Investigadores chineses descobrem proteínas chave associadas ao cancro no pulmão

[dropcap style≠’circle’]I[/dropcap]nvestigadores chineses do Instituto de Zoologia da Academia de Ciências da China descobriram 21 proteínas chave, que podem inibir ou estimular o crescimento de células do cancro do pulmão, segundo um estudo publicado na revista internacional Cancer Letters.

Através de técnicas laboratoriais, os investigadores testaram 1.520 fatores de transcrição, e descobriram que onze destes eram supressores tumorais, que impediam o crescimento de células cancerígenas, enquanto outros dez tinham o potencial de causar o crescimento.

Os fatores de transcrição são proteínas chave ligadas à sequência do ADN (ácido desoxirribonucleico), que controlam a expressão genética e descodificam a informação no genoma humano.

O cancro do pulmão representa 20% de todas as mortes por cancro no mundo. Entre 80% e 90% são causados pelo consumo de tabaco, segundo a Agência Internacional de Investigação sobre o Cancro.

15 Ago 2018

Oposição de Hong Kong pede liberdade contra “imperialismo chinês”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] independentista Andy Chan, líder do Partido Nacional de Hong Kong, apelou ontem à liberdade do seu território do “imperialismo chinês” e pediu ajuda aos Estados Unidos e ao Reino Unido para este fim, durante uma conferência de imprensa.

Andy Chan declarou que Pequim é “um grande império que tem operado durante séculos” e para aquele país “ser diferente é estar errado”, algo que na sua opinião afeta povos como os uigures, os tibetanos e também as populações de Xangai e Hong Kong.

O independentista falou aos jornalistas numa conferência de imprensa organizada pelo Clube dos Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong.

O “império chinês”, que de acordo com Chan, constitui “uma ameaça para todos os povos livres do mundo”, disse o político, sublinhando que o Reino Unido como ex-colonizador de Hong Kong tem “uma dívida inevitável com esta nação de liberdade e democracia”.

Diante de um público composto principalmente por jornalistas, Chan também afirmou que “os membros da comunidade internacional e os Estados Unidos devem ver a ameaça imperialista que vem da China”.

Do lado de fora do recinto onde ocorria a conferência de imprensa, ouviam-se gritos de manifestantes pró-China através de um megafone.

Chan tentou levar o seu partido às eleições locais de 2016 (o sistema eleitoral em Hong Kong não contempla o sufrágio universal), mas a sua candidatura foi rejeitada pelo conselho eleitoral por ter ideias separatistas.

O ativista disse que, desde o retorno de Hong Kong à soberania chinesa em 1997, o território ficou “cada vez menos livre” e também lembrou a chegada, desde então, de “um milhão de imigrantes chineses que tentam alterar” a sociedade local.

Chan, que admitiu não ter participado nos protestos pró-democracia de 2014 (a “revolução dos guarda-chuvas”), disse que, sob a alçada de Pequim, Hong Kong sofre um controlo progressivo das ideias políticas e que “pensar em independência já é ser independentista” e “consequentemente subversivo”.

“É o filme ‘Minority Report’ que se transformou em realidade. Um lugar onde dizer que é a favor da independência já significa que está a cometer traição”, disse o líder político, cuja conferência de imprensa atraiu uma grande atenção precisamente porque as autoridades chinesas a tentaram cancelar.

O activista ainda alertou que o idioma cantonês, usado no sul da China e em Hong Kong, “está a ser trocado pelo mandarim (língua oficial do país, mais usada no norte) e poderá ser abandonado pela próxima geração”.

Andy Chan tentou dar uma palestra pública no ano passado, quando Hong Kong (que é uma região administrativa especial, como Macau, e com mais liberdade) celebrou o vigésimo aniversário de seu retorno à China com a visita do Presidente chinês, Xi Jinping, mas a iniciativa foi cancelada.

Também foi pedido pelas autoridades o cancelamento da conferência de imprensa de Chan ao Clube dos Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong, mas este decidiu manter o encontro.

O ativista denunciou a perseguição que sofre por causa das suas ideias, assegurando que nos últimos dias tem sido submetido a uma vigilância diária.

Questionado se a conferência de imprensa poderá trazer-lhe alguma consequência, respondeu que poderia ter de cumprir até três meses de prisão.

15 Ago 2018

China abre primeiro centro de cultivo espacial para evitar desertificação do Gobi

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China abriu, no norte do país, o primeiro centro de cultivo espacial do mundo, onde cultivará sementes, previamente enviadas ao espaço, de plantas e árvores resistentes a ambientes hostis, visando combater a expansão do deserto de Gobi.

Segundo avança o jornal de Hong Kong South China Morning Post, o centro de investigação, inaugurado na localidade de Yangling, província de Shaanxi, na semana passada, estabelecerá um banco de sementes, para selecionar as de maior qualidade produzidas através daquele método de cultivo.

Um dos patrocinadores é o Grupo Espacial de Biotecnologia, que está sob tutela da Academia de Tecnologia Espacial da China, equivalente chinês à agência espacial norte-americana NASA.

O outro patrocinador é a empresa Yangling Seeds, cujo diretor, Guo Rui, declarou aos meios locais que a “criação espacial pode acelerar o cultivo de sementes de alta qualidade, reduzindo o tempo de oito para quatro anos”.

O centro enviará sementes de vinte espécies de árvores para o espaço, entre as quais fará uma seleção para cultivo, parte do combate à desertificação, através da “grande muralha verde”.

Essa “muralha” estende-se desde Ningxia, no noroeste da China, até Liaoning, no nordeste, e procura deter a expansão do deserto de Gobi.

A tecnologia de cultivo especial consiste no transporte das sementes para o espaço, para que durante um determinado período se adaptem a condições extremas, como a alta radiação.

15 Ago 2018

Rival chinês da Tesla prepara-se para entrar em Wall Street

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] construtor automóvel chinês NIO, especializado em viaturas elétricas sofisticadas, prepara a sua entrada na bolsa de valores de Nova Iorque, onde pretende emitir títulos no valor de 1,8 mil milhões de dólares.

O pedido da ‘startup’ chinesa ao regulador bolsista dos Estados Unidos para ser cotada em Wall Street, surge numa altura em que o presidente executivo da Tesla, Elon Musk, colocou a hipótese de retirar a empresa do mercado bolsita.

Os chineses pretendem desafiar abertamente a Tesla, ao anunciar a intenção de comercializar veículos elétricos já em 2020, nos Estados Unidos.

A NIO vendeu o seu primeiro veículo em dezembro passado, três anos depois da sua criação, e informou ter entregado até ao final de junho 481 unidades do primeiro modelo produzido em massa – um 4×4 elétrico. O número de encomendas é superior a 17 mil veículos.

Segundo as informações disponíveis, a ‘startup’ teve um volume de negócios de sete milhões de dólares, no primeiro semestre, e prejuízos superiores a 500 milhões de dólares.

A China tem o maior mercado mundial de automóveis e regista uma ‘explosão’ de vendas nos veículos híbridos e elétricos graças às generosas subvenções das autoridades, o que também tem impulsionado o aparecimento de ‘startups’ a disputar o negócio.

As vendas dos carros menos poluentes subiram 53% no ano passado, para um total de 780 mil unidades, num mercado total de quase 29 milhões de veículos vendidos.

Entretanto, no estado norte-americano da Califórnia, a Tesla está a formar um comité especial para avaliar as propostas para fechar o capital da empresa.

Na rede social Twitter, Musk referiu no passado dia 07 que tinha “financiamento garantido” para comprar cada ação a 420 dólares.

O CEO referiu que a informação tinha sido divulgada depois de uma reunião com o Fundo Público de Investimento da Arábia Saudita.

As ações da empresa subiram 11% num dia, aumentando o valor da Tesla em seis mil milhões de dólares, o que levou já à instauração de processos por alegadas violações de regras do mercado.

15 Ago 2018

Activista pró-independência discursou em Hong Kong numa palestra que desafiou Pequim

Com agência Lusa

Um activista independentista discursou hoje no Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong, apesar de Pequim ter pedido o cancelamento da palestra que foi marcada por manifestações pró-independência, pró-China e pró-democracia

Um pequeno grupo intitulado de União da Independência dos Estudantes manifestou-se em apoio ao discurso proferido no Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong (FCC, na sigla em inglês) por Andy Chan, líder do Partido Nacional e defensor da independência desta região especial administrada pela China.

Manifestantes pró-democracia, apesar de serem contra a independência, afirmaram ser a favor do direito de liberdade de imprensa e liberdade de expressão em Hong Kong.

Os activistas pró-independência chegaram a entrar em confronto com a polícia, enquanto dezenas de partidários pró-Pequim gritaram palavras de ordem contra os ativistas.

“Mandem gás contra os espiões!”, foi um dos slogans que os manifestantes a favor de Pequim entoaram, de acordo com a agência de notícias France-Presse.

A palestra de Andy Chan sobre “O nacionalismo de Hong Kong: um guia politicamente incorrecto para Hong Kong sob o governo chinês”, foi criticada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim que chegou a pedir o seu cancelamento.

Este pedido, o primeiro deste tipo desde 1997, data da transferência de soberania do Reino Unido para a China, surge numa altura em que Pequim continua a reforçar o domínio sobre aquele território que, ao abrigo da lei básica local, goza de liberdade de expressão e poder judicial independente.

O FCC recusou-se a aceder ao pedido de Pequim, reiterando que as opiniões de diferentes, em qualquer debate, devem ser ouvidas. Durante a palestra, Andy Chan agradeceu ao FCC por defender a liberdade de expressão e por não ter cedido às pretensões chinesas.

Governo repudia palestra

O FCC decidiu avançar com a realização da palestra apesar das críticas já apontadas pela Chefe do Executivo, Carrie Lam, e o anterior governante, CY Leung. Ontem foi emitido um comunicado oficial onde o Executivo da região vizinha “lamenta profundamente a realização da palestra e o convite feito a um orador que evoca a independência de Hong Kong”.

Citado pelo mesmo comunicado, um porta-voz do Governo adiantou que “é totalmente inapropriado e inaceitável para qualquer pessoa promover abertamente e invocar a independência de Hong Kong”.

É também “totalmente inapropriado e inacetitável para qualquer entidade providenciar uma plataforma pública que promova tais opiniões”.

As autoridades invocam ainda a Lei Básica de Hong Kong, que “estipula clatamente que a RAEHK é parte inalianável da República Popular da China (RPC)”, pelo que “invocar a independência de Hong Kong é uma violação clara da Lei Básica e é uma afronta directa à soberania nacional, à segurança e integridade regional da RPC”.

Apesar destas críticas, o Governo frisou a importância que dá à liberdade de expressão e de imprensa. “Temos apoiado de forma continuada o trabalho do FCC nas últimas décadas. Contudo, providenciar uma plataforma pública para um orador que publicamente defende a independência do território desconsidera os deveres constitucionais de Hong Kong tendo em conta a soberania nacional.”

A transferência da soberania britânica de Hong Kong para a China ocorreu a 1 de julho de 1997. Pequim garantiu, tal como em Macau, o princípio “um país, dois sistemas”, um período de transição de 50 anos durante o qual o território manterá uma autonomia alargada.

Trinta e cinco dos 70 lugares no Conselho Legislativo de Hong Kong são eleitos através de sufrágio universal, enquanto os restantes são diretamente designados por grupos de poder, muitos deles considerados próximos de Pequim.

As pretensões independentistas e pró-democracia ganharam força após a chamada Revolução dos Guarda-Chuvas, em 2014, e que paralisou o centro financeiro de Hong Kong.

14 Ago 2018

China | Justiça julga membros da seita “Deus Todo Poderoso”

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m tribunal do nordeste da China começou ontem a julgar os líderes locais do grupo religioso autodenominado Quannengshen (“Deus Todo Poderoso”, em português), que se formou na década de 1990 e está proibido no país. Segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, a polícia da província de Heilongjiang prendeu o líder local e os principais membros da seita em Junho de 2017.
“Deus Todo Poderoso” foi criado na década de 1990, na província de Henan, centro do país, pelo professor de física Zhao Weishan, que segundo as autoridades chinesas leva agora uma vida luxuosa nos Estados Unidos. Em comunicado, a polícia afirma que a seita transferiu 140 milhões de yuan, para fora do país, entre Novembro de 2016 e Março de 2017.
Centenas de pessoas estabeleceram grupos nas redes sociais chinesas para procurar familiares que se juntaram à seita e, entretanto, desapareceram.
Segundo a Xinhua, o grupo proíbe aos crentes usar telemóvel, ver televisão ou ler livros que não sejam os “livros de Deus”.
Os membros da seita creem que Jesus Cristo reencarnou numa mulher chinesa e são contra a governação do Partido Comunista Chinês (PCC), que designam de “grande dragão vermelho”.
Em 2014, o grupo ficou conhecido após vídeos difundidos na Internet mostrarem cinco dos seus membros a espancar uma mulher até à morte, num restaurante McDonald’s, na província de Shandong, norte da China. A mulher tinha rejeitado dar-lhes o número de telefone quando estes a tentavam convencer a juntar-se à seita. Os membros do “Deus Todo Poderoso” alegaram que a jovem estava possuída por um “espírito maligno”.

14 Ago 2018

Direitos Humanos | Pequim autorizou visita de médico sueco a Gui Minhai

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China autorizou ontem que um médico sueco examinasse o editor sueco de origem chinesa Gui Minhai, detido no início do ano quando viajava com diplomatas do seu país, anunciou a ministra dos Negócios Estrangeiros do país nórdico. “Na segunda-feira 13 de Agosto, uma equipa médica sueca pode visitar o cidadão sueco detido Gui Minhai. Foi bom”, declarou Margot Wallstrom num comunicado enviado à agência France Presse.
Gui Minhai, 54 anos, editor e livreiro, que vendeu em Hong Kong obras que ridicularizavam o regime comunista, foi detido a 20 de Janeiro por polícias chineses quando seguia com dois diplomatas suecos num comboio para Pequim, onde tinha marcada uma consulta.
O editor pretendia consultar um especialista sueco, temendo ter esclerose lateral amiotrófica.
Wallstrom, que não deu informações sobre o estado de saúde de Gui Minhai, nem pormenores sobre a visita da equipa médica, reiterou o pedido de libertação do editor. “Gui Minhai deve ser libertado e autorizado a juntar-se à sua família”, declarou, adiantando que a Suécia prossegue o seu “trabalho intensivo” com esse objectivo. A União Europeia também já pediu às autoridades chinesas que libertem Gui Minhai, assim como dezenas de activistas e defensores dos direitos humanos sob custódia.
Gui já tinha desaparecido em 2015 quando passava férias na Tailândia, antes de reaparecer num centro de detenção chinês e “confessar” o seu envolvimento num acidente rodoviário ocorrido vários anos antes.

14 Ago 2018

Malásia quer cancelar a construção de infra-estruturas acordadas com a China

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]primeiro-ministro da Malásia disse que vai tentar cancelar projectos de vários mil milhões de euros em infra-estruturas cuja construção é assumida pela China, após um acordo firmado pelo Governo anterior, noticiou ontem a agência Associated Press (AP).
Mahathir Mohamad afirmou numa entrevista à AP, dias antes da sua visita à China, que quer manter boas relações com aquele país e disse que é bem-vindo o investimento, desde que os projectos beneficiem a Malásia. O governante de 93 anos regressou ao poder há três meses, depois de vencer nas eleições legislativas Najib Razak, que está a ser julgado por várias acusações relacionadas com uma alegada fraude multimilionária a partir de um fundo de investimento estatal. Mahathir Mohamad refere que os dossiês mais difíceis prendem-se com a construção de oleodutos e de um projecto ferroviário ao longo da costa leste da península da Malásia. “Não achamos que precisamos desses dois projectos, não achamos que eles sejam viáveis. Se pudermos, gostaríamos de os abandonar”, afirmou. O novo governo da Malásia suspendeu os trabalhos destes projectos, que estão a ser construídos por empresas apoiadas pelo Estado chinês.
Mahathir também incitou Pequim a respeitar a livre circulação de navios em toda Mar do Sul da China, onde várias nações do sudeste asiático e a Malásia têm competido pela jurisdição sobre ilhas e recifes, ricos em pesca e potenciais depósitos de combustíveis fósseis. A China alega que grande parte do mar é seu e construiu várias ilhas artificiais equipadas com pistas, estações de radar e mísseis para reforçar sua reivindicação, acusando os EUA, que regularmente patrulham as águas com meios aéreos, porta-aviões e outros navios de guerra, de se intrometerem numa disputa que é puramente asiática. A China vê a Malásia como uma parte fundamental da sua ambiciosa iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

14 Ago 2018

Coreias | Nova cimeira de líderes até final de Setembro

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s duas Coreias acordaram ontem realizar em Pyongyang, até final de Setembro, uma terceira cimeira entre o Presidente sul-coreano e o líder da Coreia do Norte, informou hoje a agência Yonhap. Os dois países escreveram um comunicado conjunto em que declararam que vão estudar os avanços sobre os acordos assinados na Declaração de Panmunjom. Na Declaração de Panmunjom, firmada em Abril durante a histórica cimeira entre os líderes das duas Coreias, ambos concordaram em trabalhar para alcançar a “completa desnuclearização” da península e comprometeram-se a conseguir a assinatura de um tratado multilateral para acabar com o estado de guerra técnico na região que existe desde a Guerra da Coreia (1950-1953). A decisão da realização de uma nova cimeira foi tomada na sequência de uma reunião realizada ontem entre altos representantes dos dois países, durante mais de duas horas, na cidade fronteiriça de Panmunjom, Coreia do Norte.

14 Ago 2018

Direitos humanos | PCC defende repressão sobre minoria étnica muçulmana

 

Um jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) defendeu ontem medidas repressivas contra a minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigur, afirmando que impediu a região do Xinjiang de se converter na “Síria da China”

 

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]editorial do Global Times, jornal em inglês do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC, surge após um comité antidiscriminação da ONU ter condenado o tratamento dado por Pequim aos uigures, num relatório que cita detenções em campos de reeducação “envoltos num manto de secretismo”.
Após ataques cometidos por separatistas muçulmanos no Xinjiang, centenas de milhares de uigures foram arbitrariamente detidos em campos de doutrinação política, onde são forçados a criticar o islão e a sua própria cultura, e a jurar lealdade ao PCC. O Global Times cita aquele processo como “uma fase a que Xinjiang tem que ser submetido, visando a reconstrução da paz e prosperidade”, mas não refere directamente a existência dos campos de internamento.
O jornal insiste que a “paz e estabilidade estão acima de tudo”, denunciando o que classifica de “opiniões públicas destrutivas do ocidente”.
“Graças à liderança forte do Partido Comunista na China, a solidez do país e a contribuição dos funcionários locais, Xinjiang foi salvo quando se encontrava à beira de uma turbulência imensa”, afirma o jornal. “Foi evitado que se tornasse na Síria da China ou na Líbia da China”, acrescenta.
Desde que, em 2009, a capital do Xinjiang, Urumqi, foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional, a China tem levado a cabo uma agressiva política de policiamento dos uigures.

Campos secretos

Nos últimos meses, grupos de defesa dos direitos humanos e testemunhas denunciaram a criação dos campos de doutrinação. A população uigur na China é de cerca de 10 milhões de habitantes – o país tem, no conjunto, quase 1.400 milhões de habitantes – e nunca houve um protesto em larga escala, capaz de ameaçar a autoridade do PCC.
Contudo, Pequim diz que a repressão é necessária para combater o separatismo e extremismo islâmico, enquanto activistas uigures afirmam que serve apenas para alimentar as tensões.
Quando o Comité da ONU para a Eliminação da Discriminação Racial começou a rever o relatório, na sexta-feira, em Genebra, a delegação chinesa sublinhou o progresso económico e melhoria do nível de vida na região.
A vice-presidente do Comité, Gay McDougall, afirmou que os membros estão “profundamente preocupados”, face a “numerosos e credíveis relatórios que dão conta de que em nome do combate ao extremismo religioso e manutenção da estabilidade social, [a China] converteu a região autónoma uigur em algo que se assemelha a um campo de internamento massivo e envolto em secretismo”.
McDougall afirmou que se estima que mais de um milhão de pessoas “estão a ser mantidas em centros designados de anti extremismo e que outros dois milhões foram detidos nos chamados campos de reeducação para doutrinação política e cultural”.

14 Ago 2018

Família | Tribunais tentam travar divórcios com “período de reflexão”

 

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]ribunais em toda a China estão a começar a impor aos casais que se querem divorciar um período de espera, de entre duas semanas e três meses, visando travar o aumento no número de separações.
Segundo o jornal oficial China Daily, mais de uma centena de tribunais do país estão a impor aquele “período de reflexão”, num programa piloto para resolver disputas domésticas, lançado pelo Supremo Tribunal Popular do país. O programa é sobretudo dirigido a casais jovens que, segundo os juízes, são mais propensos a “rupturas impulsivas”, comparativamente às gerações anteriores.
Durante aquele período, o casal receberá aconselhamento matrimonial e, em alguns casos, psicológico, enquanto o juiz explica aos casais as dificuldades de um divórcio, como a negociação da custódia dos filhos ou a partilha de propriedades comuns. Segundo o China Daily, aquelas conversas decorrem fora dos tribunais, em espaços mais ligeiros, com sofás, televisões e outros confortos.
A taxa de divórcios tem aumentado na China, nos últimos anos, numa tendência que preocupa o Partido Comunista Chinês, que considera a unidade tradicional da família fundamental para manter a estabilidade social.
Segundo o Ministério dos Assuntos Civis, o número de casais divorciados aumentou 40 por cento, na última década, para 4,2 milhões.
A maioria dos divórcios ocorre entre os casais nascidos na década de 1980, quando o Governo chinês impôs à população urbana do país a política de “um casal, um filho”, criando uma geração de filhos únicos conhecidos como “xiao huangdi” (pequenos imperadores).
Em cidades como Xangai, a “capital” económica do país, a taxa de divórcios já supera a dos novos matrimónios. Os juízes chineses asseguram que aquele “período de reflexão” não se aplicará em casos que envolvem violência doméstica.

14 Ago 2018

Incêndio | Pelo menos 14 pessoas morreram num hospital de Taiwan

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]elo menos 14 pessoas morreram ontem de paragem cardíaca na sequência de um incêndio num hospital em Nova Taipei, Taiwan, informou o Ministério da Saúde e Saneamento em comunicado. O incidente ocorreu no sétimo andar do Hospital Weifu, no distrito de Xinchuang, onde os bombeiros foram obrigados a resgatar 36 pessoas, 14 delas já sem sinais vitais, adiantou o Gabinete de Prevenção de Desastres do Ministério da Saúde e Bem-Estar. A operação mobilizou 276 bombeiros, apoiados por 76 veículos, que conseguiram controlar o fogo em cerca de 50 minutos. Os mortos são sete homens e sete mulheres. A causa do incêndio é desconhecida e a polícia de Nova Taipei iniciou uma investigação para apurar o que esteve na origem do incidente.

14 Ago 2018

Transportes | Inaugurados 93 aeroportos entre Janeiro e Junho

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]número de aeroportos para aviação geral mais do que duplicou na China, nos primeiros seis meses do ano, passando de 80 para 173, segundo dados das autoridades chinesas para a aviação, citados pela agência oficial Xinhua. Os equipamentos de aviação geral incluem qualquer tipo de aeronaves que não sejam voos regulares de linhas aéreas ou aeronaves militares. Isto inclui desde pequenos aviões de propriedade particular até jactos executivos ou helicópteros. No primeiro semestre do ano, as autoridades de aviação registaram ainda 118 novas aeronaves para uso na aviação geral, um aumento de 9,5 por cento, face ao mesmo período do ano passado, para 2.415.

14 Ago 2018

Visto | Estudante alemão expulso por fazer trabalho sobre direitos humanos

 

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades chinesas suspenderam o visto de um estudante alemão, após este escrever uma reportagem sobre direitos humanos, num projecto escolar, parte de um mestrado em jornalismo e comunicação numa das mais prestigiadas universidades da China.
David Missal, 24 anos, aterrou no domingo na cidade alemã de Duesseldorf, depois de as autoridades de imigração lhe terem comunicado que o seu visto de estudante foi anulado e que tinha uma semana para sair da China. Missal considera que a decisão se deve a um trabalho sobre a campanha repressiva contra advogados dos direitos humanos, lançada por Pequim, em 2015.
O estudante já tinha sido avisado duas vezes por um responsável da universidade Tsinghua, onde frequentava o mestrado, para que não reportasse tópicos politicamente sensíveis, mas ele continuou, porque queria “aprender mais sobre a sociedade e política chinesas”. “De certa forma, nos últimos dois meses aprendi muito sobre a sociedade e política chinesas”, afirmou sobre o seu caso, citado pela agência Associated Press.
Localizada no norte de Pequim, a Tsinghua é considerada uma das mais prestigiadas universidades da China, e foi frequentada pelo actual Presidente chinês, Xi Jinping, e o seu antecessor, Hu Jintao.
A campanha repressiva contra advogados e activistas pelos direitos humanos, reportada por Missal, foi lançada a 9 de Julho de 2015, e resultou na detenção de 300 pessoas por todo o país. Vários dos detidos foram punidos com pena de prisão por subversão do poder do Estado, enquanto outros continuam à espera de serem julgados. Missal garante que o trabalho foi apenas publicado no seu blogue e página no Youtube, onde recebeu menos de cem visualizações. O gabinete de propaganda da Tsinghua recusou comentar de imediato, afirmando que estava a averiguar o caso.

14 Ago 2018

Ensino | Autoridades negam fraude no exame de acesso à universidade

 

As autoridades da província de Henan, centro da China, determinaram ontem que não houve fraude durante o ‘Gaokao’ chinês, o maior exame de acesso à universidade do mundo, considerado “crucial para a meritocracia chinesa”

 

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s pais de quatro estudantes denunciaram, na semana passada, que os exames dos filhos foram trocados, acusando as autoridades de “má conduta” e “abuso de poder”. Após reverem os exames dos estudantes e as imagens captadas pelos vídeos de vigilância no centro de exames, as autoridades asseguraram que não ocorreram ilegalidades.
Os pais suspeitavam que os gabinetes de admissão da província tinham trocado as folhas dos exames, após os seus filhos receberem notas muito aquém do que esperavam. Um dos pais, Su Hong, publicou no Wechat, a rede social mais popular do país, fotos das respostas de um exame da sua filha, assegurando que tinham sido adulteradas e que não eram suas. Os pais afirmaram ainda que havia correcções nas respostas que não tinham sido feitas pelos seus filhos.

Operações especiais

Num outro caso difundido a semana passada, seis pessoas foram condenadas na China a penas até quatro anos de prisão por organizarem um esquema fraudulento durante o ‘Gaokao’. Os alunos levaram para o exame transmissores e receptores sem fios, a partir dos quais leram as perguntas a colaboradores fora das instalações, que após consulta transmitiram as respostas.
Uma lei aprovada em 2015 prevê penas até sete anos de prisão em caso de cábulas durante o exame de acesso ao ensino superior.
Pelas contas do Governo chinês, de um total de quase dez milhões de adolescentes que se submeteram ao exame, apenas 3,25 milhões conseguiram entrar na universidade.
Entre aqueles, só alguns milhares terão acesso às universidades de topo do país, que garantem maiores probabilidades de um bom futuro profissional ou académico. De acordo com relatos na imprensa local, os produtos e dispositivos utilizados por cábulas variam entre relógios, auscultadores e t-shirts com receptores, até equipamento usado em espionagem.

14 Ago 2018

Japão | Nove mortos em acidente de helicóptero

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ove pessoas morreram no Japão na sequência da queda de um helicóptero durante um exercício de resgate numa zona montanhosa do país, anunciaram no fim-de-semana as autoridades japonesas. De acordo com agência Associated Press (AP), o helicóptero despenhou-se na sexta-feira, numa região montanhosa da província de Gunma, uma hora depois de descolar. As autoridades confirmaram a morte de todos os tripulantes, a maioria pertencentes a uma unidade de emergências. Os ‘media’ japoneses citam testemunhas que avistaram o helicóptero a voar “extremamente baixo” e sob más condições mete

13 Ago 2018

Comércio | Navio com 70.000 toneladas de soja atraca após um mês de espera

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m navio norte-americano que transporta soja no valor de 17 milhões de euros atracou na China, um mês depois de navegação sem rumo no Pacífico, vítima da guerra comercial entre Pequim e Washington.
O diário oficial chinês Global Times informou ontem que o Peak Pegasus, um cargueiro de 229 metros que pesa 43.000 toneladas, com 70.000 toneladas de soja, atracou no porto de Dalian (noroeste da China) este fim-de-semana.
O Peak Pegasus tinha previsto descarregar as 70.000 toneladas de soja em Dalian em 6 de Julho passado, antes de as autoridades chinesas imporem uma taxa alfandegária de 25 por cento sobre a soja norte-americana, em retaliação contra a decisão de Washington em aumentar os impostos sobre 29 mil milhões de euros de bens importados da China.
O navio, propriedade da JP Morgan Asset Management, chegou tarde ao destino e esteve a navegar em círculos deste então, enquanto os donos da carga, a empresa Louis Dreyfus, decidiam o que fazer. Segundo o diário britânico The Guardian, o grupo, que tem sede multinacional em Amesterdão, pagou uma diária de 12.500 dólares para continuar a fretar o barco.
A soja é chave nas disputas comerciais entre EUA e China: representa 10 por cento do conjunto das exportações norte-americanas para o país asiático e é um sector vital para a América rural, onde estão concentrados muitos dos eleitores do Presidente norte-americano, Donald Trump.

13 Ago 2018

Índia | Monções causam 37 mortos e 37 mil desalojados

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]elo menos 37 pessoas morreram e 37 mil ficaram desalojadas no estado indiano de Kerala (sudoeste da Índia) devido a inundações repentinas e deslizamentos de terras causados pelas monções que atingem a região desde quarta-feira.
O estado, apreciado pelos turistas pelas suas praias com palmeiras e plantações de chá, recebe fortes chuvadas todos os anos durante a estação das monções, mas a precipitação tem sido particularmente forte este ano. Os residentes deslocados “foram levados para 350 centros de acolhimento em todo o estado”, indicou um coordenador regional citado pela agência France-Presse (AFP).
O exército foi requisitado para missões de resgate depois de dois dias de chuvas fortes terem forçado as autoridades a abrir as comportas de 27 reservatórios para escoar o excesso de água. Num dos casos, a represa não era aberta há 26 anos.
“O nosso estado enfrenta uma devastação sem precedentes”, escreveu, no Twitter, o responsável do Executivo de Kerala, Pinarayi Vijayan. “Perderam-se várias vidas. Centenas de casas foram totalmente destruídas”, lamentou, ao mesmo tempo que saudou o trabalho das equipas de socorro, que vieram de todo o país.
Mais de um milhão de turistas visitaram Kerala no ano passado, segundo estatísticas oficiais.
Os desastres meteorológicos são comuns no sul da Ásia na época mais intensa das monções, em Julho e Agosto, quando muitas vezes deixam centenas de mortos e milhões afectados na região. Em Agosto de 2017, cerca de 700 pessoas morreram no norte da Índia devido a incidentes relacionados com as fortes chuvas, sendo mais afectados os estados de Bihar e Uttar Pradesh.

13 Ago 2018

Japão envia inquérito a universidades após escândalo na admissão de mulheres

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]governo japonês lançou um inquérito a todas as universidades de medicina do país, depois de uma faculdade ter admitido que manipulou, durante anos, os exames de acesso ao curso para admitir menos mulheres.
O Ministério da Educação pediu às 81 instituições públicas e privadas do país para verificarem os procedimentos de admissão, bem como a proporção de mulheres e homens entre os candidatos aprovados. “Se as respostas não forem aceitáveis, faremos novas perguntas e visitaremos as instituições”, garantiu um porta-voz do ministério, acrescentando que os resultados ao inquérito serão publicados já no próximo mês.
Uma universidade privada de medicina, em Tóquio, admitiu esta semana ter manipulado, durante vários anos, os resultados dos exames de acesso à instituição com o objectivo de admitir menos mulheres. O objectivo passava por garantir que as mulheres não representassem mais de 30 por cento do número total de estudantes na competição.
“Este caso é extremamente lamentável”, afirmou o ministro da Educação, Yoshimasa Hayashi, apelando às instituições para cooperarem plenamente nas respostas ao inquérito.
A ministra da Justiça, Yoko Kamikawa, sublinhou que as “mulheres não devem ser injustamente discriminadas no Japão, seja em que situação for”.
No Japão, aproximadamente metade das mulheres deixa definitivamente os seus empregos depois de se tornarem mães, devido a factores socioculturais e dificuldades em conciliar a vida familiar e profissional. O Governo de Shinzo Abe lançou a estratégia “Womenomics” para promover uma maior participação feminina no trabalho, mas o país continua a registar uma diferença salarial significativa entre homens e mulheres, bem como uma diminuta presença do género feminino nas grandes empresas e na classe política.

13 Ago 2018

Chuvas | Oito mortos e dois desaparecidos após no noroeste

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]elo menos oito pessoas morreram e outras duas estão desaparecidas após chuvas torrenciais na província de Gansu, noroeste da China, noticiou a agência oficial Xinhua. O governo local anunciou que estão a decorrer operações de resgate devido às tempestades e inundações, que afectam sobretudo a região de Baiyin, condado de Jingyuan. Chuvas torrenciais causam todos os anos centenas de mortos na China, durante o Verão, sobretudo no centro do país, devido a inundações e deslizamentos de terra.

13 Ago 2018

Meteorologia | Parte da muralha da China fechada temporariamente

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]parte da muralha da China que fica na zona de Badaling, uma das mais turísticas daquele monumento histórico, encontra-se fechada temporariamente desde o fim-de-semana devido à previsão de chuvas torrenciais para as próximas horas. Segundo uma informação do departamento municipal de turismo de Pequim, e divulgada pela agência de notícias chinesa Xinhua, ainda não está definida uma data para a reabertura, que depende de um novo aviso. O observatório nacional renovou o alerta azul (o menos grave) para chuvas fortes no sábado e no domingo nalgumas áreas de Pequim e em províncias vizinhas. Ao mesmo tempo, os especialistas dos serviços geológicos emitiram um alerta amarelo (o terceiro mais grave) devido à possibilidade de tempestades nos próximos três dias. Todos os anos, no Verão, as tempestades e as chuvas torrenciais causam vítimas e danos graves na China, especialmente no centro do país, devido essencialmente a inundações, desnivelamentos ou desabamentos de terra.

13 Ago 2018

Saúde | Oferta de vacinas contra a raiva após escândalo

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades sanitárias chinesas anunciaram que vão oferecer aconselhamento e inoculação gratuitos de vacinas contra a raiva, noticiou a imprensa oficial, após o escândalo gerado por irregularidades no segundo maior fabricante chinês de vacinas.
Mais de 36.000 hospitais do país foram destacados para oferecer aqueles serviços, que permitirão a qualquer cidadão ser gratuitamente vacinado contra a raiva, doença viral que todos os anos causa, em média, 2.000 mortos na China, segundo a Organização Mundial de Saúde. Também permitirá aos pacientes que estiveram em processos de vacinação com doses fornecidas pela empresa implicada no escândalo, a Changsheng Biotech, mudar gratuitamente para inoculações produzidas por outras firmas, informou o jornal Global Times.
Uma investigação à empresa confirmou que a Changsheng recorreu a material fora de prazo no fabrico de vacinas contra a raiva para uso humano, e que não registou correctamente as datas ou os números de série dos produtos, pelo menos desde 2014. O Global Times detalha que, até à data, não se registaram casos mortais entre pessoas que receberam vacinas adulteradas.

13 Ago 2018

Weizhou | Governo adia demolição de mesquita depois de manifestações

 

 

As autoridades chinesas decidiram adiar a demolição de uma mesquita em Weizhou, no norte da China, depois de vários dias de manifestações, declararam à agência France Presse (AFP) habitantes da região

 

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m responsável local leu perante os manifestantes um documento a anunciar que o Governo vai adiar a demolição da mesquita, segundo alguns presentes ouvidos pela AFP, tendo depois a maioria das pessoas dispersado do local.
Milhares de pessoas estavam em protesto desde quinta-feira para impedir a demolição do local de culto, ordenada pelas autoridades que procuram restringir a liberdade religiosa dos muçulmanos, enquadrando-a nos princípios defendidos pelo Partido Comunista chinês.
Centenas de pessoas percorreram centenas de quilómetros para apoiar os defensores da mesquita e levar-lhes alimentos, segundo testemunharam os habitantes. “O Governo garante que se trata de um edifício ilegal, mas não é o caso. A mesquita tem séculos de história”, disse à AFP um restaurador que se apresentou com o pseudónimo de Ma.
De acordo com documentos oficiais, a mesquita foi reconstruída nos últimos dois anos, mas vários responsáveis receberam “um sério aviso” da parte de uma comissão disciplinar local devido a incertezas no processo de autorização. A fachada foi modificada, abandonando uma aparência de templo budista por um design árabe, com cúpulas e crescentes lunares.

Reciclagem religiosa

As palavras “Mesquita de Weizhou” desapareceram do Weibo, a versão chinesa do Twitter, quando a AFP tentou fazer uma pesquisa sobre o tema. A Internet e o serviço 4G dos telemóveis não funcionavam num raio de cerca de 10 quilómetros em torno do local da manifestação.
A agitação aumentou em Weizhou depois da difusão na passada semana de uma ordem governamental para demolir a mesquita, cuja reconstrução foi feita sem as autorizações devidas. Num documento oficial, que a AFP diz não ter conseguido verificar, terá sido escrito que se o edifício não fosse demolido até 10 de Agosto, o Governo ver-se-ia na obrigação “de o abater”, alertando os responsáveis da mesquita que “deveriam aceitar a responsabilidade das consequências de tal acto”.
As autoridades locais e a associação islâmica local não estiveram contactáveis, adiantou a AFP.
O islão é uma das cinco religiões reconhecidas oficialmente na China, onde vivem cerca de 23 milhões de muçulmanos.
A pressão das autoridades de Pequim aumentou nos últimos meses com um controlo apertado das manifestações da liberdade de expressão religiosa, com as autoridades a quererem enquadrar a prática religiosa com os valores e cultura chineses “tradicionais”. Os novos regulamentos relativos a questões religiosas, que suscitaram uma crescente inquietação dos movimentos de defesa dos direitos humanos, preveem um controlo maior do Estado sobre a religião de forma a “parar o extremismo”.
Em Xinjiang, região autónoma no noroeste do país maioritariamente muçulmana, a situação é particularmente sensível: muitos uigures, povo de origem turca e de religião islâmica, queixam-se de discriminação e membros radicais cometeram atentados que fizeram centenas de mortos nos últimos anos.

13 Ago 2018

Guerra comercial entre EUA, China e UE agudiza receios de abrandamento económico

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s últimos cinco meses ficaram marcados por uma escalada da tensão comercial entre EUA, China, União Europeia e outras potências mundiais, com a imposição de tarifas e ameaça de novas medidas protecionistas a gerarem receios de abrandamento económico.

E se a 25 de julho foi anunciada uma trégua na guerra comercial entre os EUA e a União Europeia, após uma reunião entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, com a China a tensão mantém-se ao rubro, sendo sucessivas as ameaças do agudizar das tarifas alfandegárias nas trocas comerciais e de sanções aos países que têm trocas comerciais com o Irão.

Reunidos em julho em Buenos Aires, na Argentina, num encontro marcado pelo tema do protecionismo, os ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais das maiores economias mundiais (G20) concluíram que o crescimento mundial “está robusto”, mas ameaçado, “a curto e médio prazo, pelo aumento das tensões comerciais e geopolíticas”, apontando os riscos económicos acrescidos resultantes das “recentes vulnerabilidades financeiras, aumento das tensões comerciais e geopolíticas” e “crescimento estruturalmente débil, particularmente em algumas economias avançadas”.

Na abertura do encontro, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, alertou para o impacto da guerra comercial sobre o crescimento económico mundial, avisando que, “no pior dos casos, as medidas [comerciais] atuais poderão significar uma baixa de 0,5 pontos do PIB [Produto Interno Bruto] mundial”.

O ministro francês da Economia e das Finanças, Bruno le Maire, sustentou, por sua vez, que “esta guerra comercial fará apenas perdedores, destruirá empregos e pesará no crescimento mundial”, defendendo que se chame “os EUA à razão, para que respeitem as regras multilaterais e os seus aliados”.

Já o secretário norte-americano do Tesouro, Steven Mnuchin, apelou à China e aos EUA para que façam concessões no sentido de chegar a uma relação comercial mais equilibrada, após declarações incendiárias de Donald Trump que tratou Pequim, Bruxelas e Moscovo como “inimigos” comerciais.

Na opinião de diversos analistas e economistas, a intensificação da guerra comercial não vai beneficiar nem os trabalhadores, nem as empresas norte-americanas, podendo antes resultar numa subida dos preços nos EUA, numa diminuição das exportações e numa economia mais débil no próximo ano, com um abrandamento que pode chegar ao meio ponto percentual e levar à perda de 700.000 empregos.

Para Portugal, segundo estimativas avançadas em junho pelo Banco de Portugal (BdP), a guerra comercial pode implicar um custo entre 0,7% e 2,5% do PIB português em três anos, caso se mantenha limitada aos EUA e aos seus principais parceiros ou se se tornar global.

“Sendo Portugal uma economia relativamente aberta ao exterior, a redução da atividade e do comércio a nível global tem um efeito adverso sobre a economia portuguesa”, avisou o BdP.

A postura intransigente de Trump face ao comércio internacional já é antiga, tendo denunciado as práticas comerciais de outros países e pedido retaliações desde a década de 1980, quando o Japão era considerado a principal ameaça económica aos EUA. Foi depois uma bandeira da sua campanha para a Presidência, desenvolvida sob o lema “America First” (A América Primeiro).

E se as medidas protecionistas tomadas após a eleição foram sendo adotadas em várias frentes, com conflitos comerciais com várias potências mundiais, como a União Europeia (UE), México, Canadá, Brasil ou Japão, Trump nunca escondeu que o seu principal adversário era a China, que acusa de desenvolver práticas comerciais injustas, aplicar taxas altíssimas sobre produtos norte-americanos e desrespeitar totalmente a propriedade intelectual das empresas norte-americanas, nomeadamente no setor da tecnologia.

Foi assim que, logo após ser eleito para a Presidência dos EUA, em 2016, Trump ameaçou elevar para 30% as tarifas sobre as todas as importações de produtos chineses – que, no ano passado, somaram 500 mil milhões de dólares –, acusando Pequim de “táticas predatórias” destinadas a desenvolver o setor tecnológico chinês.

Foi, contudo, em março/abril deste ano que a tensão comercial começou a acentuar-se, com Trump a argumentar que o défice da balança comercial com Pequim estava “fora de controlo”, nos 375 mil milhões de dólares (324 mil milhões de euros), e a acusar a China de “roubo de tecnologia” e de exigir às empresas estrangeiras que transfiram conhecimento em troca de acesso ao mercado.

Os EUA anunciam então a implementação de taxas alfandegárias sobre uma lista inicial de 1.300 produtos importados da China, avisando que impacto pode chegar aos 60 mil milhões de dólares (51,7 mil milhões de euros).

Em resposta, a China começa por impor em abril tarifas de 25% sobre 120 produtos dos EUA sobretudo alimentares, num valor em torno dos três mil milhões de dólares (2,58 mil milhões de euros) – recorrendo à Organização Mundial do Comércio (OMC) para contestar a atuação norte-americana.

Posteriormente, Pequim responde à publicação da lista com uma taxa alfandegária de 25% em cerca de 50 mil milhões de exportações norte-americanas, incluindo nos produtos a taxar a soja (um dos mais relevantes produtos nas relações comerciais entre os dois países), os aviões, os carros e os produtos químicos.

É também em março que entram em vigor taxas aduaneiras de 25% sobre a importação de aço e de 10% sobre o alumínio que entra nos EUA, numa medida que deixa inicialmente de fora o México e o Canadá (no âmbito do Acordo de Comércio Livre da América do Norte – NAFTA) e os países aliados, nomeadamente a UE.

No final de maio, a escalada protecionista de Trump estendeu-se à UE, Canadá e México, com a suspensão da isenção de direitos aduaneiros nas importações de aço e de alumínio daquelas regiões, e chegou ao Brasil, com a imposição de quotas e sobretaxas à importação de aço brasileiro.

“Isto é um mau dia para o comércio mundial”, declarou então o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, considerando “totalmente inaceitável que um país esteja a impor medidas de forma unilateral no que diz respeito ao comércio mundial”.

Como retaliação, o bloco europeu começou em 22 de junho a cobrar tarifas de importação de 25% sobre uma série de produtos norte-americanos, no valor total de 3,35 mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros), tendo nesse mesmo dia Trump admitido impor sobretaxas de 25% sobre importações de automóveis europeus, consideradas como uma ameaça à segurança nacional.

O mês de julho foi palco de um sucessivo agudizar da guerra comercial já aberta com a China, com o Presidente norte-americano a iniciar a cobrança de tarifas sobre mais de 800 produtos chineses, no valor de 34 mil milhões de dólares (29 mil milhões de euros), e a China a retaliar de imediato, com um aumento dos impostos sobre o mesmo valor de importações oriundas dos EUA.

Dias depois, os EUA anunciam uma nova lista com tarifas de 10% sobre 200 mil milhões de dólares (173 mil milhões de euros) em importações da China e Trump afirma-se pronto para impor tarifas sobre até 550 mil milhões de dólares (475 mil milhões de euros) em produtos chineses, mais do que o valor total das exportações de Pequim para o país no ano passado.

Afirmando-se “chocada”, a China apresenta nova queixa à OMC e garante que adotará “as contramedidas necessárias” responder às novas tarifas, retaliando com novas taxas.

Esta semana, na quarta-feira, a China anunciou taxas punitivas sobre importações provenientes dos EUA no montante de 16 mil milhões de dólares (13,9 mil milhões de euros), como represália às anunciadas na véspera pelos EUA.

Com a UE, a guerra comercial vive atualmente uma trégua, na sequência de um encontro, em 25 de julho, em Washington, entre o presidente da Comissão Europeia e Donald Trump, do qual saiu a garantia de que norte-americanos e europeus “vão trabalhar em conjunto” para estabelecer uma relação comercial livre de taxas alfandegárias, livre de barreiras e livre de subsídios para bens industriais.

Enquanto durarem as negociações, os direitos aduaneiros sobre aço e alumínio europeus mantêm-se, mas, caso cheguem a bom termo, Washington admite vir a levantá-los, o mesmo acontecendo com as correspondentes retaliações da UE. Trump acordou também não impor tarifas sobre o setor automóvel europeu durante este período.

12 Ago 2018