Exposição | Galeria At Light reúne artistas lusófonos em “Cor da Vida”

No próximo dia 23 é inaugurada na Galeria At Light a exposição “Cor da Vida”, com obras de artistas lusófonos e curadoria de José Isaac Duarte. A mostra foi organizada a partir de um acervo já existente no território. Para Joey Ho, responsável pela galeria, ligada à associação Arts Empowering Lab, recorda que Macau possui há muito uma ligação próxima com a lusofonia

 

A Galeria At Light, ligada à associação Arts Empowering Lab, inaugura no próximo dia 23 de Janeiro a exposição “Cor da Vida – Exposição dos Artistas dos Países de Língua Portuguesa”, que inclui trabalhos de autores como Damião Porto, Malé, Pedro Proença, entre outros. A mostra, que pode ser visitada até ao dia 6 de Março, tem a curadoria de José Isaac Duarte.

“Havia o interesse de fazer uma exposição de artistas lusófonos na galeria. Tudo foi feito com base em acervos que existem em Macau e montou-se uma exposição com dois artistas de cada país. O resultado é uma pequena amostra da diversidade artística dos países de expressão portuguesa”, contou ao HM.

Sem apontar uma obra de maior relevo, José Isaac Duarte confessou que quis mostrar a diversidade e a cor da arte que se faz nos países de expressão portuguesa. “Naturalmente que é importante uma galeria querer fazer esta exposição. Acho que é importante uma galeria não institucional que queira apresentar artistas lusófonos.”

Joey Ho decidiu avançar para a organização desta mostra dadas as ligações históricas que Macau possui com a lusofonia. “Macau tem uma longa conexão com os países de língua portuguesa. A relação tem incluído também uma partilha a nível artístico. Esta exposição é parte desse movimento e um vislumbre da vitalidade das artes visuais desses países”, disse.

Os artistas

Sem qualquer artista de Macau representado, “Cor da Vida” apresenta trabalhos de conceituados pintores que há muito palmilham o caminho das artes. É o caso de Pedro Proença, nascido em Angola em 1962, devido ao facto de o pai ter sido mobilizado para a Guerra Colonial. Anos mais tarde voltaria para Lisboa e, além de artista plástico, é também escritor, músico e tipógrafo.

No caso de Damião Porto, nascido em Portugal, a sua obra tem uma forte presença figurativa, conforme disse numa entrevista ao portal Minho Digital. “O que fundamenta geralmente o meu trabalho, tanto nas pinturas como nos desenhos é uma forte presença figurativa e, simultaneamente, persegue os limites do expressionismo chegando próximo do informal, ou seja, a neofiguração.”

Natural de São Tomé e Príncipe, Malé, cujo primeiro nome é Eduardo, reside hoje na Batalha, em Portugal. Nascido em 1973, Malé fez os cursos de Design de Equipamento (Escola Secundária de Artes António Arroio, Lisboa, 2000), Artes Plásticas (Escola Superior de Arte e Design, nas Caldas da Rainha, 2006), Formação Artística (SNBA, Lisboa, 1998).

Nomes como Abel Júpiter, Kwame Sousa, Roberto Chichorro e Sidney Cerqueira fazem também parte da mostra, sem esquecer Malangatana Ngwenya, artista plástico e poeta moçambicano que faleceu em 2011.

15 Jan 2021

Ensino | Governo implementa novas medidas para fiscalizar financiamento

A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) vai aplicar cinco novas medidas para melhorar o modelo de financiamento do Fundo de Desenvolvimento Educativo (FDE) às escolas. Segundo um comunicado, “será reforçada a fiscalização das entidades titulares em relação ao financiamento e administração das escolas”, estando previsto um reforço das “atribuições de fiscalização dos gestores, de diversos níveis, das escolas”.

Além disso, serão optimizados “os actuais procedimentos e mecanismo de abertura e análise de propostas nas escolas, incluindo a introdução, na comissão de abertura e comissão de análise de propostas, de outros intervenientes educativos, abrangendo os representantes do conselho de administração”. A ideia é “aumentar a transparência na abertura e análise das propostas”, adianta a DSEJ.

O Executivo pretende também melhorar o actual procedimento “relativo ao pagamento faseado do financiamento do FDE”, incluindo a realização de mais vistorias às escolas. A DSEJ promete também divulgar a concessão dos apoios financeiros às escolas através da publicação de todas as informações online.

A DSEJ promete reforçar, “mediante meios electrónicos, a fiscalização sobre a implementação de planos por parte das escolas”, realizando “inspecções aleatórias, em maior grau, através da recolha, por via electrónica, de várias formas, das informações comprovativas dos planos realizados pelas escolas”.

Caberá ainda às escolas a apresentação de um relatório completo sobre os projectos subsidiados pelo FDE e um “ofício de esclarecimento” caso haja alterações nesses mesmos projectos. Este ofício deve ser assinado pelo representante da entidade titular, juntamente com o novo projecto. Nestes casos, o FDE “poderá eventualmente reduzir o montante do apoio financeiro ajustado à situação real”.

15 Jan 2021

TUI mantém demissão de antiga chefe da DSAJ

O Tribunal de Última Instância (TUI) deu razão ao Governo num caso de demissão de uma ex-chefe da divisão financeira e patrimonial da Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça, cargo ocupado entre 1999 e 2014.

Segundo o acórdão ontem divulgado, a ex-chefe “abusou de poderes ao fornecer gratuitamente o lugar de estacionamento num auto-silo, alugado pela DSAJ e que lhe cumpria administrar, para uso dos seus familiares”. A mesma funcionária falsificou ainda o cartão de estacionamento, tendo sido condenada a uma pena suspensa de dois anos pelos crimes de abuso de poder e de “falsificação de documento de especial valor por funcionário”. A 25 de Julho de 2018, a então secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, aplicou a pena de demissão à ex-chefe da DSAJ, depois de um processo disciplinar.

A mulher recorreu da decisão para o Tribunal de Segunda Instância (TSI), que negou provimento ao recurso, tendo depois recorrido para o TUI, acusando o Executivo de “total desrazoabilidade no exercício de poderes discricionários, no que respeita à aplicação da pena de demissão”.

No entanto, entenderam os juízes do TUI, entre outros argumentos, que a funcionária “para manter e ocultar a ilicitude da situação de uso abusivo do lugar de estacionamento, fez tudo e até tentou fazer, inclusive, ‘falsificações de documentos de especial valor’ (cartão de estacionamento para veículo especialmente autorizado), o que demonstra um comportamento altamente censurável e reprovável, totalmente impróprio de um ‘servidor público’”.

15 Jan 2021

Cidadão vietnamita detido por suspeita de tráfico de droga

A Polícia Judiciária deteve na terça-feira um homem, de nacionalidade vietnamita, suspeito do crime de tráfico de droga. O indivíduo foi apanhado com droga, o que levou as autoridades a investigar um apartamento na avenida Ouvidor Arriaga onde foram encontrados mais estupefacientes

 

Um homem de nacionalidade vietnamita, de 34 anos de idade, foi detido por suspeitas do crime de tráfico de droga. A detenção foi feita pela Polícia Judiciária (PJ) esta terça-feira e, segundo informações da própria PJ, o indivíduo tinha consigo uma embalagem de metanfetamina, mais conhecida por ice. De seguida, as autoridades investigaram um apartamento na Avenida Ouvidor Arriaga, onde encontraram mais nove pacotes, totalizando mais de oito gramas, num valor de 28 mil patacas

A PJ adiantou também que o suspeito admitiu dedicar-se ao tráfico de droga há três semanas e que recebeu cinco mil patacas para tratar da embalagem e distribuição. O indivíduo terá dito ainda às autoridades que não fazia ideia do valor dos estupefacientes que tinha consigo.

Além disso, terá referido também que não houve qualquer transacção de dinheiro nesta operação. O homem fez ainda um teste de despistagem à covid-19, que deu negativo.

MP investiga

O caso foi, entretanto, encaminhado para o Ministério Público para prosseguimento da investigação. O cidadão vietnamita é suspeito dos crimes de tráfico ilícito de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas, bem como de consumo ilícito de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas.

As leis de Macau determinam que o crime de tráfico ilícito de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas pode levar a penas compreendidas entre cinco a 16 anos de prisão, enquanto que o consumo ilícito pode incorrer em penas de prisão de três meses a um ano, ou pena de multa de 60 a 240 dias.

15 Jan 2021

Os 40 anos da Universidade de Macau e o pioneirismo no ensino superior

A Declaração Conjunta Luso-Chinesa acelerou a necessidade de Macau ter uma instituição de ensino superior para formar quadros qualificados, essenciais para a futura RAEM. Assim nasceu, em 1981, a Universidade da Ásia Oriental, mais tarde Universidade de Macau. A primeira aposta pedagógica foi o direito, seguido da tradução e interpretação chinês-português e depois o ensino relacionado com o jogo. Em 40 anos, renasceu num novo campus em Hengqin mas também foi palco de algumas polémicas

 

Corria o ano de 1981 quando o Governo local decidiu criar a primeira universidade do território. Começou por ser designada como Universidade da Ásia Oriental, passando uma década mais tarde a Universidade de Macau (UM). A transferência de soberania do território estava no horizonte e a então Administração portuguesa considerava essencial apostar no ensino superior público para formar quadros qualificados bilingues.

Nesse sentido, o curso de Direito em língua portuguesa foi dos primeiros a ser criado. Vitalino Canas, advogado, ex-deputado à Assembleia da República (AR) e secretário de Estado do Executivo de António Guterres foi uma das figuras que ajudou a criar a licenciatura. Ao HM, recorda o papel do então Governador, Carlos Melancia, no processo “um homem de visão que, além de deixar muita obra em Macau, teve a visão em relação a estas questões estruturantes ao nível do Direito”.

Segundo o advogado, Melancia percebeu “que não fazia sentido pretendemos negociar com os nossos parceiros chineses a permanência do Direito português por um período longo de 50 anos e não deixarmos as bases necessárias, tal como juristas bilingues capazes de entender o Direito que vinha da Administração portuguesa em chinês e português”.

Apesar de não ter faltado dinheiro para fundar a universidade pública, a escassez fez-se sentir ao nível dos recursos humanos, nomeadamente de juristas e professores. Foi necessário “recorrer à Universidade de Lisboa e depois à Universidade de Coimbra” e pedir que “dispensassem alguns docentes para lançar o curso.”

No livro “Macau nos Anos da Revolução Portuguesa 1974-1979”, o General Garcia Leandro, antigo Governador de Macau, recorda os primeiros contactos para se estabelecer uma universidade, cujo orçamento seria de 40 milhões de patacas e previa “a construção num terreno na ilha da Taipa, com projecto moderno de arquitectura”, com capacidade para servir “uma população de dois mil alunos em quatro anos, ao ritmo de 500 por ano”. Seria feita “a regência das várias cadeiras dos cursos garantida por um professor decano doutorado pela Universidade de Oxford e por vários professores universitários originários da Matteo Ricci, da Universidade Chinesa de Hong Kong e também dos EUA”.

Garcia Leandro já não era Governador aquando da formalização do arranque do projecto educativo. O primeiro contrato para formar uma equipa docente e conteúdos pegagóciso foi assinado em Fevereiro de 1979 com o grupo Matteo Ricci. “Creio que foi mais um bom serviço prestado à população”, escreveu o antigo Governador.
Garcia Leandro dá conta depois de “um desvio dos objectivos, tendo sido privilegiados os alunos de Hong Kong, o que obrigou a sucessivas intervenções da Administração de Macau, até que, durante o Governo de Carlos Melancia, a universidade passou a ser património do território”.

O antigo Governador recordou também que “para o arranque não havia outra solução”, porque nem o seu Governo, nem qualquer universidade em Portugal tinham capacidade financeira para o investimento. Estava em marcha o nascimento da UM como hoje a conhecemos.

Os primeiros alunos

Paulina Santos, advogada a exercer em Macau, foi aluna da primeira turma de Direito. Recorda que, no primeiro ano, havia mais de 70 alunos, dos quais apenas restaram 12 no final do curso, feito que seria assinalado em grande.

“Angariámos cerca de 600 mil patacas para uma festa de finalistas que se realizou no Hotel Lisboa e o último Governador de Macau, General Vasco Rocha Vieira e a sua esposa, Dra. Maria Leonor foram os nossos convidados de honra. Fizemos depois uma viagem de finalistas a Paris, Portugal e Pequim”, recorda ao HM.

A advogada macaense assume as saudades desse período. “O currículo era o mesmo dos cursos ministrados em Portugal, era muito exigente. Naqueles cinco anos, todos os fins-de-semana serviam para pôr as lições em dia, porque os alunos eram todos trabalhadores-estudantes.” Para Paulina Santos, a criação da UM “mudou o estatuto de Macau e os residentes beneficiaram do facto de poderem tirar um curso na sua terra”.

Outro dos alunos desse curso foi José Pereira Coutinho, hoje deputado à Assembleia Legislativa (AL). “Foi das decisões mais acertadas e, com base nessa formação, hoje temos muitos desses alunos que são funcionários públicos e que exercem funções de alta responsabilidade no Executivo e nos tribunais.”

Como antigo aluno, Coutinho recorda que o curso era “extremamente exigente”. “Obrigava a uma dedicação quase completa. Mas também havia uma certa compreensão por parte dos dirigentes dos serviços no sentido de permitir a saída dos trabalhadores para frequentarem as aulas, pois os cursos eram nocturnos.”

Olhando em retrospectiva, Vitalino Canas considera que o curso de Direito da UM cumpriu os propósitos. “Claro que a dinâmica será sempre para que o Direito seja cada vez mais falado em chinês e não em português, mas será sempre um Direito de matriz portuguesa, e isso é importante.”

“Se daqui a 29 anos fizermos um balanço e verificarmos que o Direito de matriz portuguesa continua a ser aplicado em Macau, embora com a língua chinesa, acho que o curso terá tido certamente um papel importante”, frisou Vitalino Canas.

A aposta no jogo

Depois do curso de Direito, e com a liberalização do sector do jogo em 2001, a UM decide apostar no ensino do jogo, não só a nível jurídico como de gestão. Jorge Godinho começou a dar aulas em 1993 e contribuiu para a criação de um mestrado na área.

Para o académico, a criação da UM “foi uma iniciativa muito positiva e em termos históricos só terá pecado por tardia. É fácil dizer isso hoje, mas as condições eram outras”.

Olhando para a frente, Jorge Godinho entende que a UM ainda tem um caminho a percorrer. “Uma universidade madura pode demorar 50 anos a pôr-se de pé, com 40 anos é ainda relativamente jovem. Estas coisas demoram muito tempo. Esse trabalho tem vindo a ser feito, começou-se por algumas áreas científicas que foram consideradas de interesse prioritário, como o Direito, a língua portuguesa, as ciências sociais, a gestão.”

A UM apostou também no ensino do português, sobretudo na tradução e interpretação. No entanto, José Pereira Coutinho considera que podia fazer muito mais neste domínio. “Nos últimos anos descurou-se bastante a área da tradução e da interpretação.” Além disso, o deputado defende que a instituição “podia fazer mais nas áreas que Macau mais precisa, na economia, educação financeira e cursos relacionados com a área dos negócios”.

Também ao nível do ensino do português, Paulina Santos considera que tem sido feito um esforço para manter viva a língua. “Penso que é mais importante agora o ensino do chinês para os alunos portugueses, principalmente para quem quer seguir a carreira de magistratura”, acrescenta a advogada.

A mudança para Hengqin

Em 2014, a UM deixou o velho campus na Taipa para se mudar para o complexo educacional em Hengqin. O dossier foi polémico, com muitas derrapagens orçamentais e atrasos à mistura, além de acusações de plágio no projecto de arquitectura feitas pela Associação Novo Macau.

No entanto, Jorge Godinho traça hoje um balanço positivo dessa mudança. “Dei muitas aulas no antigo campus, lembro-me do meu último dia de aulas lá. O campus foi crescendo, mas chegou a uma altura em que não dava para mais, e foi excelente construir este campus gigantesco onde a UM tem condições extraordinárias e que permite fazer um trabalho excelente.”

Na visão de Paulina Santos, a mudança para a Ilha da Montanha trouxe alterações que foram além da deslocação geográfica, nem todas para melhor. “A UM hoje tem uma maior área, mas entendo que a faculdade de Direito deveria ter continuado na Taipa. Faltam notícias sobre o actual funcionamento do curso. Nem sei quem são os professores.”

Liberdade académica

Também em 2014 a UM foi protagonista de algumas notícias pelos piores motivos, com um caso de alegada violação da liberdade académica. O contrato de Bill Chou, professor de ciência política, não foi renovado e o académico argumentou que a decisão foi motivada pelo seu activismo político. A UM sempre negou as acusações.

Hoje em dia, Bill Chou dá aulas em Hong Kong e confessa ao HM que a sua saída teve repercussões no meio académico local. “O impacto imediato na UM e em outras instituições de ensino foi o silêncio de muitos académicos de Macau através dos seus contratos de trabalho, como o meu, assinados a prazo. A renovação de um contrato está sujeita a decisões arbitrárias por parte da liderança da universidade”, acusa. O HM questionou a UM sobre estas declarações, que se escusou a fazer qualquer comentário.

Questionado sobre liberdade académica, Jorge Godinho assume que nunca sofreu qualquer tipo de pressão. “Não faço considerações genéricas. O que posso dizer, a título pessoal, é que eu nunca senti absolutamente qualquer problema. Nunca a minha liberdade académica foi afectada, desde 1993, quando comecei a dar aulas, até hoje.”

Bill Chou reconhece o trabalho feito pela UM noutras áreas do ensino e de investigação, apesar de considerar que os objectivos não são os ideais. “Sem dúvida que os programas da UM em Direito, português e tradução ajudaram ao crescimento dessas áreas. Contudo, o sector da tradução continua a manter-se com alunos da China que recebem formação no país ou noutro lugar, e não na UM.”

O actual reitor da UM, Yonghua Song, tomou posse a 9 de Janeiro de 2018, depois da saída do seu antecessor, Wei Zhao, ter gerado alguma polémica. Wei Zhao assumiu funções como reitor da UM em Novembro de 2008 e saiu em 2019 para dirigir a área de investigação na Universidade de Sharjah, sem respeitar o período de seis meses após o termo do contrato com a UM, a que estão obrigados os titulares de cargos de direcção da função pública. No entanto, o Gabinete de Apoio ao Ensino Superior acabaria por arquivar o caso. “Este Gabinete recebeu a opinião jurídica do serviço competente que considera que o ‘não exercício de actividades privadas após a cessação de funções’ não se aplica ao reitor da Universidade de Macau”, pelo que “o caso foi arquivado”, indicou o GAES, em resposta escrita ao HM.

Desde o “nascimento” da instituição, Vitalino Canas destaca a evolução que não só a UM teve nos últimos 40 anos como todo o ensino superior local. “20 anos depois da Administração portuguesa ter deixado o território, creio que deixou um bom legado nesse domínio. Mas a Administração de Macau prosseguiu os esforços por nós iniciados e hoje em dia temos um ensino superior muito diferente e de maior dimensão. Fico feliz por isso.”

15 Jan 2021

Presidenciais | Dificuldades de voto dos emigrantes assinaladas em debate 

No debate televisivo de terça-feira, os candidatos às eleições presidenciais de Portugal, Ana Gomes, Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino Silva destacaram as dificuldades que os emigrantes enfrentam para votar e lamentam que o Governo português não tenha ainda instituído o voto por correspondência

 

Os emigrantes que querem votar nas eleições para a Presidência da República de Portugal podem vir a enfrentar dificuldades acrescidas devido à pandemia da covid-19. Este cenário foi lembrado no debate televisivo que juntou todos os candidatos às presidenciais e que foi transmitido na terça-feira na RTP. Ana Gomes destacou o facto de nada ter sido feito para instituir o voto por correspondência.

“Já estão de tal maneira a ser afectadas [as eleições] que, neste momento, muitos emigrantes portugueses não podem votar porque a Assembleia da República [AR] não legislou, a tempo e horas, para garantir o que era possível e desejável, que era o voto por correspondência.”

Tiago Mayan Gonçalves, candidato apoiado pela Iniciativa Liberal, também lamentou que nada tenha sido feito até agora. “Poder-se-ia ter ponderado um conjunto de outras circunstâncias, de revisão constitucional para que o voto no continente não tenha de ser presencial e possa ser por correspondência. Não obrigar quem está lá fora, as nossas comunidades, a ter de se deslocar centenas de quilómetros para um consulado. Pensar em quem está inscrito nesses consulados, mas está aqui [em Portugal] há meses porque veio fazer teletrabalho no seu país ou veio dar apoio à família e neste momento não vai poder votar.”

Vitorino Silva, mais conhecido como Tino de Rans, também lembrou as dificuldades de voto relacionadas com o mau funcionamento dos consulados. “Lembro-me, há cinco anos, no voto dos emigrantes, que havia gente que queria votar, ligava para os consulados e não havia telefonistas. Fico triste quando há muita gente que, ainda hoje, está a tentar três e quatro vezes ligar para votar, cinco anos depois ainda não há ninguém para atender o telefone.”

Governo reagiu

Paulo Cunha Alves, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, confirmou à Lusa que os portugueses que residem na região vizinha não vão conseguir votar por não conseguirem deslocar-se a Macau.

Esta semana, a deputada Joacine Katar Moreira divulgou uma resposta do Executivo português sobre esta matéria. No documento lê-se que “o Governo criou um grupo de trabalho conjunto com o Ministério da Administração Interna e o Ministério dos Negócios Estrangeiros com a incumbência de estudar, avaliar e propor medidas de aperfeiçoamento do processo de votação dos portugueses residentes no estrangeiro”.

“O resultado desse trabalho conjunto culminou no alargamento do voto em mobilidade, na uniformização das normas sobre a realização de actos eleitorais e referendáveis, alterando as leis eleitorais para o Presidente da República, a AR e dos órgãos das autarquias locais […] tendo impacto na votação e recenseamento dos eleitores nacionais residentes no estrangeiro. Ao contrário do que é referido, o Governo tem garantido e promovido o direito constitucional de sufrágio dos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro”, lê-se na resposta.

14 Jan 2021

Óbito | Sheldon Adelson, o homem que revolucionou o jogo de Macau na liberalização 

Viu o que mais ninguém conseguia ver, e exportou para Macau o modelo de negócio de Las Vegas, com o conceito de casino-resort e novas formas de financiamento e de gestão do jogo. Sheldon Adelson morreu esta terça-feira aos 87 anos, vítima de doença prolongada, e é tido como um visionário que mudou para sempre a forma de jogar no território

 

Até o Sands ser inaugurado na península de Macau, em 2004, um casino era apenas isso: um espaço de jogo fechado, onde o único intuito era tentar fazer milhões. Com a entrada da Sands China no mercado e com a inauguração do empreendimento Sands, tudo mudou. Pela primeira vez, um turista não ia ao casino apenas jogar, ia também ver o que por lá se passava fora das salas de jogo.

O fundador do império de casinos Las Vegas Sands e principal financiador do Partido Republicano, nos Estados Unidos, Sheldon Adelson, era filho de imigrantes judeus, criado com dois irmãos numa quinta de Boston. Com o jogo tornar-se-ia num dos homens mais ricos do mundo, uma vez que, em 2018, a revista Forbes classificou-o como o 15.º homem mais rico dos Estados Unidos, com uma fortuna estimada em 28,8 mil milhões de euros. “Se fizermos as coisas de forma diferente, o sucesso segue-nos como uma sombra”, afirmou em 2014, durante uma conferência para a indústria de jogos, em Las Vegas.

A Sands China reagiu, em comunicado, ao falecimento do seu grande mentor. “Adelson representava a verdadeira definição de pioneiro, empresário e filantropo. Nunca esqueceremos as suas contribuições para o desenvolvimento de Macau, que remontam à sua corajosa visão de criar a faixa do Cotai”, pode ler-se.

Em Macau Sheldon Adelson foi uma figura central na liberalização do jogo. Foi ele que introduziu o conceito de casino-resort e que olhou para o Cotai com outros olhos. Com a inauguração do Venetian, em 2007, Macau passava a ter uma Veneza em ponto pequeno e um factor diferenciador para o turismo chinês.

A importância de Adelson em Macau é tanta que é comparado, por vários analistas, a Stanley Ho, desaparecido em Maio do ano passado. “Pouco menos de um ano depois de Stanley Ho, morreu outro visionário”, afirmou à Lusa o advogado Pedro Cortés.  “Macau deve muito daquilo em que se transformou ao senhor Sheldon Adelson, que recebeu em dobro aquilo que deu à região. Morreu um dos grandes nomes da indústria que, a par de Steve Wynn, ajudou a mudar a face de Macau depois de 2002”, reforçou.

Também o advogado Óscar Madureira, ouvido pelo HM, traça um perfil semelhante. “[Sheldon Adelson] teve a importância, depois da liberalização do jogo, que o Stanley Ho teve numa outra fase. Apostou numa zona que não era importante [o Cotai]. Reconheceu ali o local onde iria nascer o jogo e criou o primeiro resort integrado de Macau. Foi lá criada a primeira arena, trouxe os espectáculos de boxe, o Cirque du Soleil.”

Para Fernando Vitória, ex-assessor da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), o magnata “modificou o panorama do jogo em duas áreas”. “Importou a visão que tinha dos casinos para Macau de uma forma quase literal, introduziu duas ideias interessantes e que fizeram com que Macau tenha dado um salto qualitativo e quantitativo em relação à qualidade do jogo e à forma como ele era apresentado ao público. Teve a noção do casino-resort. A segunda grande ideia que ele trouxe foi uma gestão aberta e moderna dos casinos, que incluía uma certa inovação no financiamento dos casinos. Isso provocou um choque em Macau.”

Fernando Vitória recorda “que os funcionários da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) ficaram extremamente curiosos sobre a forma como ele conseguia obter tanto financiamento e tão rápido, e como entrou imediatamente na bolsa de valores de Hong Kong. Foi um factor de arrasto para os outros casinos, até para a própria SJM”.

Ousadia e inovação

Óscar Madureira considera que a Sands China “é, de longe, a melhor operadora de Macau”, por ter “as propriedades mais diferentes, que oferecem um produto mais diversificado, o que tem uma oferta no ramo do entretenimento, das convenções, da própria experiência de compras”.

Tal deve-se à ousadia e inovação de Sheldon Adelson, que soube “arrastar uma nova classe de empresários de jogo para o Cotai”, destaca Fernando Vitória. Aquando da liberalização, “ficámos surpreendidos pela forma como ele se apresentou, era o homem capaz de transformar o Cotai”, recorda o ex-assessor da DICJ.

“O Cotai não estava planeado para casinos, e pensava-se que Macau já tinha muitos casinos e que aquela seria mais uma zona de diversificação da economia. Como aquilo não andava, ele propôs avançar com um casino ali, e todos diziam que seria um investimento suicida. E depois apareceu a Venetian e todas as outras concessionárias correram para o Cotai.”

Outra inovação de Sheldon Adelson foi a aposta na Cotai Water Jet, que trouxe novas carreiras de barcos entre Macau e Hong Kong. “Na altura era uma coisa impensável porque havia o monopólio do Stanley Ho, e, no entanto, Sheldon Adelson atirou-se para a frente e conseguiu. A meu ver foi a grande personagem que se atreveu, teve uma ousadia extraordinária, de ver como Macau, apesar de pequeno, conseguiu ser uma outra Las Vegas”, destaca Fernando Vitória.

“Fácil de lidar”

Manuel das Neves, ex-director da DICJ, privou de perto com Sheldon Adelson quando este chegou ao mercado de Macau. Recorda-se de “uma das figuras mais importantes na era da pós-liberalização”, alguém que “expunha as suas ideias de forma vigorosa, uma pessoa fácil de lidar, tal como os outros magnatas de jogo”.

A inovação de Adelson contrastou com as ideias das autoridades de Macau, mas depressa o impasse se resolveu. “Adaptámo-nos e sabíamos que as coisas iam ser diferentes. Nos primeiros tempos houve alguns pequenos desentendimentos, mas foram facilmente ultrapassados. Eles [Governo de Macau] não estavam habituados à forma de Las Vegas, onde há uma diferente fiscalização, com auditorias periódicas, enquanto aqui em Macau temos inspectores nos casinos. Mas eles adaptaram-se e nós também.”

Depois da inauguração do Sands e do Venetian, a operadora construiu ainda o hotel Four Seasons e o The Plaza Macau, seguindo-se, também no Cotai, o Sands Cotai Central e o The Parisian Macao. Apesar de Sheldon Adelson ter iniciado a construir a sua riqueza nos Estado Unidos, foi através dos investimentos em Macau que a sua fortuna explodiu. Os casinos em Macau geraram 63 por cento da receita da empresa, de 13,7 mil milhões de dólares, seguidos de Singapura, que representaram 22 por cento da receita do ano passado, e só depois os dos Estados Unidos. “A verdade é que ganhou mais em Macau do que em Las Vegas desde 1988 quando adquiriu o Sands por 184 milhões de dólares”, defendeu Pedro Cortés.

Apesar da sua morte, Glenn McCartney, professor na área do turismo da Universidade de Macau, defendeu que o legado de Sheldon Adelson vai continuar em Macau até porque está para breve a inauguração de mais um resort integrado do grupo, o Londoner, que representou um investimento total de 2,2 mil milhões de dólares.

“Mesmo após a conclusão das propriedades, Adelson permaneceu inabalável no seu desejo de continuar a investir em Macau. Os nossos corações pesam perante a oportunidade perdida de desfrutar do seu carisma, encanto e orgulho na abertura do The Londoner, mas consola-nos saber que o seu espírito estará certamente presente na revelação da última manifestação da sua visão arrojada, uma visão reforçada pela sua confiança resoluta em Macau e na sua população”, frisou a Sands China.

Governo manifesta pesar

O Governo manifestou esta terça-feira pesar pela morte do magnata norte-americano dos casinos, Sheldon Adelson, lembrando que ajudou a tornar o território na capital mundial do jogo. “O Sr. Sheldon Adelson promoveu o desenvolvimento da companhia em Macau. O Governo da RAEM manifesta o seu pesar pelo falecimento do Sr. Sheldon Adelson e apresenta à família as sentidas condolências”, acrescentou a nota.

Lado político

Fervoroso apoiante do Partido Republicano e grande financiador da campanha de Donald Trump para as presidenciais norte-americanas, Sheldon Adelson deixa também um legado na política, além do seu lado empresarial. Contundente, mas reservado, Adelson era descrito como um chefe político antiquado e destacava-se da maioria dos judeus norte-americanos, que são, há décadas, apoiantes tradicionais do Partido Democrata. Financiou várias campanhas políticas dos republicanos, chegando a ser considerado como o “pilar financeiro do Partido Republicano” e, nos últimos anos de vida, estabeleceu vários recordes de contribuições individuais. Adelson era um defensor ferrenho do Presidente Donald Trump e do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Também o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reagiu à morte de Sheldon Adelson, garantindo que “será para sempre lembrado” pelo seu trabalho de fortalecimento das relações entre os EUA e Israel.

14 Jan 2021

Empreendimento Roosevelt com novo restaurante português 

Chama-se “Roosevelt D’Ouro” e é o novo restaurante de comida portuguesa no empreendimento com o mesmo nome. Herlander Fernandes, chefe executivo do espaço, falou da coragem em arriscar num novo projecto numa altura de crise e nas expectativas moderadas para um novo ano com as fronteiras ainda praticamente fechadas

 

O empreendimento Roosevelt tem um novo restaurante dedicado à comida portuguesa. Fernando Sousa Marques explorava até há bem pouco tempo o espaço Varandas, que foi agora substituído pelo projecto “Roosevelt D’Ouro”, com João Figueiredo e Herlander Fernandes como chefe executivo da cozinha.

Ao HM, Herlander Fernandes falou da aposta de risco feita numa altura em que o território continua praticamente fechado ao mundo. “O D’Ouro surgiu como uma oportunidade de negócio que encarei como uma progressão de carreira. Achei que estava no momento de abraçar um projecto maior, ainda que não fosse a altura ideal. Apesar das condições adversas, não podíamos perder a oportunidade de explorar as possibilidades de um espaço como este”, frisou.

Apostando numa carta internacional, além da comida portuguesa, o “Roosevelt D’Ouro” pretende “oferecer ao público experiências para todos os gostos”, sendo um restaurante “dedicado à gastronomia portuguesa, salas privadas para eventos ou celebrações à medida”.

Questionado sobre as expectativas para este projecto, são ainda baixas, dada a conjuntura no sector do turismo. “São realistas. Não esperamos que haja grandes melhorias face ao ano anterior no que diz respeito às restrições nas fronteiras e, consequentemente, no número de visitantes no território.”

Nesse sentido, o foco dos promotores do “Roosevelt D’Ouro” será “o mercado local, que nos tem dado um bom feedback nesta fase inicial”. “Sobre esta estratégia temos vários eventos planeados, de forma a solidificar o conceito e trazer uma dinâmica à cidade”, acrescentou.

Varandas não resistiu

Fernando Sousa Marques parece ter sido uma das vítimas da crise que afectou o sector da restauração da Macau, tendo confirmado ao HM que actualmente apenas explora o restaurante A Toca, na Taipa.

Numa reportagem publicada pelo HM em Fevereiro do ano passado, no início da pandemia, o empresário do sector da restauração confessava que poderia vir a fechar as portas do seu negócio no Roosevelt, dizendo que o apoio concedido pelo Governo não era suficiente.

“Para o Varandas, 600 mil [patacas] é muito pouco, pois só com o cancelamento das festas na altura do Ano Novo Chinês perdi um milhão de patacas. Tenho 30 empregados e preciso de os manter. Vou fechar a partir do dia 15 até ao dia 30, depois veremos se a situação melhora”, contou.

“Acredito que podem fechar [as pequenas e médias empresas], eu sou um deles também. Acredito que há muita gente que não consegue e desiste, simplesmente. Não digo que o Toca feche, pois consigo aguentar se o senhorio for flexível, e ele tem sido, mas o Varandas tem um custo muito maior. O proprietário tem capacidade para explorar, mas eu não tenho”, disse, na altura.

13 Jan 2021

Anabela Santiago, doutoranda da Universidade de Aveiro: “Relação da China com OMS não sairá abalada”

Esta quinta-feira uma equipa de peritos da Organização Mundial de Saúde (OMS) chega à China para investigar a origem do novo coronavírus. Para Anabela Santiago, doutoranda da Universidade de Aveiro na área das políticas de saúde pública da China, a relação do país com a OMS não sairá afectada e pode até ajudar a pôr um ponto final a muitas teorias da conspiração sobre a covid-19

 

O que poderemos esperar da visita da OMS à China? O resultado desta investigação poderá alterar a relação da China com a OMS, ou a própria credibilidade da China face às políticas na área da saúde?

A visita de um grupo da OMS inclui peritos de várias áreas que podem ajudar, de facto, a elucidar um pouco qual foi a origem deste novo coronavírus, independentemente de ter sido na China ou não. A relação da China com a OMS, e com outras instituições das quais o país faz parte, não sairá abalada por esta visita. Apesar de ouvirmos diariamente nas notícias que a China colocou entraves a esta visita a verdade é que isto não é inédito, e no que toca à China há sempre entraves burocráticos por algum motivo. Esta missão já estava prevista há algum tempo e o atraso deve-se a burocracia com os vistos. Pelo que tenho vindo a estudar, a visita prende-se essencialmente com um espírito de cooperação da comunidade científica, ou seja, [os peritos] não vão lá “pôr a mão na massa”, porque os cientistas chineses têm vindo a fazer isso. O que a OMS vai tentar ver é o que tem sido feito pela comunidade científica chinesa e tentar transmitir isso ao mundo. Vão tentar dar uma certa transparência daquilo que está a ser feito no terreno pelos cientistas chineses e que agora vão ter a colaboração de outros parceiros, sempre numa lógica de cooperação. A OMS vai fazer uma espécie de auditoria, mas isso não quer dizer que estes cientistas descubram tudo no espaço de poucas semanas.

A visita visa também acabar com a especulação que se tem gerado em torno da origem do vírus, com muitas teorias da conspiração associadas à Administração Trump.

Sim, penso que será mais nessa perspectiva, de acabar com certos preconceitos, até porque já vários elementos da OMS e da própria equipa que vai estar no local vieram dizer que esta não é uma busca pelo responsável do vírus, porque isso pouco importa nesta fase. Independentemente do resultado que se venha a obter, é importante trazer algumas lições em termos de saúde pública e daquilo que os diversos governos, dos vários países, podem fazer para que isto não volte a acontecer.

À China também interessa esta transparência para manter o seu soft power e as suas políticas de ajuda na área da saúde?

Sim. A China, como sabemos, tem um sistema político muito fechado em si próprio e não vamos agora tecer juízos de valor. Tem havido muitas vozes que se erguem contra a censura, a tentativa de abafar determinados assuntos, mas isso sempre aconteceu independentemente deste contexto de pandemia. Mas penso que interessa à China trazer evidências científicas para limpar alguma imagem menos boa que possa ter passado para o mundo ocidental e desmistificar tudo isto. Trazer à luz evidências de que o vírus não foi criado em laboratório, por exemplo, e outros aspectos que têm vindo a público. A China depressa conseguiu dar a volta e tirar partido do facto de ter sido o primeiro país onde foram detectados os casos para logo de seguida tomar medidas e até ajudar outros países. Fazer da assistência humanitária uma bandeira.

Recentemente o Conselho de Estado chinês divulgou mais um Livro Branco sobre a cooperação internacional onde a área da saúde surge em grande destaque. Acredita que no contexto da política “Uma Faixa, Uma Rota” a saúde será a área dominante nas relações da China com outros países, nos próximos anos? A pandemia da covid-19 veio também dar mais destaque a esta área?

O conceito de “Uma Faixa, Uma Rota” é muito abrangente e é um projecto que inicialmente não tinha tanto foco na saúde. Tinha por base a criação de infra-estruturas. O que aconteceu é que a pandemia veio dar um grande destaque à área da saúde, daí que a saúde não teria tido tanta preponderância neste projecto como está a ter, é um facto. Todo o programa de “Uma Faixa, Uma Rota” está a ser alvo de reestruturação e não sei se a saúde terá o papel predominante, mas terá sem dúvida um papel importante. Esse programa já não está a ser re-orientado para infra-estruturas físicas, porque muitos dos contratos estão a ser revistos e cancelados, e a China está a tentar re-orientar esta faceta para um desenvolvimento mais digital. A iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” não está posta em causa, mas vai ter de se adaptar às novas circunstâncias. E a Rota da Seda da Saúde vai ter um papel muito importante, até porque falamos também do sector agro-alimentar, à segurança alimentar e de produção de medicamentos.

A China sempre foi encarada como sendo um país com pouca credibilidade nessa área. De certa forma, o país cada vez mais se afasta dessa imagem.

Sim, sem dúvida. Podemos fazer a comparação com o surgimento do vírus SARS-Cov-1, em 2003, e vemos uma China muito mais preparada para lidar com crises de saúde pública. Portanto, isso é inegável e a China sempre se pautou por querer passar de um país onde não havia grande investigação científica e onde a formação dos quadros técnicos não era muito avançada, para um país onde o desenvolvimento se baseia na economia e na investigação. O sector da saúde é um grande exemplo disso. Em 2013, quando se criou a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, foi uma maneira de dar corpo ao que o Presidente chamou de “sonho chinês”. A China tem todo o potencial para, do ponto de vista internacional, ser vista como uma potência que ainda não atingiu certos patamares de excelência, mas que caminha a passos largos nesse sentido. Esta iniciativa que eles têm de receber equipas estrangeiras e de enviarem pessoal das suas universidades para o exterior é um sinal de abertura do país.

De certa maneira, olhando para a UE, a China ganhou terreno na resposta à pandemia?

É evidente que não podemos comparar os números chineses com os europeus porque a população é maior. Do ponto de vista da resposta que é dada, sim. É um assunto um pouco polémico, mas muitos media referem que a medicina tradicional chinesa (MTC) também tem ajudado no combate à covid-19, coisa que não acontece na Europa. Não há evidências científicas nesse sentido, se será a melhor via para o tratamento da doença, se é apenas um cuidado adicional. Mas a China também refere que conseguiu uma resposta eficaz à covid-19 pela via da MTC. A população chinesa também acata melhor regras e o uso de máscara é mais habitual.

A MTC tem estado muito presente no discurso político das autoridades chinesas. Mas, ao mesmo tempo, parece que a medicina ocidental está a prevalecer. Até que ponto é que a MTC vai manter o mesmo peso a nível da diplomacia chinesa?

Vai haver uma co-existência da MTC com a medicina ocidental, porque a China, apesar de se mostrar cada vez mais aberta a novos conhecimentos com o ocidente, e apesar de haver esta troca de conhecimentos a nível global, o país, por uma questão de herança cultural, não vai querer abandonar, de todo, a MTC. A MTC nunca vai desaparecer completamente e servirá talvez como um complemento à medicina ocidental. Os chineses encaram isso como uma coisa boa, tanto que a MTC nunca deixou de aparecer nos discursos oficiais. A China tem tentado, nas duas últimas décadas, atingir determinados objectivos de desenvolvimento sustentável segundo a agenda da ONU para 2030, e esse também é um sinal de que se pode contar com o país para assumir uma posição na arena global na área da saúde. Queria também frisar o plano que a China tem a nível interno, o Healthy China 2030, que é um programa do Governo chinês traçado antes da pandemia no sentido de implementar reformas no sector da saúde ao nível interno. Claro que não há nenhuma nação que pretenda ser um player importante na arena global sem ter primeiro os seus problemas internos resolvidos. O facto de implementarem esse plano, que visa que todos os chineses tenham acesso a cuidados de saúde primários, uma rede eficiente, e que todos tenham acesso a um seguro de saúde, é muito importante. Isso mostra que já havia uma preocupação com o sector da saúde e este plano também marca uma posição. Independentemente da pandemia, a China já queria ser um país com algum destaque na área da saúde.

Especialista diz para não se esperar uma conclusão da visita à China 

Dale Fisher, presidente da Global Outbreak Alert & Response Network, ligada à OMS, disse esta segunda-feira, na conferência Reuters Next, que não se deve esperar uma conclusão concreta da visita da OMS à China, a propósito da investigação da origem do novo coronavírus. “Estou mais inclinado para que as expectativas face a uma conclusão sejam muito baixas para esta visita. Penso que é uma visita importante mas não se deve exagerar relativamente ao surgimento de um resultado desta vez”, disse, citado pela Reuters. Esta quinta-feira uma equipa de peritos da OMS irá voar para Wuhan a partir de Singapura, confirmou ontem Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China. No entanto, ainda não está confirmado se a equipa da OMS terá de fazer quarentena à chegada ao país, não tendo sido também adiantados detalhes da visita.

13 Jan 2021

Educação | Apenas três escolas saíram de pódios de edifícios habitacionais 

A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) divulgou no seu último relatório anual, relativo ao ano de 2019, que apenas três escolas deixaram de estar instaladas em pódios de edifícios habitacionais desde 2015. “O Governo melhorou o ambiente de ensino dos edifícios escolares através de um planeamento a curto, médio e longo prazo. Entre 2015 e hoje três escolas (Escola Fu Luen, Escola Caritas e Escola São João de Brito) já saíram de pódios de edifícios”, pode ler-se.

O Governo promete continuar a desenvolver este projecto de re-alocação de escolas. “A DSEJ analisará as necessidades de desenvolvimento geral do sistema educativo, fornecerá sugestões junto do departamento de planeamento e cooperará com o planeamento geral de Macau, no sentido de melhorar o ambiente de ensino e proporcionar uma educação de maior qualidade.”

Ainda no que diz respeito à educação patriótica, a DSEJ garante que, até 2022, um total de 500 alunos de Macau vão participar por etapas no “Acampamento de Verão STEM”, a realizar-se no Interior da China, “a fim de melhorar a capacidade inovadora e a qualidade científica” desses mesmos estudantes. Esta iniciativa insere-se no programa piloto de acampamento educativo para jovens estudantes na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.

Segundo dados estatísticos da DSEJ, existiam, no ano lectivo de 2019/2020, um total de 77 escolas, incluindo dez escolas públicas e 67 particulares. Encontravam-se matriculados 80.463 alunos no ensino regular e 1.267 no ensino recorrente.

12 Jan 2021

Universidade Cidade de Macau | Sistema de tradução automática em desenvolvimento

A Universidade Cidade de Macau e a Universidade de Évora estão a desenvolver em conjunto um sistema de tradução automática e desde 2019 que existe um laboratório colaborativo em funcionamento para esse fim. Paulo Quaresma, professor catedrático da Universidade de Évora, espera obter resultados concretos já este ano

 

São dez os investigadores da área da informática e linguística ligados ao laboratório colectivo da Universidade de Évora (UE) e da Universidade Cidade de Macau (UCM), responsável por desenvolver um sistema de tradução automática português-chinês e chinês-português.

Esta iniciativa arrancou em 2018, mas só em 2019 é que foi criado o laboratório, explicou ao HM Paulo Quaresma, professor catedrático do departamento de informática da UE e responsável pelo projecto.

A ideia foi desenvolver “uma plataforma colaborativa para o desenvolvimento de recursos computacionais para as línguas portuguesa e chinesa”, por serem “duas das línguas mais faladas do mundo” e por ser “fundamental que sejam desenvolvidas ferramentas que permitam uma mais fácil comunicação e interacção entre falantes”.
Paulo Quaresma acredita que os primeiros resultados práticos deste projecto podem começar a sentir-se já este ano.

“É nossa forte convicção, com base no trabalho já desenvolvido e em curso e no novo equipamento em fase de instalação, que teremos resultados com desempenho bastante acima do actual estado da arte neste domínio durante este ano de 2021.”

Os responsáveis pelo projecto já estão a trabalhar em “várias soluções a disponibilizar aos cidadãos e a entidades públicas e privadas”. “Teremos o sistema de tradução automático mais tradicional, mas iremos, também, apostar na criação de serviços de elevado valor acrescentado, em que os utilizadores destes serviços poderão solicitar as traduções de documentos ou o apoio à realização de eventos específicos”, acrescentou Paulo Quaresma.

Milhões de financiamento

Este projecto está integrado no Laboratório de Inteligência Artificial e Big Data da UE e contou com o financiamento, por parte da UE, de 400 mil euros [3.9 milhões de patacas], montante financiado a 85 por cento pelo programa operacional Alentejo2020. Mas houve também o financiamento do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e Tecnologia (FDCT) de Macau, “que tem permitido financiar componentes fundamentais do projecto”, disse Paulo Quaresma.

Com o objectivo de responder aos desafios de tradução trazidos pelo projecto político nacional “Uma Faixa, Uma Rota”, o laboratório colectivo desenvolvido pela UE e UCM pretende “desenvolver sistemas de tradução automática chinês-português de elevada qualidade e desempenho, recorrendo às mais avançadas metodologias de inteligência artificial, nomeadamente, a aprendizagem automática e as redes neuronais profundas”.

No entanto, Paulo Quaresma reconhece as limitações e os desafios. “Embora a área da tradução automática tenha vindo a obter aumentos de desempenho bastante significativos nos últimos anos, a qualidade para o par de línguas chinês-português é, ainda, bastante baixa e há um longo e difícil caminho a percorrer.”

Com este projecto, a UCM torna-se na primeira universidade privada de Macau a desenvolver esta iniciativa, semelhante ao sistema de tradução automática já existente no Instituto Politécnico de Macau.

12 Jan 2021

China | Conselho de Estado publica novo Livro Branco sobre cooperação internacional 

O Conselho de Estado chinês publicou este fim-de-semana um novo Livro Branco sobre a cooperação da China com outros países, intitulado “O Desenvolvimento da Cooperação Internacional da China numa Nova Era”. No documento, a palavra de ordem é a harmonia, o multilateralismo e a ajuda aos países em desenvolvimento, com destaque para o apoio que o país tem dado a outras nações no âmbito do combate à pandemia

 

As autoridades chinesas acabam de publicar um novo Livro Branco que espelha os objectivos da China em matéria de cooperação internacional tendo em conta a agenda da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2030 e as relações bilaterais com muitos países de África e da América Latina.

O documento, publicado pelo Conselho de Estado chinês e disponibilizado pela agência estatal chinesa Xinhua, espelha bem a vontade da China de ser um actor que promove a harmonia e o multilateralismo na ordem mundial.

Um dos objectivos do país, em termos de cooperação internacional, passa por “promover uma comunidade global num futuro partilhado”. “Ao ajudar os outros países em desenvolvimento a reduzir a pobreza e a melhorar as condições de vida das pessoas, a China trabalha em conjunto para reduzir o fosso entre os países do norte e do sul, eliminando o défice de desenvolvimento e estabelecendo um novo modelo de relações internacionais”, pode ler-se.

Para os próximos anos, o país pretende desenvolver relações diplomáticas com outras nações com base no “respeito mútuo, igualdade, justiça e cooperação com ganhos mútuos”, por forma a construir “um mundo aberto, inclusivo onde persiste a paz, a segurança nacional e a prosperidade comum”.

O Livro Branco destaca também que “a cooperação sul-sul é o foco”. “Duas realidades não se alteraram: a China está na sua fase primária do socialismo e tal vai manter-se durante um longo período de tempo, e mantém-se a maior economia em desenvolvimento do mundo. O desenvolvimento da cooperação da China é uma forma de assistência mútua entre países em desenvolvimento”, refere o documento.

Neste contexto, o “Fundo de Assistência e Cooperação Sul-Sul” já tinha apoiado, até finais de 2019, um total de 82 projectos em cooperação com 14 organizações internacionais, muitas delas ligadas à ONU, como a UNICEF ou a Organização Mundial de Saúde (OMS).

“Estes projectos cobrem áreas como o desenvolvimento da agricultura e a segurança alimentar, a redução da pobreza, cuidados de saúde para mulheres e crianças, resposta a emergências de saúde pública, educação e formação, reconstrução após desastres, protecção de migrantes e refugiados e ajuda no comércio”, apontam as autoridades.

A política “Uma Faixa, Uma Rota” continuará a ser “uma enorme plataforma”, enquanto que o país pretende “ajudar os outros países em desenvolvimento a atingir a agenda da ONU 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”.

“A Agenda2030 é um guia para a cooperação em matéria de desenvolvimento em todo o mundo e tem muito em comum com a iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’. A comunidade internacional fez progressos iniciais face aos objectivos da Agenda nos últimos anos, mas o desenvolvimento global mantém-se desequilibrado e inadequado.”

As autoridades chinesas alertam para o facto de a “pandemia da covid-19 constituir uma séria ameaça à Agenda 2030, impondo a difícil tarefa de atingir os objectivos em todos os países e populações de acordo com o calendário”.

Neste sentido, “através da cooperação internacional na melhoria da capacidade de desenvolvimento e na optimização de parcerias de desenvolvimento, a China tem vindo a ajudar outros países em desenvolvimento a mitigar o impacto da pandemia, para que se possa acelerar a acção da Agenda 2030 e atingir a prosperidade comum”.

Sobre a covid-19

O Livro Branco destaca ainda a ajuda que a China tem dado a outros países no combate à pandemia da covid-19, considerada “a maior missão de assistência humanitária em larga escala desde 1949”, data da fundação da República Popular da China. Foram doados ventiladores e outro equipamento médico a 150 países e a dez organizações internacionais. Além disso, até Outubro do ano passado a China já tinha enviado 35 equipas médicas para 33 países para o combate à pandemia.

O documento divulgado pelo Conselho de Estado chinês dá também conta da aposta do país “no apoio a mecanismos multilaterais e organizações no combate à pandemia”, nomeadamente no que diz respeito aos fundos doados a entidades como a OMS ou outras entidades regionais.

Uma “China transparente”

Para Paulo Duarte, investigador português na área da política “Uma Faixa, Uma Rota” este Livro Branco não traz nada de novo e é mais uma forma de Xi Jinping mostrar uma China que promove a harmonia mundial e a transparência. “É um documento que surge da vontade de Xi Jinping de tornar a China num país mais transparente e vem muito na linha daquilo que tem sido o multilateralismo chinês”, defendeu ao HM.

Este Livro Branco divulgado pelo Conselho de Estado chinês “é mais um documento que visa demonstrar o rosto de uma China preocupada com os grandes objectivos da agenda da ONU para 2030, [relacionados com a] sustentabilidade e governação global”.

“Esta é uma narrativa que Xi Jinping tem vindo a procurar divulgar. Estes documentos mostram a China como um actor responsável e vão consolidar a posição do país, do sonho chinês, da comunidade com um destino comum, da política ‘Uma Faixa, Uma Rota’, a fim de diminuir a ideia de que a China é um actor incompreendido ou receado pelo mundo”, acrescentou Paulo Duarte.

Num documento onde proliferam várias informações sobre as acções de apoio desenvolvidas pela China em vários países, tal como na área da saúde e de investimento em infra-estruturas, faz-se uma espécie de “auto-elogio”, de um país que “tem vindo a apostar no apoio mútuo, na formação de pessoas, na cooperação Sul-Sul”.

Neste contexto, “a China não coloca tanto ênfase no Norte-Sul mas coloca-se sim como um porta-voz que vai ajudar os países do sul a desenvolver-se”. “Há a ideia de que os ganhos da China só fazem sentido se forem partilhados com o resto da humanidade, e vice-versa”, adiantou Paulo Duarte.

Do timing

Questionado sobre o facto de a China publicar este Livro Branco a dias da tomada de posse de Joe Biden como Presidente dos EUA, o investigador português não estabelece uma relação directa, mas defende que a guerra comercial não acabará de um momento para o outro.

“Não vejo aqui nenhuma relação de causalidade com Joe Biden, embora admita que a China foi extremamente cuidadosa e esperou até ao fim antes de saudar o vencedor das eleições dos EUA.”

Em matéria de cooperação com os norte-americanos, “será muito complicado, se não impossível, ser pior do que Trump”. “Mas não acredito que a guerra comercial vá acabar. O que Trump fez, à sua maneira, foi fazer o que os outros pensam em silêncio”, disse Paulo Duarte, referindo-se a algumas posições de desequilíbrio para as empresas ocidentais com presença no mercado chinês.

Este Livro Branco constitui, portanto, “um auto-elogio na ajuda à saúde, do cancelamento da dívida, da ajuda no desenvolvimento de outros Estados”, sempre na “óptica do altruísmo, de uma China que, mais do que cobrar, procurar partilhar os seus frutos com os outros países”.

Há também, com este documento, uma mensagem política relativa ao partido predominante no país. “São narrativas que se criam para justificar a manutenção do Partido Comunista Chinês no poder, porque os chineses são bastante cautelosos face ao que aconteceu com a URSS, com a queda abrupta do regime. A China pode ser altruísta, mas tem um controlo mais apertado das liberdades pessoais”, rematou Paulo Duarte.

12 Jan 2021

Projecto mao-mao quer fazer espectáculos com poesia de trabalhadores chineses

O escritor Valério Romão integra, juntamente com o poeta José Anjos, Pedro Salazar, Paula Cortes e Sandra Martins o projecto mao-mao, que dá uma roupagem musical a poemas escritos por trabalhadores de fábricas chinesas. Depois do lançamento de dois vídeos online o grupo quer dar concertos em Portugal, revelando, através da música e das palavras, um outro mundo da China dos dias de hoje

 

Muito antes de conhecer Eleanor Goodmand pessoalmente, em Macau, já o escritor Valério Romão tinha tido contacto com a colectânea de poemas escritos por trabalhadores chineses, intitulada “Iron Moon: An Anthology of Chinese Worker Poetry”. Daí até musicar e tocar em palco alguns desses poemas foi um pequeno passo.

Depois de um vídeo lançado em Dezembro, e de estar agendado o lançamento de um outro ainda este mês, o projecto mao-mao pretende dar concertos em Portugal assim que a pandemia da covid-19 permitir mais deslocações e espectáculos. O grupo mao-mao é composto por Valério Romão, que traduziu alguns poemas da versão inglesa para português, José Anjos, musico e poeta, Paula Cortes, Sandra Martins e Pedro Salazar.

Ao HM, Valério Romão confessou ter ficado “muito impressionado com a força daqueles poemas”. “Tivemos um apoio pontual do Fundo das Artes do Ministério da Cultura e conseguimos montar um espectáculo com base nas poesias destes trabalhadores, que são tão inesperadas quanto a força que têm”, adiantou. Além do apoio institucional do Ministério da Cultura em Portugal, os mao-mao contam também com a ajuda do departamento cultural da APIOT – Associação para a Igualdade de Oportunidades no Turismo.

Neste projecto, Valério Romão destaca os poemas de Xu Lizhi, um trabalhador da FoxConn, onde são produzidos os produtos da Apple, que cometeu suicídio aos 24 anos. “Era um daqueles trabalhadores migrantes que existem aos milhões na China, com condições muito precárias. O nome da antologia é retirado de um verso de um poema dele e revela muito bem a força daquela poesia, o desespero e as condições em que os trabalhadores vivem.”

“Não sendo uma poesia estritamente documental é impossível não ver nela uma leitura muito crua e honesta e com muita força da realidade deste mundo globalizado”, acrescentou Valério Romão.

A outra China

“Filho” é o nome do tema de apresentação dos mao-mao e foi composto a partir de um poema de Chen Nianxi, trabalhador mineiro nascido em 1970 na província de Xianxim. Este tema fez parte do primeiro vídeo do projecto divulgado nas redes sociais em Dezembro, tendo sido gravado na Escola de Mulheres – Oficina de Teatro em Agosto do ano passado.

Para Valério Romão, o projecto Mao-Mao acaba por mostrar um outro lado da China contemporânea que nem sempre os portugueses e os ocidentais, no geral, conseguem ver, apesar das notícias diárias que enchem os media.

“Vai ajudar, de certa forma, a humanizar o desconhecido, porque a China é ainda o outro lado do mundo. Vai ajudar a compreender também de onde vêm as coisas que se compram muito baratas. É importante que as pessoas percebam isso, que haja essa percepção de que as condições de trabalho não são iguais em todos os lugares do mundo.”

Valério Romão defende que os poemas musicados de “Iron Moon” revelam uma realidade semelhante à de muitos ocidentais, que se deparam com difíceis condições de vida, baixos salários e condições precárias de trabalho.

“Embora estes poemas não tenham sido, de todo, alvo de tentativas de silenciamento, de certa forma mostram uma face menos bonita da China contemporânea, apesar do lustro das suas cidades cosmopolitas, gigantes e aparentemente super modernas. Tudo isso tem um custo e esse custo muitas vezes não aparece no enquadramento da fotografia que a China passa para o resto do mundo”, rematou.

11 Jan 2021

Banco Mundial | Economia chinesa deverá crescer 7,9 por cento este ano, diz relatório 

Um relatório do Banco Mundial com as previsões económicas para este ano, divulgado terça-feira, dá conta de um crescimento da economia chinesa na ordem dos 7,9 por cento este ano, quase o dobro da previsão feita a nível mundial. A recuperação económica do país “tem sido sólida, mas irregular”. O consumo interno poderá ser a saída para a crise

 

Foi o país onde se registaram os primeiros casos do novo coronavírus, mas foi também dos primeiros a recuperar de uma profunda crise económica. Prova disso são as projecções feitas pelo Banco Mundial para a economia chinesa este ano, divulgadas na terça-feira no relatório “2021 Global Economic Prospects”.

O documento dá conta de que a economia chinesa deverá crescer 7,9 por cento este ano, quase o dobro do crescimento global económico previsto que é de 4 por cento.
No entanto, o crescimento chinês continua a estar “abaixo das projecções prévias devido a uma procura mais reprimida”.

“Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) regresse aos níveis pré-pandemia em 2021, deverá continuar a estar dois por cento abaixo das projecções feitas para 2022, [dada] a acentuada crise com origem em vulnerabilidade e desequilíbrios anteriores”, lê-se.

O relatório do Banco Mundial dá ainda conta de que no ano que agora terminou o crescimento económico da China desacelerou em dois por cento, o valor “mais baixo desde 1976 mas acima das projecções prévias, o que ajudou a um controlo efectivo da pandemia e do estímulo ao investimento público”. No país, “a recuperação tem sido sólida mas irregular, com os serviços de consumo a ficarem atrás da produção industrial”.

A China parece ser, assim, a excepção à regra, numa altura em que a covid-19 não dá sinais de abrandar na maior parte dos países, tal como em mercados mundiais importantes como a zona Euro ou os EUA. “Apesar de se prever um crescimento das economias em desenvolvimento na ordem dos cinco por cento em 2021 e um valor moderado de 4,2 por cento em 2022, a melhoria vai reflectir-se largamente na expectável recuperação da China.”

“Recuperação robusta”

O Banco Mundial denota que “a actividade da economia global, que começou a sua recuperação em meados de 2020, foi moderada”. “A queda do investimento global o ano passado foi acentuada, em particular nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento, com a exclusão da China”, acrescenta. Desta forma, “a recessão global de 2020 foi, de certa forma, menos elevada do que o esperado devido a contracções menos profundas nas economias desenvolvidas e uma recuperação robusta na China, enquanto que a maior parte das economias em desenvolvimento registaram recessões profundas”.

O relatório prevê ainda que as economias desenvolvidas possam ter um crescimento de 3,3 por cento este ano e de 3,5 por cento em 2022, “tendo como pano de fundo a contenção da pandemia com a ajuda da vacinação em massa e uma política monetária sustentável”, além de outras políticas de benefícios fiscais.

No próximo ano, o Banco Mundial prevê que o crescimento económico global seja “moderado”, na ordem dos 3,8 por cento, um valor “avaliado em baixa devido aos danos causados pela pandemia a um potencial crescimento”. “Em particular, o impacto da pandemia no investimento e no capital humano deverá eliminar projecções de crescimento nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento, atrasando objectivos de desenvolvimento estabelecidos”, acrescenta o relatório.

Consumo é o caminho

Citado pelo jornal China Daily, Ning Jizhe, vice-ministro da Comissão do Desenvolvimento Nacional e da Reforma do Governo chinês, disse que o país vai manter uma política fiscal pró-activa e uma política monetária prudente, além de se apostar numa estabilização da economia a um nível “razoável” este ano, apesar das incertezas do ambiente externo.

O optimismo económico impera também num artigo de análise publicado pela agência noticiosa Xinhua esta terça-feira, intitulado “Novas tendências a observar para a economia chinesa em 2021”. É referido que o “consumo pode emergir como uma chave para o crescimento da economia em 2021 devido à recuperação do mercado laboral, a recuperação da confiança no consumo e uma maior política de apoio”.

A Xinhua escreve que foram criados 10,99 milhões de novos empregos nas cidades nos primeiros 11 meses do ano passado, esperando-se a continuação da tendência este ano. A agência cita um relatório do banco de investimentos Morgan Stanley que refere que o mercado laboral “pode regressar aos níveis pré-pandemia com mais empregos disponíveis nos segmentos de serviços, o que vai contribuir para a recuperação do consumo privado”.

Os analistas do Morgan Stanley prevêem também que o consumo privado cresça 12,4 por cento este ano, desempenhando um papel mais importante do que as exportações e o investimento em infra-estruturas. “Além disso, o papel do consumo está a fomentar a economia chinesa e espera-se que surjam mudanças estruturais em 2021 e nos anos seguintes”, pode ler-se.

Citado pela Xinhua, Gao Ting, director de investigação e chefe de estratégia na consultora Nomura Orient International Securities, disse que a área de serviços tem muito espaço de recuperação este ano, sobretudo ao nível do turismo, entretenimento e educação.

“Mesmo de uma perspectiva de longo prazo, a percentagem do consumo no PIB tem vindo a aumentar ao longo dos anos. Penso que esta tendência vai continuar”. A ideia é que os consumidores chineses gastem mais em serviços e produtos.

O mesmo artigo da Xinhua dá conta de que a China “irá manter as suas políticas macroeconómicas consistentes, estáveis e sustentáveis em 2021”. Além disso, “numa altura em que a cooperação e a coordenação são mais importantes do que nunca, espera-se que a China continue a abrir-se ao mundo e a garantir um sistema de comércio multilateral”.

Ainda em relação às previsões do Banco Mundial, faz-se ainda uma análise em baixa caso a pandemia continue a propagar-se, embora a China continue a registar um cenário económico satisfatório.

“Num cenário em baixa, novos casos de covid-19 podem manter-se altos de forma persistente em vários lugares do mundo e o processo de vacinação mais lento devido a impedimentos logísticos, o que causa uma relutância em relação à imunização. Nestas circunstâncias, o crescimento económico global deverá ser moderado, com uma recuperação de apenas 1,6 por cento em 2021 e 2,5 por cento em 2022.”

O Banco Mundial defende ainda que as economias desenvolvidas podem expandir-se, neste cenário, 0,6 por cento, enquanto que as economias em desenvolvimento deverão crescer apenas 1,6 por cento, “à exclusão da China”.

11 Jan 2021

Táxis | Maioria dos veículos já instalou sistema inteligente 

A maior parte dos táxis em circulação, 98 por cento, já possui o “sistema de terminal inteligente de táxi”, implementado com a nova lei. A garantia foi dada pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) numa resposta a uma interpelação escrita da deputada Agnes Lam.

“Até 8 de Dezembro deste ano 1771 táxis já tinham o sistema instalado, representando cerca de 98 por cento do número total de táxis em operação. Registaram-se mais de dois milhões de transacções, das quais 104 registaram anomalias, representando cerca de 0,005 por cento do total.”

Lam Hin San, director da DSAT, adiantou também que “caso se verifique que a situação anormal do sistema é provocada por erro de instalação ou configuração por parte do fornecedor, esta direcção de serviços exige ao mesmo que pague a indemnização correspondente ao condutor de táxi afectado, dando o devido acompanhamento de acordo com o contrato”.

Em relação às críticas apresentadas pelo sector sobre a obrigatoriedade de instalação do sistema, Lam Hin San adiantou que o assunto foi devidamente discutido e analisado em sede de comissão permanente da Assembleia Legislativa, além de que o sector dos táxis foi também ouvido sobre a gravação de som e imagens. “Os dados recolhidos pelo sistema estão em conformidade com as disposições da lei de protecção de dados pessoais e são utilizados para fiscalizar os serviços de táxi e para tomar decisões sobre as questões de trânsito pelo Governo, sendo isso diferente do modelo de gestão do sistema de táxis do interior da China”, rematou o director da DSAT.

8 Jan 2021

Jogo | Snow Lake pede à MGM para alienar 20 % dos negócios na China 

A empresa de investimentos Snow Lake, que detém 7,5 por cento da MGM China Holdings International, enviou uma carta à MGM Resorts International onde pede que esta venda 20 por cento dos seus negócios na China. A transacção serviria para investir mais no Japão e no segmento não jogo na MGM China e Macau, lê-se na carta consultada pela Reuters

 

A MGM Resorts International recebeu uma carta da Snow Lake, uma empresa de investimentos que detém 7,5 por cento da concessionária MGM China Holdings International, onde é pedido que esta venda 20 por cento dos negócios de jogo que detém na China a um parceiro estratégico. Segundo a agência Reuters, a Snow Lake defende na carta que esta seria uma “transacção com ganhos mútuos” para todos.

A venda dos 20 por cento serviria não só para a MGM investir no mercado de jogo no Japão, na cidade de Osaka, mas também para trazer mais recursos para o segmento não-jogo na MGM China e Macau.

“Ao introduzir uma empresa chinesa líder no consumo online ou na área do turismo e lazer, como um investidor estratégico para esses 20 por cento, iria aumentar significativamente a exposição da MGM China ao sector não jogo e pode ser um instrumento para a diversificação do turismo e da economia de Macau”, escreveu Sean Ma, fundador da Snow Lake e administrador financeiro. A Reuters contactou a MGM para tentar obter uma reacção a esta carta, mas a concessionária não reagiu.

A Snow Lake identificou também potenciais parceiros para esta transacção, que serviria também para um novo posicionamento no mercado de jogo em 2022. A carta faz referência a um “factor-chave diferenciador” para a MGM, com empresas como a Meituan, Trip.com Group, Huazhu Group Limited e Sunac China Holdings.

Resposta a Hong Kong

A empresa de investimentos defende também na mesma missiva que o futuro parceiro da MGM Resorts International poderia beneficiar também desta transacção, numa altura em que Macau “poderia ultrapassar Hong Kong e tornar-se num destino líder para o mercado interno de turismo na China, devido aos recentes constrangimentos em Hong Kong com os protestos e a pandemia”.

Além disso, a Snow Lake defende que uma transacção deste género iria permitir à MGM amenizar a sua oferta pela Entain PLC, um operador que detém a empresa de apostas online britânica Ladbrokes Coral. A Snow Lake sempre defendeu o potencial de uma maior ligação com a Entain PLC. “Uma aquisição da Entain PLC faz muito sentido para a MGM Resorts International, uma vez que o mercado online norte-americano representa uma oportunidade de crescimento a longo prazo”, descreve a Snow Lake na carta.

8 Jan 2021

TUI decide a favor de funcionário despedido por tirar fotografias a homens nus 

O Tribunal de Última Instância (TUI) decidiu a favor de um funcionário dos Serviços de Alfândega (SA) que foi demitido por tirar fotografias a homens nus nos balneários do Instituto Politécnico de Macau (IPM). O homem era técnico administrativo de segunda classe dos SA e, a 7 de Setembro de 2017, quando ainda se encontrava em funções, saiu do serviço e tirou as fotografias nos balneários. Segundo o acórdão, “a sua conduta foi descoberta pelas partes, que decidiram exigir responsabilidades a A [funcionário]”.

Posteriormente a polícia acabaria por descobrir as imagens dos homens no telemóvel do funcionário. A 18 de Setembro de 2017, o funcionário “foi interrogado pelo instrutor do processo disciplinar, o qual admitiu ter tirado fotografias secretamente naquele dia no local da ocorrência”. A 18 de Outubro do mesmo ano, o funcionário pediu a cessação das suas funções, tendo sido demitido, por ordem do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, a 6 de Abril de 2018. O funcionário recorreu desta decisão para o Tribunal de Segunda Instância, que anulou a decisão do Governo. A secretaria para a Segurança recorreu depois para o TUI, que entende agora que o funcionário deve regressar ao posto de trabalho.

Os juízes entenderam que este caso, que constitui um crime semi-público, tem “uma percepção negativa na comunidade”, que pode afectar “o prestígio e a dignidade dos trabalhadores da Função Pública e da própria Administração, pondo em causa também a confiança neles depositada”. No entanto, o tribunal recorda que foi o próprio funcionário a pedir para cessar os serviços, “o que demonstra que reconheceu o mal causado pelo seu comportamento”. Além disso, “os ilícitos praticados por A não têm nada a ver com as funções públicas que ele desempenhava, os quais foram praticados fora do local de trabalho”. O TUI entende, portanto, que “neste contexto a aplicação da pena de demissão, tal como fez a entidade recorrida, é excessiva e desproporcionada”.

7 Jan 2021

Jack Ma, fundador do grupo Alibaba, não está, afinal, desaparecido 

O bilionário chinês Jack Ma não aparece em público há cerca de dois meses desde que criticou o sistema bancário em vigor na China, e de imediato a especulação sobre o seu desaparecimento, devido a pressões políticas, se fez sentir. No entanto, uma fonte familiar confirmou ao canal norte-americano CNBC que o empresário está afastado e não desaparecido

 

Afinal o bilionário chinês Jack Ma, fundador do grupo Alibaba, não está desaparecido, mas apenas escondido, retirado da esfera pública. As especulações sobre o seu desaparecimento começam a surgir na imprensa internacional nos últimos dias, uma vez que Jack Ma não aparece em público há cerca de dois meses. No entanto, uma fonte familiar confirmou esta terça-feira ao jornalista David Faber, do canal norte-americano CNBC, que Jack Ma está apenas retirado.

“O que posso dizer é que muito provavelmente ele está em Hangzhou, onde fica a sede do grupo Alibaba, e está menos visível de propósito. Mas isso não significa que esteja desaparecido”, explicou o repórter.

Os media internacionais destacaram o facto de o súbito desaparecimento de Jack Ma ter ocorrido depois de este ter feito duras críticas ao sistema bancário chinês num fórum, que decorreu em Outubro do ano passado. O empresário, com 56 anos de idade, apelou à realização de reformas profundas e pediu às autoridades chinesas para “não utilizarem a regulamentação de ontem para gerir o futuro”, tendo dito que o país precisa de “menos burocracia” neste campo.

Jack Ma terá referido ainda, na mesma ocasião, que “os bancos chineses operam com uma mentalidade de loja de penhores”.

Depois destas opiniões, Jack Ma não fez a esperada aparição no último episódio do programa “Africa’s Business Heroes”, um programa de talentos da fundação com o seu nome através do qual dez empresários africanos emergentes recebem uma bolsa para concretizarem as suas ideias. O facto de o empresário não ter aparecido num programa ligado à sua própria fundação fez soar os alarmes de um possível desaparecimento devido a pressões políticas.

Depois destas críticas, feitas em Xangai, o país pediu uma Oferta Pública Inicial (OPA) ao grupo Ant, que é o braço financeiro do grupo Alibaba, no valor de 37 mil milhões de dólares, naquela que era uma tentativa da empresa abrir o seu capital ao público.

Mas as mudanças não se ficaram por aqui: o Governo chinês iniciou depois uma investigação às empresas do grupo, acusando-as de assinar acordos exclusivos. Para o regulador, a empresa expandira a sua participação na cadeia de lojas Intime Retail sem autorização, tendo aplicado uma multa à China Literature, uma subsidiária de livros electrónicos que também está sob alçada do grupo Alibaba.

O grupo Ant, que detém o sistema Alipay, um dos maiores a nível de pagamentos digitais, foi ainda autorizado pelas autoridades a reduzir as operações, referindo que a governação corporativa da empresa “não era sólida”. Citado pela CNN, o analista de mercado da Oanda, Jeffrey Halley, considerou logo óbvio na altura que “os comentários claramente não ressoaram nos corredores do poder em Pequim”.

Mudanças de horário

Esta segunda-feira, uma assessora de imprensa do grupo Alibaba disse à Reuters que o não aparecimento de Jack Ma no programa se deveu a alterações da sua agenda pessoal, tendo recusado fazer mais comentários.
Também à Reuters, Duncan Clark, autor do livro “A Casa que Jack Ma construiu”, defendeu que o empresário optou apenas por se afastar da vida pública de forma temporária. “Penso que lhe foi dito para se afastar. Esta é uma situação sem precedentes, e está mais ligada ao que aconteceu com o grupo Ant e com as sensibilidades em torno da regulação financeira”, disse.

O entrave das autoridades chinesas à OPA fez com que o grupo Ant tenha ficado afastado da entrada em bolsa de valores, de Hong Kong e Xangai, por um período de seis meses, escreveu o jornal Financial Times. O diário britânico adiantou ainda que o valor da operação poderá ser também “drasticamente” menor, citando fontes envolvidas na operação e investidores.

A entrada nas bolsas de valores de Xangai e de Hong Kong poderá ser uma realidade depois das alterações exigidas pelo regulador. Este deseja que as plataformas online do grupo Ant providenciem 30 por cento do financiamento dos seus empréstimos, ao contrário dos dois por cento de financiamento.

Cultura que mata

O nome de Jack Ma está também associado a uma cultura de excesso de trabalho no sector da tecnologia, conhecida por “996”. Esta segunda-feira faleceu um trabalhador da empresa chinesa Pinduoduo, que opera na área do comércio electrónico, com apenas 22 anos. Segundo os media internacionais, a morte aconteceu de madrugada, à 1h30, quando o trabalhador saía do trabalho, no dia 29 de Dezembro. A empresa não apresentou uma causa oficial para o falecimento do funcionário, mas acredita-se que terá ocorrido por excesso de trabalho. Nas redes sociais, nomeadamente no Weibo, tem sido muito falada a morte de Zhang, que está a ser identificada como uma vítima da cultura “996”. De frisar que, em Abril de 2019, Jack Ma chegou a dizer que foi “uma enorme benção” trabalhar muitas horas, com um total de 72 horas semanais, quando era um jovem empregado.

Apps chinesas banidas

O ainda Presidente dos EUA, Donald Trump, assinou ontem uma ordem executiva que bane as transacções de oito aplicações chinesas, incluindo as plataformas de pagamentos electrónicos Alipay, QQ Wallet e WeChat Pay. A ordem passa a estar em vigor daqui a 45 dias e deve-se a uma alegada ameaça à segurança nacional dos EUA. Segundo a BBC, a ordem executiva determina que “os EUA devem adoptar acções agressivas contra aqueles que desenvolvem ou controlam aplicações de software chinês a fim de proteger a sua segurança nacional”. A ordem assinada por Trump refere ainda que “ao aceder a aparelhos electrónicos pessoais como smartphones, computadores ou tablete, as aplicações de software chinês podem aceder e capturar informações dos seus utilizadores, incluindo informações sensíveis, pessoais e privadas”. O Governo chinês já reagiu, acusando os Estados Unidos de usarem indevidamente a segurança nacional como pretexto para prejudicarem empresas chinesas.

7 Jan 2021

Escultor português João Cutileiro morreu ontem aos 83 anos 

O escultor português João Cutileiro morreu esta terça-feira aos 83 anos, em Lisboa. A confirmação do óbito foi feita à agência Lusa por Ana Paula Amendoeira, directora regional de cultura do Alentejo. Segundo Ana Paula Amendoeira, João Cutileiro estava internado num hospital de Lisboa com graves problemas do foro respiratório. O jornal Público escreveu que o seu falecimento se deveu a complicações provocadas por um enfisema pulmonar.

O trabalho de Cutileiro chegou a estar presente em Macau por diversas vezes. Uma delas foi em 1999, no ano da transferência de soberania do território para a China, quando foi instalado, no jardim do Centro Cultural de Macau, um barco de pedra e cavaleiros preparados para a guerra. O grupo escultórico seria inaugurado nesse ano, a 19 de Março, pelo então Presidente da República portuguesa, Jorge Sampaio.

Esse trabalho de João Cutileiro foi inspirado nos guerreiros de terracota de Xian – os cavaleiros – e no barco do lago do Palácio de Verão de Pequim, e tem um peso de 79 toneladas. As peças foram esculpidas em ruivina e mármore cinzento de Estremoz durante um período de três anos.

À época, as esculturas dos cavaleiros e o barco estavam colocadas frente a frente e “preparadas para a guerra” num lago artificial que será equipado com jogos de água que vão criar uma neblina em volta das peças.

Em Macau, João Cutileiro desenvolveu ainda uma peça exposta no átrio do Centro Hospitalar Conde de São Januário, que custou ao Executivo cerca de três milhões de patacas. “Dragão”, outra peça datada de 1999 e criada a pedido do arquitecto Francisco Caldeira Cabral, foi também desenvolvida por Cutileiro para a zona do Canal dos Patos.

Natural do Alentejo

João Cutileiro era um dos mais importantes escultores portugueses. Sobre ele, Ana Paula Amendoeira destacou a particularidade do seu trabalho, cujo método “não era vulgar” entre “outros artistas”. “João [Cutileiro] tem o hábito de fazer maquetas reais, em pedra, das suas obras. No fundo, são esculturas, obras originais, a uma escala menor do que aquelas que ficam nos locais públicos”, indicou. Cutileiro trabalhou sobretudo com mármore e ao longo da sua carreira fez várias obras sobre a identidade e história de Portugal. Um dos exemplos é o monumento ao 25 de Abril, instalado no Parque Eduardo VII, em Lisboa. O escultor era irmão do diplomata e escritor José Cutileiro, que morreu em Maio de 2020.

Nascido em Pavia, no concelho de Mora, no ano de 1937, João Cutileiro estava radicado na cidade de Évora onde tinha uma oficina desde 1980. Foi graças a uma viagem a Itália, mais particularmente a Florença, no início da década de 50, que o escultor decidiu inscrever-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa onde, no entanto, esteve apenas dois anos.

6 Jan 2021

Turismo | Média diária de visitantes sobre 13% face a Outubro 

Entraram em Macau, entre os dias 31 de Dezembro e 3 de Janeiro, uma média diária de 21 mil pessoas, o que representa um aumento de 13 por cento face a Outubro. Os dados da Direcção dos Serviços de Turismo revelam ainda que houve, neste período, uma ocupação hoteleira superior a 67 por cento

 

São números ainda menores se comparados com o período áureo do turismo em Macau, mas ainda assim revelam ligeiras melhorias. Uma média diária de 21 mil pessoas entrou no território no período posterior às férias de Natal, entre os dias 31 de Dezembro e 3 de Janeiro, o que constitui um aumento de 13 por cento em relação ao mês de Outubro.

É o que revelam os dados ontem divulgados pelos Direcção dos Serviços de Turismo (DST), que alertou, contudo, para a manutenção “da situação epidémica bastante instável tanto no interior da China como em Macau”. O organismo lembra, contudo, que estes números se podem explicar devido “à retoma da emissão de documentos de viagem turísticos a residentes do Interior da China para deslocação a Macau e na divulgação de Macau como destino seguro e acessível”.

Entre os dias 31 de Dezembro e 3 de Janeiro, entraram 19.629 pessoas do Interior da China, 1.368 de Hong Kong, 242 de Taiwan e apenas três pessoas vindas de outros países ou regiões.

Na véspera da passagem de ano, mais de 30 mil pessoas entraram no território, considerado “o maior número de visitantes acolhidos num só dia nos últimos 11 meses”.

Dados provisórios do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) revelam também que o segundo dia com mais visitantes ocorreu a 20 de Novembro, quando tiveram lugar os treinos para o Grande Prémio de Macau. Nessa data entraram em Macau 28.247 visitantes, enquanto o terceiro dia com mais visitantes aconteceu no dia 25 de Dezembro, dia de Natal, com 27.755 visitantes.

Quartos mais cheios

Os últimos dias do ano ficaram também marcados por números mais positivos em termos de ocupação hoteleira, uma vez que a taxa foi de 67,2 por cento entre os dias 31 de Dezembro e 3 de Janeiro. Os hotéis de três a cinco estrelas registaram taxas de ocupação de 73, 69,9 e 67,6 por cento, respectivamente.

Relativamente aos preços praticados, a média de valor cobrado por quarto foi de 1.127,6 patacas, sendo que os hotéis de cinco estrelas marcaram uma média de preços de cerca de 1.447,7 patacas. No caso dos hotéis de quatro estrelas, o valor foi de 701,1 patacas, enquanto que os hotéis de três estrelas cobraram 694,2 patacas por quarto. Já os hotéis de duas estrelas cobraram 250,3 patacas, enquanto que nas pensões cada quarto custou 243,9 patacas.

Face à semana dourada de Outubro, quando se celebrou o aniversário da República Popular da China, o preço médio por quarto de hotel teve um aumento de 7,6 por cento.

A fim de captar mais visitantes para o território, que tem sofrido um enorme impacto com a pandemia da covid-19, a DST reiterou que pretende prosseguir com as actividades de promoção da RAEM como destino turístico.

“Durante o ano passado o Governo tem colaborado com a Tencent, Alibaba, Trip. com, UnionPay International e a Air Macau na divulgação de informações e descontos, para atrair visitantes a Macau, encorajar o dispêndio turístico, prolongar o tempo de estadia na cidade, impulsionado economicamente os diferentes sectores”, lê-se no comunicado.

6 Jan 2021

ANIMA | Associação quer apoio da Fundação Macau já este mês 

As dificuldades financeiras da ANIMA continuam e, neste momento, a associação de defesa dos direitos dos animais depara-se com um défice de 2,7 milhões de patacas. Nesse âmbito, foi feito um pedido urgente à Fundação Macau (FM) para que a associação possa obter ajuda financeira, contou Billy Chan, presidente da ANIMA, ao HM.

“Habitualmente candidatamo-nos aos apoios da FM no início de cada ano e já informamos a FM para ver se podem aprovar o nosso pedido mais cedo, para ver se nos podem depositar o dinheiro já em Janeiro, para que possamos ter algum dinheiro em caixa para pagar as dívidas dos últimos meses. Continuamos à espera de resposta.”

A ANIMA pediu cinco milhões de patacas, um valor semelhante ao que foi pedido o ano passado, mas não tem a certeza se o seu pedido de urgência será atendido. “O ano passado a FM deu-nos apoio no início do ano mas este ano não sei como vai ser, porque a situação financeira em Macau e no mundo tem vindo a piorar. Se a FM aprovar o orçamento para 2021 e o nosso apoio penso que podemos resolver a nossa situação, caso contrário vamos precisar de mais dinheiro todos os meses.”

Funcionários despedidos

Sem novos encontros com responsáveis dos casinos para a tentativa de obtenção de donativos, a ANIMA viu-se obrigada a despedir alguns funcionários para cortar nas despesas. “Todo o orçamento de 2021 foi revisto e tentámos cortar algumas despesas, por exemplo relacionadas com os recursos humanos. Começamos em Novembro a despedir algumas pessoas mas isso não ajudou.”

Os despedimentos podem mesmo não ficar por aqui, assegura Billy Chan. “Este ano talvez precisemos de cortar com mais pessoal e encontrar diferentes canais de financiamento, novos métodos para obter donativos. Pode levar algum tempo até isso ser concretizado.”

A última vez que a ANIMA reuniu com responsáveis dos casinos foi em meados de Agosto e Setembro do ano passado, mas até agora as respostas têm sido nulas. “Desde aí que as coisas têm estado mais complicadas”, rematou o responsável.

5 Jan 2021

João Ferreira, candidato à Presidência da República portuguesa: “Há campo para aprofundar cooperação com Macau”

Eurodeputado e candidato do Partido Comunista Português às eleições para a Presidência da República em Portugal, João Ferreira afirma que, caso vença o acto eleitoral marcado para o dia 24 de Janeiro, tudo fará para assegurar uma maior proximidade do Estado português à comunidade portuguesa residente em Macau. João Ferreira defende melhores serviços consulares e um maior aproveitamento da relação histórica com o território

 

Que significado tem a sua candidatura no contexto da diáspora portuguesa?

Esta é uma candidatura à Presidência da República que não pode deixar de ter presente na sua intervenção a enorme diáspora espalhada pelo mundo. É importante ter presente o que foram as motivações de muitos desses portugueses que foram procurar em outras paragens pelo mundo aquilo que muitas vezes não encontravam em Portugal. Estamos a falar de pessoas com vidas marcadas muitas vezes pelo desemprego, a falta de perspectivas de realização profissional e pessoal, precariedade. [O Presidente da República] deve ter presente no exercício dos seus poderes estas causas. Tenho contactado com muitos emigrantes de várias partes do mundo e há uma ideia generalizada de voltar ao seu país, mas encontrando aquilo que não encontravam quando saíram.

Mas nem todos os emigrantes pretendem voltar.

Há portugueses que ganharam raízes e aqui o Presidente da República tem alguma responsabilidade, que passa pelas relações do Estado português com outros países onde existam comunidades portuguesas. É importante construir relações a diversos planos, político, económico, social e cultural, que sejam mutuamente vantajosos e que defendam os interesses das comunidades portuguesas. A mensagem que posso dirigir a todos os portugueses na diáspora é que, se tiver a oportunidade de exercer os poderes de Presidente da República, terei presente estas preocupações na minha acção.

O Governo lançou algumas medidas para o regresso de emigrantes e para a atracção de investimento. São suficientes?

Aquilo que foi posto em prática é insuficiente, e a melhor demonstração disso é o facto de terem sido poucos aqueles que regressaram ao abrigo destas medidas. Há que garantir que as condições de emprego com direitos [são asseguradas], sem esquecer que muitos daqueles que hoje procuram na emigração oportunidades de realização profissional são portugueses muito qualificados, que têm um contributo muito importante a dar para o desenvolvimento do nosso país, e que infelizmente foram empurrados lá para fora por falta dessas oportunidades. Aqui as questões dos salários são incontornáveis. A nossa Constituição reconhece essa necessidade de protecção especial dos jovens no acesso ao primeiro emprego mas também garantir uma justa valorização dos salários e oportunidades de emprego. Isto exige uma intervenção do Presidente da República. Infelizmente a intervenção do Presidente da República não tem contribuído para isso. Aliás, muitas vezes tem desajudado.

Em que sentido?

Não me esqueço que o actual Presidente da República e agora candidato [Marcelo Rebelo de Sousa], há um ano estava a dizer que 635 euros era um valor razoável para o salário mínimo nacional. Ora este é um salário que obriga as pessoas a fazerem escolhas sobre as contas que têm para pagar.

Acredita agora numa nova vaga de emigração devido à crise gerada pela covid-19? Houve uma vaga entre 2008 e 2011 com a intervenção da Troika.

Infelizmente temos esse exemplo recente onde voltámos a ter valores de emigração como nunca tínhamos visto em democracia. Creio que uma situação destas não se pode repetir e que cabe ao Presidente da República tudo fazer para fazer com que ela não se repita, e eu tudo faria para a evitar. Agora, a situação não é clara ainda. Se a intervenção do Estado não estiver alinhada nesse sentido então podemos ter uma maior degradação da situação económica e social, que pode ter repercussão no crescimento da emigração. Se olharmos para sectores importantes da actividade económica, como o turismo e a restauração, é com grande preocupação que vemos não serem tomadas medidas que são essenciais.

Falando agora da qualidade dos serviços consulares. Que resposta é que o Estado português deveria fazer para melhorar o seu funcionamento?

A situação ao nível da rede de embaixadas e consulados é bem demonstrativa que os interesses das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo têm sido descurados. Temos também uma insuficiente valorização do ensino da língua e da cultura portuguesas no estrangeiro, que é um direito que a Constituição consagra. Além de se desinvestir na rede consular tem-se desinvestido das condições de trabalho dos próprios trabalhadores. Nada disso contribui para uma ligação do Estado português às comunidades que se quer mais estreita e regular. Até em situações como as eleições, [há constrangimentos que criam] dificuldades à participação eleitoral dos emigrantes.

Em Macau muitos eleitores têm passaporte português mas não falam a língua, e constituem um eleitorado representativo. Como deve ser feita uma aproximação a estas pessoas?

Isso deve ser salvaguardado através de relações bilaterais entre o Estado português e o Estado chinês que valorizem a existência de uma história e património comuns e o papel da comunidade portuguesa residente em Macau. Tal consegue-se através de um fortalecimento de laços de solidariedade no plano cultural, social. Depois através de uma presença consular e diplomática que deve valorizar todos os aspectos da participação dessa comunidade na vida do país, mesmo que à distância. As visitas de Estado podem ter aqui um papel importante, pelo sinal que dão.

Em Macau sempre houve uma grande abstenção nos actos eleitorais. É sinal de que o Estado está a falhar nesta proximidade com os eleitores?

Creio que sim. Esse crescente afastamento, infelizmente, não é uma realidade apenas em Macau. Tem havido um certo desinvestimento na relação entre o Estado português e as comunidades emigrantes espalhadas pelo mundo e acho que esse desinvestimento desse ser contrariado.

Como?

Devemos iniciar um caminho no sentido inverso, que procure reforçar laços, re-aproximar e com isso também incentivar uma maior participação da comunidade.

A nível empresarial, Macau constitui uma ponte de ligação com a China. Deveria ser uma plataforma com maior visibilidade?

Há campo para aprofundar a cooperação com Macau e com a China em várias áreas. Seria positivo que se pudessem aproveitar esses laços históricos e culturais existentes e que pudesse haver esse reforço da cooperação no plano económico que permitisse também uma afirmação mais ampla dos interesses portugueses nessa região do mundo. Acho que essa proximidade histórica e cultural que temos com Macau é um factor que não deve ser desperdiçado.

São necessários maiores apoios para as empresas que queiram ir para Macau e para a China?

Pode haver essas condições de apoio às empresas e é bom que sejam garantidas no quadro da presença do próprio Estado português. Há que reforçar um enquadramento institucional que pode contribuir para facilitar esse crescimento e actividade.

Como deve ser feito o relacionamento entre Portugal e a China?

Portugal deve tendencialmente ter relações com todos os países e deve orientar essas relações no sentido de cooperação para emancipação e progresso da humanidade. A China é hoje um país de grande importância na comunidade internacional e é uma relação que deve ser aprofundada e reforçada nos seus variados planos. O Presidente da República deve ter um papel na promoção dessa relação e no contributo que pode dar para o aprofundamento de laços. Temos uma comunidade chinesa importante no nosso país, uma comunidade portuguesa importante na China e devemos ter com a China uma relação que se deve basear nos princípios que a Constituição portuguesa aponta.

Fala de…

Falo dos princípios da independência nacional, os direitos humanos, igualdade entre Estados, a resolução pacífica dos conflitos internacionais, o princípio da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados e da cooperação com todos para o progresso da humanidade. Tanto Portugal como a China podem dar um contributo importante para este progresso e acho que é de toda a utilidade que Portugal reforce os laços com a China.

Há alguns meses o embaixador norte-americano em Lisboa deu uma entrevista ao semanário Expresso onde colocou, de certa forma, Portugal entre a espada e a parede no seu posicionamento diplomático entre a China e os EUA. Com a vitória de Joe Biden, essa questão está ultrapassada?

Foi uma postura inaceitável, violadora do que são os princípios que regem as relações entre os Estados, de princípios que regem o Direito internacional e de um assunto que só a Portugal diz respeito. É uma ingerência condenável e não deixou de ser assinalada pelas autoridades portuguesas, nos termos que eu desejaria que tivessem sido mais vigorosos e veementes.

Refere-se à posição de Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros?

Sim. Mas de qualquer forma foi uma intromissão inaceitável.

Espera um bom resultado em Macau?

Espero que exista a possibilidade na campanha e nas eleições de apresentar e confrontar os vários projectos que se apresentam. O que espero é que os valores e princípios desta candidatura possam ser conhecidos e que, no fim, a comunidade portuguesa residente em Macau faça o seu julgamento sobre aquela pessoa que pode estar em melhores condições para desempenhar o cargo. Espero recolher a adesão e o apoio de muitos portugueses em Macau.

A 20 de Dezembro celebrou-se o aniversário da RAEM. O Estado português tem estado atento à questão da defesa dos direitos, liberdades e garantias da população tendo em conta a Lei Básica?

Desejaria uma maior proximidade do Estado português a essa comunidade. Uma maior atenção à sua realidade, ao seu dia-a-dia, uma valorização dos laços histórico-culturais que nos unem ao território. Caso seja investido das funções de Presidente da República tudo farei para que isso aconteça.

Através de que medidas?

Desde logo pela defesa da reversão de uma certa degradação da presença portuguesa em vários pontos do mundo e também na RAEM. Reverter uma certa degradação da rede consular. É também importante o papel que podem ter as visitas de Estado, para dar sinais de um potencial que existe por concretizar de um pleno aproveitamento e valorização de um passado comum.

5 Jan 2021

China-UE | Alcançado acordo que visa acesso mais igualitário de empresas europeias ao mercado chinês 

Depois de sete anos de negociações, está assinado o acordo entre a China e a União Europeia em matéria de investimentos bilaterais que visa um maior e mais igualitário acesso de empresas europeias ao mercado chinês. Xi Jinping já disse que este entendimento vai permitir a criação de uma “economia mundial aberta”

 

Os europeus querem ter um maior e mais igualitário acesso ao mercado chinês e conseguiram finalmente dar um primeiro passo para que isso se torne uma realidade. Depois de sete anos de negociações, está assinado o acordo entre a China e a União Europeia (UE) relativamente aos investimentos directos bilaterais. O acordo prévio, assinado nos últimos dias do ano de 2020, passará ainda pelo crivo do Conselho e do Parlamento Europeu.

Em comunicado, a Comissão Europeia declarou, a 30 de Dezembro, que, nos últimos 20 anos, as empresas da UE investiram na China qualquer coisa como mais de 140 mil milhões de euros, enquanto que a China investiu na EU cerca de 120 mil milhões.

Para a Comissão, “o investimento directo estrangeiro da União Europeia na China mantém-se relativamente modesto no que diz respeito à dimensão e potencial da economia chinesa”.

Pretende-se, com este documento, que “os investidores da UE consigam ter um melhor acesso a uma economia em rápido crescimento, com 1,4 mil milhões de consumidores”, e que estes “possam competir a um melhor nível no mercado chinês”. Tal “é importante para a competitividade global e para o crescimento futuro da indústria da UE”, lê-se no comunicado.

Do lado da UE, é ainda referido que este é “o Acordo mais ambicioso que a China alguma vez assinou com um terceiro país” em matéria de investimentos directos. Pequim “compromete-se agora a abrir-se à UE numa série de sectores-chave” e a assegurar “um tratamento justo” às empresas europeias, de modo a que estas possam competir em condições de igualdade, referiu a Comissão.

“Pela primeira vez, a China também concordou com disposições ambiciosas sobre desenvolvimento sustentável, incluindo compromissos sobre trabalho forçado e a ratificação das convenções fundamentais relevantes da Organização Internacional do Trabalho”, indicou o executivo comunitário em comunicado.

Para Xi Jinping, Presidente chinês, este “acordo de princípio” dará “um importante contributo” para a construção de uma “economia mundial aberta”.

Segundo a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua, o Presidente chinês declarou que este acordo também vai servir para impulsionar o caminho da recuperação após a actual pandemia da doença covid-19 e reforçar a confiança internacional na globalização económica e no comércio livre.

Numa declaração divulgada em Bruxelas, Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, considerou este acordo “um marco importante” nas relações da UE com a China, apontando que o mesmo “proporcionará aos investidores europeus um acesso sem precedentes ao mercado chinês”, ao mesmo tempo que “compromete a China com princípios ambiciosos a nível de sustentabilidade, transparência e não-discriminação”.

Por seu lado, o vice-presidente executivo da Comissão, Valdis Dombrovskis, que tem a seu cargo a pasta do Comércio, sublinhou que “este acordo dará às empresas europeias um enorme impulso num dos maiores mercados do mundo e de mais rápido crescimento, ajudando-as a operar e a competir na China”.

“Garantimos compromissos vinculativos em matéria de ambiente, alterações climáticas e combate ao trabalho forçado. Envolver-nos-emos de perto com a China para assegurar que todos os compromissos sejam plenamente cumpridos”, garantiu.

O que vai mudar?

São várias as áreas onde a China se compromete a fazer mudanças em prol de uma maior liberalização, nomeadamente ao nível da saúde. Em plena pandemia da covid-19, o Acordo assinado com a UE vai permitir maiores ligações aos hospitais privados no país. “A China vai oferecer uma maior abertura de mercado a joint-ventures para hospitais privados em cidades chinesas incluindo Pequim, Xangai, Tianjian, Guangzhou e Shenzhen”.

Ao nível da indústria, a China “fez compromissos com muito poucas exclusões (em particular, em sectores com um significativo excesso de capacidade)”. “Em termos do nível de ambição, tal vai coincidir com uma abertura por parte da UE. Praticamente metade do investimento directo estrangeiro da UE é feito na área da indústria (por exemplo, nas áreas dos transportes e equipamentos de telecomunicações, químicos e equipamentos de saúde). A China não fez este tipo de compromissos no que diz respeito ao acesso ao mercado com outros parceiros”, aponta a Comissão Europeia.

Na área da indústria automóvel, a China “concordou em remover os requisitos para joint-ventures”, além de se comprometer “a dar acesso ao mercado dos veículos ecológicos”. Ao nível do sector financeiro, “a China já iniciou o processo de liberalização gradual do sector dos serviços financeiros”, prevendo-se uma eliminação dos requisitos para joint-ventures para a área da banca, comércio de seguros e acções, bem como gestão de activos.

Além disso, “em adição às regras contra a transferência forçada de tecnologias, o Acordo será também o primeiro a endereçar obrigações para as empresas estatais, regras de transparência para subsídios e compromissos relacionados com o desenvolvimento sustentável”, lê-se.

A nível laboral, “os gestores e especialistas das empresas da UE vão ter a permissão para trabalhar em subsidiárias chinesas durante três anos sem restrições como quotas ou testes do mercado laboral”. Além disso, “os representantes dos investidores da UE terão a permissão para visitar [o país] livremente antes de fazer um investimento”.

As opiniões

Em editorial publicado aquando da assinatura do Acordo, o jornal Global Times, ligado ao Partido Comunista Chinês (PCC), considerou este memorando como um “presente de ano novo para o mundo”. “Este é um grande evento entre a China e a UE. São também notícias estimulantes para um mundo que está ainda atormentado com uma pandemia prejudicial. Esta é uma grande decisão orientada para o futuro”, pode ler-se.

O mesmo editorial destaca o facto de este acordo ter sido discutido nos últimos sete anos, tendo decorrido 30 sessões de negociações. “É concebível que existam muitas dificuldades. No entanto, os dois lados finalmente concluíram as negociações. Tal comprova um facto: enquanto os dois lados forem sinceros no desejo de reforçar a cooperação recíproca, podem ultrapassar quaisquer diferenças.”

“Alguns ocidentais gostam de discutir quais os lados que fazem mais concessões num acordo, e quais foram os objectivos atingidos. De facto, enquanto um acordo for atingido através de uma negociação igualitária, não pode haver uma vitória unilateral. A cooperação com ganhos mútuos é a base lógica na era da globalização. O acordo de investimento entre a China e a UE não vai desvirtuar-se desta lógica”, acrescenta o mesmo editorial.

Um certo timing

Ainda em Setembro do ano passado, no âmbito das negociações, a presidente da Comissão Europeia havia destacado a desigualdade existente ao nível do investimento. “Temos o nosso mercado europeu aberto, mas as nossas empresas não beneficiam de simetria e enfrentam demasiadas restrições e dificuldades”, disse, citada pelo jornal Público.

Já Angela Merkel, chanceler alemã, falou de uma “alteração do comportamento da China” e de um “novo impulso político” para a conclusão deste processo. “Os chineses são muito bons negociadores, e penso que com vontade política de ambos os lados será possível cumprir os prazos”, respondeu, questionada sobre a intenção de fechar o acordo até ao fim do ano.

Num artigo de opinião publicado no jornal português Público, a 30 de Dezembro, Nuno Severiano Teixeira, investigador da Universidade Nova de Lisboa, destacou o facto de este Acordo ser assinado após a vitória de Joe Biden nas presidenciais norte-americanas.

“E, finalmente, a eleição de Biden despertou em Pequim o sentido da urgência. De tal modo urgente que dias antes do Natal, numa reunião de embaixadores dos Estados-membros, em Bruxelas, foi aprovado à pressa um documento provisório que, numa correria, deveria ser objecto de uma reunião dos responsáveis europeus, ainda antes do fim do ano.”

Nuno Severiano Teixeira apresenta, ao mesmo jornal, uma visão crítica deste Acordo. Para o investigador, este “é importante, mas não a qualquer preço”. “E, de um ponto de vista económico, poder-se-ia perguntar se um tal acordo vale a pena nestes termos. Se não se deveria ir mais longe nas negociações. Mas essa não é a questão principal. A questão principal é: até que ponto as vantagens comerciais de curto prazo não vão traduzir-se em perdas políticas e estratégicas de longo prazo?”, questionou.

A “conclusão em princípio” das negociações sobre este novo acordo de investimento UE-China ocorreu durante uma videoconferência, na qual a UE esteve representada pelos presidentes da Comissão, Ursula von der Leyen, e do Conselho Europeu, Charles Michel, tendo ainda participado a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, enquanto a China se fez representar pelo seu chefe de Estado, Xi Jinping.

A UE reiterou ainda o convite dirigido ao Presidente chinês, Xi Jinping, para uma cimeira UE-China ao mais alto nível, com a participação dos chefes de Estado e de Governo dos 27, que chegou a estar prevista para este ano mas foi adiada devido à covid-19, devendo então decorrer em Bruxelas em 2021, em data ainda a definir.

4 Jan 2021

João Pedro Góis, autor de “Identidade e Resistência da Língua Portuguesa em Timor-Leste”: “Jovens aprenderam português nas montanhas”

Resultado de uma tese de mestrado defendida na Universidade de São José, “Identidade e Resistência da Língua Portuguesa em Timor-Leste” é o primeiro livro de João Pedro Góis, jurista e ex-residente em Macau, que acaba de ser lançado em Portugal pela Lema D’Origem. Este projecto traça um olhar sobre o uso da língua portuguesa no período de ocupação do país pela Indonésia como uma forma de luta e de resistência

 

Este trabalho começa a partir de uma obra de Luís Cardoso “Crónica de uma Travessia”. Porque é que este livro foi tão marcante?

No meu mestrado quis estudar a questão da língua portuguesa em Timor-Leste, nomeadamente o seu uso durante o período de ocupação da Indonésia, entre 1975 e 1999, sabendo que o português era falado em Timor, embora fosse proibido pelos indonésios. Queria saber como é que a língua tinha sobrevivido. Fui a Timor e aproveitei para fazer alguma investigação de terreno. A minha ideia original era reunir com Xanana Gusmão, que não teve disponibilidade para me receber. Uma professora disse-me que pensava a resistência apenas do ponto de vista bélico, mas que não era apenas uma questão militar. E falou do uso da língua portuguesa quando ela é proibida, como um acto de resistência, nomeadamente o facto de ser usada pelas milícias refugiadas nas montanhas, tal como escrever e publicar em português. Portanto, foi-me sugerido que pegasse num autor timorense que tivesse escrito em português nesse período. Ocorreu-me estudar Luís Cardoso porque é considerado, em termos literários, o primeiro romancista timorense em português e contemporâneo. O seu primeiro livro chama-se “Crónica de uma Travessia”, li-o e achei que tem uma questão curiosa, porque tem um tom autobiográfico mas não é uma autobiografia. Como cruza várias épocas de Timor contemporâneo, durante o período colonial português e de ocupação indonésia, o livro é muito interessante porque é construído a partir do percurso que o seu pai, enfermeiro, que se deslocou por toda a ilha em trabalho com a família. Isso permitiu ao escritor ter um conhecimento da realidade local e conhecer as línguas locais que são ali faladas. O livro funciona como uma linha transversal a toda a minha dissertação. É a partir do livro que abordo as questões da identidade, da resistência, da diáspora, da saudade, da memória.

No período de ocupação indonésia, quem é que falava a língua portuguesa? A população ou uma elite?

Toda a população não. Aliás, o número de falantes de língua portuguesa materna em Timor é muito baixo. Durante o período de ocupação, como o português era proibido e a língua oficial passou a ser o bahasa, os meios de comunicação funcionavam em bahasa e todas as instituições usavam o bahasa, houve toda uma geração de timorenses que se habituaram mais ao uso da língua indonésia. Hoje em dia há talvez mais pessoas a compreender bahasa do que português. Uma pequena elite continuou a comunicar em língua portuguesa durante o período de ocupação indonésia, porque era a língua do poder durante o período colonial português e era, por isso a língua de acesso ao poder e ao sistema. Era uma língua com algum prestígio social e político.

Mas como funcionou com os membros da resistência à ocupação indonésia?

Os que estavam refugiados nas montanhas utilizavam a língua portuguesa como meio de comunicação privilegiado. Por uma questão afectiva, pelo sonho de recuperar uma entidade cultural em que a língua portuguesa tem um papel importante, mas também porque sendo uma língua não falada pelos indonésios permitia comunicar de forma clandestina, secreta. Os membros da resistência estão hoje envolvidos no exercício da governação, e por todos os motivos que disse antes, preferiram manter a língua portuguesa como oficial por ser um idioma de comunicação internacional e uma língua com prestígio. Mas no período da ocupação indonésia, além de comunicarem em português, também tinham muitos jovens que aderiram à resistência e que não falavam português. Os membros da resistência, adultos, tiveram o papel de os ensinar. Muitos dos jovens aprenderam assim a falar português nas montanhas. Isso é interessante e até comovente.

Também há o papel da Igreja Católica na difusão da língua. Teve um papel mais importante do que o próprio Estado português.

Sim, a Igreja Católica teve um papel muito importante. Aliás, a Igreja teve sempre um papel importante na língua portuguesa, desde a chegada dos portugueses no século XVII, nos primeiros tempos de ocupação, em que houve sempre um acompanhamento das missões católicas, que difundiram a fé mas também ensinavam a língua portuguesa. Era o uso associado à estratégia portuguesa de colonizar. O papel da catequização foi muito importante, porque permitiu a difusão da língua. A maior parte dos timorenses são católicos e continuam a ser, porque sendo católicos significa que não são muçulmanos, isso distingue-os da Indonésia.

O livro aborda também a ligação entre o português e o tétum, e lê-se que o tétum foi crioulizado e até sofreu a incorporação de palavras do português. Sim. O tétum é o crioulo mais falado em toda a ilha, mas sendo uma língua de fusão recebeu a incorporação de muitas palavras em português. 

Diz também que a língua portuguesa nunca hostilizou o tétum e até contribuiu para o seu enriquecimento.
Acho que houve sempre algum equilíbrio. A elite [que falava português] também falava tétum. Há mais falantes de tétum do que de língua portuguesa, mas [o tétum] também nunca hostilizou o português. Se calhar o tétum era a língua do povo colonizado e o português a língua do povo dominante. Havia aqui uma questão política e hierárquica que tem algum peso. Mas no período de ocupação pela Indonésia alguns padres chegaram a propor, como estratégia de sobrevivência o ensino de tétum, achando que era mais fácil do que defender o ensino da língua portuguesa. Então os missionários de origem portuguesa também colaboraram para a disseminação do tétum. Não hostilizaram o tétum e até oficialmente houve momentos em que promoveram o ensino nesta língua. E as autoridades portuguesas também nunca o hostilizaram. No período colonial português nunca houve ensino oficial em tétum, houve umas tentativas. De alguma forma, o tétum nunca foi hostilizado pelos portugueses e esteve sempre presente.

De um modo geral o posicionamento do Estado português face à questão da língua foi muito fraco.

Durante o período de ocupação da Indonésia o Estado português não fez nada. Houve algumas intervenções não oficiais, mas as autoridades portuguesas sempre estiveram muito esquecidas da questão de Timor. No final dos anos 90 houve um movimento em que as autoridades públicas estiveram mais atentas, através da Ana Gomes e de outras personalidades. As autoridades religiosas, como o D. Ximenes Belo e outros, continuaram a ter uma atitude diplomática secreta de defesa e protecção dos timorenses que estavam detidos pelos indonésios. Hoje em dia, que Timor é um país soberano e democrático, e é o mais jovem país membro da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], debate-se muito com a implementação do português. Acho que Portugal tem tido algum papel nessa promoção, através do Instituto Camões (IC). Embora ache que a questão da língua portuguesa tem mais importância do que aquela que lhe tem sido atribuída pelas autoridades responsáveis. O IC deveria ter um papel mais pró-activo na promoção da língua. Penso que, a nível de Portugal e da CPLP, faz sentido e é urgente haver uma estratégia global e sistemática para a política da língua portuguesa. Não existe, é uma coisa muito disseminada, funciona por capelinhas. Os dois países em que o português é língua oficial e a língua materna de toda a população (Portugal e Brasil) continuam infelizmente a trabalhar de costas voltadas a este respeito.

31 Dez 2020