Energia verde | Desperdício testa aptidão chinesa em liderar acordo de Paris

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China desperdiça cada vez mais energia verde, que não é integrada na ultrapassada rede de distribuição eléctrica do país, travando as ambições de Pequim em liderar a luta contra as alterações climáticas.

O desperdício de energia eólica e solar servirá de obstáculo para a China assumir a liderança no acordo de Paris, após os Estados Unidos terem rescindido deste.

O problema ameaça também dificultar os esforços de Pequim no combate à poluição e na redução da emissão de gases com efeito de estufa, que torna o país no principal responsável pelas alterações climática.

Na véspera de vários ministros da Energia se reunirem em Pequim, as dificuldades chinesas suscitam questões sobre como melhor fazer a transição para fontes de energia limpa.

“Eles instalaram demasiado rápido”, afirma Qiao Liming, o director da China no fórum Global Wind Energy Council. “Um verdadeiro mercado devia permitir o fluxo de electricidade entre duas províncias. E isso não existe neste momento”, disse.

Nos últimos anos, milhares de turbinas eólicas e painéis solares foram instalados nas províncias menos habitadas da China, à medida que os líderes do país procuram reduzir a poluição nas grandes cidades.

A China é hoje o país no mundo com mais capacidade instalada de produção de energia renovável.

Dois problemas, no entanto, têm impedido o sucesso do país na transição do uso de carvão para energia limpa, segundo observadores e representantes da indústria.

A extensa rede eléctrica chinesa tem sido incapaz de integrar a electricidade produzida por fontes eólicas e solares, enquanto alguns funcionários locais continuam a optar por recorrer ao carvão, que contribui para quase dois terços da energia consumida no país.

Na província de Gansu, região oeste da China, 43% da energia produzida por turbinas eólicas, em 2016, não foi utilizada. Na região vizinha do Xinjiang, aquele indicador fixou-se em 38% e, em Jilin, no nordeste do país, em 30%.

No conjunto, a percentagem de energia eólica gerada que não entrou na rede na China fixou-se em 17%, um valor descrito por Qiao como “escandalosamente alto”.

Toca a queimar

A poluição na China agrava-se no Inverno, altura em que a queima do carvão fornece electricidade para o aquecimento central nas casas e fábricas do norte do país.

Isso leva muitos funcionários locais a manter abertas as centrais de carvão e a rejeitar energia eólica, apesar da pressão feita pelo Governo central, afirma Lu Xi, professor da Escola do Meio Ambiente, na Universidade Tsinghua, em Pequim.

“No papel, demonstram querer promover energias renováveis, mas na verdade protegem os interesses da indústria do carvão”, afirma Frank Yu, especialista em renováveis na empresa de consultadoria Wood Mackenzie.

Para ultrapassar o problema, a Administração Nacional de Energia da China tem promovido a instalação de turbinas próximo de Pequim e das cidades costeiras onde o consumo de energia é maior.

Isso deverá permitir à energia renovável contornar parte da ultrapassada rede eléctrica chinesa.

As dificuldades não são um exclusivo da China. Os países ocidentais também enfrentaram problemas em integrar fontes eólicas e solares de energia, que dependem das condições climatéricas, em redes de distribuição eléctrica construídas em torno de fábricas de carvão, que apesar de serem mais poluidoras, são também mais estáveis.

Segundo projecções da Administração Internacional de Energia, nas próximas duas décadas, o aumento do consumo de energia virá quase todo dos países em desenvolvimento. Só a China contribuirá para metade desse aumento.

6 Jun 2017

Fórum Macau | Assessor de ministro da Economia de S. Tomé escolhido para delegado

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] assessor do ministro são-tomense das Finanças, Comércio e Economia Gualter Vera Cruz foi escolhido para delegado do país no Fórum Macau, anunciou ontem o organismo.

A informação foi avançada ontem pela secretária-geral do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), Xu Yingzhen, à margem da tomada de posse da coordenadora do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente.

“Já escolheram um delegado e acaba de chegar a Macau, tem muitos contactos com o secretariado permanente e também já manifestou o seu desejo de participar nas próximas actividades. É o assessor do ministro da economia de São Tomé e Príncipe, é o Dr. Vera Cruz”, afirmou Xu.

São Tomé aderiu, no final de Março, ao Fórum Macau, depois de, em Dezembro, ter cortado relações diplomáticas com Taiwan e reconhecido a República Popular da China. Dias depois, a China anunciou o restabelecimento dos laços diplomáticos com o país.

São Tomé e Príncipe encontrava-se excluído do Fórum Macau devido às relações com Taiwan.

A China estabeleceu a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) como a sua plataforma para o reforço da cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003, ano em que criou o Fórum Macau.

O Fórum Macau tem um secretariado permanente e reúne-se a nível ministerial de três em três anos.

Xu falava à margem da cerimónia de tomada de posse de Mok Iun Lei, a nova coordenadora do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente. Mok exerceu vários cargos nos Serviços de Estatística e Censos e também no Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau, entre outras funções. Domina o chinês, o português e o inglês.

6 Jun 2017

China acusa EUA de ter “segundas intenções” na Ásia-Pacífico

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] governo chinês instou domingo os Estados Unidos a abandonarem a sua atitude “irresponsável” quanto aos conflitos territoriais na região Ásia-Pacífico e acusou Washington de ter “segundas intenções”.

Esta posição surgiu depois de no sábado, numa intervenção num fórum sobre segurança na Ásia, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, James Mattis, ter advertido que os Estados Unidos não aceitarão a militarização no disputado mar da China Meridional por parte de Pequim ou que sejam impostas “reivindicações marítimas excessivas e sem apoio da lei internacional”.

Hua Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, criticou domingo as declarações de Mattis e considerou-as “erróneas”.

Em comunicado, citado pela agência Efe, Hua pede que se respeitem os esforços dos países da região “para manter a paz e a estabilidade” e disse que não devem ser feitas “declarações irresponsáveis”.

A porta-voz disse também que “alguns países de fora da região, movidos por segundas intenções, insistem em fazer comentários erróneos”, numa alusão aos Estados Unidos.

A China considera que a situação no mar da China Meridional, que Pequim reclama praticamente na totalidade face a reivindicações do Vietname, Filipinas, Malásia, Brunei e Taiwan, acalmou recentemente e acusa os Estados Unidos de ameaçarem a sua soberania com “demonstrações de força” sob o pretexto de liberdade de voo ou de navegação.

Hua disse ainda que a construção pela China de instalações em ilhas artificiais da região – que podem ter uso militar – cumpre com a lei e as obrigações internacionais da China no que considera sua soberania.

“Não tem nada a ver com uma militarização” da zona, assegurou.

6 Jun 2017

Fórum de infra-estruturas | Angola, Moçambique e Brasil entre os países com acordos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fórum sobre investimento em infra-estruturas que se realizou em Macau foi palco de acordo de construção para uma série de países, entre os quais sete projectos em Angola, Moçambique e Brasil.

No final do 8.º Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas (IIICF, na sigla em inglês), o presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), Jackson Chang, explicou que os projectos estão “relacionados com parques industriais multiusos, com serviços, agricultura, desenvolvimento de pontes e também reformulação de sectores de centros históricos de várias cidades”.

“Foram celebrados, ao todo, 24 contratos de negócios, acordos-quadro e memorandos de entendimento”, pelo que “os resultados alcançados foram satisfatórios”, afirmou Jackson Chang, na conferência de imprensa de encerramento do IIICF, que juntou, ao longo de dois dias, mais de 1700 participantes, entre os quais 57 quadros de nível ministerial, de um universo de 63 países e regiões.

Portugal fez-se representar pelos secretários de Estado da Indústria e da Internacionalização, João Vasconcelos e Jorge Oliveira, respectivamente.

Pacotes amplos

“Testemunhamos a assinatura de grandes projectos”, disse, por seu turno, o presidente da Associação dos Construtores Civis Internacionais da China, a outra entidade co-organizadora, destacando que os acordos selados envolvem, no total, um “valor recorde” de 12 mil milhões de dólares norte-americanos.

Neste âmbito, Fang Qiuchen elencou “três projectos essenciais” no Gana, na Jamaica e em Angola, com o último a dizer respeito a um pólo de desenvolvimento turístico. “É um projecto muito grande. É um parque turístico em Cabo Ledo”, afirmou, descrevendo “um pacote muito alargado que inclui infra-estruturas, um parque industrial e todos os aspectos de recreação, como hotéis, etc.”.

Os restantes acordos envolvendo Angola dizem respeito à construção de parques industriais, de agricultura e de pescas e de uma área de restauração.

Já o único projecto em Moçambique versa sobre a manutenção da ponte sobre o rio Save e a construção de uma nova na EN1, a única via que cruza o país de norte a sul; enquanto o memorando de entendimento relativo ao Brasil tem que ver com um projecto de engenharia.

A próxima edição do fórum realiza-se a 7 e 8 de Junho do próximo ano.

5 Jun 2017

Ambiente | Recolha de materiais electrónicos até final do ano

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo vai, até ao final do ano, proceder a uma recolha de produtos electrónicos. A ideia foi deixada por Tam Vai Man, responsável pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), em declarações ao Jornal do Cidadão. “No segundo semestre, a DSPA vai avançar com um plano de recolha de computadores, telemóveis e impressoras, a ser feito nas escolas departamentos públicos e instituições sem fins lucrativos”, disse Tam Vai Man. O objectivo é a sua reciclagem que pode ser feita através da transformação ou da reutilização. Para o efeito, o Governo pondera a entrega de alguns destes produtos a instituições de caridade e a pessoas financeiramente carenciadas.

À mesma fonte, o director da DSPA sublinhou a sua satisfação no que respeita ao desenvolvimento do programa de recolha de pilhas que entrou em acção no final do ano passado. “Actualmente existem mais de 400 postos de recolha de pilhas e de baterias e, no segundo semestre deste ano, vamos accionar mais postos, principalmente em empresas, edifícios residenciais, escolas e institutos de ensino superior”, disse.

Questionado acerca do nova central de incineração, Tam Vai Man disse acreditar que a terceira fase, referente à construção do projecto, poderá estar pronta em 2021.

“Estão terminados os trabalhos de design e segue-se a avaliação de impacto ambiental”, explicou o responsável. Por outro lado, o director da DSPA tentou tranquilizar a faixa da população que se mostra preocupada com a proximidade do projecto de habitação social de Wai Long, sendo que o director da DSPA garante que “estão a ser adoptados os padrões da União Europeia”.

5 Jun 2017

Comércio on-line | Macau precisa de avançar no sector

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau deve investir mais no comércio electrónico. A ideia é deixada por Pang Chuan, membro do Conselho para o Desenvolvimento Económico que considera que os residentes estão a mudar os padrões de consumo.

Para Pang Chuan são cada vez mais os consumidores do território que optam pelas compras on-line e de modo a manter competitividade, Macau deve investir no sector.

O membro do Conselho para o Desenvolvimento Económico, em declarações ao jornal Ou Mun, afirma ainda que com o desenvolvimento do turismo, são várias as empresas  de fora interessadas em investir na região. Para Pang Chuan o desenvolvimento local vai continuar a ter cada vez mais interacções  com as regiões vizinhas e, como tal, é fundamental que se mobilize dentro do sector do comércio electrónico de modo a manter essas relações.

Por outro lado, o representante do Conselho considera que o desenvolvimento do comércio on-line pode ainda fortalecer o território enquanto plataforma entre o Continente e os países da língua portuguesa.

De acordo com a mesma fonte, Pang Chuan não deixa de lamentar o progresso lento que tem sido feito neste sentido. Para resolver a situação, sugere que o Governo considere uma acção integrada que envolva os vários departamentos.

5 Jun 2017

Habitação | Sugerida limitação de compra de fracções

A China Continental já o fez. Para controlar a especulação imobiliária limitou a compra de fracções. Cheong Sok Leng, subdirectora do Centro da Política da Sabedoria Colectiva acha que Macau deve seguir o exemplo. Em causa está a dificuldade da classe média em ter uma habitação e a opção de muitos em congelar a carreira para poder concorrer às casas do Governo

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando se trata de habitação, Macau deve seguir o exemplo do Continente. A ideia foi deixada por Cheong Sok Leng, subdirectora do Centro da Política da Sabedoria Colectiva que considera que a solução para a especulação imobiliária no território passa por limitar a aquisição de fracções.

Em declarações ao Jornal Ou Mun, Cheong Sok Leng, lamenta a inércia do Governo no que respeita a medidas efectivas capazes de controlar a especulação do mercado imobiliário. “São medidas leves demais e não contribuíram em nada para ajudar os jovens locais ou os residentes da classe média”, disse a responsável.

A questão da habitação é, considera Cheong Sok Leng, fulcral para o desenvolvimento de qualquer sociedade, sendo que as dificuldades em adquirir casa que se sentem no território têm impactos em várias frentes. Como exemplo, a responsável alerta: a situação interfere directamente quando se fala de ascensão profissional dos residentes.

Carreira estagnada

De acordo com a subdirectora do Centro da Política da Sabedoria Colectiva, há mesmo quem opte por não querer subir na carreira para conseguir ter acesso a uma casa. Desta forma, afirma, “as pessoas podem ter a possibilidade de se candidatar à habitação pública na medida em que apresentam menos rendimentos. “Há pessoas que optam por se manter no mesmo escalão profissional ou por trabalhar a tempo parcial só para satisfazer os requisitos do Governo”, afirmou Cheong Sok Leng.

A responsável considera ainda que a tomada de medidas efectivas é urgente e o exemplo dado pelo Continente pode ser um caminho a seguir pelo Governo do território. Na China Continental, e face ao aumento excessivo do preço da habitação, a aquisição de imobiliário passou a ser limitada. Paralelamente, Cheong Sok Leng sugere que o Executivo avance com estratégias de desenvolvimento de habitação pública e privada. Para o efeito, o Governo deve proceder ao planeamento dos terrenos de modo a ter em conta as diferentes classes sociais e as suas possibilidades para que o mercado imobiliário possa, diz, “voltar à normalidade”.

5 Jun 2017

Tiananmen | Censura e educação causam “amnésia” sobre massacre

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chinês Jiahao nasceu em 1989, o ano em que a sangrenta repressão do movimento de Tiananmen abalou a China, mas foi só quase três décadas depois, quando estudava nos EUA, que descobriu o que se passou.

“Só então entendi porque punham as pessoas uma expressão que era um misto de curiosidade e cautela, quando me perguntavam o que eu achava do 4 de Junho”, lembra Jiahao à agência Lusa.

Iniciado por estudantes da Universidade de Pequim, o movimento pró-democracia da Praça Tiananmen foi esmagado pelo exército na noite de 3 para 4 de Junho de 1989, quando os tanques do exército foram enviados para pôr fim a sete semanas de protestos.

O número exacto de pessoas mortas continua a ser segredo de Estado, mas as “Mães de Tiananmen”, associação não-governamental constituída por mulheres que perderam os filhos naquela altura, já identificaram mais de 200.

Natural de Pequim e fluente em inglês, Jiahao teve que pesquisar no Google – motor de busca bloqueado na China-, para saber do que se tratava, ilustrando o sucesso do Governo chinês em censurar qualquer informação relativa ao episódio.

“A China tem sido notavelmente bem-sucedida em eliminar a memória” da repressão de há 28 anos, diz Louisa Lim, investigadora que escreveu um livro sobre o movimento.

A autora do “The People’s Republic of Amnesia: Tiananmen Revisited”, publicado em 2014, diz mesmo ter ficado “chocada com o nível de ignorância sobre as mortes dos estudantes chineses em 1989”.

Desde que o Presidente chinês, Xi Jinping, ascendeu ao poder, em 2013, passaram a existir “movimentações no sentido de prevenir actos de homenagem privados”, como a “detenção de pessoas que se reúnem à porta fechada”, em memória das vítimas, conta a académica ligada à Universidade de Michigan.

Nem o ‘boom’ do número de cibernautas no país – são já cerca de 730 milhões – parece abalar a censura, que tem conseguido controlar a informação difundida na rede.

Por outro lado, a educação patriótica promovida após o massacre desviou também a atenção das novas gerações chinesas para as preocupações económicas, em detrimento das políticas.

Muitos jovens chineses têm hoje outras prioridades, “mais tangíveis”, como “encontrar emprego ou comprar uma casa”, conta Lim.

Outros valores

Desde 1989, a economia chinesa cresceu, em média, quase 10% ao ano, o triplo da média global.

A China é hoje a segunda maior economia do mundo e principal potência comercial do planeta, tendo-se convertido numa potência capaz de disputar a liderança global com os EUA.

Chen Xi, 28 anos e gestor de compras num hospital de Pequim, diz que Tiananmen “pertence à geração dos seus pais.”

“A política não me interessa muito”, aponta. “Aquilo que sei é através de conversas entre os meus pais, que de vez em quando comentam o que se passou”.

As autoridades defendem que a acção do Governo, em 1989, foi necessária para abrir caminho ao crescimento económico, e que se o exército não interviesse, “a China mergulharia no caos”, como aconteceu em outros países socialistas.

Louisa diz que se trata de “uma justificação retrospectiva da repressão”, que se tornou numa “corrente dominante na China”, até porque “as pessoas podem ver que as suas vidas são melhores do que a que os seus pais e avôs tiveram”.

O uso da força, contudo, foi “claramente uma movimentação política, com o intuito de enviar a mensagem de que movimentos coordenados não seriam tolerados”, defende.

E a julgar pelas declarações de Cheng Yunhui, jovem natural de Pequim, o massacre parece ter surtido o efeito desejado.

“Se apelares aos estudantes de hoje para se unirem em torno de uma causa, duvido que tenham o mesmo voluntarismo”, diz. “As pessoas tornaram-se apáticas”.

Em Macau, os acontecimentos de Tiananmen foram lembrados com uma vigília na praça do Leal Senado.

5 Jun 2017

Arquivo das Confissões. Bernardo Vasques e a Inveja: Recensão e Estudo breve

Fernanda Gil Costa

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão é propriamente uma novidade ver o romance contemporâneo português envolvido de novo com a História em torno de alguns dos seus mais conhecidos agentes e motivos, assim celebrando a ‘controlada’ ficção de que falava Agustina na conhecida e oportuna definição de História. O retorno a Camões (à figura histórica, no caso que nos interessa) parece merecer particular destaque, já que surge inesperadamente em dois romances publicados entre o final de 2016 e o princípio de 2017. Na verdade, é o autor de Os Lusíadas, acompanhado dos mistérios que a sua lenda continuamente projecta, ainda mais adensada pelos raros esclarecimentos documentais, que vem ao encontro do obscuro mundo do início do século XXI sem aparentemente estranhar o deslocado terreno ou sentir qualquer constrangimento. É o caso de Arquivo das Confissões. Bernardo Vasques e a Inveja, de Carlos Morais José (lançado em Lisboa em Outubro de 2016), publicado em Macau no mesmo ano, e de Os Naufrágios de Camões, de Mário Cláudio (lançado em Fevereiro de 2017).

Ocupamo-nos aqui do primeiro caso por ser o autor pessoa pública em Macau – o jornalista Carlos Morais José igualmente reconhecido como autor de extensa obra própria, sobretudo lírica, com firmado nome literário não só em Macau, onde normalmente exerce a sua multifacetada actividade e vive há mais de 26 anos. Merece ressalva o facto de justamente esta sua última obra ser um romance sobre a história de Macau e ter sido motivo de um convite para o festival “Correntes d’ Escrita” (edição de 2017), que deixou o autor surpreendido (como o próprio confessa), embora nos pareça mais do que justo e natural. Na verdade, Macau e a sua população, as suas letras em várias línguas e os seus autores multifacetados (infelizmente bastante ignorados) não parecem chamar habitualmente a atenção de Lisboa. Ao falar da sua obra, Morais José remete precisamente para o que chama com oportunidade uma “escrita de exílio”, sublinhando o centralismo da literatura portuguesa tantas vezes alheada da diáspora que por todos os cantos do mundo continua a imprimir-se em saudável variedade de tons e nuances linguísticas, embora se considere satisfeito com o chamamento à Póvoa de Varzim: “Mais por Macau do que por mim”, afirma. E acrescenta a seguir: “Esta cidade é, em si mesma e na sua mitologia literária, praticamente inesgotável e há ainda muito por descobrir e explorar.” (Hoje Macau, 15/12/2016)

A ideia de ter existido em Macau – a Cidade do Nome de Deus, um arquivo de confissões, compilado e guardado pelos jesuítas para efeitos de estudo e reflexão dos membros da ordem sobre a sua especial comunidade de pecadores, no auge do período de evangelização do Oriente, parece ao mesmo tempo apelativamente herética e incautamente remota. Logo, perfeita como argumento de ficção e motivo de envolvimento com a História. Assim, na “Advertência ao leitor” esclarece-se a propósito: “A história que se segue não pretende rigor histórico ou justeza, na descrição de factos, hábitos ou comportamentos de antanho. As datas referidas e os intervenientes querem-se, obviamente, tão ficcionais quanto a realidade”.

Sendo, pois, o ponto de partida do romance um assumido desafio a todo o propósito ‘sensatamente’ realista, a sua organização retoma as melhores tradições do género da narrativa enquadrada – gavetas de histórias que se abrem e esvaziam a partir de outras, articuladas em móveis geometrias de eventos misteriosos, de segredos e tesouros perdidos, dando origem à variedade das vozes e ‘fantasmas’ que lenta e intencionalmente desenrolam um imbricado novelo que só uma arquitectura onírica sustenta: um padre inglês protestante recebe por mero acaso um secreto legado, perdido e de origem desconhecida, cedendo a voz, na recepção do inesperado tesouro, a um padre católico irlandês em trânsito entre mundos que, por sua vez, lê (ou cita) um jesuíta português, que ouve e regista em confissão um estranho, patético bandido e navegante português de neo-pícaro recorte, o qual durante uma viagem teve e gulosamente aproveitou a oportunidade de se apropriar pelo roubo de nem mais nem menos do que uma obra desconhecida e auto-biográfica de Luís de Camões.

As Mil e uma Noites e os Canterbury Tales, para deixar dois exemplos conhecidos e replicados em imensas variantes, são na sua estrutura longínquos modelos do género da narrativa que desafia o tempo (a morte) – uma luta travestida na busca de segredo intangível, que ainda recentemente orientou também obras tão notáveis como O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Note-se ainda que o tema igualmente dominante do roubo de autoria, ligado à inveja, norteou há poucos decénios uma obra tão famosa como Amadeus de Peter Shaffer (1979), na origem do filme de Milos Forman (1984) com o mesmo título. E que a mesma ideia, embora disfarçada de roubo de identidade (não será a mesma coisa, tratando-se de Camões?) surja igualmente na já referida obra de Mário Cláudio só revela que uma coincidência pode ser auspiciosa.

Signo também de pós-modernismo e dos diálogos e cruzamentos acrónicos que o mesmo promove, a mais ou menos velada exibição do parentesco literário da obra não é um propósito em Carlos Morais José, cujo romance sobre a inveja (pela via pérfida de Bernardo Vasques) vai muito além da recepção parodística dos clássicos e da propagação criativa da lenda romântico /nacionalista de Camões.

Dois registos são fundamentais nesta obra: primeiro, o da literatura de viagem que colhe na tradição vastíssima do género (pícaro, aventura, viagem iniciática); segundo, o da reflexão filosófica que invade a perspectiva através da voz do narrador principal.

O romance sobre a história de Bernardo Vasques é por isso em primeiro lugar um romance de viagens, tradição bem vincada na literatura portuguesa por textos maiores como Peregrinação e História Trágico-Marítima, com a qual a obra de Morais José intermitentemente dialoga. A viagem é o espaço da narrativa dentro e fora do relato do herói. Todas as personagens estão em viagem (viagem por mar, deambulação por impérios) o que explica o afastamento ou ausência de figuras femininas. Além disso, só a viagem que decorre no presente, a do padre inglês, está escorada por eventos com substância narrativa; as outras, a do padre irlandês e a de Bernardo Vasques são relatos escritos/lidos e pertencem ao tempo passado da história, embora a viagem também seja nelas um elemento agregador, tendo ainda em comum o facto de os narradores/ contadores desaparecerem logo depois do relato, acentuando o ambiente rarefeito e a atmosfera onírica da história enquadrada

Para além da viagem e das múltiplas portas por ela abertas à tradição do género, o romance é igualmente uma reflexão filosófica, sempre que a voz principal da narrativa, a do padre inglês que encontra nas docas de Singapura o padre irlandês que abandonou a vida sóbria, conduz o relato; sobre ele avisa o estalajadeiro: “o vinho, por vezes, cai-lhe mal; a aguardente, pior; não ligueis ao que ele vos disse”…159 – o que acontece no início e no fim – já que a história central é a confissão de fim de vida de Bernardo Vasques, com os seus muitos episódios entre o pícaro e o deslumbrado delírio. Essa voz, que se adensa no entendimento do humano e da sua pequenez, origem da Inveja, raiz do pecado e do mal em sentido bíblico, e que no grafismo do texto é assinalada pelo cursivo, constitui a interpelação ao leitor que se aproxima do livro para ler além da paródia e da referência, a caminho de um simbolismo iluminador.

A única viagem verdadeira no tempo presente da história é afinal a que se faz entre Singapura e Macau, entre o império inglês e o império português, em vésperas do incêndio do Colégio de S. Paulo, a primeira universidade católica da Ásia. Essa viagem está por isso cheia de sentido iniciático já que o protestante encontra em Macau os jesuítas acossados pelos ventos de fim de ciclo que o iminente desaparecimento do colégio sublinha de forma inevitável. Ficará apenas a ruína assombrada de um destino por cumprir e que a neurótica aventura de BV só vem acentuar e questionar. O seu relato é afinal a voz do poeta maldito que transporta em si, já que Bernardo – o ventríloquo, sintomaticamente desaparece antes da bênção e do perdão final, coada no poema decorado (por amor, não por inveja – uma vez que a inveja é esse sentimento dúplice próximo por vezes da ‘ironia romântica’ (a tal que define a definitiva imperfeição e corresponde ao desejo de absoluto) sobre a qual afirma o impotente (embora convencido) narrador: “talvez só Deus saiba como julgar a inveja”…, 157).

O Mal infecta-me como os versos do poeta infectavam Bernardo Vasques” (164) – é nesta frase que se pode encontrar, em nosso entender, a palavra passe da obra, a sua trave mestra. O mal é a outra face do bem, produto da negação (a inveja benigna é afinal negação produtiva da insatisfação em tudo, da aceitação da miséria moral e da insuficiência do esforço), sonho obscuro e polémico que encontramos na arte desde que Goethe criou um inesquecível Mefistófeles mundano, que com Deus, através de singular aposta (e por intermédio do homem – Fausto), no humano plasmou o desejo de mais-querer, a porfia e o esforço de conhecimento e acção (streben, diz-se em alemão), que é afinal a medida transcendente em que a verdadeira, exigente dimensão humana modernamente se reconhece, pelo menos desde o Renascimento.

Arquivo das Confissões. Bernardo Vasques ou a Inveja é um livro feliz, que se lê em duas noites pelo tom jocoso e pela frescura do assunto e que além disso traz aquele sabor a vinho antigo que torna a leitura deliciosa e faz regressar em busca dos ecos e das alusões, um frutuoso exercício de pós-modernismo literário.

5 Jun 2017

Programa nuclear de Pyongyang é “uma ameaça para todos”, diz Jim Mattis

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário da Defesa norte-americano, Jim Mattis, alertou sábado para o acelerado desenvolvimento do programa de armamento da Coreia do Norte, que representa “uma ameaça para todos” e que é encarado pelos Estados Unidos como “um claro perigo”.

Em declarações numa conferência sobre segurança internacional em Singapura, Mattis disse que a administração Trump se sente encorajada pelo compromisso renovado da China em trabalhar com os Estados Unidos para impedir o desenvolvimento de armas nucleares pela Coreia do Norte.

A China bloqueou as novas e mais severas sanções contra Pyongyang que os Estados Unido propuseram ao Conselho de Segurança da ONU. Ainda assim, o Conselho de segurança votou unanimemente para adicionar 15 indivíduos e quatro entidades ligadas ao programa nuclear e de mísseis norte-coreano à ‘lista negra’ de sanções da ONU.

“O contínuo desenvolvimento, pela Coreia do Norte, de armas nucleares e meios para as lançar não é novo, mas o regime acelerou o ritmo e alargou âmbito dos seus esforços”, disse, aludindo aos vários testes de dispositivos nucleares e mísseis que o regime de Kimg Jong-un tem levado a cabo.

“Apesar de o regime da Coreia do Norte ter um longo historial de homicídio de diplomatas, sequestros, morte de marinheiros, e actividade criminosa, o seu programa de armas nucleares é uma ameaça para todos. Em termos de segurança nacional, os Estados Unidos consideram que a ameaça da Coreia do Norte é um perigo claro e presente”, afirmou Mattis.

No seu discurso, Mattis equilibrou os elogios à China com críticas ao que chamou de desrespeito de Pequim pela lei internacional devido à sua “indiscutível militarização” de ilhas artificiais em zonas disputadas no Mar do Sul da China.

“Não podemos e não vamos aceitar mudanças unilaterais e coercivas ao ‘status quo’” no Mar do Sul da China, disse.

5 Jun 2017

Fórum Macau | Fundo está a analisar mais de 20 projectos

Foi lançado em 2013 mas, até agora, serviu apenas para ajudar em três projectos lusófonos. Os mil milhões de Pequim poderão agora começar a ter outra utilidade. Espera-se que, com a transferência do fundo para Macau, sejam construídas mais redes

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fundo chinês de mil milhões de dólares destinado a investimentos de e para o universo lusófono, cuja sede foi ontem oficialmente transferida para Macau, continua a analisar mais de 20 projetos, incluindo de Portugal e Timor-Leste.

A informação foi facultada numa conferência de imprensa conjunta do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) e da Direcção dos Serviços de Economia (DSE), à margem da cerimónia de descerramento da placa da sede do fundo, que marca a sua transferência de Pequim para Macau, inserida no 8.º Fórum Internacional sobre o Investimento e Construção de Infra-estruturas (IIICF), que arrancou ontem.

Activado em Junho de 2013, o denominado Fundo de Cooperação para o Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa, anunciado em 2010 pelo então primeiro-ministro chinês Wen Jiabao, aprovou, até ao momento, o financiamento de apenas três projectos em Moçambique, Angola e Brasil, concedendo um montante total de cerca de 35 milhões de dólares norte-americanos.

Trata-se de um projecto agrícola em Moçambique da empresa chinesa Wanbao, um relacionado com o fornecimento de equipamentos para transmissão e distribuição de electricidade em Angola e um projecto solar no Brasil que, no seu conjunto, representam investimentos na ordem de 600 milhões de dólares.

Actualmente, o fundo encontra-se a acompanhar mais de 20 projectos, incluindo de Portugal, Timor-Leste, Brasil e Cabo Verde envolvendo investimentos de 800 milhões de dólares, ou seja, um número de candidaturas idêntico ao que tinha em mãos há mais de um ano.

No caso de Portugal, está sob análise um projecto relacionado com o terminal do porto de Sines. “Estamos a olhar para esse projecto, temos de acompanhar, de avaliar, penso que ainda está numa fase inicial”, disse à Agência Lusa o presidente do fundo, Chi Jianxin, à margem do IIICF, indicando que foi recentemente discutido em Pequim com um representante português dos Negócios Estrangeiros.

Já no caso de Cabo Verde o pedido de financiamento diz respeito ao projecto hoteleiro do empresário de Macau David Chow, que prevê a construção de uma estância turística no ilhéu de Santa Maria, situado defronte da capital, Cidade da Praia. Não foram divulgados detalhes sobre as outras candidaturas.

Casa nova em três anos

O fundo vai funcionar provisoriamente no Centro de Apoio Empresarial adstrito ao IPIM, prevendo-se que se mude, dentro de três anos, para o Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Aquando da V Conferência Ministerial do Fórum Macau, em Outubro último, realizou-se uma cerimónia de descerramento da placa desse complexo – que está ainda por construir –, aproveitando a presença do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.

Chi Jianxin entende que a mudança da sede do fundo de Pequim para Macau apresenta vantagens, desde logo porque o território tem uma maior relação de proximidade com os países de língua portuguesa, o que irá permitir uma maior divulgação relativa à operacionalidade do fundo, que segue as regras do mercado, e potenciar candidaturas, “permitindo criar uma rede mais ampla de cooperação”.

O Governo de Macau destacou, por seu turno, que a mudança da sede tem “um sentido significativo”, nomeadamente por possibilitar um maior apoio às empresas locais na exploração de oportunidades nos mercados dos países de língua portuguesa.

Em paralelo, o fundo, ao tornar-se numa empresa registada e explorada em Macau, vai formar profissionais na área, “criando um precedente de desenvolvimento do sistema financeiro com características próprias de Macau”.

Tal surge na senda do novo desígnio de transformar Macau numa “plataforma de serviços financeiros entre a China e os países de língua portuguesa” – plasmado nas medidas anunciadas pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, para o período 2017-19, no âmbito da V Conferência Ministerial do Fórum Macau.

Ontem foram ainda celebrados dois protocolos referentes à cooperação estratégia no desenvolvimento e investimento em Macau e nos países de língua portuguesa entre o fundo e empresas da China e entre o fundo e empresas de Macau.

2 Jun 2017

Receitas dos casinos subiram 23,7 por cento em Maio

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s casinos de Macau fecharam o mês passado com receitas de 22,742 mil milhões de patacas. O número representa um aumento de 23,7 por cento em relação ao ano passado.

Segundo dados publicados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), os casinos registaram no acumulado de Janeiro a Maio receitas de 106,382 mil milhões de patacas, mais 15,8 por cento face aos primeiros cinco meses do ano passado.

Maio marcou o décimo mês consecutivo de subida das receitas da indústria do jogo. Além disso, registou-se o maior aumento percentual desde o início da recuperação das receitas dos casinos, ou seja, desde que Agosto pôs termo a 26 meses de consecutivos de quedas anuais homólogas. Não obstante, figura como o mês com o segundo melhor desempenho em termos de receitas a seguir a Fevereiro.

Apesar da recuperação do sector iniciada no passado Verão, as receitas dos casinos de Macau caíram pelo terceiro ano consecutivo em 2016, registando uma queda de 3,3 por cento que se seguiu a uma descida de 34,3 por cento em 2015 e de 2,6 por cento em 2014.

Arrastada pelo desempenho do sector do jogo, a economia de Macau contraiu-se em 2016 pelo terceiro ano consecutivo e o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 2,1 por cento em termos reais, com a recuperação da indústria a ser insuficiente para permitir uma retoma. Este resultado representou, porém, uma significativa melhoria depois da diminuição de 21,5 por cento em 2015.

Em 2014, o PIB de Macau caiu 1,2 por cento, em termos reais, segundo dados revistos, naquela que foi a primeira queda desde a transferência de administração, em 1999, impulsionada pelo início da curva descendente das receitas dos casinos.

Economia ao lado

Em linha com o desempenho do jogo, a economia de Macau tem vindo a demonstrar sinais de recuperação. De acordo com estimativas oficiais, divulgadas esta semana, o PIB de Macau cresceu 10,3 por cento em termos reais no primeiro trimestre do ano.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu, em Fevereiro, a sua previsão de crescimento da economia de Macau para este ano, avançada em Outubro, de 0,2 por cento para 2,8 por cento.

No final de Março, o território contava com 6423 mesas de jogo e 16.018 slot machines, distribuídas por 39 casinos.

2 Jun 2017

Corrupção | Ex-chefe das estatísticas condenado a prisão perpétua

[dropcap style≠’circle’]W[/dropcap]ang Baoan, ex-director do Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês, organismo encarregado de calcular e anunciar os dados económicos do país, foi condenado na quarta-feira a prisão perpétua, por aceitar subornos, informou a agência noticiosa oficial Xinhua.

A sentença foi anunciada pelo Tribunal Popular Intermédio de Zhangjiakou, que ordenou o confisco de todos os bens de Wang e a sua privação de direitos políticos para sempre.

O tribunal considerou Wang, 52 anos, culpado por aceitar subornos no valor de mais de 153 milhões de yuan durante os diferentes cargos que ocupou na Administração Estatal dos Impostos, Ministério das Finanças, governo provincial de Heilongjiang e no GNE.

A investigação contra Wang foi anunciada em Janeiro de 2016, uma semana depois de este ter anunciado, em conferência de imprensa, os dados referentes ao crescimento da economia chinesa no ano anterior.

Em Agosto passado foi expulso do Partido Comunista Chinês (PCC).

A Comissão Central de Disciplina e Inspecção do PCC acusa-o de “falta absoluta de convicções políticas”, de se “envolver regularmente em actividades supersticiosas”, ou “fazer discursos contra os princípios do PCC”.

Wang é um funcionário na “bancarrota moral”, considerou o órgão máximo anti-corrupção do PCC, acusando-o de frequentar hotéis e locais de luxo e de usar a sua posição para obter dinheiro e favores sexuais, “de forma insaciável”.

Segundo a Xinhua, Wang recebeu uma sentença “benévola”, por ter cooperado com as investigações, entregue os ganhos obtidos ilegalmente e admitido os seus crimes.

Cheios de penas

Na quarta-feira, foram anunciadas as penas de vários casos de corrupção envolvendo figuras proeminentes na China, como a sentença a seis anos de prisão de Chang Xiaobing, o ex-presidente das estatais China Telecom e China Unicom, também acusado de receber subornos.

O antigo vice-governador da província de Sichuan, centro do país, Li Chengyun, foi condenado a dez anos de prisão acusado do mesmo crime.

Lu Ziyue, presidente da câmara da cidade portuária de Ningbo, foi também condenado a prisão perpétua por receber subornos.

Após ascender ao poder, o Presidente chinês, Xi Jinping, lançou uma campanha anti-corrupção, hoje considerada a mais persistente e ampla na história da China comunista, e que resultou já na punição de um milhão de membros do partido.

Os alvos incluíram oficiais menores, a que Xi se refere como “moscas”, mas também mais de uma centena de “tigres” – altos quadros do partido, com a categoria de vice-ministro ou superior.

Os dois casos mais mediáticos envolveram a prisão do antigo chefe da Segurança Zhou Yongkang e do ex-director do Comité Central do PCC e adjunto do antigo presidente Hu Jintao, Ling Jihua.

2 Jun 2017

China | Empresa que fabrica sapatos Ivanka Trump rejeita acusações

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma empresa chinesa que fabrica sapatos para a marca da filha do Presidente norte-americano, Donald Trump, rejeitou ontem as acusações de salários baixos e tempo de trabalho excessivo feitas por três activistas que se encontram detidos ou desaparecidos.

Hua Haifeng, um dos investigadores da organização não-governamental norte-americana China Labor Watch, foi detido por vigilância ilegal, segundo avançou a agência The Associated Press. Dois colegas seus – Li Zhao e Su Heng – estão desaparecidos.

Os três estavam a elaborar um relatório sobre as condições de trabalho na Huajian, empresa chinesa que produz sapatos da marca Ivanka Trump, que incluía acusações de salários baixos, tempo de trabalho excessivo e abuso de estagiários.

“Estamos chocados”, disse Long Shan, porta-voz do grupo Huajian, num e-mail enviado à Associated Press. “Vocês avançaram com informações falsas que não são baseadas em factos, e sem o nosso consentimento”, refere.

Long afirmou que a empresa parou de produzir sapatos Ivanka Trump há vários meses e revelou que Hua Haifeng trabalhou no grupo em Maio, por menos de uma semana, enquanto Su Heng entrou para a fábrica no final de Abril, mas saiu pouco tempo depois.

A porta-voz do grupo disse ainda desconhecer onde estão os dois homens.

Problemas de expressão

Long disse que acusações de que os patrões abusavam verbalmente dos funcionários, inclusive insultando-os, têm como base mal-entendidos.

“É o dialecto local a ser utilizado como linguagem de gestão”, disse.

A porta-voz afirmou ainda que a Huajian está a investigar alegações sobre o uso impróprio de estagiários.

Nos últimos 17 anos, a China Labor Watch tem investigado as condições de trabalho nos fornecedores chineses de algumas das empresas mais conhecidas a nível mundial, mas nunca tinha atraído o escrutínio do aparelho de segurança chinês, segundo Li Qiang.

O caso levantou questões sobre se os interesses comerciais da família Trump na China podem influenciar a posição norte-americana na promoção dos direitos humanos.

2 Jun 2017

Filipinas | Pelo menos 174 mortos em combates entre extremistas e exército

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ubiu para 174 o número de mortos em combates na cidade de Marawi, no sul das Filipinas, entre grupos extremistas ligados ao Estado Islâmico e o exército, informaram ontem fontes militares.

O tenente-coronel Jo-ar Herrera, porta-voz da 1.ª Divisão da Infantaria, declarou aos media que pelo menos 120 islamitas foram abatidos enquanto 25 efectivos governamentais perderam a vida em acção.

O ministro de Defesa filipino, Delfin Lorenzana, confirmou ontem que pelo menos outros 10 soldados morreram durante um ataque aéreo lançado pelo próprio exército, o que eleva o número de baixas governamentais para 35.

Os números oficiais também dão conta da morte de 19 civis, enquanto o porta-voz do Comité de Gestão de Crises da província de Lanao do Sul, Zia Alonto Adiong, disse à agência Efe que “o número de baixas civis rondará uma centena”.

Entre 50 a 100 extremistas do grupo Maute, ligado ao Estado Islâmico, permanecem no centro da cidade e usam mulheres e crianças como escudo humano, disse em conferência de imprensa o porta-voz do exército Restituto Padilla.

Os combates começaram no dia 23 de Maio com o fracasso de uma operação militar para capturar Isnilon Hapilon, líder do grupo extremista Abu Sayyaf, também com ligações ao Estado Islâmico, e que estava a ser protegido por membros do grupo Maute.

Os extremistas contra-atacaram com o objectivo de tomar parcialmente a cidade e pegaram fogo a uma esquadra da polícia, uma prisão e uma igreja, de onde sequestraram um padre e 13 paroquianos, que mantiveram cativos.

O exército recuperou desde então 90% da população e tenta eliminar “pequenos grupos de resistência” escondidos atrás de um número indeterminado de civis.

2 Jun 2017

Li Keqiang diz que combate às alterações climáticas é “consenso global”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse ontem que o combate às alterações climáticas é um “consenso global” e uma “responsabilidade internacional”, face à possibilidade de os Estados Unidos se retirarem do Acordo de Paris.

“As nossas palavras têm peso e as nossas acções devem alcançar o êxito”, disse Li, numa conferência de imprensa em Berlim, ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel.

O responsável chinês recordou que o seu país teve um papel activo no processo de negociação do acordo e foi um dos primeiros a levá-lo ao parlamento para ser ratificado e a apresentar nas Nações Unidas as medidas que planeia implementar.

“A China é um grande país e assume a sua responsabilidade internacional”, realçou.

Em Pequim, a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Hua Chunying afirmou também que a China vai trabalhar com a União Europeia (UE) para manter o Acordo de Paris contra as alterações climáticas, mesmo que se confirme a retirada dos EUA.

O aquecimento global é um “desafio global” que nenhum país pode ignorar, afirmou Hua.

“Não importa as mudanças nas posições de outros países, nós vamos manter um modelo de desenvolvimento sustentável”, afirmou.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, deve estar prestes a anunciar a sua decisão sobre a retirada dos EUA.

Caminho conjunto

A China é o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, seguida pelos EUA. Ambos os países foram elementos chave para a conclusão do acordo em Paris, em 2015, que foi assinado por 195 nações.

Trump afirmou anteriormente que as alterações climáticas são uma “farsa” criada pela China para danificar a economia norte-americana, numa posição que desafia um consenso cientifico alargado.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, vai abordar o acordo em Bruxelas, durante um encontro com líderes da UE.

“Desejamos trabalhar com a UE para reforçar a nossa comunicação e cooperação prática nas alterações climáticas”, disse Hua.

Questionada sobre qual o tipo de intercâmbio que os líderes chineses têm tido com Trump sobre a sua decisão, Hua afirmou apenas que a China e os EUA “têm mantido uma comunicação próxima a vários níveis”, incluindo na questão das alterações climáticas.

2 Jun 2017

Línguas oficiais: Mak Soi Kun quer comissão a analisar leis

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Mak Soi Kun recorreu ontem ao período de antes da ordem do dia, no plenário da Assembleia Legislativa (AL), para pedir a criação de uma comissão que analise todas as leis em vigor no território e eventuais disparidades que possam existir entre as duas línguas oficiais.

“Gostaria de sugerir que fosse criada uma comissão especializada para, quanto antes, verificar a correspondência das versões das leis, em português e em chinês. É, pois, através desta verificação, enquanto forma de remedeio e correcção, que se vai conseguir apurar se igual situação também acontece noutros diplomas e se alguns direitos e interesses legítimos dos residentes terão sido afectados na aplicação das leis ou políticas, por essas mesmas razões”, disse no hemiciclo.

Esta questão surgiu no âmbito da alegada existência de divergências entre as versões portuguesa e chinesa do regime eleitoral da AL. Para o deputado, “esta pode ser apenas a ponta do icebergue, pois não se sabe se a desconformidade entre essas versões também acontece noutros diplomas legais”.

1 Jun 2017

Cimeira | Governo promete ligação com empresas dos países de língua portuguesa

Na primeira cimeira sobre a construção de uma plataforma de serviços para a cooperação com os países de língua portuguesa, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, destacou o papel que Macau pode ter como elemento de ligação entre as empresas do espaço lusófono e as que estão localizadas na China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Chefe do Executivo apresentou ontem algumas ideias sobre o papel que o território poderá desempenhar na ligação entre as empresas sediadas no Continente e as que fazem parte dos mercados lusófonos.

Chui Sai On discursou na Cimeira sobre a Construção da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa de Macau, que se realizou ontem. No seu discurso, o governante “prometeu que Macau irá apoiar activamente o sector industrial e comercial dos países de língua portuguesa no desenvolvimento da cooperação com as empresas estatais nacionais e o mercado do Interior da China”.

O Chefe do Executivo garantiu que o Governo “já elaborou o planeamento geral de estratégias, mecanismos e recursos” nesta área. Além disso, “estão a ser desenvolvidos diversos trabalhos programados para a construção da plataforma”, estando a ser “continuadamente introduzidos novos elementos”. Nesta perspectiva, “torna-se entusiasmante o futuro do desenvolvimento [de Macau]”, acrescentou Chui Sai On.

O lado bom

O Chefe do Executivo afirmou ainda que a cimeira que ontem teve a sua primeira edição vai proporcionar “uma ligação mais estreita entre as empresas estatais nacionais, as empresas de Macau e as empresas dos países de língua portuguesa”.

No caso de Macau, “as empresas estatais nacionais têm contribuído, de forma ímpar, para o desenvolvimento económico [do território], trazendo-lhe novas energias nas diversas fases”, frisou.

O território está ainda a posicionar-se em prol de uma maior integração no “desenvolvimento nacional”, participando em políticas implementadas por Pequim, como é o caso de “Uma Faixa, Uma Rota”, sem esquecer a integração na zona da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, entre outras medidas.

Chui Sai On lembrou ainda os diversos projectos que já estão em curso no âmbito do Fórum Macau, tal como a concretização das 18 medidas anunciadas pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, onde se inclui o início da construção do Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. A primeira fase do concurso público para a construção daquela que será a sede do Fórum Macau terminou em Fevereiro deste ano, tendo a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes recebido propostas de nove empresas.

1 Jun 2017

Comércio externo subiu cinco por cento até Abril

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] comparação é anual: o comércio externo de Macau atingindo 27,14 mil milhões de patacas, o que representa um crescimento de cinco por cento nos primeiros quatro meses do ano.

Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), entre Janeiro e Abril, Macau exportou bens avaliados em 3,78 mil milhões de patacas – mais 9,3 por cento – e importou produtos avaliados em 23,36 mil milhões de patacas – mais 4,4 por cento em termos anuais homólogos.

Por conseguinte, o défice da balança comercial atingiu 19,57 mil milhões de patacas, traduzindo um agravamento de 3,5 por cento comparativamente aos primeiros quatro meses do ano passado.

Em termos de mercados, as exportações para a China totalizaram 548 milhões de patacas até Abril, reflectindo uma diminuição de 4,2 por cento. As vendas de mercadorias para os países de língua portuguesa foram de 300 mil patacas, valor que traduz uma queda de 85,4 por cento em termos anuais homólogos.

Em contrapartida, as exportações para Hong Kong cresceram 16,8 por cento entre Janeiro e Abril. A mesma tendência foi verificada nas vendas de mercadorias para a União Europeia (71 milhões de patacas) e para os Estados Unidos (62 milhões de patacas) que aumentaram, respectivamente, 22,2 por cento e 27,1 por cento.

Diamantes e relógios

Em termos de mercadorias, exportaram-se 3,54 mil milhões de patacas de produtos não têxteis, mais 11,8 por cento, em termos anuais.

As exportações de joalharia com diamantes cresceram 46 por cento, enquanto as de máquinas, aparelhos e das suas partes (193 milhões de patacas) diminuíram 45,2 por cento, aponta a DSEC.

Já do lado das importações, Macau comprou à China produtos no valor de 7,72 mil milhões de patacas – menos seis por cento em termos anuais homólogos.

A mesma tendência foi verificada nas importações de mercadorias dos países de língua portuguesa (195 milhões de patacas), que diminuíram 6,1 por cento.

Em sentido inverso, as compras à União Europeia aumentaram 14 por cento.

Ao nível dos produtos, destaca-se as importações de joalharia em ouro e de relógios de pulso que subiram, respectivamente, 25,5 por cento e 37,4 por cento, de acordo com a DSEC.

Já as compras de combustíveis e lubrificantes (1,75 mil milhões de patacas), de telemóveis (1,45 mil milhões de patacas) e de materiais de construção (625 milhões de patacas) registaram descidas de 2,8 por cento, 9,7 por cento e oito por cento, respectivamente.

Só em Abril, Macau exportou produtos avaliados em 839 milhões de patacas – mais 11 por cento face ao mesmo mês de 2016 – e importou mercadorias no valor de 5,42 mil milhões de patacas, ou seja, menos 1,1 por cento, indica a DSEC. Por conseguinte, o défice da balança comercial de Abril alcançou 4,58 mil milhões de patacas.

1 Jun 2017

Património | UNESCO analisa Centro Histórico de Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) vai estar presente na 41.ª sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, agendada para Julho. Em nota à imprensa, o IC explica que a organização analisa anualmente os relatórios sobre o estado de conservação do património classificado. Este ano, durante a reunião, vai estar em cima da mesa o relatório da China sobre o estado de conservação de cinco itens do património mundial, incluindo o Centro Histórico de Macau.

O IC acrescenta que já apresentou o “projecto de decisão” e afiança estar atento “aos trabalhos de acompanhamento do estado de conservação” do património reconhecido pela UNESCO, incluindo as obras junto à Casa de Lou Kau e o planeamento urbanístico do território, assim como o Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau.

“Como na ordem de trabalhos da reunião há muitos assuntos para discutir, o projecto poderá não vir a ser analisado”, avisa desde já o IC. “Após a tomada de decisão na reunião, o resultado vai ser comunicado ao Governo da RAEM através da Administração Estatal do Património Cultural da República Popular da China.”

O relatório explicativo apresentado pelo IC sobre o Centro Histórico de Macau foi submetido à UNESCO pelo Governo Central. “A Administração Estatal do Património Cultural elogiou os esforços do Governo da RAEM nos trabalhos de salvaguarda do património cultural, e considerou que se encontram efectivamente na direcção certa, tendo confiança na determinação e capacidade de salvaguardar o Centro Histórico de Macau”, lê-se ainda no comunicado. A 41.ª sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO realiza-se na Polónia.

1 Jun 2017

Maioria dos fumadores chineses não quer deixar o vício

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma investigação desenvolvida ao longo da última década indica que a maioria dos fumadores na China, o maior consumidor mundial de tabaco, não tem intenção de deixar de fumar e continua a desconhecer os riscos para a saúde.

O estudo, divulgado ontem pelo Centro Chinês para o Controlo de Doenças e investigadores do Canadá, apura que 316 milhões de chineses fumam, um número que tem vindo a crescer.

A grande maioria dos fumadores são homens, entre os quais 59% diz não querer deixar de fumar.

Geoffrey Fong, coautor do estudo, afirma que um em cada três homens chineses vai morrer de doenças relacionadas com o tabaco e que 60% destes homens não sabem que fumar pode provocar ataque cardíaco.

Algumas cidades chinesas proíbem o consumo de cigarros em espaços públicos. Funcionários chineses e estrangeiros da área da saúde defendem que aquela proibição deve ser alargada a todo o país.

Seria um “passo crucial”, afirmou Yuan Jiang, um dos responsáveis pelo estudo, em comunicado.

A decisão de alargar a todo o país a proibição de fumar em espaços públicos era para ser aprovada no final de 2016, segundo anunciou o Ministério da Saúde chinês, mas até agora não avançou.

“Eles têm que perceber o que é importante como política”, afirmou Fong. “Quando tens tabaco barato, as pessoas vão fumar”, acrescentou.

Em linha com a tendência mundial, os índices de consumo de tabaco caíram lentamente nos últimos 25 anos na China.

Cerca de um por cento por ano, entre os homens, e 2,6%, entre as mulheres, segundo um outro estudo, publicado em Abril pela revista médica The Lancet.

No entanto, devido ao aumento da população chinesa, para cerca de 1.375 milhões de habitantes, o número de fumadores aumentou.

O aumento do poder de compra significa que fumar se tornou também mais barato, enquanto os baixos impostos mantêm o preço de algumas marcas a menos de um euro por maço de cigarros.

1 Jun 2017

Investimento europeu no país cai 23%

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] investimento por empresas europeias na China registou uma queda homóloga de 23%, no ano passado, em parte devido aos obstáculos no acesso ao mercado chinês, e apesar da retórica pró-abertura e globalização adoptada por Pequim.

No total, as firmas dos países da União Europeia (UE) investiram 8.000 milhões de euros no país asiático, segundo um relatório ontem difundido pela Câmara do Comércio da UE em Pequim.

Este valor “seria substancialmente maior se fossem eliminados os obstáculos no acesso ao mercado e melhorado o ambiente jurídico”, lê-se no documento, assinado pelo presidente da Câmara, Mats Harbon.

O responsável afirma que 54% das empresas se sentem descriminadas face às firmas locais.

A falta de reciprocidade é mais evidente no acesso ao mercado.

Em 2016, a China investiu um total de 35.000 milhões de euros na UE, uma subida homóloga de 77%.

Além do referido favorecimento, as empresas europeias observam também que as firmas chinesas são cada vez mais inovadoras, um fenómeno que devem “seguir com cuidado”, aponta o documento.

Ainda assim

Apesar da percepção pouco optimista das empresas europeias sobre o mercado chinês, 55% destas registaram um aumento dos lucros no país, em 2016.

As firmas dos sectores transportes, logística e distribuição apresentaram os piores resultados, mas os esforços de Pequim para atacar a poluição sustentaram um forte crescimento entre as empresas na área do ambiente.

Ainda assim, apenas seis por cento das empresas europeias nota menos dificuldades em fazer negócios na China, enquanto 49% dizem que piorou.

O sector mais afectado é o da engenharia civil e construção, com 79% das empresas a considerar que o acesso ao mercado se tornou mais difícil, com Pequim a conceder os contratos a empresas chinesas, sobretudo estatais.

As empresas europeias enalteceram ainda a campanha anti-corrupção lançada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, mas criticaram o pesado e imprevisível quadro regulamentar e a ambiguidade das leis no país.

1 Jun 2017

ONG questionam posição dos EUA sobre direitos humanos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]rganizações não-governamentais questionaram se os interesses comerciais da família Trump na China influenciam a posição norte-americana na promoção dos direitos humanos, após a detenção e desaparecimento de investigadores numa fábrica chinesa que fornece a marca Ivanka Trump.

“A vontade de membros da família em fazer negócios na China, enquanto ignoram o histórico do país em Direitos Humanos e laborais é preocupante”, afirmou Nicholas Bequelin, director para o leste da Ásia da Amnistia Internacional.

“Vamos ter que esperar para ver até que ponto os negócios estão a diminuir o capital diplomático norte-americano na promoção dos direitos humanos, direitos dos trabalhadores e democracia”, acrescentou.

Um grupo de defesa de direitos cívicos denunciou na terça-feira que um homem que investigava condições de trabalho numa empresa chinesa que produz sapatos da marca Ivanka Trump foi detido e dois outros desapareceram.

Os homens trabalhavam para a organização não-governamental norte-americana China Labor Watch na elaboração de um relatório que incluía acusações de salários baixos, tempo de trabalho excessivo e abuso de estagiários.

Segundo o director executivo da organização, Li Qiang, os homens devem estar detidos pela fábrica ou pela polícia.

Nos últimos 17 anos, este grupo tem investigado as condições de trabalho nos fornecedores chineses de algumas das empresas mais conhecidas a nível mundial, mas nunca tinha atraído o escrutínio do aparelho de segurança chinês, afirmou Li.

A investigação da China Labor Watch tem também um alvo inédito: uma marca detida pela filha do Presidente dos Estados Unidos.

“A marca da Ivanka deve imediatamente suspender a colaboração com este fornecedor, e a administração Trump deve inverter o seu curso actual e confrontar a China sobre abusos dos Direitos Humanos”, disse Adrienne Watson, porta-voz do Comité Nacional Democrata dos EUA, citado pela agência Associated Press.

Ivanka Trump deve decidir “se pode ignorar uma aparente tentativa do Governo chinês de silenciar uma investigação sobre abusos no trabalho”, acrescentou.

Negócios da China

Os acessórios e vestuários da marca Ivanka Trump são quase todos importados da China, segundo dados oficiais.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, tem também várias marcas registadas no país, apesar de não ter uma presença forte no sector do imobiliário ou do retalho.

No mês passado, a irmã de Jared Kushner, marido de Ivanka e conselheiro de Trump, esteve na China para promover o investimento de privados chineses num projecto imobiliário na cidade norte-americana de New Jersey.

A mulher de Hua Haifeng, um dos investigadores detidos, informou que este foi acusado de vigilância ilegal, acrescentando que a polícia lhe ligou na tarde de terça-feira e, sem lhe dar qualquer detalhe, anunciou-lhe que não lhe iria ser possível ver, falar ou receber dinheiro do seu marido, que é o ‘ganha-pão’ da família.

Li Qiang disse que os homens relataram que os funcionários trabalhavam às vezes mais de 18 horas por dia, por salários abaixo do mínimo legal.

Os desaparecidos estavam a trabalhar para confirmar evidências de que os estagiários trabalhavam horas excessivas em tarefas que não estavam relacionadas com a sua área de estudo, em violação da lei chinesa.

1 Jun 2017

Bárbara Eugenia e Tatá Aeroplano – “Dos Pés”

“Dos Pés”

O vento leva para tão longe
Bem distante
Aqui tão perto
Muito perto
Estão seus pés e só
Tenho pés, tenho dedos
Tenho plantas
Tenho planos

Minha vida
Onde foi
Minha memória
Não te peço nenhum risco
Nenhum giz
Só o seu amor

Nas ruas passeiam os pés
Os pés que pisoteiam o asfalto não são meus
Não são meus, nem são seus
Os seus andam com os meus
Curvas retas e até ladeiras

O nosso andar vai junto
Porque os meus pés são os seus
E os seus estão nos meus
Pés.

Barbara Eugenia e Tatá Aeroplano

31 Mai 2017