Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeJustiça | Advogados exigem suspensão de prazos processuais O Governo decretou o encerramento dos serviços públicos, mas os tribunais continuam a funcionar, mantendo-se os prazos processuais que podem não ser cumpridos. Advogados exigem clarificação por parte das autoridades. Miguel de Senna Fernandes teme aumento de recursos administrativos Advogados ouvidos pelo HM temem não conseguir cumprir prazos judiciais relativos a processos que têm em mãos, uma vez que os tribunais permanecem abertos, enquanto que todos os restantes serviços públicos, que dão apoio no envio de peças processuais, estão fechados entre hoje e sexta-feira. Miguel de Senna Fernandes declarou que o despacho assinado pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, que manda encerrar serviços, “deveria ser mais claro” neste ponto. “Os prazos são muito importantes, sobretudo para os advogados que estão na barra [dos tribunais]. Não se pode obrigar o profissional a cumprir os prazos quando os serviços judiciais não têm condições para trabalhar com a regularidade que se exige. Por mais que eu possa enviar a peça processual por fax, terei de enviar em papel físico no dia seguinte, e não está ninguém nos serviços para a receber”, declarou. Miguel de Senna Fernandes entende que “os prazos terão de ser suspensos”, temendo que se abra “caminho a vários recursos administrativos”. “Podem haver recursos de processos que não são apresentados a tempo, porque o despacho não contempla estas situações”, acrescentou. Outro advogado, que não quis ser identificado, considera a actual situação “um perfeito disparate”. “O Governo pede para as pessoas trabalharem a partir de casa, mas depois mantém os tribunais abertos e com os prazos a contar. Há trabalhos que não podem ser executados a partir de casa”, disse. Questões pendentes José Pereira Coutinho, deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), relata queixas de advogados que são associados desta entidade. “O Chefe do Executivo deveria abranger estas situações, suspendendo os prazos processuais judiciais. Alguns dos nossos associados têm acções cíveis pendentes nos tribunais e não conseguem obter os documentos necessário junto dos serviços públicos.” Coutinho referiu ainda que muitos associados “estão extremamente preocupados porque estas acções podem ser arquivadas”, além de que há um problema associado às notificações de recusas de marcas. “A recusa sai em Boletim Oficial, o prazo começa a contar, mas os fundamentos estão na carta que não chega. Este assunto poderia ser tratado via on-line”, declarou Pereira Coutinho. O assunto foi ontem abordado na conferência de imprensa do Centro de Coordenação e de Contingência do novo coronavírus, mas as autoridades não deram resposta.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTrabalhadores dos lares queixam-se do modelo de circuito fechado O Sindicato dos Assistentes Sociais de Macau acusa o Governo de não ter ouvido as opiniões dos dirigentes e trabalhadores dos lares de idosos que operam em gestão de circuito fechado praticamente desde que começou o surto. Numa publicação no Facebook, a associação profissional denuncia a existência de muitos problemas para manter idosos e funcionários no mesmo espaço 24 horas por dia, sete dias por semana, tal como a falta de espaço, más condições de trabalho, falta de materiais e aumento dos problemas psicológicos. Os funcionários têm de partilhar o espaço de descanso comum e a casa de banho, sendo muitas vezes obrigados a dormir no chão, havendo casos em que dormem em cima de tapetes de ioga. A associação refere também que existem profissionais com problemas do foro psicológico, sofrendo de ansiedade e receio devido ao tempo prolongado em que estão afastados de familiares. Muitos funcionários dizem não ter tido sequer tempo para preparar bens essenciais que necessitam para estar no lar a tempo inteiro, e que estes também não foram providenciados mais tarde. Ao trabalharem em regime de circuito fechado, muitos trabalhadores desconhecem garantias e direitos de que dispõem, incluindo as resoluções a adoptar caso fiquem infectados com covid-19 ou isolados. A associação indica também que algumas instituições não mencionam se vão ser pagas compensações pelo facto de os funcionários terem de ficar no local de trabalho a tempo inteiro. Desta forma, os profissionais pedem que a gestão em circuito fechado seja breve ou então que sejam asseguradas as devidas condições de privacidade, com melhor organização do trabalho por turnos. No total, foram encaminhadas para a associação 60 cartas com queixas de associados, o que levou o organismo a sugerir que os funcionários possam ficar em hotéis de quarentena, fazendo apenas o percurso hotel-trabalho, além de exigir melhor comunicação com as autoridades. IAS rejeita queixas Segundo o jornal Ou Mun, Paul Pun, secretário-geral da Caritas Macau e presidente do Conselho Profissional dos Assistentes Sociais, frisou que há poucos pedidos de demissão por parte de pessoas que não se adaptam a este regime. O responsável espera que esta forma de gestão dure pouco tempo, acreditando que muitos preferem ficar a viver nos lares por temerem o contágio na comunidade. Opinião semelhante tem Hon Wai, presidente do Instituto de Acção Social (IAS), que recusa as acusações de falta de diálogo. “Temos comunicado com os dirigentes dos lares para tentar saber a situação. Em casos urgentes esperamos poder disponibilizar mais locais [de descanso], mas não é fácil encontrá-los. Tem de ser um local independente, não pode ser de uma associação. Muitas vezes propomos lugares para descanso, mas os próprios trabalhadores preferem ficar dentro dos lares, conseguimos controlar a situação e eles não querem também correr o risco. Temos mais de três mil utentes nos lares”, declarou ontem na conferência de imprensa diária de balanço da pandemia.
Pedro Arede Grande Plano MancheteProibido passear animais e fazer exercício físico na rua. IAS alerta para pressão psicológica As autoridades esclareceram que o confinamento parcial, que começa hoje, proíbe os cidadãos de passear animais de estimação ou fazer exercício físico na rua por não serem actividades essenciais. Após o registo de novos casos de suicídio, o IAS admitiu que a semana que aí vem traz uma “certa pressão associada” e que é essencial maior tolerância e apoio de familiares e amigos. O total de casos de covid-19 subiu para 1.467 Perante o encerramento das actividades comerciais e industriais não essenciais e a obrigatoriedade de ficar em casa [ver páginas centrais], o Centro de Coordenação e Contingência do Novo Tipo de Coronavírus esclareceu ontem que, até ao próximo domingo, os cidadãos estão proibidos de sair à rua para passear animais domésticos, fazer exercício físico ou participar noutro tipo de actividades consideradas não essenciais. “O despacho [do Chefe do Executivo] já refere alguns exemplos de situações urgentes para ir à rua, como aquelas em que é necessário sair para cuidar de idosos. Mas, por exemplo, passear o cão não é um caso urgente. Não posso responder por todos os casos, porque diferentes pessoas têm diferentes dúvidas ou razões para justificar sair de casa”, começou por explicar Lei Tak Fai, Chefe da Divisão de Relações Públicas do CPSP. “Não considero que passear um animal na rua seja uma actividade fundamental para a subsistência da vida quotidiana da população. Espero que compreendam que estamos num momento crucial da prevenção da pandemia”, rematou. O responsável frisou ainda que, desde a meia-noite, correr ao ar livre, jogar xadrez ou “passear na rua sem objectivo” não são “obviamente” actos permitidos. “As sanções não são o nosso objectivo, o objectivo é (…) reduzir ao máximo as pessoas na nossa comunidade para assim diminuir o risco de propagação da doença”, afirmou Lei Tak Fai, depois de dizer que o patrulhamento nas ruas irá ser reforçado e os residentes inquiridos sobre os motivos para estarem fora de casa. Sobre a entrega de artigos nos hotéis de quarentena ou nas zonas vermelhas, Lei Tak Fai disse que estas apenas são permitidas, caso se trate de “material necessário” como medicamentos. “As zonas vermelhas e os hotéis de quarentena já conseguem, de modo geral, satisfazer as necessidades de subsistência diária. Mas, em casos excepcionais, como a falta de medicamentos a familiares (…) é possível fazer a entrega”, apontou. Alta pressão Confrontado com o registo de novos casos de suicídios e os efeitos que o confinamento parcial de Macau podem implicar para a saúde mental dos residentes, o presidente do Instituto de Acção Social (IAS) Hon Wai, admitiu que a semana que agora começa acarreta uma “certa pressão” e apelou à população para ter “maior tolerância” com os membros da família com quem habitam. “O IAS tem vindo a cooperar com os Serviços de Saúde e a DSEDJ para acompanhar os casos de suicídio, fornecendo serviços de aconselhamento. Nesta semana, praticamente todos os membros da família estarão em casa e, por isso, devem estar preparados para ter maior tolerância. Por exemplo, os familiares com menos contacto, devem aproveitar para prestar maior atenção e ficar mentalmente preparados pois há, de facto, uma certa pressão associada a esta mudança”, começou por dizer. “Por isso (…) esperamos que todos dêem maior atenção e encontrem meios adequados. Se não souberem como encarar esta situação podem ligar aos nossos serviços para pedir aconselhamento. Cada um sente a pressão à sua maneira e, por isso, tem de encontrar formas de encarar esta mudança. O apoio de familiares e amigos é muito importante”, disse. Durante a conferência de imprensa, o director dos Serviços de Saúde, Alvis Lo Iek Long, revelou ainda que os trabalhadores que estarão a desempenhar actividades essenciais ao longo desta semana (grupos-chave) como os funcionários dos restaurantes, motoristas, trabalhadores de takeaway, seguranças, pessoal da limpeza e dos condomínios terão de fazer teste de ácido nucleico diário. Questionado sobre o adiamento de cirurgias no hospital público, Alvis Lo garantiu que “internamentos, operações urgentes e hemodiálises” estão a decorrer “de forma normal”, mas admitiu que as intervenções não urgentes foram canceladas “para evitar a concentração de pessoas”. Ao final da tarde de ontem o número total de casos positivos confirmados desde o dia 18 de Junho era de 1.467. Quarentena on the Rocks A partir de hoje, o hotel Rocks, na Doca dos Pescadores, vai passar a acolher portadores de código amarelo obrigados a cumprir quarentena. Segundo a Chefe de Divisão de Relações Públicas da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Liz Lam, o hotel irá fornecer, no total, 70 quartos. Máscaras para crianças Leong Mei Leng, vice-presidente da Associação Geral das Mulheres, defende que as crianças devem também poder usar máscaras do modelo KN95 quando se deslocarem aos centros de testagem em massa, além de estarem disponíveis no plano de fornecimento de máscaras à população. Para a responsável, uma vez que a sub-variante BA.5 da Ómicron é mais transmissível, Leong Mei Leng pede que as autoridades actualizem os equipamentos de protecção pessoal para crianças. A responsável alertou para o preço deste tipo de máscaras, o que constitui um maior encargo para as famílias, além de se verificar que muitas crianças usam muitas vezes a mesma máscara quando fazem os testes, comportamento que aumento o risco de infecção.
Pedro Arede Manchete SociedadeMacau praticamente fechado. Quem não usar máscara arrisca prisão Até dia 18 de Julho, todos os serviços não essenciais vão estar encerrados, incluindo casinos. Os cidadãos são obrigados a ficar em casa, salvo para comprar bens essenciais ou por motivos de trabalho necessário, devendo sempre usar máscaras KN95. A violação das regras pode ser “punida com uma pena de prisão de até dois anos ou até 240 dias de multa”. André Cheong diz que não estamos em confinamento geral Desde a meia-noite de hoje, todas as actividades comerciais e serviços não essenciais, incluindo casinos, estão encerrados, anunciou no sábado o Governo, através de um despacho assinado pelo Chefe do Executivo. Além disso, a não utilização de máscaras KN95 ou “de padrão superior” e a permanência na rua está proibida. “[Entre] 11 a 18 de Julho, vão ser suspensos todos os serviços comerciais, mantendo alguns serviços essenciais aos cidadãos, para melhor controlar a transmissão da epidemia”, disse o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, citando o despacho assinado por Ho Iat Seng, durante a conferência de actualização sobre a covid-19. De acordo com o despacho, do lado das excepções, estão “serviços públicos essenciais” como o fornecimento de água, energia eléctrica, gás natural e combustíveis, serviços de telecomunicações, transportes públicos e recolha de lixo. Durante a semana que agora começa, estarão ainda em funcionamento hotéis, serviços de limpeza e higiene, administração predial, comércio por grosso e transportes de bens básicos para a vida quotidiana. Quer isto dizer que apenas mercados, supermercados, restaurantes (em regime de take-away), farmácias, estabelecimentos de cuidados de saúde e “estabelecimentos que tenham sido autorizados excepcionalmente pelos serviços competentes”, estarão de portas abertas ao longo desta semana. Dentro dos espaços que permanecem abertos a lotação é limitada. Por outro lado, casinos, lojas e outros serviços estarão obrigatoriamente suspensos, mantendo-se encerrados cinemas, salões de beleza, bares, cabeleireiros, piscinas e outros espaços de entretenimento e lazer. Ho Iat Seng “exige” ainda que “todas as pessoas permaneçam no domicílio, salvo por motivos de trabalho necessário e compra de bens básicos para a vida quotidiana ou por outros motivos urgentes”. Quando na rua, os adultos estão obrigados a usar máscaras do tipo KN95 ou de padrão superior. Já os menores podem usar máscaras de outros padrões, “quando as condições não permitam”. Rua dos pecadores André Cheong realçou ainda que “desta vez” a permanência em casa ou a utilização da máscara não são “um apelo”, mas uma “exigência legal”, sendo que a violação destas regras pode ser “punida com uma pena de prisão de até dois anos ou até 240 dias de multa”. “Desta vez não se trata de um apelo. Através do despacho do Chefe do Executivo temos um instrumento legal para implementar estas medidas. Estas medidas são coercivas”, começou por dizer, segundo a TDM Canal-Macau. “Fazer desporto fora de casa e passear no jardim não são actividades (…) essenciais para uma pessoa e, por isso, são consideradas ilegais, ou seja, as pessoas não podem fazer isso. Quem precisa de se deslocar, ao sair, tem de utilizar a máscara KN95. Caso contrário, haverá consequências jurídicas e penais porque, de acordo (…) com a lei de prevenção de doenças transmissíveis, ao violar essas regras [os infractores] podem ser punidos até dois anos de prisão ou 240 dias de multa”, explicou. O comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários (SPU), Leong Man Cheong, acrescentou ainda que serão enviadas “mais forças para patrulhar as ruas” e abordar os cidadãos “procurando saber o motivo para estarem na rua”. No entanto, assegurou, que antes de executar a lei, será feito “um apelo”. Contudo, na mesma ocasião, o secretário frisou que as medidas não constituem um confinamento geral. “Esperamos ter um estado relativamente (…) confinado, mas não estamos a aplicar a gestão comunitária circunscrita. Não é um lockdown. Esperamos, através da colaboração dos estabelecimentos e da população, poder diminuir, ao máximo, a mobilidade na sociedade. Daí que o cumprimento deste despacho tem exigências muito claras (…) através da fiscalização nós exigimos o fecho total de certos estabelecimentos. Para os residentes também existe uma exigência legal, mas a sua execução não exige medidas muito rigorosas. Não há problema se uma pessoa sair à rua para fazer compras no supermercado”, disse. Maldito tufão Questionada sobre se a obrigatoriedade de participar nas quatro rondas de testes em massa [ver texto] não seria de certa forma uma contradição perante a proibição de sair de casa, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, rejeitou a ideia. “É obrigatório continuar com esta medida dos testes em massa, pois é um meio essencial para detectar casos positivos e interromper a cadeia de transmissão”, apontou. Além disso, Ao Ieong U referiu que a “gestão relativamente estática” de Macau só não foi aplicada antes, devido à passagem do tufão Chaba e à incapacidade de reunir condições ao nível dos recursos humanos para “realizar testes de ácido nucleico de forma massiva e intensa”. “Naquele momento, não era altura adequada para aplicar a gestão de relativa ‘paragem’ em Macau”, disse segundo um comunicado oficial. A secretária disse ainda que as autoridades do Interior da China enviaram 650 trabalhadores para apoiar na recolha de amostras das testagens em massa. Testes em massa | Mais quatro rondas até domingo As autoridades de saúde anunciaram na sexta-feira quatro novas rondas de testagem massiva da população, a realizar até ao próximo dia 17 de Junho. A primeira ronda de testes começou ontem e decorre até às 18h de hoje, com a segunda ronda a acontecer entre amanhã e quarta-feira. A terceira ronda decorre na quinta e sexta-feira, ao passo que a quarta ronda poderá ser feita entre sábado e domingo. A realização diária de testes rápidos de antigénio continua a ser obrigatória. Com esta decisão, o número de testagens massivas vai totalizar dez num só mês, uma estratégia que, segundo o director dos Serviços de Saúde, Alvis Lo, visa “atingir zero casos, para a vida voltar ao normal”, salientou. Aviação | Garantidos voos para o exterior O secretário para a Administração e Justiça, André Cheong garantiu na sexta-feira que, apesar do confinamento parcial de Macau, o transporte aéreo de mercadorias está assegurado e continua a ser possível viajar para o exterior, via Singapura, a partir de Macau. “Sobre o funcionamento do aeroporto, os voos de mercadorias mantêm-se, mas esses voos têm também de cumprir rigorosas medidas de prevenção. Sobre os voos de passageiros, temos três voos semanais para Singapura. Estes voos continuam e estão também sujeitos à aplicação de medidas rigorosas. Tanto a tripulação como os passageiros, têm de continuar a cumprir essas medidas”, apontou o secretário. Lei Wai Nong | Paragem forçada pode implicar cortes salariais O secretário para a economia e finanças, Lei Wai Nong, admitiu no sábado que a suspensão das actividades não essenciais ao longo da semana, poderá implicar cortes salariais para os trabalhadores envolvidos nesses serviços. Isto, dado que legalmente os empregadores não estão obrigados a pagar os dias em que estes não comparecem no trabalho, apesar de as faltas estarem justificadas. “De acordo com a Lei das Relações de Trabalho, os empregadores não precisam pagar a respectiva remuneração, mas nós incentivamos as empresas (…) a ficar com os empregados. Creio que muitas empresas podem dar condições melhores do que as previstas na lei”, explicou. Empregadas domésticas | Circulação livre para trabalhar Dado terem sido classificadas como “trabalhadoras essenciais”, as empregadas domésticas poderão circular livremente para ir trabalhar, ao longo da semana. A garantia foi dada pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong. “Sobre as empregadas domésticas, os Serviços de Saúde já tinham apelado para os empregadores darem condições para (…) poderem ficar nas suas casas. Se não tiverem essas condições, as empregadas domésticas podem circular entre a sua casa e a casa dos empregadores, pois é essencial para o funcionamento da sociedade e, por isso, não vai haver nenhuma proibição. Cuidar dos idosos e das crianças é um serviço essencial para as famílias”, referiu.
Hoje Macau China / Ásia MancheteChina apresenta condolências pela morte de Shinzo Abe. Japoneses começaram hoje a votar para o Senado Os japoneses começaram hoje a votar para renovar metade do Senado do país, dois dias após o assassínio do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe durante um comício da campanha eleitoral. O Partido Liberal Democtata (PLD), do qual Abe era uma das principais figuras, é dado como grande favorito nas eleições de hoje. O primeiro-ministro (PLD) denunciou o ataque “bárbaro” contra o seu antigo mentor, insistindo na importância de “defender eleições livres e justas, que são o fundamento da democracia”. “Nunca cederemos à violência”, disse. A morte a tiro de Abe, um dos políticos mais conhecidos do arquipélago, chocou o Japão e o estrangeiro, com mensagens de condolências a chegarem do mundo inteiro, incluindo a China e a Coreia do Sul, com quem o Japão tem muitas vezes relações conturbadas. O suposto autor do ataque, detido no local, confessou ter alvejado deliberadamente o ex-primeiro-ministro, explicando à polícia que estava zangado com uma organização à qual acreditava que Abe estava filiado. Alguns meios de comunicação japoneses mencionaram um grupo religioso. O homem, de 41 anos e chamado Tetsuya Yamagami, é um ex-membro da marinha japonesa e encontrava-se desempregado desde maio, quando deixou de trabalhar numa empresa industrial em Kansai, no centro-sul do país. Abe foi primeiro-ministro em 2006-2007 e, depois, de 2012 a 2020, tendo sido o chefe de Governo mais jovem do pós-guerra, aos 52 anos, o primeiro nascido depois da Segunda Guerra Mundial e o que esteve mais tempo no cargo. Suspeito confessou crime O suspeito detido pelo assassinato do antigo primeiro-ministro japonês Shinzo Abe confessou ter cometido o crime, disse na sexta-feira um oficial da polícia da região de Nara. “O suspeito disse guardar rancor contra uma certa organização e confessou ter cometido o crime porque acreditava que o antigo primeiro-ministro Abe estava relacionado com ela”, declarou o oficial aos jornalistas, sem adiantar mais pormenores. Segundo a polícia nipónica, o suspeito é um desempregado de 41 anos, Tetsuya Yamagami, que indicou aos investigadores ter utilizado uma arma artesanal. “É o que o suspeito afirma e determinámos que [a arma utilizada] aparenta claramente ser artesanal, mas a nossa análise ainda está em curso”, afirmou um agente. China e EUA apresentam condolências O Presidente chinês, Xi Jinping, expressou no sábado as “profundas condolências” ao primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, pelo assassinato do antigo líder Shinzo Abe, anunciou a emissora estatal chinesa CCTV. “Em nome do Governo e do povo chineses, e em seu nome, Xi Jinping expressou as suas profundas condolências após a morte prematura do antigo primeiro-ministro Shinzo Abe”, apontou a CCTV, acrescentando que Xi Jinping ficou “profundamente entristecido com a morte súbita” do antigo líder. Por sua vez, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, viaja esta segunda-feira até ao Japão para apresentar condolências pela morte do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, assassinado na sexta-feira durante um comício eleitoral, anunciaram as autoridades dos EUA. Blinken, que se encontra hoje na Tailândia, “apresentará as condolências ao povo japonês” durante reuniões com membros das autoridades nipónicas, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.
João Luz Manchete SociedadeSuncity Group | Valor das acções triplica com divulgação de novo accionista maioritário O anúncio de que Andrew Lo passou a ser accionista maioritário do Suncity Group impulsionou as acções do grupo fundado por Alvin Chau para ganhos de quase 200 por cento. O novo CEO do grupo, e “partes que com ele actuam”, assumiram assim a carteira de acções detida anteriormente pelo arguido principal de um mega-processo cujo julgamento arranca em Setembro Depois de terem sido retiradas da Bolsa de Valores de Hong Kong sucessivamente desde que Alvin Chau foi detido, o valor das acções do Suncity Group quase triplicou ontem após o anúncio de que Andrew Lo é o novo accionista maioritário. O grupo empresarial emitiu um comunicado a indicar que Andrew Lo Kai Bong, que já ocupava o cargo de director-executivo, e “partes que com ele actuam” passaram a deter 74,89 por cento do capital social do Suncity Group, assumindo a carteira de acções detida anteriormente por Alvin Chau. O documento acrescenta que a nova maioria está obrigada a fazer uma oferta respeitante a todas as emissões de acções da empresa, conforme exigido pelo Código de Aquisições de Hong Kong. É também acrescentado que Andrew Lo irá submeter a questão do que constitui um “preço apropriado para a oferta” de acordo com o Painel de Aquisições e Fusões da Bolsa de Valores de Hong Kong. Sol nascente Quase dois meses depois da última suspensão de transacções na Bolsa de Hong Kong, as acções do Suncity Group subiam ao meio-dia de ontem 182 por cento, colocando o valor do grupo em cerca de 130 milhões de dólares norte-americanos. Alvin Chau fica assim afastado oficialmente do grupo que fundou, enquanto permanece no Estabelecimento Prisional de Coloane a aguardar julgamento, cuja primeira sessão de audiência está marcada para 2 de Setembro. O antigo líder do Suncity Group é acusado de ter liderado uma sociedade secreta dedicada ao branqueamento de capitais e à promoção de jogo ilegal, tanto online como em apostas paralelas nos casinos de Macau. Alvin Chau foi detido em Novembro de 2021 e é um dos 21 arguidos envolvidos no caso. O processo está nas mãos da juiz presidente Lou Heng Ha.
Hoje Macau Manchete PolíticaExclusão de pró-democratas deixou Macau sem “válvula de escape” A exclusão do campo pró-democracia das eleições parlamentares, há um ano, deixou Macau “sem válvula de escape” para a crescente insatisfação da população durante o actual surto de covid-19, afirmou Scott Chiang. Já o analista Sonny Lo caracteriza o papel da AL como “oposição leal” Faz amanhã um ano que a comissão que gere as eleições para a Assembleia Legislativa (AL) excluiu cinco listas e 21 candidatos, 15 dos quais pró-democracia, por “não defenderem a Lei Básica da RAEM” e não serem “fiéis à RAEM”. A decisão afastou o campo pró-democracia, que detinha quatro lugares na AL, deixando o parlamento com apenas duas vozes mais críticas do Governo, incluindo o português José Pereira Coutinho. “A missão de fiscalização que a Assembleia Legislativa deveria ter desapareceu por completo”, disse à Lusa Leon Ieong, professor de política na Universidade de Macau. A AL “está agora a desempenhar o papel de uma oposição leal”, contrapôs Sonny Lo Shiu-Hing. O comentador político disse à Lusa que os deputados pró-democracia “eram incisivos em identificar assuntos e políticos”, mas garantiu que “ainda é possível ouvir diferentes vozes” no parlamento. Dando como exemplo a nova lei que regula a indústria do jogo, Sonny Lo defendeu que “os deputados discutiram a proposta de forma racional e aprofundada e houve algumas críticas ao Governo”. Um dos candidatos pró-democracia excluídos, Scott Chiang Meng Hin, discorda: “A lei dos casinos foi aprovada num período relativamente curto, com pouca discussão e enormes consequências. Não vejo como é que a AL teve qualquer papel numa decisão marcante para Macau”. O activista disse à Lusa que continua a haver deputados mais críticos na AL, mas que “o ambiente mudou por completo e o trabalho deles tornou-se mais difícil”. “Os actuais deputados tendem naturalmente a ser mais cautelosos do que anteriormente nas suas acções e comentários em público, porque se forem abertamente críticos, podem arriscar uma desqualificação”, admitiu Sonny Lo. Panela de pressão Vários deputados contactados pela Lusa recusaram-se a comentar o impacto da exclusão do campo pró-democracia. A cautela é ainda mais necessária para “potenciais futuros candidatos ou candidatos desqualificados”, acrescentou Sonny Lo. Também Leon Ieong disse acreditar que alguns dos candidatos excluídos em 2021 possam competir em futuras eleições, com a “pré-condição de demonstrarem a sua lealdade”. “Segundo a mentalidade habitual da política chinesa, os termos ‘inimigo’ e ‘amigo” são relativos e alteráveis”, explicou o académico. Algo que não se irá alterar, disse Leon, é a certeza de que, “tal como no caso de Hong Kong, Macau tem agora censura política”. Além disso, realçou o académico, a ausência de uma verdadeira oposição “vai também criar dificuldades extras para o Governo receber as opiniões da sociedade”. “Os 30 anos do movimento pró-democracia em Macau foram um fracasso absoluto, mas pelo menos éramos bastante bons como uma válvula de escape para as preocupações das pessoas”, disse Scott Chiang. Uma ausência que se agudizou durante o actual surto de covid-19, acrescentou o activista. “As pessoas sentem-se muito frustradas, estão no limite da sanidade”, disse. Apesar da proibição de manifestações devido à pandemia, na semana passada houve um protesto de trabalhadores da construção civil, impedidos de regressar a casa, na cidade vizinha de Zhuhai. “É impossível parar um protesto se as pessoas estiverem suficientemente zangadas. Com o tempo, haverá outras formas de oposição. Nesse sentido, estou optimista”, disse Scott.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaConfinamento geral | Autoridades rejeitam medida, para já, e mantêm política de testes As autoridades afastam, por enquanto, a possibilidade de Macau entrar em confinamento total, numa altura em que se registam 1215 casos positivos, com 750 assintomáticos. A política de combinação de testes rápidos com testagem em massa mantém-se activa. Há mais dois hotéis disponíveis para quarentena A ideia de o território poder entrar em confinamento geral começa a circular nas redes sociais e a ser defendida por vários analistas, mas as autoridades afastam, para já, essa possibilidade. “Esta informação que circula nas redes sociais é falsa, não temos nenhuma intenção ou decisão quanto ao confinamento. Os bens essenciais são suficientes e temos os supermercados com bastante stock. Em relação ao plano de gestão circunscrita, ainda estamos a ver a situação e iremos divulgar o plano no momento oportuno”, adiantou Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Centro de Coordenação e de contingência do novo tipo de coronavírus. No entanto, a mesma responsável frisou que “só depois da sexta ronda [de testes em massa] podemos saber qual a tendência da evolução deste surto”, tendo em conta as próximas medidas a adoptar. Confrontada com as declarações do epidemiologista Manuel Carmo Gomes, publicadas no HM, de que a realização frequente de testes não resulta com a variante Ómicron, Leong Iek Hou assegurou que essa medida é para continuar. “O nosso objectivo é atingir zero casos e pôr termo à cadeia de transmissão. Os testes em massa e rápidos são medidas bastante importantes para o alcançarmos. Todas as rondas de testes são importantes para nós. Entre a quarta e a quinta ronda vimos que o número das amostras mistas reduziu.” De fora, está também a possibilidade de as quarentenas dos infectados serem realizadas em casa, como acontece na maioria dos países ocidentais. “Queremos alcançar o plano de transmissão zero e temos de terminar a cadeia de transmissão na nossa sociedade. A redução da cadeia é para melhor proteger grupos como os idosos. Este é o nosso princípio e mantém-se inalterado”, frisou a responsável. Mais quartos Entretanto, foram ontem também anunciadas mais duas unidades hoteleiras que vão passar a receber, a partir de hoje, pessoas para quarentena. Trata-se da ala leste do Grand Lisboa Palace, no Cotai, que irá providenciar 470 quartos, enquanto que a torre B1 do Grand Hyatt irá disponibilizar 300 quartos. De frisar, que hoje começa mais uma ronda de testes em massa, com fim marcado para as 18h de amanhã. As marcações podem começar a ser feitas às 7h de hoje, existindo 63 postos de testagem. Relativamente ao alojamento das empregadas domésticas, foi pedido “um consenso” entre empregadores e trabalhadores. “O dormitório das trabalhadoras domésticas é pequeno e nele vivem muitos trabalhadores de diferentes sectores, tal como da área da limpeza ou segurança. Neste momento existe um risco de transmissão, e uma vez que as trabalhadoras domésticas tomam conta das crianças e idosos, constituem um elevado risco. Espero que os empregadores possam negociar e chegar a um consenso”, foi dito. Quanto ao caso do hotel Grand Lisboa, selado em virtude de um surto de covid-19, permanecem 504 pessoas no interior, incluindo 260 trabalhadores, 200 trabalhadores do casino e 30 hóspedes. Estas pessoas, recebem das autoridades comida e bens essenciais, como se estivessem numa zona vermelha. Tem leite materno? Um jornalista questionou as autoridades sobre a ocorrência de casos em que as mães são impedidas de levar leite materno aos recém-nascidos que estão na neonatologia. As autoridades dizem que só proíbem quando há um elevado risco de transmissão do vírus. “Nunca impedimos as mães de darem o leite materno aos bebés se não houver um risco de contágio. Se houver, aí haverá uma separação entre a mãe e o bebé, que não pode ser vacinado.” MTC “não é tão científica” A medicina tradicional chinesa (MTC) faz parte do plano de tratamento adoptado pelas autoridades para os casos covid-19 assintomáticos ou com sintomas leves, mas ontem Leong Iek Hou admitiu que “a MTC não é uma forma de intervenção tão científica como a medicação ocidental”. No entanto, “se o paciente consentir, enviamos uma lista de mestres de MTC que, através de uma consulta online, administram chás e medicamentos. Temos um número de pessoas que tomam o chá e os medicamentos de MTC. A maior parte dos doentes toma medicamentos antivirais para atenuar a febre e tosse.”
Pedro Arede Grande Plano MancheteEconomia | Custo total das 9 rondas será superior a 441 milhões só em testes em massa Com a conclusão amanhã de mais uma ronda de testes em massa, o Governo terá gasto, no total das nove testagens, mais de 441 milhões de patacas só em testes, faltando ainda apurar despesas com recursos humanos e materiais. Pereira Coutinho considera “difícil” prolongar por muito mais tempo, uma política que “está a esvaziar” a reserva financeira. O peso das testagens nos orçamentos dos Governos locais da China faz-se sentir cada vez mais O custo total das nove rondas de testes em massa realizadas em Macau desde Agosto de 2021 deverá ser superior a 441 milhões de patacas só em testes e sem contar com as despesas relacionadas com recursos humanos, equipamentos e materiais. Sem que o Centro de Coordenação e Contingência do Novo Tipo de Coronavírus tenha revelado, até à data, o custo final das várias rondas de testagem em massa à população, o montante foi calculado tendo por base os dados apresentados no ano passado por Tai Wa Hou, médico adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário. Quando questionado sobre o assunto após aquela que foi a primeira testagem em massa da população de Macau em Agosto de 2021, o responsável disse que, devido à “complexidade da operação”, as contas finais não estavam ainda feitas. No entanto, o custos dos testes poderia ser calculado multiplicando o número aproximado dos habitantes de Macau (700 mil), pelo preço de cada exame (70 patacas), ou seja, 49 milhões de patacas. Contas feitas, multiplicando o valor por nove rondas, chegamos às 441 milhões de patacas só em testes. “Vamos daqui para frente fazer essas contas, porque foram utilizados vários recursos humanos e materiais. É fácil calcular as despesas relativas ao teste ácido nucleico: são 700 mil habitantes a multiplicar por 70 patacas por cada teste, ou seja, são 49 milhões de patacas. Mas não é só esta a despesa, pois [a operação] ainda envolveu vários recursos humanos e materiais. Assim que tivermos os dados vamos anunciar”, disse há quase um ano em conferência de imprensa. Até hoje, a população de Macau foi submetida a nove rondas de testagem em massa, com a primeira a acontecer em Agosto de 2021, a segunda e a terceira em Outubro de 2021 e as restantes seis rondas, a acontecer após o surgimento do actual surto de covid-19, cujos primeiros casos foram detectados a 18 de Junho de 2022. A última ronda de testes em massa está ainda a decorrer e termina amanhã às 18h. De frisar ainda que, a somar aos custos dos testes e de operação das testagens em massa há ainda que contabilizar despesas relacionadas com o fornecimento de testes rápidos à população durante as últimas rondas. O HM procurou obter dados sobre as despesas totais de cada testagem em massa realizada em Macau junto dos Serviços de Saúde. No entanto, as respostas foram remetidas para o final do actual surto, dado que “as equipas estão todas envolvidas no combate epidémico” e que “não há disponibilidade para compilar e informar os números solicitados”. Custe o que custar Contactado pelo HM, o deputado José Pereira Coutinho considera que este tipo de abordagem inerente à política de zero casos de covid-19 está a contribuir para “esvaziar os cofres” da RAEM e que, financeiramente, será difícil de prolongar. Contudo, sublinha, por se tratar de uma política onde está subjacente a defesa da saúde da população e que implica a inexistência de casos, “não há discussão possível”. “Acho que financeiramente é difícil de prolongar este tipo de política porque nós estamos a esvaziar os cofres e as reservas que, com muito esforço, foram acumuladas nos últimos 20 anos”, começou por dizer. “Essa abordagem tem custos económicos extremamente elevados, mas isto não está em causa, tendo em consideração que, sobrepõe-se a isto tudo, a questão da política de zero casos e a defesa da saúde da população e aí, não há discussão possível”, acrescentou. Afirmando que “a saúde pública está de rastos” há mais de 10 anos e que “a economia está cada vez pior”, Pereira Coutinho aponta, contudo, que a maior preocupação consiste no facto de o surgimento de novos surtos estar sempre iminente. “Mesmo que nós consigamos fazer com que não haja mais casos em Macau, o facto é que, passado umas semanas, pode aparecer mais um caso e fica tudo parado outra vez. Assim não há economia que possa ser sustentável. Quando o surto acabar é uma contagem decrescente até ao próximo”, rematou. Alta pressão A obrigatoriedade da realização de testes para a covid-19 rotineiramente nas principais cidades da China está a ter um peso crescente no orçamento dos governos locais, à medida que Pequim adopta um novo modelo de prevenção epidémica. Segundo a agência Lusa, a correctora China Merchant Securities estimou que o custo com testes de ácido nucleico na cidade de Shenzhen, sudeste da China, entre 6 de Abril e 5 de Junho ascendeu a cerca de 3,16 mil milhões de yuans. Tao Chuan, analista da Soochow Securities, empresa de serviços financeiros com sede no leste da China, estimou num relatório que se todas as cidades de primeiro e segundo nível do país, cuja população somada ascende a cerca de 505 milhões de habitantes, implementarem testes em massa durante um ano, a despesa ascenderá a 1,7 bilião de yuans, o que representaria cerca de 1,5 por cento do PIB da China em 2021, ou cerca de 8,7 por cento da receita fiscal pública do ano passado. Ron Lam defende fecho da cidade O deputado Ron Lam disse que a população está a sofrer de “fadiga anti-pandémica” e critica o Governo por ser “incapaz de decidir coexistir com a covid-19, ou de implementar a política de casos zero” de Pequim. À agência Lusa, o deputado sustentou que a população “está à beira de um colapso nervoso” e defende que é crucial que Macau perceba que não tem opção se não “seguir as políticas do interior da China” e que “o Governo tem de ter um plano e um calendário” para controlar o actual surto de covid-19. “A minha opinião é que, como muitos comerciantes me têm dito, o Governo deve fechar completamente Macau o mais depressa possível, durante uma semana, duas semanas”, acrescentou. AJM pede plano para eventual lockdown António Monteiro, presidente da Associação de Jovens Macaenses (AJM) considera que “o Governo tem de definir um calendário, uma agenda, um plano e o momento exacto [sobre um eventual confinamento geral] para o executar”. Até porque, destaca segundo a Lusa, “a população não concorda com a abordagem” das autoridades. Mesmo frisando que “Macau não pode ser fechado para sempre”, questionado sobre a hipótese de um confinamento geral, o dirigente associativo deixa o recado em jeito de pergunta: “É mais seguro em casa, eu estou em casa e muitos [funcionários de] departamentos governamentais estão em casa. Mas há pessoas que trabalham em autocarros, sectores privados, supermercados, e têm de fazer testes em massa, e assim que saímos, estamos em risco de infeção. Haverá uma solução melhor?”. Cloee Chao diz que é tarde de mais para confinamento Cloee Chao, presidente da Associação Novo Macau pelos Direitos dos Trabalhadores de Jogo disse à Lusa que “agora a epidemia não pode ser controlada”, e se “o Governo, no início, fechasse [Macau] completamente, talvez tivesse sido melhor do que a actual testagem massiva contínua”. Cloee Chao sustenta que o arrastar do surto é que é “o grande problema”, uma vez que “a situação actual de ausência de rendimentos durante um longo período de tempo é definitivamente um enorme impacto na vida” dos trabalhadores. “A população de Macau está dividida em dois pontos de vista: do ponto de vista económico, é que Macau deveria ser aberto, no entanto, do ponto de vista da segurança da saúde pública, é que deveria ser implementada a política de zero casos”, explica.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeQualidade do ar | Valores estão melhores, mas concentração de ozono aumenta O Relatório sobre a Qualidade do Ar de 2021, ontem divulgado, revela que “a qualidade do ar da região do Delta do Rio das Pérolas tem vindo, constantemente, a melhorar”. Destaque para a quebra superior a 80 por cento do valor médio anual de concentração de dióxido de enxofre no ar. No entanto, valores de concentração de ozono registaram um aumento Respira-se melhor na zona do Delta do Rio das Pérolas. Esta é a grande conclusão do Relatório sobre a Qualidade do Ar de 2021, elaborado pelas autoridades de Macau, Hong Kong e Guangdong, e que foi ontem divulgado pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental. Uma das conclusões é que “a qualidade do ar da região do Delta do Rio das Pérolas tem vindo, constantemente, a melhorar”, sendo que os valores médios anuais de concentração de dióxido de enxofre (SO2), partículas inaláveis e dióxido de azoto (NO2), verificados em 2021, desceram 84, 45 e 40 por cento, respectivamente, em relação a 2006. De frisar que a rede de monitorização do ar da região do Delta entrou em funcionamento em Novembro de 2005. A rede passou a contabilizar os dados das partículas de monóxido de carbono (CO) e partículas finas em Setembro de 2014. De frisar que, no ano passado, a concentração no ar destas partículas diminuiu entre 18 e 28 por cento, respectivamente, em termos médios anuais, por comparação ao ano de 2015. O documento dá ainda conta do valor médio anual de concentração de ozono (O3), no ano passado, que aumentou 34 por cento relativamente ao ano de 2006. O relatório dá conta que, neste caso, “a poluição fotoquímica na região precisa ser melhorada”. Estudo a caminho Tendo em conta os níveis de concentração de ozono, as autoridades das três regiões do Delta do Rio das Pérolas estão a preparar um estudo conjunto, relativo aos anos de 2021 a 2024, intitulado “Poluição fotoquímica de O3 na área da Grande Baía e a caracterização da deslocação regional e inter-regional de O3”. O objectivo da iniciativa é “estudar de forma aprofundada as origens dos precursores de O3 na Grande Baía, bem como o mecanismo de formação de O3 e as características do seu transporte regional e inter-regional”. De acordo com o segundo “Plano Quinquenal de Desenvolvimento Socioeconómico da Região Administrativa Especial de Macau (2021-2025)”, e com base ainda nas Linhas de Acção Governativa (LAG), o Governo afirma que tem vindo “a lançar uma série de medidas de redução de emissões para melhoria das fontes móveis e das fontes fixas de poluição atmosférica”. Desta forma, o futuro poderá ditar uma optimização dos valores-limite de emissões de gases para a atmosfera dos veículos em circulação, além de se apostar no “abate de motociclos e ciclomotores obsoletos altamente poluidores”, entre outras medidas. O Executivo mantém a aposta no uso de veículos eléctricos, além de controlar a importação de tintas arquitectónicas que contêm elevados níveis de compostos orgânicos voláteis (COVs), pretendendo-se, neste caso, “continuar a desenvolver estudos sobre a redução da emissão dos COVs”.
Hoje Macau Manchete SociedadeJogo | Veteranos do sector traçam possível cenário catastrófico para o resto de 2022 Com a primeira metade de 2022 a registar resultados negativos como não se via desde 2006, a perspectiva da paralisação total na luta pelos zero casos de covid-19 faz com que veteranos da indústria do jogo temam o pior para o que resta do ano. Os cenários mais optimistas dependem da abertura de Macau com Hong Kong e do controlo do surto que afecta a região É preciso recuar até 2006 para encontrar um primeiro semestre com resultados piores na indústria de jogo como os apurados na primeira metade de 2022. Os primeiros seis meses do ano geraram 26,27 mil milhões de patacas de receitas brutas, enquanto no mesmo período de 2006 o primeiro semestre terminou com 25,75 mil milhões de patacas. A cereja no topo do bolo dos maus resultados surgiu com o surto comunitário de covid-19, que ontem contabilizava um total de 1.168 casos positivos e disseminava a possibilidade de um confinamento geral do território. O presidente da Associação de Mediadores de Jogos e Entretenimento de Macau, Kwok Chi Chung, traçou ao portal GGRAsia o pior cenário possível para a indústria que alimenta a economia de Macau: um segundo semestre de 2022 que continue ao ritmo actual, ou seja, com o sector paralisado. Uma probabilidade face à continuação da aposta na política de zero casos, segundo o dirigente. Depois das esperanças de recuperação em 2021, vários surtos de covid-19 na região vizinha de Guangdong, um mercado fundamental para a economia de Macau, aprofundaram a situação de fragilidade do turismo e o negócio dos casinos. Recorde-se também que na primeira metade de 2022, a província de Guangdong, assim como outras regiões chinesas, foram afectadas pela covid-19. Desde que começou a pandemia, Guangdong tem sido o único mercado quase sem necessidade de quarentena à entrada em Macau. Ainda assim, os surtos verificados este ano colocaram em cheque épocas altas de turismo e jogo, como a semana dourada de Maio. No fundo, o timming dos surtos acabou também por penalizar Macau. “O actual surto acontece ao mesmo tempo a que assistimos ao início da recuperação em cidades como Xangai e Pequim”, acrescentou Kwok Chi Chung ao GGRAsia. Corda ao pescoço O presidente da associação que representa os promotores de jogo, uma indústria moribunda, afirma que o sector do jogo de Macau está a ser apertado de várias formas. A possível extinção do mercado VIP, para apostar exclusivamente no segmento de massas é uma estratégia que está a esbarrar nas restrições relacionadas com a pandemia, assim como na política de emissão de vistos das autoridades chinesas. “Hoje em dia, Macau é visitado diariamente por apenas algumas centenas de pessoas. Isto é muito duro para uma cidade que quer apostar exclusivamente no mercado de massas”, afirmou. O director da consultora de gestão de jogo 2NT8, e antigo executivo de casino, Alidad Tash aponta a salvação à abertura entre RAEs. “Tudo depende de quando serão levantadas as restrições e quarentenas a visitantes de Hong Kong. Se isso acontecer, consigo perspectivar um segundo semestre melhor, se no início do terceiro trimestre se verificar o aumento da procura reprimida”, afirmou ao portal de notícias da indústria do jogo. Apesar da previsão, Alidad Tash mostrou reservas e duvida que a abertura com Hong Kong aconteça em breve.
Nunu Wu Manchete PolíticaDSAL | Sulu Sou pergunta se Macau está a recrutar auxiliares de saúde do Interior O ex-deputado Sulu Sou quer saber se o Governo de Macau está a recrutar auxiliares de saúde no Interior da China para trabalhar nos hotéis de quarentena. A questão surgiu depois de ter sido divulgada nas redes sociais uma mensagem de recrutamento com esse teor, indicando que o salário seria da ordem das 22 mil patacas. Os auxiliares teriam como missão a entrega de refeições, ajudar nos testes de ácido nucleico, medição de temperatura e leitura de códigos de saúde. As fotos divulgadas indicavam ainda que caso o profissional tenha um bom desempenho poderá ter a oportunidade de ficar como trabalhador não-residente na unidade hoteleira. Além desta publicação, foi também colocado nas redes sociais um documento que parece indicar que a Direcção para os Assuntos Laborais (DSAL) aprovou recentemente a importação de 130 trabalhadores não-residentes, incluindo 100 assistentes de testagem e 30 assistentes laboratoriais para uma empresa do ramo da saúde. “Hoje de manhã (ontem) enviei uma carta ao director da DSAL a pedir explicações concretas e a confirmação se estas informações serão verídicas. Segundo o princípio de dar prioridade ao recrutamento de trabalhadores locais, o Governo proporcionou formação a residentes para trabalharem nos cargos relacionados com os trabalhos de prevenção da pandemia nos últimos dois anos?”, questiona Sulu Sou. Durante a conferência de imprensa de acompanhamento da situação da pandemia, a questão do recrutamento de trabalhadores no Interior da China com salários de 22 mil patacas ficou sem resposta. “Não sei esses dados, não conheço a situação”, respondeu a médica Leong Iek Hou.
Pedro Arede Manchete PolíticaCovid-19 | Total de casos sobe para 1.168. Decisão sobre confinamento geral só depois de testes em massa Apesar de o total de casos confirmados ter subido para 1.168, as autoridades afastaram a possibilidade de activar o hospital de campanha, dado que a grande maioria não necessita de cuidados médicos. Decisão sobre confinamento geral só após análise dos resultados das rondas de testes em massa. Lançado apelo para empregadas domésticas dormirem em casa dos empregadores Até às 16h00 de ontem, foram registados 81 novos casos de covid-19 em Macau, aumentando a contabilização total para 1.168 infectados, desde o início do presente surto. Entre os que testaram positivo e estão actualmente a receber tratamento, revelou o médico adjunto da Direcção do Hospital Conde de São Januário, Lei Wai Seng, existe apenas um caso grave, havendo ainda a registar quatro casos de idosos que estão a receber ajuda respiratória através de ventiladores, duas grávidas, sete crianças com menos de um ano e 18 crianças entre os 2 e os 3 anos. Contudo, apesar do aumento do número de casos dos últimos dias, o responsável descartou a implementação de novos planos de contingência, nomeadamente a activação do hospital de campanha para tratamento de pacientes infectados. Isto, explicou, dado que a maioria dos casos, cerca de 900, não têm sintomas, nem implica cuidados médicos de maior. “Quando há mais de 100 pacientes [que precisam de tratamento], sabemos que isso vai trazer uma grande pressão para os nossos hospitais e, nesse caso, (…) vamos utilizar o hospital de campanha. No entanto, mesmo tendo mais de 1.000 casos, podemos ver que a maior parte deles são assintomáticos e não têm grande necessidade de receber cuidados médicos. Destes cerca de 1.000 casos, mais de 900 estão a fazer quarentena nos hotéis e necessitam apenas de alguns serviços básicos. Na verdade, a variante Ócrimon não irá trazer grandes implicações para esses pacientes”, disse Lei Wai Seng. Questionado sobre a possibilidade de a cidade vir a ser submetida a um confinamento geral (gestão circunscrita) ou a mais restrições de circulação, o Chefe de Divisão de Relações Públicas dos Serviços de Polícia Unitários (SPU), Cheong Kin Ian não afastou essa hipótese e condenou os rumores que estão a circular nas redes sociais. “Não afastamos a hipótese de vir a tomar medidas mais rigorosas ou exigentes. Neste momento, alguns utilizadores das redes sociais estão a dizer que isto pode acontecer, mas nós não queremos que esses boatos estejam a pairar na sociedade. Esperamos que população não faça filas nos supermercados, pois estas corridas aos supermercados e lojas podem trazer um grande risco, ao nível da transmissão do vírus. Se esta medida for tomada, iremos anunciá-la de forma atempada”, reiterou Cheong Kin Ian. Também a Chefe da Divisão de Prevenção e Controle de Doenças Transmissíveis dos Serviços de Saúde, Leong Iek Hou, disse que as três rondas de testes em massa desta semana vão servir para tomar eventuais “novas medidas e políticas de prevenção e controlo”. Sim, meu senhor Durante a conferência de imprensa, a médica Leong Iek Hou deixou ainda um apelo para que as empregadas domésticas possam pernoitar, num espaço separado, em casa das famílias que as contrataram. Segundo a médica, este grupo de trabalhadores impõe um maior risco, dada a maior convivência com os chamados grupos-chave, onde foram detectados 59 casos confirmados recentemente. “Queria deixar um apelo para que os empregadores deixem as empregadas domésticas pernoitar em suas casas, porque, de momento, os trabalhadores dos sectores da segurança, limpeza e administração de condomínios têm estado entre os grupos mais infectados. As empregadas domésticas, estando a dormir fora do seu local de trabalho e podendo coabitar com os referidos grupos (…), têm sempre uma maior probabilidade de infecção e de infectar os membros da família para as quais trabalham. Nomeadamente, as crianças pequenas e idosos, podendo gerar situações graves”, disse Leong Iek Ho. Ontem, foi ainda confirmado que o surto detectado no Grand Lisboa levou a que mais de 500 pessoas estejam retidas no espaço, definido agora como zona vermelha. Também as lojas do Edifício One Central foram ontem encerradas ao público, com todos os trabalhadores a estarem sujeitos a vários testes de ácido nucleico. HCSJ | “Não vamos usar todos os recursos para tratar pacientes com covid-19” O médico adjunto da Direcção do Hospital Conde de São Januário, Lei Wai Seng garantiu ontem que existem recursos suficientes para continuar a prestar cuidados médicos à população, não relacionados com a covid-19. “Nós sabemos que os cidadãos de Macau têm necessidade de recorrer a diferentes serviços de saúde. Por exemplo, nós continuamos a poupar os nossos recursos para tratar dos pacientes diagnosticados com cancro. Não vamos usar todos os nossos recursos para tratar pacientes com covid-19. Estamos a avaliar de forma contínua como podemos gerir bem os nossos recursos. Aquilo que nos preocupa é quando não podemos dar um tratamento adequado aos pacientes com covid-19, pois isso pode trazer um grande impacto para o serviço de urgências e impactar os outros serviços que prestamos”, referiu.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteVoluntariado | As experiências de quem ajuda no combate à pandemia A entrega de comida e bens essenciais nas zonas vermelhas ou as rondas de testes em massas contam com a ajuda de voluntários, muitos deles funcionários públicos. O HM recolheu alguns relatos de quem deixou o serviço para, vestido a preceito, entregar comida a quem ficou fechado em casa ou para encaminhar pessoas para fazer o teste Nas últimas semanas as acções de apoio à população que está confinada em casa devido aos surtos comunitários de covid-19, nas chamadas zonas vermelhas, têm contado com a participação de funcionários públicos, mas também de residentes que se inscrevem nas campanhas de voluntariado. É o caso de Luís Crespo, funcionário da Conservatória do Registo Predial, que há cerca de dois ou três meses se inscreveu numa acção de voluntariado que nunca pensou que viesse a realizar-se tão cedo. Antes de distribuir comida em alguns locais da cidade, Luís Crespo recebeu formação dos Serviços de Saúde (SSM) na zona da Ilha Verde, nomeadamente sobre os procedimentos a adoptar e como vestir o fato de protecção. “Fui para as zonas vermelhas. Entregamos a comida para dois dias. Uma família de três pessoas recebe três sacos com carne, galinha ou costeleta de porco, e vegetais, como batatas ou cenouras. Não há falta de comida. No dia seguinte, à tarde, recebemos as encomendas feitas por amigos e familiares com coisas adicionais que as pessoas pedem. Pode-se entregar de tudo, menos coisas perecíveis. Há sítios onde deixam entregar álcool, outros não. Penso que também não era permitido entregar tabaco”, contou ao HM. Luís Crespo denota que “há organização, até demais”, destacando que teve de esperar horas para realizar algumas acções. Além disso, “foi inconveniente o facto de termos de entrar pela garagem de um edifício, quando podíamos ter entrado pela porta principal”. “Deixávamos as coisas à porta, sem nenhum contacto pessoal”, acrescentou o funcionário público, que relata situações mais difíceis com algumas pessoas isoladas “menos ordeiras” e que, por vezes, obrigam à intervenção das autoridades policiais. “Na Torre 6 do Centro Internacional de Macau foi mais complicado, pois a maioria das pessoas que vive lá vem da China ou do Vietname. Andavam de um lado para o outro e havia imensa polícia para não os deixar sair. Mas pior de tudo foi na semana passada, quando estive no bairro do Iao Hon. Tive de apanhar o autocarro todos os dias e o edifício é muito velho, sujo, degradado. São sete andares sem elevador, com lixo por todo o lado. Eram também pessoas muito indisciplinadas e a polícia tinha de estar a controlar. Saíam de casa, faziam muitas perguntas, não usavam máscara.” As acções de voluntariado em zonas confinadas implicam, muitas vezes, a entrega de comida onde os moradores vivem com más condições, sem cozinha ou sem alguns electrodomésticos. Em zonas, como o bairro do Iao Hon, “há casas sem cozinha, onde as pessoas vivem em beliches”. “São casas com menos de 40 metros quadrados onde vivem sete ou oito pessoas. Essa parte foi muito cansativa. Como não tinham cozinha, tínhamos de entregar comida já confeccionada e enlatados”, descreveu Luís Crespo. Total amadorismo Outra funcionária pública, que não quis ser identificada, fala de um cenário de desorganização e “amadorismo” na acção de voluntariado em que participou, também de entrega de comida em zonas vermelhas. “Falamos de prédios sem elevadores, degradados. É impossível ter pessoas para fazer todas estas acções, pelo que a ideia de voluntariado até é boa. Mas é espantoso que, ao fim de todo este tempo, as acções estejam tão mal organizadas. Estivemos quase três horas à espera para que aparecessem os bens que deveríamos entregar.” Uma das razões para o atraso prende-se com a falta de uma base de dados feita previamente das pessoas confinadas e das suas necessidades. “Aqui retiro a responsabilidade do meu serviço, pois havia pessoal do Instituto para os Assuntos Municipais a ir a cada apartamento saber quantas pessoas viviam nas casas. E eu pergunto: as pessoas não são contactadas previamente para se saber quantas pessoas moram em cada casa? Decreta-se o confinamento das zonas e não há uma lista de contactos, tendo em conta que há uma série de rondas de testes a decorrer e temos de dar os nossos dados? Depois aconteceram enganos, porque havia, por exemplo, casas sem fogão ou forno.” As acções de distribuição de comida são coordenadas pelo Instituto de Acção Social (IAS) em colaboração com outros serviços públicos. Outra das críticas feitas pela funcionária pública prende-se com a ausência de distanciamento social em muitas ocasiões. “Os voluntários estavam todos juntos com as máscaras normais e luvas a preparar os sacos. Isso não faz sentido. Além disso, íamos todos juntos a subir as escadas do prédio para fazer a distribuição. Devíamos estar afastados e os sacos da comida é que deveriam circular.” Em termos gerais, “as pessoas [em confinamento] estão desejosas de ter comida”, contou a funcionária. “Agradeciam-nos. Deixávamos os sacos nas portas, mas essa não foi uma instrução específica que nos deram, foi uma questão de bom senso. Depois de nos desinfectarmos, recebemos mais bens para distribuir, e isso foi feito por outra equipa para não termos de repetir o processo. Achei que não há uma organização ou um plano. Foi parecido com a situação do tufão Hato, quando recebemos a ajuda do exército. Penso que a esta altura do campeonato, não faz sentido”, acrescentou. Obrigatório ou não? O deputado José Pereira Coutinho acusou recentemente vários serviços públicos, nomeadamente a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), de obrigar funcionários a fazer voluntariado, sobretudo nos testes em massa. “A própria DSAL, que devia zelar pelos trabalhadores e os seus direitos, obriga-os a trabalhar como voluntários, sem o pagamento de horas extraordinárias”, avisou. Luís Crespo relata, no entanto, que no seu serviço ninguém foi obrigado e que até são pagas as horas gastas na qualidade de voluntários. “No nosso caso ninguém foi obrigado. Tive uma colega que não se sentia bem e foi substituída. Duvido que isto acabe tão cedo, verifico todos os dias se tenho de ir fazer voluntariado novamente ou não. Sabemos no dia-a-dia se vamos ou não, estamos num grupo de WeChat e vamos comunicando. Eu já fui seis dias, os meus colegas têm ido sempre.” A funcionária pública contactada pelo HM relata que o seu nome foi colocado numa lista. “Varia de serviço para serviço. No meu caso fui informada que estava colocada numa lista de voluntariado. Deram-me a opção de escolha, mas a forma como a situação me foi colocada foi assim, que estávamos numa lista de voluntariado.” Ajudar nos testes Nem só de funcionários públicos se faz o voluntariado que, por estes dias, tem ajudado as autoridades a lidar com as medidas adoptadas devido à pandemia. Uma residente, que também não quis dar o nome, deu o seu contributo no passado dia 21 de Junho no centro de testes da Universidade de São José na realização da primeira ronda dos testes em massa. “Vi o anúncio e decidi ir, quis ajudar. Ajudei pessoas com necessidades especiais a fazer o teste, incluindo grávidas ou idosos, por exemplo.” Neste caso, não há falhas a apontar na estruturação dos serviços. “Se há coisas que as autoridades estão afinadas é na realização dos testes em massa, desde que não sejam medidas adoptadas em cima da hora, como aconteceu com os trabalhadores dos casinos. Notei que as coisas estavam bem organizadas. Havia pessoas a falar inglês connosco e tudo correu lindamente”, concluiu.
Nunu Wu Manchete SociedadeConstrução | Renovação Urbana justifica omissão de acidente com surto pandémico Após um acidente com seis feridos na construção de habitação temporária e para troca, na Areia Preta, a Macau Renovação Urbana não chamou ambulâncias e optou por transportar os feridos directamente para o hospital. A empresa de capitais públicos afirmou não querer sobrecarregar o pessoal médico A empresa de capitais públicos Macau Renovação Urbana demorou cinco dias a divulgar a ocorrência de um acidente que resultou em seis feridos, para não sobrecarregar “o pessoal médico”. A explicação foi avançada ao jornal All About Macau, após o acidente na Areia Preta, onde estão a ser construídas habitações públicas temporárias e para troca, ter sido divulgado pelos órgãos de comunicação social. Segundo a empresa, as equipas de salvamento não foram chamadas ao local e os seis afectados foram transportados para os hospitais pelos próprios meios da Macau Renovação Urbana. “No dia do acidente, o médico do estaleiro verificou preliminarmente os trabalhadores, que apresentavam escoriações”, reconheceu a empresa. “Como não queríamos aumentar o stress do pessoal médico local, não utilizámos o serviço de ambulância e os feridos foram transportados para o hospital pelo empreiteiro”, foi acrescentado. Como a construtora não recorreu ao Corpo de Bombeiros para as operações de socorro, a informação nunca foi oficialmente comunicada aos órgãos de comunicação social, ao contrário do que acontece noutros acidentes de trabalho. Após ter sido questionada sobre o assunto, a Macau Renovação Urbana, detida pela RAEM, reconheceu que durante o processo de colocação de barras de ferro que uma das barras superiores se dobrou e atingiu seis trabalhadores. A companhia não explicou a razão de não ter comunicado a ocorrência publicamente, ao contrário do verificado noutras ocasiões e outros assuntos, que são divulgados através do Gabinete de Comunicação Social. Porém, a empresa garante que informou os “serviços” competentes. Pouco convencional Sobre o facto de o empreiteiro ter transportado directamente os feridos para o hospital, a Macau Renovação Urbana reconhece a forma pouco convencional de actuar e que o esperado pela população era o recurso às equipas médicas e ambulâncias da RAEM. Face ao procedimento pouco usual, a empresa prometeu “assimilar esta experiência para melhorar” e assegurar a qualidade e a transparência das obras. No melhoramento dos trabalhos foi ainda indicado que haverá uma unificação das técnicas de estabilização de barras de ferro, para evitar que se dobrem, e prevenir acidentes no futuro. Uma pergunta que ficou por responder diz respeito à responsabilidade do acidente. O All About Macau indica ter colocado a questão à Macau Renovação Urbana, mas a empresa não respondeu.
João Santos Filipe Manchete SociedadeONU | Direitos de manifestação e participação em eleições levantam dúvidas Uma delegação da RAEM será ouvida na próxima semana pelo Comité dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas. O Grupo de Investigação sobre Macau enviou as suas opiniões e pede esclarecimentos sobre a exclusão de candidatos do campo pró-democracia das eleições, as proibições de manifestações e as saídas de jornalistas da TDM A exclusão do campo pró-democracia das eleições para a Assembleia Legislativa, a proibição de os trabalhadores não-residentes organizarem manifestações e a vaga de saídas no canal português da TDM na sequência de instruções “patrióticas” são algumas das preocupações levantadas pelo Grupo de Investigação sobre Macau junto da Organização das Nações Unidas (ONU). A partir de quarta-feira da próxima semana, o Comité dos Direitos Humanos da ONU vai ouvir uma delegação da RAEM sobre a implementação do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. Antes da sessão, a sociedade civil é convidada a enviar opiniões e preocupações, como fizeram diferentes partes, incluindo o Grupo de Investigação sobre Macau, que tem como representante Jason Chao, activista local radicado na Europa. Em relação ao processo eleitoral de 2021, o grupo destaca a exclusão de candidatos que tinham sido autorizados a participar nas eleições de 2017, sem que as leis da RAEM tenham sido alteradas. Por isso, o grupo aponta que o acto eleitoral do ano passado, que teve a participação mais baixa de sempre desde a criação da RAEM, violou os artigos 25.º e 26.º do pacto internacional. Segundo o artigo 25.º, “todos os cidadãos gozarão” sem qualquer distinção e “sem restrições indevidas” de ser “eleitos em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal, por voto secreto que garanta a livre expressão da vontade dos eleitores”. Por sua vez, o artigo 26.º proíbe qualquer discriminação com base em “opiniões políticas”. Neste sentido, é solicitado que o comité peça às autoridades locais para garantirem que todos os residentes podem participar nas eleições sem qualquer discriminação e que se garanta a liberdade de expressão. Entre os apelos consta que a revogação do artigo da lei eleitoral que estipula a exclusão de candidatos que não declarem a defesa da Lei Básica nem a fidelidade à RAEM. Ruas de ninguém O grupo destaca também os acontecimentos de Fevereiro de 2021, quando cidadãos oriundos do Myanmar tentaram organizar uma manifestação contra o golpe de Estado no país. A pretensão foi recusada, num episódio em que o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) afirmou publicamente que os não-residentes não estão abrangidos pela lei que garante o direito de reunião e manifestação. Posteriormente, o CPSP defendeu que o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos “não se aplica directamente” em Macau, mas apenas através de leis locais que transpõem para o ordenamento jurídico da RAEM essas normas internacionais. Face à situação, é pedido ao comité da ONU que solicite às autoridades da RAEM o respeito do “direito à liberdade de manifestação dos trabalhadores não-residentes, independentemente do estatuto de residência ou nacionalidade”. A liberdade de manifestação é igualmente abordada por outro grupo, identificado como “As pessoas de Macau apoiam Hong Kong”. Este mostra-se preocupado com a proibição de organizar protestos de solidariedade com dissidentes da RAEHK e pede que seja esclarecido se os simpatizantes do movimento democrático de Hong Kong podem ser perseguidos criminalmente. Liberdade de imprensa No que diz respeito à liberdade de imprensa, destaca-se o caso das instruções emitidas no canal português da TDM para excluir vozes críticas do Governo Central. O Grupo de Investigação sobre Macau pede ao comité que apele às autoridades da RAEM para que as instruções sejam retiradas, garantindo acesso a opiniões variadas aos meios de comunicação e que não se transforme a emissora pública num órgão que abafa opiniões divergentes. Sobre a liberdade de imprensa, o comité recebeu igualmente uma opinião do académico e ex-deputado Gabriel Tong, que considera necessário alterar as leis em vigor, para enquadrar legalmente os órgãos de comunicação online. De acordo com o especialista em direito, o objectivo da nova lei passaria por proteger a situação laboral dos trabalhadores destes órgãos e garantir o acesso à informação.
João Luz Manchete SociedadeDiário de um pai em quarentena com bebé de um ano e meio “Quero matar-me”, diz entre risos Marco Canarelli, bem-humorado, sobre a circunstância complicada de estar em quarentena com o filho de um ano e meio. Apesar da boa disposição, o residente que vive em Macau há 12 anos enfrenta uma realidade deprimente e pondera abandonar de vez o território. “O meu filho está constantemente a chamar pela mãe, fico muito triste por não podermos estar juntos em casa, por não lhe ser permitido ir à escola ou ao parque”, conta ao HM. Tudo começou quando a esposa de Marco Canarelli recebeu uma chamada das autoridades a notificar para a necessidade de cumprir quarentena de oito dias devido ao “contacto próximo” com um caso positivo na cantina do local de trabalho. Esse contacto terá acontecido no dia 27 de Junho, segunda-feira, e a chamada que trocou às voltas à família foi feita no passado domingo, dia 3 de Julho. Como o pai e a criança foram considerados contactos secundários, a quarentena terá um período de 5 dias e a opção de juntar a família toda num quarto do Hotel Sheraton foi posta de lado, para minorar o período de isolamento da criança. Quando chegaram ao hotel, o residente de origem italiana pediu uma banheira para bebés, desinfectantes e produtos para crianças pequenas. “Coisas que quando pedimos quando fizemos staycation e que nos deram, mas desta vez disseram-me que não podiam providenciar esse tipo de bens por não terem mais disponíveis. Também perguntei se tinham comida para bebés, porque o menu infantil não é adequado para crianças de um ano. Perguntaram-me se tinha leite em pó e se precisava que fossem comprar. Felizmente, trouxe de casa porque já estava a prever isto”, revelou o pai ao HM. Dia atribulados Na noite em que as autoridades levaram a esposa para quarentena, Marco Canarelli pediu para ser conduzido ao isolamento na manhã seguinte. “Eram 22h e o meu filho já estava a dormir. Disse-lhes ‘não, desculpem, mas o meu filho acabou de adormecer e não o quero acordar’. Pedi para nos buscarem na manhã seguinte. Por volta das 23h vieram buscar a minha mulher. O meu filho acordou a meio da noite, não viu a mãe quando chamou por ela e começou a chorar”, conta. O dia seguinte começou com uma “boleia” para o Dome, onde pai e filho foram submetidos a um “agressivo” e “muito profundo” teste de ácido nucleico. Durante a manhã toda, entre as 8h30 e as 12h, o bebé chamou constantemente pela mãe. Sem a presença materna, a possibilidade de ir ao parque ou estar em zonas de conforto, a criança busca incessantemente a atenção do pai, não brinca sozinho, nem se consegue distrair, encontrando tranquilidade temporária durante as vídeo-chamadas com a mãe. “É muito difícil manter uma criança fechada num quarto durante tanto tempo. Se antes pensávamos ficar, agora estamos mais inclinados a sair de Macau, especialmente se esta situação se mantiver. Vamos em três anos de pandemia, muitos amigos já se foram embora e estamos a considerar que talvez seja a melhor opção. Não me parece que Macau volte a ser o que era”. O residente revelou ainda que depois da primeira chamada das autoridades chegou a ponderar levar a família até ao aeroporto e apanhar o primeiro voo para o exterior, ideia que passou a fantasia depois de ver o seu código de saúde ficar amarelo e o da esposa vermelho.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaFour Seasons | Autoridades fecham apenas primeiro piso de centro comercial Existem 40 casos de covid-19 associados ao primeiro andar do centro comercial do Four Seasons. As autoridades mandaram encerrar as lojas, mas mantêm o segundo piso a funcionar, por entenderem “que não há indício de contágio”. Grand Lisboa tem 13 casos positivos, mas encerramento não foi confirmado até ao fecho desta edição. No entanto, segundo a TDM, algumas zonas terão sido seladas As autoridades decidiram encerrar as lojas do primeiro andar do centro comercial do empreendimento Four Seasons até domingo devido ao surgimento de 40 casos de covid-19. No entanto, o segundo andar vai permanecer aberto. “Achamos que há um risco elevado de contágio no primeiro piso. Já tínhamos pedido o encerramento das lojas, mas percebemos que algumas continuavam a funcionar. No segundo piso não há qualquer indício de contágio, pelo que não exigimos o encerramento”, disse Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus. Em relação ao Grand Lisboa, há casos positivos num “grupo de 13 pessoas que trabalham em diferentes áreas” do casino e hotel. Um jornalista da TDM disse ter na sua posse vídeos que comprovam o encerramento do Grand Lisboa, mas Leong Iek Hou nada confirmou. “Não vi esses vídeos e não sei como está a situação lá fora. Temos outros assuntos a serem decididos neste momento e se faço um anúncio aqui isso irá afectar os restantes trabalhos. Iremos anunciar mais tarde em nota de imprensa”, adiantou. No entanto, segundo o canal chinês da TDM, o edifício foi mesmo selado, tendo sido bloqueadas as zonas de entrada e saída, bem como o parque de estacionamento e locais de passagem dos funcionários. No local estavam ainda funcionários a usar roupas de protecção. Perto de mil O território contava ontem com 941 casos positivos confirmados, sendo que o paciente mais novo tem apenas três meses. O bebé não tem febre e “alimenta-se bem, tendo uma situação de saúde estável”. Situação diferente é a de um doente com 71 anos, com doença crónica e cujo estado de infecção evoluiu para pneumonia. “Neste momento o doente está ligado ao ventilador e não descartamos a possibilidade que a situação de saúde venha a piorar”, disse Leong Iek Hou. Além disso, há 21 profissionais de saúde infectados, número que se mantém estável. Neste momento registam-se 800 pessoas de contacto próximo, assintomáticas ou com sintomas leves a cumprir quarentena em hotéis. Seis pessoas que testaram positivo já deixaram o isolamento ou tiveram alta. Dos 941 casos, 559 são assintomáticos. Relativamente às nacionalidades, 766 casos são locais ou pessoas oriundas do interior da China, existindo 53 casos do Nepal, 57 das Filipinas, 17 do Myanmar e 11 da Indonésia, existindo ainda outras nacionalidades. Uma vez que serão realizadas mais duas rondas de testes em massa nos próximos dias, as autoridades asseguram que só depois de analisados os resultados é que podem definir as próximas medidas a adoptar para travar a pandemia. “Prevemos que o número de infecções aumente com a realização da quarta ronda de testes. Temos de fazer uma avaliação e tomar decisões na quinta e sexta ronda de testes”, adiantou a responsável. Mistério do paciente zero Um mistério que permanece é a origem do surto. “Há que compreender que é difícil encontrar o paciente zero de entre tantos países e regiões. Fizemos a sequência dos genes e todos são da mesma fonte, com o paciente zero que começa a espalhar em toda a comunidade de Macau”, disse Leong Iek Hou. Outra das novidades, prende-se com a obrigatoriedade dos trabalhadores das áreas da limpeza, segurança e gestão de condomínios terem de realizar um teste diário à covid-19 até sábado, por representarem “um maior risco de transmissão do vírus”. “Este teste terá um intervalo de 24 horas que será contabilizado para a testagem em massa, pelo que os trabalhadores não precisam de repetir os dois testes. Apelamos a que os empregadores deixem que os trabalhadores façam os testes no horário de trabalho. Os nossos serviços estão a contactar os sectores para uma melhor coordenação e alguns postos vão prolongar os horários de funcionamento. Esta não é uma exigência para se apresentarem ao trabalho”, foi dito. Quanto às grávidas em isolamento, caso entrem em trabalho de parto e necessitem de uma cesariana, esta será realizada no Centro Hospitalar Conde de São Januário. “Recebemos vários pedidos de consulta. No Centro Clínico de Saúde Pública do Alto de Coloane não temos salas de operações. Se uma grávida necessitar de ter o seu filho, temos profissionais que assistirão ao parto no local, mas em caso de cesariana a grávida será enviada numa ambulância de pressão negativa para o São Januário”, disse Leong Iek Hou.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCovid-19 | Testes frequentes não resultam com Ómicron, aponta epidemiologista Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e um dos principais rostos da análise da pandemia de covid-19 em Portugal, aponta que a realização de confinamentos e testes em massa frequentes não funcionam com a variante Ómicron, apontada como a mais comum nos casos registados em Macau. Os testes, defende, devem ser usados apenas como estratégia de diagnóstico e não de rastreio. Jorge Torgal partilha da mesma opinião A vida dos residentes em Macau transformou-se num rodopio de marcação de testes PCR ou realização de auto-testes em casa desde que começou o mais recente surto de covid-19, a 19 de Junho, o mais grave desde o início da pandemia. As autoridades apostam na combinação de testes em massa à população e auto-testes para detectar casos de infecção, mas, ao HM, o epidemiologista português Manuel Carmo Gomes, um dos principais rostos na análise à situação pandémica em Portugal, critica esta abordagem dos Serviços de Saúde de Macau (SSM). “Existem três estratégias possíveis para contrariar a propagação e a morbilidade causada [pelo novo coronavírus]: os confinamentos generalizados ou parciais, a testagem em massa frequente para fins de rastreio, acompanhada de medidas de isolamento dos casos confirmados, o rastreamento dos contactos dos casos e a testagem dos mesmos. Temos ainda a vacinação em massa com esquema primário, mais uma dose de reforço. A China parece estar a utilizar as duas primeiras opções”, descreveu. No entanto, o especialista é peremptório: “as duas primeiras estratégias não funcionam com a variante Ómicron”, além de terem “custos sócio-económicos muito elevados, sobretudo a primeira [confinamentos]”. Testar e confinar “funcionaram com as primeiras variantes do vírus, ou, pelo menos, funcionaram suficientemente bem para interromper as cadeias de transmissão e manter uma política de zero covid”. Manuel Carmo Gomes entende que a testagem deve ser usada de forma diferente, “não como rastreio, com testes indiscriminados para todos, mas sim como diagnóstico, apenas para identificar casos suspeitos em pessoas com sintomas ou contactos de casos”. Estas pessoas devem ficar isoladas por um período de tempo nunca superior a sete dias, “caso os sintomas desapareçam”. De frisar que, em Portugal, por exemplo, os isolamentos dos casos covid-19 se fazem no domicílio do doente, sendo que as autoridades reduziram o período de sete para cinco dias de isolamento. O epidemiologista entende que a vacinação continua a ser a forma mais eficaz no combate à covid-19, alertando para o facto de a administração das três doses continuar “atrasada” em Macau, sobretudo junto da população mais idosa. “Esta variante é ainda mais transmissível e, poucos meses após o último contacto com o antigénio (vacina ou infecção), consegue evadir aos anticorpos induzidos, quer por infeções anteriores, quer pela vacinação. Consequentemente, a generalidade dos países optou pela terceira estratégia, a da vacinação, acompanhada da tolerância à circulação do vírus e de grande enfoque na protecção dos grupos mais vulneráveis, como os idosos, imunocomprometidos ou doentes crónicos.” Actualmente, afirma, “não é possível travar a circulação da Ómicron”, uma vez que “mesmo que se consiga travar durante algumas semanas, com medidas como a testagem frequente ou confinamentos, logo que as medidas são aliviadas, a Ómicron regressa em força”. “É uma batalha perdida à partida”, adiantou o especialista. A “forte” realidade A China, incluindo Macau e Hong Kong, parecem apostadas a manter-se nessa batalha. Manuel Carmo Gomes acredita, no entanto, que o país e as duas regiões administrativas especiais vão “inevitavelmente abandonar as duas primeiras estratégias em que, por enquanto, a insistem”. “A realidade é demasiado forte para que as soluções fantasiosas prevaleçam muito tempo”, acrescentou. O especialista aconselha critérios “mais inteligentes e eficazes” no combate à pandemia, tal como “adoptar medidas para conseguir administrar o esquema vacinal primário, de duas doses e mais uma de reforço, a pelo menos 90 por cento da população acima de 60 anos”. Deve ainda ser administrado um segundo reforço “antes do próximo Inverno”. Usando ainda a testagem como forma de diagnóstico, será possível “tolerar a circulação do vírus, contribuindo para a imunidade natural das pessoas que não têm risco de doença grave”. Ao mesmo tempo, “controlam-se os casos graves de doença”. A 30 de Junho foi anunciado que, dos novos casos de covid-19 registados no território, 19 por cento das pessoas não estavam vacinadas, enquanto que menos de metade tem as três doses. Leong Iek Hou, médica e coordenadora do Centro de Coordenação e de contingência do novo tipo de coronavírus, declarou que a taxa de vacinados continua a não ser “muito alta”. “Dos 572 casos [registados a 30 de Junho], 109 não foram vacinados – uma taxa muito alta – 23 receberam a primeira dose, 216 receberam as duas doses e 224 pessoas as três doses. Através destes números podemos ver que a taxa de não vacinados é muito alta, comparando com a taxa de vacinação de 90 por cento em Macau”, acrescentou. Foram já vacinadas 613.720 pessoas, sendo que 586.020 completaram duas ou mais doses, de um total de cerca de 680 mil habitantes. As autoridades têm feito apelos reiterados à população para que se vacine, sobretudo aos idosos – com uma taxa mais baixa de imunização – a quem foram oferecidos em Maio ‘vouchers’ até um valor máximo de 250 patacas como forma de incentivo. Para esta semana, a população terá de testar novamente na quarta, quinta e sexta ronda de testes em massa, que terminam às 18h de sábado. Os bebés e as crianças nascidas após 1 de Julho de 2019 estão isentos desta medida. Impossível erradicar o vírus Para o epidemiologista Jorge Torgal, a política seguida pela China para lidar com a pandemia visa a erradicação total do vírus, mas “este objectivo é inatingível”, podendo “ser conseguido em determinadas áreas geográficas, mas apenas temporariamente”. “Veja-se que após dois anos de confinamentos, a infecção reaparece sempre; mesmo na Austrália e na Nova Zelândia, países que pela sua geografia acreditaram que conseguiriam, fechando a sociedade ao exterior e tomando também fortes medidas de confinamento social, evitar a disseminação do vírus, não alcançam o seu objectivo.” Para Jorge Torgal, o confinamento geral pode “evitar um acréscimo abrupto de casos que necessitem de hospitalização” em regiões com uma elevada densidade populacional, como é o caso de Macau. No entanto, com a existência de vacinas, que reduzem a mortalidade, “não se justificam medidas atentórias dos direitos constitucionais dos cidadãos, impedindo uma vida social normal”. Neste sentido, tanto a realização sucessiva de testes, como de confinamentos, são “medidas sempre transitórias, pois novos surtos de infecção ocorrerão”. “A China continental é um bom exemplo”, disse Jorge Torgal. Confronto antigo Os comentários dos dois epidemiologistas estão em linha com as declarações da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Maio deste ano: a política de zero casos covid-19 não é sustentável do ponto de vista económico. Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da OMS, disse que hoje, dois anos depois do início da pandemia, “conhecemos melhor o vírus e temos melhores ferramentas, incluindo vacinas, por isso a gestão do vírus deve ser diferente do que o que foi feito no início da pandemia”, disse. O responsável acrescentou que o vírus mudou significativamente desde que foi identificado pela primeira vez, na cidade chinesa de Wuhan, no final de 2019. Além disso, o director de emergências da OMS, Michael Ryan, disse que a agência reconhece que a China enfrenta uma situação difícil e elogiou as autoridades por manter o número de mortes num nível muito baixo. “Entendemos que a resposta inicial da China foi tentar suprimir as infecções ao máximo, mas essa estratégia não é sustentável e outros elementos precisam de ser amplificados”, apontou. Ryan acrescentou que os esforços de vacinação devem continuar e enfatizou que uma “estratégia apenas de supressão não é uma forma sustentável de sair da pandemia para nenhum país”. A estratégia de zero casos covid-19 já levou ao confinamento inteiro de cidades, com Xangai a ser o caso mais grave e conhecido mundialmente, com a ocorrência de situações como falta de comida em muitas casas ou ausência de cuidados médicos. A China manteve-se sempre firme na sua posição. “Esta estratégia garantiu a saúde de 1,4 mil milhões de pessoas e protegeu grupos vulneráveis. Tornou a China num dos países que melhor conseguiram conter a covid-19. Esperamos que as pessoas envolvidas possam ver as políticas antiepidémicas da China de forma objectiva e racional. Eles precisam de conhecer melhor os factos e parar de fazer comentários irresponsáveis”, explicou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian.
Hoje Macau Manchete SociedadeGoverno lança regulamento que estabelece regras para concurso do jogo O Governo divulgou hoje o regulamento administrativo no qual se estabelecem as regras para o concurso do jogo em Macau, entrando em vigor esta quarta-feira. Na avaliação das propostas, o Governo vai ter em conta, entre outros fatores, “os planos de expansão dos mercados de clientes de países estrangeiros, o interesse para a RAEM dos investimentos em projetos relacionados e não relacionados com o jogo” e “as responsabilidades sociais a assumir pelas concessionárias”, indicaram as autoridades em comunicado. A próxima etapa para a atribuição de licenças passa agora pelo lançamento do concurso público, sendo criada uma comissão constituída por três elementos que vão avaliar as propostas. Macau já tinha aprovado, na Assembleia Legislativa, um novo regime jurídico para os casinos, marcado por significativas mudanças que, entre outras alterações, reforçam o controlo das autoridades sobre a indústria do jogo e as concessionárias. No regulamento agora lançado determina-se “a alteração dos requisitos relativos à proposta, dos documentos e elementos a apresentar para admissão a concurso”, assim como “disposições relativas ao conteúdo das cláusulas contratuais que o contrato de concessão deve conter e dos critérios de adjudicação”, pode ler-se na mesma nota. O documento, publicado no Boletim Oficial, “regulamenta o concurso público para a atribuição de concessões para a exploração de jogos de fortuna ou azar em casino, o contrato de concessão e os requisitos de idoneidade e capacidade financeira das concorrentes e das concessionárias”.
Pedro Arede Manchete SociedadeApoios | Empresários consideram medidas escassas, mas “melhores que nada” Gestores de pequenas e médias empresas consideram que as nove medidas de apoio económico no valor de 10 mil milhões de patacas são “melhor que nada”, mas não são suficientes para fazer face à situação “muito difícil” que atravessam. Por seu turno, o académico Davis Fong e o deputado Ma Chi Seng aplaudem a capacidade de resposta do Governo Responsáveis por pequenas e médias empresas (PME) de Macau acham que as medidas de apoio económico anunciadas no domingo pelo Governo ficam aquém das necessidades de subsistência actuais dos empresários do território, embora sejam “melhor que nada”. Ouvidos pelo jornal Ou Mun, os mesmos empresários apontaram haver detalhes por esclarecer e criticaram o facto de a atribuição dos montantes depender de rendimentos dos anos anteriores e não da “situação actual”, podendo beneficiar “empresas fantasma” e prejudicar outras com rendimentos ligeiramente superiores ao estabelecido. Recorde-se que entre as nove medidas de apoio destinadas a combater a pandemia no valor de dez mil milhões de patacas, está a atribuição de um apoio entre 30 mil e 500 mil patacas a operadores de espaços comerciais, calculado com base em 10 por cento da média dos custos operacionais declarados entre 2019 e 2021, sendo necessários lucros inferiores a 600 mil patacas em 2021. Além disso, os trabalhadores residentes por conta de outrem, que nos últimos dois anos tiveram rendimento inferior a 480 mil patacas, ou seja, ordenado inferior a 20 mil patacas mensais, vão receber um apoio de 15 mil patacas. Face ao anúncio, um dos empresários, cujo ramo de actividade não é detalhado, não tem dúvidas de que, apesar do sinal positivo, as medidas de apoio “não cobrem as despesas das empresas que estão a lutar para sobreviver”, esperando que o Governo melhore os procedimentos de candidatura e faça bom uso do erário público para ajudar “as empresas que mais precisam”. Um outro responsável pela gestão de uma PME lamentou o facto de, na prática, as medidas não serem eficazes, sobretudo quando a atribuição dos montantes ignora a situação actual das empresas. “O Governo exige que as empresas apresentem dados do ano passado para definir a sua elegibilidade, mas porque é que não toma como referência a sua situação actual para efeitos de candidatura? Acredito que se analisarmos as folhas salariais e as rendas actuais das empresas (…) podemos apoiar de forma mais directa as empresas”, disse o empresário ao jornal Ou Mun. Os empresários criticaram ainda a falta de detalhes no plano de bonificação de juros de créditos bancários para empresas, que consideraram “vago e ambíguo”. Sem pestanejar Por seu turno, o ex-deputado e professor da Faculdade de Gestão de Empresas da Universidade de Macau, Davis Fong, aplaudiu que o Governo tenha levado menos de duas semanas a apresentar o pacote de apoio e lembrou que pode beneficiar 39 mil empresas e 231 mil trabalhadores. Segundo o jornal Ou Mun, Davis Fong acredita que as medidas de apoio “são capazes de aliviar o fardo da população e das empresas” e a pressão económica do mercado “a curto prazo”, desejando que o Governo avance com a implementação “o mais rápido possível”. Dado que 85 por cento das medidas se traduzem em apoios pecuniários e as empresas podem beneficiar de bonificações de juros e do prolongamento, até Dezembro de 2023, da medida que permite pagar “apenas os juros” dos créditos contraídos, o antigo deputado acredita que as medidas vão “efectivamente prolongar a vida de muitas PME e garantir a subsistência de muitos trabalhadores”. Já o deputado e coordenador da Comissão Preparatória de Formação de Empreendedorismo e Criatividade da Juventude, Ma Chi Seng, mostra-se satisfeito com o pacote apresentado pelo Governo e considera que pode ajudar a população “que está sob pressão para conseguir pagar as contas”, a ultrapassar as dificuldades impostas pela pandemia. Nesse sentido, Ma Chi Seng recordou ainda o discurso do presidente Xi Jinping aquando das celebrações do 25.º aniversário da transferência de soberania de Hong Kong para dizer que, tal como desejado, o Governo foi ao encontro “das preocupações de subsistência da população de forma prática”.
João Santos Filipe Manchete PolíticaOperários | Deputado quer medidas mais agressivas contra surto Lei Chan U acredita que só com a eliminação do vírus e o desmantelamento das cadeia de transmissão é possível criar condições para estabilizar a sociedade e relançar a economia. Como tal, defende que o Governo deve seguir os conselhos de Xi Jinping Lei Chan U defende que o Governo deve seguir as palavras de Xi Jinping e lutar contra o vírus agressivamente, para estabilizar a situação actual e entrar num período de recuperação económica. A mensagem foi divulgada pelo deputado através do jornal do Cheng Pou, onde se mostrou preocupado com o agravar do surto mais recente, que afecta a RAEM desde 18 de Junho. De acordo com o legislador ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), desde o início que o surto se tem vindo agravar, apesar dos esforços do Governo e dos trabalhadores da linha da frente. Neste contexto, considera que existe o risco de a situação ficar descontrolada e que o Governo tem de meter em cima da mesa a possibilidade de tomar medidas mais drásticas. O deputado afirmou que “a variante Ómicron é altamente infecciosa, e se a fonte das infecções não for detectada o mais depressa possível, a cadeia de transmissão não pode ser cortada, o que vai fazer com que a situação actual não seja revertida”, alertou. “É necessário que o Governo considere adoptar medidas mais restritivas, de forma a conseguir eliminar o vírus da sociedade o mais depressa possível e restaurar a ordem, ao mesmo tempo que se promove o turismo de Macau e a recuperação económica”, pode ainda ler-se na opinião. Lei Chan U cita também a mensagem que Xi Jinping transmitiu a Ho Iat Seng, durante o encontro em Hong Kong, no sentido da RAEM “não relaxar os esforços de prevenção e controlo” da pandemia e “continuar a aliviar de forma eficiente as dificuldades” da população. Situação preocupante Com uma situação que considerou “preocupante”, devido ao impacto económico para a população, Lei Chan U sugere a necessidade de reduzir os fluxos de pessoas a circular nas ruas, sem especificar medidas concretas. O deputado avisa ainda que sem uma política mais agressiva “tudo o resto vai ser impossível”, numa alusão à recuperação económica. Em relação à situação actual, e apesar de defender a eliminação do vírus, Lei reconhece que após o surto ter sido dominado vão levantar-se vozes na sociedade contra a política de zero casos. Apesar disso, e sem tomar qualquer posição sobre o assunto, o deputado da associação alinhada com o Governo considera que o mais importante é o momento actual e o controlo da situação.
Pedro Arede Manchete PolíticaCovid-19 | 864 casos confirmados. Redução de quarentena equacionada após surto Até ontem, foram registados, no total, 864 casos confirmados em Macau, com 60 por cento dos novos infectados a serem detectados na comunidade. Redução de quarentenas para sete dias será ponderado apenas quando o actual surto de covid-19 estiver controlado. Publicação de itinerários de casos positivos só em “casos complicados” Até ao final da tarde de ontem, Macau registou um total de 864 casos confirmados de covid-19 afectos ao actual surto, os quais incluem 47 novos casos detectados na comunidade e 21 em locais de controlo e gestão. Há ainda cerca de 54 casos positivos preliminares em análise Para a chefe da Divisão de Prevenção e Controlo de Doenças Transmissíveis dos Serviços de Saúde, Leong Iek Hou, o facto de o número de casos detectados na comunidade estar a aumentar e representar um peso de cerca 60 por cento do número de casos diários significa que existem cadeias de transmissão ocultas que estão por controlar. “Os casos que foram detectados na comunidade são 60 por cento e cerca de 30 por cento foram encontrados nas zonas de gestão. Esta proporção tem-se mantido ao longo dos dias, mas claro que (…) quanto menos casos forem detectados na comunidade, tanto melhor. Isso seria o ideal. O que isto pode representar é que ainda existem cadeias de transmissão ocultas na comunidade que não estão controladas (…) ou então são casos que só foram detectados posteriormente (…), por terem um baixo teor viral”, explicou durante a habitual conferência de imprensa de actualização sobre a covid-19. Além disso, foi ainda revelado que, de entre os casos confirmados, estão sete profissionais de saúde e 14 trabalhadores externos do Centro Hospitalar Conde de São Januário e que foram detectados 38 casos positivos entre os grupos-chaves do sector de serviços de segurança, limpezas e administração de condomínios submetidos a testes de ácido nucleico no domingo. Questionada sobre a expectativa de haver mais mortes de idosos associadas à covid-19, Leong Iek Ho não descartou a possibilidade, dado que entre os 864 casos confirmados, mais de 200 dizem respeito a pessoas com mais de 60 anos. “Dos 864 casos confirmados, temos 92 casos entre os 60 e os 69 anos, 39 casos entre os 70 e os 79 anos, 89 casos entre os 80 e os 89 anos e quatro casos entre os 90 e os 100 anos, sendo que deste último grupo, dois acabaram por falecer. Não descartamos a possibilidade de haver mais casos mortais, porque muitos idosos são portadores de doenças crónicas e a variante Ómicron implica um maior risco de doença grave e morte em relação às pessoas cujo estado de saúde é considerado normal”, apontou. Uma batalha de cada vez Durante a conferência de imprensa, a mesma responsável admitiu ainda que o Governo pretende reduzir as quarentenas de 10 para 7 dias, alinhando-se assim com a mais recente política de entrada do Interior da China. No entanto, foi sublinhado, alterações nesse sentido apenas poderão acontecer quando o actual surto de covid-19 estiver debelado. “Neste momento, as pessoas que vêm do exterior têm de fazer 10 dias de quarentena e um período de autogestão de saúde. Estamos a ter em consideração a nova política [de entrada do exterior] do Interior da China [7+3]. Vamos tomar esta medida como referência, mas (…) agora vamos concentrar todos os nossos esforços na luta contra a pandemia e depois vamos alterar ou ponderar a possibilidade de reduzir os dias de quarentena”, disse Leong Iek Hou. Foi ainda revelado que a publicação dos itinerários dos casos de confirmados será apenas feita em situações excepcionais, em que a sua complexidade ou a gravidade assim o justifique. “A partir do caso 501 não vamos fazer o upload do itinerário dos infectados, tendo em conta que Macau já tem muitos casos (…) e que estes estão espalhados pela comunidade. Por isso, vamos concentrar o esforço do nosso pessoal no combate à pandemia”, disse Leong Iek Hou” Por último, foi ainda admitida a possibilidade de começarem a ser definidos grupos de risco entre a população, de forma a iniciar a toma da quarta dose da vacina contra a covid-19. “Vamos disponibilizar a quarta dose para as pessoas de alto risco como os idosos ou os trabalhadores em postos de alto risco (…) mas agora estamos focados a combater a pandemia (…) e ainda não temos um plano”, avançou.
Andreia Sofia Silva Grande Plano ManchetePandemia | Exigida maior transparência na comunicação com a população Analistas ouvidos pelo HM criticam a forma como o Governo tem comunicado medidas e decisões relacionadas com a pandemia. Pouca transparência, decisões erradas e falta de responsabilização estão no topo das críticas, mas também o curto espaço de tempo entre o anúncio de novas medidas e a sua entrada em vigor Medidas anunciadas de um dia para o outro ou ausências de dirigentes em conferências de imprensa, sem que haja possibilidade de dar resposta a acontecimentos concretos são algumas das situações que têm pautado a forma como o Governo comunica medidas e decisões relacionadas com o surto de covid-19. A situação complicou-se quando foi decretada a obrigatoriedade de teste de ácido nucleico para os trabalhadores dos casinos e dos estaleiros de construção poderem trabalhar. Num dia em que acabou por ser içado sinal 1 de tempestade, e debaixo de uma chuva intensa, o caos gerou-se com grande concentração de pessoas. As autoridades acabariam por alterar a medida, exigindo apenas a realização de teste rápido. Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde (SSM), não deu respostas sobre esse caso por não ter estado presente na conferência de imprensa, deixando as explicações sob responsabilidade da médica Leong Iek Hou, coordenadora do Centro de Coordenação e de contingência do novo tipo de coronavírus, que recusou responsabilidades por ser “só uma médica”. Isto depois de Alvis Lo ter dito que as conferências de imprensa não são “um talk-show” e que servem apenas para anunciar medidas e não para dar respostas a casos concretos. Na ocasião, Leong Iek Hou declarou que Alvis Lo estava “muito ocupado”. “O trabalho de controlo da pandemia é muito complexo e com muitas etapas. Todos os trabalhos precisam do senhor director, por isso, estou aqui hoje para vos responder”, adicionou. Na conferência de imprensa de imprensa seguinte, o director dos SSM reapareceu, acompanhado da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, e o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong. O analista política Larry So expressou ao HM o desejo que “o Governo seja mais transparente na tomada de decisões, para que desta forma as medidas possam ser mais efectivas”. “Nem sempre o director dos SSM aparece nas conferências de imprensa, a não ser que tenha de anunciar alguma nova medida. Tivemos o caso dos trabalhadores dos estaleiros e casinos e isso gerou alguma confusão. Parece que o Governo, em certa medida, não estava preparado para o que ia acontecer. Não prepararam o processo e terão acelerado a decisão.” Larry So adiantou também que, nesta fase da pandemia, “uma série de medidas que são implementadas num curto espaço de tempo”, dando azo a interpretações erradas ou desadequadas. “Há uma discrepância entre a decisão e a política, incluindo a parte da implementação. Em alguns casos, [como foi o caso da corrida dos trabalhadores aos testes, as autoridades] mostraram que simplesmente não estão preparadas”, frisou. Recorde-se que outras medidas de anunciadas a poucas horas de entrarem em vigor mereceram críticas nas redes sociais, tais como os testes de ácido nucleico obrigatórios para os grupos-chave de trabalhadores de segurança e limpeza do sector de administração predial, anunciado na madrugada do dia para realizar os testes; assim como a necessidade de fotografar a caixa do teste rápido de antigénio na submissão do resultado na plataforma dos SSM, medida anunciada no próprio dia. Casos lamentáveis O deputado José Pereira Coutinho também condena a forma como o Governo comunica com a população as medidas de combate à pandemia. “Lamento que tenham sido restringidas as perguntas dos jornalistas a casos concretos sobre a pandemia. Acho lamentável e é uma forma de pressionar os jornalistas a formular certas perguntas. Se é para ser nesse formato mais vale no futuro o Gabinete de Comunicação Social publicar notas de imprensa aos jornalistas a fim de evitar a perda de tempo de assistir a conferências de imprensa em directo cada vez mais limitativas.” O deputado fala do caso dos trabalhadores obrigados a fazer teste debaixo da chuva, que foi “um fiasco”. “As autoridades esquecem-se que, mesmo que a pessoa faça a marcação, tem de esperar muito tempo na fila. É a própria Administração que não respeita o horário escolhido pelas pessoas.” “Numa situação em que era expectável que os jornalistas fizessem perguntas sobre esse fiasco não esteve o director [dos SSM], dois subdirectores ou a própria secretária [Elsie Ao Ieong U]. O Chefe do Executivo esteve em Hong Kong, mas isso não significa que outros dirigentes não possam dar a cara. É nos momentos mais difíceis que se devem assumir as responsabilidades pelos momentos que não correm tão bem. Uma jornalista perguntou directamente onde estava o director dos SSM e é incrível que não assumam a responsabilidade. Alguém tem de ser demitido do cargo”, apontou Pereira Coutinho. O deputado fala ainda situações pouco coerentes na gestão da pandemia. “Avisam-se as pessoas para não se deslocarem para muito longe para realizar os testes. Mas depois dizem que não convém fazer testes onde há muitas pessoas, devendo ir a outro local fora da zona de residência. É um contra-senso.” Coutinho não esquece a decisão das autoridades de colocarem pessoas que testem positivo à covid-19, e que não se conhecem, no mesmo quarto para a realização da quarentena. “Se não tivesse visto a conferência de imprensa não acreditava que estão a colocar um homem e uma mulher desconhecidos no mesmo quarto de hotel. Não se pode comparar os quartos de hotel, que estão fechados, com os quartos dos hospitais. Se a mulher for coagida ou violada e não tiver tempo de chamar alguém, quem tem autorização para salvar a vítima? Esta medida é uma estupidez.” Em termos gerais, o deputado entende que Macau está num estado de “paranóia”. “As pessoas estão stressadas, há muitas doenças do foro psicológico e a economia está a afundar-se”, adiantou. Uma “má imagem” Para Jorge Fão, dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), a ausência de Alvis Lo na conferência de imprensa deu uma “má imagem à Administração”. “Houve uma enchente enorme para realizar o teste, as pessoas não estavam com máscara, empurravam-se. Criou-se uma situação mais perigosa em termos de contágio do que antes e, depois, o Governo acabou por dar o dito por não dito, e decretar a realização dos testes em casa. A comunicação tem sido muita, recebemos três a quatro mensagens por dia no telemóvel. Mas essas mensagens não chegam, porque quando se faz uma conferência de imprensa há que estar preparado para ser pressionado, porque os jornalistas não estão lá só para ouvir”, indicou o antigo deputado e dirigente associativo. O número de casos de covid-19 tem vindo a crescer diariamente e foram inclusivamente registadas duas mortes ligadas a infecções desde o início da pandemia. O Governo tem anunciado medidas de apoio económico para a população e empresas lidarem com os efeitos negativos da política de casos zero, mas Jorge Fão entende que, mais cedo ou mais tarde, os casinos vão ter de fechar portas. “Há a questão controversa dos casinos. O Governo não teve coragem de os encerrar, mas penso que vai ter de o fazer. Mesmo que os casinos estejam abertos agora não vão ter negócio praticamente nenhum por causa da exigência do teste para entrar.” No domingo, a conferência de imprensa do Centro de Coordenação e de contingência do novo tipo de coronavírus contou com a presença de vários secretários, uma vez que foram anunciadas mais medidas de apoio económico. O modelo de comunicação do Governo foi um assunto abordado. “Temos estado atentos às questões e entrado em comunicação com os serviços competentes. Todas as opiniões são ouvidas. Temos uma divisão de tarefas, e quando se trata de situações mais severas estamos sempre aqui presentes. Mas, se tiverem alguma necessidade de colocar as questões podem fazê-lo por diferentes meios”, adiantou a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U. Por sua vez, o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, referiu que “todos os presentes representam o Governo, assim como o director [dos SSM] e outros colegas”. “Espero que transmitam melhor essas mensagens. Espero a vossa compreensão, a forma como interpretam as coisas é muito importante”, rematou.