Hoje Macau EventosNatal | IC e casinos promovem actividades culturais em zonas antigas Além dos concertos já anunciados, o Instituto Cultural e as seis operadoras de jogo programaram uma agenda cheia de eventos culturais para os próximos dias. Algumas zonas antigas do território, como o Largo do Pagode do Bazar e os Estaleiros de Lai Chi Vun, vão acolher eventos regulares O Natal aproxima-se e para captar toda a essência de uma quadra o Instituto Cultural (IC) preparou, em conjugação com as seis operadoras de jogo, uma série de eventos regulares culturais para juntar a população em algumas zonas antigas do território. No caso dos Estaleiros Navais de Lai Chi Vun, restaurados parcialmente e que proporcionam uma zona de lazer, o IC, em parceria com a Galaxy, irá apresentar todos os sábados e domingos, das 13h às 19h, um mercado de natal, evento que se repete na véspera e dia de Natal. O mercado inclui tendas com jogos, espaços de gastronomia, uma feira cultural, espectáculos e jogos infantis. Na Fortaleza do Monte irá acontecer, a partir do dia 24 e até ao final do mês, o “Inverno no Jardim da Fortaleza do Monte”, com “zonas para fotografias de grandes dimensões com temas festivos, iluminação concebida em colaboração com o Museu de Macau, stands de gastronomia e espectáculos de música ao vivo”, descreve o IC. Estes eventos acontecem entre as 14h e as 19h. A antiga Fábrica de Panchões de Iec Long, na Taipa Velha, vai acolher o parque de diversões em formato pop-up intitulado “Colorful Spark”, que promete oferecer ao público “instalações artísticas de grandes dimensões”, com vários jogos à disposição. Destaque para a realização de pequenos espectáculos com os clássicos de Natal no auditório das Casas-museu da Taipa, a partir das 17h, entre os dias 24 e 26 de Dezembro. Ainda no tocante a zonas antigas da cidade com eventos natalícios, haverá também a possibilidade de explorar a zona do Largo do Pagode do Bazar, no Porto Interior; a avenida Almeida Ribeiro e o Centro Comunitário Kam Pek, recentemente renovado graças ao investimento da Sociedade de Jogos de Macau. Assim, a partir deste sábado e até final do mês, o Largo do Pagode do Bazar irá acolher espectáculos de rua, incluindo workshops de graffiti de Natal em colaboração com a Associação de Arte Juvenil de Macau. Na Almeida Ribeiro nasceu o espaço de alimentação do Mercado Kam Pek, que proporciona experiências gastronómicas com pequenos restaurantes, trazendo “uma nova vitalidade e maior atractividade à zona”. No caso das actividades apoiadas pelo MGM, elas concentram-se na zona da Barra, junto à Doca D. Carlos I, com a exposição “cAI: Soul Can”, dedicada à ligação da arte com inteligência artificial, a mostra “Zhang Yimou – Mestre por detrás de ‘Macau 2049′”, que conta os detalhes do espectáculo em cena no Teatro MGM, ou ainda o evento “ART ZOO: Salpicos de Alegria”. Não faltam ainda eventos na Rua da Felicidade, que foi palco de um projecto experimental de zona pedonal. Desta vez, o IC, em parceria com a Wynn, apresenta uma série de “flash-mobs”, mercados de rua com a disponibilização de “bebidas festivas” e ainda a iniciativa “Snooker para Gente Comum”. Música do povo Além dos tradicionais mercados de Natal e espaços com eventos culturais, haverá música para celebrar a quadra. Todos os eventos se enquadram no “Programa de Inverno – Uma Base Cultural”. A partir deste sábado, e nos dias 22, 24 e 25 de Dezembro, apresenta-se no Teatro D. Pedro V espectáculos de jazz com o músico português Zé Eduardo e a Jazz Mission Big Band, que se fazem acompanhar pelas cantoras Marta Garrett e Sofia Rodrigues. O concerto inclui “uma série de peças clássicas de jazz e canções de Natal”. Para o dia de Natal, o IC propõe ainda o espectáculo “Melodias Inesquecíveis nas Ruínas de S. Paulo”, com os músicos da Orquestra de Macau, apresentando-se “um repertório de peças conhecidas cheias de vibrações natalícias” num lugar icónico em termos patrimoniais como é as Ruínas de São Paulo. Espera-se, assim, criar “uma atmosfera única de integração das culturas chinesa e ocidental, combinando música e arquitectura histórica”. Este espectáculo faz-se acompanhar de um coro composto por alunos de várias escolas locais. Depois do Natal, nomeadamente no dia 28, é a vez de ser inaugurada a “Zona de Espectáculos ao Ar Livre de Macau”, no Cotai. A partir das 19h, podem ser ouvidos cantores e artistas locais, de Hong Kong, do interior da China e Coreia do Sul, com nomes como Hins Cheung, Julian Cheung, Pakho Chau e Janice M. Vidal. Também neste dia há outra opção de espectáculo. Trata-se do concerto “Fantasia de Inverno”, realizado a partir das 20h na Sé Catedral, e que traz a Macau o maestro principal da Orquestra Chinesa da Singapura, Quek Ling Kiong. Este irá estar em palco com a Orquestra Chinesa de Macau.
Hoje Macau China / ÁsiaEspionagem | Pequim acusa a Alemanha de difamação após detenção de cidadão chinês A China instou ontem as autoridades alemãs a “deixarem de caluniar e manipular”, depois de a polícia alemã ter comunicado a detenção de um cidadão chinês por suspeita de ter fotografado instalações militares. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, disse em conferência de imprensa que “não tinha conhecimento” dos pormenores do incidente. No entanto, Lin afirmou que o seu país “pede sempre aos seus cidadãos que respeitem as leis e regulamentos locais” e às autoridades estrangeiras que “protejam os direitos e interesses legítimos das empresas e indivíduos chineses”. “Esperamos que a Alemanha se atenha aos factos”, acrescentou o porta-voz, apelando a Berlim para que “proteja efectivamente os direitos dos cidadãos chineses na Alemanha”. De acordo com as autoridades alemãs, o homem está detido depois de ter sido preso a 09 de Dezembro e está a ser investigado por suspeita ao abrigo do artigo 109g do código penal, que se refere a tirar fotografias de instalações militares que ponham em risco a segurança. Segundo a imprensa europeia, o suspeito teve acesso à parte militar do porto de Kiel e tirou fotografias, mas foi interceptado por guardas de segurança, que o entregaram à polícia. No final de Setembro, um cidadão chinês que trabalhava para uma empresa de logística no aeroporto de Leipzig/Halle foi detido por suspeita de espionagem. O Ministério Público acusa-a de ter transmitido ao seu contacto informações sobre o transporte de material militar e sobre as viagens de representantes da empresa de armamento Rheinmetall. A suspeita está alegadamente ligada a outra pessoa que está a ser investigada por alegada espionagem em nome da China, uma empregada do político de extrema-direita Maximilian Krah, que foi cabeça de lista da Alternativa para a Alemanha (AfD) nas últimas eleições para o Parlamento Europeu.
Hoje Macau China / ÁsiaTaiwan | Pelo menos nove mortos e oito feridos em incêndio num armazém Pelo menos nove pessoas morreram e outras oito ficaram feridas na sequência de um incêndio que deflagrou num armazém em construção da cadeia PX Mart, na cidade de Taichung, no oeste de Taiwan. O incêndio, que ocorreu ontem, deflagrou numa zona de trabalho onde as condições dificultavam a retirada, informou a agência noticiosa CNA de Taiwan. O fogo começou num complexo do armazém, propagando-se rapidamente à medida que os materiais de isolamento derretidos ajudavam a intensificar as chamas. As autoridades confirmaram que cinco das vítimas foram encontradas no mezanino do terceiro andar, uma área caracterizada por longos corredores e saídas de emergência distantes. O director-geral adjunto da Administração da Segurança no Trabalho do Ministério do Trabalho, Wan Rongfu, afirmou ontem que a gestão dos vários subcontratantes envolvidos será fundamental para as investigações. Adiantou que alguns dos responsáveis ainda não foram localizados e que a procuradoria de Taichung continua a interrogar as pessoas relevantes para esclarecer as causas do incêndio. Duas das vítimas eram trabalhadores migrantes vietnamitas em situação irregular, o que levou à aplicação de multas aos empregadores e empreiteiros responsáveis. As famílias dos falecidos estão a receber assistência para se candidatarem a prestações do seguro de trabalho, incluindo uma compensação financeira do governo. O Presidente da Câmara de Taichung, Lu Shiow-yen, visitou os feridos e apelou ao PX Mart, a maior cadeia de supermercados de Taiwan, com mais de 1.200 sucursais, para que indemnizasse adequadamente as vítimas. A empresa confirmou que vai cooperar plenamente com as investigações sobre o incêndio, cujas causas específicas ainda não foram determinadas, e reiterou o seu empenhamento na segurança das suas instalações.
Hoje Macau China / ÁsiaSíria | Wang Yi apela a “processo aberto e inclusivo” para solução política O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, apelou ontem às várias fações na Síria que “embarquem, no interesse a longo prazo do país e do seu povo, num processo aberto e inclusivo de resolução política”. Durante uma reunião em Pequim com um grupo de diplomatas de países árabes, o ministro chinês sublinhou a importância de “evitar que o terrorismo se aproveite do caos para regressar” à Síria, após a recente queda do regime de Bashar al-Assad, de acordo com um comunicado difundido pela diplomacia chinesa. Wang pediu recentemente que se “evite a fragmentação” e se “restaure a estabilidade” no país árabe. O ministro chinês apelou também a um “cessar-fogo imediato” e à “retirada permanente das tropas” em Gaza, bem como a uma “solução justa e duradoura para o conflito palestiniano com base na fórmula dos dois Estados”, ao mesmo tempo que apelou à “preservação da soberania do Líbano”. No ano passado, o país asiático manifestou o apoio à solução de “dois Estados” para o conflito israelo-palestiniano e declarou “consternação” face aos ataques israelitas contra civis. “A China continuará a apoiar os países árabes no reforço da sua autonomia estratégica”, afirmou Wang, acrescentando que o Médio Oriente “não pode continuar a ser um campo de batalha das grandes potências e uma vítima dos conflitos geopolíticos”. De acordo com o comunicado, os representantes diplomáticos dos países árabes em Pequim “elogiaram a posição imparcial da China e o seu apoio à causa justa do povo palestiniano” e registaram as “contribuições positivas” do país asiático para a “paz e estabilidade” na região. Os delegados árabes pediram à China que desempenhe “um papel mais importante” face às “mudanças abruptas” no Médio Oriente e ao “sofrimento dos povos da região”.
Hoje Macau China / ÁsiaGuantánamo | China considera prisão como “ferida aberta” pelos EUA em Cuba A China considerou ontem a existência da prisão da Base Naval de Guantánamo como uma “ferida aberta” para Cuba e “prova irrefutável de mais de um século de ingerência ilegal” dos Estados Unidos na ilha. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, respondeu assim a perguntas sobre a recente libertação de dois prisioneiros malaios detidos nas instalações. Lin classificou a ocupação norte-americana da Baía de Guantánamo, na ponta leste de Cuba, como uma “grave violação do direito internacional e da soberania cubana”. O responsável afirmou que “a detenção arbitrária e a tortura têm sido uma constante” na prisão, descrevendo-a como um “campo de concentração dos Estados Unidos” que não respeita as normas norte-americanas em matéria de direitos humanos. “A comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas, apelou repetidamente ao encerramento de Guantánamo e à justiça para os detidos, mas os EUA não cumpriram estas exigências nem as suas próprias promessas”, afirmou Lin. O porta-voz também criticou a duplicidade de critérios de Washington ao manter Cuba na “Lista de Estados Patrocinadores do Terrorismo” enquanto perpetua estas práticas. “A comunidade internacional vê claramente esta hipocrisia”, sublinhou. A China reafirmou o seu apoio à soberania de Cuba e condenou as “acções de intimidação” dos EUA, incluindo o embargo económico e financeiro. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros instou Washington a “devolver o território de Guantánamo ao povo cubano, encerrar o centro de detenção e retirar Cuba da lista de patrocinadores do terrorismo”. Os Estados Unidos anunciaram na quarta-feira o repatriamento para a Malásia de dois reclusos da prisão de Guantánamo que cooperaram com as autoridades norte-americanas, Mohammed Farik bin Amin e Mohammed Nazir bin Lep, elevando para 27 o número de detidos na prisão, 15 dos quais são elegíveis para transferência, segundo o Departamento da Defesa. Os primeiros prisioneiros chegaram a Guantánamo no âmbito da “guerra contra o terrorismo” lançada pelo então Presidente republicano George W. Bush (2001-2009) após os atentados de 11 de Setembro de 2001, em que morreram cerca de 3.000 pessoas. A base chegou a albergar cerca de 780 prisioneiros e os que restam estão agora divididos em dois campos: o primeiro para os presos considerados de “alto perfil”, como os acusados dos atentados de 11 de Setembro de 2001, e o segundo para os presos de menor importância.
Hoje Macau PolíticaImprensa | Ron Lam defende papel de meios de comunicação O deputado Ron Lam defende que a função supervisora dos meios de comunicação não deve ser enfraquecida, sob pena de resultar no afastamento entre a governação e a população, tornando cada vez mais difícil tomar o pulso ao “sentimento público” e responder “às queixas da sociedade”. A opinião foi expressa através de um texto no jornal Son Pou. O também ex-jornalista destacou a importância da supervisão ao Governo pelos meios de comunicação e sociedade, porém, lamentou que o papel dos meios de comunicação tradicionais seja cada vez mais difícil, enquanto órgão de supervisão, porque os governantes tendem a evitar falar com a imprensa. Ron Lam apontou igualmente que para implementar o princípio “Um País, Dois Sistemas” com características de Macau é importante melhorar a capacidade da governação e de resposta às opiniões e anseios da população, bem como não temer e respeitar a supervisão independente dos meios de comunicação.
Hoje Macau PolíticaComércio | China destaca relação forte com Macau O Governo Central afirmou que as relações económicas e comerciais com Macau estão a fortalecer-se, num comunicado divulgado no dia do 25.º aniversário da transferência da administração. O Ministério do Comércio informou que o comércio entre o Interior da China e a RAEM atingiu os 3,84 mil milhões de dólares em 2023, um aumento de mais de quatro vezes em relação a 1999. O comércio de serviços também registou um crescimento, marcado pelo afluxo de turistas da China continental para a região administrativa especial, segundo os dados do ministério do Comércio. Entre 2004 e 2023, Macau recebeu cerca de 310 milhões de visitantes do continente, detalhou. “O aumento do turismo impulsionou os sectores locais do comércio a retalho, da hotelaria e da restauração”, destacou. O Governo Central aumentou, em Julho, a isenção de taxas alfandegárias para os viajantes que entram na China oriundos de Macau, de 5.000 yuan para 12.000 yuan, visando aumentar as despesas na RAEM. Entre Janeiro e Outubro, o Interior atraiu 23,93 mil milhões de dólares em investimento directo de Macau e investiu 14,19 mil milhões de dólares na região. O ministério assegurou que vai continuar a promover a colaboração económica entre o Interior e Macau, a apoiar o rápido desenvolvimento económico da região e a contribuir para a modernização da China, no âmbito da construção da área da Grande Baía.
Hoje Macau PolíticaHong Kong | John Lee saúda novo Governo e promete desenvolver cooperação com Macau O Chefe do Executivo de Hong Kong saudou ontem a tomada de posse do líder do Governo do Macau e prometeu continuar a trabalhar em conjunto com a região vizinha, “aproveitando os pontos fortes das duas cidades para servir as necessidades” da China. “Desejo que Sam [Hou Fai] e o Governo da Região Administrativa Especial de Macau, no seu sexto mandato, levem Macau a atingir novos patamares de desenvolvimento”, assinalou John Lee, que chefiou uma delegação que se deslocou ao território para participar nas cerimónias do 25.º aniversário do estabelecimento da RAEM. Para o líder de Hong Kong, as duas cidades “beneficiam das vantagens de ‘um país, dois sistemas’ (…) e partilham uma forte ligação, com intercâmbios frequentes e anos de cooperação contínua em domínios como economia, infra-estruturas transfronteiriças, turismo e cultura, criando uma base sólida”. “Hong Kong vai continuar a trabalhar com Macau para alcançar a complementaridade, contribuindo conjuntamente para promover o desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e esforçando-se por construir uma baía de classe mundial”, indicou, numa declaração oficial divulgada no site do Governo de Hong Kong. Lee acrescentou que vai trabalhar com Sam Hou Fai “para reforçar ainda mais os intercâmbios e a cooperação entre Hong Kong e Macau, aproveitando os pontos fortes das cidades para servir as necessidades do país, demonstrando a vitalidade e a superioridade de ‘um país, dois sistemas’ e dando novos e maiores contributos para a construção de um grande país e para o rejuvenescimento nacional através da modernização chinesa”.
Hoje Macau PolíticaTransferência de Soberania | Marcelo diz que Portugal e China “concretizaram parceria estratégica” Marcelo Rebelo de Sousa assinalou ontem os 25 anos da transferência de administração de Macau de Portugal para a China e considera que os dois países “concretizaram uma parceria estratégica”. O Presidente de Portugal publicou ontem uma mensagem escrita no sítio oficial da Presidência da República na Internet, no dia em que se cumprem “os 25 anos da transferência da soberania de Macau para a República Popular da China”. “Baseada na Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre o Futuro de Macau, de 1987, que estabeleceu os termos desta transferência e constituiu o princípio da construção de uma relação sólida e profícua entre Portugal e a República Popular da China, abriu um novo ciclo nas relações diplomáticas entre os dois Estados”, refere-se na nota. Segundo o chefe de Estado português, os dois países têm-se “empenhado em garantir as melhores condições para a transição em Macau e concretizaram uma parceria estratégica entre Portugal e a China, assente num passado histórico comum, em benefício dos dois povos e das suas relações no século XXI”. Marcelo Rebelo de Sousa realizou uma visita de Estado à República Popular da China entre Abril e Maio de 2019, que começou em Pequim, onde foi recebido pelo Presidente Xi Jinping, passou por Xangai e terminou na RAEM Durante essa visita, as autoridades de Portugal e da China assinaram um memorando de entendimento que previa um novo patamar nas relações bilaterais: a passagem da parceria estabelecida em 2005 para um “diálogo estratégico”, com contactos políticos mais regulares.
Hoje Macau Via do MeioIdentidade, Periferia e Globalização: Duas Narrativas de Macau (continuação) Por Fernanda Gil Costa, ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau Ao ler-se na “Advertência ao leitor” de Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja (publicado em Macau em 2016) que: “A história que se segue não pretende rigor histórico ou justeza, na descrição dos factos, hábitos ou comportamentos de antanho. As datas referidas e os intervenientes querem-se, obviamente, tão ficcionais quanto a realidade” – é expectável entender-se, apesar de tudo, que a encenação histórica das figuras, dos discursos e dos acontecimentos mantêm uma indisfarçável ligação com o presente do leitor português contemporâneo que, por isso, tenderá a interrogar-se sobre as reais condições do alegado passado da efabulação e sobre o sentido do cenário montado sobre factos históricos conhecidos. Neste sentido o leitor modelo de Carlos Morais José é não só o que frequenta o espaço público da cidade de Macau mas também o leitor habitual da literatura portuguesa. A viagem, o trânsito entre mundos é o espaço da narrativa dentro e fora do relato do narrador. Todas as personagens estão em viagem – viagem por mar, deambulação por impérios e cantos remotos do mundo de quinhentos. Por isso, encontrar a relação com e história e a memória de Macau desde o seu achamento e estabelecimento como feitoria entre ocidente e oriente até ao presente pós-colonial, depois das negociações que conduziram à actual administração chinesa do território, é uma necessidade da leitura. A orientação do leitor é difícil, pois só a viagem que decorre no presente da narrativa (o enquadramento – a viagem do padre protestante inglês) está escorada por eventos com substância histórica; as outras duas, a do padre irlandês possuidor do documento que é foco do romance, a confissão de Bernardo Vasques em Macau e a leitura da mesma são relatos escritos/lidos por terceiros, pertencendo, portanto, ao tempo suposto-passado da intriga. A variedade e arbitrariedade das referências, citações e ecos da tradição literária filiam-se claramente numa tradição textual pós-moderna especialmente próxima de muita narrativa contemporânea, especialmente de carácter parodístico. A viagem do padre protestante decorre entre Singapura e Macau (simbolicamente entre o império inglês e o império português); este aporta à chamada Cidade do Santo Nome de Deus em vésperas do incêndio do Colégio de S. Paulo, a primeira universidade católica da Ásia. Tal viagem está, por isso, carregada de sentido simbólico e iniciático já que o protestante vai encontrar em Macau os jesuítas acossados pelos ventos de fim de ciclo que o iminente desaparecimento do colégio vem sublinhar de forma inevitável. Ainda mais importante é o facto de a viagem entre Singapura e Macau ver falhar a missão do protestante, já que apesar dos esforços que aí empreende não encontra prova que confirme a existência do Arquivo das Confissões dos Jesuítas devido quer ao silêncio das fontes contactadas quer ao incêndio do Colégio de S. Paulo, cujo desejado recheio (onde supostamente as provas se encontrariam) vê arder impotente diante dos olhos. Voltando a Arquivo das Confissões, um romance histórico publicado em Macau em 2016, o inusitado assunto poderá não ser surpreendente se considerarmos que o território tem uma história razoavelmente desconhecida do grande público no que diz respeito a episódios, memórias e fontes (a par de lendas e mitos de raiz popular luso-chinesa). A isso acresce o facto de nos últimos anos algumas investigações históricas terem contribuído para reforçar a ideia (que se tornara lenda) de que Camões teria vivido e trabalhado em Macau, o que voltou a colocar o poeta e a sua rota do Oriente no centro de indagações e investigações. Sendo o ponto de partida do romance um assumido desafio a todo o propósito ‘sensatamente’ realista, a sua organização retoma as melhores tradições do género da narrativa enquadrada – gavetas de histórias que se abrem e esvaziam a partir de outras, articuladas em móveis geometrias de eventos misteriosos, de segredos e tesouros perdidos, dando origem à variedade das vozes e ‘fantasmas’ que lenta e intencionalmente desenrolam um imbricado novelo de histórias apenas sustentado por uma teia onírica. Como foi já referido, o narrador principal é um padre inglês protestante que recebe por mero acaso um segredo perdido e de origem desconhecida, cedendo a voz, na recepção do inesperado tesouro, a um padre católico irlandês, o depositário do tesouro, em trânsito entre mundos. Este possui o manuscrito da confissão feita a um jesuíta português, que a terá ouvido e registado em Macau, de um patético bandido e viajante /navegante português, de neopícaro recorte, o qual durante uma viagem ao oriente teve e gulosamente aproveitou a oportunidade de se apropriar, por roubo premeditado durante uma longa congeminação de inveja, de nem mais nem menos que uma obra desconhecida e autobiográfica (espécie de autografia de recorte epopeico) de Luís de Camões. Dois registos estilísticos são, assim, fundamentais nesta obra: primeiro, o da literatura de viagem que colhe variações na tradição vastíssima do género (pícaro, aventura, viagem iniciática, literatura de desastre e naufrágio); segundo, o registo da reflexão filosófica que invade a perspectiva e a narrativa através da voz do narrador principal, um padre culto, devoto e inclinado para a dialéctica dos fenómenos humanos e mundanos. A pergunta que se impõe é – como é que esta estratégia literária se conjuga com o lugar e o tempo reais da obra questionada? A viagem enquadrada que é a intriga central da narrativa e o seu mais remoto passado é a de Bernardo Vasques, narrada em confissão, na primeira pessoa, entre os capítulos sexto e vigésimo sexto. Nela se recupera a história e o ambiente de relatos vários das navegações portuguesas, retirados quer dos cronistas quer das ficções do tempo, como as de Peregrinação. A história é a de um homem de estudos e esmerada educação humanística a quem a obsessão narcisista de ser o melhor poeta de sempre, desenvolvida durante os tempos de passagem pela universidade de Coimbra, onde se confronta com a já vasta sombra de Camões, exacerba o desejo neurótico e mitómano de o ultrapassar em fama e glória. É curioso notar que Bernardo compõe, com excelência, o perfil tradicional do português apanhado pelo fatal emaranhado de ressentimento, queixume e inveja que o filósofo José Gil descreveu em Portugal, Hoje. O Medo de Existir (2004). Ao comentar as emoções e sentimentos negativos presentes no perfil do “invejoso”, o filósofo destaca sobretudo o ressentimento e o queixume, a que chama um “processo de captura” da consciência em estado geral de vulnerabilidade. Ora, Bernardo Vasques lamenta a sua condição de irmão do meio, embora não deseje a sorte nem do primogénito nem do irmão mais novo e acaba por confessar o esmero da educação que lhe foi dada pelo pai, que o destinava ao estudo das leis. O ressentido e generalizado queixume perpassa as suas palavras desde o início da sua narrativa: Calhava-me ser humilhado pelo mais velho, aturar-lhe as ordens e a arrogância, garantidas pela sua força física; e obrigado a proteger o mais novo, suportar-lhe as birras, satisfazer-lhe as manias e embarcar na adulação geral. (AC: 41) Sobre a inveja escreve José Gil, como se descrevesse Bernardo Vasques: É dentro de um banho de ressentimento que melhor se desenvolve a inveja. É no queixume implícito de se achar a si mesmo pequeno que se inveja alguém que pretende ser maior (SE: 93) O empolamento mitómano dos sentimentos de Bernardo V. levam-no a aspirar à fama e glória de poeta maior, lugar ensombrado e ocupado pelo vulto gigante de Camões. Incapaz de obter o reconhecimento almejado e cada vez mais colhido pela humilhação e seu “processo de captura”, embarca para a Índia com o intuito de encontrar o poeta e roubar-lhe a obra que o elevou ao trono das letras que para si deseja. Sabia muito bem o que fazer: ele sofreria. Não como eu. Mas por uma perda irreparável. Não o mataria, não lhe roubaria a vida, mas sim a obra, (AC: 86) Tal projecto neurótico e alucinado será executado no capítulo décimo quarto, depois de encontrado e reconhecido o velho poeta com a involuntária (e irónica) ajuda de uma figura criada pelo próprio, n’ Os Lusíadas – o soldado que desceu o outeiro mais depressa do que subira (AC: 76-77); a esse episódio segue-se uma série atormentada e criminosa de episódios de bíblica maldade, a par de tragédias encadeadas na tradição tenebrosa dos relatos de naufrágios, que terminam com a perda do pretenso manuscrito por Bernardo, depois de o ter aprendido de cor, de tanto repetir a leitura. O pecador arrependido que em Macau se confessa no final da vida, ostenta igualmente sinais claros de desequilíbrio mental e paranóia esquizofrénica. O desaparecimento misterioso, terminada a confissão, empresta à figura de Bernardo traços alegóricos (a marca do procedimento alegórico está patente no facto de Bernardo não lograr que a mão lhe obedeça para escrever e assinar a obra como sua, apesar de a saber de cor), embora na narrativa arraste o humilhante destino de um ser capturado entre a mediocridade e o desejo de grandeza e vanglória. Pode um homem transformar-se num livro? Assim parecia. (…) todas as minhas acções se enfeitavam dos seus versos, os pensamentos ferviam de rimas, nada de novo havia que não coubesse ou não estivesse previsto na grandeza desta obra. (AC: 134) Em conclusão, o registo escrito do delírio paranóico sobre a viagem fracassada de Bernardo Vasques, o transe de recitação (do suposto poema camoniano) depois do qual a personagem desaparece como por osmose entre carne e verbo, ainda antes da absolvição, tal como um pesadelo que cede ao aparecimento da madrugada, levam-nos igualmente à sua pergunta (já citada) entre a retórica e a angústia: “pode um homem transformar-se num livro?” (AC: id.) e ao desespero do impreparado, estarrecido confessor, quanto à justiça da retribuição do perdão divino: “O espírito humano não é um tratado científico e eu sou um pobre leitor cheio de dúvidas e de mísero talento.” (AC: 158). É também a altura de inquirir em que medida Bernardo Vasques se relaciona com o presente do leitor e a que presente pode de facto aludir. A sua história é alucinada e paranóica, projecção de uma mente configurada pela distorção dos mapas da realidade e da psicótica apreciação do lugar dos outros, aliados ou oponentes dos seus objectivos, a par dos obstáculos que enfrenta (seja a fome e a sede depois de um naufrágio, a solidão absoluta ou a inserção numa comunidade desconhecida e crescentemente hostil). A ausência de escrúpulos, o aventureirismo inócuo e sempre aguerrido, cruel, invejoso e oportunista de um português que demanda o mundo em busca do rasto de Camões para se apoderar da sua (pretensa) obra constitui o inverso da epopeia, o avesso do Gama de Os Lusíadas, a paródia do sujeito lírico de Sonetos e restante lírica amorosa. Bernardo Vasques parece expor, de facto, um presente alheio à memória de grandeza, universalidade e vocação descobridora e inspiradora da história portuguesa de quinhentos. O leitor poderá ainda questionar-se sobre a verosimilhança do artificioso relato que reúne tanto o temeroso confessor como o penitente Bernardo Vasques. Poderá tratar-se de mais uma variação sobre o sonho obscuro e polémico de que encontramos testemunho nas letras e nas artes desde a Modernidade, pelo menos desde que Goethe (e antes dele Marlowe) criou um inesquecível Fausto, mundano e humano, que através de singular, simbólico pacto com o demónio, plasmou no ser humano o desejo indelével de mais-querer e ir-mais-além, a porfia e o esforço de conhecimento e acção (streben, diz-se em alemão), que é afinal a medida estética e ética em que a verdadeira, exigente dimensão humana modernamente se reconhece, pelo menos desde o Renascimento. O relato, porém, não cessa de empurrar o leitor para longe da rememoração dos tempos de anseios de valor e grandeza. Na moldura da história ressoa a sobriedade do padre protestante que vai a Macau assistir ao incêndio do mais elevado símbolo do império no oriente, o Colégio de São Paulo, a sua análise implacável da inveja, a mola impulsionadora da mediocridade. Para Carlos Morais José, que afirma sentir-se em Macau um autor português no exílio e deixa voluntárias marcas dessa vivência em toda a sua obra em prosa e verso, onde a língua portuguesa, quase silenciosa nas ruas, é apesar de tudo ainda oficial, a odisseia inversa de Bernardo Vasques é apenas o último testemunho de uma condição de carência e alienação, de teor ontológico, que parece contagiar os poetas e intelectuais que a viagem real (e iniciática) levou para longe dos púlpitos e dos palcos da rotina estético-literária da chamada pátria. Essa condição de carência (e consciência de ser e devir) pode talvez aproximar-se da recente noção de “Exiliance” criada por Alexis Nouss1 que a considera uma “condição de consciência” comum aos exilados e migrantes de todos os tempos e espaços. Embora se deva assinalar a probabilidade de uma definição que se alheia voluntariamente dos traços materiais do tempo e do espaço poder aproximar-se de uma visão essencialista do exílio (aliás, sensível na formação do termo exil[iência]), a sua delimitação como “condição de consciência” parece reintroduzir o papel formador e reformulador do tempo e da circunstância. No caso de Carlos Morais José trata-se de uma condição de consciência (mas também de resistência e devir) que se evidenciará igualmente em outras das suas obras, fazendo parte da visão especial de Macau como singularidade radical na sua condição periférica. Em As Alucinações de Ao Ge e Arquivo das Confissões, um conto e um romance histórico publicados no espaço público de língua portuguesa de Macau posterior à mudança de soberania e consequente emergência de um espaço pós-colonial, encontramos traços de resistência aos monopólios temáticos e discursivos das últimas décadas de narrativas premiadas internacionalmente, navegando os largos mares da chamada Literatura Mundo. Também o denominado grupo de Warwick (WReC), na esteira dos artigos publicados por Franco Moretti em 2000 e 2003 na New Left Review, desenvolve uma ideia de “Literatura Mundial”2 sobretudo entendida como relação dinâmica e dialéctica entre centro e periferia do sistema mundial da literatura, insistindo no valor de resistência atribuído à literatura de regiões periféricas face aos grandes centros de difusão de literatura, ideia que Paulo Medeiros designa também por “imaginação do centro”, sublinhando o interesse “… em obras que resistem, de variadas maneiras, à hegemonia vigente” (Dialética da Periferia: Formas de Resistência na Literatura Mundial: 2021, 221). Posição semelhante é defendida por Cosima Bruno (Bruno: 2014), que propõe o abandono de uma epistemologia essencialista relacionada com nacionalidade e língua e com origem geográfica estrita (Bruno: 2014, 753). Em seu entender, o caso de Macau, apesar da exiguidade do território (que pode não ser sinónimo de insignificância) apresenta condições para alterar a tradicional divisão do mundo em três domínios conhecidos: centro, periferia e semi-periferia (divisões ligadas, por sua vez, à ideologia colonial e seus avatares no período da globalização). Em seu entender a cultura periférica de Macau pode vir a ser reconhecida como um caso específico de ponte natural entre global e local, permitindo viabilizar uma “candidatura” relevante à categoria de Literatura Mundo. No final do seu artigo, C. Bruno faz um apelo à tradução da literatura de Macau e acrescenta que isso é essencial: …not only to contribute to the postcolonial library and to broaden understanding of the ‘literary world’, but also to enable (..) the field of comparative literature together with other literatures (for example Spanish, Portuguese or French) that present global/local structure (Bruno, 2014: 67). Tal interesse pela literatura de Macau, obviamente marginal no contexto actual da Literatura Mundo, é o que melhor pode dar testemunho do legado intranquilo patente na história e na memória da cidade e apelar à herança mal escrutinada do seu passado colonial e marginal. O facto incontornável de esta literatura ter contornos e fronteiras incertas (expressão de várias línguas e pertenças) projeta e sublinha o papel intermediário da tradução e pode alterar, a mais curto ou longo prazo, o perfil e a representatividade cultural deste território simultaneamente indefinível, insular e plataforma de globalização. Referências: Alexis Nouss 2015. A expressão “Literatura-Mundial” é utilizada por Paulo Medeiros em português (membro do grupo WReC) e é, em meu entender muito semelhante à “Literatura-Mundo” (semelhante à expressão francesa Littérature-Monde), utilizada pelo Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa.
Hoje Macau China / ÁsiaChina opõe-se à inclusão de chineses nas sanções contra a Rússia “A China lamenta e opõe-se firmemente à inclusão de indivíduos e entidades chinesas na ‘lista completa’ da União Europeia (UE) no seu 15º pacote de sanções contra a Rússia”, disse um porta-voz do Ministério do Comércio na quinta-feira. O porta-voz afirmou que a UE fez orelhas moucas às repetidas representações e oposições da China e agiu deliberadamente, dizendo que a China sempre se opôs às sanções unilaterais que não têm base no direito internacional ou na autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O porta-voz referiu ainda que as acções da parte europeia são contrárias ao consenso alcançado pelos líderes chineses e europeus, tendo um impacto negativo nas relações económicas e comerciais entre a China e a UE. A China insta a parte europeia a actuar em conformidade com a manutenção da parceria estratégica global China-UE e a salvaguardar a estabilidade das cadeias industriais e de abastecimento globais, a pôr imediatamente termo à sua prática errónea de inclusão de empresas chinesas na lista negra e a deixar de prejudicar os interesses legítimos das empresas chinesas. “A China tomará as medidas necessárias para proteger resolutamente os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”, concluiu o porta-voz.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA | Congresso vota lei que restringe investimento na China A Reuters noticiou na terça-feira que o Congresso dos EUA deverá votar nos próximos dias uma legislação que restringe os investimentos dos EUA na China, como parte de um projecto de lei para financiar as operações do governo até meados de Março. O projecto de lei alarga as restrições emitidas pelo Departamento do Tesouro dos EUA em Outubro sobre os investimentos dos EUA em inteligência artificial e outros sectores tecnológicos na China que considera uma ameaça à segurança nacional dos EUA. O projecto de lei também exige os chamados estudos de risco de segurança nacional sobre os routers e modems de consumo fabricados na China e análises das compras de bens imobiliários chineses, segundo a Reuters. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Lin Jian, afirmou na quarta-feira que a cooperação económica e comercial entre a China e os Estados Unidos beneficia os dois países e os seus cidadãos. “Exagerar o conceito de segurança nacional e obstruir deliberadamente o intercâmbio económico e comercial normal por razões políticas é contrário aos princípios da economia de mercado, da concorrência leal e do comércio livre, que os EUA afirmam defender. Tais acções também desestabilizam as cadeias industriais e de abastecimento mundiais e não servem os interesses de nenhuma das partes”, afirmou Lin. “A China exorta os políticos norte-americanos relevantes a deixarem de politizar e de transformar em armas as questões económicas e comerciais e a promoverem as condições necessárias para a cooperação económica e comercial entre os dois países”, afirmou o porta-voz. Espaço para a cooperação Embora alguns políticos norte-americanos continuem provavelmente a insistir na adopção de mais medidas repressivas contra as empresas chinesas, existem também áreas em que a China e os EUA podem cooperar, de acordo com Chen Fengying, antigo director do Instituto de Estudos Económicos Mundiais do Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas da China. “Os EUA também se apercebem de que, sem a China, não podem resolver muitas questões globais. Por isso, mesmo que alguns políticos continuem a insistir em mais medidas de repressão contra a China, também haverá áreas em que os EUA querem cooperar com a China”, disse Chen na quarta-feira. A China tem mantido uma abordagem coerente em relação aos EUA, em que o lado chinês permanece aberto ao diálogo e à cooperação, ao mesmo tempo que responde às medidas repressivas dos EUA. Reflectindo esta abordagem, na semana passada, os grupos de trabalho económicos e financeiros da China e dos EUA realizaram reuniões separadas, durante as quais as duas partes trocaram pontos de vista sobre uma vasta gama de questões, incluindo as políticas macroeconómicas. Mas a parte chinesa também manifestou a sua preocupação com as restrições económicas e comerciais impostas pelos EUA. Chen afirmou que, embora seja improvável que a tentativa geral de Washington de conter a China mude em breve, as tácticas sob diferentes administrações dos EUA podem mudar e as áreas de foco para a cooperação podem ser diferentes. “A China irá provavelmente analisar a questão com base nos seus méritos e prosseguir o diálogo e a cooperação sempre que possível, ao mesmo tempo que responderá com firmeza às medidas de repressão dos EUA no domínio da alta tecnologia e noutros domínios”, afirmou. AMEC retirada da lista negra do Pentágono Entretanto, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) retirou a empresa chinesa Advanced Micro-Fabrication Equipment Inc. (AMEC) de sua lista de empresas militares chinesas (EMC), depois que a empresa processou os EUA, informou a Bloomberg na quarta-feira. A retirada da AMEC da lista negra fez com que o preço das acções da empresa no mercado chinês de acções A subisse 1,78% no fecho do mercado. “A medida não só retira a AMEC da designação incorrecta, como também constitui um sinal positivo para outras empresas chinesas que enfrentam as medidas de repressão dos EUA, que podem recorrer a meios legais para defender os seus direitos e interesses legítimos contra as alegações infundadas dos EUA”, afirmou um perito do sector. “Sob o pretexto de proteger a segurança nacional, vários departamentos governamentais dos EUA criaram listas negras de empresas chinesas, embora as acusações contra as empresas chinesas sejam infundadas”, disse Ma Jihua, um veterano observador do sector das telecomunicações. “Influenciados pelo sentimento político actual nos EUA, adicionam arbitrariamente empresas chinesas a várias listas negras, apesar de não poderem apresentar quaisquer provas concretas”, disse Ma na quarta-feira, acrescentando que as empresas chinesas podem tomar medidas legais para proteger os seus próprios direitos e interesses. “O caso da AMEC é um sinal positivo de que existem meios legais para as empresas chinesas defenderem os seus direitos e interesses contra alegações infundadas dos EUA”. Em janeiro de 2024, o DoD dos EUA adicionou a empresa chinesa à sua lista de EMC. Depois de “extensos esforços para se envolver com o DoD a fim de esclarecer os factos e demonstrar que não cumpre nenhum dos critérios de EMC” não terem conseguido alterar a designação do DoD dos EUA, a AMEC anunciou a 16 de Agosto que tinha formalmente apresentado uma acção judicial contra o DoD dos EUA no Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito de Columbia por designar “ilegalmente” a AMEC como uma EMC, disse a empresa num comunicado na altura. Esta é a segunda vez que a AMEC foi adicionada à lista negra do DoD dos EUA e posteriormente removida. Em Janeiro de 2021, a empresa foi designada como EMC, mas após uma petição ao DoD dos EUA com fatos e evidências suficientes, a empresa foi removida com sucesso dessa lista em Junho de 2021, de acordo com a empresa. Para além da AMEC, o Departamento de Defesa dos EUA também retirou outra empresa, a IDG Capital, da sua lista EMC. A inclusão na lista de EMC não implica sanções específicas ou penalidades directas, mas a inclusão na lista pode causar danos à reputação e desencorajar outras empresas a trabalhar com as empresas listadas, de acordo com a Bloomberg.
Hoje Macau China / ÁsiaAntigo líder de Taiwan pede oposição à “independência” O antigo líder taiwanês Ma Ying-jeou pediu mais intercâmbio e cooperação entre os dois lados do estreito de Taiwan, durante uma reunião com o chefe do gabinete do Governo chinês para os assuntos de Taiwan. No início de uma visita à China, o antigo líder da ilha (2008-2016) sublinhou a importância da “oposição à independência de Taiwan” e da cooperação para “promover o desenvolvimento pacífico das relações entre os dois lados do estreito”. Ma, do partido Kuomintang (KMT, na oposição), apelou também para a defesa do “Consenso de 1992”, um acordo tácito entre Taipé e Pequim que reconhece que “só existe uma China”, embora cada parte o interprete de maneira diferente. Aquele princípio é negado pelo atual partido no poder em Taiwan, o Partido Democrático Progressista. Song Tao, responsável pelo gabinete do Governo chinês encarregue dos assuntos de Taiwan, transmitiu a Ma, e à delegação que lidera, “calorosas saudações” do Presidente chinês, Xi Jinping, apelando ao povo “de ambos os lados do estreito de Taiwan” para que dê “prioridade aos interesses da nação e ao futuro do país”, noticiou a televisão estatal chinesa CCTV. Song Tao pediu à população para que “trabalhe em conjunto para melhorar as relações entre as duas margens do estreito, manter a paz e a estabilidade na região e prosseguir o rejuvenescimento nacional”. Ma lidera uma delegação de estudantes numa viajem pelas províncias de Heilongjiang, no nordeste da China, e Sichuan, no centro, onde vão visitar locais históricos e participar em atividades culturais. A visita decorre até 26 de dezembro. China e Taiwan viveram um grande momento de aproximação durante a presidência de Ma, a ponto de ter realizado uma reunião histórica em Singapura com Xi, no final de 2015, a primeira entre líderes de ambos os lados do estreito em mais de 60 anos. Ma e Xi voltaram a encontrar-se em Abril deste ano, em Pequim, durante a anterior visita do antigo líder taiwanês à República Popular da China. Nessa ocasião, o Presidente chinês insistiu que “não há forças que possam separar Taiwan da China”.
Hoje Macau China / ÁsiaPrimeiro navio do porto peruano de Chancay chega a Xangai O “Xin Shanghai”, um navio operado pela China COSCO Shipping Corporation Limited, chegou ao porto de Yangshan, em Xangai, por volta das 15h30 de quarta-feira, após uma viagem de 23 dias do porto peruano de Chancay, tornando-se o primeiro navio a chegar a Xangai vindo de Chancay após a abertura oficial do porto peruano em novembro. A viagem também marcou a abertura da ligação marítima operacional bidirecional entre Xangai e o Porto de Chancay, um projeto emblemático recém-inaugurado da cooperação da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” entre a China e o Peru. A carga da viagem inclui uma variedade de produtos peruanos, como mirtilos, abacates e produtos minerais. De acordo com Wu Jianzhong, gerente regional da Joy Wing Mau Fruit Technologies Corporation Limited (JWM), proprietária dos mirtilos peruanos no navio, metade dos mirtilos será distribuída em Xangai, visando mercados e supermercados no leste da China, enquanto o restante será enviado para o norte da China. Antes da abertura do porto de Chancay, o comércio entre o Peru e a China era feito principalmente através do porto peruano de Callao. Com a entrada em funcionamento do porto de Chancay, foram introduzidos mais serviços de transporte de contentores ao longo da costa ocidental da América do Sul, reduzindo o tempo de transporte entre o Peru e a China para cerca de 23 dias – muito mais rápido do que a média atual do mercado. Espera-se que o lançamento da nova rota aumente a entrada de frutas frescas e outros produtos do Peru nos mercados chinês e da Ásia-Pacífico. Para garantir a qualidade dos produtos perecíveis durante o transporte, a China COSCO Shipping Corporation Limited integrou tecnologia de ponta e soluções digitais. Estas inovações permitem a monitorização em tempo real da temperatura e da humidade, garantindo um processo seguro e eficiente da cadeia de frio. Ponto de expansão Olhando para o futuro, a empresa planeia expandir as suas rotas de transporte marítimo com base no desenvolvimento do Porto de Chancay e contribuir para o estabelecimento de um novo corredor de transporte marítimo-terrestre entre a América Latina e a Ásia. “Esta nova rota directa entre o Porto de Chancay e Xangai contribuirá para uma rede comercial mais eficiente e interligada que liga as regiões costeiras do Peru às zonas interiores, bem como a outros países da América Latina”, afirmou Chen Xiaochen, diretor comercial para a América Latina da COSCO Shipping Lines Co. “A rota é um marco significativo na estratégia mais ampla da China de aumentar a conetividade marítima global, demonstrando o papel crescente do país na construção de uma rede de comércio internacional mais integrada e eficiente”, acrescentou Chen. Sendo o primeiro porto inteligente e verde da América do Sul, o Porto de Chancay, inaugurado em Novembro, está localizado a cerca de 78 km a norte de Lima, a capital peruana. Com um comprimento total de 1.500 metros e quatro cais, o porto, alimentado pelas tecnologias inteligentes da China, pode lidar com navios com uma capacidade de 18.000 TEUs (unidades equivalentes a vinte pés) e está projectado para processar 1 milhão de TEUs anualmente, com capacidade para escalar até 1,5 milhão de TEUs a longo prazo.
Hoje Macau EventosCotai | COD apresenta mostra “Lótus Eterno 25” O empreendimento City of Dreams, no Cotai, acolhe na White Gallery a exposição “Lótus Eterno 25”, uma exposição com instalações temáticas em torno da flor de lótus, o símbolo de Macau. A mostra serve também para celebrar os 25 anos da RAEM, proporcionando uma “viagem imersiva à essência da cultura chinesa”. Construindo-se uma metáfora em torno do ciclo de crescimento da flor de lótus, a mostra contém instalações criadas em parceria com uma empresa local. A iniciativa pretende ser uma “exposição de arte cativante onde o património se encontra com o luxo, numa sinfonia de beleza e contemplação”, mas também uma “viagem cultural”. Assim, a exposição divide-se em três partes, com os nomes de “Awakening Buds”, “Blooming Dialogue” e “Seeds of Eternity”. Cada visitante “poderá desfrutar de uma experiência personalizada”, explorando “a beleza serena do lótus”. Na “Eternal Lotus 25”, todas as instalações “foram criadas com recurso à tecnologia de ponta, sendo concebidas e desenhadas com iluminação e projecções que revelam caminhos” percorridos por novas áreas de tecnologia como a “big data” e detecção de movimentos. Desta forma, promove-se “uma experiência interactiva única”.
Hoje Macau SociedadeDSOP | Nam Kwong recebe obra de 566 milhões de patacas A empresa Nam Kwong União Comercial e Industrial, uma das várias controladas pelo grupo estatal Nam Kwong, recebeu do Governo da RAEM a adjudicação para realizar as obras de protecção contra inundações e de drenagem da zona Marginal Do Lado Oeste de Coloane, um contrato avaliado em cerca de 566 milhões de patacas. A informação foi divulgada pela Direcção dos Serviços de Obras Públicas (DSOP). Segundo o organismo, os trabalhos têm como objectivo “atenuar os problemas de inundações” no lado oeste de Coloane. Além dos diques de protecção, vão ser reordenados os sistemas de drenagem de água nos diques e no canal de Shizimen para “resistir aos impactos das inundações causados pelas marés de tempestade e pelas chuvas intensas”. A obra vai estender-se da Estrada de Lai Chi Vun de Coloane até à zona a jusante do Templo Tam Kong, abrangendo as imediações da Avenida de Cinco de Outubro de Coloane, da Rua dos Navegantes, dos Cais de Coloane e dos Estaleiros Navais de Lai Chi Vun.
Hoje Macau Grande PlanoInterior da China e Macau exploram potencial de cooperação em novos sectores O Jogo contribui para o crescimento de Macau mas, por outro lado, também pode limitar o desenvolvimento de outros sectores da economia. Novas medidas do CEPA criam novas oportunidades para as empresas de Macau Ao abrir novos caminhos para as empresas de Macau, “o governo central está a dar à cidade a possibilidade de prosseguir uma via de desenvolvimento mais diversificada e sustentável, para além dos seus pontos fortes tradicionais no jogo”, afirmaram analistas ouvidos pelo China Daily. “A China continental tem utilizado uma série de medidas para abrir ainda mais os seus sectores de serviços a Macau, em conformidade com as necessidades de desenvolvimento em mutação da região administrativa especial, e para proporcionar às empresas de ambos os lados uma maior margem de cooperação e crescimento”, acrescentaram. O último passo foi dado quando o Ministério do Comércio assinou, em Outubro, alterações com Macau para reforçar a liberalização do comércio de serviços no âmbito do Acordo de Parceria Económica Reforçada (CEPA). O Interior da China e Macau assinaram o CEPA, um acordo semelhante a um acordo de comércio livre que é estabelecido entre dois territórios aduaneiros separados de um único Estado soberano, em 2003, com o objetivo de promover a prosperidade económica conjunta do Interior da China e de Macau. No centro da mais recente revisão está um vasto pacote de iniciativas de abertura destinadas a reduzir ou a eliminar o limiar de entrada no mercado para os prestadores de serviços sediados em Macau numa série de sectores, incluindo as finanças, as telecomunicações e a construção. Algumas das medidas serão testadas na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau para facilitar a conectividade institucional regional antes de serem postas em prática em todo o país. Serviços em destaque “O sector dos serviços é responsável por uma componente significativa do desenvolvimento económico de Macau, que pode ser alcançado eficazmente dentro da limitada área terrestre da cidade”, disse Qi Pengfei, director do centro de investigação de Taiwan, Hong Kong e Macau da Universidade Renmin da China. “As novas medidas trarão enormes oportunidades às empresas de Macau, especialmente em áreas como as finanças, o entretenimento e os serviços culturais, para acederem ao vasto mercado do continente – um passo fundamental nos esforços sustentados de Macau para diversificar a sua economia”, disse Qi. “Apesar de a indústria do jogo de Macau ter impulsionado o rápido crescimento económico e a criação de emprego, a influência excessiva do sector pode excluir o desenvolvimento de outros sectores e limita a resiliência económica global de Macau e a sua capacidade de resistir a períodos de recessão”, acrescentou Qi. De acordo com o plano de diversificação económica de Macau para o período de 2024 a 2028, publicado em Novembro do ano passado, o objectivo é aumentar a percentagem do valor acrescentado das actividades não relacionadas com o jogo para cerca de 60 por cento até 2028. No passado, as empresas de Macau do sector dos serviços enfrentaram várias barreiras, como os elevados limiares de acesso ao mercado e as restrições à duração das operações comerciais, quando tentaram entrar no mercado do continente, disse Liang Haiming, presidente do China Silk Road iValley Research Institute, com sede em Hong Kong. “Ao entrar no vasto mercado do Interior da China, as empresas de serviços de Macau podem agora aproveitar os seus pontos fortes únicos para cultivar novas vantagens competitivas para além das indústrias tradicionais”, acrescentou Liang. Novas medidas, benefícios comuns Como parte das novas iniciativas, as alterações delinearam várias medidas para abrir o sector financeiro, um dos novos motores de crescimento de Macau. A indústria de serviços financeiros de Macau tem registado um aumento na sua contribuição para as receitas fiscais globais da cidade, com a sua quota a aumentar de cerca de 6,9 por cento em 2019 para cerca de 16 por cento em 2023 – tornando-se a segunda maior fonte de receitas fiscais depois do sector do jogo, de acordo com os Serviços de Estatística e Censos de Macau. Para catalisar o crescimento do sector financeiro de Macau, as alterações incluíram medidas para alargar o âmbito de actividade dos bancos sedeados em Macau que operam no Interior da China e para promover a interconectividade do mercado obrigacionista. Para a China continental, o maior acesso concedido às empresas de serviços de Macau também trará benefícios substanciais, disse Xu Hongcai, diretor-adjunto do comité de política económica da Associação Chinesa de Ciência Política. A entrada dos prestadores de serviços de Macau introduzirá conceitos de gestão avançados, produtos de serviços de alta qualidade e modelos de negócio inovadores, contribuindo para melhorar e desenvolver o sector dos serviços na China continental, acrescentou Xu. Wang Keju, China Daily
Hoje Macau China / ÁsiaCoreia do Sul | Presidente volta a faltar a audição, pela terceira vez O Presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, voltou ontem a faltar a uma audição no âmbito da investigação da controversa lei marcial decretada no início de Dezembro e que levou à sua destituição. Yoon foi convocado para ser ouvido pelos investigadores às 09h de ontem (hora de Macau), mas voltou a não comparecer, o que acontece pela terceira vez, segundo a agência espanhola Europa Press. O Presidente está a ser investigado simultaneamente pelo Gabinete de Investigação Anticorrupção (CIO), pelo Ministério Público (MP) e pelo Ministério da Defesa. É suspeito de ter incitado à rebelião ao declarar a lei marcial em 3 de Dezembro, que foi revogada pelo parlamento poucas horas depois de ter entrado em vigor. O Presidente conservador justificou na altura que a lei marcial se devia a uma alegada aproximação da oposição a posições “semelhantes às da Coreia do Norte”.
Hoje Macau Manchete PolíticaCônsul-geral de Portugal vê com “optimismo realista” futuro dos portugueses O cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong disse ver com “optimismo realista” futuro da presença dos portugueses no território, actualmente “bastante evidente” e em “lugares relevantes”. Perante a presença portuguesa na vida associativa, na advocacia, no ensino, na administração e nos tribunais, “em que há juízes portugueses a julgar”, é preciso “reconhecer que isto é invulgar, que significa um sucesso”, disse à Lusa Alexandre Leitão. Isto “abre portas para um certo optimismo em relação ao futuro. Obviamente, um optimismo realista, de quem sabe que Macau pertence à República Popular de China”, afirmou. “Se tivermos presente que estamos na China, ainda que com condições especiais e que me parecem muito interessantes para a própria China, creio que […] temos razões para ver perspectivas de sucesso e áreas de crescimento da nossa presença, da nossa participação em projectos como a Grande Baía, como a Plataforma, Centro e Base da relação entre a China e os países de língua portuguesa, e até para o projecto de internacionalizar a economia portuguesa e ajudar à internacionalização da economia chinesa também”, assinalou o diplomata. Sem esquecer “a competência e o conhecimento absolutamente ímpar que os macaenses têm da China”, tem-se “um ‘cocktail’ no que pode ser muito eficaz para que esta cidade, que é pequena na China, tenha uma relevância maior do que a sua estrita dimensão demográfica ou geográfica”. “A China dá todos os sinais de querer ter uma relação especial com o universo lusófono. E nós não temos, seriamente, nenhuma condição para pôr em causa aquilo que a China diz. Acreditemos que aquilo que é proclamado é a intenção real e trabalhemos para isso com a China”, sublinhou. Bir e não voltar No ano passado, Macau deixou de aceitar novos pedidos de residência para portugueses, para o “exercício de funções técnicas especializadas”, permitindo apenas justificações de reunião familiar ou anterior ligação ao território. As orientações eliminam uma prática firmada após a transição de Macau, em 1999. Sobre esta questão, Alexandre Leitão afirmou ser um sinal. “Obviamente, esta decisão foi um sinal. E é um sinal que tem leituras, como todos os sinais. E uma mudança súbita, depois da [pandemia da] covid-19, numa altura em que se falava da recuperação e da necessidade de diversificação económica, quando isso significa em qualquer cidade do mundo e da própria China, abertura”, considerou. “Digamos que temos o direito de olhar para este sinal como algo frustrante e contrário às nossas expectativas e sobretudo de difícil compreensão pelo momento e pelo facto de que objectivamente são poucos os portugueses que vêm de Portugal procurar Macau”, salientou. Alexandre Leitão disse acreditar “ser do interesse da região poder beneficiar do contributo qualificado de mais portugueses”. Este sinal “autoriza leituras diversas”, como a de ser um esforço de normalização: “é evidente que Macau, mais uma vez, pertence à República Popular da China e, portanto, compreendo que seja para alguns discutível que os portugueses tenham um estatuto diferente de outros estrangeiros ou até de pessoas que vêm da China”, afirmou. “Mas o meu papel aqui é defender os interesses da comunidade portuguesa e de Portugal e pôr em evidência aquilo que acredito ser a capacidade que os portugueses têm de trazer valor para o projecto de crescimento, diversificação de Macau, de integração e de contributo apreciável no projecto da Grande Baía e no projecto de plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”. Os portugueses que “aqui estão e que não são nascidos aqui não são assim tantos e não são demais”, considerou. Para o diplomata, trata-se de uma opção soberana de autoridades que têm plena competência para decidirem o que entendem: “não houve violação, na minha opinião, da Lei Básica nem nada disso”. “Temos que separar o que é jurídico do que é político e eu estou aqui a fazer obviamente uma interpretação enviesada pelo facto de ser representante de Portugal e de defender os interesses portugueses”, assinalou. Cerca de 155 mil pessoas têm nacionalidade portuguesa em Macau e Hong Kong, disse à Lusa. De acordo com os censos de 2021, realizados no território, há mais de 2.200 pessoas nascidas em Portugal a viver em Macau.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Empresa entregas obriga estafetas a descansar após muito trabalho O gigante chinês das entregas ao domicílio Meituan vai obrigar os motoristas a descansar quando se verificar que trabalharam demasiado tempo, avançou ontem o portal de notícias The Paper. O portal, que cita uma circular enviada pela Meituan aos estafetas, referiu que a aplicação que utilizam para trabalhar vai encerrar automaticamente a sessão se detectar que o tempo acumulado a fazer entregas excede um determinado limite, que ainda não foi divulgado. Quando for detectado um excesso de horas, a aplicação apresentará uma mensagem convidando o condutor a fazer uma pausa. Se continuar a aceitar encomendas, o estafeta verá a sessão automaticamente desligada durante o resto do dia. A empresa confirmou que está a testar programas para evitar a fadiga dos condutores. A medida surgiu na sequência de meses de debate público na China sobre as pressões enfrentadas pelos motoristas, que recebem menos de um euro por entrega e têm pouco tempo para descansar, depois de vários incidentes terem sido notícia no país. Em Wuhan, no centro da China, um estafeta ameaçou um cliente com uma faca. Outro danificou uma vedação em Hangzhou (leste), quando se apressava a entregar uma encomenda, e foi obrigado a ajoelhar-se como castigo pelos seguranças do local, o que levou dezenas de colegas a convocarem um protesto. Da vida para o ecrã Um dos maiores sucessos de bilheteira na China este Verão foi um filme que ilustrava as dificuldades enfrentadas por milhares de pessoas que trabalham como estafetas em empregos temporários, correndo contra o relógio pelas cidades em trotinetas eléctricas, para entregar as encomendas a tempo. No final de Novembro, as autoridades chinesas exigiram às plataformas digitais uma revisão e e correcção de algoritmos que pudessem prejudicar os condutores, especialmente os que reduzem os prazos de entrega, algo que aumenta a pressão sobre os trabalhadores e resulta frequentemente em infrações de trânsito e acidentes.
Hoje Macau China / ÁsiaCarros eléctricos | Empresa planeia infra-estrutura para troca de baterias A chinesa CATL, o maior fabricante mundial de baterias para veículos eléctricos, anunciou ontem que vai construir uma vasta rede de estações para troca de baterias na China, a partir do próximo ano O maior fabricante do mundo de baterias para veículos eléctricos, a CATL, anunciou ontem um plano para lançar uma rede de larga escala para troca de baterias. A ideia subjacente à troca de baterias consiste em reabastecer rapidamente, à semelhança do que acontece com o abastecimento de gasolina num automóvel com motor de combustão interna. Em vez de esperar que as baterias sejam recarregadas, os carros são colocados num dispositivo que troca a bateria antiga por uma nova numa estação de serviço. Aquele sistema é já utilizado pelo fabricante de veículos eléctricos chinês NIO. A CATL, com sede no leste da China, anunciou planos para abrir 1.000 estações de troca de baterias no próximo ano no país asiático, incluindo em Macau e Hong Kong, com o objectivo a longo prazo de ter 10.000 estações construídas com diferentes parceiros. Se a empresa avançar, poderá rivalizar com a NIO, que conta já com mais de 2.700 estações. Não existe nada a esta escala noutras partes do mundo, embora a NIO tenha cerca de 60 estações no norte da Europa. Um investimento desta envergadura é possível na China, onde o apoio governamental transformou o maior mercado automóvel do mundo num mercado fortemente eléctrico e fez do país líder na tecnologia dos veículos eléctricos. “Até 2030, a troca de baterias, o carregamento em casa e as estações de carregamento públicas partilharão o mercado”, previu Robin Zeng, director-executivo da CATL, numa apresentação na província de Fujian, onde a CATL está sediada. O responsável apelou aos parceiros empresariais para que trabalhem em conjunto para “criar serviços mais convenientes, mais económicos e mais seguros para os clientes, promovendo um novo modo de vida”. A troca de baterias enfrenta obstáculos. Requer uma padronização das baterias para que as estações de troca possam suportar a operação. Mas a maioria dos veículos eléctricos tem a sua própria configuração. Por outro lado, um carro eléctrico pode utilizar qualquer estação de carregamento na China porque todas utilizam uma ficha comum e a tecnologia de carregamento rápido está a reduzir o tempo de recarga. Jing Yang, director da empresa de notação financeira Fitch Ratings, que se dedica aos sectores automóvel e das energias renováveis na China, afirmou que os fabricantes de automóveis podem estar preocupados com o facto de a adopção de um conjunto de baterias padronizadas poder ceder demasiado controlo da sua cadeia de abastecimento a terceiros. Mas alguns podem querer testar o sistema para ver se a troca de baterias pode melhorar as vendas, e fazê-lo com CATL ou NIO poderia reduzir o custo, argumentou. Questão de tempo Lei Xing, analista do mercado automóvel chinês, acredita que a troca de baterias pode complementar a rede de carregamento bem desenvolvida do país. “Não estou a ver que se torne uma tendência dominante, mas vejo-a a tornar-se uma parte fundamental da infra-estrutura”, explicou. O conceito provou ser mais fácil de implementar com veículos de frota – táxis, autocarros e camiões comerciais – que têm um modelo padrão e, em alguns casos, seguem rotas definidas. A CATL, que lançou um pequeno projecto-piloto há dois anos destinado a táxis, começará a sua implementação com frotas e expandirá mais tarde para proprietários de automóveis individuais, disse Zhang Kai, vice-presidente da subsidiária de troca de baterias da CATL. A troca continua a ser mais rápida do que o carregamento rápido. A estação da CATL, com a marca EVOGO, pode trocar uma bateria em 100 segundos, disse Yang Jun, diretor-executivo da filial. “Tempo é dinheiro para os motoristas de táxi e de camiões”, explicou Lei Xing. Tanto a CATL como a NIO anunciaram acordos com fabricantes de automóveis para a utilização das suas estações de troca. A questão é saber se um número suficiente de fabricantes de automóveis e de condutores adoptam esta prática para que a utilização das estações se torne rentável. Entre Janeiro e Outubro, quase 70 por cento das vendas de veículos eléctricos a nível mundial foram feitas na China, segundo dados do sector.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Astronautas fazem passeio mais longo de que há registo no país Dois astronautas da estação espacial da China realizaram o mais longo passeio espacial na história do programa aeroespacial do país, anunciou ontem a Agência de Missões Espaciais Tripuladas chinesa. Os astronautas Cai Xuzhe e Song Lingdong trabalharam no exterior da estação espacial na terça-feira sob a supervisão do parceiro, Wang Haoshe, que permaneceu no interior da nave espacial. Cai e Song estiveram fora da estação durante cerca de nove horas, durante as quais instalaram dispositivos de protecção contra detritos espaciais e realizaram trabalhos de inspecção do equipamento, assistidos pelo braço robótico da estação e por uma equipa de controlo na Terra. Esta foi a primeira missão exterior da actual tripulação da estação espacial Tiangong, cujo nome significa Palácio celestial, em mandarim. No entanto, foi a segunda caminhada espacial de Cai, que já integrou a tripulação da estação durante o segundo semestre de 2022. Song, de 34 anos, tornou-se o primeiro astronauta chinês nascido nos anos de 1990 a efectuar um passeio espacial. Os três astronautas, que chegaram à estação espacial em Outubro a bordo da nave espacial Shenzhou-19, vão realizar uma série de experiências científicas e testes técnicos no espaço durante a missão de seis meses. A tripulação deverá também efectuar outros trabalhos no exterior da estação durante a estada, acrescentou a agência. A única sobrevivente A Shenzhou-19 é a décima nave espacial a visitar a Tiangong, que vai funcionar durante cerca de dez anos e possivelmente a única estação espacial do mundo a partir de 2024, se a Estação Espacial Internacional, uma iniciativa liderada pelos EUA à qual a China está impedida de aceder devido a laços militares do programa espacial, for retirada este ano, como planeado. A China investiu fortemente no programa espacial e alcançou êxitos como a aterragem da sonda Chang’e 4 no lado mais distante da Lua – a primeira vez que tal foi conseguido – e a colocação de uma sonda em Marte, tornando-se o terceiro país – depois dos Estados Unidos e da antiga União Soviética – a fazê-lo.
Hoje Macau China / ÁsiaNatalidade | Especialista pede apoio face a crise demográfica Um especialista chinês defende que a China deve focar-se em apoiar a natalidade e reduzir o custo com a educação das crianças, quando o país enfrenta problemas demográficos de dimensão inédita no mundo Num artigo de opinião difundido pelo Study Times, publicação da Escola Central do Partido Comunista Chinês, Du Yang, director do Instituto de Economia da População e do Trabalho da Academia de Ciências Sociais Chinesa afirmou que o apoio às famílias com filhos, incluindo a afectação de mais recursos públicos para a educação pré-escolar, deve ser prioritário, nos esforços para lidar com uma população que está a diminuir e a envelhecer rapidamente. O apelo surgiu depois de as autoridades chinesas terem prometido a construção de uma “sociedade favorável à natalidade”, uma vez que a população total do país começou a encolher há dois anos e a taxa de natalidade caiu para um mínimo histórico de 6,39 por cada 1.000 pessoas no ano passado. O número de nascimentos no país asiático caiu de 17,86 milhões, em 2016, ano em que a China aboliu a política de ‘filho único’, para 9,02 milhões, em 2023, uma queda superior a 50 por cento. A queda acelerada levou já ao encerramento de mais de 20.000 jardins-de-infância, nos últimos dois anos. Mas o verdadeiro impacto na sociedade chinesa só se fará sentir em meados do século, quando muitos dos que nasceram durante a política do ‘filho único’ atingirem a reforma, enquanto continuam a cuidar dos pais idosos. Em 2050, a ONU prevê que 31 por cento dos chineses terão 65 anos ou mais. Em 2100, essa percentagem será de 46 por cento, aproximando-se de metade da população. “Os vários tipos de custos pagos pelas famílias e pelos indivíduos são os principais factores que impedem o desejo de ter filhos”, lê-se no artigo de opinião de Du Yang. Du salientou a diferença substancial entre a China e os países desenvolvidos, no que respeita à despesa pública com a educação pré-escolar, sublinhando a importância para a melhoria da qualidade da população, uma visão reiterada pelo Presidente chinês, Xi Jinping. Apelou também para a optimização e expansão do ensino profissional, que ajudará a dotar a mão-de-obra chinesa das competências necessárias para impulsionar a produtividade e sustentar o crescimento económico. A segunda maior economia do mundo enfrenta desafios demográficos únicos que carecem de comparações internacionais directas, sublinhou. Idade da razão Ao contrário de muitas nações desenvolvidas que envelheceram gradualmente, a população da China está a envelhecer enquanto a economia permanece numa fase de transição. De país pobre e isolado, a China converteu-se, em 40 anos, na segunda maior economia mundial, mas o produto interno bruto ‘per capita’ continua muito aquém das nações desenvolvidas. É, por exemplo, metade do de Portugal. Enquanto 2 por cento da população portuguesa vive abaixo do limiar da pobreza, de 6,20 euros por dia, esta categoria abrange 25 por cento dos chineses. A China arrisca assim sofrer um fenómeno que os economistas designam como “envelhecer antes de enriquecer”. “O declínio da população total é uma mudança importante nas condições básicas de desenvolvimento da China, e é uma situação que nunca foi encontrada quando a China fez planos no passado”, escreveu Du. A China registou um declínio populacional em 2022 e 2023, as primeiras contracções desde 1961, quando o número de habitantes diminuiu devido ao fracasso da política de industrialização do Grande Salto em Frente e à fome que se seguiu. O país foi ultrapassado no ano passado pela Índia como a nação mais populosa do mundo. Durante o 20.º Congresso em 2022, o Partido Comunista Chinês sublinhou que o país precisa de um sistema que “aumente as taxas de natalidade e reduza os custos da gravidez, do parto, da escolaridade e da parentalidade”.
Hoje Macau Via do MeioIdentidade, Periferia e Globalização: Duas Narrativas de Macau Por Fernanda Gil Costa, antiga directora do departamento de português da Universidade de Macau Apresenta-se de seguida uma breve abordagem da literatura de Macau em língua portuguesa (também em tradução, já que o território tem hoje duas línguas oficiais) publicada nas duas décadas que se seguiram à mudança da soberania portuguesa para a chinesa. Assim se tenta evidenciar uma certa singularidade da vida literária macaense que, sem deixar de se conjugar com práticas modernistas e pós-modernas da cena literária internacional, pode configurar a consciência da sua inevitável periferia face aos circuitos das literaturas nacionais portuguesa e chinesa e aos grandes centros de intercâmbio da chamada Literatura Mundo. As duas narrativas selecionadas, de uma autora chinesa que vive em Macau e em 2010 viu traduzida para português a narrativa curta que tornara pública em 1999 (o ano da transição de soberania) e de um autor português, Carlos Morais José, que dirige um jornal do espaço público de língua portuguesa1constituem uma demonstração da presença de uma vida cultural activa no espaço público de língua portuguesa (jornais e suplementos culturais, festivais literários, actividade editorial) apesar da exiguidade em número de leitores. Além disso, as duas narrativas (um conto e um romance histórico) parecem revelar complexos temáticos e padrões formais que expõem a vida cultural da cidade como experiência de periferia e resistência agregada à sua condição de insularidade e exílio. Na curta narrativa intitulada As Alucinações de Ao Ge, publicada em 1999, em chinês, por uma autora chinesa de Macau (de origem cambojana), Lio Chi Heng coloca-se numa posição de inesperado desafio face ao leitor português (que pode ler o conto em português depois da tradução, em 2010, patrocinada em edição bilingue pelo IPOR2), ao abordar a questão conflituosa da identidade macaense quase sempre ignorada pelos autores de Macau de ascendência portuguesa. Assim, pode dizer-se que a intempestiva obra de Lio Chi Heng surgiu no espaço público da cidade como uma das produções literárias mais originais da literatura escrita em Macau nos últimos anos. Apresenta-se também como uma obra reveladora da marca/mancha pós-colonial que de forma insidiosa se manifesta afinal no espaço público macaense e chinês da ex-colónia. Autores de origem macaense (híbridos de origem étnica portuguesa e chinesa) tinham já apresentado o relacionamento entre europeus e chineses como um problema de solução difícil e eventualmente traumática3, sobretudo no contexto do relacionamento amoroso, durante o período colonial do século XX, mas o conflito desloca-se mesta narrativa para o interior do protagonista mestiço que se sente dividido pela origem dupla, numa sociedade de transição em que a agulha da balança do poder começou a oscilar para o lado oposto. O conto toma como centro da sua observação a personagem Ao Ge, um macaense mestiço (descendente de portugueses e chineses) que durante uma viagem à Europa acaba por revelar numa série de eventos desencadeados em vertiginosa sucessão, os seus ocultos problemas e traumas de identidade. A história é simultaneamente contada na terceira pessoa, por um narrador omnisciente, e na primeira, em versão autodiegética, disposta em capítulos alternados. A tradição modernista está presente nesta indecisão da perspectiva e no carácter aberto que tal processo imprime à sequência dos nódulos narrativos. Sobre o problema, sem solução definitiva óbvia da identidade híbrida, inoportuno porque é ignorado dentro do espaço público português, diz a autora, esclarecendo a sua motivação para o tema: “A crise de identidade macaense não é criação minha. Antigamente muitos macaenses raramente mencionavam os membros da família chinesa.” 4 Veremos que, no final, a relativa aceitação da avó chinesa por Ao Ge não ultrapassa as circunstâncias domésticas e a vida projectada do protagonista que continuará inserido numa sociedade em que os preconceitos raciais perdurarão para além da mudança de equilíbrio e da nova relação na distribuição das forças sociais e culturais dominantes. O narrador do conto (tal como a autora) conhece o peso da dimensão complexada e oculta da identidade de Ao Ge, o seu mal-estar em relação às marcas fisionómicas asiáticas do rosto, subalternizadas durante o período colonial, que o levam a exacerbar a metade da sua origem europeia. A apreciação do narrador face à personagem, que se situa, naturalmente, num nível mais elevado de conhecimento e consciência que o protagonista, transparece na citação seguinte: “É preciso voltar ao tempo do avô de Ao Ge. Os portugueses não se contentaram em deixar para trás de si a impressão dos seus passos; eles deixaram também os seus genes! O avô de Ao Ge foi um desses semeadores de genes (AAG:28). O narrador conhece igualmente o trauma de infância e adolescência da personagem, a violação por rapazes portugueses que o tratavam por “- Meu chinês, filho da puta!” (23), que Ao Ge recorda no presente da história da diegese, durante o encontro com o travesti, em Paris, como uma sequência de imagens de cinema em que se observa à distância: “Contra uma parede amarelada, um jovem era arremessado num vão de escada e, atrás dele, um grande latagão comia-o por detrás” … (id.). Incapaz de entender as suas emoções e o alcance das suas relações, Ao Ge falha o relacionamento com os colegas portugueses que inveja e deseja por serem de suposto “sangue puro” e superior beleza e evita enfrentar a pulsão inconsciente que o atrai para a homossexualidade. “Como foi possível que um mulherengo como eu tivesse dormido com um homem?” (24) pergunta-se, depois do episódio com o travesti em Paris e do embaraçoso desejo por José, companheiro de viagem, numa praia próxima de Lisboa, cuja beleza “europeia” o excita descontroladamente. O ressentimento e o complexo sentimento de amor/ódio pelos portugueses são o tema dominante do conto. Ao Ge reflecte sobre o seu destino quase sempre em termos apologéticos, considerando, por exemplo, que o seu nariz “alto e recto” é uma compensação dada pelo “Criador” ao seu rosto asiático. Vale a pena citar as suas palavras: Para mim a recompensa foi este nariz mágico, cujos poderes me fizeram esquecer as humilhações que me corroíam o coração. Mais tarde foi também graças a Ele que senti orgulho na minha vida, em ser filho desta terra. (AAG: 34) A mesma superficialidade de observação e valoração se regista no pensamento de Ao Ge quando se gaba de ter um bom posto, “apesar de fazer gazeta a toda a hora, consegui um bom posto, tal como o meu avô.” (ibid.); e o mesmo acontece na relação com as línguas que fala e aprende a falar: “Antigamente falar português chegava para tudo, mas hoje em dia o potunghua é mais popular” (ibid.). Para Ao Ge a vivência plena da cidade, das suas línguas e culturas contrastivas não é atraente; a língua que usa tem a ver com a utilidade imediata, status social e filiação de moda. A relação com o espaço geográfico é, de facto, como sugeriu Ana Paula Laborinho noutro contexto, permeada por uma sensação de exílio a que não são exteriores a nostalgia, a insularidade e a efemeridade de uma vida sem dificuldades de sobrevivência. Veja-se a reflexão seguinte: O impacto do potunghua dá-me a impressão de perder Macau. O rosto e a língua são os dois pratos da balança da minha vida e eu equilibro-me entre um e outro. (AAG: 35) Neste ponto faz sentido reconhecer que Ao Ge acaba por reencontrar a sua matriz identitária chinesa (que parece ser uma decisão desejada pelo narrador omnisciente e, porventura, autoral) quando nas aulas de potunghua (tal como no interesse não inocente pela professora de mandarim, cheia de carácter e personalidade) é levado a reflectir sobre a história da China (e de Macau, enquanto colónia portuguesa) para regressar à memória da avó chinesa, repudiada no início da narrativa devido à sua ascendência, que o protagonista volta a visitar no cemitério da “cidade cristã”, embora ela não descanse junto do avô português, sepultado com a legítima mulher de origem portuguesa. Mas a sua existência perdida entre etnias, línguas e heranças culturais não parece ser superável: “Eu… eu não consigo localizar a minha identidade, que é também uma alucinação.” (Id: 45), confessa Ao Ge mesmo no final da narrativa, assim expressando com lucidez inesperada a ausência como centro da sua existência, provável sintoma da desorientação e perda de rumo de alguma população macaense mais jovem, na viragem do último século, entre a influência chinesa e a portuguesa /macaense, no momento em que a transição aconteceu. É também muito revelador que Ao Ge abandone o cemitério depois da visita enquanto acredita ouvir a voz compreensiva da avó chinesa que ele desprezou, dizer: “meu tontinho, meu tontinho…” (Id: 46), num sinal de carinhosa condescendência que dá voz ao novo espírito do lugar. Tal atitude parece configurar uma incarnação ou sinédoque da China pela avó enquanto pátria remota em termos de dominação política, genética e linguística, a que Macau retorna sem entraves no final do século XX. Na última cena, sintomaticamente, parece insinuar-se no desenho de Ao Ge, feito por uma autora de língua chinesa, a característica que já foi considerada a mais persistente da população macaense, o chamado “Macau Bambu”, sinal simultâneo e paradoxal de instabilidade e permanência.5 Este conto de Lio Chi Heng preenche um vazio na abordagem da questão macaense em primeiro lugar pela perspicácia do olhar, mas também pela flexibilidade feminina e abrangente da análise sobre a situação insular e paradoxal de Macau, o seu plurilinguismo e interculturalidade, e sobretudo a exposta situação pós-colonial da cidade quase sempre ignorada na literatura e na crítica portuguesa. O desconforto da personagem Ao Ge parece entrelaçar a ambiguidade da opção sexual com a dificuldade de definição da identidade cultural, étnica e linguística e lançar uma ponte para um futuro pacificado – por mais inverosímil que seja (e porventura utópico) – para a redescoberta da China como pátria última (e única). Esse momento ainda não realizado, porém, desejado por muitos como superação possível de um passado de conflito (tão recalcado quanto possível, mas latente) entre a matriz portuguesa/ europeia e a asiática não pertence ao presente do conto, mas está (presume-se) subentendido. O desconforto do protagonista representa além disso um desafio e um risco para o leitor português. Desafio porque a ambiguidade e superficialidade do problemático perfil de Ao Ge não permitem uma identificação plena com a personagem e risco porque o seu lugar é solitário, imaturo e ambivalente, mesmo que solicite uma explícita cumplicidade com a sua história individual. Citando David Brookshaw: “Esta novela é única na produção literária em Macau, já que se trata da visão de uma chinesa sobre a situação do macaense perante a sua dupla herança… (2010: 22). O protagonista não encontra, portanto, uma saída pacífica para a identidade macaense como alternativa à herança portuguesa, perante um futuro de forçada integração na China. No desenho imperfeito da sua identidade (não gosta do que é, a sua vida está presa entre o que não sabe definir e o que não pode assumir, quer humana e etnicamente quer sexualmente) perde-se no lugar transitório em que se encontra, a geografia ambivalente e excessiva do pós-colonial. Tem mais do que uma língua, mais do que um género, mais do que uma pertença – daí a imperfeita solidão e a condição de ‘exilado’. Enquanto figura de uma transição que o ultrapassa, coloca mais problemas, perguntas e desafios do que respostas ou soluções. O pós-colonial é precisamente o espaço/tempo insuperável de questões inoportunas, da incerteza e das respostas imperfeitas. (continua) Referências: o jornal Hoje Macau Lio Chi Heng é referida como Liao Zixin, por David Brookshaw, no que parece ser uma transcrição fonética (incompleta) do nome. Segundo o mesmo autor a autora será de origem cambojana. É também D. B. a informar que a obra teve uma tradução francesa, anterior à portuguesa. A tradução portuguesa será no entanto a mais completa, baseada na versão publicada em chinês na revista Aomen Bihui 14, 1999, 76-91 (D. B., “A Escrita em Macau: uma literatura de circunstância ou as circunstâncias de uma literatura”, Macau na Escrita, Escritas de Macau, 19-30; aqui 21-22.). Mais informação sobre esta autora que foi sub-directora do Jornal Oumun, encontra-se na Revista de Macau de Maio de 2011, na rubrica “As Caras por detrás dos Livros” de Catarina Domingues e Gonçalo Lobo Pinheiro http://www.revistamacau.com/2011/06/05/as-caras-por-detras-dos-livros/ (consultado em Janeiro de 2019). Neste estudo é usada a versão bilingue de Lio Chi Heng publicada pelo IPOR em 2010, com tradução de Gustavo Infante e Zhang Yufeng e prefaciada por Ana Paula Paiva Dias e Rui de Sousa Rocha, director do IPOR em 2010. A novela foi também adaptada ao cinema. Senna Fernandes e Deolinda da Conceição … “As Caras por detrás dos Nomes”. http://www.revistamacau.com/2011/06/05/as-caras-por-detras-dos-livros/ (consultado em Janeiro de 2019). Esta caracterização do macaense remonta ao estudo sobre a etnicidade da população de Macau por J. Pina Cabral e N. Lourenço: Em Terra de Tufões… (1993): 24.