Relatos de sem abrigo na Livraria Portuguesa

[dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] Pomar” de Rodrigo Barros, o livro que reúne quarenta narrativas na primeira pessoas sem abrigo de Lisboa, tem apresentação marcada para hoje, na Livraria Portuguesa às 18h30.
Segundo a apresentação do evento na página do facebook da Livraria Portuguesa, “O Pomar” reúne o testemunho de quatro dezenas de sem-abrigo. O suficiente, segundo o poeta José Tolentino Mendonça, para traçar “um retrato desarmante do Portugal contemporâneo”. Tolentino alerta ainda para a importância em olhar para estes relatos “do ponto de vista da política e da vida civil, da cultura e da qualidade da coesão humana que as nossas sociedades fomentam.” As histórias são de sobreviventes do dia a dia “numa infelicidade e num (anti) heroísmo que ignoramos.” Ilustrativamente José Tolentino Mendonça refere a criação por um dos sem abrigo de uma história de ficção: Nasci no planeta XKL 23 Omnipotentis. Sou um chimita. Foi por acidente que a minha nave veio parar aqui à Terra. Foi depois de passarmos por Andrómeda que os problemas começaram… Lá em cima parece tão bonita a Terra. Cá em baixo é uma confusão. Não me adapto. Construí um emissor para enviar mensagens de socorro a XKL Omnipotentis. Até agora não houve resposta’.”
A apresentação levada a cabo pelo jornalista, escritor e editor Carlos Morais José e será seguida pela projecção do documentário “Nocturnos” e conta com entrada livre.

23 Jun 2016

Grafiti | Macau ainda tem muito caminho para andar

Reabilitar edifícios devolutos com cores e imagens. Dar voz aos artistas que usam o grafiti para transformar Macau numa região mais actual, mais interventiva e mais bonita. Deixar que a arte urbana invada a RAEM e assim acompanhar tendências internacionais na diversificação cultural. Estas são as premissas que poderiam fazer da Macau uma casa para o grafiti, uma solução para as paredes abandonadas e um chamariz para o turismo

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap] se Macau fosse uma galeria a céu aberto à semelhança de projectos que já se fazem um pouco por todo o mundo? O grafiti tem sido o rei na lavagem de cara de muitos espaços públicos e privados um pouco por todo o lado. A arte urbana passou de marginal a acarinhada não só pelos seus criadores como por um público que cada vez mais a aprecia. Viajar para ir a estes novos “museus” já consta dos planos de muitos e alguns já fazem parte dos roteiros mais apreciados.
Em Macau o aproveitamento de espaços antigos devolutos para a criação, nomeadamente para obras em grafiti, também é assunto que não passa despercebido. São interessados os criadores locais, a população e mesmo os deputados.
Ainda esta semana o tema foi mote de interpelação por parte da Angela Leong. A deputada interpela o governo precisamente acerca da criação de uma zona para grafiti nos bairros antigos enquanto atracção turística e cultural. grafitty gantz5
No que respeita ao património público o Instituto Para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) disse ao HM que terá tido um espaço dedicado a este género de arte na Rua dos Mercadores, num espaço alugado. No entanto e após a devolução ao respectivo proprietário o espaço estaria destinado a outros fins de foro privado e como tal não poderia interferir. É hoje um parque de estacionamento. Salientou ainda que sem autorização ninguém pode interferir no espaço público sob risco de ser acusado de vandalismo. O crime que representa a possível utilização de espaço para o grafiti é corroborado pela Polícia de Segurança Pública que confirma ao HM que o acto é classificado de Dano Qualificado, incorrendo a pena de multa ou prisão.
Quanto ao aproveitamento artístico de espaços, o IACM afirma que não será da sua tutela, remetendo a responsabilidade para o Instituto Cultural (IC). O IC adianta que está empenhado na promoção das diferentes formas artísticas na RAEM salientando a recente criação de uma zona especial de exposições no lago Nam Van para a qual convidou a equipa de artistas locais GANTZ5 Crew para realizar um trabalho entre Maio e Junho integrado na iniciativa “Anim’Arte NAM VAN”. Não adianta, no entanto, qualquer outra informação sobre a reutilização de mais espaços para promoção do grafiti.

Colectivo local

A GANTZ5 Crew é o colectivo de artistas locais que se dedica ao grafiti na RAEM. Pat Lam que assina como PIBZ é um dos membros da Crew e começou a pintar paredes em 1999. Para o artista, é “como dar um presente à cidade”. O colectivo já tem trabalhos espalhados por Macau e para Pat, actualmente é mais fácil pintar grafiti, lembrando as detenções e os problemas com as autoridades por que já passou. Para o artista o grafiti traria a Macau uma atenção especial. Salienta ainda a sua importância no alerta para os edifícios mais antigos e em mau estado enquanto pensa na “reabilitação” artística, mesmo que temporária dos mesmos. Pat afirma ainda a falta de espaços para pintar e relembra o projecto que animou a Rua dos Mercadores e a sua importância, lamentando o fim do mesmo, sem continuidade ou alternativa. A utilização das zonas mais antigas de Macau é ainda considerada uma mais valia tanto cultural como promotora de mais visitantes à região. Fica a questão dee porque é que a RAEM não promove o grafiti enquanto cartão de visita turístico ao mesmo tempo que dá “outro ar” à “baixa” da cidade.

Por esse mundo fora

O grafiti tem vindo a sair dos subúrbios urbanos onde nasceu enquanto arte marginal, de intervenção e reflexão social, e tem vindo a ocupar o coração das grandes cidades. O fenómeno é visível um pouco por todo o mundo e os seus protagonistas cada vez mais destacados internacionalmente. Há cidades pelo mundo fora que são já são denominadas “amigas do grafiti”. Lisboa por exemplo, é uma delas tendo registado nos últimos anos um elevado aumento de turistas para visitar as suas paredes pintadas. Na Europa é já tida como a capital do grafiti.
Também a Ásia tem vários exemplos entre os quais se destaca Kaosiung em Taiwan onde o governo tem vindo a expandir cada vez mais os espaços para que os artistas possam pintar legalmente. O governo local deu andamento à legalização do que chama de arte pública e com um espaço mais alargado de tela urbana, promove não só os artistas locais como cativa talentos de fora. Kaosiung é agora também um destino para uma vaga de visitantes que à semelhança de Lisboa procuram mais oferta no designado turismo cultural.
A movimentada Shibuya em Tóquio ou o não menos conhecido Soho de Hong Kong não são excepção e já contam com espaços assinados por artistas internacionalmente reconhecidos como Space Invader, Titi Freak, ou do português Vhils.
Alexandre Farto, também conhecido por Vhils foi um dos nomes do ano passado referido pela revista Forbes enquanto talento português e o já consagrado e ainda anónimo Banksy que chama tantos a conhecer as paredes que vai pintando, esteve nos nomeados às 100 pessoas mais influentes do mundo da Time em 2010.

22 Jun 2016

FRC | Um mês de filmes na Casa Garden

O III Ciclo de Cinema dedicado aos assuntos da lei avança para mais um mês em que o advogado é estrela. São seis os filmes que fazem parte do cartaz que vai encher o ecrã da casa Garden de 21 de Junho a 21 de Julho

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]a sétima arte tudo é possível. Da fantasia ao espelho da realidade, o grande ecrã a todos acolhe. O exercício de determinadas profissões não é excepção e a Fundação Rui Cunha, não alheia ao facto, pôs mãos à obra em mais um ciclo de cinema. Quem assume a rédea é o CRED-DM – Centro de Reflexão, Estudo e Difusão do Direito de Macau que numa parceria com a Fundação Oriente (FO) apresenta um mês de mão cheia de filmes em que a realidade do exercício legal está em destaque.
Nesta edição, a programação ficou a cabo de Francisco Gaivão. Ao HM o advogado diz que escolheu essencialmente filmes de que gosta e que são “mais centrados na perspectiva do advogado dentro da teia do filme”. Por outro lado também é “limitado aos que conheço melhor e que são os americanos, entre clássicos e contemporâneos”. As películas escolhidas para preencher este mês tocam questões delicadas e éticas que segundo Francisco Gaivão são aspectos fundamentais “principalmente quando se trata de advocacia criminal” sendo que da selecção constam produções que se passam essencialmente em casos de julgamento em que “algumas são situações reais”. É também no exercício da advocacia criminal que o profissional se vê mais envolvido em questões e dilemas éticos em que “tem mesmo que por de lado as suas convicções pessoais para que possa cumprir a sua função legal”.

À conversa

Cada sessão é seguida de dois dedos de conversa entre o público onde “se fala um bocadinho sobre o filme e se discute algumas das coisas mais interessantes do que se esteva a assistir”.
O mote escolhido para o ciclo foi inspirado na frase de Voltaire ” Eu queria ser advogado, é o mais belo estado do mundo” tendo em conta que o programador partilha da mesma opinião corroborando com “uma das mais nobres profissões de toda e qualquer sociedade.”
As sessões têm lugar às 19h30, antecedido de um cocktail a partir das 19h00 e contam com entrada livre.

21 de Junho

A Few Good Men, 1992, de Rob Reiner. Após um soldado morrer acidentalmente numa base militar, depois de ter sido atacado por dois colegas da corporação, surge a forte suspeita de ter existido um “alerta vermelho”, uma espécie de punição extra-oficial na qual um oficial ordena a subordinados seus que castiguem um soldado que não tenha se comportado correctamente. Quando o caso chega aos tribunais, um jovem advogado (Tom Cruise) resolve não fazer nenhum tipo de acordo e tentar descobrir a verdade.

           

28 de Junho – Philadelphia, 1993, de Ron Nyswaner

Andrew Beckett (Tom Hanks) é um promissor advogado que trabalha para um tradicional escritório da Filadélfia. Após descobrirem que é portador de HIV, Andrew é despedido. Decide assim contratar os serviços de Joe Miller (Denzel Washington), um advogado negro e homofóbico. Durante o julgamento, é este advogado que é forçado a encarar seus próprios medos e preconceitos.

           

5 de Julho – Erin Brockovich, 2000, de Steven Soderbergh

Erin (Julia Roberts) é a mãe de três filhos que trabalha num pequeno escritório de advocacia. Quando descobre que a água de uma cidade no deserto está a ser contaminada e a espalhar doenças entre os seus habitantes, começa a investigar a situação. Com astúcia consegue convencer os habitantes da cidade a cooperarem com ela, fazendo com que tenha em mãos um processo de 333 milhões de dólares.

           

12 de Julho – A Time to kill, 1996, de Joel Schumacher

Em Canton, no Mississipi, dois brancos espancam e estupram uma menina negra de dez anos. São presos mas quando são levados ao tribunal para o devido julgamento, o pai da menina (Samuel L. Jackson) decide fazer justiça com as próprias mãos e mata os dois criminosas em frente a diversas testemunhas e fere seriamente um polícia. É este pai que vai a tribunal por assassinato numa sociedade ainda dividida do sul dos Estados Unidos.

            

19 de Julho – Reversal of Fortune, 1990, de Barbet Schroeder

Em Dezembro de 1979, Sunny von Bülow (Glen Close), herdeira de 14 milhões de dólares, entra em coma irreversível. O seu marido, Claus von Bülow (Jeremy Irons), é acusado de ser o responsável por ter utilizados doses altas de insulina e contrata o professor de Direito Alan Dershowitz (Ron Silver) para provar a sua inocência. Baseado em factos reais, o filme recupera um dos julgamentos mais famosos da década de 1980.

            

21 de Julho – My cousin Vinny, 1992, de Jonathan Lynn

Quando Bill Gambini (Ralph Macchio) e um amigo são acusados de assassinato decidem chamar Vincent La Guardia Gambino (Joe Pesci), um primo de Bill que é advogado, para os defender. Quando Vinny chega sabe-se que acabou de se licenciar e que nunca passou por nenhum processo.
           

17 Jun 2016

Workshop aberto de pintura

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]cha que tem jeito para a pintura? Gostava de participar na produção colectiva de um quadro? Então é assim: amanhã, sábado, pelas 15H, o artista plástico Alexandre Baptista, que esta semana estreou a sua exposição “Desenhar é Dar o Coração” no albergue da Santa Casa da Misericórdia, vai coordenar no mesmo local um workshop para a produção de um quadro numa tela com 3Mx1.5M. A pintura será efectuada com tintas acrílicas para a coisa não ficar tão difícil. Para já, sabe-se que participarão na obra Carlos Marreiros, Pakeong Sequeira, Wilson Lam, Erik Fok, Jason U, Alexandre Marreiros e, provavelmente, você que acabou de ler esta notícia. A sessão dura até às 19 horas.

17 Jun 2016

Alexandre Marreiros expõe no MAM: “Uma leitura do tempo com T maiúsculo”

Arquitecto, mas apaixonado por desenho e pelo trabalho manual desde pequeno, Alexandre Marreiros foi para o Rio de Janeiro estudar os grandes arquitectos brasileiros contemporâneos mas acabou apaixonado pelas favelas. Um lugar onde “as coisas vão-se aniquilando mas sempre com um final feliz”. O resultado é “um registo documental que acabou na pintura”

[dropcap style=’circle’]“C[/dropcap]omo arquitecto interessa-me a arquitectura que se desenvolve de uma forma vernacular. A casa, o lugar onde nós como humanos nos sentimos seguros”, começa por nos contar Alexandre Marreiros.

Foi para o Rio de Janeiro estudar os grandes arquitectos contemporâneos brasileiros mas acabou, como ele diz “fulminado, de uma forma quase alérgica” pelas favelas. Um fenómeno urbano que descreve como “um manto bordado que cobria aquelas montanhas”.

É também esta ligação quase natural do construído pelo homem com o disposto pela natureza que interessou Marreiros.

“O Rio tem aquela topografia especial, montanhosa, e é admirável como pessoas sem know-how conseguiram adaptar-se ao local e o deixam falar por si, como a acção do homem se adapta ao que já lá estava”, diz Alexandre, confessando mesmo que “não conseguiria fazer um manifesto arquitectónico melhor”.

Naturalmente, Alexandre não acha a melhor forma de vida mas considera que “à medida de que vai sendo construída a história bate sempre certo, há uma relação com o lugar. As coisas vão-se aniquilando mas há sempre um final feliz”
Curioso por saber como tudo aquilo se desenvolvia passou grande parte dos seis meses que esteve no rio de Janeiro a deambular pelo Complexo do Alemão (o maior complexo de favelas do mundo) e na favela do Tabajaras.

Indo às origens

“Cnidosculos Quercifolius”, assim se designa a exposição, é o baptismo latim para – a planta favela, endémica do Brasil, que deu origem ao termo “favela” como fenómeno de habitação marginalizada, ilegal. Uma definição que, garante Marreiros, “deve-se a ao regresso dos soldados ao Rio de Janeiro após a Guerra dos Canudos, onde encontraram condições miseráveis de habitação na primeira favela do Brasil, o morro da Providência.

Mas, para Alexandre, as favelas também “são cor e são luz”, que assim começa por explicar ao HM como chegou a este trabalho.

O objectivo não é o de gerar grandes reflexões mas sim o de “proporcionar algumas pistas que possam conduzir as pessoas a descodificarem as histórias que existem na arquitectura e que são transportadas para a pintura”, explica.

O particular que forma o todo

“Tento apresentar ao observador a ideia de espaço que começa com um registo de desenho e um registo fotográfico exaustivo e acabou, por minha necessidade, na pintura”, adianta Alexandre, porque só a pintura consegue “transportar o registo para uma composição de cor, de espaço, de vazio, de afastamento entre as coisas que também podem ser lidas como um todo”.

A sua sensação da favela. Um local delimitado, onde em que o particular forma o todo.

A fita cola colorida, que pode ser observada nalguns dos trabalhos, surge pelo interesse plástico que o material lhe suscitou e por lhe aportar a cor da favela.

“Aparece de uma forma tosca porque ou faço as coisas muito certinhas ou muito toscas. Ando nessa procura”.

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Para Alexandre, “as favelas são como a construção de um quadro”.
“Um lugar onde existe um espaço e um limite, em que as formas, as linhas e as manchas se vão adequando a esse limite”, explica.

“A preocupação foi transportar para esta exposição o que entendo ser a arquitectura hoje em dia”.

Ou seja, para Alexandre a arquitectura é “a história das coisas construídas, vividas, habitadas e que manifestam sempre a sua cultura”.

Para o artista, “através da arquitectura podemos ler o nosso tempo. A favela não fazia sentido há 200 anos mas hoje é necessária. É uma leitura do tempo com T maiúsculo”.

Transformação fulminante

Macau não podia fugir da conversa e aproveitámos para saber como Alexandre Marreiros vê a cidade. A resposta não tardou.

“É fulminante a forma como se transforma”.

A falta de planeamento, todavia, é algo que o preocupa esperando que este venha a existir pelo menos nos novos aterros.

“Ainda consigo ler muitas histórias nesta tradição de conquista de terras ao mar. Afastar tecido antigo do que se foi desenvolvendo menos bem. É uma cidade que ainda me conta histórias bonitas mas com alguns capítulos mais negros de permeio.”

Mas também existem vislumbres do futuro que, para ele, será “uma massificação de descaracterização”, com alguma pena sua mas, como não acredita que a arquitectura seja intemporal, mas sim “muito efémera”, entende que a descaracterização que se adivinha será apenas uma marca do que foi este tempo de agora.

“Não é mau nem bom, mas talvez outro tipo de estratégia fosse mais adequado”. Algo o anima, todavia, a recente abertura da faculdade arquitectura dá-lhe esperança.

“Espero que. daqui a uns anos, (os novos arquitectos) possam ter uma opinião clara e, acima de tudo, competente da cidade.”

A culpa é do desenho

Nascido em 1984 em Cascais, Portugal, Alexandre Marreiros estudou artes no liceu, formou-se em arquitectura pela Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa, onde posteriormente obteve o grau de mestre.
“O que me conduziu à arquitectura foi o desenho. Sempre gostei de desenhar. Fiz muitas cabanas , muitas árvores, muitos carrinhos de rolamentos. Tive um percurso de artes antes mas na altura de decidir optei pela arquitectura sem nunca me desligar muito das artes plásticas”.

Exibiu em exposições colectivas em Lisboa, individualmente na Galeria GivLowe e na Casa Lusitana. Recentemente, participou como artista convidado no Festival Silêncio de Lisboa e no Festival Literário de Macau. Em 2015 recebeu uma menção honrosa da Ilustração Contemporânea Portuguesa. Vive e trabalha em Macau.
A exposição inaugura hoje, pelas 18:30H no Museu de Arte de Macau.

16 Jun 2016

Cinema | Candidaturas abertas para filmes de Macau

Agosto é a data marcada para a realização de mais uma Feira de Investimento na Produção Cinematográfica Guangdong-Hong Kong-Macau num abrir portas à produção que se faz na RAEM

[dropcap style=´circle´]A[/dropcap] edição de 2016 da Feira de Investimento dedicada à sétima arte já abriu as inscrições de candidatura aos projectos cinematográficos que precisem de “uma mãozinha” para a sua concretização, num convite à participação dos realizadores locais.
O evento de cariz anual e que desde 2014 apoia a produção do cinema de Macau conta na organização com o Instituto Cultural do Governo da RAEM (IC), a Administração da Imprensa, Publicações, Rádio, Cinema e Televisão da Província de Guangdong e o Hong Kong Film Development Council que num objectivo comum proporcionam uma plataforma de alta qualidade e conveniente para o intercâmbio e a cooperação entre produtores e investidores das três regiões. A organização adianta ainda que a Feira de Investimento representa uma plataforma para a criação de oportunidades e pontes para investimento e cooperação na área do cinema, ao mesmo tempo que estimula talentos e promove o desenvolvimento da indústria nas três regiões.

Para criadores locais

Os candidatos de projectos cinematográficos de Macau à iniciativa deste ano devem ter idade igual ou superior a 18 anos e ser residentes da RAEM. Cada candidato deverá ser o realizador do projecto e ter no CV a realização prévia de filmes de ficção já exibidos publicamente e com a duração de pelo menos 20 minutos, sendo que a produção a apresentar pode ainda estar em fase de produção. A selecção dos 10 finalistas é realizada por um júri da indústria cinematográfica que irá ter como critérios de avaliação a criatividade do argumento, a experiência e capacidade executiva do candidato, a experiência e capacidade de execução do produtor e da empresa produtora, bem como razoabilidade do orçamento.
Os candidatos dos 10 projectos cinematográficos de Macau recomendados irão reunir-se na Feira de Investimento para conhecerem e negociarem com investidores das regiões envolvidas. Todos os anos a Feira de Investimento convida 30 produtores e mais de 60 investidores. Em 2015, através de uma combinação com sucesso, foi assinada uma Carta de Intenções entre o produtor de “San Chong Mei Ying” de Guangdong e o Grupo de Cinema Zhujiang de Guangdong, Cia. Lda.
A recolha de inscrições teve início a 14 de Junho e termina a 28, estando abertas a todos os membros da indústria cinematográfica de Macau.

15 Jun 2016

MOMs organiza formação em massagens para bebés

[dropcap style=´circle´]P[/dropcap]orque as crianças “são o melhor do mundo” e o seu bem estar também, a Associação Internacional de Massagem Infantil (AIMI) e a MOMs – Macau Maternity Support, promovem entre 1 e 4 de Dezembro uma formação certificada em Massagem para Bebés. O evento promovido pela AIMI já conta com acções um pouco por todo o mundo e é realizado pontualmente na vizinha Hong Kong. Maria Sá da Bandeira, membro da Moms, após frequentar uma destas acções junta-se a Rita Amorim e resolvem trazer a “mais valia de bem estar” a Macau.
Maria Sá da Bandeira diz ao HM que “ é um curso de interesse para qualquer pessoa que trabalha ou tem qualquer tipo de contacto com crianças ou bebés.” O convite para dar a formação foi dirigido à responsável de Hong Kong , a sueca Mia Elmsater que conta com uma vasta experiência na área sendo ainda especialista nas massagens dirigidas a crianças com necessidades especiais e prematuros.
Na génese desta formação dirigida a uma população tão especial estão os “benefícios evidentes”. As organizadoras salientam o bem estar físico que proporciona às crianças: “ por exemplo nas cólicas dos bebés, se o cuidador souber aplicar a massagem correcta irá acalmar a dor”, ilustra Rita Amorim.

Cuidados especiais

Por outro lado está associada a esta actividade a promoção de laços emocionais bem como o desenvolvimento sensorial. No que respeita a crianças com necessidades especiais, Maria Sá da Bandeira comenta que a proximidade entre cuidador e bebé promovem o olhar, o toque , o cheiro, etc., sendo que esta formação “abre os olhos para tudo isso”.
Entre as componentes teórica e prática, estes quatro dias são dedicados ainda à compreensão mais aprofundada do desenvolvimento da criança Apesar da iniciativa ter como cerne bebés até ao ano de idade , inclui também “pequenas introduções no que respeita aos cuidados especiais” que depois poderão ou não ser desenvolvidas conforme o interesse de cada um, adianta Maria Sá da Bandeira.

15 Jun 2016

Yoga | Dia Internacional festejado em Macau

No próximo domingo a ilha de Coloane vai ser palco de um conjunto de actividades destinadas a celebrar a efeméride

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]uma organização do Grand Coloane Resort que cede o espaço e do Yoga Loft Macau, é festejada na RAEM a segunda edição de celebração do dia inteiramente dedicado ao Yoga.
Se inicialmente o yoga é associado a uma prática antiga indiana, Rita Gonçalves proprietária do Yoga Loft e instrutora, afirma ao HM que o yoga “made in Índia” não corresponde totalmente à realidade”. A modalidade que tem vindo a sofrer múltiplas influencias de todo o mundo é cada vez mais uma mescla de técnicas e sugestões globais.
“ O yoga hoje em, dia é propriedade do mundo” remata. Exemplo desta universalidade é a criação do seu dia internacional ter partido de uma sugestão da Confederação Portuguesa do Yoga que foi posteriormente reconhecida pela Organização das Nações Unidas em 2014. A data escolhida foi o 21 de Junho enquanto solstício de Verão mas é este ano antecipadamente celebrada na RAEM.
Em Macau, no ano passado, a efeméride foi comemorada no Yoga Loft enquanto dia aberto e na edição actual será celebrada ao ar livre contando com uma aula às 11h30 da manhã e uma outra às 15h30. Para um dia mais completo os participantes na iniciativa podem também usufruir de descontos nas piscinas do resort restaurantes ou no aluguer de bicicleta. As aulas serão “simples” adianta Rita, de modo a que todos possam participar.
A modalidade conta ainda com um aumento de adeptos geral que segundo Rita Gonçalves é devido essencialmente à necessidade das pessoas estarem com elas próprias. “Vivemos numa sociedade com muitos estímulos e este é um momento em que as pessoas passam um bocadinho a tratarem de si e a mimarem-se” adianta, sendo que há uma “necessidade das pessoas de voltar a uma relação intima e carnal consigo próprias”, motivos que considera estar na génese desta paixão crescente.

8 Jun 2016

Taipa | Benfica a dobrar em jantar no Santos

[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]ealiza-se hoje o jantar que celebra o título de tricampeões do Benfica de Macau e do Sport Lisboa e Benfica. “O Santos”, restaurante emblemático não só da cozinha portuguesa como do amor ao clube, é o promotor da iniciativa, que pretende juntar a equipa da casa e os adeptos benfiquistas num ambiente de festa.
À semelhança de anos anteriores, Santos Manuel Bruno Pinto, mais conhecido por “Santos”, proprietário do restaurante homónimo na vila da Taipa, faz questão de marcar o 35º Campeonato do clube Lisboeta.
“Já nasci benfiquista, está-me no sangue”, começa por frisar ao HM, adiantando que o convívio de hoje à noite pretende comemorar as glórias do seu “querido Benfica”, que há anos não lhe dava uma vitória tão sofrida, e por isso, mais apreciada. O encontro, acrescenta, foi marcado no dia de folga do jogadores da equipa do Benfica de Macau para que todos possam celebrar juntos. O proprietário conta com casa cheia.
As inscrições continuam a decorrer até ao final do dia de hoje. O jantar, que começa por volta das 20horas, tem um valor de 350 patacas, por pessoa, e explica o organizador está “tudo incluído”. “É com direito a tudo”, brinca.

8 Jun 2016

Justa Nobre marca presença no Clube Militar

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Clube Militar de Macau recebe desde 2 de Junho mais um Festival de Gastronomia de Vinho de Portugal. Com a iniciativa a organização pretende presentear a RAEM com uma quinzena de divulgação e promoção com o que de melhor se faz na gastronomia portuguesa.
Para o efeito o Clube faz questão de trazer “figuras proeminentes da cozinha nacional “, adianta Manuel Geraldes, e este ano conta com a presença da chef Justa Nobre considera “uma personalidade incontornável da gastronomia portuguesa”.
A chef autodidacta transmontana começou em criança nas lides da cozinha inspirada pela mãe e pela avó, segundo adianta o site de Justa Nobre. Foi desde aí que a paixão, pelos vistos sem fim, pela culinária começou.
Depois de estar à frente de vários restaurantes de renome, actualmente Justa Nobre chefia O Nobre, em Lisboa, e o Nobre Estoril. Os seus projectos não se esgotam por aí e o desenvolvimento de receitas e novos conceitos também fazem parte do seu ‘cardápio’
Já com dois livros publicados, Justa Nobre é Embaixadora do “Portugal Sou Eu” e da “Gastronomia Transmontana” bem como cara familiar em televisão, tendo sido júri da primeira edição do ‘Master Chef’ e presença assídua em jornais e revistas.

Novos sabores

Para além de ser uma oportunidade do Clube dispor de um menu especial representa ainda um momento de formação da equipa do restaurante “uma vez que o pessoal não tem nenhum português e é necessário haver acções de “on job training” e de refrescamento. A iniciativa culmina na elaboração de uma nova ementa que tem como base os pratos mais apreciados no decorrer do festival.
Paralelamente decorre o festival de vinhos em que o restaurante tem ao dispor dos interessados um “buffet de vinhos que conta com a participação de todos os nossos fornecedores e importadores de vinhos”, acrescenta.
A novidade deste ano reside na prova de vinhos com os respectivos fornecedores em que durante os 15 dias de festival de gastronomia e vinhos, o público tem oportunidade de fazer uma “prova guiada durante a qual é dada informação em modo pequena palestra acerca dos seus produtos”
Esta é, para Manuel Geraldes uma “forma de contribuir para uma melhor divulgação e promoção do que se faz em Portugal” estando previstas cerca de oito sessões de provas de vinhos na edição que está a decorrer.
O evento que teve início a 2 de Junho e fim marcado para dia 13, é agendado de forma a incluir tanto o Dia de Portugal como o de Santo António, associado ao aniversário do clube que é aqui comemorado.
A decorrer desde 2000, o evento, segundo Manuel Geraldes tem tido um crescente sucesso sendo que, desde o ano passado, conta com duas edições anuais e com a participação dedicada aos vinhos. A segunda edição anual decorre no mês de Outubro coincidindo com mais uma época alta da região em que se junta a entrada do Outono a eventos como a Festa da Lusofonia.

7 Jun 2016

Filme indiano Teen Pakau in Macau chega aos cinemas em 2017

Macau terra de luzes e ilusões mas também de história e tradição é o local escolhido para as filmagens de Teen Pakau in Macau. O filme inteiramente rodado em Macau já mexe nas ruas da RAEM e prevê ver a luz do dia em 2017

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau é o cenário integral do filme que está de momento em rodagem. Teen Pakau in Macau é uma produção ao jeito de Bollywood que conta com a realização de Johny Singh Rana.
A produção da Golden Grapes Motion Pictures tem a colaboração da Associação dos Amigos de Nepal em Macau, da Companhia Internacional de Entretimento Precioso A&C Lda., e pretende narrar as aventuras e desventuras de três jovens indianos que trabalham na RAEM. O nome da película que por si só significa uma espécie de “bluffing” traz as ilusões de quem vem de fora viver nesta “bela cidade de Macau” adianta António Inácio, relações públicas da produção, ao HM.
A escolha de Macau é devida ao gosto que a equipa sente pela terra na sua beleza, tradições e “glamour”.
Este “ é talvez o primeiro filme a ser totalmente rodado na RAEM” adianta, enquanto considera que é também uma forma de a promover além fronteiras. Neste sentido foram inicialmente escolhidos os prontos turísticos de maior relevo como as Ruínas de São Paulo, o Templo de Ah Ma, a Fortaleza do Monte, o Aeroporto de Macau e a Torre de Macau bem como alguns hotéis e casinos de referencia da RAEM.
Além dos lugares a produção afirma ainda a intenção deste ser um filme para Macau, mais até do que comercial “já que vamos cobrir quase todas as festividades e tradições multiculturais”. António Inácio sublinha que “depois de conhecer melhor Macau, estamos já a enquadrar também a cultura e a religião de acordo com as festividades locais, nomeadamente o Grande Prémio de Macau, procissões religiosas, etc.” Numa outra perspectiva, e na abordagem do jogo e dos casinos, sem fugir a este “cartão de visita” é intenção da produção abordar a situação em diferentes facetas tendo em conta também “os seu resultados negativos”. 
Apesar da promoção turística implícita, o RP refere ainda as dificuldades sentidas, nomeadamente por parte de alguns casinos e hotéis, na obtenção de aprovação para filmagens. Adianta que, devido a questões de planeamento, algumas casas comerciais não estão a fornecer as respectivas autorizações enquanto que outras pedem “uma quantia exorbitante” por alugueres de espaço em regime de exclusividade.
Por outro lado, a produção conta já com a aprovação Instituto Cultural de Macau e das Forças de Segurança locais.
A película que será um romance / comédia conta na equipa de actores com profissionais provenientes da Índia ou com origem mista nepalesa, sendo que a parte técnica integra residentes da região entre os quais António Inácio ou mesmo o produtor H. K Peter. Apesar da inclusão de profissionais locais, o RP fala da dificuldade por vezes em encontrar mão de obra especializada pelo que a produção se vê obrigada a recorrer ao estrangeiro.
Teen Pakau Macau será falado em Hindi, mas legendado em inglês e chinês, sendo que é objectivo atingir os mercados internacionais bem como o da China Continental e tem data prevista de lançamento no primeiro semestre de 2017.

7 Jun 2016

Comemorações do 10 de Junho na Cinemateca Paixão

O cinema de Portugal vai encher o ecrã da Cinemateca Paixão no próximo fim-de- semana com uma selecção “de ouro” do que melhor por lá se faz. Integrado nas comemorações do mês de Portugal, que decorrem durante este mês, vão ser projectadas curtas e longas metragens de destaque nacional e internacional

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] cinema feito em terras lusas é tema de destaque no âmbito da Comemorações do Mês de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em Macau e Hong Kong e conta com a colaboração da Agência Internacional de Cinema Português, a Portugal Film. A iniciativa, a decorrer na Cinemateca Paixão, apresenta este ano uma mostra de filmes que reflecte a produtividade, a diversidade e a excelência do cinema português, refere a organização.
Entre a selecção constam vencedores dos prémios nacionais e do público do Festival IndieLisboa 2015, bem como a curta-metragem vencedora do Leão de Ouro de Berlim e do Firebird Award do Festival de Cinema de Hong Kong, o filme “Balada de Um Batráquio” de Leonor Teles.
Entre curtas e longas metragens, o programa abre no sábado pelas 16h30 com a projecção de cinco pequenos filmes. “A caça revoluções”, de Margarida Rego, é uma animação experimental que explora a relação entre duas gerações, dois tempos e duas lutas diferentes. É a Revolução de Abril a inspirar as gerações que apenas a conhecem através de relatos dos que a viveram e das fotografias apropriadas.
“Aula de condução”, uma realização de André Santos e Marco Leão, aborda a esfera onde se forma a maturidade de um jovem olhar: o da intimidade e o seu silêncio enquanto territórios cinematográficos. Já “Despedida” é um filme em que Tiago Rosa Rosso cria um jogo de absurdo a partir das referências da infância e do humor nos códigos de comunicação da amizade masculina.
Jorge Cramez traz “O Rebocador” e com ele um território que lembra o “film noir” de Raoul Walsh: “They Drive By Night” e as confissões solitárias de quem nele vive.
A tarde fecha com o vencedor do Leão de Ouro de Berlim e do Firebird Award do Festival de Cinema de Hong Kong, “Balada de um Batráquio”, da jovem cineasta Leonor Teles que num gesto pessoal e activista desfaz preconceitos sobre a comunidade cigana.
A sessão da noite com início às 20h00 vai dar lugar à longa metragem “A toca do lobo” de Catarina Mourão, em que a realizadora se centra numa figura da vida cultural portuguesa: o escritor e seu avô Tomaz de Figueiredo. Um olhar que abre as portas secretas de uma vida que deixou apenas o seu trabalho para a memória dos seus filhos e dos seus netos, tal como de uma família que se viu separada pela sua morte e marcada pelo dia-a-dia de um país dictatorial. Na sua antiga casa, vivem os segredos e os acontecimentos num quarto fechado à chave e aberto pela câmara da realizadora e pelo movimento deste filme: a intimidade.

A fechar

Domingo, o horário repete-se mas com a projecção da “matinée” a dar lugar a “Gipsofila” de Margarida Leitão. “Gipsofila” é o espaço pessoal de uma avó visto pela câmara da sua neta. Um ensaio sobre a sua memória através das palavras hesitantes de duas pessoas que se amam, que se filmam e partilham o mesmo sangue. O filme é também o espaço exterior de solidão de uma realizadora que encontra um lugar para criar o seu cinema e filmar uma herança que talvez se julgava perdida.
À projecção segue-se um debate à volta do tema da produção cinematográfica em Portugal e a sua visibilidade pelo mundo com a directora da Portugal Film, Margarida Moz.
A sessão da noite conta com “Os olhos de André” de António Borges Correia. Aqui, a paisagem de Arcos de Valdevez, em Portugal, serve de cenário para recriar uma história verdadeira onde um pai tenta reconstruir a sua vida, depois de uma separação, para acolher o seu filho André e voltar a unir uma família. Pelo olhar de António Borges Correia e a perspectiva da sua câmara, os seus actores (as pessoas que viveram, nos mesmos papéis, a mesma história) seguem as sugestões que uma nova ficção cria a partir daquilo que já se viveu, dando-nos a conhecer, pelo cinema, uma vida real de um país verdadeiro.
“Aqui, em Lisboa” vai preencher a sessão da noite de 13 de Junho, uma produção realizada por Dominga Sotomayor, Denis Côté, Gabrial Abrantes e Marie Losier. Um filme que concretiza o resultado de quatro autores com quatro visões diferentes da cidade de Lisboa, passando pelos registos da ficção, do documentário, da comédia ou do fantástico.

Crescer e aparecer

A Portugal Film organiza, há 13 anos, o Festival IndieLisboa e outras mostras de cinema independente em Portugal e no mundo. Na sua génese está o crescente reconhecimento internacional do cinema português e da consequente curiosidade pelos filmes ali produzidos. Além de assegurar a presença de filmes nacionais no maior número de festivais internacionais, promove também a curadoria de mostras e eventos onde o público possa apreciar o melhor cinema português e onde os filmes possam não apenas ser vistos, mas também conversados com os seus intervenientes. A programação, toda ela composta por filmes em Língua Portuguesa legendados em Inglês, visa cativar o interesse do público de Macau.
A mostra conta com entrada gratuita sendo que os bilhetes estão disponíveis na casa de Portugal a partir de amanhã.

6 Jun 2016

CCM | Maria Ana Bobone em espectáculo amanhã

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]aria Ana Bobone está amanhã no Centro Cultural de Macau para mostrar “Fascínio por Portugal”, um espectáculo de música portuguesa com sons do Oriente. A convite da Orquestra Chinesa de Macau, a fadista regressa ao território 15 anos depois.

O espectáculo que apresenta a fadista portuguesa Maria Ana Bobone em colaboração com a Orquestra Chinesa de Macau – e sob a batuta do maestro Pang Ka Pang – tem lugar amanhã, pelas 20h00, no Centro Cultural de Macau (CCM). Esta união não é pioneira, sendo que em 2014 Maria Ana Bobone e a Orquestra actuaram juntos em Lisboa, mas a fadista regressa ao território 15 anos depois.

Maria Ana Bobone é reconhecida como uma das mais talentosas artistas da sua geração, tendo-se estreado no cantar do Fado aos 16 anos. Posteriormente conclui os cursos de Piano e de Canto do Conservatório Nacional de Música de Lisboa. O seu primeiro trabalho discográfico intitulado “Alma Nova”, viria a ser o início de uma carreira brilhante que corre palcos por todo o mundo.

A mistura entre o Fado e uma orquestra com instrumentos tradicionais chineses é, como diz Maria Ana Bobone ao HM, uma relação que desde o início foi “muito boa”.

“O que salva neste tipo de pontes é a linguagem universal da música que permite que culturas absolutamente diferentes se encontrem”, salienta, indicando o interesse deste tipo de comunicação quando se está e trabalha com pessoas com as quais não se consegue falar.

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O trabalho com o maestro Pang Ka Pang também é gratificante sendo ele “uma pessoa muito característica e que ilumina um palco”. Depois da primeira colaboração, esta segunda foi aprofundada para este espectáculo, que conta com um repertório essencialmente de Fado. Para a fadista é “fantástico o trabalho que a orquestra chinesa realiza com os instrumentos que a compõem sendo que oscilam entre as sonoridades que marcam a identidade do Oriente”.

Maria Ana Bobone já esteve em Macau há 15 anos a convite da Fundação Oriente e integrada num espectáculo com outros artistas. Desde essa primeira vez na RAEM até agora destaca a “evolução inacreditável” que vê e uma “diferença que demonstra vitalidade à volta de Macau e do investimento que aqui se faz”. Salienta, contudo, o gosto que sentiu pela Macau de há 15 anos em que sentiu que era “uma coisa mais pequena e mais intimista”.

Outras causas

Numa carreira de relevo internacional com o Fado, a artista decidiu no disco “Smooth”, lançado no ano passado, sair do trilho e arriscou numa vontade pessoal de fazer um álbum com outras canções. Uma “vontade que tinha desde sempre de ter esta experiência artística por outras linguagens musicais que era uma das coisas que não tinha feito profissionalmente”, como confessa.

Sendo um projecto de carácter excepcional “podia e devia aliar-se a uma causa igualmente especial, que é a ajuda às pessoas com leucemia.” O disco contou com a produção de Rodrigo Serrão e as receitas revertem para a Associação Portuguesa Contra a Leucemia. A receptividade a esta nova aventura foi “surpreendentemente boa”.

Para o futuro salienta a necessidade de paragens para reflexão e tem nem cima da mesa a possibilidade de edição de um disco ainda este ano. Mas ainda não tem a certeza se o quererá fazer.

Embaixadores nacionais

Levar o Fado ao mundo é um trabalho de “embaixador” em que se mostra o que se faz e quem se é. Da mesma forma, Maria Ana Bobone salienta que a Língua Portuguesa é a mais adequada ao género, não concebendo o mesmo enquanto tal se cantado noutro idioma.

“Tenho uma alegria imensa em sentir que o Fado volta a estar popularizado por entre cada vez mais público de diferentes gerações”, diz, relembrando outros tempos em que as editoras recusavam trabalhos deste género musical argumentando que não vendia. Mas, diz, a situação actual é “uma grande lição para todos os que diziam e achavam isso, porque de facto o Fado vende e é das poucas coisas que vende hoje em dia”.

Para amanhã, a artista afirma que tem preparado um “bom concerto esperando um gosto comum por parte do público”. Das canções fazem parte temas como “Auto-retrato”, “Fado Xuxu”, “José Embala o Menino”, “Nós as Meninas”, “Marião” e “Havemos de Ir a Viana”.

3 Jun 2016

Eunice Wong, cantora, apresenta álbum ao vivo no Macau Design Centre

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]asceu nos Estados Unidos, “porque era moda”. Cresceu em Macau, seguiu para a Birmânia e acabou por estudar e viver em Nova Iorque. Do processo saiu uma artista versátil, uma voz das que não aparece todos os dias, uma vontade deliberada de provocar e um som que dá para perceber não andar com más companhias. Ganhou pela segunda vez o subsídio do IC para novos álbuns e este sábado apresenta o mais recente, ao vivo, no Macau Design Centre, pelas 16h00. O segundo já está planeado

Saiu de Macau aos nove anos e depois foi para a Birmânia. Como foi isso?
Os meus pais tinham um negócio lá, eles são chineses/birmaneses mas nascidos em Macau e vivi lá cinco anos.

Que tal a experiência?
Diferente. Adoro a Birmânia mas os contrastes são enormes. Os ricos, muito ricos, os pobres muito pobres. Quer dizer, os meus pais eram dos ricos, fui para escolas internacionais.

Mas nasceu nos Estados Unidos…
Era moda na altura ter os filhos nos Estados Unidos. Os meus primos nasceram na Austrália, no Canadá… Além disso, o lado da minha mãe é Hakka, meio cigano. Gostam de ser nómadas.

Chegou aos Estados Unidos no princípio da puberdade. Como foi crescer em Nova Iorque?
Foi em Brooklyn, no Harlem… Não estava preparada. Na Birmânia não tínhamos muitas notícias, internet… às vezes nem electricidade. Então de repente estou em Nova Iorque e há tudo. Cultura, música, hip-hop, drogas… muitas coisas que nem tinha ideia que existiam.

Choque por uns tempos?

Um bocadinho. Estava habituada a uma Escola Internacional onde nem sequer pensávamos em raças, até gostávamos das diferenças, e de repente em Nova Iorque é tudo por raças. Na altura, nem pensava se era chinesa ou outra coisa qualquer. Mas em Nova Iorque é assim, segregado. De alguma forma, isso levou-me até este meu disco, “Humanize”. É tipo um lembrete para toda a gente, do género “oiçam, eu faço este disco porque sou humana, não porque sou chinesa, ou americana ou isto ou aquilo”.

Sentiu-se segregada, no mau sentido?
De uma forma intensa.

Então agora o que se considera?
Cheguei a um ponto em que sinto que ‘quanto mais pensas nisso mais te aborreces’ portanto adoptei a forma de me ver a mim e aos outros como humana em vez de tentar analisar de onde é que eles são ou assumir as suas vidas.

Como começou a música?
O meu pai é músico. A minha mãe não tem ouvido para os tons, por isso só posso ter herdado do meu pai. (risos) Ele toca guitarra e canta em bandas birmano/chinesas aqui e na Birmânia. Havia sempre música em casa. Ele toca muita música tipo Carpenters, Santana, The Beatles. Portanto cresci a ouvir isso e até estive em aulas de violino aqui em Macau, mas queria cantar. Sempre soube que queria cantar.

Como começou a envolver-se mais a sério?
Tinha uma banda de Rock quando estava no liceu em Nova Iorque. A “Just A pupil”, tinha um duplo sentido. Era eu e três colombianos.

E tocavam o quê?
New Rock, Pop Rock, adorávamos os Incubus e Rock Latino tipo Zurdok.

E em Nova Iorque tocaram muito?
Sim, ao longo dos anos toquei em muitos bares e cenas underground. Até tocámos no [clube] CBGB antes de o fecharem.

E depois dos “Just A Pupil”, que aconteceu?
Tivemos de nos separar. Os meus poemas, a minha direcção é sempre muito pessoal. Era teenager, escrevia muito sobre a “raiva dos adolescentes”, sempre muito zangada, e eles queriam fazer mais ‘dub reggae’, algo com o qual não estava muito familiarizada e depois fui para universidade e comecei a brincar com música electrónica. Comecei a produzir num computador, a fazer electrónica…

Qual era o curso?
Sociologia. No City College de Nova Iorque. Por isso vivi no Harlem uns cinco anos.

Como foi a experiência? Que tipo de vizinhança?
Era muito hispânica. Porque existe East Harlem, West Harlem e Central Harlem. Central Harlem é muito negro, East Harlem é muito porto-riquenho, West Harlem é muito dominicano (risos).

E caiu no lado dominicano?
Sim. É incrível. Imensa comida dominicana. Música até às quatro da manhã com miúdos de três anos a correrem por todo o lado. Era divertido. Foi, decididamente, uma grande experiência.

E entretanto fazia-se música electrónica no quarto…
Entretanto fui interna para o Doug E. Fresh, um dos fundadores do beatboxing nos anos 80. Faz imensas cenas com a língua. É um verdadeiro ícone no Harlem.

Qual era o trabalho?
Promovia os artistas da editora dele, incluindo os filhos que têm um grupo de rap, também editei videoclips.

Faz muitas coisas diferentes. Estudou Sociologia, canta, produz música e vídeos…
Em Nova Iorque há muita gente assim. Que deitam as mãos ao assunto e fazem muitas coisas diferentes.

A vida é em Nova Iorque?
Sim, mas vim para Macau na esperança de conseguir organizar uma tournée asiática. Tem havido conversas reuniões com pessoas interessadas em organizar espectáculos na China. Venho cá uma vez por ano.

Como vê as transformações que aqui acontecem?
Muito orgulhosa. Antes tinha de dizer às pessoas onde era Macau mas agora isso não acontece. Não saber onde é Macau já é responsabilidade individual. Gosto que não esteja tão saturado como Hong Kong e continua a ser uma coisa nova. As pessoas continuam a achar Macau interessante. E as oportunidades também estão em aberto.

O que quer dizer com saturado?
Há mais artistas ‘indie’ em Hong Kong e a fazer música electrónica. Aqui ainda é novo. A atitude também é diferente, os artistas podem convidar bandas. Em Hong Kong há sempre muitos espectáculos a acontecer.

Já tocou em Hong Kong?
Sim, há ano e meio. Foi fixe. Trabalhei com os Soler e ajudei na mistura e produção de uma canção.

Ouvimos “Tame this heart”. É completamente diferente do que está a fazer agora…
É mais independente. Um tema muito pessoal. Era uma coisa que tinha de fazer apesar de sair da Pop. As pessoas podem gostar ou não. Estava num sítio escuro, deprimida, mas a sentir-me extra criativa. Criava uma canção a cada 15 minutos, esse tipo de criatividade.

Agora é mais Pop e comercial…
Sim. Mas algumas das canções do álbum também já são antigas.

E o que faz nestas canções?
Componho e co-produzo.

No vídeo de “Ain’t Nobody Else” há uma clara alusão a Bonnie & Clyde. A ideia é provocar?
Sim, definitivamente. Penso que há diferentes tipos de artistas que se encaixam em nós pelo estilo musical. Acho que sou do tipo que te faz sentir alguma coisa estranha, que provoca e que deixa também o sentimento de desconforto.

Fala-se que hoje não há estrelas rock. É tudo “pronto-a-servir”, receitas que se repetem. Os ‘rockers’ já não se atrevem. Concorda?
Sim. Sinto que quanto maior se é, mais controlo se sente porque cada vez se tem mais a perder. Por isso os artistas precisam de segurança, querem sentir-se a salvo. Muitos músicos criam para o mercado adolescente. Depois penso nos meus jovens e rezo sempre pela sua estranheza e pela sua diferença.

Com a evolução de “Tame this heart” para “Humanize” não está também a pôr-se a salvo?
De certa forma sim, mas esse tema é diferente. Não me preocupava quem gostasse ou não. Era um projecto muito pessoal. Lembro-me que era Inverno e queria sair daquilo, fazer outras coisas. Esse tema ajudou-me a mostrar o meu amor pelo ‘dubstep’ e pelos sons britânicos mais ‘dark’. Um tributo ao que tinha feito, ao passo que “Humanize” é mais um portfólio da minha melodia e das minhas letras. Bryan Spitzer

Está a seguir os passos de artistas como Madonna?
Adoro-a. Ela é uma artista e faz as coisas com a certeza de que tudo o que faz é novo. Vocalmente acho que somos muito diferentes, mas a minha maior influência é Shirley Manson dos Garbage. Desde pequena que gosto muito dela.

O que ouve agora?
Gosto muito de Lana Del Rey, somos muito do mesmo estilo e também da mesma idade. Também há influência dos Blues.  

Nesta digressão que pretende na China, com temas em Inglês, como acha que as pessoas vão reagir?
Tenho ouvido muita coisa acerca da China e acho que está faminta de novas culturas e novos sons.

Que podemos esperar do vosso espectáculo?
Com a saída deste álbum terei em palco um guitarrista que também é teclista, um DJ, bailarinos e eu.

Trouxe essas pessoas?
Não, vivem em Macau e estamos a ensaiar. São maravilhosos. Conheci-os pelo boca a boca, a perguntar a amigos, e toda a gente foi muito receptiva.

Houve alguma espécie de casting?
Acho que felizmente segui o meu coração.

Como vai ser o espectáculo em Macau?
Vou ter um VJ, o Miguel Khan. Gostava de ter uma componente visual sólida. Obviamente que desta vez só terei bailarinos para algumas canções mas gostaria de ter muito mais. Era muito importante ter mais músicos em palco e instrumentos a tocar para a minha voz. Espero que o espectáculo também junte isso tudo.

Quem desenvolve o conceito?
Há um coreógrafo que me ajuda. Não há uma organização para a coreografia.

Uma coisa completamente nova este espectáculo em Macau?
Sim e a primeira vez com este lineup.

Vive da música?
Trabalhava em Nova Iorque. Trabalhava para uma empresa de cuidados de pele online. Eles apoiavam-me no horário e na pele também. (risos)

Acham possível profissionalizar-se enquanto músico?
Fazia anúncios para televisão e isso abriu-me os olhos para a produção musical. Na medida em que é produzida para enaltecer um objecto. Era como os negócios imobiliários. Só se ganha depois de vender e aí ganha-se muito, mas era muito arriscado e decidi afastar-me porque estava muito focada na criação musical gratuita. Quanto a ter uma carreira profissional, sim, penso que a terei. Quanto ao ganhar dinheiro, agora ele vem dos espectáculos.PRINCIPAL SEGUNDO TEXTO_Eunice and Suki Wong

Onde se vê no futuro?
Quero fazer muitos espectáculos. Estados Unidos, China… especialmente na China e na Ásia que estão a crescer.

Quando for mais velha, vê-se como produtora, actriz, realizadora, ou nada disso?
Gostaria de fazer mais projectos artísticos e de vídeo. Escultura, sei lá. Tenho muitas ideias estranhas. Há uma noites tive esta ideia de “Vershina” numa mistura de Versace com China, uma ideia de moda chocante. Mas enquanto estiver na música quero um tipo de trabalho das Nações Unidas, viajar pelo mundo, fazer salvamentos de emergência. Aprendi Francês na escola e recentemente soube que precisava disso para as Nações Unidas.

Também pode usar o Francês nas canções…
Pois, mas talvez o Português. E adoro o Casanova e talvez introduza algum jazz e alguma representação. Quero fazer muitas coisas.

“Melhor que uma editora. Não me limita”

 “Humanize”, o álbum que Eunice agora apresenta, já tinha sido apoiado pelo Instituto Cultural em 2014. Agora o segundo também vai ser. Com este apoio, o novo trabalho, diz, “vai mudar tudo. Acho que vão passar a ver-me um bocado pela Ásia.”
O prémio do IC, no valor de 215 mil patacas (a confirmar), vai permitir-lhe arrancar já para a produção do segundo álbum onde o Inglês não será total, como agora. “Estou excitada por poder incluir alguns temas em Mandarim.”  Já sabe que vai trabalhar com alguns pesos pesados da Pop, como Jordan Jaeger que produziu “Cups” cantado por Anna Kendrick para o filme “Pitch Perfect”, entre outros trabalhos para artistas internacionais. “Conheci-o numa empresa onde costumava trabalhar”, conta, “fizemos um EP, eles gostaram, por isso agora vamos fazer um álbum. Estou super feliz.”
Eunice explica que o IC “tem sido fantástico” com ela. “Melhor que uma editora discográfica porque não limitam o que eu posso fazer.”
O tema do próximo álbum vai ser “’The girl who’… Quero deixar assim aberto”, avança Eunice, “quero que as raparigas preencham a seu bel-prazer”. Com esta experiência, a artista espera que o trabalho fique mais inclusivo. “Quero envolver a minha audiência mais, criar mais proximidade.”
Uma chamada à imaginação mas também, e sobretudo, ao sonho. “Cada tema vai ser dedicado a mostrar tudo o que uma rapariga pode fazer.”
Em termos musicais também já está tudo muito claro. “Quero fazer produções mais minimais com mais camadas de vozes, usar vozes como instrumentos de apoios nas músicas.”
A artista confessa ainda que “fascina-a ideia” de usar diversas línguas. “Parece-me a direcção correcta para um artista de Macau. Usar todas estas línguas. O Português, o Inglês, o Chinês. Nós podemos fazer isso.”

3 Jun 2016

Nuno Gonçalves, dos The Gift: “Queremos sempre o espectáculo como se fosse o último”

A abertura da digressão da banda portuguesa The Gift já conta com sala esgotada em Macau no concerto que tem lugar hoje no Centro Cultural. Nuno Gonçalves, fundador e músico da banda, está radiante, não só com este espectáculo que representa a abertura das comemorações dos 20 anos de carreira, como pelo disco – ainda sem nome – que aí vem e que contou com a produção de Brian Eno

[dropcap]E[/dropcap]sta digressão, iniciada hoje, marca os 20 anos de vida dos The Gift. Como é que nasceu e tem sido esta aventura?
A banda nasceu como qualquer banda nasce. Pelo menos tenho esperança que hoje as bandas ainda nasçam dessa forma. Amigos de escola com amor pela música, com uma vontade própria da idade em fazer coisas. Depois pelo facto de virmos de uma cidade pequenina, como é o caso de Alcobaça, e por isso não termos tanto acesso à cultura como nos grandes centros urbanos, o que criava em nós uma motivação extra. Foi assim que começámos, num sótão pequenino em Alcobaça. De 1994 até hoje é uma história com muito trabalho em que fazemos os discos das nossas vidas e investimos muito tempo e dinheiro nas digressões. Queremos sempre apresentar um espectáculo diferente e o melhor possível, como se fosse o último.

Algumas dificuldades quando se foram profissionalizando?
No início ainda estudávamos. A música era um hobby, apesar de ser um hobby que nos roubava muito tempo. A profissionalização da banda só se dá entre 1998 e 2000. Sentimos algumas dificuldades associadas ao facto de sermos uma banda de fora dos grandes centros urbanos, que cantava em Inglês, com um estilo não muito definido. Não éramos Fado, não éramos o Pop da época, éramos diferentes dos Santos e Pecadores ou dos Delfins….

Mantêm hoje essa diferença?
Acho que sim. Ao fim destes anos todos, e também pela presença e voz da Sónia e pela maneira como faço as músicas, acabamos por ter a nossa identidade e acho que essa também é uma das mais valias da banda.

A entrada da Sónia inicialmente não era prevista…
Não imaginava uma voz feminina, mas a partir do momento em que a Sónia cantou, fiquei rendido. É um dado curioso. Imaginava sempre a banda, o que também terá a ver com a adolescência, como uma coisa muito de rapazes.

Não é a primeira vez que está em Macau. Como foi em 2000?
Foi óptimo. Recordo-me desse ano em que andávamos com 12 músicos em palco. Vínhamos de Hannover e depois seguíamos para Paris. Foi uma época muito produtiva da banda. Foi um espectáculo muito engraçado porque na altura não vínhamos com muitas expectativas. Acho também que uma das grandes vantagens da banda é essa de não ter expectativas em muita coisa. Tentamos sempre fazer o nosso melhor e se corre bem, ainda bem. Lembro-me que estava cheio e que esgotámos os CDs todos que tínhamos trazido para venda. Divertimo-nos imenso. O público era também muito heterogéneo, dos oito aos 88 anos.

Esta abertura de digressão em Macau foi por acaso ou planeada?
Sabíamos que à partida seria mais ou menos por esta altura. Há uma lacuna de espectáculos normalmente entre Janeiro e Maio, apesar de nós, e por gostarmos de tocar em teatros, fazermos muitas vezes nesta altura os nossos concertos também. Aqui calhou e ficámos muito lisonjeados com isso. Por um lado vamos ter tempo para trabalhar e por outro vamo-nos divertir imenso porque vamos trabalhar para um público que à partida não está conquistado e isso é óptimo.

O que esperam deste espectáculo hoje?

Disseram-me que estava esgotado. Vamos fazer o nosso melhor e acho que as pessoas vão gostar muito.

Como é que é levar a música que se faz em Portugal ao mundo, visto os The Gift também já terem esse papel?
Acho que levar a música portuguesa ao mundo já se faz há muitos anos e mais especificamente no Fado. No nosso caso, é um bocadinho diferente, tentamos levar outra música. Na minha opinião é uma música mais identificativa do Portugal moderno do que propriamente duas guitarras e um xaile preto. Acho que Portugal tem bastante mais cor e é bastante mais luminoso do que isso. Nesse sentido, e o facto de ser também diferente, faz com que seja também mais difícil. Ainda não há estradas traçadas por uns Heróis do Mar, ou por uns GNR. Infelizmente essas grande bandas portuguesas e muito identificativas da nossa geração não conseguiram passar além fronteiras. Ao contrário de nomes como a Amália Rodrigues, Mariza, Dulce Pontes ou Madredeus. Existe uma auto-estrada com via verde aberta para o Fado na ‘worldmusic’, que não existe no Pop. O caminho é mais difícil. Nós, por exemplo, temos mercados em que estamos mais solidificados, como o de Espanha. Isso será também pela proximidade geográfica e por isso acaba por nos permitir abrir a nossa própria estrada. Por exemplo em Madrid já tocámos para 1700 pessoas. Já temos também uma presença forte nos média. Por outro lado já não temos a mesma projecção nos média de Portugal, o que pode significar que é um caminho já traçado, em que não somos mais a coqueluche da música portuguesa. Mas existe em Espanha um crescer de interesse ao ponto de virem a Portugal ver espectáculos nossos. No Brasil também temos tido destaque bem como nos Estados Unidos, onde com maior ou menor frequência, também vamos.

Relativamente à estrada aberta do Fado. Os The Gift também já tiveram um projecto associado a ele. Como correu?
É um projecto ligado ao Fado porque cantamos poemas de temas de Fado, mas que por si não o era. E só assim eu o poderia fazer. Não sou de todo amante do género, tal como não sou amante de Heavy Metal e convidei o Fernando Ribeiro dos Moonspell para fazer parte do projecto.

E como foi abordar essa coisa pela qual não se tem um gosto especial?
O facto de não gostar do estilo não é porque não ache que a Mariza, a Carminho ou a Ana Moura não tenham um talento tremendo. O mesmo se aplica aos novos compositores. Tem a ver com o xaile negro e toda aquela penumbra e melancolia que eu também tenho na minha música, mas gostava de ver mais cor nas coisas. O projecto da Amália Rodrigues foi pedido pela Paula Homem. No início disse imediatamente que não, mas depois ela disse-me que queria que fosse um projecto sem Fado e aí já entendi melhor e aceitei. Foi um grande sucesso e muito divertido para nós. Criámos laços que ficaram para a história, a Sónia por exemplo acabou por conhecer o Fernando e tiveram um filho, a minha filha nasceu nessa altura, etc. Foi uma época muito luminosa, divertimo-nos muito porque não havia a pressão de carreira e sabíamos que era um projecto que tinha um início e um fim.

A música que se faz em Portugal está boa e recomenda-se?
Sim, acho que sim e acho que sempre esteve. Não sou daquelas pessoas críticas em relação à música portuguesa. Quando começámos, por exemplo, existia um concurso de música moderna alternativa na nossa cidade de Alcobaça. Sem querer e sem se falar muito nisso nós tínhamos à porta uma pequena “Factory” do Andy Warhol naquele espaço todas as semanas. Nunca achei que a música portuguesa era de má qualidade. O que se fala muitas vezes é que não há oportunidades, que as rádios não passam esse tipo de bandas, etc. Nós não temos razão de queixa da rádio. Continuamos a perceber que é na rádio que se fazem os grandes sucessos e é de lá que saem os hits. Se a rádio está boa? Não considero. Acho que está muito má. Acho que há uma incoerência tremenda nas playlists. Não há uma linha condutora.

O que é que aí vem?
Vamos lançar um novo disco que já está feito. Se não for no final deste ano será para o ano. Tivemos a sorte de realizar este projecto de sonho produzido pelo melhor produtor do mundo que é o Brian Eno, misturado pelo não menos conhecido Flood, e é uma história de sonho. Aprendemos imenso. Foi tremendo. Foram dois anos de trabalho que chegaram agora ao fim. Temos um disco de sonho para lançar que rompe com barreiras dos The Gift e que constrói, para mim, as nossas melhores canções de sempre. Acho que ao final de 20 anos conseguirmos este projecto com o Brian Eno foi a cereja no topo do bolo e pode ser o início de uma nova etapa muito importante dos The Gift.

Como foi trabalho com esse “monstro” que é o Brian Eno?

Foi a melhor experiência que podíamos ter, quer profissional, quer enquanto relação. Um ser humano extraordinário. Tem também uma maneira muito interessante de conduzir as pessoas e os músicos. Eu nem tenho muitas palavras. Tudo poderá ser hipérbole. Quando falo do trabalho com ele é tudo muito grande e muito bom.

2 Jun 2016

Design | Iniciativa “This Is My Street” arranca amanhã

Arranca amanhã no Centro de Design de Macau a actividade “This Is My Street”, que dá o pontapé de saída para um conjunto de iniciativas de olhos postos no cruzamento, integração e comunicação entre o design e a comunidade

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]proximar e envolver a comunidade local dos designers e do seu trabalho é o mote para o “This Is My Street”, iniciativa que arranca amanhã no Centro de Design de Macau, pelas 15h00, com uma palestra explicativa. Com o intuito de dar a conhecer o projecto, foram convidados de Hong Kong Freeman Lau e Kurt Chan que lideraram uma acção idêntica na área de Kai Tak, onde se situava o antigo aeroporto da cidade vizinha.
Manuel Correia da Silva, co-fundador da Lines Lab e vice-presidente da direcção da Associação de Designers de Macau, adianta ao HM que a partir desta experiência a ideia é conseguir também na RAEM uma aproximação entre o trabalho dos designers em prol da comunidade e com o envolvimento desta.
“This Is My Street” tem como coração a área circundante do Centro de Design de Macau, sendo considerada pelo responsável como “marginal”. Situada na zona norte da península, tem uma forte componente residencial e alberga ainda antigas zonas industriais, concretizando-se como um espaço mais “à mão” e com necessidades inerentes.
Manuel Correia da Silva adianta que apesar de, por si só, não ser um projecto de intervenção urbana, pode acontecer que no decorrer do processo aconteçam acções de intervenção no espaço. A ideia é dar a conhecer aos vizinhos de bairro o papel do designer na comunidade que integra e com isso é intenção convidar cidadãos das redondezas para um diálogo. 2616P12T1

Procura de identidade

A escolha dos membros da comunidade será efectuada com a observação dos habitantes e frequentadores assíduos da vizinhança, representando a sua identidade. As entrevistas entre habitantes e designers tem início marcado para a semana que vem e tanto nelas, como no decorrer de todo o processo, “o objectivo é cruzar dois eixos, um que aborda o olhar dos designers sobre as necessidades que sentem no bairro sendo que consideram possuir competências para melhorar a situação e um outro que é o lado da rua, dos que lá moram e dela fazem parte e que em si representem a sua identidade”.
O registo da iniciativa pretende ser a produção de um filme documentário de cerca de dez minutos a ser apresentado no final de todo o processo e que documente todo o percurso. Manuel Correia da Silva salienta ainda que “o que interessa nesta estreia é a promoção deste tipo de relações, sendo que mais importante agora é o processo e não o resultado”.
Apesar de por agora ainda não existir feedback por parte da comunidade, serve o seminário de amanhã para dar a conhecer o que aí vem.
Manuel Correia da Silva há dez anos que leva a bom porto o festival “This Is My City”, que o mesmo considera “uma visão mais macro” da actual iniciativa” sendo que “acabam também por ser todos subprodutos da mesma ideia com elementos em comum”. O mote é sempre o discutir e pensar a cidade.

2 Jun 2016

Dia do Património Cultural da China comemorado em Macau

Da música às exposições, sem descurar a caligrafia e arte chinesas, são diversas as actividades organizadas pelo Instituto Cultural para assinalar a 11ª edição do Dia do Património Cultural da China na RAEM

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Dia do Património Cultural da China, assinalado a 11 de Junho, tem este ano como tema “Deixe que o Património Cultural faça parte da vida moderna”, numa iniciativa com o intuito de incentivar residentes e turistas a visitar o Centro Histórico de Macau. Na agenda está a realização de uma série de actividades a decorrer em locais históricos, museus e bibliotecas – exposições, palestras e visitas gratuitas são algumas delas, de modo a aproximar o público do património.
Entra as exposições, a organização destaca “Memórias do Tempo – Macau e a Lusofonia Afro-Asiática em Postais Fotográficos” e a exposição temática “Exposição da Colecção de Livros de Pedro Nolasco da Silva”. A primeira decorre entre 10 de Junho e 4 de Dezembro no Arquivo de Macau, onde são exibidos um conjunto de postais ilustrados seleccionados do acervo documental/iconográfico do organismo. Os trabalhos ilustram “uma perspectiva mais ampla dos aspectos urbano-arquitectónicos, etnográficos, históricos, naturais e socioeconómicos de países como Angola, Cabo Verde, ex-estados da Índia Portuguesa, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor Leste, entre outros países da Lusofonia Afro-Asiática tendo em conta a sua relação com Macau”.

Junto aos livros

Já a Biblioteca Pública de Macau organiza a mostra temática “Exposição da Colecção de Livros de Pedro Nolasco da Silva”, entre 10 e 18 de Junho, das 13h00 horas às 19h00 horas, na biblioteca do edifício do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM).
A acompanhar o evento decorrerá uma palestra e uma visita sob o mote da exposição, numa iniciativa levada a cabo por Lee Shuk Yee e onde consta a apresentação dos livros deste “importante funcionário de Macau do séc. XIX, bem como o seu espírito de promoção das culturas chinesa e portuguesa”, adianta a organização. O evento tem lugar a 11 de Junho pelas 15h00, sendo de entrada livre, mas sujeita a reserva de lugares.
A arte e caligrafia chinesas também ocupam lugar nas festividades com o convite dirigido pela Academia Jao Tsung-I, numa iniciativa de 8 a 12 de Junho que tenciona proporcionar aos participantes uma oportunidade para apreciarem as obras de Jao.

Outros tons

A música está presente com a apresentação do concerto “Rapsódia Chinesa – Obras de Peng Xiuwen” pela Orquestra Chinesa de Macau e dirigido pelo “conceituado” maestro Bian Zushan, a 18 de Junho às 20h00 no teatro D. Pedro V sendo que os bilhetes já se encontram à venda.
Ainda nos dias 11 e 12 o Farol da Guia tem outra luz, sendo que abre especialmente ao público entre as 10h00 e as 17h00, enquanto que o Museu de Macau, nas mesmas datas, tem entrada gratuita.

1 Jun 2016

Graça Morais abre comemorações do Dia de Portugal

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas começa já hoje a comemorar-se na RAEM, com a abertura da exposição “Trás-os-Montes, Terra Mágica”, da artista portuguesa Graça Morais.
Com abertura marcada para as 18h30 na sala Ho Yin do Clube Militar, a mostra traz obras que, segundo a organização e citando Miguel Torga, exprimem a ligação íntima à terra e aos seus costumes, a esse espaço pedregoso, “parado e mudo”, onde “apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto”.
Nas cerca de 35 obras que fazem parte da exposição “há um motivo quase constante que emana da pintura de Graça Morais.” Sem ser sempre declarada, está aqui a memória da terra que a viu nascer e onde passou a infância. A organização adianta ainda que “parece haver em cada uma das suas obras uma reminiscência, um traço, uma sombra que revivem e reflectem esse ‘reino maravilhoso’ – como Miguel Torga, ele próprio um nativo das terras de além-Marão, lhe chamou um dia.” CM-GM-Convite
É a experiência dessa infância mágica e a recordação de hábitos e gestos cujas raízes se prendem num passado longínquo que a organização e a artista pretendem partilhar com o público.
Graça Morais, transmontana, vive e trabalha agora por entre a terra onde nasceu e Lisboa. Da sua carreira, e após terminada a formação em Pintura na Faculdade de Belas Artes do Porto e de uma passagem por Paris, contam também trabalhos nas áreas da cenografia e da escrita. A sua vida e obra já foram também objecto de documentários como “As Escolhidas” (1997) de Margarida Gil ou “Na Cabeça de uma Mulher está a História de uma Aldeia” de Joana Morais. Ilustrou e colaborou com poetas e escritores, como José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís ou Miguel Torga e em 2008 foi inaugurado o Centro de Arte Contemporânea de Bragança com o seu nome sendo que as exposições destinadas à sua obra são frequentemente renovadas.
Graça Morais está hoje representada em diversas colecções públicas e privadas. A exposição estará patente ao público até 12 de Junho e tem entrada livre.

1 Jun 2016

FIVCM | Festival chega ao fim com películas internacionais

Está a chegar ao fim mais um Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau e com ele uma semana de novo dedicada ao cinema internacional. As opções vão do documentário ao humor negro e ao surreal, passando ainda pelo cinema para a família numa série de projecções diárias

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]De amanhã e até 5 de Junho são os dias marcados para as últimas projecções internacionais de mais uma edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Macau (FICVM). Depois da abertura com o que veio de fora, dos Macau Indies – com o que de melhor se vai fazendo por cá – e de um programa recheado de actividades ligadas à sétima arte, é tempo de despedidas com um retorno ao cinema internacional. 31516P11T1-B
Está marcado “Um café no fim do mundo” já para dia 1 de Junho pelas 19h30. Numa co-produção do Japão e Taiwan, a película conta com a realização de Chiang Hsiu-Chiung. A realizadora de Taiwan faz assim a sua estreia no cinema nipónico com este filme à volta de temáticas como a identidade, o desgosto e a definição familiar. Misaki regressa à cidade onde nasceu, na península japonesa de Noto, oito anos depois do desaparecimento do seu pai. Transforma a velha casa flutuante num pequeno café ao mesmo tempo que desenvolve amizade com a família vizinha. Com o passar do tempo desenvolvem-se laços afectivos numa tentativa de unidade familiar num cenário situado no “fim do mundo”.

Alpinistas em documentário

Em formato documental é exibido o americano “Meru” a 2 de Junho à mesma hora. De Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi este “documentário vertiginoso”, como é adjectivado pela organização, conta a história de três alpinistas que tentam cumprir a missão impossível de subir a este pico também conhecido por “Barbatana do Tubarão”. Por entre tempestades de neve, avalanches e lesões que atingem um dos membros da equipa e que agoiram a indomabilidade do lugar, este documentário “celebra a amizade, a perseverança e o espírito humano”.

Comédia no feminino

Para o serão de sexta-feira, dia 3, está marcado um encontro no feminino com “Jacky no Reino da Mulheres”. Agendada para as 21h30, esta realização francesa de Riad Sattouf faz uma incursão na República Democrática de Bubunne, onde são as mulheres que governam, dão ordens e fazem a guerra e o uso de véus e as tarefas domésticas cabe aos homens. Jacky é um desses homens que sonha em casar com a filha da ditadora-general Collonelle, aqui protagonizada por Charlotte Gainsbourg, numa “divertida comédia que aborda a inversão de papéis”.
O festival soma e segue com “Operação Ártico”, recomendado para as famílias, numa produção norueguesa levada a cabo por Grethe Boa_Waal. No sábado às 16h30 a “Operação” arranca com a história de Julia, que se muda com a mãe e os irmãos gémeos para uma pequena cidade. Na ânsia de se reencontrarem com o pai que trabalha no sul do país, os irmãos entram escondidos num helicóptero que voaria nessa direcção. A rota não seria essa e os irmãos vêem-se perdidos e sozinhos numa ilha deserta onde são obrigados a enfrentar tempestades, fome e ursos polares. Para a organização é um filme de coragem e resiliência para lidar com a vida.
No mesmo dia também vai pairar no ecrã o humor negro com a “Festa de Despedida”. É “uma comédia negra e emocional sobre a amizade e a importância de aprendermos a dizer adeus”. Aqui, um grupo de amigos de uma casa de repouso de Jerusalém, para ajudar um companheiro em estado terminal, constrói uma máquina de auto-eutanásia. Quando o conhecimento da existência deste dispositivo se espalha, cada vez são mais os doentes a pedirem este “apoio”, confrontando os protagonistas com os dilemas daí advindos.

Despedidas

Dia 5 de Junho encerra as projecções internacionais com “A Múmia do Príncipe” e “Deus Branco”, ambos às 16h30.
O primeiro, dedicado ao cinema em família, vem da Holanda e conta com a realização de Pim van Hoeve na narração da história de uma criança de 11 anos cuja vida muda ao encontrar uma múmia “encantada”. A múmia de Dummie, um jovem príncipe, volta à vida após ser atingida por um raio quando é transportada para o museu. Dummie é o oposto do tímido Gus e ambos desenvolvem uma amizade improvável.
“Deus é Branco” é o filme vencedor do prémio “Un Certain Regard” do Festival de Cannes 2014 de produção húngara e alemã e que conta a história de “terror e vingança” numa perspectiva canina. Realizado por Kornél Mundruczó, o filme mostra os direitos à rebelião a partir do ponto de vista de um cão. Numa altura em que as novas legislações taxam as raças mistas levando ao abandono de inúmeros animais, Haggen, abandonado nas ruas, passa pela experiência de sem abrigo sendo posteriormente capturado e levado para um canil. Ali, e com poucas esperanças de sobrevivência, os cães vão aproveitar uma oportunidade de fuga para se revoltarem contra a humanidade.
A produção que conta com a participação de Israel e Alemanha e com a realização de Sharon Maymon e Tal Granit está agendada para as 21h30.
Os bilhetes rondam as 60 e 80 patacas e os filmes vão estar em exibição no Centro Cultural de Macau.

31 Mai 2016

Cinema | Festival Internacional vai custar mais de 50 milhões

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Festival Internacional de Cinema de Macau, que estreia em Dezembro, quer mostrar filmes “’mainstream’ mas com diferença” e tornar a cidade num ‘hub’ cinematográfico, disse o director do evento, Marco Mueller, na apresentação do evento. O festival tem um orçamento total de 55 milhões de patacas, sendo que 20 dos quais serão asseguradas pelos Serviços de Turismo (DST).

Os filmes serão escolhidos com “tripas, coração e pensamento”, o que significa que o júri vai lançar um olhar particular sobre o cinema de género “popular, mas singular”. “Não pode ser o simples cinema comercial, tem de ser ‘mainstream’ mas com uma diferença”, sublinhou o antigo director do festival de Roma na passada sexta-feira. “Vão ter de ser filmes extremamente acessíveis e ao mesmo tempo extremamente criativos, ‘mainstream’ mas muito originais.”
A 1.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau vai acontecer entre 8 e 13 de Dezembro e prevê a exibição de 43 filmes, em diferentes categorias, incluindo a “Dragões Escondidos”, dedicada “às últimas tendências do cinema asiático”, e a “Melhor do Panorama do Festival”, com longas-metragens premiadas nos principais festivais de cinema em 2016.

O evento, que conta com uma longa lista de patrocinadores incluindo operadoras de jogo, vai ainda ter a secção “Crossfire”, em que são exibidos 12 filmes oriundos da América do Sul, Europa, Sudeste Asiático e Austrália, recomendados por 12 realizadores asiáticos.

“Escolhem um filme que é, para eles, uma referência, que está no seu coração. É uma mistura fascinante que prova que a partilha sempre existiu e Macau é o melhor sítio para isso continuar, para se consolidar de forma diferente do que acontece noutros festivais”, afirmou o director do festival, que diz que o evento vai “começar pequeno” porque “Macau é um sítio pequeno”.

A vibrar

O realizador português Ivo Ferreira, radicado em Macau, manifestou elevadas expectativas em relação ao evento. “De certeza que vai ser um festival vibrante. O Marco [Mueller] sempre foi um programador louco, ousado, sempre arriscou imenso, é o único capaz de juntar na mesma sessão dois filmes completamente antípodas que ao mesmo tempo se complementam.”

O cineasta está agora a trabalhar no seu novo filme, “todo passado em Macau e sobre Macau”, apesar da “imensa dificuldade em arranjar dinheiro no território” para o financiar. “Hotel Império” debruça-se sobre “questões identitárias do território e alguns fantasmas do passado”, explicou.

“Embora pareça tristonho, há um lado de esperança, como se a própria erosão urbana acabasse por obrigar as pessoas a tomar uma posição em relação à destruição da cidade”, disse.

O filme, que começa a ser rodado em Outubro, não estará terminado a tempo do Festival, mas Ivo Ferreira pondera concorrer com outro trabalho na 2.ª edição.

Este que será o primeiro Festival Internacional de Cinema no território representa uma oportunidade para a internacionalização de Macau e para o fomento de sinergias entre o turismo e a cultura, disse Helena de Senna Fernandes, directora da DST. Alvin Chau, presidente da Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau, sendo também vice-presidente executivo do evento, referiu que estarão presentes “filmes originais relativamente bem acolhidos pelo mercado, com o objectivo de transformar o festival num dos principais eventos de cinema no mercado da Ásia”.

30 Mai 2016

Pintura de Leung Kui Ting em exposição no IACM a 1 de Junho

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m de Junho é a data marcada para a inauguração de “Visão Indefinida + Digital: Exposição de Pintura a Tinta” de Leung Kui Ting. A mostra, que apresenta 28 obras do artista de Hong Kong, abre pelas 18h00 na Galeria de Exposições Temporárias do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM).
O artista estudou Pintura com o “conceituado” artista Lui Shou-kwan, tendo ainda estudado Design com Wucius Wong. Em 1980, fundou o Instituto de Artes Visuais Chingying de Hong Kong, tendo integrado o corpo docente da Universidade Politécnica da região vizinha ao longo de mais de uma década. Actualmente, trabalha como consultor especializado no âmbito dos serviços culturais para o Departamento de Serviços de Lazer e Culturais da RAEHK.
Leung revela que sente o mundo externo com o coração para atingir a unidade da mente e dos objectos, como que para observar tudo no universo na forma dos próprios objectos. Criadas com base na sua transformação e exploração de pinturas tradicionais chinesas, as suas pinturas paisagísticas partem do coração, adianta a organização, abstraindo-se das aparências concretas, ao invés de constituírem meros reflexos da realidade. É ainda criador de uma técnica de pintura paisagística digital, a qual sobrepõe linhas e pontos sobre os contornos de desenhos de montanhas e rochas tradicionais, dando origem a obras de arte contemporânea “verdadeiramente únicas”.
Além da exposição, realiza-se ainda no dia 12 de Junho a palestra “Visão Indefinida + Digital: Palestra sobre a Pintura a Tinta de Leung Kui Ting”, aberta ao público em geral, agendada entre as 15h00 e as 16h30 no auditório do Museu de Arte de Macau. Será um momento de partilha em que Leung fala do seu processo artístico na composição de pinturas paisagísticas tradicionais com elementos digitais.
Exposição e palestra são de entrada livre e a mostra estará patente até 10 de Julho.

30 Mai 2016

CCM | Verão para todos com mais uma sessão de InspirARTE

O Verão está à porta e com ele o Centro Cultural volta à carga com uma série de espectáculos vindos do outro lado do mundo para animar famílias. Há circo, teatro, marionetas e outras surpresas

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]InspirARTE no Verão” está de volta para alegrar pequenos e graúdos com uma série de espectáculos promovidos pelo Centro Cultural de Macau (CCM). Conta com palhaços, dança e teatro, em iniciativas especialmente concebidas para toda a família.
De 30 de Junho a 3 de Julho, chega a Macau “Sr. Satie de Papel” da Polónia, pelas mãos da companhia Atofri Theatre, a mais reputada no teatro infantil daquele país do leste europeu. A peça é uma produção de teatro musical que mostra como a imaginação pode transformar papel num vistoso cenário, servindo também como instrumento e parceiro de brincadeiras, explica a organização. Estimuladas pelos ritmos, sons e música de Satie, as crianças entre um e três anos são desafiadas a jogar e a desvendar mistérios e adivinhas.

Animais e outros circos

O “Carnaval dos animais” é o circo da bicharada que traz da Austrália acrobacias e um workshop de iniciação aos mais pequenos, naquele que também é denominado como o “maior espectáculo do mundo” e que terá lugar a 9 e 10 de Julho. Para a organização esta é “uma experiência única de teatro visual acrobático que irá permanecer por muito tempo nas mentes dos nossos miúdos”. Chook & Gek
A Escócia entra em cena de 21 a 24 de Julho com “Hup”. Um espectáculo da Starcatcheres de Edimburgo criado em colaboração com a Orquestra Real Nacional Escocesa, que revela uma ligação entre a natureza e a música, deixando que bebés se descontraiam através de uma aventura íntima com a música clássica. Quase como num jogo, o pequeno público é desafiado a interagir com ambiências e ritmos musicais. Esta peça é uma criação para pais que cedo pretendam expor os seus filhos até aos 24 meses ao mundo da música e da imagética.
A 23 e 24 de Julho os russos Melting Point trazem para cena “Chook e Gek”. A peça é um espectáculo teatral que combina palhaços, marionetas e instalação vídeo, baseada num conto clássico do autor Arkady Gaidar. A encenação conta as aventuras de dois irmãos que partem com a mãe rumo ao norte longínquo para se encontrarem com o pai. Descrita como “uma peça alegre, engraçada e visualmente adorável”, “Chook e Gek” é concebida para miúdos a partir dos cinco anos. O espectáculo convida o público a descobrir a força e a beleza das coisas simples, levando os mais velhos numa viagem de regresso à infância.

A cantar

“Spot” vem da Holanda de 6 a 8 de Agosto pelo Theater Terra. Um musical para a família que sobe ao palco com um desfile de marionetas em ponto grande, cenários coloridos e “adoráveis” personagens. Inspirada na internacionalmente reconhecida colecção de livros “Spot the Dog”, de Eric Hill, esta introdução às artes performativas é acompanhada de canções, encenada em diálogos simples e dança tradicional holandesa. A história começa quando o cão Spot leva Helen, a hipopótama azul, a visitar o pai na quinta. Quando lá chegam, os dois amigos descobrem que todos os animais tinham desaparecido. Um espectáculo para miúdos maiores de dois anos.Chalk About_Tuur Uyttenhove
A Escócia retorna a 27 e 28 de Agosto, desta feita com “Conversas a giz” pela companhia Curious Seed. Divertida, emocional e imprevisível, adianta a organização, a peça de dança teatro transforma o palco num imenso quadro negro onde, para além dos corpos, a própria vida é delineada a giz. A companhia escocesa leva ao palco dois bailarinos que vão fazer perguntas grandes a um público pequeno. Equilibrando humor e descontracção com movimentos corporais, a dupla vai interagir com uma plateia de crianças a partir dos oito anos tocando em temas universais, do amor à felicidade.
Ainda a 28 de Agosto e em jeito de despedida entra em cena o “InspirARTE à Solta” uma celebração que vai juntar milhares de crianças e pais no CCM. Dos workshops aos espectáculos e aos jogos, grandes e pequenos vão juntos à descoberta das artes com os animais da floresta.
Os bilhetes para todos os espectáculos já estão à venda.

30 Mai 2016

“Pega-Monstros” no IPOR

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]companhia de teatro para crianças “Carruagem – Tráfego de Ideias” traz a Macau, pela mão do Instituto Português do Oriente (IPOR) a peça “Pega-Monstros”. A peça irá chegar a mais de 600 crianças das escolas luso-chinesas da Flora e Zheng Guanying, do Infantário D. José da Costa Nunes, da Escola Portuguesa de Macau e também das que queiram assistir ao espectáculo aberto ao público, que terá lugar no Auditório Dr. Stanley Ho, do Consulado-Geral de Portugal, no dia 1 de Junho, às 17h30.
O espectáculo junta a brincadeira, porque estimula a vertente imaginativa e criativa da criança através de uma actividade lúdica, a educação – que pretende o reforço de mensagens positivas em torno de valores e atitudes – e, ao mesmo tempo, reforça conteúdos escolares e a aprendizagem da Língua Portuguesa, assegura a organização, na medida em que a aprendizagem de uma língua aumenta quando se estimula o envolvimento em situações comunicativas novas e se suscita a criação de laços afectivos com experiências nessa língua.

Viagem pela memória

Em “Pega-Monstros”, a segunda criação da plataforma artística de investigação e criação multidisciplinar “Carruagem – Tráfego de Ideias”, as actrizes Diana Melo e Inês Barros personificam Camila e Mel, duas crianças de nove anos, amigas desde que se lembram. Prestes a terminarem a escola primária, quando têm de entregar um trabalho sobre a “A minha coisa favorita”, tomam consciência de que não sabem do que gostam mais.
Decididas a entregar o trabalho, as duas amigas partem numa viagem pelas suas memórias: regressam ao primeiro dia de escola para tentarem recordar tudo aquilo que as fez vibrar durante os quatro anos do primeiro ciclo, em busca do que é realmente importante para elas. Essa aventura leva-as à conclusão que não há nada como a amizade, como aquela que as une, e o amor pela família, mas também recordam algumas coisas muito importantes que aprenderam nesse percurso.

30 Mai 2016

Coppia: “Macau muda muito e muito rápido”

Manuela Azevedo, Hélder Gonçalves e Victor Hugo Pontes são os mentores de “Coppia”, um projecto em pares que junta música, dança e cenografia num espectáculo com definição ambígua mas que promete animar as últimas noites do FAM, hoje e amanhã no teatro do Sands

Como é que apareceu este projecto?
M.A. – Nasce da iniciativa do Centro Cultural de Belém, que se chama Carta Branca, onde se lança um desafio a um artista para criar o espectáculo que quiser e com quem quiser. Fiquei muito contente com o convite mas também sem saber o que fazer. Havia coisas que já sabia que não queria, não queria envolver os Clã (de que faz parte com Hélder Gonçalves) porque tínhamos acabado de fazer um disco novo e não era justo obrigá-los a fecharem-se outra vez, e também não queria um concerto clássico, do género “As canções favoritas da Manuela Azevedo”ou qualquer coisa muito centrada em mim. Sabendo o que não queria, fui à procura do que podia fazer. Encontrei uma palavra que me deu essa ideia. Era “coppia” em Italiano, que quer dizer dupla, parelha, casal. Pensei então que podíamos fazer um espectáculo em que só haveria dois músicos, dois bailarinos e tudo o que tivesse em palco e mesmo as canções teriam a haver com essa ideia de dupla em todos os seus significados. Por outro lado era uma maneira de me desafiar a mim também musicalmente. Estando só dois músicos em palco ia-me obrigar a fazer mais coisas do que aquilo a que estou habituada e, por outro lado, ao ter dois bailarinos em cena também ia poder ter ao meu lado uma outra linguagem artística, que é a dança. Poderia também colaborar com o Victor Hugo Pontes, com quem os Clã já colaboram há muito, mas que é também coreógrafo, actor, encenador, bailarino e muitas outras coisas. Outra pessoa que admiro muito é o Hélder e era também importante tê-lo como co-criador na direcção musical e escolha de reportório, bem como ser o meu parceiro de palco.

Este é um projecto que apresenta as canções de outros. Como funciona esta escolha?
M.A. – Aqui a escolha baseou-se essencialmente no tema. Mais do que andarmos a ver coisas que gostávamos e conhecíamos, queríamos canções que também reflectissem esta ideia de parelha, do ser a dois ou do deixar de o ser. Não queríamos que fosse nenhum tipo de tratado disso que é ser a dois, mas antes uma coisa desempoeirada, com um olhar irónico sobre a nossa própria natureza e sobre aquilo que são as relações humanas. De toda essa ironia de olharmos para nós próprios num tom irónico e bem humorado.

Este é um projecto de carácter multidisciplinar. Como é fazer um projecto assim e que mais valias vos traz?
H.G. – Já temos vindo a investir um bocadinho nisso, em ter espectáculos mais trabalhados. É muito importante a parte musical, mas temos sentido ao longo dos tempos que, se conseguirmos juntar a isso algo que faça sentido e que seja forte, é uma coisa que nos diverte mais e que nos desafia.
M.A. – Nesse encontro o que acho que é mais importante é que tenha como motor uma vontade artística e não uma coisa artificial. Se sentimos que naquele espectáculo há uma dimensão cénica para ser explorada, uma movimentação em palco que também pode ser desenvolvida e que vai trazer, em termos expressivos, uma outra camada importante para a comunicação, aí sim. Com “Coppia” a ideia era mesmo esse encontro entre música e dança e tentar que fosse feito de forma orgânica. O princípio era construir um objecto híbrido em que as pessoas tivessem dificuldades em dizer concretamente o que tinham visto.

Não é a primeira vez em Macau. Como tem sido esta experiência?
H.G. – Francamente nem sabemos muito bem o que dizer. Viemos cá sempre em momentos muito distantes entre si e Macau muda muito e muito rápido. Na realidade é a terceira vez que aqui estamos mas é sempre como se estivéssemos a chegar a um sítio novo. Perdemos sempre as referências anteriores.

M.A. – Temos também sempre experiências diferentes. A primeira vez que cá estivemos foi em 1999 na Escola Portuguesa. Foi uma experiência surreal, termos andado de avião tantas horas e chegar a um sítio com uma temperatura diferente, cheiros estranhos e muito chineses na rua e depois chegamos ao local do concerto e parecia que não tínhamos saído de Portugal. Na segunda ocasião, que foi numa Festa da Lusofonia , já havia mais mistura de pessoas. Mas a reacção foi óptima e as memórias que levamos são muito boas. Para hoje já esperamos uma coisa completamente diferente. Disseram-nos que é essencialmente público chinês, portugueses e também e turistas. Vai ser uma plateia mais internacional.

“Coppia” é filho único.
M.A. – Pois, não sei se fará muito sentido fazer uma segunda edição deste projecto. Mas está em aberto fazermos coisas do género, por exemplo com o Victor Hugo.

Isto de viver da música como é e que conselhos deixam?
M.A. – Os Clã começaram a trabalhar em 92 e estivemos a dar no duro até à saída do primeiro disco em 96. Saiu com excelentes críticas mas não vendeu nada e penámos durante algum tempo. Mas continuámos e acho que o facto de toda a banda ter resistido foi o que fez com que conseguíssemos criar uma carreira sólida. Devíamos ser as cigarras da fábula, mas temos que ser as duas coisas, temos que ser a formiga também e ter esse espírito de poupança para depois ter que aguentar os longos Invernos de concepção de um disco ou de um novo projecto. Agora ainda mais porque somos os nossos próprios editores.

Projectos na calha?
H.G. – Quando chegarmos a Portugal vamos começar a trabalhar no nosso próximo disco. Temos também alguns projectos já marcados, coisas pequeninas, e temos também um convite que ainda não sabemos muito bem quando vai para a frente para fazer um musical para a infância.

27 Mai 2016