IAS | Residentes sem consciência da dependência do Jogo

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto de Acção Social (IAS) disse ao canal chinês da TDM que os residentes de Macau não têm conhecimentos suficientes sobre a dependência do Jogo, sendo que apenas “uns raros 1%” pedem ajuda se precisarem, tal como aconteceu em 2011. Os dependentes do jogo, diz o instituto, têm medo de ser rotulados como doentes mentais. Um inquérito feito pelo IAS em 2013 demonstra que 1,9% entre 200 entrevistados é um possível dependente do jogo. Outros 0,9% são já definidos como viciados.

15 Jan 2016

Recursos Humanos | Grande pedido de domésticas da China

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Gabinete de Recursos Humanos (GRH) garantiu em resposta ao deputado Chan Meng Kam que Macau tem feito muitos pedidos de empregadas domésticas do continente. A lista referente a Abril de 2014 citada pelo GRH mostra que já foram aprovados 266 pedidos de importação deste tipo de trabalhadoras, sendo que 224 são oriundas da província de Guangdong e as restantes da província de Fujian. No final de um ano de contrato, 117 trabalhadoras viram os seus contratos prolongados pelos patrões. 0022190dec450fd6477b27
Até finais de Setembro do ano passado existiam em Macau um total de 113 empregadas domésticas do interior da China, sendo 95 de Guangdong e 18 de Fujian. O GRH indicou a Chan Meng Kam que já fez uma avaliação preliminar do projecto de importação de trabalhadoras domésticas, tendo enviado um inquérito a 266 patrões. Desses, 126 responderam, sendo que mais de 75% dos entrevistados revelaram-se satisfeitos com o desempenho das empregadas.
“O resultado mostra que há uma grande exigência por parte dos residentes para a vinda de empregadas domésticas do continente. Por isso iniciámos o processo de candidaturas da importação a 19 de Outubro de 2015, tendo recebido até final desse mês 212 pedidos”, apontou a entidade.
O GRH prometeu ainda debater com os diversos departamentos públicos questões como a importação, quotas de trabalhadores, a sua origem e as empresas que estão envolvidas nestes processos.

Tomás Chio

15 Jan 2016

Educação Cívica | Estudo diz que disciplina é “incompatível com cidadania activa”

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m estudo da Universidade de Macau (UM) conclui que a Educação Cívica e Moral promovida no território tem-se revelado incompatível com o conceito de “cidadania democrática activa”, cenário agravado após o movimento Occupy Central, em Hong Kong, em 2014. A ideia é o resultado do estudo “Harmonizar a melodia?! Um estudo crítico da política de Educação Cívica e Moral do sistema de educação não-superior”, assinado por Teresa Vong, docente e investigadora da instituição.
“Este é um estudo sobre a evolução da Educação Moral e Cívica”, começa por explicar ao HM, a docente e autora do estudo. “Existe um conflito entre a educação nacional e a Educação Moral e Cívica. Estamos a falar sobre o conceito de cidadania e a participação cívica. Esta participação parece ter, de alguma forma, um grande conflito com a proposta de educação nacional”, continua. ensino escolas alunos
Em conclusão, o estudo indica que “o aspecto controverso [da Educação Cívica] prende-se com a coesão social, por um lado, e, por outro, com a promoção de um cidadão activo, com pensamento crítico e [que tome parte no] debate público, em busca da democracia. Até agora, parece que o discurso de uma cidadania democrática activa e o de construção de uma nação são incompatíveis no contexto de Macau”.
A investigadora argumenta que o conceito de cidadania está a ser interpretado de forma “muito estrita, maioritariamente ligado ao patriotismo, ao cumprimento da lei e incluindo algumas virtudes tradicionais chinesas”, um entendimento que “não é suficiente para preparar os cidadãos para viverem num mundo mais vasto”.
Em Macau manifesta-se uma “tensão entre o discurso da cidadania activa e a consolidação nacional desejada pelo Governo de Macau, ou talvez do Governo Central”, lê-se no estudo. O conceito de Educação Cívica e Moral – materializado numa disciplina que em 2015 começou a ser implementada nas escolas – começou a ser promovido no período de transição de Administração do território de Portugal para a China e ganhou novo fôlego com o movimento pró-democracia de desobediência civil de Hong Kong, em 2014.

Vem de trás

Teresa Vong recorda que a Educação Cívica e Moral esteve sempre “politicamente carregada”: a administração portuguesa foi pouco intervencionista, levando as instituições privadas a comporem o mosaico escolar com elevada liberdade, de tal modo que a primeira Lei da Educação surge apenas em 1991, em consequência da assinatura da Declaração Conjunta, em 1987, que preparou a transição para a China.
Esta lei reconhece a importância do cultivo da cidadania, definindo que se deseja “desenvolver uma consciência cívica, através da transmissão da cultura de Macau, que é indispensável ao reforço e consolidação da sua identidade”.
A mesma lei refere o “desenvolvimento da democracia e do pluralismo”, a importância do “respeito pelos outros e pelas suas ideias”, com “abertura ao diálogo e à livre troca de pontos de vista de modo a cultivar os cidadãos a julgarem com espírito crítico e a participarem criativamente nos assuntos sociais”. alunos
Esta lei foi substituída em 2006, passando a afirmar que as escolas e governos têm a responsabilidade de “promover o carácter patriótico dos estudantes e o amor a Macau, as boas virtudes e o cumprimento da lei e disciplina”, entre outras características. “A identidade cultural chinesa torna-se o foco, enquanto as características de Macau se tornam periféricas”, aponta Vong.
Em 2014 e 2015 foi aprovada nova legislação que inclui a Educação Cívica no currículo escolar, com conteúdo específico e objectivos curriculares, tornando o conceito “mais estrito”.
“As acções são altamente focadas no fortalecimento do patriotismo e da coesão do Estado através da construção de uma identidade cultural chinesa. (…) O aspecto central desta governamentalização [da educação] é a ênfase extraordinária no patriotismo, na unidade e conformidade, que pode ensombrar a importância da democracia e da autonomia individual numa sociedade liberal”, lê-se no documento.

Pressão vizinha

O estudo afirma que o movimento Occupy Central, em Hong Kong, “gerou grande pressão para o reforço da educação nacional e patriótica em relação à juventude de Macau”, motivando mais de cinco centenas de artigos em 17 dias, grande parte alertando para os impactos negativos do movimento em Macau.
Em Outubro de 2014, a Associação de Educadores Chineses de Macau “enviou uma lista de orientações a professores para encaminharem os estudantes e reflectirem sobre o Movimento Occupy de Hong Kong de modo a evitarem influências negativas”.
Em Março de 2015, Li Gang, director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, sugeriu que, devido ao Occupy, era necessário reforçar a educação nacional em Macau, lembra Vong.
A investigadora conclui ser necessário “reescrever” o conceito de cidadania de modo a integrar Macau “na comunidade local, regional, internacional e global” mas admite: “Neste momento em que assistimos à harmonização de uma melodia, tudo o que ouvimos é uma peça colectiva e as vozes dos indivíduos são silenciadas”.

15 Jan 2016

Informática | Sistemas locais vulneráveis a ataques de hackers

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s sistemas de informação computorizada locais estão vulneráveis a eventuais ataques de hackers, explica um estudo publicado ontem pelo Centro Incubador de Novas Tecnologias de Macau.
De acordo com declarações do director-executivo do centro, Gilbert Chan, a vulnerabilidade deve-se ao facto de, no ano passado, “pelo menos 40% dos servidores” estarem desactualizados ou utilizarem “versões atrasadas”. Os responsáveis dos departamentos públicos e privados ainda têm “pouco conhecimento” sobre os perigos existentes, acrescentou. Além disso, existe o receio de que as actualizações necessárias comprometam o desempenho dos serviços.
“O sistema pode não aguentar a última versão. Acho que esta é uma das razões para as instituições não actualizarem os servidores”, explicou Gilbert Chan à Rádio Macau. Todos os serviços online precisam de um servidor web, responsável por gerir a informação transferida e que em muitos casos é privada. No entanto, só entre 6% a 10% dos orçamentos para a tecnologia de departamentos do Governo, bancos, operadoras de Jogo e outros serviços foram direccionados para esta área no ano passado. O Centro Incubador de Novas Tecnologias de Macau gere o Centro de Resposta e Emergência Informática, que recebeu cerca de 90 pedidos de assistência, no ano passado. Casos de phishing e de sotfwares que causam danos, alterações e roubo de informação, oriundos de Macau, países asiáticos e dos Estados Unidos, ocuparam 60 por cento das ocorrências. Gilbert Chan diz que, nos últimos anos, o número tem vindo sempre a crescer, acrescenta a rádio.

15 Jan 2016

Investimento estrangeiro subiu 5,6%

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] investimento directo estrangeiro (IDE) na China subiu 5,6% em 2015, face ao ano anterior, para 126,3 mil milhões de dólares, à medida que o sector dos serviços se expandiu, contrariando o abrandamento da economia chinesa. Os números, revelados ontem pelo Ministério do Comércio chinês, supõem uma expansão três vezes superior à alcançada em 2014 – 1,7%. O capital externo foi um elemento chave do trepidante crescimento da China nos últimos 30 anos – uma média anual de quase 10% – mas à medida que o país amadurece tornou-se também um importante emissor de investimento.

15 Jan 2016

Conselheiro de Estado diz que mundo pode viver nova crise

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] conselheiro de Estado chinês Yang Jiechi, o responsável máximo pelos Negócios Estrangeiros da China, advertiu ontem para a possibilidade de uma nova crise financeira global.
“Não é possível descartar por completo a possibilidade de vermos acontecer uma nova crise económica, e o problema não devia ser negligenciado”, afirmou Yang Jiechi. “Vivemos numa era de constantes mudanças e de intensas transformações”, apontou o diplomata, salientando que “as oportunidades não têm precedentes, mas os desafios também não”. Falando em Pequim num encontro preparatório da cimeira do G20, que vai ter lugar em Setembro na cidade de Hangzhou, no leste do país, Yang Jiechi recordou que os diferentes países e organizações têm trabalhado em conjunto para reforçar a confiança geral após a crise financeira global de 2008.

15 Jan 2016

Taiwan elege presidente para defender identidade e soberania

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] população de Taiwan deverá eleger no sábado, após anos de aproximação de Pequim, um presidente menos favorável à China, num escrutínio que simboliza a luta pela identidade e soberania da ilha em relação ao gigante asiático.
O principal partido da oposição, o Partido Democrático Progressista (PDP), e a dirigente, Tsai Ing-Wen, de 59 anos, vão ser os principais beneficiários da insatisfação popular e Tsai poderá tornar-se na primeira mulher na presidência da República da China, de acordo com as últimas sondagens.
As últimas sondagens atribuem a Tsai 40% dos votos, ou o dobro do que pode obter o candidato do KMT, Eric Chu, de 54 anos, presidente da Nova Taipé. size_810_16_9_eleicoes-em-taiwan
Um conservador “externo” está também na corrida presidencial: James Soong, de 72 anos, saído das fileiras do KMT e presidente de um movimento favorável a Pequim, o Partido Povo Primeiro.
Uma vitória de Tsai dará ao PDP a segunda presidência, depois dos dois mandatos de Chen Shui-Bian (2000-2008).
O PDP espera aproveitar a insatisfação dos eleitores para conquistar também e pela primeira vez a maioria dos 113 lugares do parlamento, nas legislativas que decorrem no mesmo dia.
Se vencer Tsai sucederá a Ma Ying-Jeou, membro do Kuomintang (KMT) e líder de uma política inédita de oito anos de aprofundamento dos laços com Pequim, que resultou, em Novembro, numa histórica cimeira bilateral entre Ma e o presidente chinês, Xi Jinping, 66 anos depois da violenta separação entre os dois lados do estreito.
A ilha é independente desde 1949, data em que os nacionalistas do KMT ali se refugiaram depois de terem sido derrotados pelos comunistas, que fundaram, no continente, a República Popular da China.
Pequim considera Taiwan parte da China, que deverá ser reunificada, se necessário pela força.

Com peso e medida

O degelo iniciado pelo KMT permitiu a assinatura de acordos comerciais e um aumento do turismo na ilha, mas muitos habitantes receiam que ao tornar o país economicamente dependente de Pequim, a ilha perca identidade e soberania, além de considerarem que esta política só beneficia as grandes empresas.
“Tenho medo de um governo entusiasta das relações com a China sem uma avaliação cuidadosa dos riscos”, disse Lee Yi-Chung, um empresário de Taiwan. “Não quero que Taiwan seja dirigido pela China”.
A oposição acusou regularmente o presidente cessante de ter vendido a ilha, em segredo, à China. Em 2014, o parlamento foi ocupado por manifestantes em protesto contra um acordo comercial que alegaram ter sido negociado em segredo.
Para Lee Shiao-Feng, professor na universidade nacional de Educação de Taipé, a população receia que a ilha seja um dia “engolida” por Pequim. “Eles querem dizer ‘não’ à China. Os estudos mostram que cada vez mais pessoas, mesmo os continentais de segunda ou terceira geração, consideram-se de Taiwan e não chineses”.
Tsai afirmou que a ilha deve voltar as costas à dependência económica de Pequim e prometeu que ouvirá a opinião pública relativamente às relações bilaterais.
Sinal de pragmatismo, a candidata teve o cuidado de sublinhar que o “status quo” será mantido, moderando consideravelmente o discurso tradicionalmente independentista do PDP.
O objectivo é tranquilizar Pequim, mas também os Estados Unidos, principal aliado de Taipé, que querem manter a estabilidade na região. Por outro lado, a grande maioria dos eleitores também quer a paz.
Pequim já advertiu que não negociará com um dirigente que não reconheça o princípio de que Taiwan faz parte “de uma única China”.
Este consenso táctico, concluído em 1992 entre os dois lados, determina a existência de “uma única China”, deixando a cada parte a interpretação deste princípio.

Arrefecimento local

Diversos especialistas consideraram que a China não pretende alienar Taiwan, caso Tsai vença as eleições, dado que o objectivo final é a reunificação.
“Pelo menos durante o primeiro ano, Pequim vai avançar com gestos de conciliação”, afirmou Willy Lam, professor do centro de Estudos Chineses da universidade chinesa de Hong Kong.
Mas “se após dois ou três anos, o governo continuar a mostrar sinais de indiferença em relação ao diálogo político, é possível que Pequim endureça a sua posição”, acrescentou.
“As relações vão arrefecer”, previu Steve Tsang, professor de Estudos sobre a China contemporânea na universidade de Nottingham (Reino Unido). “Tsai não fará nada, nem dirá algo para provocar Pequim, mas Pequim não confia nela” ou no PDP, disse.
Durante o percurso da China em direcção à posição dominante que ocupa agora no mundo, Taiwan foi sendo progressivamente marginalizada na cena diplomática, sendo apenas oficialmente reconhecida por 22 países.
A ilha mantém laços informais com os Estados Unidos.

15 Jan 2016

Hong Kong | CY Leung promete banir comércio de marfim

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] chefe do Executivo de Hong Kong comprometeu-se a iniciar o processo legislativo para banir a importação e exportação de troféus de elefante, e a avançar, em breve, para legislação que proíba totalmente a sua comercialização.
“Hong Kong está a ser visto pela comunidade internacional como um centro de comércio ilegal de marfim. Isto denegriu a reputação da cidade”, disse Leung Chun-ying na quarta-feira, durante a apresentação das suas Linhas de Acção Governativa para2016, citado ontem pelo jornal South China Morning Post.
“[O Governo] vai dar início ao processo legislativo assim que possível, de modo a banir a importação e exportação de troféus de caça de elefantes, e vai activamente explorar outras medidas apropriadas, como avançar com legislação para banir a importação e exportação de marfim e eliminar gradualmente o comércio local de marfim, e impor sanções mais pesadas ao tráfico e comércio ilegal de espécies ameaçadas”, afirmou CY Leung. 400x295xcy-leung1.jpg,qdcff27.pagespeed.ic.QziVDBYvnZ
Uma proibição global do comércio de marfim, abrangendo Hong Kong, foi implementada em 1989, sendo autorizada a comercialização de uma quantidade muito reduzida de presas. No entanto, muitas organizações têm alertado que estas presas pré-1989 foram usadas para esconder o contrabando de marfim nos últimos anos, lembra o jornal.

Bons conselhos

O anúncio do chefe do Executivo de Hong Kong surgiu um mês depois de os deputados da região chinesa com administração especial terem aprovado uma moção, não vinculativa, que instava o Governo a avançar com leis contra o tráfico de presas de elefante e de outras espécies ameaçadas.
“A história mostrou-nos que a venda legal de marfim apenas serve para ajudar a esconder o comércio ilegal, que alimenta a caça desenfreada a que assistimos em África. Hong Kong sempre foi o epicentro desse comércio”, disse o director executivo do grupo WildAid, Peter Knights.
Apesar dos aplausos dos grupos de conservação, o anúncio de CY Leung foi classificado como “ridículo” pelos joalheiros e esculpidores que continuam a vender produtos de marfim. Um dos entrevistados pelo diário acusou mesmo o Governo de querer levar o seu negócio “à extinção”.
“Há 20 anos que o nosso negócio é afectado. Já nem trabalhamos assim tanto com marfim”, queixou-se Daniel Chan, considerando a medida “ridícula”.
O comerciante afirmou que se o Governo realmente avançar com a proibição, terá de compensar as lojas, os esculpidores e os comerciantes. Segundo Chan, a sua empresa ainda tem reservas de marfim compradas há mais de 20 anos.
“Falam sobre a caça aos elefantes, mas quantos é que nós matámos? Nos é que nos estamos a extinguir (…) Não há novas pessoas a juntarem-se à indústria e as antigas estão a reformar-se”, apontou.

15 Jan 2016

K’ang-Hsi, imperador da China, revela segredo do sucesso da sua governação

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hegou ao poder muito novo e há quem diga que existiram vários sinais que previam a sua coroação e reinado. Quer dizer aos leitores de Macau algo sobre isto?
O meu nascimento foi tudo menos miraculoso – nada de extraordinário aconteceu enquanto cresci. Cheguei ao trono com oito anos. Nunca permiti que se falasse de influências sobrenaturais do género das que se encontram registadas nas Histórias: estrelas da sorte, nuvens auspiciosas, unicórnios e fénixes, a erva chih e outras bênçãos, ou queimar pérolas e jade em frente do palácio, ou livros celestes enviados para manifestar a vontade do Céu. Tudo isto não passam de palavras vãs e não posso ir tão longe nas minha presunção. Limito-me a viver cada dia de uma forma normal concentrando-me em governar bem.

É fácil, durante toda a vida, exercer constantemente o poder?
Dar e tirar a vida. São esses os poderes do imperador. Ele sabe que os erros dos funcionários administrativos em departamentos do governo podem ser rectificados mas que um criminoso que foi executado não pode ser ressuscitado. Assim como uma corda cortada não pode de novo ser unida. Sabe, também, que por vezes as pessoas têm de ser chamadas à moralidade através do exemplo de uma execução. Em 1683, depois da captura de Taiwan, discuti com os sábios da corte a imagem do 56º hexagrama do Livro das Mutações, “Fogo na Montanha”. A calma da montanha significa o cuidado que se deve por na imposição de penas; o fogo move-se rapidamente, queimando a erva, tal como os processos, que devem ser resolvidos com celeridade. A minha leitura é que um regente necessita ao mesmo tempo de clarividência e cuidado no castigar. A sua intenção deverá ser castigar de forma a evitar a necessidade de mais castigo.

Kangxi_Emperor2No seu tempo a corrupção era um problema. Quer falar-nos de alguns casos mais relevantes?
Hu Chien-ching era um subdirector do Tribunal de Adoração Sacrificial cuja família aterrorizava a sua região natal em Kiangsu, apoderando-se de terras, mulheres e filhas alheias e assassinando pessoas depois de as acusar falsamente de roubo. Quando finalmente um cidadão vulgar conseguiu demonstrar a sua culpa, o Governador considerou o caso longamente e o Conselho de Castigos recomendou que Hu fosse demitido e exilado por três anos. Eu, por outro lado, ordenei a sua execução, com o resto da família, na sua terra natal para que todos pudessem observar a minha visão de tal comportamento. O cabo Yambu foi condenado à morte por alta corrupção nos estaleiros navais; não só concordei com a pena como enviei o oficial da guarda Uge para supervisionar a decapitação, ordenando que todo o pessoal dos estaleiros, dos generais ao mais baixo soldado, se ajoelhasse em armadura completa e ouvisse o meu aviso de que o seu destino seria a execução se não pusessem fim à sua perfídia.

Mas a pena de morte… Hoje em dia há quem seja contra…
Em tempo de guerra deve haver execuções para castigar a cobardia ou a desobediência. A penal capital da morte lenta deve ser aplicada em casos de traição, tal como o Código Legal determina.

Está então à vontade quando envia um homem para a morte?
De entre as coisas que considero desagradáveis, nenhuma outra é pior do que dar o veredicto final sobre as sentenças de morte que me são enviadas para ratificação depois das sessões de Outono. Os relatórios de julgamento devem ser todos verificados pelos Secretários Superiores, no entanto, encontram-se ainda erros de caligrafia, ou mesmo passagens inteiras incorrectamente escritas. Isto é indesculpável quando se lida com a vida e a morte. Apesar de, naturalmente, me ser impossível examinar cada caso em pormenor, tenho, ainda assim, o hábito de ler as listas no palácio todos os anos, verificando o nome, registo e estatuto de cada homem condenado à morte e a razão por que lhe foi aplicada tal pena. Depois, verifico de novo a lista na sala de audiências com os Secretários Superiores e o seu pessoal, decidindo quais podem ser poupados.

Quando julga alguém, que princípios aplica?
É um bom princípio procurar sempre os aspectos bons de uma pessoa ignorando os maus. Quando se suspeita constantemente das pessoas estas acabam por suspeitar de nós.

Mesmo quando se trata de Chineses (han)?
Tentei ser imparcial entre Manchu e Chineses, não os separando nos julgamentos.

Mas confiava plenamente nos seus oficiais chineses?
Avisaram-me para não nomear o Almirante Shih Lang para liderar a campanha contra Taiwan por ter servido antes a Dinastia Ming e tambémo rebelde Coxinga e, logo, poder revoltar-se se lhe desse navios e tropas. Mas uma vez que os restantes almirantes Chineses asseguravam que Taiwan nunca seria tomada, chamei Shih Lang para uma audiência e disse-lhe pessoalmente: “Na corte dizem que te revoltarás quando chegares a Taiwan. É minha opinião que enquanto não fores enviado a Taiwan a ilha não será pacificada. Não te revoltarás, garanto-te.” Shih Lang capturou Taiwan num ápice e provou ser um oficial leal. Apesar de arrogante e desprovido de instrução, compensou esses defeitos pela prontidão e ferocidade das suas capacidades militares. Os seus dois filhos têm-me servido com distinção.

Qual a sua visão sobre a queda da dinastia Ming?
Passaram-se coisas absurdas durante os Ming: quando, no fim da dinastia, o Imperador Ch’ung-chen aprendeu a montar tinha dois homens para segurarem o freio, dois para os estribos e dois para o arreio de garupa – mesmo assim caiu mandando aplicar quarenta chicotadas ao cavalo e enviando-o para trabalhos forçados num posto militar. Do mesmo modo, quando uma pedra para ser usada na construção do palácio não passava na Porta Wu-men, Ch’ung-chen mandava aplicar-lhe sessenta chicotadas.

Alguma loucura… mas os seus ritos imperiais também exageram…
O imperador tem de suportar o elogio com que o cobrem e que enche os seus ouvidos e que não lhe é de melhor uso do que a chamada “medicina-restaurativa”. Essas banalidades evasivas asseguram o mesmo sustento que a pastelaria fina e rapidamente se tornam enjoativas.

A balofice, pelos vistos, não funciona consigo. E exageros intelectuais também não.
Se desejar, conhecer algo tem de o observar ou experimentar em pessoa. Se afirma conhecer algo com base em ouvir dizer, ou por o descobrir num livro, será motivo de riso para aqueles que realmente conhecem. Demasiadas pessoas afirmam conhecer as coisas quando, na verdade, nada sabem acerca delas. Desde a minha infância tenho procurado descobrir as coisas por mim mesmo em vez de fingir possuir conhecimento quando ignorante. Sempre que me encontrava com pessoas mais velhas inquiria acerca das suas experiências e recordava o que me diziam. Mantenha uma mente aberta e aprenderá coisas. Perderá as boas qualidades dos outros se apenas se concentrar nas suas próprias capacidades.

Para si, a experiência parece ser fundamental.
A nossa ideia de princípio deriva mais da experiência do que do estudo, embora devamos dedicar a mesma atenção a ambos. Afinal, muitas pessoas chamam antiguidades a velhos recipientes de porcelana mas se pensarmos em recipientes do ponto de vista do princípio sabemos que foram a dada altura feitos para ser usados. Apenas no presente nos parecem gastos e impróprios para deles bebermos e, por fim, acabamos por colocá-los nas nossas secretárias ou prateleiras, contemplando-os de quando em vez. Por outro lado, podemos alterar a função de um objecto e, portanto, alterar a sua natureza. Como fiz ao converter uma espada inoxidável que os Holandeses certa vez me ofereceram numa régua que mantinha sobre a minha secretária. Tal como o Jesuíta António Tomás observou, tratou-se de converter algo que transmitia medo em algo que proporcionava prazer. O raro pode tornar-se comum, como acontece com os leões e animais que os embaixadores estrangeiros gostam de nos oferecer e a que os meus filhos se acostumaram. Na guerra é a experiência da acção que conta. Os chamados Sete Clássicos Militares estão recheados de disparates sobre água e fogo, presságios e conselhos sobre o tempo, todos aleatórios e em contradição. Disse uma vez aos meus oficiais que quem seguisse estes livros nunca ganharia uma batalha.

Kangxi_EmperorFalou de um jesuíta. Vários frequentaram a sua corte. Aprendeu muito com eles, sobretudo na Matemática e Astronomia?
Apesar dos métodos Ocidentais serem diferentes dos nossos, podendo mesmo ser vistos como um seu melhoramento, há neles pouco de inovador. Os princípios da Matemática derivam todos do Livro das Mutações e os métodos Ocidentais são de origem Chinesa: a Álgebra – “A-erh-chu-pa-erh”– nasce de uma palavra Oriental.

Claro, tudo tem origem na China… Mas esses jesuítas tentavam conhecer a cultura chinesa.
Nenhum dos Ocidentais está realmente à vontade com a literatura chinesa – à excepção talvez do Jesuíta Bouvet, que leu muito e desenvolveu a capacidade de conduzir um estudo sério do Livro das Mutações. Muitas vezes não conseguimos impedir sorrir quando eles iniciam uma discussão. Como podem falar acerca “dos grandes princípios da China”? Por vezes, agem erroneamente por não estarem acostumados aos nossos hábitos, outras vezes são induzidos em erro por Chineses ignorantes – o enviado papal, de Tournon, usava caracteres mal escritos nos seus memorandos, empregava frases impróprias e assim em diante.

Estou a ver que ainda não esqueceu a Questão dos Ritos, na qual discordou com o Cardeal de Tournon.
Sobre a questão dos Ritos Chineses que podiam ser praticados pelos missionários Ocidentais, de Tournon recusou-se a falar, embora lhe tivesse enviado mensagens repetidamente. Concordei com a fórmula que os padres de Pequim estabeleceram em 1700: que Confúcio era honrado pelos Chineses como um mestre mas que o seu nome não era invocado em oração com o propósito de obter felicidade, promoções ou riqueza; que o culto dos antepassados era uma expressão de amor e recordação filial, cuja intenção não era obter protecção para o autor do culto e de que não havia a ideia de que ao erguer uma tábua ao antepassado a sua alma nela residia. Quando eram oferecidos sacrifícios aos Céus estes não eram endereçados ao céu azul, mas sim ao senhor e criador de todas as coisas. Se de Tournon não respondeu, o Bispo Maigrot fê-lo dizendo-me que o Céu é uma coisa material e não devia ser adorada e que se devia apenas invocar o nome de “Senhor do Céu” para mostrar a reverência apropriada. Maigrot não era somente ignorante da literatura Chinesa: não conseguia sequer reconhecer os mais simples caracteres chineses. No entanto, decidiu discutir a falsidade do sistema moral Chinês.

O Papa queria impor-lhe um representante, não é verdade?
Não compreendo o que quereis dizer com ‘um homem da confiança do Papa’. Na China, ao escolhermos pessoas não fazemos tais distinções. Alguns estão próximos do meu trono, outros a meia distância e outros mais longe. Mas a qual deles poderia confiar qualquer incumbência se houvesse a mais pequena falha da devida lealdade? Quem de entre vós se atreveria a enganar o Papa? A vossa religião proíbe-vos de mentir, aquele que mente ofende a Deus. O enviado respondeu: “Os missionários que aqui habitam são homens honestos, mas falta-lhes o conhecimento interno da Corte Papal. Muitos enviados de outros países convergem para Roma, sendo experientes em negociações e, por isso, preferíveis aos que aqui se encontram.” Então disse-lhe: “Se o Papa mandasse um homem de conduta impecável e dons espirituais tão excelentes quanto os dos Ocidentais que aqui estão agora, um homem que não interferisse com os outros ou os tentasse dominar, ele seria recebido com a mesma hospitalidade que os outros. Mas se dermos a um tal homem poder sobre os outros, como haveis solicitado, haverão muitas e sérias dificuldades. Encontrastes aqui Ocidentais que passaram quarenta anos connosco e, se mesmo esses ainda não têm um conhecimento perfeito dos assuntos imperiais, como poderia alguém tão recentemente transplantado do Ocidente fazer melhor? Ser-me-ia impossível dar-me com ele como me dou com estes. Precisaria de um intérprete, o que implica desconfiança e embaraço. Um tal homem nunca estaria livre de erro e, se fosse nomeado líder de todos, teria de suportar qualquer culpa incorrida pelos restantes e pagar o preço de acordo com os nossos costumes.”

A verdade é que Vossa Excelência nunca foi convertido ao catolicismo.
As suas palavras não eram diferentes dos mais tresloucados ou impróprios ensinamentos de Budistas e Taoístas, porque deveriam ser tratados de forma diferente?

Então se não acredita no Deus cristão, pelo menos acredita no destino?
O destino surge das nossas mentes e a nossa felicidade é procurada em nós mesmos. Daí serem feitas previsões a partir do curso dos planetas acerca do casamento e da fortuna, descendentes, carreira e o passar dos anos – no entanto, estas previsões não chegam muitas vezes a realizar-se na experiência posterior. E isto porque se não desempenharmos o nosso papel humano não poderemos compreender o caminho do Céu. Se o astrólogo diz que serás bem sucedido, poderás então dizer: “Estou destinado a sair-me bem e posso dispensar os estudos?” Se aquele afirma que enriquecerás, poderás sentar-te e aguardar a riqueza? Se te oferece uma vida livre de desgraça, poderás ser temerário? Ou ser debochado sem risco apenas por que diz que viverás muito e em saúde?

il_570xN.758050173_12idComo encara o seu reinado?
Estou a aproximar-me dos setenta e os meus filhos, netos e bisnetos são mais de 150. O país está relativamente em paz e o mundo está em paz. Mesmo que não tenhamos melhorado todas as maneiras e costumes e tornado toda a gente próspera e feliz, trabalhei com incessante diligência e intensa vigilância, nunca descansando, nunca ocioso. Durante décadas exauri todas as minhas forças, dia após dia. Como poderia tudo isso ser resumido numa frase de duas palavras como “trabalho árduo”?

Deixa uma extraordinária herança. Qual foi o seu segredo?
Todos os Antigos costumavam dizer que o Imperador se devia preocupar com princípios gerais mas que não devia lidar com pormenores. Não posso concordar com isto. O tratamento descuidado de um assunto pode trazer consequências nefastas ao mundo inteiro, um momento de distracção pode causar danos a todas as gerações futuras. A falta de atenção aos pormenores acabará por colocar em risco as nossas maiores virtudes. Por isso dedico sempre a maior atenção aos pormenores. Por exemplo, se negligenciar alguns assuntos hoje e os deixar por resolver, amanhã existirão mais assuntos para resolver.

Está portanto satisfeito com o seu desempenho?
Desfrutei a veneração do meu país e as riquezas do mundo. Não há objecto que não possua, nada que não tenha experimentado. Mas agora que atingi a velhice não consigo parar nem um momento. Por isso, considero o país como um sandália usada e todas as riquezas como lama e areia. Se morrer sem que tenha havido uma erupção de distúrbios, os meus desejos terão sido satisfeitos. Desejo que todos vós oficiais se recordem que fui o Filho do Céu portador da paz por mais de 50 anos e o que vos repeti, vez após vez, foi realmente sincero. Então, isso terá completado um fim digno da minha vida. Nada mais direi.

Na próxima segunda-feira, a Livros do Meio lança “Imperador da China – Autobiografia de K’ang-Hsi”, na Fundação Rui Cunha, pelas 18h30. A apresentação da obra será feita por Carlos Morais José.

15 Jan 2016

Entrevista | Wang Yue, campeão olímpico de Xadrez

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap] este o vaticínio do Grande Mestre Wang Yue em entrevista que teve a simpatia de nos conceder durante a estadia em Macau este fim-de-semana da selecção chinesa de xadrez, actual campeã olímpica e actual campeã mundial de selecções, pela primeira vez, em ambos os casos, na sua história. Foi logo no princípio desta entrevista, ou desta conversa, que Wang Yue surpreendeu pela convicção com que o disse e sem rodeios. Num ambiente relaxado, falamos um pouco de filmes, livros e computadores, do espírito de Macau e do espírito da China, de sonhos – alguns tornados realidade -, do ensino … tudo, claro, à volta do xadrez. Mas o melhor é saborearmos, então, as ideias e discurso deste digno representante da selecção chinesa de xadrez.

Em primeiro lugar, os nossos agradecimentos pela entrevista, apesar de estar muito ocupado com um calendário preenchido aqui em Macau. Quais são as suas impressões acerca do xadrez que tem encontrado em Macau?
Muito positivas. As bases e as fundações do xadrez são melhores em Macau, porque aqui há uma tradição portuguesa e europeia que vem da história de Macau e nota-se que essa diferença atrai mais pessoas para o xadrez do que na China.

Ainda ontem cada um de vocês defrontou ao mesmo tempo 40 jogadores de Macau, numa simultânea no Pavilhão do Tap Seac? Gostaram?
Muito. Grande participação, muitas crianças com os pais, centenas de espectadores, é isso que eu digo: em Macau o xadrez é cada vez mais popular e bem apoiado podemos ver resultados importantes a médio-prazo. Wang Yue

Mas vocês ganharam as 160 partidas, nem sequer um empate para os jogadores de Macau.
É preciso ver que só podiam participar na simultânea jogadores com um “rating” abaixo dos 1800 pontos Elo (nota: sistema similar ao ATP do ténis. Wang Yue tem 2718 pontos), já que se destinava sobretudo às crianças e a promover o interesse pelo xadrez.

E na China há mais o gosto pelo xadrez chinês, o Qianxi?
Sim, sim, entre a população da China conhece-se, pratica-se e dá-se mais atenção ao Qianxi.

Mas vocês recebem apoio do Governo?
Sim, mas mais ao nível da alta competição como no caso das Olimpíadas e do Campeonato Mundial por equipas. A nível de difusão e apoio da aprendizagem do xadrez ainda se está num nível pouco estruturado, pouco generalizado. Em Macau há um maior apoio do Governo com projectos para as escolas e contratação de treinadores, por exemplo da Finlândia e, claro, da China continental. Macau terá o seu próprio Mestre Internacional ou mesmo Grande Mestre dentro dos próximos dez anos, de certeza.

Parabéns pelas vitórias nas olimpíadas e no campeonato mundial de equipas por Países. Penso que até chorou de alegria quando ganhou as olimpíadas. Qual foi o significado para si deste feito histórico batendo equipas de Países onde o xadrez tem grande implantação e patrocínios, tal como a Rússia ou os EUA?
É verdade. Chorei de alegria quando recebemos a medalha de ouro. Era um sonho, um sonho que se tornou realidade. Por outro lado, nas Olimpíadas de 2014 o rating individual dos jogadores chineses não era na altura muito alto, não éramos favoritos; mas eles, nós, soubemos jogar como uma verdadeira equipa. Talvez seja algo como um estilo chinês, o espírito chinês, este saber sermos uma equipa.

Acha que estes bons resultados podem chamar atrair mais apoio do Governo e mais atenção da população chinesa para o xadrez?
Sim, estes resultados vão atrair mais e mais apoios e interesse pelo xadrez. Por exemplo, no meu clube já há muito mais crianças, muito mais jogadores do que antes.

O seu amigo Li Chao, outro grande nome do xadrez, treina crianças. Ele disse numa entrevista que, para ele, os seus estudantes eram família. Para si também?
Sim. Eles são muito acarinhados e através do ensino e da aprendizagem eles e nós próprios evoluímos como xadrezistas e como pessoas. Como acontecia, por exemplo, a Escola de Botwinnik na ex-União Soviética em Leninegrado. Ele próprio evoluía. Sei que quando ensinamos também aprendemos, todos nós evoluímos, como xadrezistas e como pessoas.

Li Chao disse que sonhava que um dia um dos estudantes da vossa escola fosse campeão mundial individual. Acha isso possível?
O nosso clube já tem alguns Mestres Internacionais e Grandes Mestres. Se algum deles poderá vir ser o Campeão do Mundo e quando concretamente é sempre difícil de saber. Por ora, a minha tarefa é formar bons jogadores e esperar que os meus discípulos, pelo menos, me ultrapassem. O importante é dar um passo de cada vez, sempre a melhorar, e um dia, no futuro, talvez…

Alguma comunicação social fala nos seus dois colegas de equipa mais novos, Yu Yangyi (20 anos) e Wey Yi (17 anos) como possíveis candidatos ao título de campeão do mundo, acha possível que isso venha a acontecer com eles ou consigo, ou com outro colega de equipa?
Ainda há uma certa distância entre eles e Magnus Carlsen (nota: Magnus Carlsen, 24 anos, é Campeão do Mundo desde há 3 anos). Na verdade, Magnus é muito, muito forte e ainda é muito novo. Wey Yi e Yu Yangyi são excelentes jogadores. Cada um tem o seu estilo – é muito importante que um jogador tenha o seu próprio estilo -, diferente estilo, tal como Topalov (um ex-campeão do mundo com um estilo de jogo agressivo) e Carlsen (um estilo mais posicional), e isso (ter o seu próprio estilo) já diminui essa certa distância.

O Grande Mestre Wang Yue tem um estilo calmo e posicional e foi assim que há pouco tempo derrotou os seus compatriotas no Grande Torneio de Danzhou, no passado mês de Abril. Acha que é nesse ponto que eles devem melhorar?
Muitos famosos Grandes Mestres, como Kasparov (o mais famoso ex-campeão do mundo da contemporaneidade), são mais tácticos no início e depois evoluem para um xadrez mais posicional, é uma evolução natural, por isso, não é bem esse o ponto a melhorar. Actualmente, aquilo em que estamos a trabalhar é mais no problema que temos e que é muito triste para nós, que é o de sermos muito mais fracos nas partidas rápidas (partidas com cerca de 30 minutos apenas para cada jogador) e nas partidas Blitz (partidas entre 3 a 5 minutos para cada jogador). Sobretudo, nestas últimas a diferença entre o nosso “rating” neste tipo de partidas e o nosso “rating” nas partidas clássicas é muito grande e há muitos torneios em sistema de “knock-out”, onde a passagem à eliminatória acaba por ser desempatada nas partidas Blitz. Temos sofrido amargas experiências por causa deste nosso ponto muito fraco. Os jogadores estrangeiros jogam dez vezes mais partidas Blitz do que nós e é a este ponto que agora temos vindo a dedicar mais atenção nos treinos, tentando melhorá-lo.

Quantas horas mais ou menos treina por dia?
Cerca de 8 horas.

Mas então como é que podia ter mais tempo para treinar jogado partidas Blitz?
Normalmente, estudávamos aberturas, analisávamos partidas e pouco nos preocupávamos com as partidas Blitz. Mas agora mudámos esta preparação porque temos mesmo que melhorar nas partidas rápidas e sobretudo nas partidas Blitz, onde estamos muito abaixo do nível a que estamos nas partidas clássicas, que podem durar várias horas. Quando digo dedicarmos mais tempo, digo mudar este tipo de treino e concentrarmo-nos mais em melhorar o nosso nível de partidas Blitz.

E usa computadores?
Hoje em dia todos temos de usar computadores, especialmente para o estudo das aberturas, certas posições e finais de partidas. Também podemos encontrar facilmente todas as partidas do nosso próximo adversário num torneio nas bases de dados desses computadores. Eu, pessoalmente, também uso, tenho que usar, mas ainda prefiro os livros. Não gosto do computador, mas preciso do computador.

E a nova geração, por exemplo Wei Yi, ainda estuda lendo os grandes clássicos do xadrez?
Acho que não, muito raramente. Estudam quase só através dos computadores.

Acha que ainda é possível um ser humano, por exemplo o campeão mundial, ganhar ao mais forte programa de xadrez? O seu amigo Li Chao, naquela entrevista que referi há pouco, acha que, infelizmente, um humano já não tem qualquer hipótese contra um computador.
Não acho impossível. Em certas posições o computador é muito estúpido. Não as compreende porque privilegia o material, quando por vezes a partida pode estar empatada ou perdida para quem tem material a mais.

Mas então porquê que há mais de 10 anos que nenhum campeão mundial aceita o repto de defrontar o mais forte computador? Acha que, por exemplo, Magnus Carlsen, conseguiria derrotar um computador?
Depende. Acho que se o match for de duas ou poucas partidas, o computador deve ganhar, mas se for um match mais longo, de 10 ou 20 partidas, Carlsen pode ganhar.

Mas num match longo o representante dos humanos vai ficando cada vez mais cansado, ao passo que o computador nunca se cansa!?
É que o computador faz sempre as mesmas jogadas e num match longo pode estudar-se e analisar essas jogadas e acabar por conseguir superar o computador. Nós podemos mudar a abertura, aquele ou o outro lance e ir mudando tudo ao longo do match mas o computador continua sempre a fazer o mesmo tipo de jogadas. Por isso, acho que num match longo a raça humana talvez tenha algumas chances de derrotar a máquina.

E qual é o programa de xadrez que usa e qual é o seu jogador preferido de todos os tempos?
Programa de xadrez, uso o “Stockfish”, agora, qual é o meu jogador preferido de todos os tempos é difícil, há vários. Do tipo de jogo gosto muito de Capablanca e de Kramnik. Capablanca era um génio. E os livros de Capablanca são os mais simples de compreender. Quando ensino xadrez aos meus estudantes, se lhes apresento uma partida de Carlsen eles não a conseguem compreender, mas se for uma de Capabalnca eles percebem, o plano é claro, as jogadas são fáceis de perceber (Capablanca, cubano, foi campeão mundial de xadrez entre 1921 e 1927 e detém, até hoje, o recorde de 8 anos consecutivos sem perder uma partida).

E quem são, para si, os jogadores mais fortes da actualidade?
Carlsen. Anand também é muito forte (Anand perdeu o seu título mundial para Carlsen em 2013).

Num filme de Wolgang Peterson inspirado no xadrez (“Black and white, like day and night”), o campeão mundial diz que o xadrez é “a subtileza de transformar a matemática em arte”. Um conhecido treinador de xadrez na China disse uma vez que de todos os jogadores chineses o Grande Mestre Wang Yue era aquele que melhor compreendia o que era o xadrez. Para si, afinal, o que é o xadrez?
O xadrez é uma fonte de felicidade. Para muitos jogadores profissionais, como Kramnik, o xadrez é principalmente análise, estudo com um computador, transposição dos movimentos e lances para o tabuleiro, adaptados para as partidas, o xadrez é sobretudo uma ciência. Mas, para mim, não é sobretudo uma ciência, mas uma arte e um meio de comunicação. Apreciar o jogo é mais importante do que o torneio.

Naquele filme, o protagonista preferia morrer ou matar a perder uma partida. É mesmo assim? O quê que sente quando perde uma partida num torneio?
Sinto-me mesmo muito mal. Fico zangado. Mas comigo próprio, não com o meu adversário. WY chora de alegria

E o que é que faz para recuperar psicologicamente? Alguns jogadores tentam esquecer vendo filmes, como o seu colega de equipa Li Chao disse naquela entrevista a que me referi antes.
Tento compreender porque é que perdi. Analiso a partida e o meu jogo para que isso não volte a acontecer.

Um outro grande Campeão do Mundo, precisamente aquele que tirou o título a Capablanca, Alexander Alekhine, que por sinal viveu exilado em Portugal onde morreu, disse, numa entrevista à BBC que, na sua opinião, para se ser um jogador de xadrez de topo, não bastava o trabalho árduo ou uma memória prodigiosa. “Tal como um pintor ou um músico, o xadrezista de topo tinha que possuir algo de inato”, que nasceu com ele e que os outros não têm. Concorda com esta opinião? Não é possível a qualquer pessoa medianamente inteligente, com excelente memória, bons nervos e grande capacidade de trabalho, ser um xadrezista de topo?
Acho que sim, que também é preciso um talento natural, com que se nasce. Para além de muito trabalho e capacidade de memorização.

E é muito difícil encontrar esses talentos?
Sim, mas é possível preparar o aparecimento desses talentos e quando se descobrem, despertá-los e proporcionar-lhes boas condições de desenvolvimento, como xadrezistas e como pessoas.

Podem aparecer em Macau?
Podem aparecer em qualquer lugar. Podem perfeitamente aparecer em Macau, onde já se encetou um bom caminho e existem boas condições para o ensino e para a prática do xadrez.

Uma última pergunta: Disse que apreciava muito Capablanca. Há também uma curta-metragem de 1925 onde aparece Capablanca em carne e osso (“Chess Fever”, de Vsevolod Pudovkin). Nesse filme, Capablanca passeava por Moscovo durante uma pausa num torneio de xadrez, quando viu uma bonita jovem moscovita infeliz e a chorar. Capablanca, conhecido pela sua gentileza, aproximou-se e perguntou-lhe porque chorava. O noivo dela tinha ficado obcecado pelo xadrez e nada mais o interessava, tendo-se esquecido do seu próprio casamento. Capablanca promete ajudá-la. Visita o marido e convence-o a desistir do xadrez pelo amor da jovem. Se se visse na mesma situação de Capablanca, o quê que fazia?
Aconselhava-a a aprender a jogar xadrez (risos).

Muito obrigado e espero que gostem da visita que vão agora fazer a algumas escolas de Macau e da vossa estadia em Macau. Agradecia que enviasse o nosso apoio, daqui de Macau, ao jovem Grande Mestre Yu Yangyi, que vai participar num dos mais foretes e prestigiados torneios de xadrez do circuito anual, o “Tata Steel Tournament”, na Holanda, entre 16 e 31 de Janeiro, pela primeira vez. Por cá, fica a promessa de divulgarmos o torneio e analisarmos as melhores partidas à medida que se for desenrolando. Boa sorte.

Muito obrigado, em nome de toda a nossa equipa, pela atenção e pelo apoio.

Perfil:

Wang Yue ( 王玥; nascido a 31 de Março de 1987) tornou-se, em 2004, no 18º GM chinês com a idade de 17 anos. De Março a Dezembro de 2008, Wang Yue esteve 85 jogos consecutivos sem uma derrota, um feito histórico. Foi também o primeiro jogador chinês a entrar no top 10 do xadrez mundial, o que aconteceu em Janeiro de 2010. Foi o tabuleiro nº 1 da selecção olímpica chinesa que ganhou a medalha de ouro em 2014.
Wang é actualmente um estudante de “Estudos de Comunicação” na Faculdade de Artes Liberais da Universidade de Nankai em Tianjin. Fundou uma Escola e um clube com o seu amigo Li Chao, também Grande-Mestre, focada no ensino e prática do xadrez dirigidos principalmente às crianças.

De João Valle Roxo

15 Jan 2016

Jacarta | Explosões fazem sete mortos. Polícia acusa EI

[dropcap style ‘circle’]P[/dropcap]elo menos sete pessoas morreram em seis explosões e ataques armados que atingiram o centro de Jacarta, capital da Indonésia, na manhã desta quinta-feira. Três homens-bomba detonaram os explosivos dentro da cafeteria Starbucks, enquanto outros atiraram contra um posto da policia.
As autoridades informaram que três terroristas foram mortos e outros quatro foram detidos e confirmou que os autores dos ataques tinham ligações com terroristas do grupo Estado Islâmico na Síria.
Os ataques atingiram um centro popular de compras e de turistas em Jacarta, localizado perto de instalações importantes do governo. De acordo com a polícia, cinco terroristas e dois civis foram mortos.
Outras três explosões ocorreram em diferentes partes da cidade. Além dos homens-bomba, pelo menos um policia foi morto na sequência de ataques.

Ligações fatais

De acordo com o vice-chefe da Polícia Nacional, Budi Gunawan, os terroristas faziam parte de um grupo da cidade de Surakarta, também conhecida como Solo, que fica na ilha de Java, na Indonésia, e que tinham contacto com terroristas na Síria.
“Detectamos comunicações entre um grupo sírio e o grupo em Solo”, disse Gunawan, acrescentando que o grupo indonésio tinha planeado ataques na véspera de Ano Novo antes de a polícia prender nove membros do grupo no mês passado.
Segundo Gunawan, o grupo em Solo era chefiado por um homem de apelido de Abu Jundi, que está entre os que foram presos no mês passado.
Ao todo, seis explosões foram ouvidas, incluindo explosões num posto da polícia de trânsito e num portão de segurança ao lado de um café Starbucks e de um Burger King perto do popular centro comercial Sarinah. Johan Kieft, uma autoridade da Organização das Nações Unidas (ONU) da Holanda foi gravemente ferido no Starbucks e foi submetido a uma cirurgia, disse sua esposa, Adriana Bone.
O ataque ao Starbucks deu início a um tiroteio entre os terroristas e forças policiais que durou por pelo menos uma hora. O segurança de um banco, Tri Seranto, afirmou ter visto pelo menos cinco homens no grupo de terroristas, incluindo os três homens-bomba.
O presidente da Indonésia, Joko Widodo, condenou os ataques, dizendo que “a nação e o povo não devem ter medo e que não podemos ser derrotados por um acto de terrorismo como este”.

15 Jan 2016

Detido cidadão sueco co-fundador de ONG

Peter Dahlin foi detido no aeroporto de Pequim quando se preparava para apanhar um voo para a Tailândia. Encontrava-se desaparecido há vários dias e é acusado de pôr em perigo a segurança do Estado

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo chinês confirmou ontem a detenção do sueco Peter Dahlin, o co-fundador da organização não-governamental (ONG) China Action dado como incontactável há dias, e assegurou que permitirá que este contacte com diplomatas do seu país.
“Peter foi detido pelas autoridades de Pequim por suspeita de pôr em perigo a segurança do Estado. Está a ser investigado”, disse ontem em conferência de imprensa o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Hong Lei.
Hong assegurou que a China protegerá os direitos e interesses de Dahlin “de acordo com a lei” e “facilitará aos funcionários do consulado (sueco) o cumprimento do seu dever”.
Dahlin, de 35 anos, que apoia os defensores dos direitos humanos, nomeadamente nos seus problemas com a justiça – foi abordado no início do mês, quando se preparava para embarcar num voo no aeroporto de Pequim, quando viajava para a Tailândia, via Hong Kong, disse o seu colega Michael Caster à Agência France-Presse, identificando-o como Peter Dahlin.
Anteriormente, um porta-voz da associação norte-americana Chinese Human Rights Defenders havia-o identificado como Peter Beckenridge.
As autoridades confirmaram posteriormente a diplomatas suecos a detenção de Dehlin, acusado de pôr em perigo a segurança do Estado, uma acusação muito grave na China e que a ONG considera “infundada”.
Aquela organização denunciou, em comunicado, que nos últimos dez dias ninguém conseguiu contactar com o sueco, nem sequer diplomatas do seu país, o que supõe uma violação da lei chinesa e das convenções internacionais.
A Chinese Urgent Action Working Group apresentou recentemente à ONU um documento detalhado sobre as “manobras de intimidação, a vigilância, as agressões físicas, os desaparecimentos e as detenções arbitrárias” que afectam os activistas e os dissidentes chineses.
O texto incluía um contacto do homem agora detido, mas ninguém atende nesse número desde terça-feira.

Cerco apertado
Na presidência de Xi Jinping, a China tem endurecido a repressão contra as vozes críticas ao regime comunista, mandando prender tanto activistas como autores de blogues, advogados e intelectuais.
Foi também tornado público um projecto de lei que, entre outras medidas, estipula que as ONG estrangeiras devem estabelecer uma parceria com pelo menos um órgão governamental e submeter os seus planos de acção à polícia, para aprovação.
Segundo meios de comunicação estatais, os voluntários das organizações não-governamentais estrangeiras a operar na China pretendem sabotar a segurança nacional ou tentam “criar problemas” para desencadearem uma “revolução colorida” contra o Partido Comunista.
Muitas organizações e governos ocidentais estão preocupados com a possibilidade de esta legislação restringir significativamente as suas actividades, pois as referências vagas à “segurança do país” podem abrir caminho a uma repressão deixada ao critério da polícia.
Desde Julho passado, cerca de 300 advogados foram interrogados, detidos ou colocados sob vigilância residencial, entre os quais 38 continuam detidos pela polícia.

14 Jan 2016

Mais de 30 junkets sem licença renovada devido a novas regras

Já só cabem no mercado VIP dos casinos as promotoras que se souberem comportar à altura das exigências estabelecidas para o sector no passado mês de Outubro. O rigor na gestão das promotoras obrigou à não renovação da licença de dezenas de junkets

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oram 35 as empresas de junkets que viram a sua licença revogada depois de, em Outubro passado, não terem entregue todos os documentos necessários constantes de novas instruções em vigor. A confirmação foi feita pelo novo director da Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), Paulo Chan, à Rádio Macau.
“No ano passado, em Outubro, após o caso Dore, emitimos uma nova instrução no sentido de obrigar os promotores de jogo à entrega do seu modelo contabilístico, a identificação do responsável pela contabilidade,  o local de depósitos, entre outros elementos”, explicou. “Até ao prazo definido alguns não chegaram a entregar os elementos e, como tal, não renovámos a sua licença de promotores de jogo. Houve 35 promotores em que não houve renovação da licença”, acrescentou Paulo Chan.
O director esteve ontem no programa Fórum Macau e sublinhou que a criação de uma nova legislação para os junkets vai ser prioridade na sua tutela. “Sim, maior exigência em relação à idoneidade das pessoas ou das companhias, à sua situação financeira, etc. É nessa orientação que nos vamos encaminhar”, acrescentou o responsável.
No decorrer do programa, um ouvinte pediu que fosse criada uma base de dados de empréstimos feitos na área do Jogo e Paulo Chan afirmou que a ideia é “viável” se houver concordância do sector e da população. Também é importante que a implementação de uma norma desta natureza cumpra os requisitos estabelecidos pela Lei de Protecção de Dados Pessoais. Há já empresas que têm bases de dados não oficiais, segundo respondeu o director da DICJ.
Paulo Chan revelou que o relatório da revisão das licenças de Jogo inclui mais um item além dos originais oito orientações: vai agora ter-se em atenção do desenvolvimento das promotoras de Jogo e sua situação.
Quanto ao caso Dore, Paulo Chan revelou que já foi renovada a licença desta empresa por mais três meses. “Não quero que surjam mais problemas na sociedade. A Dore tem vontade de melhorar a sua forma de operar, incluindo os equipamentos e as suas contas”, indicou. O responsável afirmou que a DICJ tem negociado com os advogados da empresa e responsáveis da Wynn Macau. Além disso, espera que o assunto esteja resolvido muito em breve, reiterando que a natureza criminal da questão continua a ser alvo de investigação pela PJ.

Um grito de alerta

A presidente do Instituto de Formação Turística (IFT), Fanny Vong, defendeu que, apesar de 2016 ser um ano de abertura de vários empreendimentos de Jogo, este será um ano complicado. “Vai ser um ano difícil para os hotéis, porque segundo o sector hoteleiro as taxas de ocupação vão baixar. Mas quando a economia abranda também podemos encontrar oportunidades”, defendeu Fanny Vong, que falou da necessidade de criar “novos produtos de turismo e de lazer”.
“Os hotéis vão começar a pensar mais no lançamento de produtos que não estão relacionados com o jogo, produtos mais apelativos, o que pode mudar a imagem de Macau como um verdadeiro destino de turismo e não apenas de Jogo. É tempo para consolidar os objectivos do passado e ver o que pensámos há dez anos e não chegamos a concretizar. Há dez anos falava-se na diversificação, mas não chegou a ser o factor principal. Agora é altura de se tornar o factor principal e ver como Macau pode tornar-se um lugar atractivo para residentes e turistas”, acrescentou a presidente do IFT.
John Ap, novo docente do IFT com 23 anos de experiência na área do Turismo, fala da crise nos casinos como uma “chamada de atenção”.
“Nos últimos anos vimos uma queda significativa das receitas de Jogo nos último 18 meses. A indústria passa por vários ciclos e penso que isso é bom porque funciona como uma chamada de atenção. É importante para a indústria e também para o Governo de olhar para a necessidade de diversificação da economia. Quando existe uma fase difícil é uma boa altura para olhar para a diversificação”, apontou. “Os tempos vão ser difíceis, mas é algo cíclico, vai melhor, mas entretanto os gestores vão ter de pensar de forma criativa para gerar receitas por outras formas. Falo de eventos e de conferências. Grandes conferências têm ocorrido em Macau, mas segundo a minha observação não há muitas pessoas de fora de Macau a participar nestes eventos”, referiu.
John Ap falou ainda da necessidade de criar mais serviços turísticos de qualidade para fomentar a diversificação. “Há sempre uma margem de melhoria na forma como se formam os profissionais e como se elevam os padrões. Se os visitantes se sentirem bem-vindos querem voltar, mas se os serviços não são muito bons, as pessoas vão reparar nisso. E é isso que precisa de acontecer na Ásia. Não podemos estar em restaurantes de luxo e em hotéis de cinco estrelas e depois sermos mal recebidos pelos taxistas ou pelos empregados das lojas”, rematou.

“Espero que as empresas subam os salários”

Choi Kam Fu, director da Associação de Empregados de Jogo de Macau, pediu às seis empresas de Jogo que aumentassem os salários dos seus funcionários. Choi Kam Fu considera que apesar da economia de Macau estar numa profunda fase de ajustamento, há capacidade para aumentar os ordenados, já que o imposto sobre o Jogo ficou dentro das previsões do Governo. O responsável defende que é preciso engordar os salários se se quiser que as pessoas continuem a trabalhar no sector.
Choi também está a favor do aumento dos salários para os trabalhadores das pequenas e médias empresas (PME) locais. O sector que mais recursos humanos requer também precisa de boas novas, defendeu. Choi Kam Fu afirmou ao Jornal Ou Mun que “o lucro bruto do sector foi de 230 mil milhões em 2015”, acrescentando que “o aumento não vai causar muito impacto” nas empresas.
“A nossa Associação já mandou uma carta a pedir o aumento de salários às seis concessionárias de Jogo em conjunto com a Associação dos Croupiers de Jogo de Macau e a Associação dos Chefes de Banca de Jogo de Macau”, explicou ao Ou Mun. O director acredita que estes aumentos são positivos, já que vêm em jeito de felicitação pelo trabalho até agora desenvolvido pelos funcionários, de certa forma garantindo a continuidade do bom desempenho.
Lao Ka Weng, um representante da Associação Power of the Macao Gaming disse concordar com Choi.
“Um aumento de 5% em 2015 para os empregados do sector só providencia umas centenas de patacas e pode nem sequer vir compensar o aumento da inflação”, começou por afirmar. “Espero que as empresas de Jogo subam os salários à mão-de-obra, uma vez que cumprem um papel principal na sociedade”, acrescentou. A Wynn e a SJM já anunciaram bónus para os trabalhadores, mas não falaram sobre subida nos vencimentos.

14 Jan 2016

BRICS: Análise comparativa da sua performance

* Por Rui Paiva

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]menção ao BRICS remete para uma pluralidade de realidades bem diversas, atentando ao que cada país membro representa sob o ponto de vista económico, financeiro ou enquanto actor global que, não obstante, consubstanciam um lobby de expressão mundial que representa 40% da população (três mil milhões de pessoas), e pouco mais de 20% do produto global.
A China destaca-se pela sua pujança económica e financeira, com elevadas taxas de crescimento, (se bem que a decair para perto dos 6%), e uma realidade global mais sólida do que os restantes países. Este crescimento é considerado como uma importante forma de legitimação do Governo e do Partido Comunista Chinês.
A diferença de dimensões realça-se no PIB da China, quatro vezes o do Brasil (e grosso modo também da Rússia e Índia), e vinte vezes maior que o da África do Sul. “A nova normalidade” é o conceito usado pelo governo chinês para definir o actual estádio, que significa a mudança de um crescimento forte para um crescimento menor, mas sustentável. Concretamente, em 15 de Março de 2015, aquando da 3ª sessão da 12ª Assembleia Popular da China (APN), o primeiro-ministro Li Keqiang refere numa conferência de imprensa que “a economia chinesa entrou na fase da nova normalidade”. Xi Jinping, num discurso muito importante apresentado em 28 de Março de 2015 no Boao Forum for Asia Annual Conference 2015 (a replica asiática do World Economic Forum, realizado de 21 a 24 de Janeiro em Davos), caracteriza da seguinte forma este estádio:
“Now, the Chinese economy has entered a state of new normal. It is shifting gear from high speed to medium-to-high speed growth, from an extensive model that emphasized scale and speed to a more intensive one emphasizing quality and efficiency, and from being driven by investment in production factors to being driven by innovation. China’s economy grew by 7.4% in 2014, with 7% increase in labor productivity and 4.8% decrease in energy intensity. The share of domestic consumption in GDProse, the services sector expanded at a faster pace, and the economy’s efficiency
and quality continued to improve”1.
E mais adiante quantifica o envolvimento chinês, afirmando“This new normal of the Chinese economy will continue to bring more opportunities of trade, growth, investment and cooperation for other countries in Asia and beyond. In the coming five years, China will import more than US$10 trillion of goods, Chinese investment abroad will exceed US$500 billion, and more than 500 million outbound visits will be made by Chinese tourists”.

Análise dos indicadores

De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano, um indicador para aferir o grau de desenvolvimento humano e social, a Rússia é a melhor posicionada em 55º, seguida do Brasil em 85º, figurando entre os piores a África do Sul em 121º e a Índia em 136º. A China coloca-se a meio da tabela (101º). Na realidade, o PIB (em PPP), o maior produto decurso de alguns anos), leva a que se verifique a necessidade de recurso às suas diversas divisas, ou ao dólar norte-americano, a referência para os mercados financeiros, como ocorre nos pagamentos de negócios de petróleo (fala-se de petrodólares).
No plano político, desde logo sobressai a natureza dos regimes políticos, sendo três democracias e duas repúblicas de regime autoritário; e se a China é um actor global com uma projecção crescente, já a Rússia se tem destacado pela sua presente beligerância, mas há a ponderar outro aspecto que os caracteriza: a ‘vantagem’ de serem ambos membros do Conselho de Segurança da ONU, dando-lhes outra capacidade negocial.
Ora, por outro lado, devemos ter em conta que as posições expressas nesse mesmo conselho pelos vários BRICS não são idênticas, como aconteceu a propósito da resolução relativa à Síria: a Índia e a África do Sul a favor, e a China e a Rússia a vetarem a resolução. Analisando sob a perspectiva da Governance, não sendo nenhum dos países abertamente revisionista, é apontado outro indicativo de falta de unidade de acção: o caso da eleição para o FMI (de Christine Lagarde), não conseguindo entender-se para um candidato comum.
Passando à ordem social e demográfica, veja-se que a população (força de trabalho activa) tem e terá a médio e longo prazo um impacto diferente: a Rússia e a China com graus de envelhecimento que a Índia não acompanhará. Este factor tem um abalo muito significativo a nível de competição internacional, ou da criação de diásporas no mundo, na divisão internacional de trabalho (a China na manufactura e a Índia campeã dos serviços, por exemplo via call centres de multinacionais).

Pontos de convergência entre o BRICS
Abordando agora os aspectos que podem aproximar estes países e auxiliar a implementação de uma acção de colectivo, com impacto regional ou global, podemos destacar o facto de até agora não serem abertamente revisionistas (nenhum propondo a alteração da ordem internacional), afirmando-se pela manutenção do statu quo (dependendo todos os outros, de uma ou outra forma, da China). Afirmam-se mais como actores de um forum de reflexão e decisão sobre a ordem política internacional e sobre o sistema financeiro, numa união de esforços, mas acima de tudo uma forma de projectarem a sua posição, de se fazerem ouvir, dado que ganhando maior peso e capacidade de pressão poderão imprimir a sua vontade, instigando um espírito de união (relativa), que a crise financeira terá ajudado a fortalecer.
Na política interna serão eventualmente mais susceptíveis de enveredar por formas nacionalistas de comportamento, associadas a um proteccionismo comercial ou financeiro. Uma característica comum é a adopção de política sistemática de acumulação de reservas, atitude defensiva e de precaução desde a crise asiática4 de 1997, uma prática que ganhou maior expressão entre os países deste continente. Esta é uma medida com impacto nas suas balanças de pagamentos e na sua autonomia financeira em relação ao exterior, com efeitos muito positivos na capacidade de afirmação económica e financeira e autêntico ‘guarda-chuva’ ajudando a solucionar eventuais crises futuras (veja-se o caso presente da Rússia).
Também a China está a implementar reservas externas num modelo global, mas justificada parcialmente, em torno da insuficiência mundial de infraestruturas. A Índia poderá eventualmente ser a excepção, ao querer assumir-se como uma alternativa regional à China e tendo em conta a recente e aparente (com a Índia é preciso esperar para ver) assunção de uma parceria estratégica mais realista e profunda com os EUA; este factor poderá passar a reflectir um ponto de divergência futuro.
Importante também é o “factor liberdade”, em que as três democracias (do IBAS) se destacam pela positiva com uma pontuação de 2, quando a China e Rússia têm valores muito elevados: 6,5 e 6. A medida da desigualdade (distribuição de rendimento) é-nos facultada pelo índice de Gini2, muito elevado na África do Sul, com 0,65, melhor o da Índia nos 0,34, Rússia com 0,39, e Brasil e China ainda com muito espaço para percorrerem, com 0,52 e 0,47 respectivamente. Finalmente as Reservas Externas cujo caudal foi alimentado pela China até Junho de 2014 (um pico de 3,99 mil milhões de dólares), estacionando actualmente nos 3,887 mil milhões. Representam seis vezes as da Rússia, e cerca de dez vezes as do Brasil e da Índia. Este é um indicador de liquidez e de capacidade de financiamento de orçamentos expansionistas. Reservas que a China orienta para operações de M&A (aquisições e fusões) pelo mundo fora, contrabalançando a perda de dinamismo do seu modelo de desenvolvimento e rentabilizando assim esses recursos acumulados, ao mesmo tempo que vai gradualmente descolando da sua dependência do dólar norte-americano e perfilhando um outro importante desiderato, ainda longínquo: a projecção do yuan enquanto moeda de referência mundial.
O FMI tornou públicas projecções de crescimento do BRICS (2015/2016), que vêm fundamentar os receios de queda do crescimento da China (6,8/6,3%), comprovam a pujança da Índia (7,5/7,5%), o crescimento fraco da África do Sul (2/2,1%), o crescimento inócuo do Brasil (-1%/1%) (com fragilidades infraestruturais, corrupção do caso Petrobras e contestação social massiva) e finalmente uma Rússia fortemente abalada pelas sanções (crise ucraniana e tomada da Crimeia, a par da forte quebra dos preços do petróleo), com crescimento negativo (-3,8/1,1%).
Em síntese, assiste-se,
a) Brasil, com problemas políticos e sociais (dossiê corrupção), infraestruturas deficitárias, perdas de receitas de petróleo;
b) Rússia, com dificuldades advindas da quebra de preços de petróleo e devido às sanções aplicadas (ocupação da Crimeia), aliando-se tacticamente à China (v. g. nas áreas energéticas), demografia envelhecida a suscitar receios futuros;
c) Índia, com crescimento mais sustentado e expressivo, mas com uma vasta população rural e pobreza endémica, com muitas e importantes reformas por fazer, (dossiê fiscal por exemplo);
d) China, em mudança de modelo (de baseado nas exportações para um assente no consumo), e anterior crescimento rápido assente na voragem do imobiliário e das bolsas de valores, com problemas de equilíbrio entre a liberalização de sistemas (financeiro), e a centralização do poder;
e) África do Sul, relevante no seu continente, mas com xenophobia nas relações laborais, (mineiros imigrantes), fragilidades infraestruturais, necessidade de reformas estruturantes.
Será fácil o entendimento entre estes países tão diferentes?

Pontos de divergência entre o BRICS

Na ordem económica e financeira sobressai uma grande disparidade com tudo o que implica a sua projecção no mundo, capacidade de influenciar decisões de investimento ou de outra natureza económica e financeira, facilmente perceptível quando a China é quatro vezes superior ao Brasil, Índia e Rússia e vinte vezes à África do Sul. Acresce um manifesto diferente grau de desenvolvimento, de vontade ou de tendência reformista, assim como de modernização do sistema financeiro.
Nos recursos naturais e energéticos, refira-se a diferença de realidades para os diversos países: existência de recursos e sua exportação, característica da África do Sul, do Brasil e da Rússia. A Rússia, como um dos principais produtores energéticos, tem o seu orçamento muito dependente da venda do petróleo e gás, sendo muito afectada por variações, no sentido da baixa, do preço do petróleo, estando no outro lado da balança a China e a Índia (importadores de recursos naturais e energia). A China aproveitou a actual pressão sobre os preços energéticos para repor as suas reservas estratégicas.
No plano financeiro e monetário, a inexistência de uma moeda de referência de um dos seus membros, (estando a China a tentar internacionalizar o yuan3, o que só se verificará em pleno no decurso de alguns anos), leva a que se verifique a necessidade de recurso às suas diversas divisas, ou ao dólar norte-americano, a referência para os mercados financeiros, como ocorre nos pagamentos de negócios de petróleo (fala-se de petrodólares).
No plano político, desde logo sobressai a natureza dos regimes políticos, sendo três democracias e duas repúblicas de regime autoritário; e se a China é um actor global com uma projecção crescente, já a Rússia se tem destacado pela sua presente beligerância, mas há a ponderar outro aspecto que os caracteriza: a ‘vantagem’ de serem ambos membros do Conselho de Segurança da ONU, dando-lhes outra capacidade negocial. Ora, por outro lado, devemos ter em conta que as posições expressas nesse mesmo conselho pelos vários BRICS não são idênticas, como aconteceu a propósito da resolução relativa à Síria: a Índia e a África do Sul a favor, e a China e a Rússia a vetarem a resolução.
Analisando sob a perspectiva da Governance, não sendo nenhum dos países abertamente revisionista, é apontado outro indicativo de falta de unidade de acção: o caso da eleição para o FMI (de Christine Lagarde), não conseguindo entender-se para um candidato comum.
Passando à ordem social e demográfica, veja-se que a população (força de trabalho activa) tem e terá a médio e longo prazo um impacto diferente: a Rússia e a China com graus de envelhecimento que a Índia não acompanhará. Este factor tem um abalo muito significativo a nível de competição internacional, ou da criação de diásporas no mundo, na divisão internacional de trabalho (a China na manufactura e a Índia campeã dos serviços, por exemplo via call centres de multinacionais).

Notas
1 Xi Jinping – Towards a Community of Common Destiny and A New
Future for Asia (disponível em https://english.boaoforum.org/
hynew/19353.jhtml).
2 Quanto mais perto dos 0,5, menor desigualdade; quanto mais
aproximado do 1, maior grau de desigualdade.
3 O acordo de fornecimento de gás e petróleo que a Rússia
(Gazprom) e a China (China National Petroleum Corporation)
selaram em Maio de 2014, no montante de 400 mil milhões
de dólares, foi fechado em yuans e rublos, quando normalmente
estes contratos de energia são firmados em dólares, o que é
visto como uma parte da estratégia de descolagem da divisa
americana pois, quando assim acontece, obrigam-se os consumidores
de petróleo a pagarem nesta moeda, expandindo a sua
utilização.
4 A China por ter tomado uma atitude – política monetária – mais
radical, conseguiu evitar o efeitos das fortes pressões especulativas
que outros países asiáticos sofreram, caso da Tailândia
e Indonésia, por exemplo.

13 Jan 2016

Condomínios | Sugerido aumento de preços conforme inflação

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s associações das empresas de administração de condomínios querem que o montante cobrado aos condóminos dos edifícios sejam actualizados consoante a taxa de inflação. A ideia foi apresentada ontem durante uma reunião na Assembleia Legislativa (AL) entre duas associações do sector com a 2.ª Comissão Permanente, presidida por Chan Chak Mo.
Segundo a proposta das associações, a cada renovação de contrato, as empresas de administração de condomínios deveriam poder actualizar as verbas que cobram em função da taxa de inflação apurada nesse ano.
“Segundo as opiniões do sector o que pretendem é que, aquando das renovações, os encargos se definam de acordo com a taxa de inflação ou com o índice de preços do consumidor”, referiu Chan Chak Mo, citado pela 
Rádio Macau.
O deputado apresenta, contudo, algumas reticências, já que, diz, esta proposta pode afectar o mercado livre e a concorrência entre as empresas do sector.
“Isto afecta o livre mercado e achamos que não é uma situação muito útil. É uma questão que merece a nossa discussão”, adiantou.
A proposta de lei foi aprovada na generalidade em Outubro do ano passado e deverá continuar a ser discutida na especialidade nas próximas semanas.  

Pedidos de ajuda continuam

A União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) sugeriu que o Governo conceda mais apoio às associações no âmbito da implementação do salário mínimo no dia 1 de Janeiro. Ao canal chinês da TDM, um representante da organização referiu que a Associação já apoiou associações de proprietários de 40 edifícios a fim de reunirem para decidir os aumentos das despesas de condomínio, sendo que apenas quatro associações recusaram o aumento. O responsável adiantou ainda que o Governo deve lançar medidas no âmbito da gestão predial, porque prevê que muitos edifícios vão ficar sem esta forma de gestão. À TDM, os Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) confirmaram a recepção de dois pedidos de apoio por parte de três trabalhadores de segurança locais, com idades entre os 60 e os 65 anos.

13 Jan 2016

David Bowie – “Lazarus”

“Lazarus”

Look up here, I’m in heaven
I’ve got scars that can’t be seen
I’ve got drama, can’t be stolen
Everybody knows me now

Look up here, man, I’m in danger
I’ve got nothing left to lose
I’m so high, it makes my brain whirl
Dropped my cell phone down below
Ain’t that just like me?

By the time I got to New York
I was living like a king
Then I used up all my money
I was looking for your ass

This way or no way
You know I’ll be free
Just like that bluebird
Now, ain’t that just like me?

Oh, I’ll be free
Just like that bluebird
Oh, I’ll be free
Ain’t that just like me?

DAVID BOWIE

12 Jan 2016

Alan Ho ja começou a ser julgado no Tribunal Judicial de Base

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] julgamento daquele que é apresentado como o maior caso de exploração de prostituição em Macau desde a transferência de Portugal para a China começa na hoje, sexta-feira, e envolve Alan Ho, sobrinho do magnata de jogo Stanley Ho.
Alan Ho, que quando foi detido era gestor no Hotel Lisboa, propriedade da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), do universo de Stanley Ho, é um dos seis arguidos do processo que vai ser julgado no Tribunal Judicial de Base (TJB, primeira instância) a partir de sexta-feira, dia em que vai ser lida a acusação.
Fontes judiciais indicaram à agência Lusa que os arguidos, em que se incluem duas mulheres, – todos em prisão preventiva – devem responder pelos crimes de associação criminosa e de exploração de prostituição, um ano depois de a Polícia Judiciária (PJ) ter anunciado o desmantelamento de uma rede.
Mais de uma centena de testemunhas foram arroladas só do lado da defesa, estando marcadas audiências até meados de Março, de acordo com o portal dos Tribunais da Região Administrativa Especial (RAEM). O presidente do colectivo é o juiz Rui Ribeiro.

Um ano depois

A descoberta do caso remonta há um ano, quando a PJ anunciou ter detido seis pessoas numa operação de grande escala – em que foram interceptadas 96 alegadas prostitutas originárias da China e do Vietname –, realizada na noite de dia 10 de Janeiro de 2015, na sequência de uma investigação desencadeada por informações sobre uma organização criminosa que estaria ligada ao controlo de prostituição na unidade hoteleira, recebidas em Abril de 2014.
“Apurou-se que o grupo estaria a actuar há um ano e o director do hotel estaria a aproveitar-se das suas funções para, a partir de 2013, em conluio com os gerentes, controlar uma rede de prostituição para além de angariar mulheres na Internet para esta rede”, indicou a PJ, no comunicado datado de 10 de Janeiro de 2015.
Na altura, a PJ revelou ter apreendido “inúmeras provas materiais incluindo telemóveis, livros de registo de contas, material para a prática da prostituição e um milhão de patacas em dinheiro”.
De acordo com os dados de então, facultados pela PJ, a cada mulher eram cobrados 150 mil yuan por ano – uma ‘quota’ de membro para poderem trabalhar na ‘zona de circulação’ das prostitutas daquele hotel –, a somar a uma “taxa de protecção” mensal de 10 mil [1.396 euros] que lhes era imposta antes de poderem utilizar os quartos de hotel.
As autoridades indicaram que foram encontrados registos referentes à cobrança efectuada a 2400 mulheres, estimando-se, por isso, que os membros da presumível rede tenham recebido pelo menos 400 milhões de patacas.
Esta foi a versão apresentada pela PJ antes de encaminhar o caso para o Ministério Público (MP), pelo que pode não corresponder na íntegra à acusação formulada que vai ser lida na sexta-feira.
A mega operação decorreu menos de um mês depois da tomada de posse do novo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, que foi director da Polícia Judiciária até 20 de Dezembro de 2014.
A prostituição não é crime em Macau, mas a sua exploração sim. “Quem aliciar, atrair ou desviar outra pessoa, mesmo com o acordo desta, com vista à prostituição, ou que explore a prostituição de outrem, mesmo com o seu consentimento”, arrisca uma pena de prisão de um a três anos, sendo que, segundo a lei, a tentativa também é punível.
Já a prática de associação criminosa é punida, à luz do Código Penal, com uma pena de pelo menos três anos de prisão e um máximo de 12.
Além de ter sido apresentado como o maior caso do tipo desde o estabelecimento da RAEM, em 1999, o facto de envolver Alan Ho, conhecido homem de negócios, ter-lhe-á conferido maior mediatismo.
Alan Reginald John Ho, de 69 anos, que se formou nomeadamente em Gestão e, chegou a leccionar na Universidade Chinesa de Hong Kong, prosseguiu depois os estudos em Direito na Universidade de Harvard e chegou a exercer advocacia por um curto período de tempo, tendo-se juntado à STDM, no início da década de 1990. Em 2011 foi distinguido com a Medalha de Mérito Turístico pelo Governo de Macau.

8 Jan 2016

USJ | Peter Stilwell deverá continuar como reitor

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] actual reitor da Universidade de São José, Peter Stilwell, deverá continuar no comando da instituição. Em declarações à Rádio Macau, Peter Stilwell admitiu já ter sido sondado para continuar no cargo, estando neste momento à espera da concretização do processo de nomeação. “Perguntaram-me se estaria disposto a continuar e eu disse que com certeza, se acharem que posso ser útil. Agora aguarda-se a conclusão do processo que está estabelecido nos estatutos em que o actual chanceler, que ainda é o actual Patriarca de Lisboa, consulta a reitoria da Universidade Católica Portuguesa e o Bispo de Macau para saber a opinião deles e me dirija eventualmente o convite. Mas tudo parece indicar que podem contar comigo aqui mais um tempo”, afirmou. O actual mandato do reitor termina em Maio deste ano, o mesmo mês em que se prevê que as obras do novo campus na Ilha verde possam estar concluídas. Peter Stilwell admitiu à rádio, no entanto, estar de “pé atrás” com os prazos de conclusão das obras face aos muitos problemas que se têm registado. As declarações do reitor da Universidade de São José foram feitas à margem da cerimónia de assinatura de um protocolo com a Universidade Católica Portuguesa que dá o reconhecimento canónico aos cursos ministrados na Faculdade de Estudos da Religião.

8 Jan 2016

Aeroporto | Ano passado com mais passageiros

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Aeroporto Internacional de Macau fechou 2015 com o recorde de mais de 5,8 milhões de passageiros, um aumento de 6,4% comparativamente a 2014, foi ontem anunciado. De acordo com os dados divulgados pela Companhia do Aeroporto de Macau (CAM), o movimento de aeronaves foi superior a 55 mil – mais 6% face ao ano anterior –, enquanto o volume de carga transportada superou as 30 mil toneladas, reflectindo uma subida de 4,5%.
A CAM atribui o recorde atingido em 2015 ao impulso do mercado turístico do Sudeste e do Norte da Ásia, que tem uma quota superior a 40%. A China representa um terço do mercado global de passageiros, enquanto Taiwan detém uma fatia de 27%, segundo a CAM.
Actualmente, há 30 companhias aéreas a operar no Aeroporto, servindo um total de 43 destinos. Duas décadas após a inauguração do Aeroporto Internacional de Macau, em Dezembro de 1995, só a companhia aérea portuguesa TAP realizou voos de longo curso de e para o território, mas apenas durante 30 meses, uma realidade que dificilmente se irá inverter.
“Quisemos atrair voos internacionais [de longo curso], mas é muito difícil, normalmente [as companhias] têm tendência para procurar ‘placas giratórias’ regionais capazes de gerar tráfico para rentabilizar as rotas. Não é o nosso caso, somos um aeroporto muito pequeno. Os voos de longo curso são bem-vindos, mas não temos tido grande sucesso”, disse o director do Aeroporto Internacional de Macau, António Barros, numa entrevista recente à Lusa.

8 Jan 2016

MNE Britânico | “Liberdade de navegação no Mar do Sul da China não é negociável”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Philip Hammond, afirmou ontem, durante uma visita às Filipinas, que qualquer tentativa de limitar a circulação aérea e marítima no Mar do Sul da China seria vista como “sinal de alerta”. A China anunciou ter feito aterrar três aviões no recife Yongshu Jiao, motivando protestos por parte do Vietname e Filipinas, que reivindicam o território, e gerando receios de que Pequim imponha um controlo militar na zona.
“A liberdade de navegação e sobrevoo não são negociáveis. São sinais de alerta para nós”, disse Hammond, numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo filipino, Albert del Rosario, em Manila.
Hammond não elaborou sobre o tipo de medidas que podem ser tomadas caso o “sinal de alerta” seja activado, afirmando apenas que o Reino Unido vai continuar a defender o seu direito de navegar na zona.
Albert del Rosario manifestou-se preocupado com os testes de voo, que acredita serem prova de que a China está a preparar terreno para a declaração de uma Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ, na sigla inglesa), semelhante à declarada no Mar da China Oriental.
“Se isto não for contestado, a China vai assumir uma posição em que a ADIZ seria imposta”, disse.
O Vietname, que também reclama território no Mar do Sul da China, condenou os testes de voo, considerando-os uma violação da sua soberania.
A China tem alarmado os seus rivais com a construção de enormes aterros e instalação de estruturas em recifes disputados, incluindo uma pista de aterragem em Yongshu Jiao.
As Filipinas pediram a um tribunal apoiado pelas Nações Unidas para invalidar a reivindicação da China sobre a quase totalidade do Mar do Sul da China. Uma decisão é esperada este ano.

8 Jan 2016

Livreiros | Aliança de Apoio aos Movimentos Democráticos prepara manifestação

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Aliança de Apoio aos Movimentos Democráticos e Patrióticos na China, de Hong Kong, anunciou ontem que vai realizar um protesto no domingo para exigir respostas por partes das autoridades chinesas relativamente ao desaparecimento de cinco livreiros da antiga colónia britânica. A Aliança é conhecida nomeadamente por organizar anualmente a vigília em homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen, com Hong Kong a figurar como o único local em toda a China a assinalar a efeméride, a par de Macau, que também o faz mas numa escala muito menor.
Segundo a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), o grupo vai realizar uma marcha no próximo domingo, que vai arrancar da sede do Governo, no complexo de Tamar, com destino ao Gabinete de Ligação da China, e espera que cerca de cinco mil pessoas adiram à manifestação.
O vice-presidente da Aliança, Richard Tsoi, instou a população a juntar-se à iniciativa, afirmando que se trata de um momento crítico para Hong Kong defender os direitos humanos e o princípio “Um país, dois sistemas”, que lhe confere autonomia relativamente a Pequim.
O desaparecimento de cinco livreiros associados à publicação de obras críticas do Partido Comunista da China tem desencadeado uma onda de revolta e preocupação face à suspeita de que foram ilegalmente detidos pelas autoridades da China.
No passado domingo, aproximadamente meia centena de pessoas, incluindo figuras públicas como deputados, manifestaram-se também junto ao Gabinete de Ligação da República Popular da China em Hong Kong para exigir respostas sobre o paradeiro dos desaparecidos e pedindo uma investigação aos desaparecimentos.
Esse protesto teve lugar depois de conhecido o mais recente caso, que envolve Lee Bo, um dos responsáveis da livraria Causeway Books – onde se podem encontrar obras críticas do regime e do PCC e, portanto, popular entre muitos turistas provenientes da China, dado que lhes vêem vedado o acesso a este tipo de leituras.
Lee Bo, de 65 anos, foi visto pela última vez no dia 30 de Dezembro, no armazém da Mighty Current, a casa editora proprietária da livraria, num caso que ocorreu semanas depois de quatro dos seus associados terem desaparecido em circunstâncias idênticas e que continua envolto em mistério.
Num espaço de dias, a mulher apresentou queixa à polícia e retirou-a, dando conta de que o marido dera sinais de vida ao enviar um fax, escrito à mão, a um amigo, em que terá indicado ter ido à China “pelo seu próprio método”, que estava a trabalhar numa investigação que “pode levar tempo”, e que teve de gerir o assunto de forma “urgente” para evitar que desconhecidos tomassem conhecimento.
Além disso, terá assegurado, na mesma missiva, que estava bem e que tudo decorria com normalidade.
Os outros desaparecidos, além de Lee Bo, que detém passaporte britânico, são o editor, que tem passaporte sueco, Gui Minhai, desaparecido numa viagem à Tailândia, o gerente geral do estabelecimento, Lu Bo, o principal gestor do negócio, Lin Rongji, e o funcionário Zhang Zhiping.
A estes confusos factos, juntam-se declarações do deputado democrata e advogado dos direitos humanos Albert Ho, segundo o qual estava em preparação um livro sobre a vida amorosa do Presidente chinês, Xi Jinping, em particular sobre uma namorada antiga, o que relacionou com os desaparecimentos.
O Presidente chinês tem levado a cabo uma intensa campanha anti-corrupção para punir o alegado hedonismo no seio do Partido Comunista, o que inclui o que são considerados excessos na vida sentimental dos membros do partido, alguns publicados nas obras vendidas pela livraria Causeway Books.

8 Jan 2016

Yuan desvaloriza pelo oitavo dia seguido

A taxa de referência do yuan foi cortada pelo oitavo dia consecutivo, para o nível mais baixo desde Março de 2011. Foi a maior desvalorização desde Agosto, altura em que a intervenção no mercado cambial também provou uma tempestade nos mercados

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Banco Popular da China cortou a taxa de referência do yuan esta quinta-feira, 7 de Janeiro, pelo oitavo dia consecutivo, para o nível mais baixo desde Março de 2011. A decisão levou as acções chinesas a desvalorizarem mais de 7%, acabando por ser suspensas, pela segunda vez esta semana, apenas 30 minutos depois do início da negociação.
O banco central da China fixou a taxa de referência em 6,5646 por dólar americano antes da abertura do mercado, 0,5% abaixo da anterior cotação de 6,5314. Esta foi a maior queda entre as fixações diárias desde a desvalorização realizada em meados de Agosto que, tal como agora, desencadeou um período de forte turbulência nos mercados mundiais.
Actualmente, a moeda chinesa está autorizada a negociar num intervalo de 2% acima ou abaixo da fixação oficial diária.
Nos últimos meses, as autoridades chinesas vinham reduzindo os esforços de intervenção no mercado, depois de a turbulência em Agosto ter obrigado a medidas extremas, que incluíram a obrigação de os fundos estatais comprarem acções e a suspensão de ofertas públicas iniciais.
Segundo fontes citadas pela Bloomberg, o banco central está agora a considerar novas medidas para impedir uma elevada volatilidade na taxa de câmbio do yuan e vai continuar a intervir no mercado cambial. Segundo a mesma fonte, as medidas que estão a ser consideradas têm como objectivo restringir a arbitragem entre as taxas offshore e onshore.
O banco central também reduziu as suas reservas de divisas para 3,33 biliões de dólares no final de Dezembro, o valor mais baixo dos últimos três anos.
Este ano, foi introduzido o mecanismo de suspensão das acções criado para travar fortes volatilidades no mercado. Contudo, este mecanismo tem sido criticado pelos analistas, por considerarem que aumenta ainda mais as desvalorizações, já que os investidores antecipam a venda das suas posições para não correrem o risco de ficarem “presos” com a suspensão.
Esta quinta-feira, o regulador também impôs um novo limite à quantidade de acções que os accionistas de grandes empresas podem vender. Na terça-feira – dia em que as acções chinesas valorizaram – o governo interveio no mercado através dos fundos estatais para impulsionar o mercado.

Reservas internacionais caem para o menor nível em 3 anos

As reservas internacionais da China recuaram ao menor nível em três anos em Dezembro, uma queda que deve intensificar as preocupações sobre a capacidade de Pequim conter a saída de capital. As reservas internacionais do país recuaram US$ 107,92 mil milhões em Dezembro, para US$ 3,330 biliões, informou nesta quinta-feira o Banco do Povo da China (BPC). Os formuladores da política monetária e os agentes do mercado têm acompanhado com atenção as reservas, desde que o BPC desvalorizou o yuan em cerca de 2% em Agosto, gerando preocupações sobre a possibilidade de um enfraquecimento maior da moeda chinesa. Isso levou a uma queda recorde de US$ 93,9 mil milhões nas reservas, enquanto Pequim actuava para apoiar a divisa. Em Novembro, as reservas internacionais da China haviam recuado US$ 87,22 mil milhoes, para US$ 3,438 biliões – que já era o nível mais baixo desde fevereiro de 2013.

Bolsas voltam a suspender operações

As bolsas da China voltaram a suspender as suas operações nesta quinta-feira, menos de 30 minutos depois do início do pregão, por causa de uma queda de mais de 7%, depois do anúncio oficial da desvalorização do yuan, a maior desde Agosto. As autoridades da China reduziram o nível de referência do yuan em relação ao dólar em 0,51%, a 6,5646 yuans por dólar, a menor taxa desde Março de 2011. Esta foi a segunda vez esta semana que as bolsas chinesas activaram o mecanismo de suspensão, que entrou em vigor na segunda-feira. O índice de Xangai perdia 7,04%, aos 3.125,00 pontos enquanto o Shenzhen recuava 8,35% aos 1.955,88 pontos. Em Hong Kong, o Hang Seng recuou 3,09% aos 20.333,34 pontos; em Tóquio, o Nikkei 225 caiu 2,33% aos 17.767,34 pontos; em Seul, o Kospi teve queda de 1,10% aos 1.904,33 pontos; em Singapura, o Straits Times teve baixa de 2,65%, aos 2.729,91 pontos; e em Taiwan, o Taiwan Weighted caiu 1,73% aos 7.852,06 pontos.

8 Jan 2016

Xadrez | Equipa chinesa campeã do mundo faz visita a Macau

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ela primeira vez na história do xadrez, a China sagrou-se campeã do mundo, no ano de 2015. E, ocasião única, também pela primeira vez vem esta equipa a Macau. A equipa campeã chega este sábado, 9 de Janeiro, à RAEM, onde permanecerá até segunda-feira, inclusivé, para promover o xadrez, também num acto de amizade da Associação de Xadrez da China para apoiar o trabalho de desenvolvimento de xadrez que está a ser feito pela Associação de Xadrez de Macau, Grupo de Xadrez de Macau.
Trata-se, também, de um exemplo de feliz coordenação do Governo Central com a RAEM. Por um lado, esta equipa é verdadeiramente um dos bons “rostos” da RPC no mundo, numa arena particularmente querida que é a dos jogos mentais. Por outro lado, e verdade seja dita, o xadrez em Macau tem vindo a ser inteligentemente apoiado pelo IDM e este é mais um bom exemplo de visão.
O outro, por enquanto menos visível porque planificado para o médio e longo prazo, é o programa de divulgação do xadrez nas escolas que se encontra em curso desde o ano passado. Efectivamente, a Associação de Xadrez de Macau, assistida pelo Governo, está actualmente envolvida num programa de ensino de xadrez, iniciado em 2015, em 16 escolas, que envolve cerca de 400 estudantes primários e secundários.
Não por acaso, a equipa chinesa vai também visitar algumas das escolas na segunda-feira para compartilhar alguns dos seus conhecimentos e para tirar uma foto com os jovens alunos de xadrez, disseminando ainda mais a sua prática.
Voltando concretamente à delegação chinesa, falamos de um alto dirigente, 4 xadrezistas que fazem parte do lote dos melhores jogadores do mundo e que jogam ao mais alto nível nos mesmos torneios internacionais em que figura, por exemplo, o campeão mundial Magnus Carlsen, bem como toda a elite xadrezística mundial e ainda treinadores, também eles Grandes-Mestres mas menos no activo, antes tendo por missão a preparação física, mental e psicológica da equipa, ao detalhe, à boa maneira chinesa.
A composição da delegação é a seguinte: Capitão: Sra. Tian Hongwei (田红卫), Vice-Delegada Geral da Federação de Xadrez da China; Treinadores: GM Xu Jun (徐俊) e GM Yu Shaoteng (余少 腾);
Jogadores: GM Wang Yue (王 玥), GM Bu Xiangzhi (卜祥志), GM Yu Yangyi (余 泱 漪), GM Wei Yi (韦奕).Estamos na presença de alguns dos mais altos QI’s do mundo.
Os campeões vão jogar este domingo, a partir das 10:00, no pavilhão Desportivo do Tap Seac, uma exibição simultânea de xadrez, gratuita, limitada a 200 jogadores do público que os queiram desafiar, com inscrição e admissão entre as 9h00-9h30. Cada um, irá enfrentar, simultaneamente (daí o nome, “partida simultânea”) 50 adversários e todos estes, cada qual com o seu tabuleiro, cada qual com a sua partida, o enfrentam a ele. Mas, note-se, espera-se uma simultânea eclética onde a par de jogadores oficiais de Macau estarão outros que apenas gostam de jogar.
Também se pretende divulgar a modalidade junto das crianças e dos jovens, tenham muitos ou poucos conhecimentos de xadrez, desde que se interessem. Qualquer pai pode vir com os seus filhos, mesmo que eles só conheçam as regras e os movimentos das peças, desde que gostem de jogar. Entretanto, fica prometida uma entrevista com todos eles para depois desta passagem por Macau, a ser aqui publicada.

Os jogadores

Wang Yue ( 王玥; nascido a 31 de Março de 1987) tornou-se, em 2004, no 18º GM chinês com a idade de 17 anos. De Março a Dezembro de 2008, Wang Yue esteve 85 jogos consecutivos sem uma derrota, um feito histórico. Foi também o primeiro jogador chinês a entrar no top 10 do xadrez mundial, o que aconteceu em Janeiro de 2010. Foi o tabuleiro nº 1 da selecção olímpica chinesa que ganhou a medalha de ouro em 2014. Wang é actualmente um estudante de “Estudos de Comunicação” na Faculdadede de Artes Liberais da Universidade de Nankai em Tianjin.

Yu Yangyi (余泱漪; nascido em 8 de Junho de 1994) chegou a Grande Mestre com 14 anos, 11 meses e 23 dias em 2009. Em Dezembro de 2014, venceu o 1º Open de Mestres do Qatar, tendo vencido, entre outros, o russo Vladimir Kramnik e o holandês Anish Giri, actualmente, os nºs. 2 e 3 do mundo. Em Dezembro passado, no 2º open de Mestres do Qatar terminou em primeiro lugar ex-aequo com o actual campeão do mundo, Magnus Carlsen, tendo este feito juz às suas credenciais de campeão no desempate por partidas Blitz, ao ganhar-lhe por 2-0. Fez parte da equipa da China que venceu os Jogos Olímpicos de xadrez de 2014 e da equipa da China que recentemente venceu o Campeonato Mundial de xadrez por Países em 2015. Foi medalha de ouro individual no tabuleiro nº 3 com a melhor “performance” de todo o evento. Fora do mundo do xadrez, Yu estuda Economia do Desporto na Universidade do Desporto de Pequim.

Bu Xiangzhi (祥志; nascido em 10 de Dezembro de 1985) foi campeão da China em 2004 e também fez parte da selecção nacional que ganhou os jogos Olímpicos de 2014 e o campeonato por Países de 2015. Em 1999, ele tornou-se no 10º Grande Mestre da China com 13 anos, 10 meses e 13 dias, na altura, o mais jovem GM do mundo na história do xadrez. Já esteve em Macau em 2007, por altura dos Jogos Asiáticos, onde me concedeu uma interessante entrevista que aqui foi então publicada.

Wei Yi (韦奕; nascido em 2 de Junho de 1999) é um jovem prodígio do xadrez. Em 1 de Março de 2013 alcançou o título de GM aos 13 anos, 8 meses e 23 dias de idade, sendo, na altura, o quarto mais jovem a consegui-lo na história do xadrez. Em Novembro de 2014, Wei, tornou-se o mais jovem jogador a ultrapassar a barreira dos 2600 pontos “Elo” (Sistema de “rating” do xadrez, semelhante ao “ATP”, do ténis) , quebrando o recorde histórico que era até aí detido pelo filipino naturalizado americano, Wesley So. Wei tem um estilo de jogo audaz, pleno de imaginação e recentemente foi alvo das atenções de todo mundo xadrezístico, incluíndo Garry Kasparov, por uma partida das mais belas da contemporaneidade, por alguns considerada a partida da década, em Danzhou, em 07/04/2015. Foi ao estilo antigo e romântico, com sacrifícios de peças uns atrás dos outros que obrigaram o Rei adversário a fugir por todo o tabuleiro até levar Xeque-Mate, que Wei Yi derrotou o GM cubano Lazaro Bruzon e que espero poder aqui trazer brevemente.

Texto de João Valle-Roxo

8 Jan 2016

Coreia do Norte diz que testou pela primeira vez bomba de hidrogénio

O regime de Pyongyang afirma ter feito explodir uma bomba de hidrogénio. A condenação é geral. A China retira gente da fronteira

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Coreia do Norte afirmou ontem ter realizado, com sucesso, o seu primeiro teste nuclear de hidrogénio, dando um significativo passo no desenvolvimento do seu programa nuclear. “O primeiro teste com bomba de hidrogénio da República foi realizado com sucesso às 10:00 do dia 6 de Janeiro, 2016, baseado na determinação estratégica do Partido dos Trabalhadores”, anunciou a televisão estatal norte-coreana.
Vários centros de actividade sísmica detectaram ontem um abalo na Coreia do Norte, levantando-se, de imediato, a possibilidade de ter sido causado por um teste nuclear. “Com o sucesso total da nossa histórica bomba-H, juntámo-nos ao grupo dos Estados nucleares avançados”, anunciou Pyongyang, acrescentando que o teste foi feito com um dispositivo “miniaturizado”.
O teste foi encomendado pessoalmente por Kim Jong-un e aconteceu dois dias antes do seu aniversário. No mês passado, durante uma inspecção militar, Kim sugeriu que Pyongyang tinha já desenvolvido uma bomba de hidrogénio, apesar de o anúncio ter sido acolhido com cepticismo por especialistas internacionais.
A bomba de hidrogénio, ou termonuclear, usa a fusão nuclear numa reacção em cadeia que resulta numa explosão poderosa. “O último teste, totalmente assente na nossa tecnologia e pessoal, confirmou que os nossos recursos tecnológicos, recentemente desenvolvidos, são precisos e demonstram cientificamente o impacto da nossa bomba-H miniaturizada”, disse o apresentador televisivo, que transmitiu a mensagem do regime.
A realização efectiva do teste tem ainda de ser confirmada pela comunidade internacional. Apesar de se comprometer a não ser o primeiro a recorrer à bomba, o regime de Pyongyang indicou que continuará a desenvolver as suas capacidades de ataque nuclear. “Enquanto persistir a política anti-Coreia do Norte dos Estados Unidos não vamos parar de desenvolver o nosso programa nuclear”, afirmou.

Chineses deslocados

Entretanto, os chineses que residem em zonas perto da fronteira com a Coreia do Norte foram deslocados de suas casas, após o anúncio da realização de um teste nuclear, informa a imprensa oficial. Os residentes fronteiriços “sentiram claramente tremores”, após Pyongyang ter detonado o que diz ser uma bomba de hidrogénio, afirmou a emissora pública chinesa CCTV. As zonas evacuadas incluem Yanji, Hunchun e Changbai na província de Jilin. Segundo a televisão chinesa CCTV, os residentes de Yanji viram as mesas e cadeiras abanarem durante vários segundos e algumas empresas ordenaram aos funcionários que abandonassem os escritórios. Os estudantes de uma escola secundária foram dispensados durante um exame depois de uma fenda ter surgido no pátio.

Japão e EUA medem radiação no ar

Por seu lado, o Japão e os Estados Unidos enviaram ontem aviões de reconhecimento para uma área próxima da península coreana para medir a radioactividade no ar, depois de o governo norte-coreano ter anunciado o primeiro teste de uma bomba de hidrogênio. Um avião das Forças de Defesa do Japão vai recolher amostras de ar para analisar a presença de partículas radioactivas, o que representaria um indício do novo teste atómico desenvolvido pelo regime de Kim Jong-un, informaram fontes governamentais à agência Kyodo. Os Estados Unidos também enviaram aviões para o local com o mesmo objectivo, como fizeram em testes nucleares anteriores da Coreia do Norte, em 2006, 2009 e 2013, disse à agência Efe um porta-voz do Ministério da Defesa japonês. Os testes para detectar material radioactivo podem fornecer informação sobre a natureza do teste nuclear. No último teste atómico norte-coreano, em 2013, os aviões de reconhecimento não encontraram quaisquer vestígios, o que poderia indicar que o país fechou totalmente os túneis onde ocorreu a explosão.

China | Firme oposição

A China, o principal aliado da Coreia do Norte, disse ontem que se “opõe firmemente” ao teste nuclear de Pyongyang, acrescentado que o ensaio foi realizado “apesar da oposição da comunidade internacional”. “Instamos fortemente a DPRK [Coreia do Norte] a respeitar o seu compromisso de desnuclearização, e a suspender qualquer ação que possa tornar a situação ainda pior”, afirmou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying.

Japão | Condenação veemente

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, condenou hoje o teste de uma bomba de hidrogénio, anunciado pela Coreia do Norte, considerando-o uma “ameaça grave” para o Japão e um “sério desafio” aos esforços de não-proliferação nuclear. “Condeno-o veementemente”, afirmou Abe. “O teste nuclear que foi realizado pela Coreia do Norte é uma grave ameaça à segurança da nossa nação e não podemos, absolutamente, tolerá-lo”, disse. O primeiro-ministro nipónico considerou também que o teste representa “um sério desafio aos esforços internacionais de não-proliferação” nuclear.

Hidrogénio, mas pouco

O Ministério da Defesa da Coreia do Sul afirmou ontem que as autoridades do país acreditam que o ensaio nuclear ontem anunciado por Pyongyang envolveu uma pequena quantidade de hidrogénio.
“Vamos descobrir o que aconteceu depois de uma análise mais aprofundada, mas o que sabemos, para já, é que uma pequena quantidade de hidrogénio foi utilizada no quarto teste nuclear” da Coreia do Norte, explicou o porta-voz do ministério, Kim Min-seok, citado pelo serviço noticioso online MoneyToday.
O anúncio norte-coreano, ontem de manhã, acerca de um primeiro teste com uma bomba de hidrogénio começou por ser recebido com algum cepticismo. Peritos ouvidos pelas agências internacionais levantaram dúvidas sobre a verdadeira composição do ensaio levado a cabo pelo regime de Kim Jong-un, afirmando que a actividade sísmica provocada pela explosão sugere a utilização de um explosivo com menos potência.
O especialista australiano Crispin Rovere, perito em controlo de armas e em política nuclear, entende que o tremor de terra de magnitude 5.1 registado no local de testes nucleares de Punggye-ri, na Coreia do Norte, não sustenta a notícia avançada por Pyongyang.
“Os dados sísmicos que foram recebidos indicam que a explosão é provavelmente mais fraca do que seria de esperar de uma bomba de hidrogénio”, aponta. “Parece que conseguiram conduzir com sucesso um teste nuclear, mas não foram bem-sucedidos na segunda fase da explosão do hidrogénio.”
Também Choi Kang, vice-presidente do Instituto para o Estudo de Políticas Asan, com sede em Seul, tem reticências em relação à verdadeira natureza da explosão. “Não me parece que tenha sido um teste de uma bomba de hidrogénio. A explosão teria de ser maior se fosse uma bomba desse género”, defende.
A Coreia do Norte, um dos regimes mais fechados do mundo, tem feito vários anúncios em torno do armamento nuclear de que dispõe, mas são alegações que, até à data, estão por confirmar. Entre as capacidades bélicas que Pyongyang diz ter está a possibilidade de um ataque aos Estados Unidos, uma hipótese que, até à data, tem sido afastada pelos especialistas na matéria.
Bruce Bennett, analista de defesa a trabalhar para a Rand Corporation, não estava ontem convencido da autenticidade do anúncio norte-coreano: “Se fosse uma verdadeira bomba de hidrogénio, o registo na escala de Richter teria sido muito mais forte do que aquele que vimos”.

Coreia do Sul | Isto muda tudo

A presidente da Coreia do Sul, Park Geun-hye, disse que o país vai tomar medidas firmes contra qualquer provocação adicional da Coreia do Norte e trabalhar com a comunidade internacional para garantir que Pyongyang pague o preço pelo seu mais recente teste nuclear. Em declarações divulgadas pelo gabinete presidencial sul-coreano, Park disse que o novo teste pode mudar a natureza fundamental da situação sobre o programa nuclear da Coreia do Norte. Separadamente, a agência de notícias sul-coreana Yonhap disse que o serviço de inteligência de Seul acredita que a potência da explosão provocada pelo teste norte-coreano foi equivalente a 6.0 quilotons.

Reino Unido | Grave provocação

“Se um dispositivo nuclear foi detonado pela Coreia do Norte, isto é uma grave violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU e uma provocação que eu condeno”, disse o ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, Philip Hammond. “Estamos a trabalhar com outros membros do Conselho de Segurança da ONU para garantir que a comunidade internacional responda com urgência e de forma decisiva esta ação da Coreia do Norte”, acrescentou Hammond.

França | Violação inaceitável

“A França condena esta violação inaceitável das resoluções do Conselho de Segurança da ONU e apela a uma forte reacção da comunidade internacional”, afirmou o gabinete do presidente francês, François Hollande.

Austrália | Um país perigoso

Julie Bishop, MNE australiana, afirmou em um comunicado que a acção “confirma o país como ‘perigoso’ e uma contínua ameaça à paz e segurança internacional”.

Rússia | Violação das resoluções da ONU

A Rússia classificou ontem de violação flagrante das resoluções da ONU o anúncio feito pela Coreia do Norte do seu primeiro teste com uma bomba de hidrogénio. «Se esse teste for confirmado, representará um novo passo de Pyongyang no caminho do desenvolvimento de armas nucleares o que constitui uma violação do direito internacional e das resoluções do Conselho de Segurança da ONU», afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) em comunicado.

Conselho de Segurança reúne de emergência

O Conselho de Segurança da ONU planeava realizar ainda ontem, quarta-feira, uma reunião de emergência para discutir o teste feito pela Coreia do Norte com uma bomba de hidrogénio, disse a missão dos EUA na ONU. Falando à Reuters sob a condição de anonimato, vários diplomatas disseram que a reunião foi marcada para as 11h (22h, pelo horário de Macau). Os diplomatas disseram que a reunião será provavelmente à porta fechada. “Os Estados Unidos e o Japão solicitaram consultas de emergência ao Conselho de Segurança, com relação ao alegado teste nuclear da Coreia do Norte”, disse a porta-voz da missão dos EUA na ONU, Hagar Chemali, em comunicado. “Condenamos qualquer violação das resoluções do Conselho de Segurança e, novamente, pedimos à Coreia do Norte que se adeque às suas obrigações e compromissos internacionais”, acrescentou. Não ficou imediatamente claro qual atitude a tomar pelo Conselho de Segurança, formado por 15 países, em resposta ao comunicado da Coreia do Norte afirmando ter conduzido um teste nuclear. Um diplomata ocidental disse que, caso seja confirmado o teste nuclear da Coreia do Norte, os membros do conselho expandirão as actuais sanções da ONU contra Pyongyang.

7 Jan 2016