Eleições em Hong Kong | Quatro fora, dois

A vida política em Hong Kong tem estado animada por estes dias. Em pouco mais de um mês, C.Y. Leung perdeu dois elementos do Governo que se demitiram para poderem oficializar a candidatura a Chefe do Executivo. Carrie Lam ou John Tsang? É difícil arriscar previsões. Regina Ip e Woo Kwok-hing parecem ser cartas fora do baralho

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro nome apareceu ainda em Outubro: Woo Kwok-hing é um magistrado de 71 anos, independente, um homem que aparece sem que ninguém esteja à espera e que, ao que tudo aponta, terá grandes dificuldades numa corrida em que os pesos pesados contam muito.

Depois, em meados de Dezembro, chegou Regina Ip, uma veterana da política de Hong Kong que, aos 66 anos, é deputada ao Conselho Legislativo. Revelou a intenção de se candidatar três dias depois de John Tsang ter apresentado a demissão do cargo de secretário para as Finanças.

A seguir veio Carrie Lam, a número dois do Chefe do Executivo. A agora antiga secretária-chefe recebeu esta semana luz verde de Pequim para se candidatar, no mesmo dia em que o Governo Central desimpediu o caminho a John Tsang.

Um não alinhado, três candidatos pró-Pequim. O politólogo Edmund Cheng, professor da Universidade Baptista de Hong Kong, não acredita na possibilidade de um independente convencer o eleitorado – em número reduzido, como se sabe – da antiga colónia britânica. A política na Ásia não conhece fenómenos como no Ocidente em que, cansados do sistema, os eleitores tendem a votar em figuras que surgem descontextualizadas do ponto de vista partidário.

Também Regina Ip, uma das fundadoras do New People’s Party, antiga secretária para a Segurança, não terá grandes hipóteses, agora que a ala pró-Pequim tem outros dois nomes, aparentemente mais fortes. Ip foi a primeira mulher a ter a pasta da Segurança e não se deu bem com as funções que desempenhou: foi durante o seu consulado que Hong Kong tentou avançar com a legislação prevista no Artigo 23.o da Lei Básica, uma ideia fortemente contestada pela população. Acabou por pedir a demissão, tendo sido o primeiro membro a cair do Governo de Tung Chee-wa, Chefe do Executivo entre 1997 e 2005. “Regina Ip é considerada um plano B, não tem uma grande rede de apoio social, sobretudo se compararmos com Carrie Lam”, explica Edmund Cheng.

A deputada sabe que a entrada da ex-secretária-chefe na corrida não lhe facilita a vida. E, segundo disse esta semana, as aspirações de Carrie Lam já lhe custaram alguns apoios no seio da comissão eleitoral. Mas, ainda assim, a mulher que diz que Pequim quer vê-la como candidata não está disposta a desistir. “Não me importo. Não estou preocupada, uma vez que isso [a mudança do sentido de voto] é normal. Só espero que as eleições sejam justas e transparentes”, declarou, citada pela imprensa de Hong Kong.

Uma mulher de acção

Dois (possivelmente) de fora, sobram outros dois. Mas pode haver mais um. “É provável que Long Hair também se candidate”, aponta o analista Eric Sautedé sobre este milagre da multiplicação de políticos interessados em serem líderes do Governo. Long Hair, de seu nome Leung Kwok-hung, membro do Conselho Legislativo, é um político e activista bem conhecido pelas suas acções intempestivas, que dificilmente cairá nas graças da comissão eleitoral.

A grande discussão estará centrada em torno de Carrie Lam e John Tsang, duas personagens políticas com passados diferentes e posturas distintas, apesar de terem integrado o mesmo elenco governativo.

“É difícil fazer previsões, especialmente porque demitiu-se há poucos dias e a demissão foi agora aprovada. Ainda não tem um programa”, diz Sautedé acerca da ex-secretária-chefe.

Lam conta com aspectos que pesam a seu favor e outros que nem por isso. “Começa [a corrida] no meio de uma controvérsia sobre o Museu do Palácio Nacional no Western Kowloon Cultural District”, explica o analista. “Há muitas pessoas que a comparam a C.Y. Leung, dizendo que é ‘voluntariosa’: é muito persistente e está muito mais do lado de quem decide do que de quem consulta”, continua.

Ainda assim, assinala Eric Sautedé, Carrie Lam tem um perfil muito diferente do actual líder do Governo. “O actual Chefe do Executivo era um empresário e ela é funcionária pública desde 1980. Ela é mais virada para a comunicação do que ele.” O politólogo recorda que o último funcionário público a chegar ao cargo político de topo em Hong Kong foi Donald Tsang, que está a ser julgado neste momento, acusado de corrupção. “Esse vai ser o cenário de toda a campanha”, antevê o analista.

A candidata teve um papel especial num dos momentos mais complicados da história política e social do pós-handover: o movimento Occupy. Eric Sautedé recorda que, em Outubro de 2014, foi a mais alta representante do Governo no debate com os estudantes organizado pela rádio pública. Lam ainda ensaiou uma hipótese de mediação entre os jovens e Pequim. “Claramente, o Executivo teve uma postura defensiva durante esse debate e esta foi a melhor tentativa de negociação”, sublinha.

O silencioso

À hora a que este texto estava a ser escrito, a RTHK dizia que para amanhã, quinta-feira, está prevista uma conferência de imprensa de John Tsang para anunciar a candidatura – o ex-secretário pediu demissão há mais de um mês mas ainda não disse, com todas as letras, que quer ocupar o lugar que C.Y. Leung vai deixar vago. O silêncio tem dado pano para mangas: há quem especule que o nome não cai bem junto de Pequim.

Edmund Cheng, o professor da Universidade Baptista, não alinha no jogo da tentativa de adivinhação do pensamento do Governo Central. Tal como Carrie Lam, John Tsang está dentro do sistema, “mas a forma como lidam com a polarização é muito diferente”, vinca. “Carrie Lam é mais populista, no sentido em que é capaz de oferecer algo para resolver um problema e faz um discurso que chega às classes mais baixas.”

O politólogo, que olha com apreensão para a divisão profunda em que se encontra a sociedade de Hong Kong, admite não saber até que ponto este cenário terá um peso substancial nas opções do Norte. “Se a polarização for uma preocupação de Pequim, se estiver a agir no sentido de resolver esta divisão, John Tsang vai estar numa melhor posição, porque tem vontade de agir nesse sentido”, afirma. “Mas se as preocupações de Pequim forem os acontecimentos recentes protagonizados pelo movimento pró-independência, então os cálculos têm de ser outros”, diz, salientando que o Governo Central tem grandes preocupações em torno das questões ligadas à segurança nacional e à soberania.

“Não sabemos qual é a prioridade de Pequim neste momento”, reitera Edmund Cheng. “Mas Pequim é mais pragmático do que a maioria das pessoas parece acreditar”, destaca. “Na sequência do movimento Occupy, temos visto uma abordagem mais prática do que alguma vez poderíamos ter imaginado.”

Numa análise mais local, Eric Sautedé acrescenta que a sensação que existe em relação a John Tsang é a de que “não é a escolha de Pequim”. “Está mais mais ligado ao sector empresarial, mas foi criticado, no passado, por ser muito fraco a projectar excedentes orçamentais”, lembra. “Nem todos os banqueiros parecem confiar nas suas capacidades.”

Meses de tensão

Eric Sautedé considera interessantes as movimentações em torno das eleições. “Elsie Leung disse que quatro candidatos já são de mais, mas acredito que é do interesse de Pequim deixar o máximo de candidatos possível, mesmo que no fim o objectivo seja conseguir mais de 600 votos, ou mais de 689 votos (o número obtido por C.Y. Leung em 2012)”, defende. “Provavelmente os pró-democratas ainda estão a pensar em qual será a melhor estratégia em relação aos dois candidatos pró-Pequim”, diz também, recordando que estão em franca minoria no seio dos mais de 1200 membros da comissão eleitoral.

A viver em Hong Kong, o académico – residente de Macau durante vários anos – conta que, neste momento, “os ânimos estão sossegados”, mas diz também que “existe muita revolta em surdina”. “As eleições vão ser tensas e várias novas questões vão ser abordadas durante a campanha, muitas delas relativas aos desafios socioeconómicos, sobretudo no que toca às formas de combate das desigualdades, os direitos sobre as terras e o desenvolvimento sustentável”, enuncia.

Sobre a necessidade de Hong Kong ter um líder carismático e com grande capacidade de execução – há analistas que entendem que o problema de Hong Kong é não ter tido ainda um Chefe do Executivo com estas características –, Edmund Cheng constata que, nos dias que correm, “o apoio popular pode perder-se em apenas três meses”.

O politólogo faz uma comparação com Macau para explicar qual é o grande drama político da antiga colónia britânica. “Em Macau, a elite aparece como estando unida e o campo pró-democrata é muito fraco. C.Y. Leung é pró-activo, mas não foi capaz de unir o campo pró-Pequim e esse é que foi o grande problema.” Também Pequim entende como problemática esta incapacidade de mobilização das elites do sistema.

“A divisão social é muito complexa. Precisamos de um líder muito forte”, indica o docente da Universidade Baptista. Carrie Lam ou John Tsang? “Ambos parecem ter mais experiência do que os chefes do Executivo que tivemos até agora.”

18 Jan 2017

Fórum | Xi Jinping em destaque em Davos

A extensa comitiva liderada pelo Presidente chinês marca em Davos uma posição de combate à crescente política proteccionista  dos Estados Unidos anunciada por Donald Trump e ao populismo que ameaça a estabilidade europeia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário-geral do maior partido comunista do mundo, lidera esta semana uma delegação de cem funcionários e executivos no Fórum Económico Mundial de Davos, numa aparente resposta à tendência proteccionista que atinge as potências ocidentais.

A primeira participação de um Presidente chinês num evento que promove a globalização e o comércio livre surge numa altura em que movimentos populistas ganham forçam na Europa e Estados Unidos.

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas faz prever um aumento do proteccionismo nos EUA; a saída do Reino Unido da União Europeia e a ascensão de Marine Le Pen em França ameaçam o projecto europeu.

“A China insiste que a globalização é um processo irreversível, para nós e para o mundo”, afirmou à agência Lusa Cui Shoujun, director do centro de estudos para a América Latina da Universidade Renmin, em Pequim.

Os jornais chineses têm enaltecido o contributo de Xi para a estabilidade internacional, mas analistas rejeitam a possibilidade do líder chinês se referir directamente a Trump.

“Nesta altura, ele quererá esconder o jogo. Não faria sentido que se referisse a Trump”, disse Steve Tsang, director do SOAS China Institute in London, à Associated Press.

Francois Godement, especialista para a China do Conselho Europeu, lembrou à AP que os chineses são “extremamente cautelosos quando comentam a futura presidência” norte-americana.

“Por agora, penso que estão ocupados a observar e questionar-se o que virá a seguir”, afirmou Godement.

“Mas não tenho dúvidas de que ele (Xi) vai retratar a China como aberta, corporativista, estável, previsível e fiável em várias questões internacionais. Mesmo não se referindo à administração de Trump, tentará projectar um contraste”, disse.

Reunião alargada

Xi leva a Davos quatro ministros chineses. A Rússia estará também representada por dois vice-primeiros ministros e vários executivos.

Quando Davos se realizou pela primeira vez, em 1971, apenas participaram líderes europeus e norte-americanos.

Na segunda-feira, Klaus Schwab, fundador do fórum, frisou que este ano o evento “não é apenas uma reunião do ocidente”.

Um terço dos participantes é oriundo de países em desenvolvimento – incluindo as maiores delegações de sempre da China e Índia -, revelou Schwab.

A recente posição de Pequim a favor do comércio livre contrasta, no entanto, com a adopção de restrições no acesso ao seu mercado.

As empresas estrangeiras estão interditas de participar em vários sectores do mercado chinês ou são forçadas a fazer parcerias com empresas locais e transferir tecnologia chave.

Pequim usa também frequentemente o comércio como alavancagem em situações de disputa política, chegando mesmo a banir as importações de determinados produtos a partir de países com os quais atravessa períodos de maior tensão.

18 Jan 2017

Pequim | Preparados para combater por Taiwan

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China está a ficar sem paciência para o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, na questão de Taiwan, escreveu ontem a imprensa estatal, afirmando que Pequim está pronta a combater pelo território.

Trump disse na semana passada que poderá reconsiderar o princípio “uma só China”, visto por Pequim como uma garantia de que Taiwan é parte do seu território, e reconhecido por Washington desde 1979.

O Presidente eleito dos EUA quebrou já no mês passado com a tradição diplomática norte-americana, ao aceitar a chamada telefónica da Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen.

No sábado, depois dos comentários feitos numa entrevista ao jornal Wall Street Journal, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês avisou que o princípio “uma só China” é inegociável.

Ontem, o jornal estatal China Daily disse que a questão de Taiwan é “uma caixa de Pandora de potencial letal”.

A China tem dado o benefício da dúvida a Trump, mas se ele “está determinado a fazer este jogo ao assumir funções, será inevitável um período de interacção hostil e nociva, e Pequim não terá outra escolha a não ser preparar-se para combater”.

Donald Trump prometeu uma postura dura face ao que considera ser concorrência desleal por parte da China e sugeriu que a política “uma só China” poderá servir como moeda de troca nas negociações com Pequim.

“Tudo está sob negociação, incluindo o princípio ‘uma só China'”, afirmou.

Pouco espaço

Pequim considera Taiwan uma província chinesa e defende a “reunificação pacífica”, mas ameaça “usar a força” caso a ilha declare independência.

Já a ilha onde se refugiou o antigo Governo chinês depois de o Partido Comunista (PCC) tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República da China.

Os EUA reconhecem Pequim como o único Governo legítimo de toda a China desde 1979.

O jornal Global Times, visto como próximo do PCC, avisou ainda que Trump tem menos espaço para negociar do que julga.

A China vai “combater impiedosamente quem defender a independência de Taiwan”, afirmou em editorial na segunda-feira.

Se Trump optar por usar a ilha como moeda de troca, talvez “acabe por ser sacrificado devido a essa estratégia desprezível”.

O mesmo jornal escreveu no mês passado que a decisão de São Tomé e Príncipe de cortar relações diplomáticas com Taiwan “não foi acidental”, constituindo, “obviamente, um castigo” para Tsai Ing-wen.

A Presidente de Taiwan fez este mês duas paragens nos EUA, numa viagem com destino à América Central, apesar dos protestos de Pequim.

No regresso, Tsai afirmou que a sua “nova direcção” para a política externa é clara.

“Devemos continuar a trabalhar para que Taiwan seja visto, para que Taiwan dê o seu contributo para o mundo”, disse.

17 Jan 2017

Amiga da Presidente sul-coreana contesta ter obtido benefícios

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hoi Soon-sil, que está no centro de um escândalo de corrupção na Coreia do Sul, negou ontem ter obtido qualquer benefício ou privilégio, durante o seu testemunho no processo que já levou à destituição da Presidente Park Geun-hye.

“Nunca obtive benefícios ou privilégios. Isto resulta de conclusões precipitadas”, disse Choi, de 60 anos, amiga da presidente e conhecida como “Rasputina sul-coreana”, durante a audiência, citada pela agência Yonhap.

Choi, detida desde Novembro, negou perante o Tribunal Constitucional, tal como já tinha feito perante o parlamento e o tribunal penal que investiga o caso, os crimes de que é acusada e incluem abuso de poder, chantagem ou tentativa de fraude.

A declaração aconteceu na quinta sessão do processo para analisar a destituição da Presidente sul-coreana, Park Geun-hye, aprovada pela Assembleia Nacional no passado dia 9 de Dezembro devido a suspeitas de que cooperou com Choi, sua amiga próxima, para extorquir grandes empresas.

A equipa do Ministério Público encarregue de investigar o caso considera que Choi, com a conivência de Park, extorquiu os principais conglomerados do país para fazer entrar 77.400 milhões de wones (cerca de 61 milhões de euros) em duas fundações que controlava.

À defesa

Choi queixou-se no tribunal dos procedimentos da equipa de investigação do Ministério Público e por momentos levantou a voz para responder ao que disse serem “perguntas tendenciosas”.

Choi defendeu também a inocência da Presidente, apesar de admitir visitá-la com alguma frequência e ajudá-la com “assuntos pessoais”, tendo acesso a rascunhos de discursos de Park – considerados material presidencial confidencial – que modificou para lhes dar mais “emoção”.

O Tribunal Constitucional sul-coreano tem até inícios de Junho para ratificar ou rejeitar a destituição de Park aprovada pelo parlamento.

Caso a destituição seja aprovada, devem realizar-se eleições presidenciais num prazo não superior a 60 dias desde o veredicto.

17 Jan 2017

Pequim reitera a Trump que política ‘Uma só China’ é inegociável

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês reiterou que a política ‘Uma só China’ é “inegociável”, depois de o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, voltar a ameaçar que não a respeitará se Pequim não aceitar negociar os laços comerciais bilaterais.

“Instamos os Estados Unidos a darem-se conta da elevada sensibilidade da questão taiwanesa e a respeitarem os compromissos tomados pelos anteriores governos norte-americanos”, assinalou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado citado pela agência oficial Xinhua.

O Governo da China é o único com legitimidade para representar essa nação, algo que é “reconhecido internacionalmente e que ninguém pode mudar”, sublinhou a fonte.

Trump deu a entender, na sexta-feira, numa entrevista ao jornal Wall Street Journal, que não respeitará o princípio de ‘Uma só China’, que implica não reconhecer Taiwan como um Estado, a menos que Pequim altere práticas comerciais e políticas monetárias que considera prejudiciais aos Estados Unidos.

“Tudo está em negociação, incluindo o princípio de ‘Uma só China’”, sublinhou Trump, algo que já tinha dito em Dezembro durante uma entrevista à televisão Fox News, e que também despertou críticas e preocupação de Pequim.

A China obriga todos os países com quem mantém laços diplomáticos a respeitarem esse princípio, segundo o qual o Governo de Taiwan – nascido do exílio da ilha na guerra civil entre comunistas e nacionalistas – não é legítimo e não é possível ter laços diplomáticos oficiais com ele.

Trump, que em Novembro aceitou uma chamada telefónica da Presidente taiwanesa, Tsai Ying-wen, um gesto que também foi condenado pelo regime comunista chinês, tem mostrado, desde a sua vitória eleitoral, que pretende ter uma política dura face à China, tanto em termos políticos como comerciais.

Os meios de comunicação oficiais chineses alertaram na semana passada que os Estados Unidos caminham para um “confronto devastador”, levantando até a hipótese de um conflito bélico, incluindo nuclear, entre as duas maiores economias mundiais, caso as ameaças de Trump se materializarem.

16 Jan 2017

Hong Kong | Carrie Lam demite-se e deverá candidatar-se a Chefe do Executivo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] número dois do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, demitiu-se ontem, uma medida que é assumida como o primeiro passo para apresentar uma candidatura a chefe do Executivo, noticiou o South China Morning Post.

A secretária-chefe disse numa reunião à porta fechada que Carrie Lam tinha apresentado a sua demissão formalmente durante a manhã de ontem e que iria entrar na corrida eleitoral, informou o jornal em língua inglesa.

Até à data foram apresentadas três candidaturas formais às eleições para chefe do Executivo de Hong Kong, que decorrem no final de Março.

Regina Ip, antiga secretária para a Segurança e membro do Novo Partido Popular (New People’s Party), o juiz na reforma Woo Kwok-hing, e Wu Sai-chuen, um ex-membro da Aliança Democrática para a Melhoria e Progresso de Hong Kong [DAB, na sigla inglesa], são os três candidatos que formalizaram as candidaturas ao cargo.

O impopular líder da cidade, Leung Chun-ying, também conhecido por CY Leung, e considerado por muitos dos seus críticos como um “fantoche” de Pequim, disse a 9 de Dezembro que deixaria o cargo em Julho e que não voltaria a concorrer ao lugar de chefe do Executivo.

Na segunda-feira seguinte, 12 de Dezembro, o secretário para as Finanças, John Tsang, pediu a renúncia ao cargo – um procedimento entendido como o primeiro passo para avançar com uma candidatura formal –, mas até à data aguarda que o pedido seja aceite por Pequim.

Bênção do norte

Segundo a imprensa de Hong Kong, Carrie Lam reúne maior apoio entre as forças pró-Pequim, enquanto John Tsang – apelidado de “Sr. Pringles” pelos órgãos de comunicação local por sua semelhança com a mascote da marca – é visto como uma alternativa mais moderada ao actual líder Leung Chun-ying.

Ao abrigo do actual sistema eleitoral, o líder do Governo de Hong Kong é seleccionado por um colégio eleitoral de 1.200 membros representativos dos vários sectores sociais.

Em 2014, Pequim avançou com uma proposta de reforma política que previa a introdução de voto universal para o líder do Governo, mas só depois de os candidatos (dois a três) serem pré-seleccionados por uma comissão de 1.200 membros, vista como próxima de Pequim.

A proposta, que ainda em 2014 esteve na origem do movimento Occupy, que durante 79 dias bloqueou as ruas da cidade, foi rejeitada pelo Conselho Legislativo em Junho de 2015.

O pacote de reforma política proposto por Pequim acabou por ser chumbado pelo voto contra dos democratas.

13 Jan 2017

Secretário de Estado escolhido por Trump critica China

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]ex Tillerson, escolhido por Donald Trump para chefiar a diplomacia norte-americana, acusou ontem a China de perseguir, nem sempre respeitar compromissos económicos e comerciais e de não usar toda a sua influência para controlar a Coreia do Norte.

Numa audição de confirmação no cargo no Senado, Tillerson foi especialmente questionado acerca da sua alegada proximidade com a Rússia, acabou por admitir que os EUA e a Rússia podem ser adversários ou parceiros, mas provavelmente nunca serão amigos.

“Não é provável que alguma vez sejamos amigos”, disse. “Os nossos sistemas de valores são completamente diferentes”.

Sobre a China, que durante a campanha ficou agastada por declarações de Donald Trump sobre a necessidade de justificar a política de “uma só China” com concessões políticas, económicas e comerciais de Pequim, Tillerson criticou medidas políticas económicas e comerciais chinesas que prejudicam os Estados Unidos.

“A China tem mostrado uma predisposição para perseguir com determinação os seus objectivos, o que por vezes a tem colocado em conflito com os interesses norte-americanos. Temos de lidar com o que vemos, não com o que esperamos”, disse.

O antigo executivo da petrolífera Exxon criticou igualmente a potência asiática por não ser “um parceiro fiável no uso de toda a sua influência para refrear a Coreia do Norte”, um aliado próximo de Pequim condenado internacionalmente pelas suas actividades nucleares ilegais.

Tillerson frisou no entanto que divergências com a China em determinadas questões não impedem uma “parceria produtiva” noutras áreas.

Ligações perigosas

O empresário, que Trump quer venha a ser o seu secretário de Estado, foi intensamente questionado pelos senadores sobretudo acerca das suas ligações empresariais à Rússia, admitindo que “actividades recentes” de Moscovo contrariam os interesses dos Estados Unidos.

Às insistentes questões do republicano Marc Rubio sobre a alegada interferência informática da Rússia numa tentativa de influenciar as eleições presidenciais norte-americanas, Tillerson respondeu que é “razoável pensar” que o Presidente russo, Vladimir Putin, estava a par de tais manobras.

O provável futuro secretário de Estado frisou no entanto não conhecer os relatórios dos serviços de informações que alegam essa interferência.

Noutro momento da audição, Tillerson criticou o processo de aproximação a Cuba lançado pela administração de Barack Obama, por considerar que, a ser feito, o seu progresso devia ter dependido de “concessões significativas” da parte de Havana em matéria de direitos humanos.

13 Jan 2017

Líder chinês Bo Yibo morreu há dez anos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] histórico líder comunista chinês Bo Yibo morreu faz domingo dez anos. A China pós-maoista que ajudou a delinear, onde o Estado autoritário se manteve apesar da abertura económica, terá contribuído para a queda do filho, Bo Xilai.

Natural da província de Shanxi, noroeste da China, Bo Yibo aderiu ao Partido Comunista Chinês (PCC) em 1925, com apenas 17 anos.

Após a fundação da República Popular da China, em 1949, foi nomeado ministro das Finanças e, mais tarde, ocupou o cargo de vice-primeiro-ministro.

No entanto, durante a Revolução Cultural (1966-1976), uma radical campanha política de massas lançada pelo líder comunista Mao Zedong, foi preso, acusado de “contra-revolucionário”.

Bo, que era um aliado do então Presidente Liu Shaoqi, terá caído em desgraça por apoiar a abertura da China ao comércio com países capitalistas.

A sua mulher morreu sob a custódia dos guardas vermelhos, os jovens radicais que constituíam “a vanguarda” do movimento; os filhos foram enviados para o campo “para aprenderem com os camponeses”.

Após a morte de Mao, em 1976, Bo Yibo tornou-se um dos “Oito Imortais” – os líderes do PCC que, depois de purgados, retomaram a vida política com a ascensão de Deng Xiaoping, o “arquitecto-chefe das reformas económicas”.

Bo Yibo bateu-se então com Deng pela abertura da China à economia de mercado, contra a facção mais ortodoxa do PCC, mas opôs-se sempre a reformas políticas.

Em 1987, apoiou a remoção de Hu Yaobang do cargo de secretário-geral do PCC, acusando-o de promover o “liberalismo burguês”, termo com que se referia à democracia multipartidária.

Apoiou também publicamente a sangrenta repressão militar do movimento pró-democracia da Praça Tiananmen, a 4 de junho de 1989.

O seu último legado foi a ascensão política do filho Bo Xilai, até há poucos anos visto como forte candidato ao Comité Permanente do Politburo.

A queda de um príncipe

Bo Xilai, que na década de 1990 dirigiu Dalian, cidade portuária no nordeste da China, foi mais tarde governador da província de Liaoning, antes de ser promovido a ministro do Comércio, em 2004.

Contudo, o homicídio do empresário britânico Neil Heywood, em Novembro de 2011, num hotel de Chongqing, onde era então líder da organização local do PCC, veio pôr termo à sua ascensão.

A sua mulher, Gu Kailai, seria condenada à morte pelo envenenamento do empresário.

Bo, que tentou encobrir o crime de Gu, foi expulso do PCC em 2012 e condenado no ano seguinte a prisão perpétua por corrupção, desvio de fundos e abuso de poder.

Bo era então um dos políticos mais populares do país: assumia-se publicamente como uma espécie de líder da chamada “nova esquerda”, promovia o revivalismo em torno da Revolução Cultural e criticava as crescentes desigualdades sociais.

O filho mais novo, no entanto, estudava em Harvard, nos Estados Unidos, e a mulher tinha vários negócios fora da China com Heywood.

A sua queda coincidiu com o XVIII Congresso do PCC, que elegeu a nova liderança chinesa, encabeçada pelo Presidente Xi Jinping, considerado hoje o mais forte líder que a China conheceu nas duas últimas décadas.

Em tribunal, Bo Xilai admitiu ter cometido “alguns erros”, mas negou todas as acusações e, numa carta à família difundida na imprensa de Hong Kong, comparou o seu destino ao do pai.

13 Jan 2017

Davos | Xi Jinping “aberto” a reunião com equipa de Trump

Pela primeira vez na história do Fórum Económico mundial de Davos caberá à presidência chinesa a abertura da sessão. O discurso de Xi Jinping deverá centrar-se na defesa da globalização e na rejeição do proteccionismo. Pequim mostra ainda disponibilidade para encontros bilaterais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, está “aberto” a encontrar-se com os representantes da equipa do Presidente eleito norte-americano, Donald Trump, que participam no Fórum Económico mundial de Davos, na próxima semana, avançou ontem o Governo chinês.

Xi vai participar pela primeira vez em Davos, como parte da sua visita de Estado, que se realiza na Suíça entre os dias 15 e 18 deste mês, e que, segundo avançou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Li Baodong, estará centrada na defesa da globalização e multilateralismo.

“Na medida em que a agenda o permitir, a parte chinesa está aberta a reuniões bilaterais”, disse Li numa conferência de imprensa em Pequim, questionado sobre um possível encontro de enviados de Trump, já que Anthony Scaramucci, membro executivo da equipa de transição, representará o Presidente eleito dos Estados Unidos no encontro suíço.

Li reconheceu que “discussões estão a decorrer” para essa hipotética reunião, mas não a deu como garantida.

Receitas chinesas

O responsável explicou também que a presença de Xi em Davos, onde no próximo dia 17 se tornará o primeiro Presidente chinês a fazer o discurso inaugural, tem como objectivo “demonstrar que a China é uma potência responsável”.

Segundo o vice-ministro, na sua intervenção Xi vai defender a globalização e o sistema vigente de comércio internacional e irá manifestar a sua rejeição ao proteccionismo, apresentará as receitas de Pequim para solucionar os problemas da economia global e explicará o seu plano para construir a Nova Rota da Seda.

Um dia depois, a 18 de Janeiro, o Presidente chinês vai visitar as Nações Unidas em Genebra, onde fará outro discurso centrado na promoção do multilateralismo e do papel da ONU nas relações internacionais.

Xi irá ainda encontrar-se com o novo secretário-geral da ONU, António Guterres, a quem oferecerá o apoio da China.

12 Jan 2017

Seul | Pyongyang tem plutónio para dez bombas nucleares

 

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte tem plutónio suficiente para fazer dez bombas nucleares, informou ontem a Coreia do Sul, uma semana depois de Kim Jong-Un ter dito que estava perto de testar um míssil balístico intercontinental.

A Coreia do Norte, que realizou cinco testes nucleares e vários lançamentos de mísseis, planeia, alegadamente, uma iniciativa nuclear para 2017 e procura desenvolver um sistema de armamento capaz de atingir os Estados Unidos.

Os analistas dividem-se sobre quão perto Pyongyang está de completar totalmente as suas ambições nucleares, mas concordam que o país fez enormes avanços desde que Kim assumiu o poder após a morte do pai, Kim Jong-Il, em 2011.

O Ministério da Defesa de Seul diz que o Norte tinha cerca de 50 quilos de plutónio para armas no final de 2016, o suficiente para fazer cerca de dez armas, mais que os 40 quilos que tinha há oito anos.

O Norte tem também uma capacidade “considerável” de produzir armas com base em urânio altamente enriquecido, segundo o ‘livro branco’ publicado de dois em dois anos, que não faz, no entanto, estimativas de ‘stock’ de urânio para armas, apontando para os segredos impenetráveis do programa de urânio.

O ‘think-tank’ dos Estados Unidos Institute for Science and International Security estimou em Junho que o arsenal nuclear total do Norte era de mais de 21 bombas, acima das 10 a 16 de 2014.

Contra-ataque

O programa nuclear da Coreia do Norte levou o país a sofrer sanções impostas pela ONU que, em 2016, levaram a perdas equivalentes a 7,4% do valor das suas exportações no ano anterior, segundo um estudo do Instituto de Estratégia para a Segurança Nacional, em Seul, ontem publicado.

A percentagem foi calculada estimando que o regime de Pyongyang perdeu, entre Março (quando o primeiro pacote de sanções de 2016 foi aplicado) e Dezembro, 200 milhões de dólares.

O número foi estimado tendo em conta a limitação das exportações norte-coreanas (principalmente para a China, o seu principal parceiro comercial), e também a queda das remessas dos trabalhadores norte-coreanos no exterior (cerca de 50 mil, principalmente na Rússia e na China).

O estudo sublinha que países como a China e o Kuwait se tornaram mais restritos na autorização de entrada de trabalhadores norte-coreanos após as sanções.

No entanto, foi o “encerramento do complexo industrial intercoreano (de Kaesong) que prejudicou em maior medida a entrada de moedas de peso no Norte”, explica o relatório.

12 Jan 2017

Pequim espera crescimento de 6,7% em 2016

O “novo normal” manteve-se em 2016 com o consumo a ser determinante para o crescimento económico. Pequim destaca a sua contribuição para o desenvolvimento global mas antevê problemas para 2017

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês disse ontem esperar que o crescimento da sua economia em 2016 chegue aos 6,7%, taxa registada entre Janeiro e Setembro, e antecipou “problemas e contradições” para 2017.

A informação foi avançada pelo Presidente da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento da China – órgão de planificação económica –, Xu Shaoshi, que, numa conferência de imprensa, defendeu que a segunda economia mundial superou no ano passado “um ambiente económico interno e externo muito complexo”.

“O nosso crescimento nos primeiros três trimestres (de 2016) foi de 6,7% e espera-se que no conjunto do ano seja de cerca de 6,7%”, disse Xu, acrescentando que no ano passado foram criados mais de 13 milhões de novos empregos urbanos.

O responsável do departamento de planificação económica chinês explicou que no ano passado manteve-se o “novo normal” – eufemismo usado pelas autoridades para se referirem a uma etapa de menor crescimento – e que o país evoluiu no seu processo de transformação estrutural.

Nesse sentido, Xu assinalou que o consumo contribuiu para 71% do crescimento económico e que o consumo de energia por unidade de produto interno bruto baixou 5%, contribuindo para a progressiva retirada das indústrias mais poluentes.

Xu destacou que, apesar de a taxa de crescimento económico da China ser inferior à de há uns anos, estima-se que o PIB cresceu em cinco biliões de yuan (685.000 milhões de euros) em 2016, o que equivale ao seu tamanho total em 1994 ou a uma expansão de 10% em relação à cinco anos.

Líder mundial

O dirigente chinês acrescentou que a contribuição do gigante asiático para o crescimento económico global “pode alcançar mais de 30%”, pelo que antecipou que se manterá como o maior motor de crescimento mundial.

“Creio que estamos bem posicionados para responder aos riscos e desafios e para manter as fluidas operações da economia chinesa”, disse Xu.

O presidente da comissão apontou o dedo à lenta recuperação da economia mundial após a crise financeira e à crescente incerteza no panorama global, que se juntam às dificuldades internas.

11 Jan 2017

Hong Kong | Dois detidos por agressão a deputado pró-democracia

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] polícia em Hong Kong deteve ontem dois homens relacionados com a agressão ao deputado e activista Nathan Law no domingo à chegada ao aeroporto da cidade, informou a Rádio e Televisão Pública local.

Os dois homens, com 53 e 71 anos, foram detidos sob suspeita da agressão, que resultou em ferimentos, e de reunião ilegal.

Na segunda-feira, Nathan Law acusou o Partido Comunista de ter mobilizado os manifestantes.

Nathan Law, de 23 anos – o mais jovem deputado de Hong Kong –, foi atacado por manifestantes pró-Pequim no aeroporto da cidade, no domingo à noite, depois de regressar de um fórum político em Taiwan.

O Fórum sobre a Democracia, Legislação e Movimentos Sociais, organizado pelo Partido Novo Poder (PNP) de Taiwan, foi muito criticado por Pequim, através do Gabinete dos Assuntos de Taiwan, que o qualificou como uma conspiração entre os movimentos de independência de Taiwan e Hong Kong para dividir a China.

A deslocação a Taiwan incluiu o activista Joshua Wong, dirigente estudantil dos protestos pró-democracia de 2014, e os deputados Nathan Law, Edward Yiu e Eddie Chu.

Os deputados e activistas já tinham sido alvo de protestos à partida de Hong Kong e à chegada a Taipé para participar no fórum.

O evento de dois dias tinha como objectivo ligar os movimentos democráticos de Hong Kong e Taiwan.

Nova vaga

Nathan Law faz parte de uma nova vaga de deputados que apoia a ideia de autodeterminação para Hong Kong, uma Região Administrativa Especial da China com elevado grau de autonomia.

A ideia de independência para Hong Kong – um tema em tempos tabu – tem ganho força desde os protestos pró-democracia de 2014, que não conseguiram obter a reforma política desejada.

Ao mesmo tempo, aumenta na cidade o receio de Pequim estar a aumentar o seu controlo.

11 Jan 2017

China | Comissão Central quer reforçar combate à corrupção

A Comissão Central para a Inspecção da Disciplina esteve reunida e chegou à conclusão de que é preciso continuar o combate a corrupção, com novos mecanismos de fiscalização e mais intensidade. A luta vai fazer-se também dentro da própria estrutura e o objectivo é chegar ao Outono com a casa mais limpa

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão, ainda não chega. O organismo que luta contra a corrupção na China promete reforçar a acção durante este ano, para cortar pela raiz um mal de que sofre o Partido Comunista Chinês (PCC). A Comissão Central para a Inspecção da Disciplina (CCIC) pretende assegurar “um ambiente político limpo” nos preparativos para o 19.o Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC), uma reunião de extrema importância que acontece este ano. Vários membros do Comité Permanente do Politburo atingem a idade máxima este ano, pelo que o encontro é visto como sendo decisivo, uma vez que vai servir para escolher os futuros grandes políticos do país, com Xi Jinping a começar a preparar a sucessão.

Para o académico da Universidade de Macau Wang Jianwei, não é à toa que surge este anúncio de reforço da pressão na campanha anticorrupção no PCC. A causa é precisamente a reunião da estrutura partidária agendada para o Outono. “A motivação será atingir objectivos decisivos antes do congresso, de modo a que a direcção do Partido possa mostrar, perante o congresso, que a batalha contra a corrupção é algo a levar a sério”, observa o professor ao HM.

A Comissão Central para a Inspecção da Disciplina esteve reunida três dias, um plenário que terminou no passado domingo com um comunicado de que a Agência Xinhua deu conta. No documento, defende-se a ideia de aumentar a supervisão dentro do PCC, bem como tornar mais rígidos os procedimentos para a selecção e escolha de altos funcionários, de modo a garantir que o Governo Central e as estruturas locais são constituídas por pessoas que não alinham em esquemas de corrupção.

“A confiança não pode substituir o trabalho de supervisão”, indica o comunicado da comissão de disciplina, acrescentando que as várias agências responsáveis pela matéria devem ser também elas alvo de “autodisciplina” com outros métodos de fiscalização, incluindo inspecções feitas pelo Partido Comunista Chinês e pela sociedade.

O Presidente chinês e secretário-geral do PCC, Xi Jinping, falou durante o plenário da CCIC, que contou ainda com a presença do primeiro-ministro Li Keqiang e de figuras de relevo da política nacional como Zhang Dejiang, Yu Zhengsheng, Liu Yunshan, Wang Qishan e Zhang Gaoli.

A reunião serviu para analisar e aprovar regras de trabalho para os órgãos responsáveis pela disciplina. As normas vêm clarificar procedimentos sobre o modo como os casos devem ser geridos, nomeadamente no que toca à recolha e verificação de factos, à acusação, à inquirição, e ao destino do dinheiro e bens materiais envolvidos nos casos.

Um super-órgão e uma super-lei

A Comissão Central para a Inspecção da Disciplina anunciou ainda que vai criar uma comissão nacional de supervisão e contribuir para que haja uma lei de supervisão nacional, como parte dos esforços para reforçar o sistema estatal.

Há três locais onde já há um sistema de supervisão a funcionar de forma experimental: no município de Pequim, e nas províncias de Shanxi e Zhejiang. Este projecto-piloto vai permitir avaliar a criação de comissões locais de supervisão a três níveis – nas províncias, nos municípios e nos condados –, que deverão ser articuladas num sistema integrado que será “unificado, imperativo e eficiente”.

O novo sistema de supervisão vai absorver as funções das autoridades que neste momento desempenham a tarefa – as agências de prevenção da corrupção –, bem como os departamentos que fazem o tratamento dos subornos e outro tipo de crimes relacionados com a corrupção.

Citado pela Xinhua, Zhuang Deshui, um especialista da Universidade de Pequim, defende que o novo sistema nacional de supervisão será crucial para o rumo da luta contra a corrupção, sendo que se espera a divulgação de “mais medidas substanciais”.

Felicidade com a luta

Apesar do anúncio de novas medidas e de uma estrutura diferente de combate ao fenómeno, nas declarações mais recentes, proferidas na passada sexta-feira, Xi Jinping considerou que “a propagação da corrupção foi efectivamente controlada e a batalha chegou ao ritmo desejado”. Mas o líder político do país continua a apelar a um governação rigorosa do PCC, feita de forma “sistemática, criativa e efectiva”.

“O objectivo de assegurar que os funcionários não se atrevem a ser corruptos foi basicamente alcançado”, declarou o secretário-geral do PCC, que encontra uma “nova atmosfera a emergir da vida política partidária”.

A agência oficial de notícias dá conta de um estudo da Escola do Partido do Comité Central do PCC que indica que quase 93 por cento da população está satisfeita com as campanhas anticorrupção levadas a cabo no ano passado.

Em 2017, os esforços deverão ser no sentido de consolidar o que já foi feito, indica o comunicado da CCIC, reiterando que a corrupção praticada ao nível hierárquico mais baixo também deve ser tratada com seriedade. “Os casos típicos devem ser expostos e algumas confissões de funcionários corruptos devem ser tornadas públicas, para que sirva de aviso para outros”, entende a comissão.

“A liderança do Partido Comunista Chinês será enfraquecida se se isolar das pessoas. A maior conquista política do PCC advém da confiança cada vez maior do povo”, vinca-se no comunicado.

Wang Yukai, professor da Academia Chinesa da Governança, avisa que a população está sobretudo preocupada com a corrupção ao nível mais baixo, porque são os funcionários que têm contacto directo com os cidadãos que mais poderão prejudicar os seus interesses. Vai daí, é importante aumentar a fiscalização.

O académico aponta que, só entre Janeiro e Dezembro do ano passado, foram punidos por má conduta e corrupção 16.487 funcionários que trabalhavam nos programas relacionados com o combate à pobreza.

No comunicado, destaca-se igualmente a necessidade de assegurar uma selecção de líderes “limpos e capazes” para as comissões de inspecção da disciplina a todos os níveis.

Gao Bo, vice-presidente da equipa de disciplina da Academia das Ciências Sociais Chinesa, considera que o trabalho feito até agora consistiu em afastar funcionários corruptos, pelo que, daqui para a frente, a preocupação deverá ser encontrar as pessoas certas, com competência e elevados padrões morais.

De acordo com as contas do China Daily, mais de 7900 funcionários ligados ao combate à corrupção foram punidos desde 2012. Deste total, 17 foram investigados por terem recebido subornos.

Prioridade contínua

Para Wang Jianwei, professor da Universidade de Macau, as notícias que chegam agora vêm confirmar que “não há sinal que mostre redução, ou enfraquecimento, da campanha” de luta contra a corrupção iniciada logo após Xi Jinping ter chegado ao poder, no final de 2012.

“Muitas pessoas interrogam-se quando será o fim desta campanha, muitos previram que, como no passado, iria atenuar-se e ser substituída por outras prioridades, mas acho que a liderança do partido está a tentar garantir que a campanha anticorrupção é sempre uma prioridade”, nota.

O analista pensa ainda que o Partido Comunista Chinês deverá ter de “arranjar formas mais estruturantes de lutar e prevenir a corrupção porque, apesar da campanha severa, ainda se apanham oficiais corruptos, alguns ainda estavam a cometer crimes não obstante a pressão alta exercida pelo Estado”.

Todo o discurso da Comissão Central para a Inspecção da Disciplina assenta na ideia de que, no centro do PCC e da China, está Xi Jinping. Há vários analistas que não têm qualquer problema em afirmar que a grande empreitada do líder de Pequim tem, entre os objectivos principais, a necessidade de afastamento de opositores políticos e de pessoas incómodas ao sistema.

Wang Jianwei considera que a teoria da caça às bruxas tem sobretudo que ver com uma abordagem ocidental à questão. “É da sabedoria tradicional da imprensa ocidental que a campanha anticorrupção é sobre a luta pelo poder, dizendo que o Xi Jinping está a tentar consolidar o seu poder antes do congresso do Partido”, entende. “Não estou certo sobre esta teoria. Talvez haja alguns incidentes em que os oficiais que foram apanhados em casos de corrupção tenham visões políticas diferentes acerca do rumo que a China deve levar, existem algumas diferenças de opinião, mas mesmo que não se seja corrupto e se tenham opiniões diferentes, é difícil para o Estado justificar a purga desses oficiais”, diz.

“É difícil estabelecer uma ligação e dizer que isto serve só para a luta de poder. Não vejo um padrão claro para concluir que os oficiais detidos pertencem a uma facção do PCC e é por isso que estão a ser eliminados, porque são de diversas proveniências”, continua Wang Jianwei, recordando que a campanha contra a corrupção tem provocado também baixas junto das forças armadas.

O politólogo conclui dizendo que “a campanha anticorrupção é mais ampla do que a luta pelo poder, é mais sobre a reputação, a imagem, sobre o futuro do PCC no global, e não só sobre uma facção do Partido”.


Todos com Xi Jinping

A Comissão Central para a Inspecção da Disciplina aproveitou o plenário para fazer um apelo: é imperioso que haja união em torno de Xi Jinping, para que se mantenha a “solidariedade e unidade do Partido”. Em comunicado, reforça-se uma das grandes ideias deixadas no Sexto Plenário do PCC, realizado no último trimestre de 2016: a autoridade do Comité Central deve estar sustentada em Xi Jinping. É a única forma de “desenvolver o socialismo de características chinesas”. “Para governar com rigor o PCC, é necessário aumentar a disciplina na vida política intrapartidária e reforçar a supervisão” dentro da estrutura, indica o documento.

10 Jan 2017

Estudo detecta contribuições de Hong Kong para maiores protestos em Macau pós-99

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s protestos de 2014 de Macau “não surgiram do nada”, numa cidade que “nasceu da corrupção”, e foram impulsionados pelos media de Hong Kong e redes sociais, conclui um estudo publicado este mês. Entre Maio e Agosto de 2014, Macau assistiu a três frentes de protesto que levaram milhares de pessoas à rua, numa das ocasiões gerando a maior manifestação (cerca de 20 mil pessoas) desde a transferência de Administração em 1999: um movimento contra uma lei que previa regalias para titulares dos principais cargos políticos, um referendo civil sobre a eleição do chefe do Governo (considerado ilegal pelas autoridades) e múltiplos protestos dos trabalhadores do jogo

Estes “foram únicos na história da cidade” desde a transferência, “em termos de escala, meios de participação e parcialmente devido à natureza das próprias exigências”, argumenta Albert Wong no estudo da Universidade de Macau “The Summer 2014 protests in Macau: their contexts and continuities”, publicado este mês na Asian Education and Development Studies.

Wong aponta para uma confluência de factores correntes e históricos numa cidade com “história de corrupção e protestos contra ela”. Macau, diz, “nasceu de corrupção”, indicando que quando os portugueses chegaram à cidade em 1553 “subornaram” um dirigente chinês para que os deixasse secar as mercadorias após uma tempestade, “e eventualmente acabaram por se estabelecer”.

O investigador refere depois as suspeitas de corrupção em torno do governador Carlos Melancia, nos anos 1990, e a condenação do secretário para os Transportes e Obras Públicas Ao Man Long, em 2008.

A este contexto, Wong adiciona o falhanço da reforma política de 2012, que não resultou numa maior voz dos eleitores, e elementos como a instalação de ‘conselhos distritais’ não eleitos.

Assim, “não é difícil perceber porque é que o público sentiu grande desespero e uma acção directa se tornou necessária pela altura dos protestos contra a lei das garantias”, uma proposta apresentada pelo Governo a três meses das eleições para o Chefe do Executivo e que previa elevadas compensações para os titulares dos principais cargos políticos após o fim das funções políticas.

O que o povo diz

Com as “sementes lançadas”, as redes sociais vieram dar um contributo essencial. Além de convocarem os protestos, plataformas como o Facebook foram usadas para pressionar os deputados a rejeitar a proposta de lei. Segundo Wong, alguns tiveram mesmo de encerrar as suas contas perante o influxo de mensagens.

Apesar de o descontentamento não vir expresso nos jornais chineses de Macau, o assunto era debatido “em restaurantes e autocarros, tanto entre a classe média, como na baixa”. Houve ainda outro empurrão fundamental: “Foram os jornais e revistas de Hong Kong, disponíveis nos quiosques e lojas de conveniência de Macau, que disponibilizaram uma fonte imparcial de comentário aos cidadãos de Macau”.

Apesar desta convergência de “precedentes e influências da actividade contemporânea acima do expectável”, o desenvolvimento social e político desde 2014 “não parece prometedor”, com a detenção temporária de alguns activistas, o afastamento de pelo menos dois académicos e a introdução de educação patriótica nas escolas, entre outros factores, remata Wong.

10 Jan 2017

Hong Kong | Deputado pró-democracia atacado no aeroporto

Depois de ter sido confrontado com os protestos de grupos pró-Pequim em Taiwan, Nathan Law  foi agora agredido  no regresso a Hong Kong, por manifestantes anti-independência

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mais jovem deputado de Hong Kong, Nathan Law, foi atacado por manifestantes anti-independência no aeroporto da cidade, no domingo à noite, depois de regressar de um fórum político em Taiwan.

Law, de 23 anos, foi confrontado com um protesto pró-Pequim na zona das chegadas do aeroporto. O grupo gritava e atirou um líquido à cara do deputado, tentando também bater-lhe, ao mesmo tempo que a polícia tentava retirá-lo do local.

O incidente aconteceu depois de Law e outros activistas pró-democracia de Hong Kong, incluindo Joshua Wong, terem sido recebidos com protestos em Taipé, ao chegarem para o fórum no sábado.

O evento de dois dias tinha como objectivo ligar os movimentos democráticos de Hong Kong e Taiwan.

Law faz parte de uma nova vaga de deputados que apoia a ideia de autodeterminação para Hong Kong, uma Região Administrativa Especial da China com elevado grau de autonomia.

Em acção

Imagens televisivas do ataque mostram Law a tropeçar numas escadas depois de lhe atirarem uma garrafa de água.

Os manifestantes gritaram “tropeça e morre” e um chamou “traidor” a Law.

O grupo empunhava também cartazes com as frases “Sai de Hong Kong” e “Destruir a independência de Hong Kong”.

De acordo com a imprensa local duas pessoas foram detidas, informação que não foi ainda confirmada pela polícia.

O partido de Law, Demosisto, informou que o jovem ficou ferido, mas não deu mais pormenores.

A ideia de independência para Hong Kong – um tema em tempos tabu – tem ganhado força desde os protestos pró-democracia de 2014, que não conseguiram obter a reforma política desejada.

Ao mesmo tempo, aumenta na cidade o receio de Pequim estar a aumentar o seu controlo.

10 Jan 2017

China | Anunciadas novas medidas e objectivos para meio-ambiente

Pequim prossegue os planos para atacar os efeitos da poluição atmosférica. Com metas ambiciosas, e investimentos avultados, pretende-se reduzir drasticamente as emissões de poluentes, e apostar nas energias renováveis e transportes públicos

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]urante a reunião dos países da APEC de Pequim, em Novembro de 2014, as autoridades chinesas diminuíram drasticamente a laboração fabril dos arredores da metrópole. O objectivo seria tornar o ar um nadinha mais respirável para receber os líderes dos países da aliança económica. O resultado foi um vislumbre de céu azul por cima de Pequim, uma raridade tão grande que resultou na invenção de uma nova cor: azul APEC. Não só uma representação do apurado sentido de humor chinês, mas também a demonstração de que ver o céu em Pequim é algo que acontece quando o rei faz anos.

Além de se ter tornado uma marca de pouco prestígio da capital chinesa, a poluição atmosférica começa a acarretar um forte peso socioeconómico para a segunda maior economia mundial. Como tal, o Governo Central propôs na semana passada um plano de investimento musculado de 2,5 biliões de yuan para a geração de energias renováveis até 2020, de forma a inverter a marcha do país em direcção ao abismo ecológico. O plano foi avançado pela Agência Nacional de Energia chinesa na noite da passada quinta-feira, e marca um virar de página de Pequim. A ideia é progressivamente largar a energia fóssil, em particular o uso do carvão, que foi o grande motor do crescimento económico chinês, e rumar em direcção às energias mais amigas do ambiente.

Prevê-se que o investimento criará mais de 13 milhões de empregos no sector das renováveis, de acordo com o plano traçado até 2020. Este plano irá duplicar a geração de energia amiga do ambiente, nas áreas das eólicas, energia hidráulica, solar e nuclear.

No mês passado, a instituição que traça os planos gerais da economia chinesa, a Comissão para as Reformas e Desenvolvimento Nacional, comunicou um plano de cinco anos no qual se pretende injectar um bilião de yuan no sector da energia solar. Este exemplo implicará o crescimento que quintuplicará o sector. De acordo com analistas ouvidos pela Reuters, este investimento poderá servir para a construção de mais de mil novas estações de geração de energia solar.

O investimento será repartido estrategicamente, tendo sido alocados 700 mil milhões de yuan para as centrais eólicas, enquanto o sector hidráulico receberá 500 mil milhões de yuan. O restante dinheiro irá para a energia gerada pelo poder das ondas e para a energia geotermal.

Apesar de tudo, o consumo energético de um país com quase 1,4 mil milhões de habitantes é algo colossal. Para se ter uma ideia mais concreta da grandiosidade do problema, apesar deste investimento até 2020, as energias renováveis representarão apenas quinze por cento do total do consumo energético chinês. O carvão continuará a ser uma parcela fundamental da rede energética chinesa, sustentando cerca de metade do consumo da energia. Mesmo assim, este esforço de Pequim equivale a uma poupança de queima de 580 milhões de toneladas de carvão.   

O investimento chega numa altura em que o custo da construção de centrais de energia solar decresceu cerca de 40 por cento, em relação aos valores de 2010. De acordo com Steven Han, analista de energias renováveis ouvido pela Reuters, Pequim pode mesmo a investir mais, à medida que os custos do sector diminuam.

Cortas nas emissões

A China está a planear cortes nas principais fontes da poluição atmosférica, incluindo no dióxido de enxofre, assim como pretende avançar com planos para promover mais transportes públicos nas grandes cidades. As intenções foram anunciadas no final da semana, numa altura em que o norte do país vive, de novo, dias dramáticos causados pela poluição.

A segunda maior economia do mundo vai cortar nas emissões de dióxido de enxofre, uma das principais fontes da poluição do ar, consequência das indústrias e das centrais de energia. O plano anunciado pelo Conselho de Estado prevê uma redução de 15 por cento até 2020.

Além de definir limites para as emissões do sector industrial, a China pretende aumentar a presença dos transportes públicos nas zonas metropolitanas, de modo a que passem a significar 30 por cento do trânsito total. Até 2020, pretende-se ainda promover combustíveis mais limpos e eficientes.

O país vai no terceiro ano da “guerra contra a poluição”, numa tentativa de minimizar a herança de três décadas de crescimento económico sem qualquer entrave, ou preocupação ambiental. Nos últimos tempos, têm sido feitos esforços no sentido de ir ao encontro dos padrões de qualidade do ar e de evitar episódios de forte poluição.

Um porta-voz do Ministério do Ambiente afirmou que o uso excessivo de recursos “é um forte constrangimento que trava o desenvolvimento económico e social da China”.

Nas últimas duas semanas, zonas vastas do norte da China estão a ser afectadas por smog, causado pelo aumento da utilização de carvão necessário para os sistemas de aquecimento, imprescindíveis no Inverno. A poluição voltou a fazer-se sentir com intensidade apesar das concentrações das partículas PM 2.5 terem descido seis por cento em 2016, de acordo com os números oficiais.

Nas novas indicações do Conselho de Estado, explica-se que as emissões vão ser controladas através de critérios mais rígidos para as grandes produções fabris, ajustando a estrutura industrial da China e aumentando o número de empresas que vão estar obrigadas a contribuir para o combate à poluição. As emissões dos veículos também vão ser alvo de medidas mais rigorosas, com novos padrões a serem implementados.

O plano agora anunciado também se compromete com o incentivo à reciclagem e garante que vão ser encerradas empresas que sejam grandes consumidoras de energia e que não cumpram os padrões de eficiência energética. O Conselho de Estado pretende ainda utilizar “mecanismos de mercado” para combater os resíduos e a poluição.

Num anúncio feito em separado, o Ministério do Ambiente revelou que as estações de energia e as fábricas produtoras de papel de Pequim, Hebei e Tianjin vão fazer parte de um esquema piloto de emissões a ser criado este ano.

O Governo Central tinha já afirmado, em Novembro último, que vai ser estabelecido um sistema de emissões a nível nacional que vai abranger todos os sectores industriais até 2020.

Pulmões de ferro

As redes sociais explodiram na semana passada com a publicação de fotografias dos comboios de alta velocidade que ligam Xangai a Pequim. As composições estavam cobertas de poeira que as pintou de castanho. Para reforçar a máxima que uma imagem vale mil palavras, as fotos tornaram-se virais nas redes sociais, alertando para as consequências de semanas de níveis de smog a bater records de perigosidade para a saúde pública.

Na sequência destes alertas de smog, um cientista da Universidade de Tecnologia Química de Pequim, Liu Yong, analisou as máscaras comummente usadas pela população do norte da China durante os dias de alerta de má qualidade do ar. A análise encontrou vestígios de carbonato de cálcio, óxido de ferro e sulfato de ferro nas partículas visíveis. Apurou-se que os compostos eram oriundos de um complexo fabril que queima carvão, libertando os gases para a atmosfera.

O maior problema, no entanto, são as nano-partículas que não são filtradas por estas máscaras, e que representam o maior problema para a saúde. Ouvido pelo South China Morning Post, Liu explicou que “pode haver uma ligação entre a inalação destas substâncias e o aumento de casos de cancro do pulmão”.

Segundo o cientista, o diabo está nas nano-partículas com tamanho inferior a 25 nanómetros, que entram nos pulmões, passam para a circulação sanguínea e acabam por se alojar nos órgãos, incluindo no cérebro. Depois de absorvidas, ficam durante longos períodos de tempo no corpo, constituindo um claro perigo para a saúde pública.

Estes são os inimigos invisíveis que se escodem no muito visível smog que tem manchado os céus de parte da China. Com metas ambiciosas, Pequim pretende combater as consequências socioeconómicas deste flagelo atmosférico, devolver a confiança dos cidadãos no ar que respiram e recuperar o azul do céu.

9 Jan 2017

Grupos pró-China em Taiwan protestam contra activista e deputados de Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]rupos pró-China em Taiwan protagonizaram protestos e confrontos com a polícia à chegada à ilha de um activista e de três deputados de Hong Kong para participar num fórum pró-democracia, informou ontem o diário Taipei Times.

O Fórum sobre a Democracia, Legislação e Movimentos Sociais, organizado pelo Partido Novo Poder (PNP) de Taiwan, foi muito criticado por Pequim através do Gabinete dos Assuntos de Taiwan, que o qualificou como uma conspiração entre os movimentos de independência de Taiwan e Hong Kong para dividir a China.

De Hong Kong chegaram a Taiwan o activista Joshua Wong, dirigente estudantil dos protestos pró-democracia de 2014, e os deputados Nathan Law, Edward Yiu e Eddie Chu, para participar no fórum.

Ao chegarem ao aeroporto foram recebidos com protestos protagonizados por cerca de 200 membros de um grupo pró-China, que conseguiram romper o cordão policial, mas foram impedidos de agredir Wong e os deputados.

Mais tarde, durante e depois da realização do fórum, cerca de 300 membros de grupos pró-China protagonizaram protestos.

Surpresas e manipulações

No fórum, Joshua Wong disse que estava surpreendido com os protestos e afirmou que nem ele nem os três deputados eram defensores da independência de Hong Kong.

O deputado Nathan Law, por sua vez, disse que os protestos eram fruto de uma manipulação do Partido Comunista chinês e que não iriam afectar a sua defesa da democracia e da autonomia de Hong Kong, nem tão pouco as suas relações normais e saudáveis com Taiwan.

O Partido Novo Poder, nascido de um movimento estudantil que em 2014 tomou o controlo do Parlamento em protesto pela política de aproximação económica à China prosseguida pelo então Presidente Ma Ying-jeou, é uma formação política anti-sistema e radicalmente independentista.

Joshua Wong e Nathan Law tinham já encontrado cerca de 50 manifestantes pró-China no aeroporto de Hong Kong, munidos com cartazes com mensagens em que os chamavam de “traidores”, escreveu ontem o jornal South China Morning Post.

9 Jan 2017

Presidente de Taiwan de visita à América Central

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] viagem de Tsai Ing-wen inclui duas paragens nos Estados Unidos. A hipótese de um encontro da Presidente taiwanesa com Donald Trump gera receios de uma escalada da tensão entre a China e os EUA

A Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, partiu sábado para a América Central, numa viagem que tem escalas nos Estados Unidos, semanas depois do aumento da tensão com a China.

As relações diplomáticas entre Pequim e Washington vivem momentos de tensão após um telefonema da Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, ao Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, no dia 2 de Dezembro, para felicitá-lo pela sua vitória eleitoral.

Tsai fará duas escalas nos EUA, em Houston e em São Francisco, no início e no fim da sua ronda centro-americana, até 15 de Janeiro, durante a qual visitará quatro dos seus 21 aliados diplomáticos: Honduras, Guatemala, Nicarágua e El Salvador.

Esta viagem visa “consolidar os laços diplomáticos” e “estreitar a cooperação bilateral” com os aliados, “reforçar a cooperação e “ampliar o espaço internacional” da ilha, afirmou Tsai, no aeroporto internacional Taoyuan, antes da sua partida.

Durante a viagem, a Presidente de Taiwan vai assistir à tomada de posse na Nicarágua do Presidente, Daniel Ortega.

A acompanhar Tsai segue uma comitiva também composta por empresários.

Encontro escaldante

Em Taiwan e nos Estados Unidos fala-se de um possível encontro de Tsai ou da sua equipa com o grupo de assessores de Trump ou mesmo com o Presidente eleito, que perante a pergunta sobre a possibilidade de uma conversa com Tsai, respondeu “vamos ver”.

“Um encontro Trump-Tsai desencadearia fortes tensões, irritação dos aliados e outras represálias da China, que pediu a Washington que não permitisse escalas de Tsai no seu território”, disse sábado à agência espanhola Efe o director do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Tamkang, Li Da-jong.

Esta é a segunda viagem de Tsai à América Latina e Central, depois de outra realizada ao Panamá e Paraguai em Junho do ano passado.

Durante mais de quatro décadas, os Estados Unidos tem baseado as suas relações com o gigante asiático no princípio de uma China única, pelo que o único Governo chinês que Washington reconhece é o de Pequim, o que o distancia das aspirações independentistas de Taiwan.

9 Jan 2017

John Kerry diz que EUA respeitarão política de uma só China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] representante da política externa chinesa e Jonh Kerry falaram ontem por telefone sobre as relações entre os dois países. O secretário de Estado norte-americano reafirmou o respeito pela política de uma única China, apesar da tensão criada pelo telefonema da Presidente de Taiwan a Donald Trump.

O secretário de Estado norte-americano assegurou ontem, numa conversa telefónica com o seu homólogo chinês, que os Estados Unidos respeitarão a política de uma China única, independentemente de que partido esteja no Governo, informou o ministério chinês.

As relações diplomáticas entre Pequim e Washington vivem momentos de tensão após um telefonema da Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, ao Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, no dia 2 de Dezembro, para felicitá-lo pela sua vitória eleitoral.

Tsai fará duas escalas nos EUA, em Houston e em São Francisco, no início e no fim da sua ronda centro-americana, de 7 a 15 de Janeiro, durante a qual visitará os seus aliados diplomáticos Honduras, Guatemala, Nicarágua e El Salvador.

Na sua conversa telefónica com o ministro chinês, Wang Yi, John Kerry sublinhou a importância das relações entre os EUA e a China, enquanto Wang afirmou que os dois governos devem “continuar a trabalhar para proteger e reafirmar” o desenvolvimento das relações bilaterais, acrescentou o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

Kerry assinalou o êxito do desenvolvimento das relações bilaterais e destacou a colaboração em questões como a recuperação económica global, a luta contra as alterações climáticas e a resolução de assuntos importantes sobre segurança internacional.

As novas ameaças

Apesar do compromisso da administração do actual Presidente dos EUA, Brack Obama, com o princípio de uma só China, Trump já pôs em causa a sua continuidade.

“Não sei porque temos de estar ligados por uma política de uma só China, a não ser que cheguemos a um acordo com a China que tenha a ver com outras coisas, incluindo o comércio”, disse Trump, a 11 de Dezembro, ao canal televisivo Fox News.

Durante mais de quatro décadas, os Estados Unidos tem baseado as suas relações com o gigante asiático no princípio de uma China única, pelo que o único Governo chinês que Washington reconhece é o de Pequim, o que o distancia das aspirações independentistas de Taiwan.

6 Jan 2017

Seul | Park nega envolvimento em esquema de corrupção

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Tribunal Constitucional sul-coreano começou esta quinta-feira o julgamento do processo de destituição da Presidente, Park Geun-hye, suspeita de ter dado acesso privilegiado a informações sensíveis a uma amiga, que terá usado a sua influência para conseguir favores junto de grandes empresas.

A defesa da Presidente negou todas as acusações de envolvimento em esquemas de abuso de poder e corrupção. “Park nunca deixou os seus assessores interferirem com os assuntos de Estado e nomeou os dirigentes governamentais através de procedimentos legítimos”, afirmou o advogado Lee Joong-hwan.

O arranque do julgamento foi adiado para esta quinta-feira, depois de Park não ter ido à sessão marcada para terça-feira. A Presidente voltou a faltar, mas os juízes decidiram avançar. Não é obrigatória a presença de Park durante esta fase do processo e os seus advogados já tinham dito que a Presidente iria ausentar-se “a não ser que existam circunstâncias especiais”, segundo a agência estatal Yonhap.

Não sou o único

O tribunal tem seis meses para concluir se Park deve ou não ser destituída. Mesmo num país onde os casos de corrupção política são comuns, as suspeitas sobre Park criaram uma crise política sem precedentes na Coreia do Sul, que assistiu durante várias semanas às maiores manifestações populares da sua história democrática. O próprio partido da Presidente, o Saenuri, tem tentado distanciar-se de Park – mais de metade da bancada parlamentar votou a favor da destituição.

A 9 de Dezembro, o Parlamento aprovou a abertura de um processo de destituição por uma larga maioria. A pressão para que Park se demita dura há meses, depois de terem vindo a público os contornos da sua amizade com Choi Soon-sil, uma empresária filha de um amigo do ex-Presidente e pai da actual líder, Park Chung-hee.

Park terá recorrido a Choi para pedir sugestões para discursos oficiais, dando-lhe acesso a informações confidenciais, incluindo acerca de políticas em relação à Coreia do Norte. A empresária é acusada de usar a sua posição privilegiada junto da Presidente para pressionar donos de grandes conglomerados sul-coreanos a financiarem fundações que lhe pertenciam. Outras suspeitas incluem o ingresso da filha de Choi, Chung Yoo-ra, na prestigiada Universidade para Mulheres Ewha, que terá sido concedido pela posição da sua mãe.

O julgamento de Choi, detida desde Novembro, também começou esta quinta-feira, com a empresária a negar todas as acusações. “Enfrento muita injustiça”, declarou Choi em tribunal. “A acusada não procurou nem o mínimo ganho financeiro para si própria desde o dia em que as fundações foram estabelecidas”, afirmou o seu advogado, Lee Kyung-jae.

6 Jan 2017

Embaixador português em Pequim distinguido

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] embaixador de Portugal em Pequim, Jorge Torres Pereira, recebeu esta quarta-feira em Lisboa o prémio de melhor diplomata económico do ano, atribuído pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP).

Em comunicado terça-feira enviado à Lusa, a CCIP precisou que o prémio anual, baptizado com o nome de Francisco de Melo e Torres, prestigiado diplomata português do século XVII, e que vai na quarta edição, foi entregue ao embaixador português, no âmbito do Seminário Diplomático promovido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, a decorrer no auditório do Museu do Oriente.

Licenciado em Medicina, Jorge Ryder Torres Pereira ingressou na carreira diplomática em 1986 e já esteve colocado em Londres, Telavive, Moscovo, Madrid, Ramallah e Banguecoque, antes de representar Portugal em Pequim.

O diplomata recebeu o prémio para o chefe de missão diplomática que, ao longo do ano, mais se destacou “no apoio à internacionalização de empresas portuguesas e na captação do investimento estrangeiro, contribuindo para o crescimento da economia portuguesa”, das mãos do presidente do júri, o embaixador António Monteiro, e do presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Bruno Bobone.

Boas aplicações

No valor de 25 mil euros, o prémio – de cujo júri fazem ainda parte Paulo Portas, vice-presidente da CCIP, e Miguel Horta e Costa, membro da direcção – será aplicado em “acções de apoio à internacionalização das empresas portuguesas e na captação de investimento estrangeiro, contribuindo deste modo para a melhoria do desempenho da missão diplomática premiada”, lê-se no comunicado.

Para escolher o vencedor, o júri “analisa casos concretos de empresas que se tenham internacionalizado com o apoio do diplomata nomeado, casos de empresas estrangeiras que se tenham estabelecido em Portugal ou entrado no capital de uma empresa portuguesa através da actuação directa do chefe de missão diplomática, bem como eventos organizados pelo nomeado para promover a imagem de Portugal”, refere-se ainda no documento.

O presidente da CCIP sublinha a importância do Prémio Francisco de Melo e Torres, argumentando que este “tem vindo a afirmar-se como uma referência” ao reconhecer “o papel fundamental que os nossos diplomatas têm na aplicação objectiva e com resultados da diplomacia económica nas empresas e na economia portuguesa.”

5 Jan 2017

Julgamento de portugueses retidos em Díli marcado para Fevereiro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] julgamento de um casal de cidadãos portugueses que está retido em Timor-Leste há dois anos, acusados de peculato, branqueamento de capitais e falsificação documental, começa no dia 28 de Fevereiro, determinou o Tribunal de Díli.

A data do arranque do julgamento de Tiago e Fong Guerra, que tem para já uma segunda sessão marcada para 14 de Março, foi confirmada numa curta audiência no Tribunal Distrital de Díli (TDD) presidida pela juíza Jacinta da Costa na terça-feira.

“Por um lado estamos satisfeitos pelo facto de o tribunal ter adiado o início do julgamento, considerando que ainda decorre prazo para apresentarmos a contestação bem como o rol de testemunhas e outros meios de prova, exercendo assim, de forma plena, todos os direitos processuais por forma a podermos provar a nossa inocência e limpar o nosso bom nome”, disse à Lusa Tiago Guerra.

“Contudo, não podemos deixar de salientar que esta questão, que já leva dois anos, tem paralisado as nossas vidas, bem como a vida dos nossos familiares, em especial dos nossos filhos”, sublinhou.

Um dos advogados do casal tinha sido notificado de que o julgamento começaria a 3 de Janeiro mas a notificação não cumpriu o previsto na lei, que determina que devem ser os arguidos a ser notificados pessoalmente.

Os dois portugueses – que só no final de Dezembro tiveram acesso ao processo completo – foram ao TDD e acabaram por ser formalmente notificados a 28 de Dezembro, ou seja com tempo insuficiente para que o julgamento pudesse começar a 3 de Janeiro.

Na curta audiência na terça-feira a juíza propôs o arranque do julgamento para 28 de Fevereiro, data aceite pela defesa e Ministério Público.

“Não tem sido fácil lidar com a presunção de culpa, reconhecendo que principio maior é o da presunção da inocência, tal como foi invocado recentemente pelo primeiro-ministro timorense”, frisou Guerra.

“Queremos acreditar num julgamento justo com igualdade de armas entre a acusação e a defesa. Esperamos, acima de tudo, que seja feita justiça”, disse ainda.

Da acusação

Em causa está a acusação, pelos crimes de peculato, branqueamento de capitais e falsificação documental.

Na acusação, o MP considera os arguidos responsáveis pela autoria material em concurso real e na forma consumada dos três crimes.

Como provas, além de documentos contidos no processo, o MP timorense apresenta quatro testemunhas, incluindo o ex-vice-ministro das Finanças Rui Hanjam, dois outros funcionários do Ministério das Finanças e a actual ministra desta pasta, Santina Cardoso.

A procuradora defende a manutenção das medidas de coação, considerando até que “se reforçaram os pressupostos que determinaram a aplicação” dessas medidas.

Pede ainda que os arguidos sejam condenados a pagar uma compensação civil no valor do que dizem ser as perdas do Estado timorense, que totalizam 859.706,30 dólares.

No caso do crime de peculato e de branqueamento de capitais, as penas máximas previstas no Código Penal timorense são de 12 anos de cadeia e para o crime de falsificação de documentos a pena máxima é multa ou três anos de prisão.

5 Jan 2017

Hong Kong | Donald Tsang declara-se não culpado

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ex-chefe do Executivo da região vizinha rejeitou ontem em tribunal as acusações de má conduta e de ter beneficiado de favores

O antigo líder do Governo de Hong Kong Donald Tsang declarou-se ontem não culpado em tribunal de todas as acusações relacionadas com o arrendamento de uma ‘penthouse’ de três andares na cidade vizinha de Shenzhen, na China.

Donald Tsang, de 72 anos, chefe do Executivo da Região Administrativa Especial chinesa entre 2005 e 2012, é o ex-titular do mais alto cargo público a enfrentar um julgamento na história de Hong Kong.

Tsang negou as três acusações – duas de má conduta em cargo público e uma de aceitar vantagens –, que se reportam ao período entre 2010 e 2012 e podem ser sancionadas, cada uma delas, com até sete anos de prisão.

A primeira acusação alega que Tsang, enquanto chefe do Governo e presidente do Conselho Executivo, teve má conduta por não ter divulgado os planos de arrendar um apartamento em Shenzhen, detido por um investidor de uma estação de televisão que procurava obter uma licença por parte do Governo de Hong Kong.

Bill Wong Cho-bau era o principal accionista da Wave Media, mais tarde renomeada de Digital Broadcasting Corp., ou DBC.

Tsang alegadamente “aprovou em princípio e concedeu formalmente” as candidaturas da empresa de Wong para uma licença de radiodifusão digital, a entrega da sua licença de rádio AM e a nomeação do professor Arthur Li Kwok-cheung como director e presidente do conselho de administração da DBC sem revelar os seus negócios com Wong ao Conselho Executivo.

A segunda acusação alega que Tsang recomendou o nome de Barrie Ho Chow-lai, ‘designer’ de interiores no referido apartamento, para um prémio atribuído pelo Governo.

“Sir” Donald Tsang, cuja saída chegou a ser reivindicada a 15 dias do final do mandato, na sequência dos alegados favores a amigos empresários e acusações de despesismo em viagens oficiais, abandonou o cargo com a mais baixa taxa de aprovação na hora da saída desde a transferência da administração do território do Reino Unido para a China, em 1997.

Trabalho de casa

Tsang foi o escolhido por Pequim para substituir, a meio do mandato, Tung Chee-hwa, que, depois de uma sucessão de fracassos políticos e protestos, se demitiu em Julho de 2005 alegando problemas de saúde.

Em 2007, Donald Tsang foi reconduzido para um segundo mandato, derrotando o candidato do campo democrata, Alan Leong.

Com carreira feita na Administração Pública da antiga colónia britânica, ocupou o cargo de secretário das Finanças em 1995 e foi a partir de aí que começou a granjear admiradores com a recuperação da economia local e a baixa taxa de desemprego.

Donald Tsang honrou compromissos de relevo como a implementação de um salário mínimo, o aumento da escolaridade gratuita para 12 anos e a aprovação de reformas políticas, mas a “década de ouro” que prometeu acabou por não dar sinais.

4 Jan 2017

China | Actividade industrial sobe ao ritmo mais rápido desde 2013

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] actividade industrial chinesa expandiu ao ritmo mais rápido em quase quatro anos em Dezembro, no que é entendido como um sinal de saúde da segunda maior economia do mundo, indica um estudo da revista financeira Caixin.

O Purchasing Managers’ Index (PMI) da Caixin, focado nas pequenas empresas, superou as expectativas com 51.9 em Dezembro, acima dos 50.9 no mês passado.

Quando se encontra acima dos 50 pontos, o PMI sugere uma expansão do sector, pelo que abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção de actividade. O PMI é tido como um importante indicador mensal do desenvolvimento da segunda maior economia do mundo.

Este foi o valor mais alto desde Janeiro de 2013, informou a revista financeira independente numa declaração conjunta com o agregador de dados IHS Markit.

“A actividade industrial económica continuou a melhorar em Dezembro, com a maioria dos sub-índices a parecerem optimistas”, disse o analista da Caixin Zhong Zhengsheng em comunicado.

No domingo, o PMI oficial, focado nas fábricas e minas de grande dimensão, atingiu 51.4 em Dezembro, abaixo dos 51.7 no mês anterior, que marcou o maior crescimento em dois anos.

Ameaças de fora

A estabilização da economia do país, no entanto, enfrenta riscos face à possibilidade de aplicação de taxas aduaneiras mais elevadas à China com a chegada à Casa Branca de Donald Trump.

O crescimento da economia chinesa vai abrandar para 6,5% em 2017 e a moeda do país vai continuar a desvalorizar-se, face ao dólar norte-americano, previu no mês passado o principal instituto de pesquisa do país.

A previsão surge depois de anunciados, no início de Dezembro, vários indicadores positivos para a China.

Contudo, a economia “continua a sofrer uma cada vez maior pressão negativa”, afirmou a Academia Chinesa de Ciências Sociais (ACCS).

A ACCS anunciou as previsões durante uma conferência de imprensa, realizada anualmente, três dias após os líderes chineses se terem reunido para debater a economia.

Os líderes prometeram resolver problemas urgentes, sobretudo nos grupos estatais vistos como improdutivos e no sector imobiliário, afectado por uma ‘bolha’ especulativa.

No último ano, o ACCS previu que a economia cresceria 6,7% em 2016. A previsão tem-se confirmado, com o crescimento económico a fixar-se em 6,7%, o mais baixo desde o pico da crise financeira, ao longo de três trimestres consecutivos.

Para o próximo ano, o ACCS prevê o ritmo mais lento da meta de crescimento definida por Pequim para o período entre 2015 e 2020 – entre 6,5 e 7%. Seria também o ritmo mais lento desde 1990, quando a economia do país cresceu 3,9%.

Pequim está a encetar uma transição no modelo de crescimento do país, visando maior ênfase no consumo doméstico, em detrimento das exportações e investimento, que asseguraram três décadas de trepidante, mas “insustentável”, crescimento económico.

O aumento do consumo interno deve abrandar de 10 para 9,5%, em 2017, refere o ACCS.

O país enfrenta ainda vários desafios, como excesso de capacidade de produção em empresas estatais obsoletas e fuga de capital.

4 Jan 2017