[dropcap]C[/dropcap]hina e Estados Unidos iniciam hoje um diálogo de alto nível, visando pôr fim a uma guerra comercial que ameaça a economia mundial e que poderá agravar-se, após um período de trégua de 90 dias. O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e o representante do Comércio, Robert Lighthizer, reúnem hoje e sexta-feira, em Pequim, com o vice-primeiro-ministro chinês Liu He.
Trata-se do terceiro frente-a-frente desde que, no início de Dezembro, Xi Jinping e o homólogo norte-americano, Donald Trump, concordaram uma trégua de 90 dias, para encontrar uma solução para a guerra comercial que espoletou entre os dois países, no verão passado.
Washington e Pequim aumentaram já as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um dos países, caso não haja um acordo até 1 de Março, Trump ameaça aumentar ainda mais as taxas sobre importações oriundas da China. Empresários e economistas consideram improvável que os dois lados cheguem a um acordo definitivo e alegam que Pequim vai tentar convencer Washington a prolongar o período de trégua.
Robert Lighthizer e Liu He apertaram as mãos no início da reunião, numa residência oficial do Governo chinês, mas não prestaram declarações à imprensa. Trump quer que a China ponha fim a subsídios estatais para certas indústrias estratégicas, à medida que a liderança chinesa tenta transformar as firmas do país em importantes actores em actividades de alto valor agregado, como inteligência artificial ou robótica, ameaçando o domínio norte-americano naquelas áreas.
Washington quer também mais acesso ao mercado, melhor protecção da propriedade intelectual e o fim da ciberespionagem sobre segredos comerciais de firmas norte-americanas. Mas o Partido Comunista Chinês está relutante em abdicar dos seus planos, que considera cruciais para elevar o estatuto global do país.
Na terça-feira, Trump afirmou que, embora não esteja inclinado a prolongar o prazo, poderá adiar novas taxas alfandegárias por algum tempo, caso as negociações estejam a ser frutíferas. Grupos empresariais consideram que a decisão dos principais representantes do comércio, Lighthizer e Liu, de participar pessoalmente no encontro, é um sinal de que as negociações estão a progredir.
Empresas de ambos os lados foram prejudicadas pelas taxas alfandegárias impostas por Washington e pelas medidas de retaliação impostas por Pequim, ameaçando abalar as cadeias de produção globais. Os líderes chineses estão dispostos a reduzir o superavit nas trocas comerciais com os EUA, mas recusam-se a alterar os seus planos de desenvolvimento.
As autoridades chinesas negam ainda que as empresas estrangeiras são forçadas a transferir tecnologia, em troca de acesso ao mercado, mas grupos empresariais e governos apontam para regulamentos que obrigam as companhias a divulgarem segredos comerciais ou a partilharem tecnologia com parceiros estatais chineses.
As autoridades chinesas estão também a resistir à pressão dos EUA para aceitar um mecanismo de fiscalização que verifique se Pequim cumpriu as suas promessas.