forma, estamos, neste momento, na fase em que tentamos ultrapassar este período probatório a fim de obtermos uma quota de cerca de 200 alunos para mestrados. Estamos na fase final do processo de avaliação e tudo tem corrido bem. Vamos ter a possibilidade de, no próximo ano lectivo, expandir essa quota. Isso seria óptimo, porque para a nossa universidade, para termos um maior impacto da nossa missão em Macau, é fundamental termos acesso a alunos da China continental. Não podemos ser uma universidade de uma região integrada num país como a China, e não ter contacto com alunos da China.

É mais difícil, para a USJ, competir com outras universidades, como as de Hong Kong, pelos alunos estrangeiros, de fora da China?

A questão do recrutamento dos alunos internacionais tornou-se uma prioridade para as universidades de Macau. Nos últimos dois ou três anos, tem-se tornado evidente que é muito importante essa internacionalização. Qual a dificuldade que existe nisso? Há a questão relacionada com os vistos de estudante, pois actualmente esses vistos não permitem que os alunos façam qualquer tipo de trabalho, negando-lhes esse mecanismo de subsistência local, mínimo, para poderem fazer face a despesas. Também não se contempla a possibilidade de, quando o aluno conclui a sua formação, poder ficar no território e encontrar trabalho. O que todos os países e regiões que são competitivos na área do ensino superior fazem, como Singapura, Hong Kong ou Austrália, é ter políticas de incentivo. Permitem que os alunos trabalhem em tempo parcial, por exemplo. Em Hong Kong quando se termina uma licenciatura o aluno pode ficar no território até um máximo de dois anos para encontrar emprego. Esse tipo de medidas não existe ainda em Macau, mas penso que o Governo está a ponderar essa possibilidade. A partir do momento em que foi tomada a decisão de que é importante a internacionalização do ensino superior, tal tem de ser acompanhado com as medidas correspondentes. O visto de estudante actual é extremamente limitativo e não incentiva a vinda para Macau para estudar, apenas permite a vinda. Essa questão não estava tão presente como está agora, mas agora há uma política estratégica de internacionalização.

É também uma questão de sobrevivência para as universidades locais.

Sim. Talvez não haja maior exemplo de catalisador da diversificação da economia de Macau do que o ensino superior. Temos dez instituições, 60 mil alunos em cerca de 700 mil habitantes. É esse o potencial da internacionalização, o de fomentar a diversificação.

E também a investigação que sai do ensino superior.

A investigação, a dinâmica do trabalho que se faz. Há uma série de vectores que o ensino superior traz a uma região ou país, isso aconteceu com Portugal, por exemplo, com a política das bolsas de doutoramento para estudantes do exterior, que mudou completamente a dinâmica do ensino superior. Cabo Verde desenvolveu-se graças ao impacto do ensino superior.

Falta, então, flexibilizar mais o sistema em Macau.

Não sei se é mais uma questão de ter uma visão holística da estratégia. Pode haver uma ideia, mas depois não se intervém em todas as dimensões necessárias para atingir um certo objectivo. Mas estou muito optimista. Acredito que essa nova política para estudantes é um passo chave a ser tomado em Macau. A estratégia de internacionalização seguida por todos esses países e regiões de que falei, e que foram bem-sucedidos na captação de estudantes internacionais, foi sempre a mesma. Não é preciso inventar muito. Primeiro, deve-se aumentar a capacidade e notoriedade das universidades, e depois é preciso uma política de bolsas de estudo, que vão potenciar um fluxo de alunos, criando uma referência para o território, para que estudar lá se torne um hábito. Depois de haver esse fluxo de estudantes durante uns anos, já se cria uma imagem e pode-se retirar algumas bolsas de estudo, que os alunos vão continuar a escolher determinado território para estudar na mesma. Austrália tem uma enorme indústria do ensino superior, por exemplo, e penso que em Macau só temos de seguir as mesmas estratégias. Fazemos, na USJ, um pouco isso.

Como, em termos concretos?

Oferecemos muitas bolsas, e nesse sentido a Diocese de Macau tem-nos ajudado a construir esse fluxo de alunos internacionais que permita criar essa dinâmica que, esperamos, venha a ser sustentável, por si só, no futuro. Acho que o Governo está também a fazer isso. Sempre houve bolsas de estudo em Macau, atribuídas sobretudo pela Fundação Macau, mas essa medida será fortalecida. Resolvendo a questão dos vistos dos estudantes, criando um sistema de incentivos de bolsas durante cinco a dez anos, Macau terá um futuro brilhante como destino de ensino superior internacional. Mas é preciso investir, continuar, e isso leva alguns anos.

A USJ criou a plataforma “Macau Hub”, em parceria com o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em 2023. Em que fase está esse projecto?

Esse projecto tem a ver com o nosso interesse em desenvolver uma dinâmica de relação dos países lusófonos centrados em Lisboa na área do empreendedorismo, em primeiro lugar. Esse gabinete que temos no CCCM não tem por objectivo oferecer formação em Portugal, mas queremos fazer outra coisa. Como estamos posicionados na Grande Baía e junto a Hengqin, onde se pretende activar um ecossistema empresarial, queremos aproveitar o facto de termos relações com o mundo lusófono para activar o acesso das startups de Portugal, Brasil e Angola, sobretudo, à Grande Baía e Hengqin. Estamos a tentar criar uma espécie de incubadora de empresas transnacional, em que apoiamos o desenvolvimento de negócios lusófonos que queiram estabelecer-se na Grande Baía e também o sistema inverso. Estrategicamente, para uma universidade, é absolutamente fundamental ter uma dinâmica na área do empreendorismo. Actualmente, mais de metade dos nossos alunos não querem ir para o mundo corporativo, mas criar os seus próprios negócios. Da mesma forma que as universidades têm de ter soluções de empregabilidade, também têm de as ter para os empreendedores, que são cada vez mais. Então, uma universidade tem de ter uma incubadora de negócios. A minha visão de futuro para o ensino superior passa por aí: uma universidade, além de ter uma biblioteca e cantina, terá também a sua própria incubadora de negócios. Diria que grande parte dos alunos dos cursos de gestão ou economia sonham ter o seu próprio negócio, sobretudo na China. A China é, talvez, um dos países mais empreendedores do mundo. O CCCM acolhe essa iniciativa em Portugal, mas trabalhamos também com a Universidade Católica Portuguesa.

E resultados concretos, já têm?

Temos uma série de pequenos projectos iniciais que estão a começar agora, e trabalhamos também com muitas organizações empresariais. Negociamos agora uma série de projectos, e penso que tudo se vai desenvolver muito rapidamente, com base nas manifestações de interesse que temos. Estivemos em Angola em Dezembro e já alinhámos uma série de iniciativas, também temos projectos com o Brasil e Portugal.

7 Abr 2025

Grande Prémio Consumo | Mais de 130 residentes desqualificados

Até ao dia 30 de Março, o Grande Prémio do Consumo gerou cerca 115 milhões de patacas em negócios. Segundo dados do Governo, até sábado tinham sido detectados 131 residentes envolvidos em transacções anormais, que acabaram por ser desqualificados da iniciativa destinada a estimular o consumo

 

Durante a primeira semana do Grande Prémio do Consumo, ou seja, até 30 de Março, “foram utilizados benefícios electrónicos no valor de mais de 23,6 milhões de patacas e desconto imediato para idosos no valor de cerca de 6,15 milhões de patacas”. Segundo dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), na primeira semana da iniciativa, que arrancou a 24 de Março, foi gerado consumo no valor de cerca de 115 milhões de patacas.

Apesar do crescimento do volume de negócios, uma das prováveis falhas no sistema previstas pelas autoridades veio a confirmar-se. Até ao passado sábado, foram identificados 131 utentes de instituições de pagamento e plataformas online de takeaway envolvidos em transacções anormais, que acabaram por ser “imediatamente desqualificados de participar nesta actividade”, não podendo participar nos sorteios de cupões de desconto ou de os usar, descreve a DSEDT.

As situações anómalas verificam-se quando os residentes obtêm oportunidades de sorteio com meios irregulares, depois de comprarem produtos num valor superior a 50 patacas na “plataforma de takeaway”.

As irregularidades foram descobertas através de um mecanismo de supervisão estabelecido em conjunto pela DSEDT e as instituições de pagamento e plataformas de takeaway, de forma a “garantir a justiça”.

Pontaria certeira

Mais de 20 mil estabelecimentos comerciais aderiram a esta edição do Grande Prémio do Consumo, aceitando os benefícios electrónicos e descontos imediatos para os idosos. A DSEDT acrescenta que mais de 120 destas lojas e restaurantes lançaram “em simultâneo, ofertas adicionais de consumo”.

Como a iniciativa tem o objectivo de estimular os negócios do pequeno comércio e restauração dos bairros comunitários, os descontos não podem ser utilizados para pagar contas de água, electricidade, gás natural, combustíveis, serviços de telecomunicações, transportes transfronteiriços, serviços médicos, serviços prestados por instituições públicas. Também não podem ser usados em casinos, bancos, seguradoras e outras instituições financeiras, casas de penhores, supermercados de grande escala, administração de propriedades, instituições de ensino, parques de estacionamento, táxis, parquímetros, e em produtos de máquinas de venda automática. A iniciativa irá decorrer até ao dia 1 de Junho.

7 Abr 2025

Aeroporto | Arrancou transporte de carga para Madrid

A primeira rota de carga de longo curso entre Macau e Madrid está a ser operada pela companhia Ethiopian Airlines, da Etiópia. O director para a China da empresa defende que Macau é “uma plataforma importante” para a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa

 

A primeira rota de carga de longo curso entre Macau e Madrid arrancou na quinta-feira, com um Boeing 777F operado pela Ethiopian Airlines, que levantou voo do Aeroporto Internacional de Macau (MIA).

A companhia aérea etíope efectuará duas viagens de ida e volta por semana, e os Boeing 777F transportarão principalmente mercadorias de comércio electrónico transfronteiriço, de acordo com uma nota da empresa gestora do MIA, a que a Lusa teve acesso.

“A nova rota irá melhorar ainda mais a rede de carga aérea entre a Ásia e a Europa, fornecendo um apoio logístico mais eficiente às exportações da Área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau (GBA), e impulsionando a competitividade logística” desta região, acrescenta-se na nota.

Segundo a gestora do MIA, Madrid é um dos principais centros logísticos da Europa, pelo que “a abertura desta nova rota irá satisfazer a crescente procura de carga aérea, ao mesmo tempo que reforça a conectividade entre a GBA e os mercados europeus”, esperando-se que os volumes de carga sejam “cada vez maiores”.

O director nacional para a China da Ethiopian Airlines, Aman Wole Gurmu, citado na nota, afirmou que Macau é “uma plataforma importante” para a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, pelo que o lançamento da nova rota irá reforçar esse papel, constituindo-se como um corredor logístico aéreo que ligará a Europa e a Ásia.

Preencher lacunas

“Esta nova rota não só preenche a lacuna no transporte de carga entre Macau e Espanha, mas também aproveita a rede local em Espanha para ligar Macau aos mercados em África e na América do Sul, formando uma rede logística triangular ‘Ásia-África-Europa’”, segundo Aman Wole Gurmu, ainda que a rede perseguida pareça ser “quadrangular”, atendendo à inclusão do continente americano na equação.

“Isto ajudará Macau a tornar-se um centro-chave para as exportações transfronteiriças de comércio electrónico e transporte de carga na área da Grande Baía”, acrescentou.

De acordo com a empresa gestora do MIA, assiste-se a um crescimento constante do negócio de carga nos últimos anos, com a procura de logística aérea a ser impulsionada pelo rápido aumento do comércio electrónico transfronteiriço, tendo o aeroporto de Macau estado envolvido num volume de transporte de carga na ordem das 108.000 toneladas em 2024.

7 Abr 2025

Emprego | Criticada aposta em licenciados de fora sem experiência

O deputado Ron Lam acusa o Governo de se ter desviado da intenção política de permitir às empresas locais a contratação de não-residentes com experiência e sucesso internacionais, e, em vez disso, estar a emitir autorizações de residência para jovens licenciados de fora sem currículo

 

O legislador Ron Lam atacou a política do Governo de permitir a importação como “talentos” de não residentes com formação académica, mas sem qualquer experiência profissional. A crítica surge numa interpelação escrita, em que o membro da Assembleia Legislativa indica que a política é incoerente, dado que se atravessa uma fase em que o desemprego de recém-licenciados está cada vez pior.

No documento divulgado ontem, Lam exige ao Governo que termine com o novo estatuto de autorizar a residência de recém-formados com notas elevadas, mas que sem qualquer experiência profissional.

Na perspectiva do deputado, estas autorizações de fixação de residência em Macau contrariam as políticas apresentadas pelo Governo, e que foram aprovadas na Assembleia Legislativa, que visavam a importação de mão-de-obra qualificada do exterior extremamente bem-sucedida profissionalmente nas suas áreas de actividade.

Ao mesmo tempo que se contrata no exterior, o deputado indica que os jovens licenciados atravessam uma fase muito complicada de entrada no mercado do trabalho, e que as pessoas de Macau que se licenciaram no exterior encontram igualmente um mercado de trabalho com muitos desafios, com dificuldades para encontrarem um emprego de longa duração.

Neste contexto, o deputado pergunta ao Executivo se vai eliminar o regime que permite a contratação de licenciados não-residentes sem experiência profissional.

A realidade dos números

Sobre o problema do desemprego entre os mais jovens, o deputado cita as estatísticas oficiais do ano passado para indicar que 47,1 por cento dos desempregados locais tinham como grau académico pelo menos uma licenciatura. E entre os desempregados com formação no ensino superior, 28,1 por cento tinha entre 25 e 34 anos.

“Os números mostram que em comparação com 2019, a situação do desemprego é mais grave. Muitos jovens e pessoas de meia-idade que têm formação académica ao nível do ensino superior disseram-nos que é cada vez mais difícil encontrar um emprego e que as empresas só querem trabalhadores não-residentes”, descreve Ron Lam.

O deputado escreve também que as várias feiras de emprego organizadas pela Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais oferecem empregos pouco atractivos, e que em muitos dos casos as vagas de emprego são “falsas”, não levando a contratações.

Lam critica ainda a forma como as estatísticas do desemprego são compiladas, indicando existirem discrepâncias entre os diferentes dados publicados, que em teoria deviam ser semelhantes. O deputado pede ao Governo que corrija este problema o mais rapidamente possível, para poder tomar medidas de emprego de acordo com a realidade do mercado local.

7 Abr 2025

Jiangxi | Sam Hou Fai quer estreitar laços nas áreas do turismo e economia

Equipa que ganha, não mexe. Sam Hou Fai reuniu com mais um dirigente do Interior da China e voltou a afirmar a vontade política de reforço da cooperação na área to turismo, economia e comércio

 

O Chefe do Executivo defendeu o reforço da cooperação com a província de Jiangxi, principalmente ao nível do comércio. A posição foi tomada na quinta-feira, durante um encontro com o vice-secretário do Comité Provincial de Jiangxi do Partido Comunista Chinês e governador da província de Jiangxi, Ye Jianchun.

Na reunião, Sam Hou Fai destacou a posição de Macau como “Centro Mundial de Turismo e Lazer” e defendeu o aumento da cooperação com Jiangxi, que afirmou ser “uma província rica em recursos turísticos”.

Na perspectiva do Chefe do Executivo, as duas partes encontram-se numa situação de complementaridade, podendo alcançar “uma situação com benefícios mútuos”. Sam Hou Fai também indicou que “os dois territórios podem ainda reforçar a colaboração nas áreas economico-comercial, medicina tradicional chinesa, culturas criativas, convenções e exposições e serviços topo de gama”.

Ao mesmo tempo, o líder do Governo de Macau convidou a província do Interior a “tirar melhor proveito do papel singular de Macau como plataforma entre a China e os países lusófonos”, indicando que a RAEM pode ser um ponto de partida para a província implementar políticas de “expansão para o exterior” e “atracção de capital estrangeiro”.

Trabalho de revitalização

No encontro, Sam Hou Fai fez igualmente um balanço do projecto de “revitalização rural do distrito de Xiushui da província de Jiangxi”, que indicou ser “uma iniciativa conjunta do Governo da RAEM e Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM”. De acordo com o Chefe do Executivo, o projecto está na “terceira fase” e “foram concluídas as modalidades previstas”.

A versão oficial da reunião, divulgada pelo Gabinete de Comunicação Social, não permite conhecer o que se entende por “terceira fase”, nem o investimento realizado pela RAEM no projecto. Porém, o Chefe do Executivo indicou que, “de seguida, Macau e Jiangxi irão continuar a aprofundar uma cooperação pragmática, no sentido de promoverem em conjunto o projecto de revitalização, alcançando, constantemente, novos progressos e novos resultados de eficácia”.

Além do Chefe do Executivo, participaram no encontro o secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, a chefe do Gabinete do Chefe do Executivo, Chan Kak, o director dos Serviços de Estudo de Políticas e Desenvolvimento Regional, Cheong Chok Man, e a presidente do Instituto Cultural, Deland Leong Wai Man.

7 Abr 2025

Adelina Moura, docente e formadora: “O telemóvel é como um canivete suíço”

Formada na área das tecnologias educativas, Adelina Moura irá conduzir palestras para pais, alunos e professores sobre o uso de tecnologias digitais nas salas de aula, no âmbito do festival “Letras&Companhia” do Instituto Português do Oriente. A professora entende que proibir o telemóvel nas escolas não é solução

 

Quais os desafios sentidos por professores com a introdução das tecnologias na sala de aula? O telemóvel pode, de facto, ser um complemento à aprendizagem?

Sim. Venho dizendo isso desde 2005. O telemóvel pode ser uma excelente ferramenta de aprendizagem, um meio para motivar os alunos e para que enriqueçam a sua aprendizagem. Temos aqui uma espécie de canivete suíço, um equipamento poderosíssimo nas mãos dos alunos e há uma falha da escola, porque não se trabalha e ajuda os alunos a potenciar esse equipamento que têm. O que acontece é que os alunos aprendem da pior maneira, de uma forma desestruturada, por tentativa-erro. Há uma lacuna, pois os alunos não são alertados para o potencial positivo de utilização do telemóvel. Encaram o telemóvel como uso do tempo livre, gastando tempo nas redes sociais e a fazer “scrolling”, e o tempo consome-se. É essencial que os professores sejam utilizadores, nas suas práticas, do telemóvel, quer para a preparação de aulas e outros projectos, para saber preparar os alunos. Considero que a escola perdeu várias etapas de preparação e sensibilização dos alunos para a utilização destes equipamentos que levam para as aulas e com os quais as escolas não gastaram nenhum dinheiro. Com a proibição de levar o telemóvel para a sala de aula não avançamos nada nesse sentido.

No período da pandemia, por exemplo, o uso das tecnologias, com o ensino à distância, foi bastante potenciado.

Mas durante a pandemia também queimámos algumas etapas em relação ao uso do digital pelos professores, porque antes da pandemia muitos professores não acreditavam e nem usavam. Achavam que era uma moda e não viam grande utilidade no uso dos telemóveis e outras tecnologias. Com a pandemia a utilização desses equipamentos provou que, sem eles, a situação do ensino teria sido muito pior. Nestes anos de pandemia, os professores ficaram mais conscientes das tecnologias que já existem e que estão disponíveis para qualquer um. Com acesso à internet no telemóvel, algo que existe desde 2007 com o lançamento do primeiro Iphone, potencia-se o sistema E-learning e depois passamos para o “mobile learning”, em que é possível aprender em qualquer lugar e qualquer hora com os dispositivos móveis. É esta realidade que vemos um pouco afastada da escola.

E depois da pandemia, como tem sido?

Julgo que vamos dar mais alguns passos em relação à literacia digital. Com a inteligência artificial (IA), parece que estamos como na fase em que criei o meu primeiro website, em 1999, ou o email, em 1995. Estamos no início. Mas são já 30 anos de tecnologia em que houve muitas mudanças, e a tecnologia vai de facto avançando e se no imediato não percebermos o que temos disponível, nós e alunos, ajudamos a criar um fosso que já aconteceu no passado em relação ao digital. Face à IA, se não olharmos para trás e não percebermos o que não foi feito e devia ter sido ao nível da escola, estamos a perder tempo. Só daqui a uns anos as pessoas vão ficar alerta à IA, e a lacuna vai aumentando. Daí ser muito importante apostar agora, já nesta fase inicial, na formação de professores, alunos e famílias.

Há muita ignorância dos pais, afastamento dessa realidade?

Temos pais que são deste século. Ou seja, nasceram com a existência dos computadores, Internet, viram o aparecimento do smartphone. Mas quando estudaram, a escola não falava do potencial do digital. Então, esses antigos alunos, vieram para a sociedade e não trouxeram essa sensibilidade para o digital, para educar os filhos. Nós, professores, quando damos formação no digital, estamos a fazer um bem à sociedade porque também estamos a preparar estes jovens para o futuro, pois vão ser pais e devem ter essa consciência para educar os filhos. Na escola não preparamos apenas para o mercado de trabalho, mas para a vida pessoal e familiar. Daí a formação de professores ser essencial. O convite que recebi do IPOR parece-me uma excelente visão holística de tudo, porque a escola inclui diversos actores, de ligação com a sociedade.

Como a IA deve ser introduzida na sala de aula?

Assistimos actualmente a mudanças nos motores de busca, de facto. Temos motores de busca criados de raiz para a era da IA, por exemplo. A melhor maneira de introduzir a IA na sala de aula é perguntar aos alunos o fazem e como a utilizam, e já recorrem a essa ferramenta. No início do ano lectivo peço sempre aos alunos para responderem a um questionário sobre as suas rotinas digitais, e aí fico a saber mais ou menos as suas práticas. Em 2023, quando saiu o ChatGPT, introduzi a IA nas minhas aulas, e percebi que os alunos estavam a usar essa ferramenta para enganar os professores. Os alunos têm de perceber que, ao usar a IA, estão a cair numa certa armadilha, porque não estão a aprender. É a lei do menor esforço, igual à fase em que surgiu a Internet, em que os alunos seleccionavam, copiavam e enviavam para o professor. Temos agora o problema de as respostas estarem em português do Brasil, por exemplo, e vejo logo que foi usada a IA. Temos, portanto, de desmontar na cabeça dos alunos esta actuação e enfrentá-los. Digo-lhes que estão a ser desonestos intelectualmente e que não leram a resposta obtida pela IA, por exemplo. Sinto, desde 2023, que os alunos, nas respostas a esse questionário que faço, dizem ter receio de usar o ChatGPT porque têm medo de ser apanhados pelos professores. Ou seja, parece terem ganho alguma consciência.

Vai dar estas palestras num contexto educacional diferente, na Ásia, em que o uso do telemóvel pode ser mais precoce. Como vai lidar com essas diferenças, ou entende que os problemas do uso da tecnologia na sala de aula são transversais?

É uma questão transversal. Temos de nos questionar se o uso de determinado equipamento e ferramenta nos vai tornar mais sábios? A mim parece-me que não, pois podemos ter o equipamento, mas o uso que fazemos dele varia muito. Digo aos meus alunos que eles deveriam ter vergonha, porque têm um acesso muito mais fácil aos conteúdos do que no meu tempo, em que tínhamos verdadeiramente de fazer pesquisa e ler em formato físico. Digo-lhes que, com esta tecnologia, deviam todos ter nota 20, e que estão a desperdiçar recursos, sendo desonestos intelectualmente, porque assinam trabalhos que não são deles e não leem, sequer, o que entregam. Um dos trabalhos que temos com os alunos é ensiná-los a fazer referências bibliográficas, referir as fontes. Mas eu sou optimista por natureza, e espero que daqui a uma década os alunos do ensino secundário que sejam pais e mães consigam lidar com estes problemas das redes sociais e aumento de fraudes com os seus filhos. É essa “escola de pais” que a escola pode ajudar a criar. Estamos num momento sem retorno do digital, e proibir é a situação mais cómoda, mas não é a melhor para enfrentar a realidade. Temos de usar as palavras certas para alertar. Temos nesse tempo de alertas e de consciências, de incentivo ao espírito crítico dos nossos alunos, que é pouco actualmente.

 

Formar quem ensina

Adelina Moura irá ministrar um workshop para professores do território no sábado, com a sessão “Literacia Digital – Promoção de Interacções Positivas em Linha”, dirigida a professores e agentes do ensino infantil, primário e secundário. A sessão decorre na sede do IPOR, entre as 10h e as 13h.

No mesmo dia, mas à tarde, a sessão será dirigida para pais e filhos. Licenciada em Ensino do Português e Francês, mestre em Supervisão Pedagógica do Ensino do Português e doutorada em Ciências da Educação, na especialidade de Tecnologia Educativa, Adelina Moura tem vindo a desenvolver investigação na área do Mobile Learning, com várias publicações em Portugal e no estrangeiro.

É docente do ensino básico e secundário, tutora de cursos de formação à distância do Instituto de Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e formadora da formação contínua de professores, em didácticas específicas (Português e Francês) e tecnologia educativa. Na quarta-feira, a partir das 18h30, Adelina Moura, Nuno Gomes e Min Yang vão debater “A Inteligência Artificial na Educação”.

7 Abr 2025

Jogo / Receitas | JP Morgan e Seaport Partners com visões distintas

As receitas de 19,66 mil milhões de patacas em Março ficaram dentro das expectativas do mercado, mas a correctora Seaport Research Partners avisa que as recentes campanhas contra as trocas ilegais de dinheiro podem fazer cair o volume das apostas

 

“Não foram más de todo”, foi desta forma que o relatório mais recente do banco de investimento JP Morgan Securities (Asia Pacific) classificou as receitas brutas do jogo de Março, que atingiram os 19,66 mil milhões de patacas. A reacção do banco de investimento foi citada, na quarta-feira, pelo portal GGR Asia.

As receitas neste mês de Março representaram um aumento de 0,8 por cento face ao período homólogo, mas uma redução de 0,4 por cento em comparação com Fevereiro.

Todavia, o relatório assinado por DS Kim, Selina Li e Shi Mufan, aponta que o montante total ficou “um por cento acima das estimativas da JP Morgan [e do mercado] e do consenso [entre os analistas] que previam que não houvesse crescimento”.

O documento indica ainda que a média diária das receitas nos casinos foi de 634 milhões de patacas, o que foi apontado como um volume das receitas diárias semelhante aos dos meses de Janeiro e Fevereiro deste ano. Por isso, os analistas apontaram que as receitas em Março atingiram valores “muito respeitáveis”.

No mesmo sentido, a JP Morgan considerou que os sinais do mercado são animadores para a segunda metade do ano. “Isso é um bom presságio para o crescimento melhorar no segundo semestre de 2025”. “Mantemos a nossa previsão do crescimento das receitas do jogo em 2025 de 3 por cento, com o primeiro semestre a apresentar um crescimento de 0 a 1 por cento, e o segundo semestre com um crescimento entre 5 e 6 por cento”, foi acrescentado.

Abaixo das expectativas

Por sua vez, a correctora Seaport Research Partners teve uma reacção diferente face às receitas, citada pelo portal GGR Asia, dado que tinha previsto um crescimento maior do que o registado.

Segundo o relatório de ontem, assinado por Vitaly Umansky, as receitas “foram mais fracas do que as previsões feitas no início do mês, mas que mesmo assim não deixaram de ultrapassar ligeiramente as estimativas da Bloomberg, que indicava que não haveria qualquer crescimento”.

Por outro lado, a Seaport Research Partners indica que as receitas do final de Março ainda reflectem o possível impacto da campanha das autoridades contra dois grupos de troca ilegal de dinheiro, que actuavam nos casinos, e que envolviam pelo menos 43 pessoas.

Por isso, em Abril a Seaport Research Partners espera que as receitas apresentem uma redução de 0,1 por cento face ao período homólogo e de 5,8 por cento, em comparação com Maio. “A nossa estimativa para Abril é ligeiramente afectada pelos efeitos adversos potenciais de curto prazo ligados à repressão dos cambistas [ilegais]”, foi justificado.

2 Abr 2025

Matadouro | Prejuízos crescem 460 mil patacas num ano

O consumo de carne de vaca, a mais cara, está em contracção no território, com o número de abates de bovinos a cair para o valor mais baixo desde que há registos. A empresa Matadouro de Macau justifica a mudança com novos hábitos de consumo

 

A empresa Matadouro de Macau registou no ano passado um prejuízo de 4,17 milhões de patacas no ano passado, um crescimento de 12,38 por cento das perdas, ou de 460 mil patacas, em comparação com 2023, quando o resultado negativo foi de 3,71 milhões de patacas. A empresa alerta que o território está a registar novos hábitos de consumo, com o abate de gado bovino a atingir o valor mais baixo desde que há registos, excluindo o período da pandemia.

Em 2024, as receitas da empresa registaram um aumento inferior a 1 milhão de patacas, devido às receitas com o abate de animais, que subiram para 10,98 milhões de patacas, face aos 9,98 milhões de patacas de 2023.

Contudo, a subida foi contrariada por um aumento de despesas como os custos com a água e electricidade, que subiram para 1,19 milhões de patacas, face aos 1,07 milhões anteriores, ou gastos com serviços de limpeza e outros fornecimentos, que atingiram 1,97 milhões de patacas, quando no ano anterior não tinham ido além dos 1,37 milhões e patacas.

Também a nível dos salários dos 81 trabalhadores houve um aumento de despesa, de aproximadamente 278 mil patacas.

Diferentes hábitos

O relatório de 2024 do Matadouro mostra também uma empresa a funcionar a duas velocidades, com o abate de suínos a atingir o valor mais elevado desde 2019, enquanto o abate de bovinos caiu para o valor mais baixo desde que há registos.

A gestão da empresa explica o aumento no abate de porcos de 10,86 por cento, para um total de 108.660 animais, com o facto de no último trimestre de 2023 o preço do porco ter registado uma diminuição “de quase 20 por cento”, o que serviu para estimular o mercado em 2024. “A procura pela população da carne fresca de porco aumentou, levou a um aumento do volume do abate a crescer mais de 10 por cento”, foi indicado.

No entanto, o abate de bovinos teve uma quebra de 7,88 por cento, com um total de 1.333 abates, o valor mais baixo pelo menos desde 2015, excluindo 2022, quando o número de abates tinha sido de 1.301, porque o funcionamento do Matadouro foi suspenso. “O volume do abate de gado bovino em 2024 voltou a estabelecer um novo recorde negativo nos registos da empresa, e a principal razão é a alteração dos hábitos de consumo”, foi indicado. “A direcção da companhia espera que esta tendência se continue a verificar nos próximos anos, com a diminuição a ser relativamente gradual”, foi acrescentado.

Nos últimos anos, a economia tem enfrentado uma situação em que é cada vez mais frequente sair para o Interior da China para consumir, ao mesmo tempo que os turistas vindos do outro lado da fronteira têm menos poder de compra.

Novos investimentos

O ano de 2024 ficou ainda marcado pela renovação da concessão para o abate de animais que se vai prolongar até 2029. Além disso, o Governo da RAEM financiou as obras de renovação das cadeias de abate, que estavam em funcionamento, de acordo com o relatório da administração, desde 1987.

Com as obras, o matadouro ficou com uma cadeia de abates só para suínos e outra só para bovinos. No entanto, em caso de necessidade, estas podem ser alteradas para outros animais.

A empresa tem como accionistas o Instituto para os Assuntos Sociais, com uma participação social de 61 por cento, a Companhia de Engenharia e de Construção da China (Macau), com 27,5 por cento, a Teixeira Duarte-Engenharia e Construção (Maca), com 5,8 por cento, e ainda Ngan Yuen Ming, 3,125 por cento, e Ma Iau Lai, com 2,5 por cento.

2 Abr 2025