Nuclear | MNE apoia diálogo entre Irão e EUA e rejeita sanções

O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês sublinhou o apoio da China ao Irão nas negociações nucleares com os Estados Unidos e rejeitou o recurso à força e a sanções para resolver a questão nuclear iraniana.

Wang Yi reuniu-se na quarta-feira, em Pequim, com o homólogo iraniano, Abbas Araqchi, que está de visita à China, nas vésperas de se realizarem novas conversações em busca de um acordo nuclear entre Teerão e Washington, segundo um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

O chefe da diplomacia chinesa valorizou o “compromisso do Irão de não desenvolver armas nucleares”, defendendo simultaneamente o direito de Teerão à utilização pacífica da energia atómica. Wang sublinhou que Pequim “se opõe ao uso da força e às sanções unilaterais ilegais”, numa aparente referência às sanções que Washington impôs contra Teerão.

Araqchi entregou a Wang uma mensagem do Presidente iraniano, Masud Pezeshkian, ao homólogo chinês, Xi Jinping, e agradeceu a Pequim “a abordagem construtiva e eficaz nas discussões relacionadas com a questão nuclear iraniana”, lê-se no comunicado da diplomacia chinesa.

O Irão e os Estados Unidos realizaram, desde meados de Abril, duas rondas de conversações com vista a um novo acordo sobre o programa nuclear iraniano, que ambas as partes descreveram como construtivas. Representantes dos dois países vão reunir-se pela terceira vez no sábado.

A China é o maior parceiro comercial do Irão e um dos principais compradores do seu petróleo sob sanções. Em 2021, a China assinou um vasto acordo estratégico de 25 anos com o Irão. Esta importante parceria abrange áreas tão variadas como a energia, a segurança, as infraestruturas e as telecomunicações.

25 Abr 2025

Óbito/Papa | HK autoriza cardeal Joseph Zen a assistir ao funeral

O Cardeal Joseph Zen, bispo emérito de Hong Kong, foi autorizado a deixar a cidade semiautónoma da China para assistir ao funeral do Papa Francisco na Cidade do Vaticano, informou ontem a agência Associated Press.

Zen, de 93 anos, deixou Hong Kong na quarta-feira à noite, depois de ter apresentado um pedido num tribunal para recuperar o passaporte, revelou a sua secretária à AP. As autoridades confiscaram o passaporte a Zen após ter sido temporariamente detido ao abrigo de uma lei de segurança nacional imposta por Pequim na região administrativa especial em 2022.

Zen está entre os críticos que, nos últimos anos, afirmaram que o acordo do Vaticano com as autoridades chinesas sobre a nomeação de bispos traiu os católicos chineses que se mantiveram fiéis ao Vaticano. Também criticou o secretário de Estado Pietro Parolin, o responsável pelas negociações com Pequim, como um “homem de pouca fé”.

Parolin é considerado um dos principais candidatos a ser o próximo Papa, dada a sua proeminência na hierarquia católica. Na terça-feira, Zen emitiu uma crítica ao Vaticano, questionando a razão pela qual as reuniões pré-conclave começaram já nesse dia.

A sua secretária disse que Zen regressaria a Hong Kong após o funeral do Papa, que está marcado para sábado. Mas disse não ter a certeza da data exacta do regresso.

25 Abr 2025

Índia | Ordenada saída do país de paquistaneses até 29 de Abril

A Índia ordenou ontem a todos os cidadãos paquistaneses, excepto os diplomatas, que abandonem o país até 29 de Abril, em retaliação pelo ataque na Caxemira indiana, que matou 26 civis e pelo qual Nova Deli atribui responsabilidades a Islamabad.

“Em conformidade com as decisões tomadas pelo Comité de Segurança do Gabinete após o ataque terrorista em Pahalgam, Caxemira, o Governo da Índia decidiu suspender a emissão de vistos para cidadãos paquistaneses com efeito imediato”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano, em comunicado.

“Todos os cidadãos paquistaneses actualmente na Índia devem deixar a Índia antes da expiração dos seus vistos”, o que acontecerá no domingo, 27 de Abril, no caso dos vistos comuns, e na terça-feira, 29 de Abril, no caso dos vistos médicos, adiantou.

O anúncio foi feito na mesma altura em que o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, prometeu perseguir “até aos confins da Terra” os autores do ataque terrorista que, há dois dias, matou 26 civis na parte indiana de Caxemira. “Digo isto ao mundo: a Índia vai identificar, perseguir e punir os terroristas e aqueles que os apoiam. Vamos persegui-los até aos confins da Terra”, garantiu Modi na sua primeira resposta pública ao ataque.

Ataque mortífero

Na tarde de terça-feira, pelo menos três homens armados abriram fogo contra turistas na cidade de Pahalgam, no sopé dos Himalaias, matando 25 indianos e um nepalês, segundo a polícia indiana. O ataque, que a Índia atribui a islamitas apoiados pelo Paquistão, é o mais mortífero contra civis desde 2000 naquele território indiano de maioria muçulmana.

Na quarta-feira, o Governo hindu ultranacionalista de Nova Deli anunciou uma série de medidas diplomáticas de retaliação. Entre as decisões, que são sobretudo simbólicas, estão a suspensão de um tratado de partilha de águas, o encerramento da principal fronteira terrestre entre os dois países e a retirada de diplomatas.

O Paquistão, que negou responsabilidade pelo ataque, convocou o seu Comité de Segurança Nacional para esta tarde para decidir sobre uma possível resposta.

25 Abr 2025

Tiangong | Enviados três astronautas para substituir tripulação de estação espacial

A China enviou ontem três astronautas para substituir a tripulação da estação espacial chinesa Tiangong, prosseguindo assim o objectivo de enviar astronautas à Lua e ali construir uma base nos próximos anos.

Cercada por chamas e fumo, a nave espacial Shenzhou 20 descolou, como planeado, no foguetão Longa Marcha 2F, do centro de lançamento em Jiuquan, na orla do deserto de Gobi, no noroeste da China, às 17:17 horas para chegar à estação espacial cerca de 6,5 horas mais tarde.

A missão pretende contribuir para o ambicioso objectivo da China de colocar astronautas na Lua até 2030, seguido da construção de uma base lunar. Os astronautas da missão Shenzhou 20 são Chen Dong, Chen Zhongrui e Wang Jie e vão substituir três astronautas que se encontram actualmente na estação espacial chinesa.

Chen Dong, que já participou nas missões Shenzhou 11 e Shenzhou 14, é o líder do grupo, enquanto os seus dois companheiros de tripulação farão as primeiras viagens ao espaço. Chen Zhongrui era piloto da força aérea e Wang Jie trabalha como engenheiro da Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China. Chen Dong liderou a construção da estação espacial durante a missão Shenzhou 14.

Durante a permanência no espaço, os astronautas efectuarão experiências no domínio da medicina e da tecnologia espacial, realizarão missões na parte exterior e introduzirão melhorias na estação espacial. A China construiu a própria estação espacial depois de ter sido excluída da Estação Espacial Internacional devido a preocupações de segurança nacional dos Estados Unidos.

O programa espacial da China tem crescido rapidamente nos últimos anos. A agência espacial chinesa já fez pousar um robô explorador em Marte e um veículo espacial no lado oposto da Lua. A aterragem dos astronautas que regressam da estação espacial está prevista para 29 de Abril.

25 Abr 2025

Pequim reúne com empresas estrangeiras para perceber impacto das tarifas

O Ministério do Comércio chinês informou ontem que se reuniu com mais de oitenta empresas estrangeiras e representantes de câmaras de comércio no país para abordar os efeitos das tarifas impostas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.

A reunião, presidida pelo vice-ministro do Comércio, Ling Ji, serviu para “trocar opiniões” sobre o impacto que as tarifas impostas pelos EUA podem ter nas operações e investimentos das empresas estrangeiras na China, indicou a pasta em comunicado.

Durante o encontro, Lin instou os empresários estrangeiros a “fazer ouvir uma voz racional, manter a confiança, ultrapassar as dificuldades e transformar as crises em oportunidades” face às imposições dos EUA que, segundo ele, prejudicam “gravemente” o sistema de comércio internacional.

O responsável chinês insistiu ainda que Pequim continuará a expandir a sua “abertura de alto nível”, a proteger os “direitos legítimos” das empresas estrangeiras, a resolver “activamente” as suas dificuldades operacionais e a assegurar o “funcionamento das cadeias de produção e de abastecimento”.

De acordo com a declaração, os empresários afirmaram que o Governo chinês “continua a atribuir grande importância à resolução dos problemas enfrentados pelas empresas estrangeiras”. E manifestaram a sua vontade de continuar a investir no país, uma vez que a política chinesa é “coerente, estável e previsível”, referiu o ministério.

Sem acordo

Este encontro com representantes estrangeiros, cuja identidade não foi revelada, surge depois de Trump ter manifestado esta semana optimismo quanto à possibilidade de os Estados Unidos e a China chegarem a um acordo comercial.

Mas Pequim garantiu hoje que “não foram iniciadas quaisquer negociações ou consultas” com os EUA sobre a questão das tarifas, e sublinhou que “qualquer diálogo ou negociação deve basear-se na igualdade, no respeito mútuo e na reciprocidade”.

O conflito comercial entre as duas potências, que se intensificou no início de Abril, suscitou preocupações em organizações como a Organização Mundial do Comércio (OMC), que alertou esta semana para o facto de a criação de blocos comerciais antagónicos entre os EUA e a China poder provocar perdas até 7 por cento do PIB mundial.

25 Abr 2025

Visita | Xi promete amizade a África apesar das mudanças internacionais

O Presidente queniano de visita à China, William Ruto, recebeu de Xi Jinping garantias de que independentemente dos desenvolvimentos internacionais desencadeados pela política errática de Donald Trump, a boa-fé chinesa face ao continente africano não se vai alterar

 

O Presidente chinês, Xi Jinping, disse ontem ao seu homólogo queniano, William Ruto, que “independentemente das mudanças internacionais, a política de sinceridade, amizade e boa-fé da China em relação a África não se vai alterar”.

Numa altura de incerteza global devido à guerra comercial desencadeada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Xi disse a Ruto que “a intenção original da China e de África de partilharem a sua riqueza” não vai mudar, de acordo com um comunicado difundido pela imprensa estatal chinesa. O Presidente queniano está a realizar uma visita oficial à China.

Pequim “está disposta a trabalhar com outros países para defender as regras do comércio internacional e proteger a equidade e a justiça internacionais”, disse Xi Jinping, advertindo que “ninguém ganha numa guerra comercial”.

“A China não causa problemas, mas também não tem medo deles”, afirmou o líder chinês, acrescentando que “o enorme mercado da China está sempre aberto aos produtos de alta qualidade do Quénia”. Xi encorajou mais empresas quenianas a investir e a fazer negócios no país asiático.

O Presidente queniano afirmou que “a guerra comercial mina as regras e a ordem internacionais existentes” e garantiu que o seu país “valoriza o papel da China como estabilizador na actual situação turbulenta e como protector dos direitos e interesses legítimos dos países do ‘Sul Global’”, termo que se refere às nações em desenvolvimento.

Ruto afirmou ainda que a China e o Quénia “têm uma visão comum de cooperação, aderem a uma abordagem centrada nas pessoas e são parceiros estratégicos em todos os momentos”, segundo a Xinhua.

Acordos assinados

Após a reunião, os dois líderes presidiram à assinatura de 20 documentos de cooperação em domínios como a alta tecnologia, os intercâmbios culturais, a economia e a imprensa. O Presidente queniano é o primeiro líder africano a visitar a China desde que Trump impôs “tarifas recíprocas” sobre o resto do mundo, abalando o panorama do comércio internacional.

Espera-se que Ruto, cujo país tem sido até agora um aliado próximo dos EUA em África, procure obter apoio económico de Pequim durante a sua visita à China.

“O facto de Pequim receber Ruto num período de escalada de tensões geopolíticas e comerciais com os Estados Unidos é uma vitória para a China em termos de imagem”, afirmou Adhere Cavince, investigador de relações internacionais baseado em Nairobi, citado pelo South China Morning Post, de Hong Kong.

À medida que os EUA “impõem tarifas e retiram a ajuda” aos seus parceiros, “Ruto está à procura de novos mercados, financiamento para projectos e investidores”, disse Cavince, acrescentando que “enquanto a China procura escapar à crescente animosidade comercial com Washington, Nairobi não é apenas uma opção, mas também uma sólida porta de entrada para o resto de África”, um continente onde a China estabeleceu a sua presença nas últimas duas décadas.

25 Abr 2025

Memória de uma Revolução parida em Abril: Fascismo, nunca mais!

Por Ana Maria Saldanha, professora universitária

A memória da revolução como elemento identitário de um povo

O Papa morreu no dia 21 de Abril de 2025. A pretexto da morte do chefe de Estado do Vaticano, o ministro da Presidência de Portugal anunciou que o Governo português tinha cancelado toda a “agenda festiva”, tendo adiado as celebrações da Revolução de Abril e alegado que o luto nacional pelo Papa Francisco implicaria reserva nos festejos. Na realidade, uma vez mais, estamos perante (mais) uma das inúmeras tentativas de espezinhamento da Revolução de Abril, levada a cabo, desde há 51 anos, por sectores afectos a um projecto político que tem como objetivo não apenas a destruição do sector público, mas igualmente a plena mercantilização de sectores cujo acesso universal o 25 de Abril permitiu (como a Saúde e a Educação), assim como a destruição de direitos laborais e a interdição do pleno usufruto de liberdades fundamentais. Estes sectores que atacam, diariamente, o direito a um trabalho digno e com direitos, o direito a uma habitação digna, o direito universal à Saúde e à Educação, se submetem aos ditames de uma política europeia – que, paulatinamente, tem consubstanciado a destruição da produção nacional, da agricultura nacional e das pescas -, são os mesmos sectores que procuram destruir a memória de Abril.

E não será, certamente, a decisão de não participação nas comemorações de Abril, por parte de um governo de um partido que tem atacado, impiedosamente, as conquistas de Abril, que impedirá, no dia de amanhã, cravos e vozes alçarem-se nas ruas de Portugal: 25 de Abril, Sempre! Fascismo, nunca mais!

Com efeito, a Revolução de Abril que pôs fim a 48 anos de ditadura e consagrou um Portugal Democrático continua, 51 anos depois, a incomodar. Num momento em que, no plano internacional, forças políticas assumem, de forma aberta ou cada vez mais claramente, propósitos xenófobos e fascistas, lembrar Abril é um acto de memória necessária. Num momento em que, no plano interno, estes propósitos levam à eleição, para a Assembleia da República (AR) de Portugal, de uma bancada que – para além de incluir criminosos variados (basta que nos lembremos, entre vários outros, do caso do deputado que rouba malas ou da deputada acusada de burla) -, inclui, entre os seus membros, um ex-integrante do grupo terrorista Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP) e do projeto político fascista do general Kaúlza de Arriaga (Movimento Independente para a Reconstrução Nacional (MIRN) – partido de extrema-direita que apenas se dissolveria em 1980) e hoje vice-Presidente da AR, lembrar Abril é um acto de resistência. Num momento em que, seja no plano interno ou no plano externo, a economia se subordina à política, com crescentes casos de corrupção que envolvem membros que actuam, diretamente, no poder de Estado (atentemos no caso de Luís Montenegro, em Portugal), lembrar Abril é um acto de luta.

A Revolução de Abril nasce da união de um levantamento militar com um levantamento popular, pelo que lembrar Abril implica sair do silêncio a que nos gostariam de confinar e cantar, Vozes ao Alto, Grândola, Vila Morena, / Terra da Fraternidade / O povo é quem mais ordena / dentro de ti, oh cidade. A 25 de Abril de 1974, a poesia saiu à rua. E é na rua que Abril tem de ser comemorado. O facto de Abril, ainda hoje, incomodar; o facto de as conquistas da Revolução, ainda hoje, incomodarem; o facto de os valores que destruíram 48 anos de fascismo, ainda hoje, incomodarem, apenas indicam que Abril está vivo – apesar de tantos se esforçarem por dá-lo como morto.

O Nascimento de uma Revolução

Na noite de 24 de abril de 1974 é levado a cabo um levantamento militar pelo Movimento das Forças Armadas (MFA). Às 22h55, é transmitida a canção E depois do Adeus, de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, primeiro sinal do avanço das operações. Às 00h20, os militares que ocupavam a rádio Renascença deram o segundo sinal, com a transmissão de Grândola Vila Morena, de José Afonso. Na Rádio Clube Português, às 4h, é lido o primeiro Comunicado do Movimento das Forças Armadas (MFA):

Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo. Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária (Comunicado do MFA, 1974).

Apesar do apelo inicial dos capitães, forças populares juntaram-se ao levantamento militar, sendo, precisamente, o fruto desta união – levantamento militar e levantamento popular – que dá origem à Revolução.

Quando os capitães de Abril, organizados no MFA, dão a conhecer ao país os seus objetivos – o fim da ditadura e o fim da guerra colonial, com a consequente e necessária construção de um Portugal democrático -, forças progressistas e organizações políticas progressistas e revolucionárias logo dão o seu apoio ao MFA. Porém, a classe que havia dominado durante os 48 anos de ditadura, e que via os seus interesses atacados, opõe-se de imediato ao processo revolucionário, desestabilizando a tentativa de construção de um Portugal democrático, não apenas a partir do exterior do poder político, mas, igualmente, a partir do seu interior. Neste contexto, forças ideologicamente opostas vão entrar em confronto ao longo do processo revolucionário português.

A polarização ideológica acentuou-se ao longo do período compreendido entre o dia 25 de abril de 1974 e o dia 25 de novembro de 1975. Ainda assim, num contexto político extremamente tenso, consagram-se avanços sociopolíticos que permitiriam uma melhoria acentuada das condições de vida e de trabalho da população portuguesa: nacionalização da banca, reforma agrária, novos direitos laborais, participação popular nos processos decisórios, liberdade sindical, liberdade de organização e de filiação política, entre outras.

A 2 de Abril de 1976 é consagrada a nova Constituição da República Portuguesa (ainda hoje, em vigor), a qual estabelece, entre outros princípios, o seguinte:

Princípios fundamentais

Artigo 1.°

(República Portuguesa)

Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na sua transformação numa sociedade sem classes.

Artigo 2.°

(Estado democrático e transição para o socialismo)

A República Portuguesa é um Estado democrático, baseado na soberania popular, no respeito e na garantia dos direitos e liberdades fundamentais e no pluralismo de expressão e organização política democráticas, que tem por objectivo assegurar a transição para o socialismo mediante a criação de condições para o exercício democrático do poder pelas classes trabalhadoras.

Artigo 3.°

(Soberania e legalidade)

[…]

2. O Movimento das Forças Armadas, como garante das conquistas democráticas e do processo revolucionário, participa, em aliança com o povo, no exercício da soberania, nos termos da Constituição.

[…]

Parte II (organização económica)

TÍTULO I

Princípios gerais

Artigo 80.o

(Fundamento da organização económico-social)

A organização económico-social da República Portuguesa assenta no desenvolvimento das relações de produção socialistas, mediante a apropriação colectiva dos principais meios de produção e solos, bem como dos recursos naturais, e o exercício do poder democrático das classes trabalhadoras.

[…]

Artigo 83.o

(Nacionalizações efectuadas depois de 25 de Abril de 1974)

1. Todas as nacionalizações efectuadas depois de 25 de Abril de 1974 são conquistas irreversíveis das classes trabalhadoras.

[…]

TÍTULO IV

Reforma agrária

[…]

Portugal antes de Abril

A ditadura portuguesa nasce com o golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 e institucionaliza-se em 1933, com a aprovação de uma nova Constituição.

A nova Constituição instaura a censura, proíbe os partidos políticos, as Associações sindicais e as Associações secretas, cria a PVDE (Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado) – polícia política -, proíbe as oposições e impõe o partido único. No plano institucional, constitucionaliza-se o presidencialismo todo-poderoso; na prática, no entanto, sobressai a figura de Salazar como Presidente do Conselho.

Há que ressaltar, neste contexto, o retrocesso da posição social da mulher. Com efeito, se, em 1911, a mulher alcançara direitos que iam no sentido de uma crescente igualdade social, a partir de 1933, perpassa a imagem da mulher como dona de casa, sujeita à obediência do homem: “O trabalho da mulher fora do lar desagrega este, separa os membros da família, torna-os um pouco estranhos uns aos outros” (Salazar, 1935).

Com efeito, em 1974, apenas 25% dos trabalhadores eram mulheres e apenas 19% trabalhavam fora de casa. As mulheres ganhavam um salário cerca de 40% inferior ao salário dos homens, sendo que a lei do contrato individual do trabalho permitia que o marido pudesse proibir a mulher de trabalhar fora de casa e, caso a mulher exercesse actividades lucrativas, sem o consentimento do marido, este podia rescindir o contrato. A mulher tampouco podia aceder às carreiras da magistratura, da diplomacia, da polícia ou do Exército. Para além disso, certas profissões (como, por exemplo, a carreira de enfermagem ou de hospedeira) implicavam a limitação de direitos, como o direito de casar.

Lembremo-nos, ainda, que, na família, o único modelo de família aceite era o resultante do contrato de casamento e que a idade do casamento, para os homens, era de 16 anos e, para as mulheres, de 14 anos. O Código Civil previa, igualmente, que a mulher pudesse ser repudiada pelo marido no caso de não ser virgem na altura do casamento (para além do fato de o casamento católico ser indissolúvel). Neste contexto, a família é dominada pela figura do chefe, o qual detém o poder marital e paternal, sendo, com algumas excepções, o administrador dos bens comuns do casal, dos bens próprios da mulher e dos bens dos filhos menores. O mesmo Código Civil determinava, igualmente, que “pertence à mulher durante a vida em comum, o governo doméstico”. Havia, igualmente, a distinção entre filhos legítimos e ilegítimos (nascidos dentro e fora do casamento) – os direitos de uns e de outros não eram os mesmos – e as mães solteiras não tinham qualquer protecção legal. Mas havia mais: a mulher tinha, legalmente, o domicílio do marido e era obrigada a residir com ele, sendo que este tinha, ainda, não apenas o direito de abrir a correspondência da mulher como a poderia matar em flagrante adultério (e a filha em flagrante corrupção) – sofrendo, apenas, um desterro de seis meses. Apenas em 1969 terminou o impedimento de a mulher poder viajar para o estrangeiro sem autorização do marido.

Naturalmente, que, neste contexto sociopolítico e jurídico, a saúde sexual e reprodutiva era uma questão que não merecia o mínimo cuidado por parte do aparelho de Estado.

O aborto era punido em qualquer circunstância, sendo passível de uma pena de prisão de 2 a 8 anos. Estimativas consideram que os abortos clandestinos poderiam ascender, anualmente, aos 100 mil, sendo a terceira causa de morte materna. Mais de 40% dos partos ocorriam em casa, sendo que praticamente metade destes não tinham qualquer assistência médica. Até ao final dos anos 1960, as mulheres só podiam votar quando fossem chefes de família e possuíssem curso médio ou superior. Ainda que, em 1968, a lei passasse a estabelecer a igualdade de voto, para a Assembleia Nacional, de todos os cidadãos que soubessem ler e escrever, a verdade é que Portugal possuía uma elevada percentagem de analfabetismo (que afectava, sobretudo, as mulheres).

Quanto à segurança social, o regime de previdência e de assistência social que prevaleceu até ao 25 de Abril de 1974 caracterizava-se por uma abrangência insuficiente, uma fraca cobertura de riscos e prestações sociais com baixo nível de protecção social. Paralelamente, o número de trabalhadores que eram abrangidos com o direito a uma pensão de velhice era extremamente reduzido: relembremos que, antes do 25 de Abril, apenas recebiam uma pensão ecerca de 525 mil portugueses. No Regime Geral, a pensão mínima era inexistente e a pensão média, o abono de família e de aleitação tinham valores extremamente reduzidos. O subsídio de desemprego era inexistente e a pensão paga aos trabalhadores rurais era extremamente baixa (sendo diferente para mulheres e para homens).

No que toca à habitação, a maioria da população portuguesa vivia numa situação extremamente precária: metade das habitações, em Portugal, até 1974, não tinha água canalizada nem dispunha de electricidade.

Os dados estatísticos podem ajudar-nos a compreender o que foram os quase 50 anos de ditadura, em Portugal: em 1974, a mortalidade infantil (em permilagem) era de cerca de 3, enquanto em 2023 era de 2,4; a taxa de mortalidade materna (por 100 mil nados vivos), em 1970, era de 73,4 , enquanto em 2022 era de 13,1; o analfabetismo, em 1970, atingia cerca de 33,6% da população, enquanto, hoje, é de, apenas, 3,1%.

No que concerne a situação no campo, até ao 25 de abril de 1974, em muitas das pequenas explorações, os pequenos rendeiros entregavam ao proprietário quer a renda absoluta, quer a diferencial, pelo que o proprietário de terra acabava por receber tudo aquilo que excedia os seus próprios meios de subsistência. Por outro lado, sendo que a produtividade do trabalho, numa pequena exploração arrendada, não é maior do que numa grande exploração, aquela exigia uma intensificação do ritmo de trabalho. No caso do latifúndio do Sul português, muitas das terras arrendadas correspondiam às terras menos férteis, pelo que o pequeno rendeiro raramente conseguia sobreviver da sua magra produção. Encontrava-se, assim, dependente do trabalho assalariado sazonal. As suas pequenas parcelas de terras situavam-se, muitas vezes, nas zonas limítrofes do latifúndio – o que, aliás, permitia assegurar que o latifúndio dispusesse de mão-de-obra próxima e permanente. Os pequenos camponeses e proletários agrícolas dormiam pouco, trabalhavam de sol a sol, não tinham dias de descanso e o subconsumo alimentar era crónico. Este sobretrabalho do pequeno campesinato proletarizado era, aliás, a única forma que este possuía de competir com a grande exploração, numa tentativa de subsistir com o fruto do seu trabalho. Tal implicava um dispêndio de energias de toda a família, inclusivamente das crianças, todos submetidos às privações constantes e crescentes que o modelo do latifúndio impunha. Os assalariados agrícolas que não dispunham de terras arrendadas encontravam-se, por seu lado, sujeitos ao emprego sazonal e à migração constante de herdade em herdade, para encontrar trabalho. Muitas vezes, como nos meses de Inverno, em que praticamente não havia oferta de trabalho, aquela mão-de-obra sobreexplorada via-se a obrigada a recorrer, frequentemente, à mendicidade, para sobreviver.

As diferenças entre proprietários de terras e pequenos agricultores proletarizados foram, ainda, acentuadas pela incapacidade que os pequenos agricultores tinham no acesso ao crédito. Com efeito, quando o pequeno agricultor se endividava, ficava ou nas mãos da banca ou, mais geralmente, nas mãos de proprietários-usurários que beneficiavam do pagamento dos juros.

A Oposição à Ditadura no Interior e no Exterior do Poder Político

Em termos políticos, o Partido Comunista Português (PCP) teve um papel de destaque na oposição à ditadura. Porém, paralelamente à ação política do PCP, vários movimentos antifascistas, de trabalhadores, de intelectuais e/ou de estudantes também combateram, desde o seu início, a ditadura.

A 10 de março de 1927, foi publicada a Folha de Arte e Crítica Presença; a 26 de maio do mesmo ano, foi assaltada e destruída a sede de A Batalha, diário sindical de inspiração anarquista, um dos principais jornais de Lisboa (as instalações da Confederação Geral do Trabalho (CGT), sua proprietária, seriam encerradas, em novembro, pela polícia); no seguimento da revolta militar de 3 de fevereiro de 1927 (reviralho), foi fundado, em Lisboa, o Batalhão Académico Antifascista, movimento de estudantes que procurou mobilizar-se, jun- tamente com a oposição, contra o regime recém-instalado. Os estudantes tiveram, aliás, um papel ativo na luta contra a ditadura, pelo que, na década de 20 e de 30, vários foram aqueles que participaram nos reviralhos militares.

A proclamação da República de Espanha, em 1931, teve um eco importante entre as forças antifascistas portuguesas. Nesse mesmo ano, estudantes espanhóis revoltaram-se contra o regime e as decisões de Primo de Rivera, o que teve como consequência sangrentos confrontos de rua e a suspensão das aulas nas universidades espanholas. Ora, também em Lisboa, em abril do mesmo ano, se vivia num ambiente de guerra civil, com a tomada de parte da cidade por militares reviralhistas, solidários com a República da Madeira (durante o mês de abril de 1931, a revolta da Madeira tomou conta da ilha). Entre os estudantes portugueses, a tensão aumentou e as manifestações contra o regime sucederam-se.

Seria, no entanto, nos anos sessenta, que o movimento estudantil atingiria o seu apogeu na luta contra a ditadura, designadamente em 1962.

Na origem do movimento estudantil de 1962 encontra-se a aprovação de um novo diploma do governo, que os estudantes recusam, reivindicando, ao invés, a “urgente democratização do ensino”, a “supressão de uma descriminação económica injusta, que atrofia a inteligência nacional”, a “extensão do ensino universitário a todos os estudantes portugueses, independentemente de considerações de ordem política, religiosa, rácica ou de qualquer outra espécie”. O Primeiro Encontro Nacional dos Estudantes de Coimbra e as Comemorações do Dia do Estudante, em Lisboa, são, então, proibidos pelo governo. Entre os estudantes, as diferentes sensibilidades políticas convergem e unem-se pela defesa da autonomia universitária, seguindo-se uma grande greve nacional (20.000 estudantes grevistas) e a declaração do luto académico (vestir a capa e a batina fechadas e boicote massivo às aulas, como sinal de protesto). Sucedem-se manifestações estudantis duramente reprimidas pela polícia e vários estudantes são expulsos da Universidade, presos ou incorporados nas listas militares. Este período de agitação estudantil ficaria conhecido como Crise Académica de 1962. Na sequência deste confronto entre os estudantes e o governo português, Marcello Caetano, então Presidente da Universidade de Coimbra, pede a demissão. Não são, contudo, apenas os estudantes que se revoltam na década de sessenta.

A 8 de Março de 1962, no Porto, uma manifestação Comemorativa do Dia da Mulher é violentamente reprimida pela polícia. Iniciam-se, igualmente, neste mesmo ano, as emissões da Rádio Portugal Livre, a partir de Argel. A década de sessenta vê, ainda, o nascimento de um forte movimento antiguerra, marcado por constantes manifestações de rua e por diversos encontros.

No campo social, após as grandes greves de 1942, 1943 e 1944, o movimento sindical clandestino continua a sua ação, promovendo a ampliação e o desgaste da ditadura; a luta atingirá o seu apogeu nos anos 1970. Com efeito, a 11 de outubro de 1970, treze sindicatos rompem com a tutela do governo e abandonam a organização corporativa, fundando a Intersindical. No seguimento da fundação desta Confederação Sindical, foi decretada a sua imediata ilegalização, assim como a prisão de alguns dos seus membros e o encerramento de sindicatos.

No campo militar, após as tentativas dos reviralhos, até ao final dos anos trinta, a oposição no interior das Forças Armadas reforça-se a partir dos anos cinquenta. Esta cisão opera-se, sobretudo, entre os corpos dirigentes do Exército.

Em 1952, Henrique Galvão rompe com Oliveira Salazar. Preso, evade-se da prisão, em 1959, e, em 1961, comanda o ataque ao Paquete Santa Maria, denunciando, internacionalmente, a situação existente em Portugal. Em 1958, o General Humberto Delgado decide candidatar-se à Presidência da República, contra o candidato da única força política autorizada, a União Nacional. Em 1961, o governador-geral do Estado Português da Índia, o General Vassalo e Silva (1899-1985), contrariando a ordem do governo português, recusa defender as colónias portuguesas indianas até à morte. Neste mesmo ano, o Ministro da Defesa, Botelho Moniz, apresenta um ultimato ao Presidente da República, no qual exige a demissão de Salazar; será, no entanto, por esta razão, encarcerado. Em 1962, uma ação militar dirigida por Varela Gomes (1924-2018) e por civis armados tentará, igualmente, depor o regime, através de um ataque, sem sucesso, ao quartel do Regimento de Infantaria 3 de Beja.

Todas estas dissidências internas do regime, vindas das Forças Armadas, auguravam uma ruptura definitiva do Exército com a ditadura. A insatisfação no seio das Forças Armadas agravou-se com o eclodir da guerra colonial.

A 14 de Março de 1974, perante as revoltas e exigências que se vinham verificando no seio das Forças Armadas, Marcello Caetano convocou uma audiência na qual lhes lembrou o papel meramente cumpridor de directrizes que lhes cabia. Nesse mesmo dia, o Presidente do Conselho remodela o governo. Apesar das advertências governamentais, opera-se, nos dias 15 e 16 de março, um revolta militar da Infantaria 5 das Caldas da Rainha.

Também no plano religioso, o tradicional apoio da Igreja Católica à ditadura é, gradualmente, posto em causa: em 1961, oito padres angolanos foram deportados para Portugal, presos e torturados; em 1965, é divulgado o Manifesto dos 101 Católicos que tomam, abertamente, posição contra a guerra colonial, criticando a cumplicidade da hierarquia católica com o regime de Salazar. Na década de setenta, a oposição à ditadura far-se-á sentir não apenas nos meios progressistas católicos, mas, igualmente, no seio da própria hierarquia religiosa, consequência, sobretudo, da guerra colonial. Após a resignação do Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1977), em 1971, o seu sucessor, o Cardeal António Ribeiro (1928-1998), apesar de não condenar claramente a ditadura, distancia-se das posições que dela emanam.

A oposição opera-se, ainda, no interior do próprio poder. No seio da União Nacional (que fora rebaptizada, por Marcello Caetano, como Ação Nacional Popular), os mais conservadores reclamam um endurecimento do sistema autoritário e soluções para acabar com a oposição, enquanto a denominada ala liberal reclama uma maior abertura do regime. As confrontações que então se verificaram entre estes dois setores tiveram como consequência a redução da base de apoio da ditadura portuguesa e a consequente passagem à oposição de alguns quadros do regime.

Os últimos anos da ditadura foram, portanto, caracterizados por uma oposição que se estendera a diferentes grupos e setores da sociedade, inclusive no seu próprio interior. Assim sendo, a oposição de alguns dos quadros do próprio regime, o descontentamento no seio do Exército e da Igreja, os movimentos e lutas sociais de trabalhadores, de estudantes, de intelectuais, criaram uma situação de ruptura cujo resultado final se traduziria pelo eclodir de uma Revolução.

As Colónias Ultramarinas e o Início da Guerra Colonial

As colónias portuguesas representavam, na primeira metade do século XX, uma fonte comercial importante para a metrópole europeia.

Em Angola, a partir de 1921, o comércio de diamantes (paralelamente ao comércio do café, do açúcar ou do algodão) ganhou uma importância crescente na economia colonial portuguesa. Moçambique, por seu lado, encontrava-se nas mãos de Companhias particulares que possuíam autonomia administrativa nos territórios que ocupavam, como a Companhia de Moçambique e a Companhia Zimbézia. Até 1960, era a colónia que mais rendia ao Estado, graças ao peso dos caminhos-de-ferro e dos portos, sendo que a sua economia assentava no açúcar, no algodão e no sisal. Moçambique era, igualmente, um importante fornecedor de mão-de-obra para as minas sul-africanas e rodesianas.

A partir da década de 1960, a importância económica de Moçambique para o Estado colonial português foi, contudo, superada pela economia angolana.

De um ponto de vista industrial e educacional, as colónias portuguesas (Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, colónias indianas, Macau e Timor Leste) tiveram, durante a Primeira República e até aos anos 60, um progresso deficiente.

O sistema educacional era praticamente nulo, sendo que aquele que existia era controlado, sobretudo, pelas missões católicas aí instaladas (excepto no que diz respeito ao período da Primeira República que, entre 1911 e 1926, aboliu as missões religiosas). As taxas de analfabetismo atingiam, desta forma, níveis surpreendentes: por exemplo, até à década de 1950, a taxa de analfabetismo era de 99% em São Tomé e de 85% nas colónias indianas ou em Cabo Verde. Quando os movimentos de independência surgiram, o fascismo tentou, numa manobra política, responder com a criação de Universidades e com uma melhoria do sistema de ensino. Todavia, na metrópole, aumentou o número de anos do Serviço Militar Obrigatório, reforçando-se, em paralelo, a colonização portuguesa.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, formaram-se diversos movimentos de libertação se na então África colonizada. Neste sentido, também na África colonial portuguesa e na metrópole se formaram diversos grupos de unidade africana, esboçando-se, a partir dos anos 50, os primeiros planos de independência (apesar de os seus mentores e organizadores serem perseguidos e, frequentemente, obrigados ao exílio).

Em Angola, na segunda metade do século XX, dois movimentos, de bases ideológicas distintas, defenderiam a independência angolana: o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola). O MPLA, fundado em 1956, nasceu da reestruturação do Partido Comunista de Angola (que havia sido fundado em 1955), depois Partido da Luta dos Africanos de Angola, e legitimava a sua ação segundo os preceitos marxistas. Os seus principais membros foram intelectuais que seguiram uma formação secundária e/ou superior em Portugal (como Mário Pinto de Andrade (1928-1990), Agostinho Neto (1922-1979), Viriato da Cruz (1928-1973)) e a sua base de militância e de apoio encontrava-se, sobretudo, na cidade de Luanda. O número crescente de apoios e de filiações no MPLA permitiu que, em 1961, este movimento iniciasse a luta armada. O Estado ditatorial português respondeu com o aumento de tropas em território angolano, com a repressão e com uma crescente atividade da PIDE.

A FNLA, por seu lado, foi fundada por emigrantes angolanos do Congo belga, ligados entre si por Associações semi-secretas de raiz tribal. Este movimento de libertação iniciou a luta armada na região do norte de Angola, mormente no Uíge. A sua primeira ação consistiu num ataque às fazendas de café, assassinando todos aqueles que aí se encontravam, incluindo os próprios trabalhadores angolanos, criando um ambiente de terror, incluindo entre os próprios angolanos. Em 1964, uma cisão no seio da FNLA deu origem à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que seria dirigida por Jonas Savimbi (1934-2002). Os primeiros apoiantes da UNITA eram originários da etnia maioritária à qual pertencia Jonas Savimbi (1934-2002): os ovimbundo. A UNITA levou a cabo operações de guerrilha no Leste do então território colonial.

Em 1955, formou-se, na Guiné portuguesa, o Movimento para a Independência Nacional da Guiné (MING). Este movimento reestruturou-se e, em 1956, deu origem ao PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde), de cujos membros fundadores se destacam Amílcar Cabral (1924-1973) e o seu irmão, Luís Cabral (1931-2009), Aristides Pereira (n. 1923), Abílio Duarte (1931-1996) e Elisée Turpin (n. 1930). O PAIGC iniciou a luta armada em 1963, dois anos após o início da luta pela libertação nacional, em Angola. Em 1972, as Nações Unidas reconhecem o PAIGC como o legítimo representante do povo guineense e cabo-verdiano. Amílcar Cabral, contudo, foi assassinado em 1973, seis meses antes da independência.

Em 1961, foi criado, no exílio, o Comité de Libertação de São Tomé e Príncipe (CLSTP), cujo Comité Central se encontrava no exílio. Em 1972, o CLSTP reestruturou-se no Movimento para a Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), o qual foi reconhecido, depois da Revolução de Abril, como o legítimo representante dos interesses da população santomense.

Em Angola, Moçambique e Guiné, os criadores dos movimentos independentistas revolucionários foram, portanto, quadros de formação portuguesa. O mesmo não aconteceu, todavia, em Moçambique.

O movimento de libertação moçambicano – a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) – foi, ao contrário dos movimentos de libertação das outras colónias portuguesas, constituído por africanos que nem sempre tinham ligações com a cultura e língua portuguesas.

A FRELIMO, também marxista, foi fundada a 25 de junho de 1962 e resultou da união de três movimentos de bases étnicas e sociais muito diferentes: a União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAME)16, a Mozambique African National Union (MANU) e a União Nacional Africana para um Moçambique Independente (UNAMI). O primeiro Presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane (1920-1969), foi, aliás, educado parcialmente na África do Sul e nos EUA. Os primeiros guerrilheiros da FRELIMO foram treinados na Argélia e, entre eles, encontrava-se Samora Moisés Machel (1933-1986), que substituiria Mondlane, em 1969, após o assassinato deste. A luta armada moçambicana contra o domínio colonial português desencadeou-se a 25 de setembro de 1964.

Por seu lado, a Índia não necessitou de uma organização armada e estruturada para combater o ocupante português. Durante vários anos, o governo de Jawaharlal Nehru (1889-1964) tentou, sem sucesso, que os portugueses saíssem voluntariamente das suas colónias (Goa, Damão e Diu). Perante a continuada recusa portuguesa de abandonar estas colónias, as tropas indianas invadiram e ocuparam, em dezembro de 1961, os três territórios, terminando, desta feita, com o Império Português das Índias.

A guerra colonial começa, em suma, em Angola, em fevereiro de 1961, estende-se à Guiné-Bissau e a Cabo Verde, em 1963, e a Moçambique, em 1964. Porém, quando a guerra colonial portuguesa se inicia, o movimento anticolonialista já se encontrava bastante desenvolvido em outras colónias africanas sob a dominação europeia. Nos anos 60, dezasseis colónias, que, na sua maioria, haviam estado sob a dominação francesa, são declaradas independentes (Benim, Burkina Fasso, Camarões, Chade, Congo-Brazaville, Costa do Marfim, Gabão, Ma- dagáscar, Mauritânia, Níger, Nigéria, República Centro-Africana, Togo, Zaire), enquanto, de 1961 a 1969, também o Lesoto, a Serra Leoa, a Tanzânia, a Argélia, o Burundi, o Ruanda, o Uganda, o Quénia, o Malawi, o Botsuana, as Ilhas Maurícias e a Líbia alcancarao a independência. Ora, este avanço e progresso dos movimentos independentistas fez com que o governo de Salazar recorresse a uma aliança com os Estados colonialistas, em particular da África do Sul, da Rodésia e da Niassalândia (nome colonial do Malawi até 1964). No final de 1963, Oliveira Salazar escreve ao Primeiro-ministro da África do Sul, Hendrik Verwoerd (1901-1966):

Nós estamos quase sós em África, Senhor Primeiro-ministro, e se a Rodésia do Sul for compelida a aceitar as condições que tenho visto expostas na imprensa no sentido do domínio absoluto da raça negra, penso que não ficarão então no continente africano mais que os territórios portugueses e a União Sul Africana a representar e defender a civilização do ocidente […]. Felizmente a guerra no seu aspecto de luta subversiva, empreendida por terroristas, ou de luta clássica travada por exércitos dos países independentes, está muito longe das vossas fronteiras, mas rapidamente estará às vossas portas, se Portugal não puder resistir. Quer isto dizer que há interesse ocidental e claramente sul-africano em que tal hipótese se não verifique, e por esse motivo todas as formas de cooperação que possam ser dadas a Portugal nos territórios de Angola e Moçambique são muito úteis à nossa resistência, à vossa defesa própria.

A luta independentista ganhava, entretanto, novos adeptos entre os povos colonizados, fazendo com que o fascismo português aumentasse constantemente o número de homens enviados para a frente de guerra. A consciencialização da ineficácia e injustiça da guerra que o Estado português levava a cabo não se faria, todavia, apenas sentir entre os povos africanos colonizados: também as tropas portuguesas iriam, gradualmente, opor-se a uma guerra que, desde o seu início, não cessava de aumentar o número de mortos e de feridos entre a juventude masculina portuguesa.

A Consciencialização Política no Interior das Forças Armadas Durante a Guerra Colonial

Ao contrário do esperado pela ditadura portuguesa, o início da guerra colonial permitiu o desenvolvimento de ações e de teorias anticolonialistas. A oposição à guerra colonial estende-se, desta forma, a diferentes setores da população, saindo dos centros de decisão do poder ditatorial e das cúpulas militares. Neste processo de luta contra a guerra foi fundamental a oposição que se gerou no interior das Forças Armadas.

A consciencialização dos oficiais data, sobretudo, da década de 1950. Se, até então, a carreira militar era reservada a jovens provenientes da média e da alta burguesias, a partir de 1958, aquela carreira abre-se às classes mais desprovidas e, como escreveu Otelo Saraiva de Carvalho, “passa a oferecer-se, naquele estabelecimento [Academia Militar], ensino e fardamento gratuitos e soldos de trezentos e cinquenta e quatrocentos e cinquenta escudos aos cadetes-alunos, o que, embora simbólico, era suficiente para os cigarros e o fim-de-semana”. Para muitas famílias modestas, continua Otelo, “abria-se, assim, uma possibilidade de dar aos seus filhos acesso fácil a um curso classificado como superior e uma carreira”. Foram estes estudantes da Academia Militar, nos anos 50, aqueles que primeiramente seriam enviados para Angola, Moçambique e Guiné, no início dos anos 60. Os horrores da guerra iriam, no entanto, permitir a tomada de consciência da injustiça deste conflito.

Em 1961, uma norma oficial do Quartel-General de Angola impôs que as tropas portuguesas cortassem as cabeças dos guerrilheiros e as espetassem em paus, “para dar o exemplo”. A propaganda salazarista que defendia a necessidade de uma presença civilizadora em África tornava-se, nestas condições, facilmente contestável. A vinda de tropas portuguesas para as colónias teve, por conseguinte, sobre muitos soldados e oficiais, uma influência inversa à que fora esperada pelas autoridades e pela hierarquia militar.

Ora, as Forças Armadas constituíam, desde a implantação da ditadura, em 1926, a sua base de apoio, permitindo a sobrevivência e longevidade da organização socioeconómica e política ditatorial. A ruptura necessária com a ditadura fascista teria, deste modo, de partir daqueles que outrora haviam constituído a sua principal base de apoio.

Em 1973, um movimento de capitães do Exército expõe ao governo reivindicações de carácter profissional. Este movimento reivindicativo vai, no entanto, estender-se a outros ramos das Forças Armadas (Força Aérea e Marinha), alargando as suas exigências iniciais. Nasce, assim, o Movimento das Forças Armadas (MFA), o qual viria a permitir a queda da ditadura portuguesa, a 25 de abril de 1974.

As Conquistas de Abril

A Revolução de 25 de Abril de 1974 consagrou direitos sociais e laborais, permitindo, ainda, nos planos sociopolítico e jurídico, que a mulher e o homem estivessem em situação de igualdade. As medidas que Abril permitiu nascer estendem-se, assim, ao trabalho, à segurança social, aos direitos da família, à criação de equipamentos sociais e de infraestruturas básicas, assim como ao alargamento e ao reforço dos serviços públicos.

É, deste modo, a Revolução de Abril que permite a fixação do salário mínimo nacional (DL 212/74, de 27.05), o aumento generalizado de salários, a garantia de emprego, o direito a férias, aos subsídios de férias e de Natal, a abertura às mulheres das carreiras da magistratura judicial e do ministério público e dos quadros de funcionários da justiça (DL 251/74,12.06), da carreira diplomática (DL 308/74, de 6.07) e de todos os cargos da carreira administrativa local (DL 251/74, de 22.06). A Revolução de 25 de Abril de 1974 vai, ainda, permitir a abolição de todas as restrições baseadas no sexo quanto à capacidade eleitoral dos cidadãos (DL 621-A/74, de 15.11) e o direito do marido abrir a correspondência da mulher (DL 474/76, de 16.06); são, ainda, revogadas as disposições penais que reduziam penas ou isentavam de crimes os homens, em virtude das vítimas desses delitos serem as suas mulheres ou filhas (DL 262/75, de 27.05), enquanto os casamentos católicos passam a poder obter o divórcio civil (DL 187/75, de 4.04).

Depois do 25 de Abril, ainda em 1974, consagra-se o salário mínimo nacional (que, então, foi estipulado em 3.300 escudos), assim como o pagamento do 13.° mês (subsídio de Natal) e do subsídio de férias para os funcionários públicos (só em 1975 seriam estendidos à generalidade dos trabalhadores), sendo criada a pensão social para pessoas que não tenham descontado para a previdência. Data, ainda, de 1974, a regulação do exercício do direito à greve e a definição das regras para despedimentos coletivos. Em 1975, é criado o subsídio de desemprego, regula-se o exercício da liberdade sindical por parte dos trabalhadores, os despedimentos sem justa causa são proibidos e são fixadas as indemnizações por despedimento. Em 1976, é consagrado o direito à licença de parto (num total de 90 dias), é regulado o regime da negociação coletiva e é permitida a celebração de contratos a termo por um prazo mínimo de seis meses e um máximo de 3 anos. Estabelece-se, igualmente, o período de férias, que pode variar entre um mínimo de 21 dias e um máximo de 30 dias consecutivos. Em 1977, a Lei da Greve passa a definir o regime jurídico do direito à greve e a proteger os representantes de trabalhadores contra o despedimento.

Direitos que, hoje, nos parecem normais são, na realidade, fruto de 48 anos de luta contra um regime opressivo que utilizava a prisão e a tortura como instrumentos de controlo social. Direitos que, hoje, nos parecem normais, são fruto de uma Revolução que, a 25 de Abril, ousou destruir 48 anos de uma organização sociopolítica e económica ao serviço de uma minoria. É este mesmo Abril que, hoje, dia 25 de Abril de 2025, comemora 51 anos. Levantemos, pois, as nossas vozes, ergamos um cravo vermelho e, nas ruas, alcemos as nossas vozes pela preservação dos direitos que Abril consagrou.

Viva o 25 de Abril! 25 de Abril, Sempre!

25 Abr 2025

Saúde | Menos casos de Gripe e Escarlatina em Março

No mês de Março registaram-se 320 casos de gripe, uma redução de 74,4 por cento face às 1.252 ocorrências de Fevereiro, e uma redução de 77,9 por cento face aos 1446 casos registados em Março de 2024. Os dados foram divulgados ontem pelos Serviços de Saúde, no âmbito dos dados do mecanismo de declaração obrigatória de doenças transmissíveis.

Em relação às infecções por norovírus, foram declarados 74 casos de infecção, um aumento de 19,4 por cento em relação aos 62 casos registados de Fevereiro. Quando a comparação é feita entre Março deste ano e o período homólogo, o aumento foi de 1,4 por cento, dado que no ano passado tiveram lugar 62 ocorrências. De acordo com os SS, a infecção por norovírus é uma doença transmissível do tracto gastrointestinal, causada por norovírus, transmitida principalmente pelo consumo de alimentos ou água contaminados, pelo contacto com vómitos ou excrementos dos doentes e pelo contacto com os materiais contaminados, podendo também ser transmitidas por gotículas de saliva no ar.

Finalmente, em relação aos casos de escarlatina, em Março de 2025 foram registados 54 casos, uma redução de 10,0 por cento em relação aos 60 casos registados no mês anterior. Quando a comparação é feita com o período homólogo, a redução é mais acentuada, de 77,4 por cento, dado que em Março do ano passado registaram-se 239 casos.

25 Abr 2025

Macau quer usar moeda digital para comércio entre China e lusofonia

O secretário para a Economia e Finanças de Macau quer explorar a possibilidade de usar a pataca digital nas trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa.

Durante a apresentação do programa político para 2025 na área da economia e finanças, do novo Governo de Macau, Tai Kin Ip disse que discutiu a ideia com o banco central de Portugal durante uma recente visita ao país. Uma delegação liderada por Tai Kin Ip esteve em Lisboa entre 4 e 6 de Março, onde se encontrou com dirigentes do Banco de Portugal, incluindo o administrador Luís Morais Sarmento.

No final de Março, o gabinete do secretário disse num comunicado que os vários encontros serviram para “negociar a consolidação e o aprofundamento da cooperação entre Macau e Portugal nas áreas da ciência, tecnologia, economia e comércio”.

Tai Kin Ip disse na quarta-feira na Assembleia Legislativa que iria continuar a visitar mais países de língua portuguesa no futuro para procurar apoio para a utilização da pataca digital. O secretário prometeu aproveitar as vantagens da pataca digital como uma moeda cuja circulação será livre através das fronteiras de Macau, uma economia aberta ao fluxo de capitais.

Pelo contrário, a moeda chinesa, o renminbi, não é inteiramente convertível em outras moedas e as autoridades de Pequim impõem um rígido controlo ao fluxo de capitais, sobretudo para fora do país.

Sementes a germinar

O protótipo do sistema da pataca digital de Macau (e-Mop) foi lançado em 12 de Dezembro, oito dias antes do fim do mandato do anterior líder do Governo, Ho Iat Seng. Em Setembro, o regulador financeiro da região disse que a pataca digital poderia “servir de exemplo para os países de língua portuguesa”.

O presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), Benjamin Chan Sau San, falava durante a segunda Conferência dos Governadores dos Bancos Centrais e dos Quadros da Área Financeira entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que decorreu em Macau.

Na abertura do evento, Ho Iat Seng disse que o desenvolvimento da e-Mop contou com o apoio do Governo e do banco central da China, que foi a primeira grande economia do mundo a lançar uma moeda digital, o renminbi digital ou e-CNY, em Agosto de 2020.

Em Setembro, a AMCM explicou que, antes do lançamento oficial da pataca digital, iria realizar testes para identificar riscos e “estabelecer leis e regulamentos”.

25 Abr 2025

Ranking | Universidade de Macau e MUST sobem no ranking asiático

A Universidade de Macau subiu dois lugares, para o 34.º lugar, ranking de universidades asiáticas da Times Higher Education. Também a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST na sigla em inglês) subiu uma posição para o 57.º lugar no ranking, foi ontem anunciado na Cimeira das Universidades Asiáticas que se realizou precisamente na MUST.

O pódio dos três melhores estabelecimentos de ensino superior na Ásia manteve-se igual ao ano passado, com a Universidade de Tsinghua a ocupar o primeiro lugar (que mantém há sete anos consecutivos), seguido da Peking University. A Universidade Nacional de Singapura ficou em terceiro lugar.

Destaque ainda para o sexto lugar ocupado pela Universidade de Hong Kong no ranking deste ano, atrás da Universidade de Tóquio, mas à frente da Universidade de Fudan, de Xangai.

Este ano, foram incluídas na lista da Times Higher Education um total de 853 universidades de 35 países ou regiões, o que representa um aumento de 15 por cento em relação ao ano passado. Os indicadores de desempenho estão divididos em 18 itens em cinco áreas: ensino, ambiente de investigação, qualidade da investigação, perspectiva internacional e rendimento industrial.

25 Abr 2025

Jornalismo | Associação critica mutismo de Lisboa sobre detenções

O líder de uma associação internacional de profissionais da comunicação social disse à Lusa que Portugal deveria ter feito “um gesto discreto ou uma expressão de preocupação” face à detenção de duas jornalistas em Macau. O presidente da AIPIM alerta para precedente “constrangedor”

 

No dia 17 de Abril, a polícia deteve duas repórteres do jornal All About Macau quando tentavam entrar no salão da Assembleia Legislativa para assistir à apresentação do programa político do Governo para 2025. “Consideramos o silêncio de Portugal preocupante, dados os seus profundos laços históricos e culturais com Macau”, lamentou Josep Solano, o presidente da Sociedade de Jornalistas e Profissionais da Comunicação Europeus na Ásia (JOCPA), criada em Janeiro e sediada na Estónia.

“Acreditamos que tal silêncio não pode ser visto como neutro, especialmente num contexto em que a liberdade de imprensa está ameaçada”, sublinhou Josep Solano. “É importante lembrar a Portugal — um país democrático com ligações de longa data a Macau — que tem a responsabilidade moral de defender e promover as liberdades fundamentais”, defendeu o catalão. “Mesmo um gesto discreto ou uma expressão de preocupação reafirmaria o compromisso de Portugal com os valores democráticos e a liberdade de imprensa”, disse Solano.

Nas redes sociais, o All About Macau escreveu que a polícia foi chamada para retirar as jornalistas, “alegando serem suspeitas de ‘perturbar o funcionamento das autoridades’ de Macau e de ‘gravação ilegal de vídeo'”. “A justificação oficial (…) é profundamente preocupante. Reflecte um ambiente cada vez mais repressivo, no qual os meios de comunicação independentes enfrentam restrições arbitrárias, exclusão de eventos públicos e, agora, criminalização”, alertou a JOCPA, num comunicado divulgado na terça-feira.

Solano disse esperar “sinceramente que este lamentável incidente não marque uma nova deterioração do ambiente de liberdade de imprensa em Macau. No entanto, os acontecimentos recentes na região levantam preocupações”.

O peso e a medida

“A situação inédita ocorrida é triste e preocupa-nos, pois consideramos que abre um precedente – no mínimo – constrangedor”, disse à Lusa o presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM). José Miguel Encarnação pediu ao Ministério Público “que haja ponderação na avaliação dos factos, por forma a que não haja consequências de maior”.

A JOCPA pediu ao Governo que retire todas as acusações contra as jornalistas e que levante as restrições aos meios de comunicação social, “independentemente do formato ou da frequência de publicação”.

Também José Miguel Encarnação defendeu ser “essencial garantir que os direitos dos jornalistas sejam salvaguardados e que a liberdade de informar não seja condicionada sob pretextos pouco claros”.

Ainda assim, o presidente da AIPIM admitiu que a associação decidiu não fazer qualquer comunicado sobre o incidente. Uma posição que Josep Solano compreende: “Dadas as circunstâncias complexas e delicadas que actualmente prevalecem em Macau, (…) entendemos que a prudência é uma consideração importante”.

No entanto, o dirigente alertou que “um número significativo de jornalistas não-chineses que trabalham em Macau são europeus, e qualquer erosão das liberdades fundamentais pode ter um impacto directo na sua capacidade de operar de forma segura e eficaz”.

25 Abr 2025

Xangai | Toyota vai abrir fábrica de carros eléctricos com capital estrangeiro

A fabricante japonesa de automóveis Toyota assinou, na terça-feira, um acordo de cooperação com o governo municipal de Xangai, leste da China, para a construção de uma nova fábrica de veículos eléctricos, totalmente detida por capital estrangeiro.

O projecto de 14,2 mil milhões de yuan incluirá investigação e desenvolvimento, fabrico e vendas de veículos eléctricos e híbridos, e produzirá modelos da marca topo de gama Lexus, informou na terça-feira à noite o jornal local Yicai.

Trata-se da segunda fábrica de automóveis totalmente detida por capital estrangeiro a ser estabelecida na China, após a abertura, anteriormente, da “gigafábrica” da norte-americana Tesla, também em Xangai. A nova fábrica vai estar localizada na zona de Jinshan, no sul de Xangai, onde os trabalhos preparatórios já começaram. A China é o maior mercado automóvel do mundo para veículos movidos a novas energias.

Quase 11 milhões de modelos híbridos ou eléctricos foram vendidos no mercado chinês em 2024, de acordo com as estatísticas da Federação Chinesa de Fabricantes de Automóveis.

24 Abr 2025

LAG 2025 | Empresa vai modificar pedras preciosas dos países lusófonos

As autoridades de Macau revelaram ontem que uma empresa vai transformar, no território, pedras preciosas vindas dos países de língua portuguesa, tendo como alvo o mercado da China continental.

O director dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT) disse que o Governo conseguiu atrair a empresa para lançar operações no território. Yau Yun Wah sublinhou que a empresa poderá exportar pedras preciosas para o outro lado da fronteira, através de um acordo que estabelece um relacionamento semelhante a parceiros de comércio livre entre a China continental e Macau.

O Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais entre o Interior da China e Macau foi criado em 2003 e tem sido alvo de revisões regulares, a última das quais entrou em vigor em Março. Esta revisão alarga a abertura da China continental às empresas de Macau, em áreas como os serviços culturais e audiovisuais, de tecnologia de ponta, e financeiros, incluindo bancos e seguradoras.

Yau Yun Wah falava na Assembleia Legislativa durante a apresentação do programa político para 2025, na área da economia e finanças.

Licenças valiosas

Em 2019, o território começou a receber diamantes certificados pelo processo Kimberley, um regime que atesta a sua origem para evitar a transação dos chamados “diamantes de sangue”, oriundos de áreas de conflitos. Yau Yun Wah disse que, desde Outubro de 2019, a DSEDT já emitiu licença de operação para actividades relativas a diamantes em bruto a 17 empresas, assim como 37 certificados para importação e 26 para exportação.

O dirigente acrescentou que, entretanto, passaram por Macau diamantes em bruto com um valor total de 180 milhões de dólares. Além disso, Yau disse que a cidade tem actualmente quatro fábricas de medicina ocidental (incluindo uma da farmacêutica portuguesa Hovione) e oito fábricas de medicina tradicional chinesa, uma das prioridades do Governo para a diversificação da economia.

24 Abr 2025

Comércio | MNE pede ao Reino Unido que proteja sistema multilateral

O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, afirmou que Pequim e Londres “têm a responsabilidade de proteger o sistema comercial multilateral” face ao “bullying” de Washington, durante uma conversa com o homólogo britânico, David Lammy.

“Os Estados Unidos utilizam as tarifas como uma arma para lançar ataques indiscriminados contra vários países, violam flagrantemente as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e prejudicam os direitos e interesses legítimos de todos os países”, afirmou na terça-feira Wang, de acordo com um comunicado difundido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

O responsável explicou que “esta prática de empurrar as relações entre países para a lei da selva é um retrocesso histórico, impopular e insustentável, a que cada vez mais países estão a resistir e a opor-se”. Enquanto “país responsável”, a China tomou medidas para “proteger os próprios direitos e interesses legítimos e para defender as regras internacionais e o sistema comercial multilateral”, apontou.

“A China está disposta a trabalhar com o Reino Unido para seguir a orientação estratégica dos líderes dos dois países, eliminar todos os tipos de interferência e ruído, e manter as relações bilaterais na direção certa para um progresso constante”, afirmou.

Lammy disse que o Reino Unido “sempre foi um país aberto, que apoia firmemente o comércio livre e defende o sistema comercial multilateral com a OMC no seu núcleo”, de acordo com a declaração.

“Como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, o Reino Unido e a China têm responsabilidades importantes para com o desenvolvimento sustentável da economia mundial e do comércio internacional, e estão prontos para manter a comunicação com a China a este respeito”, acrescentou.

24 Abr 2025

BMW | IA DeepSeek nos próximos modelos na China

A fabricante automóvel BMW anunciou ontem que vai integrar nos serviços de inteligência artificial (IA) a chinesa DeepSeek nos seus próximos modelos destinados ao mercado da ‘gigante’ asiática. O presidente executivo (CEO) da BMW, Oliver Zipse, citado pela imprensa local, explicou no Salão Automóvel de Xangai que estão a “ser produzidos avanços cruciais em IA” na China.

“Estamos a fortalecer as nossas alianças para integrar a IA nos nossos veículos na China”, avançou o gestor. Os novos automóveis da BMW na China contarão com a inteligência artificial da DeepSeek a partir do final deste ano, adiantou.

Nos últimos anos, muitas marcas estrangeiras de automóveis na China têm registado uma queda nas vendas, à medida que as marcas locais com veículos eléctricos mais acessíveis ganham terreno tanto no mercado nacional como internacional.

O surgimento do DeepSeek, cujo modelo de linguagem se tornou o ‘download’ número um nos Estados Unidos em Janeiro passado, desencadeou uma onda de lançamentos de aplicações semelhantes por parte de grandes empresas tecnológicas chinesas, como a Baidu, Alibaba, Tencent e Bytedance, ameaçando a supremacia de líderes como a OpenAI e forçando uma reestruturação do sector.

Alguns destes serviços demonstraram capacidades semelhantes ao ChatGPT da OpenAI, de acordo com os portais especializados, mas com um preço mais baixo, o que intensificou a concorrência no sector.

As autoridades chinesas elogiaram também a abordagem de código aberto de vários destes serviços, incluindo o modelo de linguagem do DeepSeek, que não restringe a capacidade de terceiros de modificar a sua estrutura subjacente e adaptá-la a necessidades específicas.

24 Abr 2025

Visita | MNE iraniano em Pequim para consultas sobre questão nuclear

O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, iniciou ontem uma visita à China para consultas sobre a questão nuclear, antes da terceira ronda de conversações com os Estados Unidos, prevista para sábado.

O Irão e os Estados Unidos deverão voltar a encontrar-se no sábado, em Omã, para uma nova sessão de conversações sobre a questão nuclear iraniana entre Araghchi e o enviado dos EUA para o Médio Oriente, Steve Witkoff.

Ao mesmo tempo, peritos iranianos e norte-americanos deverão iniciar discussões técnicas sobre a questão nuclear na capital de Omã. “É necessário manter os nossos amigos na China informados sobre a evolução das negociações e consultá-los”, disse Araghchi à televisão estatal iraniana.

A China é um dos signatários do acordo nuclear internacional celebrado com o Irão em 2015, mas que caducou na sequência da decisão dos EUA de se retirarem do mesmo três anos depois, durante a primeira presidência de Donald Trump.

“A China desempenhou um papel importante e construtivo na questão nuclear no passado, e o mesmo papel é certamente necessário no futuro”, acrescentou o ministro iraniano. O acordo de 2015 previa o levantamento das sanções internacionais contra o Irão em troca da supervisão do seu programa nuclear pela Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA).

De acordo com a AIEA, o Irão estava a honrar os seus compromissos até à retirada dos EUA, que foi acompanhada pelo restabelecimento das sanções norte-americanas.

24 Abr 2025

Economia | Xi defende que guerra comercial prejudica interesses de todos os países

Enquanto Trump continua com a sua política errática de tarifas comerciais, o Presidente chinês, Xi Jinping, alerta para os danos causados à economia global e reafirma a posição da China de defesa da “equidade e a justiça internacionais”

 

O Presidente chinês, Xi Jinping, afirmou ontem que as guerras comerciais minam os “interesses legítimos” de todos os países e “têm impacto na ordem económica mundial”, numa altura em que Washington se mostra optimista em relação a um acordo.

“As guerras tarifárias e comerciais minam os direitos e interesses legítimos de todos os países, prejudicam o sistema de comércio multilateral e têm impacto na ordem económica mundial”, disse Xi durante uma reunião com o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, em Pequim, de acordo com a agência noticiosa oficial Xinhua.

Segundo Xi, a China continuará a esforçar-se para “salvaguardar o sistema internacional” e “defender a equidade e a justiça internacionais”, tendo as Nações Unidas como “pilar”. Estas são as primeiras declarações de Xi depois de Trump ter manifestado na terça-feira optimismo quanto à possibilidade de os Estados Unidos e a China chegarem a um acordo comercial.

Para além de Trump, o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, responsável pelas negociações comerciais, também manifestou esperança num desanuviamento da guerra comercial com a China. Analistas chineses afirmaram ontem, porém, que as declarações de Trump não representam qualquer “progresso substancial” ou mudanças nas negociações.

“Quanto mais ele fala, mais ansiosos os EUA parecem ficar. Trump e a sua equipa estão sob pressão, mas a China não está a mostrar sinais de impaciência”, disse Chen Zhiwu, especialista da Universidade de Hong Kong, citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post.

A administração Trump espera fechar acordos comerciais no próximo mês com a maioria dos países aos quais impôs taxas, mas a guerra comercial desencadeada pela sua política tarifária agressiva está centrada numa disputa com a China.

Na semana passada, Trump afirmou estar a falar com representantes chineses para chegar a um acordo com Pequim, mas, do outro lado, o seu homólogo Xi mantém tarifas de 125 por cento sobre os EUA e tomou outras medidas, como vetar a entrega de aviões Boeing.

Sem medo

A China insistiu que não quer uma guerra comercial, mas “não tem medo de a enfrentar se necessário”. Pequim também instou Washington a cancelar completamente todas as tarifas impostas e a iniciar um diálogo “com base no respeito mútuo”, reiterando que o proteccionismo é um beco sem saída.

Pequim advertiu ainda que não aceitará acordos internacionais que sejam alcançados “à custa dos seus interesses”, depois de a imprensa internacional ter noticiado que Trump planeia pressionar outros países durante as suas negociações comerciais para limitar o seu comércio com a China.

Algum respeito

O Governo chinês pediu ontem aos Estados Unidos para “deixar de exercer pressão” e mostrar respeito se quiserem realmente resolver os seus diferendos comerciais com a China através de negociações e do diálogo. “Se os Estados Unidos continuarem a querer esta guerra tarifária, a China continuará a responder até ao fim. Se quiserem negociar, a porta está aberta. Mas se eles realmente querem negociar, devem parar de exercer a máxima pressão e ir para o diálogo com base na igualdade, respeito e benefício mútuo”, disse o porta-voz da diplomacia chinesa Guo Jiakun, em conferência de imprensa.

24 Abr 2025

A Rota das Especiarias na história do Oriente e do Ocidente (Parte 2)

Imagens e texto: Ritchie Lek Chi, Chan

(Artigo publicado no Macau Daily News em 28 de Maio de 2023)

Existem muitas histórias interessantes dos nossos antepassados e do uso das especiarias. Na Idade Média, as especiarias tornaram-se um tema quente, à medida que os europeus perseguiam freneticamente estes “tesouros” e iniciavam uma corrida por eles. Esta procura deixou uma marca profunda na história e tornou-se uma importante fonte de informação para estudar e explorar a história da Rota das Especiarias.

Qual é o grande poder mágico das especiarias, que levou os europeus a arriscar as suas vidas e a precipitar-se no mar agitado para o leste desconhecido em busca destes produtos considerados extremamente preciosos. Por terem vindo de longe, não só as culturas completamente diferentes do Oriente e do Ocidente colidiram, como também surgiram colónias em grande número em África, na Indochina, no Sudeste Asiático e na América do Sul nesta época.

Opiniões diferentes sobre a definição de especiarias

Antes de abrir o tópico, vamos falar sobre o que são “especiarias”. Algumas pessoas podem questionar-se que as especiarias estão na sociedade humana há milhares de anos, mas ainda não compreendem o que elas são. Na verdade, o conceito tem sido explicado de forma diferente por pessoas de diferentes profissões, e não existe uma definição única e satisfatória: se perguntar a um químico, a um botânico, a um chef ou a um historiador, o que é uma especiaria, obterá uma resposta completamente diferente. Pergunte a diferentes botânicos e obterá definições diferentes” (Nota 1). Por exemplo, Stuart Farrimond, um médico britânico, publicou um livro que apresentava o conceito de especiarias “As especiarias são partes de plantas e o seu sabor é melhor do que a maioria das outras matérias-primas utilizadas na culinária.” A baunilha é geralmente recolhida das folhas da planta, de sementes, frutos, raízes, caules, flores ou cascas, e é normalmente utilizada após a secagem. Ainda assim, algumas folhas de sabor forte, como a folha de louro (louro) e as folhas de caril, podem ser consideradas especiarias porque são mais frequentemente utilizadas como tempero de apoio do que como tempero fresco (Nota 2). Em conjunto com o livro sobre culinária publicado por Stuart Farrimond, os usos das especiarias são apenas enfatizados na culinária.

Como todos sabemos, as especiarias não são apenas utilizadas na culinária, mas também na medicina, na religião, na cosmética e noutras matérias-primas químicas. A Wikipédia explica em palavras concisas: “As fragrâncias são um termo geral para substâncias aromáticas que são voláteis e podem ser utilizadas para preparar aromas. Dividem-se em aromas naturais e aromas artificiais, que são utilizados no fabrico de cosméticos, alimentos, etc., os sabores incluem sabores animais e as especiarias botânicas são geralmente misturas contendo uma variedade de ingredientes aromáticos. As especiarias naturais são derivadas das secreções das gónadas ou secreções patológicas de certos animais, como o almíscar, a civeta, o castóreo e o âmbar cinzento.”

O boom do comércio de especiarias que começou entre os séculos XV e XVII foi dominado pelas especiarias botânicas entre as especiarias naturais. As fontes de especiarias botânicas vieram principalmente de países ou regiões tropicais e subtropicais. Para competir pelos recursos de especiarias que eram considerados preciosos na época, as rotas de navegação para a busca foram divididas em leste e oeste. Partindo da Península Ibérica na Europa, Portugal dirigiu-se para leste contornando a África, entrou no Oceano Índico e estendeu-se até à Indochina, ao Sudeste Asiático e às zonas costeiras da China. A Espanha partiu da Península Ibérica para oeste, através do Atlântico, até à América Central e do Sul, e depois atravessou as ondas do Pacífico até às Filipinas e às Ilhas das Especiarias

Memória do aroma das especiarias

Por falar em especiarias, lembrei-me sem querer que quando andava na escola primária em Jacarta, na Indonésia, só tinha de ir às aulas à tarde e tinha muito tempo livre de manhã para fazer compras no mercado com os empregados.

Lembro-me que o mercado com instalações simples estava cheio de frutas tropicais, legumes e especiarias. Várias especiarias pareciam ser catalisadas pela temperatura elevada e o ar enchia-se de um rico aroma. Este cheiro especial ainda está fresco na minha memória e nunca será esquecido. Esta experiência tornou-se mais tarde um “hobby”. Sempre que viajo para outros países, principalmente os que produzem especiarias, gosto muito de visitar os mercados locais e as lojas de especiarias.

Mercados de especiarias em Macau e Zhuhai

O autor chegou a Macau na década de 1960. Os habitantes de Macau viviam uma vida simples, a comida não era tão diversificada como é hoje, as refeições diárias eram mais simples e eram utilizados temperos menos complicados, pelo que a venda de especiarias naquela época não era tão popular e conveniente como é hoje. No final da década de 1960, muitos chineses do exterior do Sudeste Asiático que migravam para Macau continuaram a aumentar, e os pratos que preparavam eram influenciados pelo hábito do Sudeste Asiático de utilizar especiarias.

Por conseguinte, as lojas que vendiam especiarias surgiram gradualmente nos locais onde viviam chineses do exterior. No entanto, estas lojas tornaram-se mais populares durante estas duas décadas. Após o regresso de Macau à China, os direitos de jogo foram liberalizados e o número de empregados estrangeiros aumentou, especialmente o grande número de trabalhadores domésticos do Sudeste Asiático, o que impulsionou a cultura alimentar de Macau e levou a um desenvolvimento mais diversificado. Lojas que vendem comida e especiarias do Sudeste Asiático surgiram como cogumelos em zonas onde vivem, como na Rotunda de Carlos da Maia, Rua da Emenda, Rua de Brás da Rosa e até mesmo perto da Rua dos Ervanários. As lojas indonésias estão espalhadas por todas estas áreas.

O aparecimento destas lojas e restaurantes permite aos trabalhadores do Sudeste Asiático comerem alimentos das suas cidades natais, enquanto os residentes de Macau podem desfrutar de iguarias estrangeiras, tal como em outros locais com um grande número de trabalhadores estrangeiros.

Durante as férias, indonésios, filipinos, malaios, tailandeses e outras pessoas de diferentes cores de pele e línguas reúnem-se de forma ruidosa, como se estivessem num canto movimentado da cidade tropical. De facto, esta situação também existe noutros locais com um grande número de trabalhadores estrangeiros. A Causeway Bay em Hong Kong e a ASEAN Plaza em Taichung estão repletas de restaurantes e lojas do Sudeste Asiático que vendem produtos do Sudeste Asiático. Ao percorrer estas ruas, pode-se sentir o aroma rico de comidas e especiarias tropicais no ar, o que é de fazer crescer água na boca.

Além disso, Zhuhai, que fica ao lado de Macau, é também um local que vale a pena mencionar. Desde que a cidade foi fundada em 1979 e a Zona Económica Especial foi criada em 1980, tem atraído pessoas de várias províncias do continente para trabalhar ou imigrar. As mudanças no ambiente de Zhuhai trouxeram uma cultura alimentar diferente e a procura por especiarias também aumentou. Hoje em dia, são vendidos temperos baratos e de alta qualidade em todos os mercados e supermercados de Zhuhai, o que oferece uma maior variedade de mercados de temperos para os residentes de Macau que se deslocam frequentemente a Zhuhai para fazer compras.

As especiarias são itens consumíveis. Explorar a história das especiarias não é como explorar a porcelana. Para além de encontrar informações relevantes na literatura, também pode utilizar objectos físicos como fragmentos, porcelana de coleccionadores ou grandes quantidades de produtos de porcelana obtidos de naufrágios para fins de investigação. De um modo geral, a compreensão da história das especiarias depende sobretudo de materiais documentais.

No entanto, depois de o autor ter vindo a recolher informações sobre este tema há algum tempo, isso pode ser uma ilusão. Descubra autores que escrevem sobre temas como as especiarias ou a história. Embora existam algumas obras escritas por autores chineses, são relativamente raras. É possível que o prólogo da história das especiarias tenha sido aberto pelos europeus. A maior parte da história das especiarias é escrita por estudiosos ocidentais ou do Sudeste Asiático que se concentram nas origens das especiarias. Felizmente, existem muitos tradutores na China continental e em Taiwan que traduziram estes livros e periódicos para chinês, proporcionando grandes benefícios aos investigadores e leitores.

As especiarias são de facto um tema complexo, desempenhando um papel vital no comércio marítimo na Idade Média, mas que depois desapareceu subitamente. Tal como diz o livro “Especiarias: A História de uma tentação”, “A história das especiarias é um emaranhado histórico perfumado, complicado e difícil de desvendar”.

Assim sendo, para obter uma compreensão preliminar da história das especiarias, para além de obter informações sobre factos históricos em livros chineses, é também possível utilizar materiais em língua estrangeira para explorar alguns dos acontecimentos que ocorreram durante a história do comércio, bem como o papel desempenhado na Rota das Especiarias desde o início da cidade portuária aberta. Discutiremos estas questões na próxima vez. (continua)

Observação:

” Especiarias : A História de uma tentação” Jack Turner (Austrália), traduzido por Zhou Ziping. Pequim, Vida.Leitura.Novo Conhecimento Livraria Sanlian, 2007. Página 29, segundo parágrafo, terceira linha.

“A Ciência das Especiarias”, Stuart Farrimond (Reino Unido), traduzido por Song Longyan. Pequim, China Light Industry Press, 2021. Página 10.

24 Abr 2025

Crime | Suspeito de violação sujeito a prisão preventiva

O homem suspeito de violar uma mulher, que era sua empregada, vai ficar em prisão preventiva, de acordo com um comunicado divulgado ontem pelo Ministério Público. As autoridades indicam que durante o interrogatório, o depoimento do suspeito foi inconsistente.

A investigação inicial revelou que, em meados deste mês, o indivíduo terá pedido à vítima, que estava embriagada, que o acompanhasse ao escritório para o ajudar no trabalho, acabando por a violar.

Tendo em conta a ilegalidade, a gravidade, o grau de intenção, o risco de fuga e a possibilidade de continuar a cometer crimes da mesma natureza, o juiz do Tribunal de Instrução Criminal decidiu aplicar a medida de coacção de prisão preventiva, ou seja, o arguido irá aguardar julgamento na prisão.

Foi também concluído que existem fortes indícios de que o suspeito terá cometido o crime de “violação”, que tem uma moldura penal entre 3 a 12 anos de prisão. O Ministério Público aproveitou a oportunidade para apelar à população para denunciar crimes de natureza sexual às autoridades policiais ou
à Procuradoria, por constituírem “uma séria ameaça à ordem pública e à tranquilidade social”.

24 Abr 2025

Primeiro trimestre foi segundo melhor de sempre em número de turistas

Macau recebeu até Março 9,86 milhões de visitantes, mais 11,1 por cento do que no mesmo período de 2024 e o segundo valor mais elevado de sempre para um arranque de ano, foi ontem anunciado. De acordo com dados oficiais, o número de turistas que passou pelo território só foi superado no primeiro trimestre de 2019, quando registou quase 10,4 milhões de visitantes.

No entanto, segundo a Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), cerca de 59 por cento dos visitantes (5,82 milhões) chegaram em excursões organizadas e passaram menos de um dia na cidade.

Em 2024, o Governo Central divulgou uma série de medidas de apoio a Macau, como o aumento do limite de isenção fiscal de bens para uso pessoal adquiridos por visitantes da China. Ao mesmo tempo, as autoridades chinesas alargaram a mais 10 cidades da China a lista de locais com “vistos individuais” para visitar Hong Kong e Macau. Além disso, desde 1 de Janeiro passado que os residentes da vizinha cidade de Zhuhai podem visitar Macau uma vez por semana e ficar até sete dias.

Em resultado, a esmagadora maioria (90,8 por cento) dos turistas que chegaram a Macau nos três primeiros meses do ano vieram do Interior da China ou Hong Kong.

Ainda assim, o número de visitantes internacionais cresceu mais depressa, 16,9 por cento em comparação com o primeiro trimestre de 2024, para mais de 682 mil. No entanto, este valor representa uma queda de 20,3 por cento em comparação com o mesmo período de 2019, antes do início da pandemia de covid-19.

Grupos alvo

Em 10 de Abril, a directora dos Serviços de Turismo de Macau (DST), Maria Helena de Senna Fernandes, disse que em 2025 a prioridade vai continuar a ser “captar turistas internacionais”, participando em feiras no estrangeiro e organizando actividades no território.

A directora da DST recordou que Macau vai receber em Junho a reunião semianual da Confederação Europeia das Associações de Agências de Viagens e Operadores Turísticos e, em Dezembro, o congresso anual da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT).

Em Agosto, Senna Fernandes apontou como meta mais de três milhões de visitantes internacionais em 2025. Macau recebeu no ano passado 34,9 milhões de visitantes, mais 23,8 por cento do que no ano anterior, mas ainda longe do recorde de 39,4 milhões fixado em 2019, antes da pandemia.

24 Abr 2025

Reserva financeira | Melhor arranque desde 2021

Até ao final de Fevereiro, a reserva financeira cresceu 7,17 mil milhões de patacas. No final do segundo mês do ano, o valor total da reserva atingiu 623,4 mil milhões de patacas, ainda longe do pico de 2021, quando era de 663,6 mil milhões de patacas

 

O valor dos activos da reserva financeira de Macau registou até ao final de Fevereiro o maior aumento dos últimos quatro anos, segundo dados oficiais divulgados ontem. A reserva começou 2025 em alta, com o valor dos activos a subir 7,17 mil milhões de patacas nos dois primeiros meses, de acordo com um balanço publicado no Boletim Oficial de Macau.

Segundo a Autoridade Monetária de Macau (AMCM), este é o melhor arranque de ano desde Janeiro e Fevereiro de 2021, período em que a reserva se valorizou em 47,4 mil milhões de patacas.

Foi precisamente no final de Fevereiro de 2021 que a reserva atingiu um recorde histórico de 663,6 mil milhões de patacas, apesar do território estar em plena pandemia de covid-19. O valor da reserva financeira cifrou-se em 623,4 mil milhões de patacas no final de Fevereiro passado, ainda longe do pico.

Recuperação gradual

De acordo com a AMCM, a reserva tinha registado em 2024 o melhor ano desde a pandemia, ao ganhar 35,7 mil milhões de patacas. Este foi o aumento anual mais elevado desde 2019, quando o valor da reserva aumentou em 70,6 mil milhões de patacas.

O valor da reserva extraordinária no final de Fevereiro era de 452 mil milhões de patacas e a reserva básica, equivalente a 150 por cento do orçamento público de Macau, era de 164,2 mil milhões de patacas. O orçamento do território para 2025 prevê uma subida de 7 por cento nas despesas totais, para 109,4 mil milhões de patacas.

A reserva financeira de Macau é maioritariamente composta por depósitos e contas correntes no valor de 246,5 mil milhões de patacas, títulos de crédito no montante de 121 mil milhões de patacas e até 249 mil milhões de patacas em investimentos subcontratados.

Em 2024, os investimentos renderam à reserva financeira quase 31 mil milhões de patacas, correspondendo a uma taxa de rentabilidade de 5,3 por cento, disse a AMCM no final de Fevereiro.

24 Abr 2025

Creche Smart | Tribunal aceita providência cautelar

Os tribunais aceitaram uma providência cautelar da Creche Smart para impedir o Governo de suspender o financiamento e recuperar as instalações onde está instalada a instituição. A informação foi divulgada pela Creche Smart, através de um comunicado nas redes sociais.

“Caros pais, fiquem tranquilos. O tribunal aprovou o procedimento cautelar da Smart, e suspendeu a decisão do Instituto de Acção Social”, pode ler-se na mensagem. “Obrigado por todo o apoio”, foi acrescentado.

O anúncio do IAS sobre o fim do financiamento e a recuperação das instalações exploradas pela associação Zonta Club de Macau foi tornado público em Março. Nessa altura, as autoridades apontaram o final de Agosto como a data prevista para o encerramento da creche e a recuperação das instalações, ao mesmo tempo que garantiam que havia lugares na Taipa para todas as crianças afectadas pelo encerramento.

Contudo, os motivos desta decisão nunca foram esclarecidos publicamente. O IAS limitou-se a indicar que não foi possível chegar a um acordo com a associação Zonta Club de Macau sobre os moldes em que iria continuar a funcionar a parceria de financiamento. O Governo terá ainda indicado que a falta de acordo visou “princípios básicos” e “importantes aspectos de organização”.

Ontem Hon Wai, presidente do IAS, voltou a ser questionado sobre este assunto e reconheceu a decisão de aceitar a providência cautelar. Todavia, para assegurar o normal funcionamento da justiça, recusou fazer comentários sobre a decisão.

24 Abr 2025

Jogo | Seaport estima receitas “mais fracas do que o esperado”

A corretora Seaport Research Partners reduziu para mais de metade a estimativa de crescimento das receitas brutas do jogo deste ano para 3 por cento, uma previsão “mais fraca do que o esperado” no início do ano, quando foi projectada uma subida de 6,5 por cento.

Num comunicado divulgado na terça-feira, citado pelo portal GGR Asia, o analista Vitaly Umansky mantém a estimativa de crescimento de 7 por cento para os anos 2026 e 2027, com 2027 a ter receitas brutas de jogo que podem ficar a 92 por cento do nível de 2019.

“Prevemos um fortalecimento do mercado no final do Verão e no segundo semestre deste ano. Não esperamos que a guerra comercial tenha um impacto negativo significativo em Macau, nesta altura”, apontou o analista.

De acordo com a Seaport, os benefícios das mesas digitais ‘inteligentes’ “poderão ser mais fortes do que o esperado e levar a uma revisão em alta das previsões”, principalmente porque as apostas paralelas no bacará estão a aumentar.

Recorde-se que nos primeiros três meses de 2025, as receitas brutas dos casinos de Macau foram de cerca de 57,66 mil milhões de patacas, mais 0,6 por cento do que no mesmo período de 2024.

24 Abr 2025

Índia | JD Vance reuniu-se com Narendra Modi

O vice-Presidente dos Estados Unidos reuniu-se segunda-feira à porta fechada com o primeiro-ministro da Índia, no início de uma visita de quatro dias, em que o comércio bilateral a dominar o encontro.

Durante a reunião, JD Vance e Narendra Modi celebraram o progresso em direção a um Acordo Comercial Bilateral e anunciaram formalmente a finalização dos Termos de Referência para as negociações, de acordo com um comunicado oficial da Casa Branca.

O acordo tem por objectivo uma estrutura moderna e equilibrada que fortaleça as cadeias de abastecimento e gere benefícios económicos entre os dois países.

A visita serviu também para rever o progresso bilateral e foi descrita como uma reunião agradável e produtiva pelo vice-Presidente norte-americano. Esta é a primeira visita de um vice-Presidente dos EUA à Índia em 12 anos, depois da visita de Joe Biden quando era vice de Barack Obama.

Vance – que se tinha encontrado com Modi em Fevereiro passado, durante a Cimeira de Ação de Inteligência Artificial, em Paris – viajou para Jaipur, capital do estado ocidental do Rajastão. A Índia está a procurar activamente aumentar o investimento dos EUA em sectores-chave, como a tecnologia, a indústria transformadora, o automóvel e a energia.

O Governo indiano também implementou políticas para facilitar o investimento direto estrangeiro e olha para os Estados Unidos como um parceiro estratégico fundamental no seu desenvolvimento económico.

O empresário Elon Musk – que colabora com o Governo dos EUA – já anunciou planos para visitar a Índia ainda este ano, após uma conversa telefónica com Modi, sugerindo uma possível entrada no mercado indiano para as empresas Tesla e Starlink.

23 Abr 2025