IIM lança “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes”

O papel que Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes desempenharam no diálogo cultural entre a Europa e o Oriente figura no centro da obra que vai ser apresentada amanhã no Clube Militar. O livro, que resulta de um trabalho de investigação de Carlos Botão Alves, tem a chancela do Instituto Internacional de Macau (IIM)

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] que têm em comum Antero de Quental (1842-1891) e Manuel da Silva Mendes (1867-1931)? Além de pertencerem a “uma geração de grande empenhamento político e social” e “fecunda do ponto de vista literário”, partilharam “uma busca por correntes sapienciais” do Oriente, “com o objectivo pedagógico de regenerar o Homem e, por conseguinte, a sociedade”.

Quem é o diz é Carlos Botão Alves, autor d’ “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes” que, embora publicada em 2016, vai ser oficialmente apresentada amanhã no Clube Militar. O livro, que mergulha na área do pensamento e da literatura, visa “a compreensão de como é que os dois autores activaram um conjunto de estratégias e de instrumentos para efectivarem uma real tradução cultural”. Uma acção com a qual pretenderam “inserir elementos da sabedoria e da filosofia orientais (budista e taoísta) nos seus sistemas de interpretação do mundo e do Homem”, lê-se na sinopse da obra que integra a colecção Suma Oriental do IIM.

Em entrevista ao HM, o professor e investigador do Instituto Politécnico de Macau (IPM) coloca a tónica precisamente na “reflexão profunda” que ambos fizeram, apesar das diferentes formas de contacto com a cultura oriental. Isto porque, no caso de Antero de Quental, a exposição ocorre por via dos livros, sobretudo das traduções francesas, enquanto Manuel da Silva Mendes estabeleceu um contacto directo em Macau.

A Carlos Botão Alves interessou acima de tudo “esse passo de ir conhecer o outro – esse traço de atitude” – mais do que a forma de contacto. “As primeiras grandes traduções da história do encontro com o Oriente foram feitas nos mosteiros por pessoas que, apesar de nunca terem visto o Oriente, o compreendiam. O ver é no século XX e XXI”, sublinha o investigador, apontando que o contacto directo pode ter, aliás, desvantagens: “Pode dar a ilusão de proximidade e de maior potenciação de um conhecimento, mas pode fazer sobretudo com que se resolva essa necessidade que o homem tem de encontrar o outro por estar perto”. Com efeito, “muitas vezes, o que sucede, como na Macau actual, é que, de facto, nunca se encontram realmente, vivendo em paralelo”, sustenta Carlos Botão Alves, para quem que o contacto directo pode levar ainda ao “desencanto”.

A Antero de Quental e a Manuel da Silva Mendes interessou “o Oriente intelectual que permite emprestar determinados conceitos ao Ocidente para este se regenerar”, o que mostra “uma ideia global do Homem que hoje em dia parece muito óbvia, mas que não seria tanto no final do século XIX”, sublinha o investigador.

Mergulho a Oriente

“Estes dois homens atravessaram culturas e línguas e foram buscar conceitos que fazem todo o sentido, criando eles próprios uma súmula. Trata-se de uma enormíssima novidade”, observou o autor. Carlos Botão Alves é, por isso, peremptório ao afirmar que as obras de ambos acabam por “contradizer” a mensagem do famoso poema do britânico Rudyard Kipling à luz da qual “O Oriente é o Oriente e o Ocidente é o Ocidente e nunca os dois se encontrarão”.

“Ambos tentam fazer com que o homem não se perca na contingência de um mundo que perece e que muda e fazem-no através dessa aproximação a Oriente, realça o autor, para quem os dois republicanos confessos “perceberam exactamente que a actividade política que nunca negaram e continuaram só se faz se houver uma riqueza espiritual que o permita. Era o que faltava ser devidamente cultivado na cultura ocidental que eles vêm buscar às correntes orientais”, destaca Carlos Botão Alves.

“Pode-se perguntar como homens tão empenhados na vida sociopolítica do momento (Antero de Quental sempre em Portugal e Manuel da Silva Mendes em Portugal e em Macau) se interessaram por questões como o budismo ou o taoísmo. Ora, tal faz todo o sentido”, enfatiza. Isto porque “não lhes interessa estudar o budismo como budismo, ou o taoísmo como taoísmo, ou mesmo a raiz de todos eles: o hinduísmo. Não lhes interessam só por si, mas antes na medida em que podem ser esclarecedoras para a sua própria cultura”, complementa. “É a ideia de que se está a ganhar no material e a perder no espiritual que os leva a lançarem um apelo a outras culturas onde podem encontrar ainda uma flama de espiritualidade”.

Carlos Botão Alves dá o exemplo concreto do poeta da geração de 70. “Lidos que estão Saint-Simon, Owen ou Proudhon, ou seja, todos aqueles teóricos do socialismo do século XIX, nomeadamente as correntes francesas, [fica patente] que a reforma sociopolítica só se fará se puderem criar condições inerentes a cada um dos indivíduos para que eles próprios se reencontrem”, contextualiza. Ora, é precisamente essa “preocupação pedagógica”, de que “é preciso reformar o Homem antes de reformar a sociedade do Homem”, que “faz com que Antero de Quental se interesse pelo budismo” que, como aliás escreveu, “traz consigo toda a satisfação, toda a consolação e toda a alegria”.

Carlos Botão Alves, radicado em Macau desde 1985, iniciou os estudos que culminaram na obra em apreço na década de 1990, a partir da leitura de uma conferência, que lhe “despertou a atenção”, dada por Manuel da Silva Mendes no Clube Militar, onde, precisamente por isso, vai ser apresentado o livro. Em causa, “talvez o mais longo texto de Silva Mendes sobre o ‘Tao Te King’ [clássico de Lao Tse] e a via da verdade e da virtude”.

O interesse do autor por Silva Mendes começou naquele momento, mas viria a amadurecer de forma particularmente profícua quando foi dar aulas na Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Deli, durante dois anos, como professor convidado. “Foi ali que tive contacto directo com os textos em edições muito cuidadas das correntes de sabedoria indiana, que estão na base de tudo”, explica o autor.

Esse trabalho acabou por conduzir a uma tese de doutoramento em literatura comparada, no âmbito da qual se debruçou sobre a obra sonetística de Antero de Quental (com a qual “convivia já há várias décadas por via dos estudos) e a produção ensaística de Manuel da Silva Mendes. “Queria encontrar uma forma de puxar o Silva Mendes para as luzes da ribalta e a forma que encontrei foi fazer um trabalho de literatura comparada com Antero de Quental”.

Carlos Botão Alves acabou por ir mais longe, entrando num contexto mais alargado dos estudos orientalistas quando, na busca por conceitos que permitissem analisar os textos de ambos e aproximá-los, encontrou no domínio da chamada tradução cultural um campo fértil para pôr então Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes lado a lado.

16 Mai 2018

Segundo volume de obra escrita de Álvaro Siza é apresentado sexta-feira no Porto

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] beleza, interpretada pelo arquiteto Álvaro Siza, “é a própria razão e garantia da funcionalidade, a mais eficaz, de resto”, afirma Carlos Campos Morais, no prefácio do livro “02 Textos”, de Álvaro Siza Vieira, que é apresentado na sexta-feira, no Porto.

O livro, publicado pela Parceria A.M. Pereira, sucede a “Textos 01”, de 2009, e reúne 68 artigos selecionados pelo arquiteto, distinguido com o Prémio Pritzker, em 1992. O livro é apresentado na sexta-feira, às 18:00, na Casa da Prelada, no Porto.

Cronologicamente, os textos vão de 2001 a 2016. O mais recente é sobre o arquiteto José Carlos Nunes Oliveira, que trabalha no ateliê de Álvaro Siza, e que se destina a um outro “livro em publicação”, segundo se lê na obra.

Em “02 Textos”, que também inclui o discurso de Álvaro Siza, feito em finais de 2015, na atribuição do grau de Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Évora, o arquiteto cita, entre outros, Alvar Aalto, Oscar Niemeyer, Aldo Rossi, Mies van der Rohe, Frank Gehry, Eduardo Souto de Moura, Nuno Portas e Le Corbusier.

O coordenador de “02 Textos”, Campos Morais, afirma que, na obra de Álvaro Siza, se a beleza “é a própria razão e garantia da funcionalidade, a mais eficaz, de resto”, “o sentido social da beleza e a própria saúde mental atestam, eloquentemente, a sua imprescindibilidade”.

Todavia, no entender de Campos Morais, é “consensual render homenagem ao papel da luz como acessório (sempre proeminente, nada acessório) na arquitetura de Álvaro Siza”, algo que o próprio arquiteto atesta, referindo “a importância que lhe concede em toda a arquitetura”. A luz é referenciada em onze dos 68 textos selecionados.

Todos os artigos de “02 Textos” estão identificados com um número de catalogação, data, local e, sempre que conhecido, onde foi publicado. Cada texto está ainda identificado com a temática que aborda, uma palavra chave, e em cada um Carlos Campos Morais realça frases, destacando-as no final, em separado, do texto em itálico ou com um sublinhado.

São 12 as temáticas nas quais os textos do arquiteto Álvaro Siza estão catalogados, de arquitetos à revolução de 25 de Abril de 1974, que se combinam com outras quatro temáticas de arrumação: Discursos ‘Honoris Causa’, “Homenagens” prestadas, “Outros”, que agrupa textos sobre pessoas ou prefácios que redigiu, “Textos livres”, que incluem reflexões, apontamentos, memórias, e “Vária”, que Campos Morais define como “arrumação fora da sistematização enunciada”.

Campos Morais atesta que, “na sua obra, Siza irradia inteireza”. “Na arquitetura, na escrita, no desenho, na escultura, noutras artes em que prolifera”.

O acervo do arquiteto, que recebeu em 2012 o Leão de Ouro de Carreira na Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, está disponível, desde fevereiro último, nas páginas da Internet das fundações de Serralves e Calouste Gulbenkian, e do Centro Canadiano de Arquitetura.

Nascido há 84 anos em Matosinhos, onde em agosto de 2009 o Governo português lhe entregou a Medalha de Mérito Cultural, Álvaro Siza Vieira estudou na Faculdade de Belas Artes do Porto, onde foi professor, e criou em Portugal obras emblemáticas como a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, a reconstrução da zona do Chiado, em Lisboa, após o incêndio de 1988, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, ou o Pavilhão de Portugal, com a sua emblemática pala, no Parque das Nações, no âmbito da Exposição Mundial de 1998, em Lisboa.

No estrangeiro, são da sua autoria o museu para a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, no Brasil, o Centro Meteorológico da Vila Olímpica, em Barcelona, e a reitoria da Universidade de Alicante, ambos em Espanha, entre outros projetos.

Doutor Honoris Causa de várias universidades, o trabalho de Álvaro Siza tem sido internacionalmente galardoado. Além do Pritzker, recebeu os prémios Mies van der Rohe, em 1988, o Wolf, em 2001, a Real Medalha de Ouro do Instituto Britânico de arquitetos, em 2009, a Medalha Alvar Aalto, do Museu de Arquitetura e da Associação Finlandesa de Arquitetos, em 1988, e a Medalha de Ouro da União Internacional dos Arquitetos, em 2011.

No passado dia 25 de abril, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, distinção que junta à de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, recebida em 1992, e à Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal (1999).

Relativamente ao livro “01 Textos”, que reúne 153 artigos, abrangendo o período de 1968 a junho de 2008, afirma Campos Morais que “razões de infortúnio editorial levaram a que esse volume, embora com edição quase esgotada em 2009, tenha dado origem, quanto aos escassos exemplares restantes, a uma deplorável clandestinidade”, e anuncia que a sua reedição.

Fonte editorial adiantou à Lusa, que “deverá acontecer ainda este ano”, estando também previsto pela Parceria A.M. Pereira, a publicação de “03 Textos”, no próximo ano.

15 Mai 2018

Música | Bob Dylan com concerto marcado para 4 de Agosto em Hong Kong

Recebeu o Nobel da Literatura em silêncio provocando uma onda de especulação. Robert Allen Zimmerman, nascido há 76 anos em Duluth, regressa sete anos depois a Hong Kong para um concerto. Zimmerman não será o nome impresso nos cartazes, uma vez que é mais conhecido como Bob Dylan

 

[dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]ob Dylan, cantor, compositor e Nobel da Literatura, está de regresso a Hong Kong para um espectáculo no dia 4 de Agosto. O evento, classificado como “histórico” pela organização, vai ter lugar no Centro de Convenções e Exposições e os bilhetes foram colocados ontem à venda.

Este será o primeiro concerto de Bob Dylan em Hong Kong já com o estatuto de Nobel da Literatura, distinção conquistada em 2016, e que foi justificada pela academia por o artistas norte-americano “ter criado novas formas de expressão poéticas no quadro da grande tradição da música americana”.

Do alinhamento nada se sabe, mas se mantivermos em conta a sequência de canções dos últimos concertos, Bob Dylan deverá interpretar, entre outras, “Highway 61 revisited” e “Ballad of a thin man”, de 1965, “Tangled up in blues”, de 1975, ou “Summer days”, de 2001, além de versões e revisitações de temas de outros artistas. “Bowling in the wind” é uma hipótese que pode ficar para um encore.

Em 2017, Bob Dylan editou “Triplicate”, o primeiro triplo álbum de carreira, com 30 versões de clássicos da música norte-americana, mas nos últimos anos tem vindo também a publicar álbuns com gravações ao vivo de muitos dos concertos que tem dado nas últimas décadas.

Da crítica, os maiores aplausos vão para os últimos oito álbuns.

O sucesso de Lisboa

A referência musical que tem vindo a marcar décadas desde os anos 60 esteve no passado mês de Abril em Lisboa. Se havia cépticos quanto à qualidade dos espectáculo do nem sempre muito consensual músico, as dúvidas ficaram resolvidas. Depois do espectáculo lia-se no Público: “num pavilhão com lotação esgotada, esteve a lenda, o músico determinante na história da música popular urbana do pós-guerra, o senhor Nobel da literatura – tudo isso conferiu à ocasião uma certa solenidade e uma palpável expectativa”.

Mais do que uma estrela, quem ali estava “a nu”, era o músico “naquele palco sóbrio, despido dos ecrãs e tecnologia de ponta hoje tão habituais, sob a luz dos holofotes de outros tempos que criavam um efeito misto de salão de baile e set cinematográfico”, refere a mesma fonte.

Dylan é um mestre. Uma figura incontornável da música do último meio século, com uma carreira que oscilou com naturalidade entre o rock e o blues, com um salto no folk.

Tal como no filme “I´m Not There” o senhor que não ficou conhecido pelo nome Zimmerman pode ser muitos homens e em cada um surpreender. A soma de todos os artistas que contém a imensa personalidade musical que é Bob Dylan poderá ser testemunhada em Hong Kong no próximo dia 4 de Agosto.

15 Mai 2018

História de Macau | IIM arranca com ciclo de conferências

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Internacional de Macau (IIM) vai levar a cabo um ciclo de conferências sobre a História de Macau. A primeira sessão intitula-se “Serão Macaense sobre a Invasão Holandesa de 1622” e tem lugar no próximo dia 24 de Maio, pelas 18h15, no auditório da Escola Portuguesa de Macau (EPM).

A sessão conta com o contributo do jornalista e autor de livros históricos João Guedes e ainda José Basto da Silva, presidente da Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco.

De acordo com um comunicado, o objectivo desta iniciativa é “estimular o conhecimento dos alunos do ensino secundário, de acontecimentos importantes que moldaram Macau”. A primeira sessão contará “com a projecção de vídeos sobre o acontecimento e distribuição de material de leitura aos presentes”. Vai ainda ser lançado “um concurso entre os estudantes da EPM, em forma de pequenos contos de história, a fim de reunir posteriormente os melhores trabalhos para serem incluídos numa publicação do IIM”.

É também objectivo do IIM, presidido por Jorge Rangel, “levar posteriormente esta iniciativa aos jovens das escolas de matriz luso-chinesa e inglesa de Macau”. O projecto conta com o apoio da Fundação Macau.

15 Mai 2018

Artes Plásticas | Bienal de mulheres artistas com “espaço para crescer”

A 1.ª bienal internacional de mulheres artistas de Macau, determinada a ocupar um lugar na história das artes plásticas na região, chega quase ao fim com “espaço para crescer”, disse à Lusa o organizador Carlos Marreiros

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ‘ArtFem Mulheres Artistas’ nasceu para preencher uma lacuna que existia em Macau: “A falta de grandes exposições de importância internacional”, explicou o presidente do Albergue SCM, co-organizador do evento, que chegou ontem ao fim.

Para se destacar das “grandes bienais” das regiões vizinhas, Carlos Marreiros teve de avançar com uma ideia original: uma bienal dedicada inteiramente a mulheres artistas. “Tinha de ser uma coisa totalmente diferente e pareceu-nos que assim poderia ter um chamativo”, afirmou, destacando o objectivo central de “valorizar a mulher”.

Embora projectada há 18 anos, a exposição foi organizada em apenas três meses. “Partimos com um orçamento pequeno e em muito pouco tempo fizemos uma bienal com a representação de 100 artistas e mais uma – Paula Rego”, realçou. A artista portuguesa de 83 anos foi a madrinha desta edição, que teve a presença da filha Victoria Willing, em representação da mãe.

“Contamos com artistas de mais de 20 países dos cinco continentes. A lusofonia está toda representada – desde o Brasil a Timor, Macau, Angola, Moçambique”, o que contribuiu para “superar largamente as expectativas”, sublinhou.

Não há ainda números oficiais dos visitantes do Museu de Arte de Macau, mas o também arquitecto disse que conseguiram “movimentar bastante gente”. A exposição patente no Albergue SCM, da artista portuguesa Raquel Gralheiro, recebeu em média 3.000 pessoas por mês.

Questionado sobre a possibilidade de crescimento do evento, o presidente do Albergue SCM mostrou “um optimismo moderado”. “Estou com os pés bem assentes na terra. Temos de dar o salto, mas para isso precisamos de mais orçamento para apostar na publicidade internacional e conseguir trazer mais instalações”, enfatizou, lembrando que a projecção deste tipo de eventos depende de pessoas influentes da área da crítica internacional.

Alargar horizontes

A bienal pretende agora alargar horizontes, garante. “Em futuras edições pensamos estender a Cantão, no antigo Delta das Pérolas, agora integrado na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

A iniciativa “Uma faixa, uma rota” não retrata só trocas económicas, também se trata de trocas culturais e artísticas. “Se puder contribuir para que haja um verdadeiro mercado de arte em Macau – que não há – a bienal também pode contribuir neste domínio”, sublinhou.

“O mundo precisa de saber que Macau é fascinante e se preocupa com a valorização da mulher. Espero que isso continue, mas está muito nas mãos das instituições do Governo”, concluiu.

Organizada pelo Albergue SCM e pelo Museu de Arte de Macau, a ArtFem Mulheres Artistas – a 1.ª bienal internacional de Macau – foi inaugurada a 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, tendo estado patente ao público até ontem.

A mostra juntou 142 obras de 132 mulheres realizadas desde os anos 70 até aos dias de hoje, incluindo o quadro “Nossa Senhora das Dores” de Paula Rego.

14 Mai 2018

Literatura | Obras sobre Silva Mendes lançadas na próxima quinta-feira

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Clube Militar vai ser palco, na próxima quinta-feira, pelas 18h30, do lançamento de dois livros com a chancela do Instituto Internacional de Macau (IIM). As obras em questão são “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes”, de Carlos Botão Alves e “Manuel da Silva Mendes”, de António Aresta, indicou o IIM em comunicado.

As apresentações vão ser realizadas por Ana Cristina Dias, professora de língua e literatura da Universidade de Macau, José Rocha Diniz, administrador do Jornal Tribuna de Macau, Carlos Botão Alves, autor de um dos livros e professor do Instituto Politécnico de Macau, com a coordenação de Jorge Rangel, presidente do IIM.

14 Mai 2018

MAM | “Marc Chagall, Luz e Cor no Sul de França” inaugura no próximo dia 31

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Museu de Arte de Macau (MAM) vai acolher, a partir de 31 de Maio, a exposição “Marc Chagall, Luz e Cor no Sul de França”. Trata-se da primeira mostra em Macau dedicada àquele que é um dos principais artistas do século XX.

Na exposição, que figura como um dos destaques do XXIX Festival de Artes de Macau e do Le French May, vão ser exibidas obras que Marc Chagall (1887-1985) criou a partir dos anos 1950, altura em que se instalou no sul de França, após deixar a terra natal (actual Bielorrússia), até aos anos 1970.

A mostra reúne uma selecção composta por pinturas, guaches, litografias, figurinos e tapeçarias que destacam a preeminência da luz e da cor das suas obras, indica um comunicado do Instituto Cultural (IC). A mostra, com entrada livre, vai ficar patente ao público entre 1 de Junho e 26 de Agosto,

Com o objectivo de dar a conhecer ao público a carreira do pintor, o MAM organizou, na sexta-feira, um seminário especial intitulado “Marc Chagall e Seus Tempos”, conduzido por Gigi Lo, coordenadora da exposição e investigadora do MAM.

14 Mai 2018

Israel venceu 63.ª edição da Eurovisão e Portugal ficou em último lugar

[dropcap style≠’circle’]I[/dropcap]srael venceu este sábado, pela quarta vez, o Festival Eurovisão da Canção, com o tema “Toy”, interpretado por Netta, enquanto a canção portuguesa, “O Jardim”, defendida por Cláudia Pascoal e escrita por Isaura, ficou em último lugar.

Israel foi o país que obteve maior pontuação (529 pontos), atribuída pelos espetadores de cada país e pelos júris nacionais dos 43 países que participaram na edição deste ano, embora apenas 26 canções tenham competido na final.

A final da 63.ªedição do Festival Eurovisão da Canção decorreu hoje à noite na Altice Arena, em Lisboa.

No segundo lugar ficou o Chipre, com 436 pontos, e na terceira posição a Áustria, com 342 pontos.

A canção da Áustria liderava a tabela de pontuação após a votação dos júris nacionais, com 271 pontos, enquanto a de Israel era 3.ª, com 212 pontos, e a do Chipre 5.ª, com 183 pontos.

Na votação do público, Israel obteve 317 pontos, suficientes para vencer, sendo a canção do Chipre a segunda mais votada pelos espetadores. O tema da Áustria não foi além da 13.ª posição na votação do público.

Esta foi a quarta vez que Israel venceu o concurso, depois dos triunfos em 1978, 1979 e 1998, neste último ano com o tema “Diva”, interpretado pela transsexual Dana International.

O desfile das canções ficou marcado pela invasão do palco por um elemento do público durante a atuação do Reino Unido. Um homem retirou o microfone à cantora SuRie quando esta defendia o tema “Storm”, impedindo-a de cantar durante cerca de 20 segundos.

O ‘invasor’ ainda conseguiu dizer algumas palavras ao microfone, mas acabou por ser retirado por seguranças.

A organização, em comunicado divulgado através do ‘twitter’, lamentou o sucedido e anunciou que o homem se encontra “sob custódia policial”.

Foi dada a possibilidade ao Reino Unido de repetir a atuação, mas a delegação inglesa decidiu não o fazer “por estar extremamente orgulhosa da atuação” e considerar não haver “razão absolutamente nenhuma para apresentar a canção novamente”.

Nos ensaios da primeira semifinal, a tentativa de fazer um mortal em palco acabou por levar o interprete da República Checa, Mikolas Josef, ao hospital. Na primeira semifinal, na terça-feira, foi impedido pelos médicos de voltar a tentar repetir a façanha, mas hoje arriscou e correu bem.

Além de Cláudia Pascoal e Isaura, estiveram em palco mais dois portugueses em competição, já que Ricardo Soler e Kiko Pereira fizeram parte do coro que acompanhou o concorrente da Áustria, Cesar Sampson.

Durante a final, atuou o vencedor do ano passado, Salvador Sobral, primeiro a solo, acompanhado ao piano por Júlio Resende, para apresentar ao vivo o seu novo ‘single’ “Mano a Mano”.

Depois, Caetano Veloso juntou-se à dupla em palco, para cantar com Salvador Sobral “Amar pelos Dois”, tema que valeu a Portugal no ano passado a primeira vitória no concurso.

Pelo palco da Altice Arena passaram ainda as fadistas Ana Moura e Mariza, a dupla Beatbombbbers, campeões mundiais de ‘scratch’, e ‘Som de Lisboa’, que junta Branko, Mayra Andrade, Sara Tavares, Plutónio e Dino D’Santiago.

A assistir à final esteve o primeiro-ministro, António Costa, e os ministros da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, das Finanças, Mário Centeno, e da Administração Interna, Eduardo Cabrita.

Portugal, por ser o país anfitrião, teve entrada direta na final, bem como Espanha, Reino Unido, Alemanha, Itália e França, os países que contribuem com mais verbas para a União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês), que organiza o concurso, ficando assim isentos das semifinais.

A organização estimou previamente que cerca de 200 milhões telespetadores assistiriam à final.

A 63.ª edição do Festival Eurovisão da Canção tem um orçamento estimado entre os 19,7 milhões e os 20,1 milhões de euros e é a mais barata desde 2008, segundo a organização.

13 Mai 2018

FAM | Companhia sul-coreana traz Franz Kafka ao Centro Cultural

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] palco do Centro Cultural recebe a peça de teatro baseada na obra de Franz Kafka, “O Processo” nos próximos dias 26 e 27. A encenação é da companhia sul-coreanos “Sadari Movement Laboratory” que aposta no teatro cinético e no jogo entre a luz e o som para dar espaço às interpretações.
“O Processo” de Franz Kafka vai ser apresentado no grande auditório do Centro Cultural de Macau nos próximos dias 26 e 27 através da visão e encenação da companhia sul-coreana “Sadari Movement Laboratory”. O espectáculo integra a 29ª edição do Festival de Artes de Macau e constitui um dos momentos altos do evento.
Para quem está familiarizado com a obra do autor checo, “O Processo” é uma reflexão acerca do absurdo da existência e do que acontece quando esta, por si, se torna num crime, refere a apresentação oficial do evento. O romance, considerado como a obra-prima do autor, retrata um tema recorrente no universo kafkiano: o esmagamento do ser humano pela máquina estatal.
Numa adaptação do clássico romance de Franz Kafka, a companhia sul-coreana traz a vida do homem moderno na sua coexistência com uma ansiedade permanente. Um cerco que se encerra pela força da pressão da competitividade, dos jogos de violência, da vivência entre sofrimentos, sacrifícios e prazeres que colocam o homem moderno em confronto com a sua própria existência e o seu auto-julgamento. É este tribunal da vida que Kafka escreveu e que a “Sadari Movement Laboratory” reinterpreta numa linguagem que mistura movimento às palavras.

Teatros vários
A companhia é conhecida pelo trabalho que faz recorrendo a técnicas como o teatro físico. Uma via artística assente na ideia de “que os actores podem expressar os estados sociais e psicológicos das suas personagens de forma mais pungente, através de espaços separados e ritmos dinâmicos”, lê-se num comunicado do Instituto Cultural.
A “Sadari Movement Laboratory” foi fundada pelo seu director artístico, Im Do-Wan, que também é uma referência do teatro cinético na Coreia do Sul. Um dos métodos cénicos centra-se em jogos de luz e de som para acompanhar e dar mais profundidade às interpretações levadas a palco.
Depois de completar os estudos na L’École Internationale de Théâtre Jacques Lecoq, em Paris, Im Do-Wan fundou a companhia em 1998. Ali, todos os membros são treinados no método de Jacques Lecoq, assim como na dança tradicional coreana. O objectivo é maximizar as potencialidades dos trabalhos que resultam “num empenho único em cada experiência em palco”, fazendo com que o teatro vá além do diálogo e das convenções mais realistas desta arte.

11 Mai 2018

Música | IIM lança obra de Enio de Souza focada em instrumentos chineses

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Internacional de Macau (IIM) vai lançar a obra “Instrumentos Musicais Chineses – Colecção do Museu do Centro Científico e Cultural de Macau/Lisboa”, da autoria de Enio de Souza, no próximo dia 21 de Maio pelas 18h30.

Trata-se da dissertação de mestrado realizada na Universidade de Católica Portuguesa (UCP) por Enio de Souza, “uma personalidade ligada há mais de três décadas a instituições culturais e centros de investigação académica cujo objecto principal tem a ver com estudos de Macau e das relações interculturais de Portugal com a China, nas suas diversificadas vertentes, sendo hoje um reconhecido especialista em diversas matérias neste domínio”.

Este projecto tem o apoio da Fundação Jorge Álvares e Albergue SCM, e revela “o contexto histórico da música chinesa e respectiva organologia, a que se segue um outro em que é divulgada a história da colecção que constitui objecto principal deste trabalho”. “São depois classificados e caracterizados os instrumentos, cada um dos quais é mostrado através de bonitas fotografias coloridas, sendo também referidos os selos, marcas e inscrições neles existentes”, acrescenta o comunicado do IIM.

A obra faz parte da colecção “Suma Oriental”, do IIM, e já foi lançado pela UCP no passado dia 11 de Abril, contando com a “numerosa participação de professores, estudantes, entidades ligadas a Macau, colegas e amigos do autor”.

10 Mai 2018

FAM | Mísia e Pedro Moutinho actuam com Orquestra Chinesa de Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s fadistas Mísia e Pedro Moutinho vão actuar com a Orquestra Chinesa de Macau num concerto integrado nesta edição do Festival de Artes de Macau (FAM). O espectáculo, intitulado “Concerto de Fado”, acontece a 31 de Maio no grande auditório do Centro Cultural de Macau.

O programa deste concerto inclui temas como “Fado Adivinha”, “Fogo Preso”, “Lágrima”, “Tive um Coração, Perdi-o”, “Garras dos Sentidos”, “Ao Deus Dará”, “Veio a Saudade”, “Alfama”, entre outros. De acordo com o Instituto Cultural, “está apenas disponível um número limitado de bilhetes para este concerto”, já estando disponíveis para venda.

10 Mai 2018

FAM |“A Noite antes da Floresta” sobe ao palco no próximo dia 18

A Associação de Arte Teatral Dirks apresenta nos próximos dias 18, 19 e 20, “A Noite antes da Floresta”. A peça, integrada no Festival de Artes de Macau, é dirigida pela encenadora irlandesa Sinéad Rushe que deu nova vida ao monólogo homónimo do dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès. A história gira em torno da sensação de se ser estrangeiro no lugar onde se vive

 

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] das experiências de alguém que não pertence, ou não se encaixa, no lugar onde vive que fala “A Noite antes da Floresta”. Levada à cena pela Associação local de Arte Teatral Dirks, a peça tem aos comandos Sinéad Rushe para quem a obra homónima de Bernard-Marie Koltès reflecte os tempos de hoje. “É realmente uma peça dos nossos tempos”, observa a encenadora irlandesa, em entrevista ao HM, após um ensaio.

“Sinto que fala, de facto, do momento que atravessamos, de pessoas desesperadamente alienadas e sem opções que deixam a sua terra-natal – por não poderem mais permanecer ou por terem poucas oportunidades para regressar – e que enfrentam constantemente a experiência não serem bem-vindas”, sublinhou. A encenadora referia-se em particular ao “clima político” em todo o mundo, citando os exemplos dos refugiados ou da saída do Reino Unido da União Europeia que, apesar de figurarem em planos incomparáveis, remetem para “o estranho que sente não ter lugar no sítio onde vive”.

Com efeito, a peça, que não é política, oferece uma perspectiva “mais existencialista”, sendo-lhe conferido “um lado mais universal, que toda a gente pode compreender, sobre as experiências de quem não se sente integrado”. Esta foi, aliás, uma das razões pelas quais decidiu converter o monólogo original num trabalho polifónico. “Foi, de certa forma, por isso que segui este impulso de desdobrar a personagem em cinco corpos, tornando-a dispersa, fragmentada e inconstante, porque há uma inquietude no texto que eu queria transpor literalmente”.

Essa universalidade fica também patente no facto de em palco estarem diferentes nacionalidades e géneros. “Quando estávamos a discutir a peça pensamos na possibilidade de ter pessoas de lugares diferentes, porque é uma realidade que temos em Macau, mas que acontece um pouco por todo o mundo, pelo que quisemos abrir essa janela para a audiência”, sublinhou Ip Ka Man, co-director artístico da Associação de Arte Teatral Dirks, e um dos cinco actores d’ “A Noite antes da Floresta”. Ip Ka Man representa Macau num palco que conta ainda com May Bo (de Hong Kong e Macau), Koh Wan Ching (Singapura), Kim Shin Rock (Coreia do Sul) e Chan Tai Yin (Hong Kong), numa peça interpretada em inglês, com pequenas incursões pelo cantonense, mandarim e coreano.

“É muito interessante termos esta diversidade. Eu sou estrangeira e estou aqui a tentar fazer-me entender pelos actores, os actores a tentarem entender-me a mim, todos a tentar entender o texto. Tudo isto com pessoas de lugares diferentes e com línguas diferentes, em que nem tudo é realmente directo ou explícito”, considera Sinéad Rushe. “Esperamos que [o resultado] fique interessante para o público, porque faz parte do processo tentar passar a mensagem do personagem que, muitas vezes, não é clara, ou seja, furar essa obscuridade”, realça a encenadora, para quem a linguagem através da qual nos “encontramos a nós próprios e nos conectamos com os outros é muito relevante para o autor, para a peça e para a sociedade contemporânea”.

“Bernard-Marie Koltès viajou durante grande parte da vida e tem a experiência de ser um estrangeiro em diferentes lugares. Aliás, ele vai para a América Latina e para África para escrever tudo, sair do ponto de vista da classe média branca do primeiro mundo. Ele fala do encontro ou da relação particular que se estabelece quando não estás no lugar donde és, ou onde não te sentes confortável e travas uma luta para comunicar, acabando por estabelecer diferentes tipos de contacto”, descreve, apontando que o dramaturgo acaba, “em certa medida, por ter horror à situação em que todos nos compreendemos totalmente”.

A peça sobe ao palco durante três dias no âmbito do FAM, mas o trabalho iniciou-se no Verão passado, quando Sinéad Rushe iniciou a tradução da obra de francês para inglês, a qual viria a ser vertida, depois, para cantonense, dado que a produção é local.

Um acaso afortunado

O caminho da encenadora cruzou-se com a Associação de Arte Teatral Dirks há meia dúzia de anos quando Ip Ka Man e May Bo foram estudar teatro para uma universidade de Londres, onde Sinéad Rushe leccionava. “Ela abordava a biomecânica e as técnicas de representação de Michael Chekhov [sobrinho de Anton Chekhov], muito baseada na imaginação, bastante raras em Macau, pelo que quando regressamos decidimos convidá-la para partilhar os seus conhecimentos. Dois anos depois, em 2016, repetimos o convite para um workshop e foi quando abordamos a possibilidade de trabalharmos juntos numa performance para aplicar o que aprendemos”, explica Ip Ka Man. A encenadora aceitou: “Eu viajo e ensino em todo o mundo e, de facto, é muito raro eu voltar a um lugar para fazer um espectáculo. Mas este caso é muito especial, porque primeiro vim dar formação e agora esses conhecimentos podem ser desenvolvidos num contexto real de performance”.

“Ip Ka Man e May Bo têm um compromisso com a formação contínua, uma dedicação que, por vezes, não se encontra a nível profissional e isso também é parte do motivo pelo qual quis vir, porque senti que o trabalho vem do sítio certo, que há um interesse em realmente explorar as coisas de forma adequada e não apenas de montar um espectáculo ou algo do género”, acrescenta.

“Em cinco semanas não treino os actores que, aliás, são experientes. Eu apenas sugiro exercícios e guio-os no sentido de todos tentarmos compreender melhor o texto e descobrir e explorar de formas diferentes o mundo da personagem e ir mais a fundo no mundo da personagem. Sinto que o meu papel é trabalhar com eles o texto em pormenor, ou seja, compreender a sua jornada interior”, complementou.

O restante elenco Sinéad Rushe conheceu apenas em Macau, o que, “em certa medida, acaba por ser muito libertador”. De facto, a única sugestão que deu em termos da equipa foi ao nível do desenho de som, a cargo do alemão Niels Lanz. “A peça foi escrita como uma composição musical, como uma fuga de Bach, criando um espaço denso. Eu queria seguir o impulso de Koltès para libertar a audiência da possibilidade de ficar aborrecida por ter de seguir os actores. Depois, quando lês a peça há uma clara musicalidade: parece começar com um ária e acabar com uma sinfonia”. Para tentar invocar esse cenário contactei o Niels, que trabalhou muito tempo com o coreógrafo William Forsythe, porque sabia que precisava de alguém que realmente dominasse microfones e espaço e ele aceitou. É uma enorme oportunidade para mim e para eles e para explorar o que o som pode oferecer em termos de caracterização”.

“Em geral, não acho que o Koltès quereria algo do género, mas espero que ele nos perdoe, mas pelo menos estamos a agarrar o texto dele e a homenageá-lo”, sublinhou Sinéad Rushe que, pela primeira vez, tem um encontro marcado com o público chinês.

10 Mai 2018

Carlos Farinha, artista plástico e representante de Portugal na Art Beijing: “Olhar como se estivesse de lado”

Foi um dos dois artistas portugueses que estiveram presentes, no final de Abril, na Art Beijing. Carlos Farinha encerra nos seus quadros o mundo que vê e faz questão de misturar e as influências que vai recolhendo. Macau e o Oriente não são excepção

 

O que representa para si ter sido um dos dois artistas portugueses seleccionados para a Art Beijing?

Foi uma honra e uma enorme responsabilidade representar Portugal. Queria aproveitar a ocasião para agradecer à Galeria Arte Periférica e à Embaixada de Portugal por me ter proporcionado esta oportunidade. Estar nesta feira representa uma presença da arte portuguesa num mercado difícil mas de uma extraordinária dimensão e visibilidade. A título pessoal foi uma experiência curiosa e enriquecedora perceber a forma como o público chinês se relaciona com as minhas obras.

Quando vemos os seus trabalhos há uma espécie de tragicomédia presente. Concorda?

É curioso que me faça essa pergunta. Realmente tenho uma propensão para uma certa dramatização dos assuntos que pinto, [as pinturas] são muitas vezes criadas pela ironia, e uma certa abordagem despreocupada de um contador de histórias. As várias leituras que se pode fazer sobre as minhas pinturas são um sinal dos vários níveis de compreensão que pretendo criar, sem no entanto ser moralista ou generalista. Por exemplo, quando uso a caricatura, ela retira uma carga simbólica às histórias que conto levando-me para um campo onde posso desenvolver uma ironia que, se não fosse desse modo, poderia ganhar contornos melindrosos e ineficazes.

Qual o ponto de partida quando começa um trabalho?

Depende se é apenas um exercício ou o desenvolvimento de um conceito para uma exposição mas, muitas vezes, o dia-a-dia é o meu grande referente (político e social).

Quais são as suas referências?

São várias. Ultrapassam a própria pintura do Millet ou da Paula Rego, mas também passam pela actualidade e pelas redes sociais.

Passou por Macau. O que lhe ficou do território a nível pessoal? E a nível artístico?

Muito: Sentir um pouco de Portugal no Oriente e a sensação de que Macau tem uma identidade própria. Ficaram-me amigos, memórias e um desejo de conhecer melhor o Oriente. Conheci artistas, o trabalho da AFA e gosto particularmente do trabalho do Erick Fok.

Conseguimos identificar elementos de várias experiências culturais por onde vai passando. Como é que os interliga? Em que cultura se localiza para o fazer? Se é que isso acontece.

Bem, o meu processo criativo parte muito do facto de ter crescido fora de Portugal e de ter uma visão muito própria do meu presente. Olhar como se estivesse de lado para criar um espaço de crítica criativa.

Considera o seu trabalho como tendo, de alguma forma, uma componente interventiva?

Sim. Aliás, tive diversas experiências que me levaram a compreender melhor o mundo em que vivemos. Já tive vários quadros virais, partilhados centenas de vezes nas redes sociais. Sem essa necessidade de perceber o mundo em que vivemos, nunca seria um artista. Intervir é uma necessidade visceral no meu mundo.

Qual é a sua opinião da arte que se faz na China?

Bem, é uma potência em estado bruto, muito diversificada mas com características muito próprias. Daquilo que tive oportunidade de ver existe um encontro com a arte que é apresentada nos grandes centros culturais do mundo mas, ao mesmo tempo, procuram uma identidade própria.

Das suas obras, pode-nos contar a história de duas que tenham que ver com o Oriente?

“A tradutora” é um quadro que retrata as relações entre Portugal e a China através da representação simbólica de uma caravela portuguesa e de um junco chinês. A mulher que transporta os barcos serve para equilibrar e criar laços entre as duas culturas tão diferentes através do seu papaguear e do domínio das duas línguas. A tradutora é a garante da comunicação. “Lucky Man” é um quadro que retrata uma mesa de jogo num casino em Macau. Este quadro tem numa das figuras um boneco de boa sorte ao ombro, [porque] todos os jogadores procuram a sorte no jogo.

Neste momento, encontra-se a trabalhar em algum projecto?

Por acaso, estou a preparar uma cartografia plástica do mundo português, focada sobretudo no Oriente. É um projecto que ambiciono desde a minha primeira presença em Macau.

9 Mai 2018

Escritor Mário Vargas Llosa participa pela 1.ª vez no Hay Festival

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor Mario Vargas Llosa, de 82 anos, distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 2010, participa pela primeira vez no Hay Festival, que se realiza em Novembro, em Arequipa, sua cidade natal, anunciou a organização.

Nas três edições enteriores, participaram no Hay Festival cerca de 25.000 pessoas, noticiou a Efe, segundo a qual além do autor de “Elogio da Madrasta”, no certame participam também o indo-britânico Salman Rushdie, que recentemente publicou “A Casa Golden”, e a escritora e jornalista argentina Leila Guerriero, que em 2010 venceu o Prémio de Jornalismo Gabriel García Márquez.

Leila Guerriero participa pela segunda vez no festival, que teve a sua primeira edição, em Arequipa, em 2015.

O IV Hay Festival de Artes y Literatura realiza-se de 8 a 11 de Novembro, no centro histórico da denominada “Cidade Branca”, pelos seus edifícios construídos em cantaria vulcânica de cor branca, e onde Vargas Llosa, nobilitado como marquês pelo rei João Carlos de Espanha, tem a sua casa museu.

O Hay Festival, que junta escritores, filósofos, cientistas e jornalistas, é originário do País de Gales, e além do Peru, tem edições na Colômbia, México, Dinamarca, e Espanha, designadamente em Segóvia.

O escritor Mario Vargas Llosa esteve em Lisboa, em Outubro de 2016, para apresentar o seu mais recente romance, “Cinco esquinas”, na sala Almada Negreiros, no Centro Cultural de Belém.

Referência literária

Mario Vargas Llosa nasceu em 1936, em Arequipa, no Peru e actualmente tem dupla nacionalidade, peruana e espanhola, tendo recebido vários prémios literários internacionais, entre eles, o Prémio P.E.N./Nabokov, o Cervantes, o Príncipe das Astúrias e o Grinzane Cavour.

Em 2010, foi distinguido com o Prémio Nobel de Literatura pela “sua cartografia das estruturas de poder e pelas imagens pungentes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos”, segundo fonte editorial.

Dos seus títulos refira-se “A cidade e os cães”, que lhe valeu o Prémio Biblioteca Breve, em 1962 e o da Crítica Espanhola, em 1963).

Autor de mais de uma dezena de romances, Vargas Llosa é também autor de peças de teatro, nomeadamente “A menina de Tacna”, e de obras de ensaio, como “A Civilização do espetáculo”, editada em 2012.

Entre outras condecorações estrangeiras, o Governo francês distinguiu o escritor com a Medalha de Honra, em 1985, e, em Fevereiro de 2011, o rei de Espanha nobilitou-o com o título hereditário de Marquês de Vargas Llosa.

Vargas Llosa obteve a nacionalidade espanhola em Março de 1993, sem nunca renunciar à peruana.

8 Mai 2018

USJ | Gregory B. Lee traz a Macau a China imaginada

[dropcap style≠’circle’]“C[/dropcap]hina Imagined: From Western Fantasy to Spectacular Power” é a palestra a cargo de Gregory B. Lee que vai decorrer na Universidade e São José (USJ) no próximo dia 29 de Maio pelas 18h30.

De acordo com a organização, a China tem sido um país estudado e explorado por sinólogos e escritores, mas sempre dentro do âmbito de um país imaginado. “Entenda-se por imaginário, o conjunto de frases, imagens e crenças que compõem a compreensão partilhada de um grupo ou de comunidade (seja uma etnia ou uma nação, a nossa ou de outra pessoa)”, refere a apresentação do evento.

Mas, os tempos estão a mudar e o imaginário ocidental da China começa a ficar situado num ponto sem descrição com a sua posição reconhecida enquanto potência mundial. A palestra pretende responder à questão “De onde vem a China?”

Gregory B. Lee é um académico e autor, professor de Estudos Chineses e Transculturais na Universidade Jean Moulin. De entre as suas publicações, a organização destaca “Dai Wangshu: A vida e a poesia de um modernista chinês (1989)” e a “Década perdida da China (2009, 2012)”.

8 Mai 2018

Exposição | Arlinda Frota mostra azulejos e pintura no Albergue

É inaugurada amanhã a exposição “Do passado à modernidade” de Arlinda Frota no Albergue SCM. Composta por azulejos, pinturas e uma peça isolada, a mostra apresenta a diversidade de técnicas e abordagens da artista portuguesa

 

[dropcap style≠’circle’]“D[/dropcap]o passado à modernidade” é uma exposição em três momentos. Azulejos, pintura em acrílico e uma peça em porcelana compõem o conjunto de trabalhos que Arlinda Frota apresenta a partir de amanhã no Albergue SCM.

Para a primeira parte da exposição, a artista plástica reproduziu um conjunto de 17 azulejos em homenagem à cerâmica portuguesa, uma expressão artística que já vai com mais de 500 anos de história. De acordo com a apresentação do evento, a escolha do azulejo foi uma forma de adoptar um material representativo da história de Portugal. “Os azulejos transcenderam a sua função decorativa utilitária em Portugal, tornando-se uma das formas artísticas mais expressivas da cultura portuguesa”, lê-se.

O azulejo, apesar de ser uma peça que não tem origem em Portugal, ganhou em terras lusas uma outra vida. “A sua utilização ininterrupta por mais de cinco séculos, para cobrir grandes superfícies, tanto no interior como no exterior de edifícios, tornou-se representativa da evolução da arte portuguesa nos últimos 500 anos”, sublinha o comunicado de apresentação de “Do passado à modernidade”. “Os azulejos mostram influências de inúmeras culturas, desde os primeiros desenhos de estilo mourisco, aos temas relacionados com a natureza e animais, do Gótico e do Renascimento, e foram ainda inspiração para tecidos do oriente”, revela a apresentação.

Pintar o abstracto

A segunda parte da exposição é composta por 32 pinturas abstractas em acrílico em que a artista Arlinda Frota “incorpora a sua diversificada experiência artística”. A artista “aproveitou para mergulhar no universo das cores, descobrindo uma combinação espontânea de tonalidades em que cria novos mundos gerando novas ideias e interpretações”, lê-se.

Por último, a mostra conta com a exposição de uma peça única em porcelana, “A beleza do casamento”.

8 Mai 2018

Museu do Oriente quer impôr-se “pela diferença e exotismo”, afirma directora

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] diretora do Museu do Oriente, Joana Belard da Fonseca, afirmou, numa entrevista à agência Lusa, que a entidade pretende impôr-se “pela diferença e exotismo” na oferta cultural de Lisboa, através de um acervo com mais de 17 mil peças.

O museu, que celebra este ano uma década de existência, fica localizado em Alcântara, junto ao rio Tejo, e as celebrações passam por uma programação de exposições, concertos, palestras e oficinas, até 27 de maio, com entradas gratuitas aos domingos.

“Nós temos uma coleção com peças muito significativas da presença portuguesa na Ásia, com diversos objetos que resultam do encontro de culturas e, por outro lado, a coleção Kwok On, que é muito específica, sendo poucos os museus da Europa com uma semelhante”, disse a responsável à Lusa.

De acordo com a diretora do museu, o orçamento global da Fundação Oriente para 2018 é de 4,3 milhões de euros e o valor para aquisição de peças para o museu é de 950 mil euros este ano.

Os visitantes podem encontrar no Museu do Oriente, os biombos Namban, máscaras, marionetas, mobiliário, armaduras, e gravuras, trajes e diversos objetos de cerimoniais que integram um acervo composto globalmente por cerca de 17.000 peças provenientes de países como a Índia, Indonésia, Malásia, Tailândia, Camboja, Turquia e China.

O museu recebeu 450.725 visitantes em dez anos de funcionamento e Joana Belard da Fonseca apontou que a filosofia é “criar um grande dinamismo na Casa do Oriente em Portugal”, disse, citando o fundador, Carlos Monjardino.

“Temos a intenção de trazer novo público e fidelizar o que nós já temos. O nosso público tem vindo a crescer, os estrangeiros são já 40%, sobretudo franceses e alemães”, referiu.

Atualmente, o museu tem patente a exposição “Um Museu do Outro Mundo”, com cerca de uma centena de peças, num diálogo de obras do acervo, com novas obras do artista José de Guimarães, até 03 de junho.

O Museu do Oriente, que abriu portas em maio de 2008, foi distinguido em 2009 como o melhor museu português desse ano pela Associação Portuguesa de Museologia (APCOM).

Localizado em Alcântara, o museu foi instalado após obras de recuperação e adaptação do edifício originalmente desenhado pelo arquiteto João Simões, construído em 1939, um dos símbolos da arquitetura portuária do Estado Novo.

O novo projeto é da autoria dos arquitetos João Luís Carrilho da Graça e Rui Francisco.

Constituída em 18 de março de 1988, a Fundação Oriente tem como objetivos a realização e o apoio a iniciativas de carácter cultural, científico, educativo, artístico e social, sobretudo em Portugal e em Macau.

Também desenvolve iniciativas de defesa do património cultural ligado à língua e à história da presença de Portugal no Oriente, a promoção dos estudos orientais em Portugal e dos estudos internacionais sobre a presença portuguesa na Ásia.

Com delegações em Macau, na Índia e em Timor-Leste, a Fundação Oriente desenvolve também um programa de bolsas de estudo de investigação, de doutoramento e de língua e cultura portuguesa e línguas e culturas orientais, promovendo ainda o ensino da língua portuguesa em Macau, Goa e Timor-Leste.

Biombo e capacete cerimonial Namban são “joias raras” do Museu do Oriente
 Um biombo Namban do século XVII e um capacete Namban datado de 1600 fazem parte das peças mais significativas da coleção do Museu do Oriente, em Lisboa, de onde estão proibidas de sair devido ao seu valor e raridade.

Estas são algumas das preciosidades que a entidade acolhe, dentro de uma coleção iniciada já em 1988 pela Fundação Oriente, que viria a inaugurar o museu em 2008, indicou à agência Lusa a diretora, Joana Belard da Fonseca.

A responsável foi entrevistada pela Lusa a propósito das celebrações dos 30 anos da Fundação Oriente e dos dez anos do Museu do Oriente, que envolvem uma vasta programação de exposições, concertos, palestras e oficinas, até 27 de maio, e entradas gratuitas aos domingos.

Questionada sobre os “tesouros” do Oriente guardados pelo museu, a diretora, que acompanhou o nascimento do espaço, há dez anos, e a sua evolução, indicou que tanto o biombo como o capacete Namban não podem sair pela sua preciosidade e fragilidade, embora sejam várias as solicitações de outros museus de todo o mundo.

O biombo Namban foi comprado num leilão em Nova Iorque, em 1999, e representa o encontro entre os missionários jesuítas e os japoneses. Normalmente, os artistas Namban criavam sempre uma peça sobre a chegada de uma embarcação, e outra com a partida.

“Esta peça só saiu uma vez do museu, em 2012, para uma exposição em Florença, na Itália”, recordou a diretora, enquanto o capacete cerimonial, que surge frequentemente nas pinturas dos biombos, comprado em Nova Iorque, em 2000, nunca saiu.

Outra das preciosidades da coleção do Museu do Oriente é um outro biombo Namban da segunda metade do século XVIII, adquirido em 1993, em Londres, que representa o território de Macau de um lado e de Cantão do outro.

“Consideramos que é um grande risco estas peças saírem”, justificou Joana Belard da Fonseca, acrescentando que, à medida que a entidade vai fazendo missões para adquirir peças daquele lado do mundo, vai descobrindo a sua raridade.

No entanto, o Museu do Oriente cede outras da sua coleção de 3.000 peças dedicada à presença portuguesa na Ásia, e outro conjunto, também do acervo, de características muito específicas, que é a Kwok On, que reúne 14.000 obras.

“Esta coleção Kwok On é única no mundo. França e Holanda têm peças semelhantes, mas a nossa, pela sua dimensão, é muito significativa e continua a ser estudada”, comentou a responsável, indicando que a Fundação Oriente oferece bolsas de estudo a investigadores para realizar este trabalho, resultado que muitas vezes contribui para realizar novas exposições e espetáculos.

A aquisição de novas peças para enriquecer o acervo tem continuado ao longo dos anos através da realização de ´missões´ para encontrar determinadas peças que vão enriquecer alguns dos núcleos, ou através de compras em leilões nacionais e internacionais.

Há também depósitos de peças, de particulares ou entidades institucionais, como é o caso do protocolo de depósito firmado com o Museu Nacional Machado de Castro, nos anos 1990.

“Antes da criação do museu já eram emprestadas peças”, indicou a responsável à Lusa, nomeadamente para exposições que decorreram, entretanto, na Austrália, França, Espanha, Itália, Tailândia e Macau, entre outros países.

De acordo com Joana Belard da Fonseca, licenciada em História e com uma pós-graduação em museologia e património, que começou a sua ligação à Fundação Oriente ainda muito jovem, como voluntária, o Museu do Oriente, em Lisboa, recebeu 450.725 visitantes em dez anos de funcionamento.

Estes visitantes passaram pelas exposições entre maio de 2008, quando o museu foi inaugurado, e janeiro de 2018.

Ainda segundo as estatísticas da entidade, 97.846 espetadores assistiram a cerca de 500 espetáculos de música, teatro, dança e cinema nestes dez anos.

Foram também apresentadas 115 exposições temporárias, 34.111 pessoas participaram nos mais de 700 cursos, oficinas e palestras realizadas no museu, 13.328 usaram o Centro de Documentação, onde se realizaram dez festas do livro, e 39.317 recorreram a diversas atividades do serviço educativo.

No Centro de Reuniões do museu, ao longo dos dez anos, foram realizados cerca de 1.700 eventos, nos quais participaram 141.600 pessoas, segundo os dados da fundação.

Atualmente, o museu tem patente a exposição “Um Museu do Outro Mundo”, com cerca de uma centena de peças, num diálogo de obras do acervo, com novas obras do artista José de Guimarães, até 03 de junho.

O Museu do Oriente, que abriu portas em maio de 2008, foi distinguido em 2009 como o melhor museu português desse ano pela Associação Portuguesa de Museologia (APCOM).

Possui um património museológico com máscaras, mobiliário, armaduras, mapas, têxteis, biombos, porcelanas, terracotas, desenhos e pinturas, entre outros objetos.

Localizado em Alcântara, o museu foi instalado após obras de recuperação e adaptação do edifício originalmente desenhado pelo arquiteto João Simões, construído em 1939, um dos símbolos da arquitetura portuária do Estado Novo.

O novo projeto é da autoria dos arquitetos João Luís Carrilho da Graça e Rui Francisco.

Constituída em 18 de março de 1988, a Fundação Oriente tem como objetivos a realização e o apoio a iniciativas de carácter cultural, científico, educativo, artístico e social, sobretudo em Portugal e em Macau.

Também desenvolve iniciativas de defesa do património cultural ligado à língua e à história da presença de Portugal no Oriente, a promoção dos estudos orientais em Portugal e dos estudos internacionais sobre a presença portuguesa na Ásia.

7 Mai 2018

Primeira semifinal da Eurovisão amanhã com 19 países em competição e actuação de Portugal

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ezanove países competem amanhã na primeira semifinal da 63.ª edição do Festival Eurovisão da Canção, que decorre em Lisboa, e na qual irão actuar também o Reino Unido, Espanha e Portugal, automaticamente apurados para a final.

O palco desta edição foi montado na Altice Arena, no Parque das Nações, o ‘quartel-general’ do concurso, que Portugal venceu pela primeira vez no ano passado, com a canção “Amar pelos Dois”, interpretada por Salvador Sobral.

Na terça-feira competem Suíça, Finlândia, Bielorrússia, Bulgária, Áustria, Lituânia, Albânia, Irlanda, Arménia, Chipre, República Checa, Bélgica, Croácia, Islândia, Azerbaijão, Grécia, Israel, Estónia e Macedónia.

Além destes países, serão ainda apresentadas as canções do Reino Unido, Espanha e Portugal.

Portugal, por ser o país anfitrião, está automaticamente apurado para a final. Cláudia Pascoal dá a voz ao tema “O Jardim”, composto por Isaura.

O Reino Unido e a Espanha também só competem na final, mas por fazerem parte do grupo dos chamados ‘Big5’ (que inclui ainda França, Alemanha e Itália).

Dos 19 países em competição na Terça-feira, os dez com maior pontuação passam para a final, marcada para sábado. A pontuação é decidida por televoto (com um peso de 50%) e por júris nacionais (outros 50%). Todos os júris dos países que competem na semifinal irão votar, bem como os júris de Portugal, do Reino Unido e de Espanha.

O Festival Eurovisão da Canção é realizado pela União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês) em parceria com a RTP, em Lisboa.

7 Mai 2018

Participantes da Eurovisão desfilaram em cerimónia a que nem Marcelo Rebelo de Sousa faltou

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] cerimónia de abertura do Festival Eurovisão da Canção, em Lisboa, que incluiu o desfile das 43 delegações concorrentes numa passadeira azul e que decorreu à beira rio, terminou ontem com uma visita surpresa do Presidente da República Portuguesa.

Ainda as delegações desfilavam na passadeira azul estendida na rua entre o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT) e o rio Tejo, pelas 19:40, quando Marcelo Rebelo de Sousa chegou ao local, entrando diretamente para a tenda montada em frente ao Museu da Eletricidade, onde decorreu uma festa à qual os jornalistas não puderam aceder, com exceção da RTP, disseram à agência Lusa várias fontes ligadas à organização.

Além de Marcelo Rebelo de Sousa, na festa esteve também o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, bem como alguns vereadores da autarquia da capital, e o presidente do Conselho de Administração da RTP, Gonçalo Reis.

Já perto das 21:00, ainda a última delegação, a portuguesa, não tinha chegado a meio ao da ‘passadeira azul’. Cláudia Pascoal, a intérprete, e Isaura, a compositora, mostraram-se cansadas, partilhando com a Lusa que já nem sabiam a hora a que tinham começado o percurso.

A reação de fãs e jornalistas “tem sido incrível”, disseram à Lusa em coro. Apesar de toda a azáfama e atenção, o festival “tem sido super calmo, acima de tudo”.

Cláudia Pascoal e Isaura, a dupla de “O Jardim” só começou a percorrer a passadeira azul ao finam do dia, mas tudo começou ao início da tarde de hoje, quando pelas 15:00 os jornalistas que iam chegando começavam a ser arrumados em compartimentos criados ao longo do passeio situado em frente ao Museu de Arte Arquitetura e Tecnologia (MAAT).

Portugal partilhou o espaço com profissionais da Finlândia, da Arménia, da Suíça e da Irlanda. A escadaria do edifício ficou reservada aos fãs, acreditados para o festival tal como os jornalistas.

A zona entre o MAAT e o Museu da Eletricidade esteve toda a tarde sob fortes medidas de segurança, quer em terra, quer no rio, e com algumas restrições à circulação de jornalistas, fotógrafos e fãs.

Com o céu limpo e a temperatura a rondar os 26 graus centígrados, os jornalistas iam-se refrescando com água e passando o tempo a fotografar a vista do Tejo ou a tirarem ‘selfies’.

Às 17:10, a delegação da Albânia foi a primeira a percorrer a passadeira azul, tendo, cerca de meia hora depois chegado a meio do percurso onde a organização colocou uma esfera armilar onde cada colocava uma garrafa de vidro, onde estava pintada a bandeira do seu país.

Pelas 18:30, a delegação da Albânia foi também a primeira a entrar na tenda transparente montada em frente ao Museu da Eletricidade, onde decorreu uma cerimónia interdita a jornalistas e onde uma a uma foram entrando as 43 delegações.

Com alguns interpretes a serem mais abordados do que outros, houve também espaço para alguns cantarem ‘a capela’ partes dos temas que vão defender no concurso, como as representantes da Austrália, Jessica Mauboy, e da Estónia, Elina Nechayeva, ou o da Bielorrússia, Alekseev.

Além das delegações, desfilaram ainda pela passadeira azul as quatro portuguesas a quem cabe este ano a tarefa de apresentar as semifinais e a final do concurso: a atriz Daniela Ruah e as apresentadoras de televisão Filomena Cautela, Silvia Alberto e Catarina Furtado, todas em vestidos de gala.

Daniela Ruah, a viver nos Estados Unidos e uma das protagonistas da série “NCIS Los Angeles”, emitida em todo o mundo, foi a que mais chamou a atenção dos jornalistas espalhados ao longo da passadeira. A um jornalista suíço, espantado por vê-la ali, explicou que é portuguesa. “A todos os que não sabem, eu sou portuguesa e tenho muito orgulho do meu país”, afirmou para uma câmara.

A 63.ª edição do Festival Eurovisão da Canção decorre em Lisboa, com o ‘quartel-general’ montado no Parque das Nações. As semifinais decorrem na terça e na quinta-feira, na Altice Arena, e a final está marcada para sábado no mesmo local.

7 Mai 2018

Creative Macau | Festival Sound & Image com mais de 25 candidaturas portuguesas

[dropcap style=’circle’] A [/dropcap] inda não fecharam as inscrições e a organização do Sound & Image já recebeu mais de 1500 filmes para a nona edição do festival. Destes “pelo menos 27” são de autores portugueses. Este ano Miguel Dias vai fazer parte do júri.
A 9.ª edição do Sound & Image Challenge de Macau, festival que motiva todos os anos produtores locais e internacionais de curtas-metragens e música a competir no território, já recebeu pelo menos 27 candidaturas de filmes portugueses. “Até agora já recebemos 1604 filmes da Grécia, Egipto, Estados Unidos, Reino Unido, Irão, Portugal, Brasil, etc.”, afirmou à Lusa a coordenadora do Creative Macau, Lúcia Lemos, que organiza o festival.
A coordenadora do espaço cultural, que este ano celebra o 15.º ano de existência, anunciou ainda que “um dos directores do festival internacional de Curtas de Vila do Conde, Miguel Dias, vai ser grande júri do Festival”.
Para a competição de curtas, os trabalhos serão recebidos até 16 de Junho, sendo o prazo alargado até 20 de Agosto para os vídeos musicais.
O Sound & Image Challenge International Festival divide-se em duas competições: a de curtas-metragens, nas categorias de Ficção, Documentário e Animação, e a vídeos musicais.

Prémios novos
A estes prémios, a organização decidiu acrescentar este ano novas nomeações: Prémios de melhor realizador, melhor cinematografia, melhor edição, melhor música, melhor banda sonora, melhores efeitos visuais para a competição de curtas, e de melhor canção e melhores efeitos visuais para a competição de vídeos musicais, que por enquanto não têm valor monetário. Os trabalhos finalistas vão ser apresentados de 4 a 9 de Dezembro no teatro Dom Pedro V.
Lúcia Lemos fez um balanço muito positivo dos 15 anos Creative Macau já que foram alcançados todos os objetivos, de “ser uma plataforma e um centro de apoio aos criativos locais”. Este espaço criativo, que conta com mais de 500 membros, dá a possibilidade aos associados de “exporem em grupo, nas exposições colectivas, os seus trabalhos e também podem ser convidados a fazer exposições individuais”, explicou a coordenadora. Para além dos membros, os alunos da Universidade de São José, em Macau, e do Instituto Politécnico de Macau podem utilizar o espaço para divulgarem os seus trabalhos.
Para as celebrações do aniversário do espaço, no dia 28 de Agosto, a coordenadora admitiu que ainda não sabe que trabalhos vai exibir, “mas certamente que vão existir peças de portugueses”.

7 Mai 2018

Livro de poesia de Oscar Maldonado vence Prémio Literário UCCLA

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] paraguaio Oscar Maldonado venceu a edição deste ano do Prémio Literário UCCLA – Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa, com o livro de poesia “Equilíbrio Distante”, anunciou a organização.

Em comunicado, a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) revelou que a obra vencedora da 3.ª edição do prémio foi apresentada no âmbito das celebrações do Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP, na quinta-feira.

Oscar Ruben Lopez Maldonado, de 48 anos, é natural do Paraguai, mas reside em São Paulo, no Brasil.

Esta edição contou com 805 candidaturas, oriundas da Alemanha, Angola, Brasil, Cabo Verde, Espanha, Guiné-Bissau, Moçambique, Paraguai, Portugal e São Tomé e Príncipe.

Relativamente às idades dos concorrentes que submeteram candidaturas, verifica-se que 35% tinham entre os 16 e os 30 anos, 41% entre os 31 e os 50, 21% entre os 51 e os 70, e 3% entre os 71 e os 90 anos.

No que respeita ao género, 31% são mulheres e 69% são homens.

O prémio literário é uma iniciativa conjunta da UCCLA, da Editora A Bela e o Monstro e do Movimento 2014, que conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.

O objetivo do prémio é estimular a produção de obras literárias, nos domínios da prosa de ficção (romance, novela e conto) e da poesia, em língua portuguesa, por novos escritores.

O prémio foi lançado em 2015 e distinguiu, na 1.ª edição, o romance “Era Uma Vez Um Homem” da autoria de João Nuno Azambuja, de Portugal, e, na 2.ª edição, a obra “Diário de Cão” de Thiago Rodrigues Braga, de Goiás, Brasil.

6 Mai 2018

Comuna de Pedra explora a coreografia com materiais

A Associação de Arte e Cultura Comuna de Pedra apresenta nesta edição do Festival de Artes de Macau o espectáculo “Murmúrio da Paisagem”, onde os corpos humanos perdem protagonismo em detrimento da manipulação de materiais. Jenny Mok juntou-se ao designer visual Nip Man Teng para um espectáculo novo que mistura dança e instalação teatral

 

[dropcap style≠‘circle’]”A[/dropcap] colina que se vê não é uma colina; o riacho que se vê não é um riacho. Uma ilusão temporal entre uma colina e um riacho é uma moldura instável que se desmorona com uma simples rajada de vento.” É desta forma que o Instituto Cultural (IC) descreve o novo espectáculo que a Associação de Arte e Cultura Comuna de Pedra leva ao palco na edição deste ano do Festival de Artes de Macau (FAM), nos dias 19 e 20 de Maio.

Em “Murmúrio da Paisagem”, Jenny Mok, directora da Comuna de Pedra, decidiu criar um espectáculo de dança e instalação teatral onde materiais como espuma ou plástico ganham importância em palco em detrimento do corpo humano. Para atingir este objectivo, a Comuna de Pedra trabalhou em parceria com Nip Man Teng, designer visual.

“Este é o primeiro projecto que faço deste género e comecei a trabalhar nele no início de 2016”, explicou Jenny Mok ao HM. Este é, aliás, um projecto que surge no seguimento de “Paisagem Entrelaçada: Maré da Noite”, já apresentado e onde a directora da associação Comuna de Pedra também trabalhou com Nip Man Teng.

“Comecei a trabalhar na ideia de fazer coreografia com materiais e essa é a ideia base do espectáculo. Quando falamos em teatro ou performances o foco principal é o corpo humano, independentemente do tipo de espectáculo. Então pensei em colocar o corpo humano numa posição mais secundária e dar mais destaque aos materiais e objectos. Tentei fazer coreografias para estes materiais e ver qual seria o resultado”, adiantou.

O espectáculo da Comuna de Pedra vai revelar ao público um projecto em duas fases. “Numa primeira fase usei sacos de plástico e tecidos elásticos, e numa segunda fase concentrei-me apenas no plástico. Eu e o meu designer visual decidimos mudar para outros objectos diferentes para fazermos coreografias.”

“Murmúrio da Paisagem” é também uma forma de espelhar a forma como utilizamos materiais no nosso dia-a-dia, uma vez que, na visão de Jenny Mok, “manipulamos estes objectos para tornar as nossas vidas melhores, e há séculos que fazemos isso”.

“Isso é algo interessante sobre o ser humano, porque adoramos manipular tudo. Com estas coreografias feitas com objectos e materiais pretendemos também explorar esta relação que se estabelece com o ser humano. Há uma projecção para o futuro, colocamos muita imaginação sobre aquilo que vai acontecer no que diz respeito à manipulação feita pelos humanos.”

 

Perspectiva ambiental

Jenny Mok confessou também que outra das ideias por detrás de “Murmúrio da Paisagem” é a de chamar a atenção para o desperdício de recursos e a forma como, diariamente, poluímos o meio-ambiente.

“Todos os locais podem ser considerados paisagem, mas, no caso de Macau, e tendo em conta que vivemos numa cidade, existe a consciência de que podemos ver apenas uma pequena parte da paisagem, e muitas vezes não é sequer possível. Tudo o que podemos ver actualmente, e que pode ser uma paisagem, é algo manufacturado depois da manipulação do ser humano.”

Num território onde a construção não pára e onde o antigo e natural tem dificuldades em permanecer, “manipulamos imenso, os terrenos, a construção dos edifícios enormes, e a própria natureza em prol de nós próprios”.

“É uma parte irónica, porque achamos que estamos no topo de qualquer coisa, temos autoridade sobre algo, manipulamos, mas sabemos que, eventualmente, isso vai-nos matar, mas continuamos a fazê-lo. Estamos obcecados com a manipulação”, defendeu Jenny Mok.

Neste sentido, o espectáculo tem também um lado político ao decidir apresentar dança e instalação tendo objectos como protagonistas. “Colocamos o foco em algo a que queremos prestar atenção, para ser a parte principal do espectáculo. Então há também uma mensagem aqui, e ao fazer coreografias com os materiais também os estamos a manipular. Há um significado em tudo isto, na forma como exploramos estes temas.”

 

Uma forma de comunicar

Fazer um espectáculo, seja ele qual for, implica comunicar com artistas, actores, bailarinos. Um dos desafios que Jenny Mok sentiu foi o de ter de estabelecer algum tipo de diálogo com os plásticos ou tecidos usados para “Murmúrio na Paisagem”.

“O grande desafio foi trabalharmos com estes materiais quase como se tivéssemos a trabalhar com artistas humanos. Quando comunicamos com um artista é diferente, pois quando estamos a comunicar com os materiais eles não te vão dar uma resposta, não há uma maneira de falar com eles. Então há que conhecê-los.”

Houve, portanto, “um processo de comunicação e também de manipulação, mas ao mesmo tempo os materiais também te vão dando ideias pela maneira como te dão feedback. Há um equilíbrio entre manipular e ser manipulado por esses materiais, e essa é uma parte interessante”, rematou a directora da Comuna de Pedra.

4 Mai 2018

Museu digital chega a Tóquio para libertar a arte das restrições físicas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] colectivo multidisciplinar japonês teamLab, conhecido mundialmente por exposições futuristas e interativas, vai abrir em Tóquio, este verão, o primeiro museu dedicado inteiramente à arte digital, com o sonho de “libertar a arte das restrições físicas”.

De passeios bucólicos em campos de arroz, a “florestas” de lâmpadas de várias cores e movimentos, as instalações do novo museu têm um único objetivo: a imersão do visitante.

A equipa dedicada a moldar sonhos sob a forma de arte digital foi fundada em 2001 pelo artista Toshiyuki Inoko.

Na altura com 41 anos, juntou-se a quatro amigos da Universidade de Engenharia e juntos começaram a desenhar o futuro.

“Achamos que a arte digital pode ampliar o conceito de beleza”, resumia o manifesto da teamLab.

Só dez anos mais tarde o conceito se viria a materializar de forma a ganhar contornos mundiais. Foi a estreia artística em Taipei, capital de Taiwan, em 2011, que lhes garantiu a rampa de lançamento. Em 2014, integravam já a Pace Gallery, em Nova Iorque.

A primeira exposição no Japão, um ano mais tarde, atraiu cerca de 500.000 visitantes em cinco meses, à qual se seguiram exposições de Londres à China.

Criar o próprio museu é “um novo passo” para a TeamLab, um caminho possível depois da parceria com a Mori Building, líder de desenvolvimento urbano em Tóquio, e do apoio de vários grupos japoneses, da Panasonic à Epson, que fornecem equipamentos sofisticados.

Apresentado como “único” no mundo, o museu estende-se por uma vasta área de 10.000 m² e reúne cerca de cinquenta instalações na ilha artificial de Odaiba, a seis quilómetros da capital japonesa.

Com 520 computadores e 470 projetores, é acima de tudo um “feito tecnológico”.

As peças apresentadas não são “nem animações pré-gravadas nem imagens em loop”, mas realizadas em tempo real, insiste o teamLab.

“O universo transforma-se com a presença do outro e isso é muito importante para nós, eu sou parte do trabalho, assim como todos os outros visitantes”, disse Toshiyuki Inoko.

Nos bastidores, atuam ao mesmo tempo 500 artistas, engenheiros, programadores, matemáticos, especialistas em robótica e arquitetos.

O investimento do projeto não foi tornado público, mas um membro da equipa indicou que cada instalação pode rondar entre um e dois milhões de dólares.

O “Mori Building Digital Art Museum teamLab Borderless” abre ao público no dia 21 de junho por 3.200 ienes (24 euros), na esperança de atrair uma grande audiência nos Jogos Olímpicos do Japão, em 2020.

3 Mai 2018

Wong Weng Io apresenta “I upload, therefore i exist” na Casa Garden: “Como é que se sabe que se é humano?”

A exposição “I upload therefore I exist”, da artista local Wong Weng Io, vai ser inaugurada no próximo dia 8 de Maio na Casa Garden. A mostra organizada pela associação Babel, e com curadoria de Margarida Saraiva, pretende explorar a relação e impacto entre a existência humana, a tecnologia, a informação, os media, a identidade e a inteligência artificial. Para a artista este trabalho reflecte o mundo em que se move e a forma como o apreende

 

O que vamos ver nesta exposição?

Vamos ter quatro espaços, cada um com uma instalação. No primeiro estará um trabalho que se chama a “A omnipresença do texto”. A instalação é inspirada em “Éter”, um romance de ficção científica que se passa nos Estados Unidos, escrito por Zhang Ran e é uma abordagem a uma sociedade em que as pessoas livres não encontram outro espaço que não seja a linguagem gestual e silenciosa para se expressar, num mundo completamente vigiado. Peguei em excertos deste texto, imprimi e tapei algumas palavras. No segundo espaço, temos “A omnipresença das imagens”. É uma instalação com 1200 postais feitos de imagens distribuidas em três categorias: o mundo, os humanos e o lixo. A terceira sala apresenta “A omnipresença do complexo”, uma obra composta por caixas de luz, com citações seleccionadas a partir de frases de robots que questionam humanos: “Como é que se sabe que se é humano?” Também há respostas às perguntas sobre o que está para vir: O futuro será “uma nova estrutura social”, “novos modelos económicos”, “novos modelos de negócios” e “uma nova cidadania”. As citações tratam da inteligência artificial e da robótica por detrás de questões existênciais. O último espaço aborda a questão do tempo, memória, do dados pessoais e da mudança. Tem o nome de “Passado” e mostra os meus últimos 2000 mil dias de vida.

Estamos perante uma reflexão contemporânea que questiona a sociedade e a sua relação com a tecnologia?

Já Martin Heidegger questionava o papel da tecnologia e qual a sua essência. Para este autor, a tecnologia iria preencher o mundo. No entanto, na sua essência, a tecnologia não é nada mais do que a construção e uma moldura que depois não tem conteúdo. Por outro lado, o facto de ter denominado grande parte dos espaços desta exposição de “omnipresença” tem que ver com o excesso de informação e de imagens que estão actualmente em todo o lado. A informação é demasiada e no fim, acaba por ser nada. Por isso mesmo, por ser demais. O que quero apresentar é esse nada através da apresentação de tudo através de imagens, lixo e pessoas. É como apresentar a própria realidade e a forma como a informação nos é exposta actualmente. É muita coisa e parece que está tudo partido em pequenos pedaços que fazem com que seja muito difícil compreender o que vemos e o que nos chega. Esta exposição é isso e é um reflexo do meu estado. Não chego  a nenhuma conclusão porque recebo demasiada informação. Se calhar cada imagem que apresento na sala dos postais, se estiver isolada, não representa nada. Mas tendo aqueles imagens todas juntas, consigo reflectir a forma como a informação nos é exposta.

Aborda a inteligência artificial. Tem-se falado que muitas das funções humanas vão ser substituídas pelas máquinas inteligentes. Acha que isso vai acontecer também com a arte?

No que respeita à inteligência artificial, penso que pode vir a ser uma ferramenta de ajuda no futuro. Penso que realmente podem vir a substituir os humanos em muita coisa e podem mesmo estabelecer a sua forma de comunicação activa com as pessoas. Podem falar e também podem criar, mas nunca vão criar como criam os humanos. 

Terminou o curso de Belas Artes na Austrália com distinção. O que a levou a regressar a Macau?

Voltei porque tinha saudades da minha família. Por outro lado, não podia lá permanecer por não ter visto.

Acha que Macau tem espaço e condições para crescer enquanto artista? 

Penso que qualquer lugar que tenha sítios disponíveis para expor os trabalhos dos artistas são ajudas para o desenvolvimento de uma carreira. Quanto a Macau, penso que é uma região que apoia os artistas. O território tem a sua própria história na arte. Não tem a tradição do Reino Unido ou dos Estados Unidos, mas o Governo tem subsídios destinados às artes que são muito valiosos para a promoção da arte que se faz por cá. O programa da associação Babel que promove os jovens artistas locais é um bom exemplo disso. Esta exposição faz parte dele. O Governo apoia oficialmente eventos de grande envergadura, como é o caso do Festival das Artes, e não deixa de apoiar associações que se dedicam à divulgação de artistas mais independentes. A AFA, o Armazém do Boi  a Babel são outros bons exemplos de associações que têm os apoios oficiais e que promovem os artistas locais.

 

 

Babel, uma torre segura

A associação sem fins lucrativos Babel tem no seu programa anual a divulgação de artistas locais. Este ano a convidada foi Wong Weng Io. De acordo com a responsável pela Babel, Margarida Saraiva, o contacto com o trabalho de Wong Weng Io foi feito depois de uma visita a uma exposição no Armazém do Boi em que ficou impressionada com uma instalação da artista. “Tratava-se de uma impressão de 27 metros, com dez dedos de uma pessoa. Os dez dedos tinham sido passados por um scanner e criavam um padrão regular acerca da identidade”, referiu ao HM. Depois de ver um outro trabalho de Wong Weng Io, Margarida Saraiva não tive duvidas. “Decidi convidar Wong Weng Io para abordar estes tópicos relacionados com os media sociais, o mundo virtual e a inteligência artificial numa exposição”, apontou. Quanto aos planos futuros da associação, a Babel está a trabalhar para a realização de uma residência artística. A ideia é ter artistas portugueses em Macau, e para o efeito Margarida Saraiva convidou o fotógrafo português Nuno Cera que tem vindo a recolher imagens de cidades em diferentes partes do mundo. O projecto chama-se “Futureland” e vai estar em Macau nos meses de Setembro e de Outubro. Nuno Cera vai ainda registar o desenvolvimento da cidade e “este projecto estará em diálogo com as outras 12 cidades que já registou”, esclareceu a responsável da Babel.

3 Mai 2018