António Candeias, vice-reitor da Universidade de Évora: Valorizar o património comum

É no laboratório Hércules, na Universidade de Évora, Portugal, que se estuda o património em todas as suas vertentes. António Candeias, vice-reitor da UE, disse ao HM que alguns dos equipamentos que farão parte de um laboratório semelhante na Universidade Cidade de Macau já estão a ser adquiridos e deverão chegar à instituição de ensino no início do próximo ano. Pelo meio, fica a vontade de alargar a rede de parcerias já existente com o Governo, nomeadamente com o Instituto Cultural

 

Foi inaugurado, em Novembro, na Universidade de Soochow, o Laboratório Conjunto China-Portugal das Ciências de Conservação do Património Cultural, uma parceria entre a Universidade de Évora (UE) e a Universidade Cidade de Macau (UCM). Concretamente o que vai ser desenvolvido na UCM, fruto desta parceria?

Em relação à UCM, a parceria que a UE tem é até anterior a este laboratório conjunto que foi agora anunciado. Na realidade encetamos ligações com a UCM há dois anos e meio, após a visita de uma delegação dessa universidade, e após uma ida nossa até Macau. Aí foi possível estabelecer uma série de áreas estratégicas de cooperação, uma delas o património partilhado. Ficou logo delineado que, através das competências do laboratório Hércules, que é único do ponto de vista de instrumentação e competências, seria possível delinear uma parceria com a UCM no sentido de criar, na UCM, um laboratório conjunto. Este teria algumas competências que o Hércules tem, do ponto de vista instrumental e, por outro lado, iria beneficiar dos especialistas. Foi assim estabelecido um acordo entre as duas universidades que prevê três grandes iniciativas.

Como vai funcionar esse laboratório na UCM?

Candidatámo-nos, o ano passado, ao financiamento pelo Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e Tecnologia (FDCT), com um valor de quase meio milhão de euros. Neste momento estamos em fase de aquisição dos equipamentos. Se tudo correr bem, serão entregues em Janeiro ou nos primeiros dois meses do ano. Os nossos investigadores irão a Macau para apoiar a montagem dessas metodologias analíticas e para desenvolver os primeiros trabalhos em Macau. O objectivo é reforçar, de forma contínua, esse laboratório, e capacitar docentes e investigadores da UCM para a área do património.

Cria-se, assim, uma rede com a Universidade de Soochow.

Já tínhamos visitado a Universidade de Soochow e percebeu-se que havia a colaboração na área do património, ao nível da conservação e reabilitação. A cidade de Soochow é também património mundial da Humanidade. Mas um dos professores da UCM foi para a Universidade de Soochow e surgiu a possibilidade de avançar para um projecto com uma maior escala, que era candidatar o laboratório conjunto à iniciativa “uma faixa, uma rota”. Trabalhamos com Soochow nesta candidatura, que foi bem sucedida, e que culminou na inauguração do laboratório [em Novembro]. Na realidade este vai ser um laboratório distribuído e o que está previsto, para já, é a criação de projectos de investigação conjuntos. No início do ano vamos identificar projectos conjuntos em Macau e China.

Falamos de projectos ligados a monumentos, por exemplo?

E não só. Quer o laboratório em Macau quer o de Soochow não se focam apenas no património construído, mas também no património móvel, integrado e imaterial. A questão do saber fazer também é algo que nos diz muito. Em termos de iniciativas, vamos desenvolver projectos conjuntos e prevejo que investigadores nossos possam ir, por períodos definidos, para Macau e para Soochow. Seria muito importante que no próximo ano se identificassem possíveis estadias de investigadores em Évora, no laboratório Hércules. Além disso, a presença dos nossos investigadores em Macau e Soochow será também uma oportunidade para dar uma formação específica, com workshops. Isso é apenas para começar, porque o que se pretende a seguir é criar formações conjuntas, que vão desde doutoramentos a mestrados.

Já há um plano para essas formações?

Esse plano vai ter de ser definido. O laboratório foi agora lançado, mas a ideia é podermos definir um conjunto de formações na área do património com estas duas universidades.

Podem ser estudados elementos da cultura macaense, por exemplo?

Espero que sim, e o objectivo é mesmo esse. [O nosso trabalho] não se cinge ao edificado e o que queremos é valorizar o património no seu todo. É uma abordagem muito transversal e chega até ao património arqueológico. Com a UCM foi possível criar uma cátedra em património sustentável aqui na UE.

E como funciona?

Esta cátedra já está no seu segundo ano de actividade é apoiada pela UCM e tem desenvolvido projectos de investigação e valorização do património. Devido à pandemia a interacção com a UCM não tem sido muito grande, mas há trabalhos em curso e que vão ser lançados muito em breve, com algum impacto mediático e social. Pensamos que esta cátedra, associada ao laboratório Hércules, tem um papel muito importante.

Que tipo de projectos estão em curso?

Estamos muito envolvidos no projecto da Vila Romana de Pisões, estamos a desenvolver conteúdos digitais para a visita deste campo arqueológico. Estamos também envolvidos no restauro dos Painéis de São Vicente, pois é através da cátedra que se está a realizar esse trabalho. Vamos estudar no Museu Nacional de Arte Antiga os papéis decorativos chineses do século XVII, que são de facto peças únicas e que são muito importantes, e que vão ser alvo de um estudo. Vamos lançar um passaporte do património da cidade de Évora, muito à semelhança do que já existe em Macau.

Como olha para a preservação do património em Macau, incluindo do ponto de vista arqueológico? É ainda necessário fazer muita coisa?

É sempre preciso fazer muita coisa, nunca temos o trabalho concluído. Mas há um olhar sobre a preservação do património na criação de um discurso. Percebe-se agora que valorizando esse património criam-se noções identitárias dos povos e, no caso de Macau, parece-me que se está no caminho certo. Espero vir a contribuir para a valorização e preservação desse património comum.

Gostavam de trabalhar com o Governo de Macau, nomeadamente com o Instituto Cultural?

Com certeza que sim. Estamos abertos a colaborações. Neste caso deu-se a coincidência da UCM visitar a UE e nós irmos a Macau no âmbito de um fórum universitário, mas estamos muito disponíveis para colaborações. Ganhando escala podemos fazer mais.

A atribuição de um doutoramento honoris causa a Chan Meng Kam, fundador da UCM, também serviu para estreitar estas relações.

Sim, penso que tudo foi uma consequência. Havia estas ligações e uma série de interesses comuns.

30 Dez 2020

Fotografia | “Estrada: Stand Point” na Casa Garden até 31 de Janeiro 

A Associação Cultural 10 Marias apresenta, até ao dia 31 de Janeiro, a exposição de fotografia “Estrada: Stand Point”, com trabalhos da fotógrafa Marjonele Estrada. Uma mostra onde a juventude de Macau e a sua relação com o território assume o papel principal

 

A primeira exposição individual de Marjolene Estrada está patente na Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau, até ao dia 31 de Janeiro. A mostra de fotografia centra-se nos jovens do território e tem a curadoria de Mónica Coteriano e Patrícia Soares, ligadas à Associação Cultural 10 Marias.

Ao HM, Patrícia Soares falou de um trabalho que captou a atenção das curadoras desde o início. “Queríamos pegar no tema dos jovens em Macau e encontramos a Marjolene, que já fazia bastantes fotografias de uma forma profissional, mas mais ligada aos eventos. Depois [o seu trabalho] tem também um lado mais conceptual, artístico e achámos isso bastante interessante, porque ela tem um background bastante multicultural.”

Marjolene Estrada trabalha sobretudo com o retrato e, nesta exposição, o público poderá ver algumas das sequências construídas pela fotógrafa, com base em histórias. “Ela fotografa muito em série, escolhe um tema dentro da juventude e depois constrói histórias. Há uma série com cerca de 90 fotografias em miniatura, feitas numa praia. [Esta série] retrata uma visão do seu próprio eu, da descoberta, do sentimento de pertença e de não pertença.”

O trabalho de Marjolene Estrada revela também uma reflexão sobre a relação dos jovens com o território onde habitam. São fotografias que contam “como é que alguém se sente ligado a Macau sendo de uma etnia diferente”. “São pessoas reais retratadas mas que reflectem várias questões da juventude em Macau”, frisou Patrícia Soares.

Em “Estrada: Stand Point” está também patente uma série com fotografias de nus. “Achamos muito interessante a naturalidade com que ela fotografou e fez uma alusão ao universo LGBT.”

A multiculturalidade

Concretizar “Estrada: Stand Point” partiu também de uma vontade da Associação Cultural 10 Marias em ter no seu portfólio uma mostra sobre a juventude. “É super interessante olharmos para dentro e darmos palco e oportunidade aos novos talentos em Macau. E também dar um empurrão no cenário artístico e cultural de Macau”, explicou Patrícia Soares.

A escolha do trabalho de Marjolene Estrada é também exemplificativo da sua multiculturalidade, uma vez que é filha de pais filipinos, nascida em Macau. “É uma das jovens em Macau em contacto com várias comunidades, a portuguesa, a filipina, a chinesa, a estrangeira de um modo geral. Ela é uma pessoa bastante integrada nesta multiculturalidade que Macau às vezes nos dá.”

“Achámos interessante fazer uma exposição sobre a juventude, mas do ponto de vista dela. Aproveitámos o nome, Estrada, e mostramos o caminho que ela faz e o olhar que tem sobre a juventude em Macau, dentro do contexto dos meios onde ela se move e dos grupos onde está inserida. O seu ponto de vista acabou por se revelar bastante interessante”, rematou Patrícia Soares.

29 Dez 2020

“Clepsydra 1920-2020 – Estudos e Revisões” é lançado amanhã em Macau

“Clepsydra 1920-2020 – Estudos e Revisões”, é apresentado amanhã em Macau. Uma obra que traça um olhar sobre o único livro que Camilo Pessanha deixou através de uma série de ensaios, alguns deles com novos dados sobre o poeta português. Editado em Portugal e em Macau, o livro é lançado amanhã na sede da Casa de Portugal com a chancela da editora COD. Será também lançada a obra “Ladrão de Tempo”, de Carlos Morais José

 

Como surgiu a ideia de reunir este conjunto de ensaios sobre “Clepsydra”?

Inicialmente pensámos em fazer um evento público para celebrar os 100 anos da publicação de “Clepsydra” através de umas jornadas, que iriam acontecer na Biblioteca Nacional. Esta ideia partiu de mim e do professor Gustavo Rubim [da Universidade Nova de Lisboa], que por motivos pessoais teve de se afastar do projecto. Mas a pandemia veio alterar tudo, e para não se perderem estes contributos, uma vez que a maior parte das pessoas já tinha aceite falar na ocasião, decidimos transformar as jornadas em livro. A ideia nasce desta linha de investigação que é o ORION, o orientalismo português. Neste momento sou eu que coordeno esta linha [na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL)] e já temos feito alguns trabalhos de investigação sobre Camilo Pessanha e a sua relação com a China e Macau.

O que é que este livro traz então de diferente?

Queríamos fazer algo um pouco mais abrangente e não ficarmos apenas pela parte orientalista de Pessanha, mas celebrar esse livro discreto que ele nos deixou, que até se pode dizer que de orientalista tem muito pouco, uma vez que é encarado como sendo, talvez, o melhor exemplo do simbolismo português. Reunimos especialistas, e entram os nomes incontornáveis em torno da investigação de Camilo Pessanha, que é o caso de Paulo Franchetti ou Daniel Pires. Mas depois também chamámos investigadores novos, que, não sendo especialistas das obras de Camilo Pessanha, poderiam de facto pensar sobre a obra e trazer novos contributos.

Duarte Drummond Braga, por exemplo, é um desses autores, que tem escrito muito sobre o orientalismo.

Sim, o Duarte e eu somos os dois representantes do ORION, essa linha de investigação do Centro de Estudos Comparatistas [da FLUL]. De facto, o texto que ele escreve para este volume está directamente relacionado com essa vivência de Camilo Pessanha na China e em Macau. No entanto, depois há outros trabalhos que não se cruzam tanto com esta temática. Mas sim, o Duarte é um dos pensadores desta nova geração de académicos que tem trazido muitas coisas novas sobre Pessanha, nomeadamente relacionando-o com a Geração de Orfeu, que vem logo a seguir à dele e que o considera um mestre. Ele [Camilo Pessanha] vai ser um mestre para Pessoa e para os restantes poetas de Orfeu.

Pessanha foi importante para poetas de gerações seguintes?

Pessanha tem sido muito lembrado já no novo milénio. Foi celebrado pela Comissão Asiática da Sociedade de Geografia de Lisboa nos 90 anos da sua morte, em 2016. Depois foi lembrado em 2017 quando foram os 150 anos do seu nascimento. Mas acho que a tónica tem sido a figura do Pessanha nas suas múltiplas facetas, de tradutor, sinólogo, professor e jurista. Mas a obra magistral que ele nos deixa não tinha sido ainda objecto de trabalho nenhum. A verdade é que ele é visto como um mestre, não só para a primeira Geração de Orfeu. Tem sido continuamente designado de mestre por poetas como Eugénio de Andrade, que também esteve em Macau. Eugénio de Andrade tem um livro muito interessante, “Pequeno Caderno do Oriente”, em que a figura central é Camilo Pessanha. Temos António Barahona, o próprio Gastão Cruz, e mais recentemente Manuel de Freitas. São poetas mais recentes e estamos sempre a encontrar um diálogo nas poesias. Muitas vezes vão buscar versos de Pessanha para compor novos poemas. Tem sido tão continuo este diálogo com a obra ao longo destes 100 anos que passaram que acho que seria uma pena deixarmos passar esta efeméride centrada numa obra fundamental e que, para muitos, é a mais importante da poesia portuguesa.

Um dos capítulos do livro é da sua autoria, e é sobre Pessanha lido hoje. Como é que Pessanha é hoje lido, além dessas referências dos poetas contemporâneos? É um autor próximo dos leitores portugueses? Não é uma poesia fácil.

Requer alguma maturidade, e talvez por isso seja um pouco marginal do ensino básico e secundário. Depois encontramos essa poesia mais facilmente na universidade. Um currículo de literatura portuguesa não deixará de incluir Pessanha, que é o representante da Escola Simbolista. Ele acaba por estar presente de uma forma discreta mas mais entre poetas, é aí que o vamos encontrar. E por isso dei o título “representar, rescrever e reconhecer um poeta”. Porque são estas três fórmulas que vamos encontrar nos exemplos que recolhi para o ensaio. “Representar” porque sendo uma figura muito lacónica, há muito pouca informação que seja absolutamente credível sobre a sua figura. Ele foi sendo representado, e essas lacunas foram sendo aproveitadas pelos próprios escritores para ficcionarem a sua figura. A verdade é que ele é personagem de romances, de novelas, como é o caso de Agustina Bessa-Luís, em “A 5ª Essência” e de Paulo José Miranda em “O Mal”. De algum modo a literatura delicia-se até com essas lacunas porque vai aproveitar tudo o que não sabe para criar por si.

Mas na poesia há uma ligação diferente.

No caso da poesia há esse diálogo inter-textual. Os poetas não precisam de o apelidar de mestre mas acabam por resgatar e revisitar alguns dos seus poemas, muitas vezes usando um ou outro verso, muitas vezes colocado em itálico, e escrevem um novo poema. Tem havido muito o outro lado da homenagem, não só com a obra que já referi, de Eugénio de Andrade, como o próprio Daniel Pires, que escreve um ensaio neste volume. Se há continuamente este tipo de impulsos, de escrever sobre ou para homenagear Pessanha, quer dizer que há muita vitalidade na sua obra, e há ainda que a pensar no final destes 100 anos, fazer um balanço.

Apesar de ser apenas uma só obra, “Clepsydra” é muito rica em análise.

Exactamente. É uma obra tão pequenina, de um autor discreto, que viveu quase como um exilado, longe da metrópole, e no entanto não o deixámos cair no esquecimento. E importa perguntar porquê, mas acho que a melhor resposta que temos é abrir a “Clepsydra” e lê-la.

Este conjunto de ensaios aborda menos o Pessanha homem, a sua personalidade e feitos além da literatura.

Não tínhamos tanto essa intenção. A nossa ideia era centrarmo-nos na “Clepsydra”, embora depois haja pontes para pensar essas questões. Por exemplo, é incontornável essa relação de Pessanha com Macau e com a China. Há um estudo de Daniel Pires que não deixa de nos trazer alguns dados novos muito importantes que não têm directamente a ver com a “Clepsydra”. Ele traz-nos com este ensaio um inventário daquilo que era a biblioteca de Pessanha que estava em Macau. Ele [Daniel Pires] nas várias viagens que foi fazendo conseguiu ir reunindo essa listagem das suas obras e sabemos que este tipo de inventários, do que é uma biblioteca de um autor, podem ter um contributo importante para a análise da obra. Outro exemplo importante é o trabalho do Ricardo Marques, que é o acesso ao que foi a crítica de Clepsydra no momento em que ela sai, nas revistas da Geração Orfeu.

Já existe uma data para a apresentação deste livro em Lisboa?

A obra acabou de sair em Portugal mas deixa-me muito feliz que acabe por ser apresentada em primeiro lugar em Macau. Ainda não temos data de apresentação em Lisboa, mas é possível que seja em Janeiro. Fico muito contente, pensando pela cabeça e coração de Pessanha, que a obra seja apresentada primeiro em Macau. Camilo Pessanha tem de facto uma comunidade de leitores muito importante em Macau.

28 Dez 2020

RAEM, 21 anos | Jorge Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau: “O maior valor de Macau é o seu legado”

Ex-secretário adjunto de Rocha Vieira, Jorge Rangel assumiu vários dossiers e por pouco um problema de saúde não o afastou do cargo antes da transferência de soberania. 21 anos depois, Jorge Rangel defende um novo modelo de desenvolvimento para o território que não dependa tanto do jogo e acredita que deve existir equilíbrio na implementação da educação patriótica

 

Que análise faz à RAEM 21 anos depois da transição?

Sendo sempre fácil identificar insuficiências e até apontar naturais desvios, creio ser justo reconhecer que, em larga medida, os compromissos assumidos no acordo firmado em 1987, na Declaração Conjunta, foram cumpridos e o território conheceu períodos de crescente prosperidade. Houve, é certo, alguns graves acidentes de percurso.

Tais como?

Falo dos casos de corrupção que ganharam notória repercussão, mas esses percalços foram resolvidos pela via judicial, constituindo um teste à capacidade de resposta do sistema instituído, mesmo sabendo que nem todos terão concordado com a forma como alguns dos problemas criados foram resolvidos. Foram, entretanto, atribuídas à RAEM especiais responsabilidades.

Fala do seu papel de plataforma com a China…

E também da articulação de Macau com a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e como centro mundial de turismo e lazer. Foram, igualmente, definidos novos percursos com vista à sua progressiva integração na Grande Baía Guangdong – Hong Kong – Macau. Estávamos precisamente nesta fase do desenvolvimento da RAEM, com a ilha vizinha de Hengqin em rápida transformação para servir este propósito, quando a pandemia impôs uma pausa, que pode e deve ser muito bem aproveitada para repensar os objectivos imediatos e as estratégias de médio e longo prazo.

A pandemia obrigou Macau a olhar-se de uma outra forma? Qual o caminho para recuperar de uma crise desta dimensão?

Claro que sim. A receita global, proveniente do jogo, fazia acreditar que o seu desenvolvimento seria linear e sempre continuado, à medida que as autoridades fossem permitindo a entrada de mais e mais visitantes do continente, criando emprego, mas também recorrendo mais e mais a mão-de-obra importada. Cheguei a expressar uma opinião sobre a vulnerabilidade do nosso modelo de desenvolvimento, dependente das receitas dos casinos. Disse que, numa situação de crise, como por exemplo um grave problema de saúde que tornasse imperativo o fecho das fronteiras, o nosso modelo seria, inevitavelmente, posto em causa e iria obrigar a um lúcido redimensionamento e a uma redefinição das prioridades. Há lições penosas que importa extrair e sobre elas, com coragem, repensar metas e ritmos de crescimento. E fazer incidir uma atenção maior na população.

Defende então um maior equilíbrio ao nível do turismo.

Os casinos e o turismo devem existir para servir os interesses da população e nunca o contrário. É imprescindível conseguir um muito maior equilíbrio. É estulto e estúpido o propósito primário de trazer mais e mais visitantes todos os anos. Em tudo há um limite e nós já ultrapassámos o nosso, até porque o nosso espaço é exíguo e a sustentabilidade do território depende mais da qualidade desse turismo do que do número de visitantes. Oxalá a pandemia nos permita repensar e redimensionar o nosso modelo de desenvolvimento, até porque o Chefe do Executivo, atento aos insistentes apelos das autoridades centrais, quer apostar numa maior e bem necessária diversificação.

Mas não haverá limitações a essa diversificação?

Ela é possível, havendo que apostar nas mais-valias do território, que vão da cultura e do património a um turismo de qualidade, muito mais selectivo e benéfico para a economia local. [Há também que apostar] nas indústrias, com as mais avançadas tecnologias e a inteligência artificial, com o suporte das universidades e dos seus centros de estudos e investigação. Temos também a área das finanças, assumindo alguns dos propósitos de maior utilização da moeda chinesa no exterior. E é preciso ter uma noção clara e realista dos nossos limites de espaço e dos nossos condicionalismos geográficos, sociais e políticos, em conjunturas nem sempre favoráveis. Haverá que ter em conta também as vantagens e os óbices que resultam da progressiva e, provavelmente, irreversível integração no projecto da Grande Baía, adoptando uma posição pró-activa mais consistente e consequente.

Que análise faz da governação de Ho Iat Seng?

Este, que é o seu primeiro ano em funções, foi imensamente prejudicado pela pandemia. Por isso não será possível fazer uma apreciação justa da sua governação em relação às linhas de acção que foram aprovadas e não inteiramente realizáveis. Mas podemos avaliar muito positivamente o esforço assumido para conter a pandemia e proteger a população dos seus nefastos efeitos. Houve liderança e sentido de missão. E as suas preocupações, desde o início, com a contenção nos gastos, a utilização correcta dos fundos públicos e contra o “despesismo” são de louvar.

Qual foi, para si, o melhor e o pior momento da transição de Macau?

Tutelei o Gabinete das Cerimónias e fui designado pelo Governador para acompanhar os assuntos da transição, trabalhando com a comissão preparatória e acompanhando o futuro Chefe do Executivo até ele tomar posse. E, no âmbito da Administração Pública, que era uma das áreas da minha responsabilidade, acompanhei de perto os processos de formação e “localização” de quadros, bem como os de integração e de ingresso nos quadros da República Portuguesa. Foram processos de particular complexidade. Também acompanhei os trabalhos do Grupo de Ligação e estive em reuniões da comissão interministerial sobre os assuntos de Macau. Estava em Hong Kong no âmbito de uma intervenção cirúrgica para remoção de um tumor, que me poderia ter impedido de continuar em funções governativas num tempo de grande exigência e intensa participação, quando tudo era urgente. Estava preparado para solicitar a minha dispensa e substituição, receando já não poder corresponder, quando recebi a visita do Governador.

Mas continuou no Executivo.

Na opinião da minha família deveria pedir ao Governador que autorizasse a minha saída, mas ele trazia-me uma pasta cheia de novas responsabilidades que acabei por aceitar, ficando em funções até ao último dia. Foi o fim de um tempo de Portugal e também o fim definitivo do meu exercício de funções públicas.

Mas houve bons momentos.

Foram muitos, e incluem a forma empenhada como o Gabinete das cerimónias funcionou, cumprindo exemplarmente uma missão, em nome de Portugal, e a forma como, indo até onde era possível no pouco tempo que nos restava, a conclusão do processo de “localização” de quadros, viabilizando uma transferência suave da administração.

E os maus momentos?

Se ainda vale a pena falar deles, recordo algumas incompreensões que rodearam o tratamento de vários processos que dependiam das autoridades nacionais e as questões políticas que condicionaram o diálogo, e o andamento célere e correcto de assuntos que requeriam urgência, a qual nem sempre foi correspondida. Mas isso já é passado e deixou de ter interesse para mim.

A transferência da soberania esteve envolvida em algumas polémicas. Acha que está na altura de encerrar definitivamente o passado?

Quem viveu aqueles acontecimentos não os esquecerá jamais. As polémicas a que se refere ganharam dimensão pelas motivações políticas que as estimularam. Sobre elas já muito foi dito, embora algo possa ter ficado por contar, nomeadamente sobre os bastidores e a intriga política que sempre existiu e existirá e que se agrava enormemente nos períodos de mudança histórica. É minha convicção que, com todas as dificuldades e incompreensões que rodearam o processo de transição, se cumpriu da melhor maneira possível a missão que aceitámos e que exigiu de nós tudo quanto lhe pudemos dar. Trabalhei com os seis últimos governadores de Macau. Pude ver, comparar e entender as motivações de cada um, até pela relação de grande proximidade e confiança que pude manter com quase todos. Sei que quiseram fazer o melhor em nome de Portugal. Mas nenhum se livrou de polémicas, que existem sempre no decurso da acção governativa, naturalmente surgidas ou intencionalmente provocadas.

Considera que há hoje uma tentativa de apagar o passado colonial por parte de algumas personalidades de Macau? É necessário reforçar esse aspecto para a manutenção da identidade de Macau?

São ainda vozes pouco generalizadas e que não tiveram grande eco, mas vão surgir, inevitavelmente, mais. Aliás, é bom lembrar que, nos próprios dias 19 e 20 de Dezembro de 1999, já em alguns organismos locais eram defendidas mudanças maiores, além de ali festejarem entusiasticamente (leia-se “patrioticamente”) a mudança.

Porque é que essas ideias não avançaram?

Foi o pragmatismo das autoridades centrais que foi sempre travando alguns ímpetos maiores, como acontecera no período da Revolução Cultural, de muito má memória cá fora e, sobretudo, lá dentro, pela forma como atingiu muitos milhões de pessoas. Convém também lembrar que, mais do que a sociedade civil chinesa tradicional de Macau, foram as autoridades centrais que quiseram que à RAEM fosse cometida a responsabilidade de se assumir como plataforma de cooperação com os países de língua portuguesa e que múltiplas iniciativas tivessem sido realizadas neste domínio. Cabe às instituições de matriz portuguesa e a muitas outras entretanto criadas continuar a defender a singularidade de Macau, porque o seu real valor é caracterizado pela sua diferença, mesmo no contexto da Grande Baía.

O que pensa do projecto actual da Escola Portuguesa de Macau (EPM) e da educação de matriz portuguesa?

Acompanhei de perto o processo de criação da EPM, como membro do Governo responsável pela educação, ainda antes da decisão final tomada pelo Estado Português, que escolheu um modelo diferente daquele que havíamos defendido. Já estávamos a prepará-la e a fazer ensaios e estudos sobre o seu papel e dimensão. Tomada a decisão, embora não tivesse deixado de oferecer as minhas opiniões, que apontavam para um maior envolvimento, desde o início, das instituições de matriz portuguesa e do Governo de Macau, abrindo-se o caminho para a participação da própria RAEM no apoio ao seu funcionamento, apostámos na sua criação segundo o modelo escolhido. Fiquei desligado dela [da EPM] durante muito tempo e voltei a acompanhar mais de perto o seu funcionamento, como membro do Conselho de Curadores da Fundação da EPM. A minha participação será, contudo, transitória.

Mesmo com todas as mudanças que já ocorreram, considera a EPM um projecto importante.

Sempre considerei a EPM a instituição mais relevante para garantir a permanência de portugueses e um bom ensino em língua veicular portuguesa, além de promover a difusão da língua e da cultura, podendo ainda contribuir seguramente para a viabilização do preceito da Lei Básica que atribui à língua portuguesa o estatuto de língua oficial. Espero que, com base na experiência feita, os seus responsáveis, através de um diálogo que se deseja amplo com as entidades financiadoras e todas as outras que têm um papel a desempenhar no seu regular funcionamento e nas experiências pedagógicas ensaiadas, encontrem para ela o melhor modelo de gestão e que os seus planos curriculares sejam consentâneos com a realidade presente, como escola portuguesa no estrangeiro e, simultaneamente, como estabelecimento de ensino particular da RAEM.

Mas, no que diz respeito ao ensino do português, há ainda outras entidades. Qual a estratégia a adoptar para elas?

O Instituto Português do Oriente deve também merecer a continuada atenção das autoridades para que possa cumprir bem a sua relevante missão, em articulação com o Camões – Instituto para a Língua e Cooperação. Quanto ao Jardim de Infância D. José da Costa Nunes e outras escolas e centros de formação onde a língua portuguesa é ensinada, importa, igualmente, assegurar-lhes a colaboração necessária e contribuir para que lhe sejam garantidos os meios adequados ao seu regular funcionamento. Creio que, no âmbito dos Serviços de Educação e Juventude da RAEM, é possível e desejável ir ainda mais longe, mas esta é matéria que já transcende o âmbito da pergunta feita.

Preocupa-o a aposta crescente na educação patriótica?

Macau é uma região chinesa com um estatuto especial transitório. É apenas natural que as autoridades, quer centrais, quer locais, se preocupem com a educação patriótica, mas, exactamente por causa deste estatuto especial que ainda deverá vigorar, oficialmente, por mais quase 30 anos, é bom que haja um sentido de equilíbrio e muita lucidez na forma como essa educação é ministrada. Os programas e textos de apoio não devem, a meu ver, ser simplesmente transpostos duma realidade diferente, mas sim adequadamente adaptados, sob pena de se tornarem ineficazes. O amor à Pátria sempre foi um valor naturalmente assimilado e convictamente assumido. Pode até ser estimulado e cultivado, mas nunca imposto. Quem não perceber isto, não deve estar a perceber nada do que tem a ver com o presente e o futuro da RAEM.

Como perspectiva o futuro da RAEM?

Faltam quase 30 anos [para 2049]. Parece muito tempo, mas, na realidade, nem o é, já que estes vinte, desde a transferência da administração, passaram assaz vertiginosamente. Podemos perspectivar o porvir através dos planos de desenvolvimento aprovados ao longo da última década e meia, primeiro para o Delta do Rio das Pérolas, e, logo a seguir, a sua articulação crescente e interligação regional, para culminar agora no ambicioso projecto da Grande Baía. Esses planos apontam metas para 2022 e para 2035, prazo fixado para a sua conclusão. As coordenadas do desenvolvimento de Macau estão ali claramente delineadas, através do plano sectorial elaborado pelo Governo da RAEM, o qual merece mais ampla difusão, para que todos possam tomar conhecimento do que está verdadeiramente em preparação. Executado o plano da Grande Baía, entrará certamente em vigor um plano que estabelecerá as linhas mestras da integração definitiva.

Mas, no contexto da Grande Baía, Macau deverá ser um território único.

O que devemos desejar é que haja sempre clarividência para se entender que o maior valor de Macau reside no seu legado de séculos. A sua diferença é a marca da sua singularidade e só a manutenção da sua singularidade garantirá a utilidade da sua participação e da sua integração em condições que ainda estão por definir e podem, por isso, depender ainda da nossa legítima intervenção, em nome das associações e outras organizações da sociedade civil a que estamos ligados, como residentes permanentes. Filho da terra, invocarei sempre a legitimidade de participação que essa antiguidade deve facultar. Mas essa legitimidade de participação deve ser assegurada a todos quantos, de qualquer origem, aqui têm a sua casa e aqui decidiram fazer o seu futuro, que é o mesmo que dizer, fazer o futuro de Macau, sua terra, com as suas gentes, que acreditam que sem memória não haverá futuro. Esse futuro, porém, dependerá sempre muito mais da China do que de nós, dos rumos que ela for apontando para o seu desenvolvimento nas próximas décadas e dos sucessos da afirmação da sua influência crescente no mundo.

21 Dez 2020

RAEM, 21 anos | José Pedro Castanheira, jornalista: “Quem fez Macau foram os macaenses” 

Poucos jornalistas portugueses conhecem a Macau do período pré-1999 como José Pedro Castanheira. Repórter de investigação, escreveu vários livros sobre a história do território, sobretudo a partir do motim “1,2,3” e fez a cobertura da cerimónia da transferência de soberania. Ao HM, recorda a rapidez com que os símbolos portugueses foram apagados a seguir ao evento e as tensões entre Jorge Sampaio e Rocha Vieira

 

Como é que Macau surge na sua vida profissional? 

Já tinha ido a Macau várias vezes [antes da cerimónia da transferência de soberania]. Em 1999 fui com bastante mais tempo, estive cerca de quatro meses, para escrever um livro, “Os Últimos Cem Dias do Império”. A primeira vez que fui a Macau foi em representação do Sindicato dos Jornalistas nos anos 80. Estava no semanário O Jornal, que já não existe, e decidi ficar mais uns dias para escrever uma reportagem. A partir daí, passei a ir com alguma regularidade a Macau e sempre em serviço para o jornal. A partir de 1989 passou a ser o Expresso. Até que em 1996 fui para fazer uma reportagem na área em que já me estava a especializar, a área da investigação histórica, a propósito dos 30 anos do 1,2,3, e que depois seria transformada em livro. O 1,2,3 era um episódio completamente desconhecido e sobre o qual havia um silêncio enorme. Falei mesmo de um tabu, era um assunto tabu para as partes chinesa, portuguesa e macaense. Havia um consenso generalizado das três comunidades no sentido de não falar do caso.

Como descreve o clima que se vivia nos anos anteriores à transição? Havia um sentimento de medo?

Preferiria as palavras dúvida e receio. A transferência da Administração era um grande ponto de interrogação, sobretudo porque tinha havido há pouco tempo os acontecimentos de Tiananmen. Tinha havido a Revolução Cultural, que marcou muito as relações entre a China e o Ocidente, e em particular com Macau e Hong Kong. Havia um ambiente de muita dúvida. Claro que a transição de Macau foi decisivamente influenciada pela transição de Hong Kong, onde as coisas não correram muito bem. Mas, no essencial, o modelo foi transposto para Macau. As coisas acabaram por correr muito bem, muito melhor do que se esperaria, e estamos perante um sucesso histórico assinalável.

Houve, no entanto, muitas polémicas associadas à transição. A criação da Fundação Jorge Álvares foi uma delas. 21 anos depois, permanece ainda um mistério ou está tudo esclarecido? 

Acho que as coisas já são conhecidas no essencial. Os principais sujeitos históricos já escreveram as suas memórias, e sei que, neste momento, há outras biografias que estão a ser feitas. Há sempre pequenos pormenores e mistérios e alguns deles ficarão para todo o sempre. Mas devo dizer que a partir da transferência deixei de seguir Macau com a atenção com que anteriormente seguia.

Rocha Vieira foi um bom último Governador?

Foi e não foi… Rocha Vieira foi nomeado para pôr ordem na casa. Os dois anteriores governadores, Pinto Machado e Carlos Melancia, não tinham conseguido gerir o território de uma forma pacífica e politicamente equilibrada, e ainda por cima com casos conhecidos na área da corrupção. Macau estava na ordem do dia pelas piores razões. O Presidente Mário Soares decidiu alterar a sua linha essencial em relação a Macau, que era, contrariando quase toda a tradição histórica, ter à frente do território governadores civis – no sentido de não militares. Rocha Vieira pôs “ordem” na casa, deixou de se falar de Macau na imprensa portuguesa e passou a gerir Macau de uma forma muito própria, centralizada e sem fugas de informação. Incluindo com alguns laivos de autoritarismo, e foi criticado por isso. Depois, havia que negociar com a China, e isso era naturalmente muito difícil. Tinha de ser uma negociação a uma só voz, sem grandes divergências da parte de Portugal, e Rocha Vieira conseguiu gerir internamente o território e externamente na sua relação com a China. Depois, na fase final, quando houve uma mudança na presidência da República, com a eleição de Jorge Sampaio, as coisas mudaram bastante.

Houve algumas desavenças entre Sampaio e Rocha Vieira. 

Jorge Sampaio teve uma forma de abordar a questão de Macau e o relacionamento com o Governador muito diferente de Mário Soares. Isso depois levou a alguma agitação, e isso é conhecido e escrevi longamente sobre isso na biografia de Sampaio. Houve alguns problemas e a Fundação Jorge Álvares foi um deles, mas houve outros problemas relacionados com a transição, em particular a questão da entrada das tropas chinesas em Macau, quando e onde entrariam. Isso provocou grande discussão. Mas isso ficou bem resolvido, e se há assunto do qual a diplomacia portuguesa se pode orgulhar é a forma como Macau passou para a República Popular da China.

Mas escreveu no Expresso que Macau levou Sampaio ao hospital. 

Isso passou-se em 1996, logo após a eleição de Sampaio para a presidência. Uma das primeiras decisões de fundo que ele teve de tomar foi reconduzir, ou não, o Governador de Macau. Havia uma grande pressão no sentido de o substituir, e essa pressão vinha de Macau e também de vários sectores políticos de Portugal, em particular do Partido Socialista que na altura estava no Governo. A primeira decisão de fundo que Sampaio tomou foi essa e manteve Rocha Vieira, mas com uma série de condições. Uma delas era que Rocha Vieira teria de apresentar de uma forma regular contas políticas ao Presidente da República sobre a sua gestão do território. E foi numa importante e tensa reunião em Belém que o Presidente Sampaio teve um problema do foro cardíaco que o obrigou a ser operado mais tarde. Mas isso é revelador da tensão que o caso Macau suscitava na política portuguesa.

O que acha mais fascinante na história de Macau, 21 anos depois?

A importância crucial que teve, durante séculos, uma pequeníssima comunidade que é a macaense. Foi um grupo que se foi criando e na prática eram os intermediários entre portugueses e chineses, que viveram quase sempre de costas viradas uns para os outros. Os portugueses nunca aprenderam chinês e a China vice-versa – só mais tarde é que viria a apostar no português, não por causa de Portugal, mas sim da lusofonia. Essa comunidade foi ganhando a sua importância, mas é evidente que, hoje em dia, tem menos relevo porque os macaenses já não são tão necessários como foram. As especificidades de Macau foram muito importantes em alguns momentos do século XX, em especial no pós II Guerra Mundial e na Guerra Civil chinesa, quando Macau passou a ser uma terra de refugiados.

Acha que a comunidade macaense foi devidamente ouvida neste processo de transição?

Não. Os macaenses nunca foram devidamente valorizados, pelo menos do ponto de vista político. Basta ver o número ridiculamente baixo de macaenses que foram membros dos vários governos de Macau, o número muito baixo de macaenses que foram deputados à Assembleia Legislativa, o número quase nulo de macaenses que foram magistrados. Infelizmente, não lhes foi dado o valor e a representação a que tinham direito. Macau só teria a ganhar se fosse dado mais espaço e valor aos macaenses. É lamentável que assim tenha sido.

Sente que, 21 anos depois, Portugal dá atenção a Macau por causa da relação que tem com a China? Ou já teria caído no esquecimento? 

Acho que Macau caiu completamente no esquecimento.

Mas Portugal ainda tem obrigações em relação a Macau. 

Sim, certamente que tem. Mas Macau é uma região autónoma da China. Macau cresceu e mudou muito, embora eu não tenha conhecimentos e informação suficientes para falar da Macau de hoje. Uma das coisas que mudou foi o interesse da opinião pública e do poder político portugueses. A opinião pública ignora o que acontece em Macau e, no essencial, o poder político também. É pena porque é um território com muita história, mas também com presente e futuro. Há muita coisa que poderia passar por Macau do ponto de vista económico. Macau poderia servir de porta de entrada para a China, e penso que não é. Isso acontece ou por falta de iniciativa empresarial, ou por ausência de motivação e empenho do poder político – ou pelas duas razões conjugadas.

Recorda-se de algum percalço curioso da cerimónia da transição?

Houve dois momentos muito diferentes. Houve a festa portuguesa, um espectáculo tipicamente português, a que assisti com muita emoção. Levei comigo a minha família e o meu filho mais velho até participou nessa festa. Horas depois foi a cerimónia oficial, com todas as características chinesas, e que foi completamente oposta à festa portuguesa. A frieza, a disciplina, o planeamento, a falta de alma… Depois, uma coisa curiosa foi a extrema rapidez com que o novo poder chinês decidiu remover todos os sinais da antiga soberania portuguesa. Bandeiras, emblemas, em poucas horas os símbolos portugueses foram apagados. Mas, felizmente, ficaram alguns monumentos que mostram que Macau não foi só chinesa e foi, sobretudo, uma terra de macaenses. Quem fez Macau foram, sobretudo, os macaenses.

20 Dez 2020

Direito | Governo mostra abertura para regulamentar sociedades de advogados

O Governo diz-se disposto a avançar para a regulamentação das sociedades de advogados, um assunto que há vários anos permanece na gaveta da Associação dos Advogados de Macau. Se tal acontecer, o hemiciclo terá de votar o novo diploma. Advogados dizem que é preciso regulamentar algo que já acontece na prática e explicam as razões de um impasse de vários anos

Quando foi à Assembleia Legislativa (AL) discutir o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a sua tutela, o secretário André Cheong, da área da Administração e Justiça, disse que existe abertura para a regulamentação das sociedades de advogados. Mais tarde, o HM confirmou junto do gabinete de André Cheong que existe abertura para rever o Estatuto do Advogado, implantado em 1991 e alvo de duas alterações, a última em 1995.
“Nos termos do artigo 24.º do Estatuto supramencionado, a lei especial regulamentará a constituição e funcionamento de sociedades de advogados, ouvidos o Conselho Superior de Advocacia (CSA) e a Associação dos Advogados de Macau (AAM). Actualmente não há regime referente a sociedades de advogados estabelecidas em Macau.”
Nesse sentido, “o Governo adopta uma atitude aberta em relação à legislação e às orientações legislativas do regime, e irá auscultar as opiniões e sugestões do Conselho Superior de Advocacia e da AAM, de acordo com a lei”, explicou ainda o gabinete de André Cheong.
Esta é uma velha questão que tem suscitado braços-de-ferro na classe profissional.
O que é certo é que no último congresso da Associação de Advogados de Macau (AAM), no ano passado, o advogado Sérgio de Almeida Correia foi uma das vozes que criticou a falta de regulamentação das sociedades.
Numa apresentação feita no contexto do congresso, Sérgio de Almeida Correia disse que “continuamos sem uma regulamentação das sociedades de advogados, o que não impede o seu funcionamento de facto à margem da AAM, como ‘simples firmas comerciais’, em que nada contribui para a dignificação desta, nem para a resolução do problema”.
“Esperamos que seja no mandato da actual direcção que essa regulamentação conheça a luz do dia”, acrescentou o causídico. “A existência de práticas sem enquadramento e cobertura legal tem permitido a existência de situações deontológica e disciplinarmente discutíveis, sem que o CSA actue ou a Direcção se preocupe, pese embora a forma como depois acaba por a alguns fazer exigências incompreensíveis”, adiantou.
Sérgio de Almeida Correia diz que mantém a mesma posição face a este impasse. “O que considero deplorável é que, ao fim destes anos todos, não se tenha avançado um milímetro, permitindo-se depois na prática situações sem qualquer enquadramento legal, que são uma fraude e que induzem as pessoas em erro.”

O que acontece hoje

O advogado Jorge Menezes considera que é cada vez mais importante “dar verdade a esta mentira e regulamentá-la”, uma vez que, na prática, os escritórios já funcionam como sociedades. No entanto, como não existe uma regulamentação, acontece o facto de escritórios de grande dimensão aceitarem a defesa de intervenientes em posições opostas num mesmo processo porque, na teoria, cada advogado trabalha por si.
“A partir do momento em que tal suceda [a regulamentação], o mesmo escritório fica numa situação em que não pode aceitar processos em que estejam envolvidos conflitos de interesses. Agora cada escritório poderá dizer que cada advogado é um advogado, e que um escritório não mais é do que uma soma de advogados, pelo que um deles pode ter um processo e um outro advogado representar a parte contrária num mesmo processo. Ou situações em que um escritório defende primeiro uma parte e mais tarde defende a outra.”
Neste sentido, “o facto de não haver sociedades permite a desculpa para aceitar processos que, de outra forma, não seria admissível e seria uma violação ética grave”, frisa o advogado.
Jorge Menezes esclarece ainda que, caso cada advogado trabalhasse por si, jamais poderia ter acesso a todos os processos num só escritório. “Não há separação dos arquivos. Uma das razões para evitar conflitos de interesse é o segredo profissional, e os arquivos tinham de ser completamente estanques e inacessíveis aos outros advogados. Neste caso, não só os arquivos estão acessíveis como o servidor, com todos os processos, é comum a todos.”
O advogado Óscar Madureira chegou a fazer parte de uma comissão criada especialmente para este fim, que entregou um documento à direcção da AAM para regulamentar a matéria.
“Foi submetido um documento à direcção, mas nunca mais se discutiu o assunto”, revelou ao HM.
Para o causídico, esta é uma questão que peca por tardia. “Não quer dizer que a prática individual não possa ser idónea, competente e responsável, tanto que tem sido sempre assim em Macau. Mas a prática da sociedade é corrente em todo o mundo e do ponto de vista da responsabilidade é muito mais protectora dos clientes.”
Ter uma sociedade de advogados regulamentada “é uma forma mais organizada, rigorosa e transparente do exercício da advocacia em conjunto”. “É um sinal dos tempos e uma evolução. Percebo as razões pelas quais existe relutância [em regulamentar este assunto]”, disse Madureira.
Poderá estar em causa a possibilidade de sociedades de advogados internacionais poderem entrar no mercado. “Nunca ninguém me confirmou a razão desse impasse, mas acho que existe algum receio de que a prática da advocacia em sociedade possa trazer as sociedades internacionais. Muitas delas são de Hong Kong, americanas e porque não da China. Mas existem formas de se limitar essa participação, basta que se delimite que um sócio de uma sociedade tenha de ser advogado em Macau”, apontou.
Questionado sobre se o Direito de Macau poderia ser um problema, Óscar Madureira rejeita. “Os sócios dessa sociedade continuariam a ser advogados habilitados a exercer em Macau, pelo que essa questão não se punha. A [chegada] das sociedades internacionais é uma falsa questão, porque não regulamentando é que podem surgir situações de menor transparência.”
Relativamente ao facto de Macau estar a caminhar a passos largos para a integração regional no contexto do projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, Óscar Madureira considera que essa é mais uma razão para se avançar nesta matéria.
“Se Macau tende a integrar-se mais na Grande Baía com outras jurisdições onde está regulado o funcionamento das sociedades, porque é que Macau há-de ficar atrás? Não há muito a ganhar nesse contexto, pois Macau tem óptimos advogados e em número suficiente para poder exercer e constituir sociedades”, explicou.

Uma questão de contas

Para Miguel de Senna Fernandes está na altura de a classe de advogados se modernizar e adaptar aos novos tempos. “É uma incógnita, não sei porque se tem travado tanto este assunto.”
“Não sei porque o Governo, até este momento, nunca adoptou uma medida sobre isto, quando se sabe que muitos advogados se agrupam e sentem necessidade de se juntar num corpo de serviços. Não sei se entende que uma sociedade possa afectar a questão da responsabilidade dos advogados”, defendeu.
Miguel de Senna Fernandes recorda que, à luz do Código Civil, existe a noção de lucro associada a uma sociedade. “Será que se pode falar de lucros numa sociedade de advogados? Nós temos os nossos honorários, uma contrapartida pelos serviços que prestamos. Mas haverá uma maneira de contornar essas questões.”
Jorge Menezes explicou que actualmente “como os escritórios têm de partilhar lucros e despesas, constituem sociedades que são gestoras de escritórios, e que são uma espécie de sombra das sociedades de advogados”.

AL terá de votar

Caso se avance para a regulamentação, os deputados da Assembleia Legislativa terão de votar a matéria. Para Sérgio de Almeida Correia, tal poderá levantar algumas questões. “Antes [de 1999] era aprovado por decreto-lei, mas esta figura, e a da portaria, foram abolidas após a transição. Se isto tem sido feito em 1996 não se colocaria este problema agora e há muito que estaria resolvido. Houve falta de visão dos que, na altura, mandavam na AAM, que são os mesmos de hoje.”
O causídico diz que houve “medo de perder ‘negócios’ com a chegada das sociedades”, existindo agora “o medo de ir à AL e perderem [a AAM] o estatuto de associação pública”. “Provavelmente, iremos todos, advogados e cidadãos, pagar o preço do egoísmo de alguns. Mas as sociedades entraram de forma encapotada”, frisou.
Jorge Menezes alerta para o facto de ser o Governo a avançar para esta regulamentação. “Isso de o Governo querer mexer no Estatuto do Advogado é uma coisa um bocado assustadora. A ideia fundamental é sermos a única associação auto-regulada. É fundamental que os advogados sejam uma ordem com completa autonomia, o Governo não pode decidir nada, para que os advogados não sofram nenhum tipo de pressão, nomeadamente de natureza política. E aí, Neto Valente tem lutado muito pela autonomia da AAM em relação ao Governo”, rematou.

16 Dez 2020

Mandarina | Editora lança obra que recorda anos do jardim de infância

A editora Mandarina, dedicada aos livros para a infância, acaba de lançar uma obra bilingue que pretende registar as memórias dos alunos do jardim de infância D. José da Costa Nunes. Catarina Mesquita, fundadora da editora, diz já estar a pensar num livro destinado ao ensino primário que possa ser adquirido por outras escolas

Registar os principais passos e actividades dos alunos do jardim de infância D. José da Costa Nunes é o objectivo do novo livro bilingue da editora Mandarina, e o primeiro a ser lançado sob encomenda. Nesta obra, que só pode ser adquirida na escola, cabem memórias tão diversas como a composição da turma do aluno, as principais actividades em que participou ou os nomes dos colegas e professores.
Ao HM, Catarina Mesquita, fundadora da Mandarina, explicou que a ideia de lançar este livro nasceu depois de uma reunião de amigas. “Numa conversa falámos sobre fazer um livro para a escola. Falei com a Bárbara Carmo e ela disse-me que gostava de fazer um projecto para a escola. Ela é educadora de infância e avançamos com a proposta junto da direcção do Costa Nunes, que a recebeu com imenso agrado.”
Não se tratando de um livro de memórias sobre uma das escolas mais antigas do território, esta obra não é mais do que um álbum com espaços para preencher pelas educadoras de infância em conjunto com os alunos. “A ideia é ser um livro semelhante aos livros de bebé, que duram até a criança ir para a escola. Este tipo de livros não existe no mercado”, frisou.
Os textos são da autoria de Catarina Mesquita, enquanto que Bárbara Carmo, educadora de infância, fez o trabalho de consultoria, “porque é educadora e sabe melhor o que as crianças fazem dentro da escola”.
A obra não pode ser vendida fora da escola. Catarina Mesquita adiantou que os pais dos alunos que já deixaram o jardim de infância poderão também adquirir o livro.

Mais a caminho

Depois de ter lançado vários livros infantis sobre a história de Macau, e não só, a Mandarina aventura-se agora na publicação de obras por encomenda, e já está a pensar num novo livro destinado ao ensino primário.
“Este foi o nosso primeiro projecto para um cliente, mas a nossa intenção é fazermos muitos mais. Temos várias ideias de livros para outras empresas e instituições. Surgiu-nos a ideia de fazer um livro da escola primária que será a continuidade deste”, adiantou.
Catarina Mesquita confessou que a editora ainda está na fase de selecção de instituições de ensino que queiram adquirir esta obra. “Vamos propor a algumas escolas primárias para dar continuidade a este projecto. Estamos abertos a que queiram editar connosco. É algo que queremos muito fazer porque achamos que podemos chegar às crianças de uma outra forma”, rematou a fundadora da Mandarina.

11 Dez 2020

Hong Kong | Os primórdios da educação de matriz portuguesa

Jason James Santos, cidadão português a residir em Hong Kong, fez um levantamento exaustivo, no âmbito de uma tese de mestrado, sobre as escolas de matriz portuguesa criadas em Hong Kong no período compreendido entre 1841 e 1941. Da existência de “escolas livres”, fundadas por portugueses, a situação evoluiu para a fundação do Colégio de São José e Colégio La Salle, que ainda hoje existem e se destinam apenas a rapazes

A data da ocupação britânica do território de Hong Kong, em 1841, coincide com o início da aposta não apenas numa educação de matriz protestante, mas também católica. Foi nessa altura que começaram a aparecer as primeiras escolas de matriz portuguesa.
Estas e outras informações constam no ensaio “Portuguese Education in Colonial Hong Kong – 1841-1941”, elaborado por Jason James Santos no âmbito de uma tese de mestrado que o académico está a desenvolver na Universidade Nova de Lisboa. Jason James Santos é professor do ensino secundário em Hong Kong.
Este é um passo que nunca tinha sido dado, tendo obrigado Jason James Santos a enfrentar vários desafios durante a pesquisa de material. “Fiz um levantamento que nunca tinha sido feito, e mesmo no que toca à história de Hong Kong, na versão inglesa, tem havido muito pouco interesse nesta área. Fiz um levantamento muito simples, mas exaustivo, dos registos públicos que existem em Hong Kong”, contou ao HM.
Essa viagem no tempo levou-o a descobrir que, nas primeiras décadas da Administração britânica de Hong Kong, as escolas portuguesas proliferavam, mas pouco se sabia sobre elas. Eram as chamadas “Free Schools” [Escolas Livres] e delas apenas se sabe a rua, o nome do director e o número de alunos. “Qualquer pessoa poderia abrir uma escola, em qualquer lugar, até em casa. Não havia controlo. Temos um sem número de escolas que existiam porque alguém tinha dinheiro e vontade de o fazer. As esposas de quem tinha dinheiro e que tinham disponibilidade para dar aulas, abriam uma escola.”
Desta forma, no período compreendido entre 1849 e 1854 havia “uma série de escolas na mesma rua”, pelo que é possível que “a comunidade portuguesa estivesse concentrada na mesma zona”. Essa rua era a Wellington Street, hoje situada na zona central da ilha de Hong Kong.
“Na primeira década temos escolas com 20 alunos, e algumas notas referem tratar-se de uma escola portuguesa, cujo director é o senhor João Pereira. Os alunos eram europeus, de educação católica, e havia 20 alunos do sexo masculino. São os únicos registos existentes”, frisou Jason James Santos.
A supervisão dos conteúdos didácticos ou do ensino não existia. “Nas primeiras décadas da colónia não existia um departamento público destinado à educação, e foram os portugueses que impulsionaram a educação na colónia. Só em 1860 é que os britânicos sentiram necessidade de ter um pouco de controlo em relação ao que se estava a passar em termos de educação”, contou o investigador.
A falta de supervisão explica os registos bastante vagos sobre a época. “[Numa das notas] surge o senhor J.J. Silva e Sousa como director de uma escola com 50 alunos, e depois surge a senhora J.J. Silva e Sousa como directora de uma outra escola, na mesma rua, só para raparigas.”
Ainda assim, Jason James Santos acredita que neste período o ensino do inglês seria muito importante. “Quando se cria o secretariado da educação, já sob alçada do Governo colonial britânico, o primeiro secretário para a educação diz que é obsceno os alunos que estão a receber educação em Hong Kong não saberem falar inglês. Isso está numa carta que consta nos arquivos.” Além disso, “uns anos mais tarde, há um grupo enorme de portugueses que se juntam à Administração colonial britânica, ocupando uma série de cargos importantes, e que necessitam de falar inglês”.
É também no ano de 1860 que é fundada o St. Saviour College, uma “escola comercial para a comunidade portuguesa”, lê-se no documento produzido por Jason James Santos. “Nos primeiros anos da nova colónia, alguns indivíduos e mesmo famílias inteiras mudaram-se para Hong Kong em busca de trabalhos com maior reputação com a Administração colonial ou para desenvolver negócios no novo entreposto comercial do Império Britânico. Em alguns casos, a transferência de Macau para Hong Kong foi determinada por entidades que desejavam transferir completamente as suas operações.”

O Colégio de São José

A ocorrência de um violento tufão, no ano de 1874, que afectou bastante Macau, levou muitas famílias a partirem para Hong Kong. O que seria uma mudança temporária acabou por se transformar numa residência permanente até à II Guerra Mundial.
Neste período, “temos escolas com muitos mais alunos”. A partir da década de 70 do século XVIII surgem “uma série de escolas importantes”, sendo uma delas o Colégio de São José, que abre portas em 1875 e que à época se chamava Colégio de São Salvador.
“Toda a informação que existe sobre esta escola está nos cofres do colégio, até ao dia de hoje. E o acesso não é facilitado. Vi alguns documentos quando lá trabalhei. A qualidade dos documentos é terrível, têm documentos com mais de 100 anos de idade dentro de sacos de plástico”, referiu. O Colégio de São José está localizado na Kennedy Road, em Central, e apenas aceita rapazes, estando no ranking das melhores escolas do território vizinho.
Mas voltando às décadas de 70 e 80 do século XVIII, altera-se a designação de “Free Schools” para Escolas Portuguesas Privadas. Mantinha-se a génese de escolas profundamente elitistas e com separação de sexos, um modelo que ainda hoje persiste em Hong Kong.

A Victoria Portuguese School

Os arquivos revelam que, em 1914, é criada a Victoria Portuguese School, ainda que não se conheça a sua localização. Na década de 90 do século XX o nome é alterado para Nova Escola Portugueza. Em 1906 surge uma nova instituição de ensino, a “Equal Portuguese School” que tinha “as mesmas pessoas” da Victoria Portuguese School, e que mais tarde viria a chamar-se “English School for Portuguese”.
Há depois uma terceira vaga de escolas portuguesas, onde se inclui a fundação do Colégio La Salle, em Kowloon, e que mais não era do que uma extensão do Colégio de São José. “Em 1932 passa a ter o nome de Colégio La Salle e depois tornou-se a escola com maior reputação em todo o território. Na década de 30 tinha quase mil alunos, o que para a época era um número impressionante. O Colégio de São José tinha cerca de 200.”
Depois da II Guerra Mundial começaram a escassear as escolas de matriz portuguesa no território, o que coincide com a saída de muitos membros das comunidades portuguesa e macaense de Hong Kong, devido ao conflito mundial.
Ainda assim, Jason James Santos destaca um “caso estranho e muito mal explicado” ao qual promete regressar nesta ou numa outra investigação: o da Escola Camões, que ainda hoje existe mas que está ligada ao ensino inglês e chinês, tendo mantendo apenas o nome.
“Esta escola surge nos anos 50 e, segundo os seus estatutos, um grupo de portugueses queria reabilitar a educação portuguesa no território. Falei com professores que lá trabalharam que me disseram que o seu ordenado era pago pelo Estado português.”
Jason James Santos estranha este caso após décadas de escolas portuguesas privadas. “No século XIX era tudo privado, e depois no século XX temos alguns registos de apoio financeiro vindo do Governo de Macau. O próprio Governador de Macau fez algumas visitas a Hong Kong na primeira metade do século XX e havia algum financiamento. No pós-II Guerra não há nenhuma ligação, mas estes professores juram que o seu ordenado era pago pelo Estado português”, rematou Jason James Santos.

9 Dez 2020

Transporte marítimo | Abertura para pedidos de novas carreiras

[dropcap]O[/dropcap] Governo está disposto a abrir novas carreiras marítimas com cidades do sul da China e já terá recebido um pedido de uma concessionária. A informação foi avançada na sexta-feira por Susana Wong, directora dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água.

No então, a responsável não adiantou qual foi a concessionária que fez o pedido. “Uma companhia de navegação pretende criar uma nova carreira até à China e entendemos que somos capazes de angariar novas carreiras com as cidades do sul do Delta [do Rio das Pérolas]”, disse Susana Wong.

Também o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse que é “possível abrir mais rotas se as regiões vizinhas concordarem”. “Podemos abrir mais rotas nos terminais marítimos”, frisou.
Susana Wong adiantou que “devido à pandemia o número de passageiros caiu bastante”. “Neste momento não temos planos para criar um novo terminal [marítimo], mas estamos a ver como podemos aproveitar os actuais terminais marítimos”, concluiu.

7 Dez 2020

Táxis | Agnes Lam diz que taxa de 300 patacas é “injusta”

[dropcap]A[/dropcap] deputada Agnes Lam disse na sexta-feira, na Assembleia Legislativa (AL), que a implementação de uma taxa mensal de 300 patacas a pagar pelos taxistas pelo uso do sistema inteligente nos veículos é uma medida “injusta”.

No dia anterior, a deputada acompanhou um grupo de taxistas na entrega de uma petição na sede do Governo. “Dez patacas representa dez por cento do rendimento diário dos taxistas. Concordamos que este sector necessita de ser fiscalizado, mas não podemos punir todos os profissionais do sector. Eles não foram ouvidos e isto é uma injustiça. Parece pouco dinheiro, mas com o tempo este dinheiro significa muito. Será que o Governo pode suspender esta medida? Isto é extremamente injusto.”

Os representantes do Governo lembraram que, o ano passado, os deputados não só discutiram este ponto como o aprovaram. “Quando elaboramos o regulamento administrativo em Maio de 2019 foi divulgada esta informação, não é uma novidade”, disse Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas.

Lam Hin San lembrou que “todos são interessados” e que o pagamento da taxa é da responsabilidade do portador do alvará. “Nas reuniões das comissões da AL discutimos a nível técnico a gravação do som e imagem. Como seriam feitos uploads imediatos dos dados e os custos eram elevados, os deputados concordaram em usar este método”, rematou.

7 Dez 2020

Secretário diz “não conseguir dar detalhes” sobre rede 5G

[dropcap]O[/dropcap] secretário para os Transportes e Obras Públicas Raimundo do Rosário lamentou não ter mais informações para adiantar acerca processo de implementação da rede 5G em Macau.

Em resposta a Joye Lao, que procurou saber porque é que as Linhas de Acção Governativa (LAG) da tutela são omissas sobre o tema, Raimundo do Rosário afirmou ter “pena” por não conseguir adiantar mais detalhes, apontando, contudo, que o Governo não pretende, para já, fazer “um grande investimento”, na implementação de uma tecnologia que é, já de si, dispendiosa. “Vamos ver como é que conseguimos evitar que o menor investimento do Governo tenha um impacto negativo”, acrescentou.

Raimundo do Rosário sublinhou ainda que o contrato com a CTM vai terminar no final de 2021, aspecto referido durante as intervenções de Wong Kit Cheng, Ma Chi Seng, Agnes Lam e Chan Hong. Entre as preocupações dos deputados estavam eventuais perigos relacionados com radiações devido à construção de estações em edifícios residenciais e a manutenção do monopólio da CTM quanto ao aluguer das estações.

Na resposta, Derbie Lau, directora dos Serviços de Correios e Telecomunicações, afirmou esperar que os activos da CTM “sejam libertados para a utilização de outras operadoras” e que a posição será de “abertura”.

Sobre a questão da radiação, Derbie Lau afirmou que “se todos os moradores aceitarem a instalação de estações”, várias entidades académicas estarão incumbidas de “proceder a estudos”.

“Se podemos instalar [as estações] em edifícios do Governo porque não podemos instalar também em edifícios residenciais? O 5G depende da construção de muitas estações em muitos edifícios e a grande altura para garantir a cobertura da rede”, acrescentou Raimundo do Rosário.

7 Dez 2020

Autocarros | Acidente na Taipa terá sido provocado pelo motorista

O violento acidente ocorrido na zona da Taipa velha, a 7 de Novembro, e que originou sete feridos, terá sido originado pelo cansaço do motorista, disse o director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego com base num relatório preliminar. Transmac irá pagar as indemnizações a seis feridos

 

[dropcap]O[/dropcap] cansaço do motorista do autocarro 33, da concessionária Transmac, terá estado na origem do acidente de viação que ocorreu no passado dia 7 de Novembro na zona da Taipa velha. As informações foram avançadas por Lam Hin San, director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), no último debate sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área dos Transportes e Obras Públicas.

“Recebemos o resultado preliminar, e muito em breve vamos divulgar os resultados. Mas o incidente deveu-se ao motorista. Vamos dialogar com as empresas para que os motoristas tenham mais tempo para descansar”, frisou.

Lam Hin San adiantou também que será a Transmac a pagar as indemnizações aos seis feridos. “Em termos de gravidade dos ferimentos, estamos a acompanhar um caso. Para os outros seis será a empresa a responsável pela indemnização.” O director da DSAT lembrou que, nos últimos cinco anos, “o número de acidentes tem diminuído”, além de que as concessionárias “prestam muita atenção à segurança”.

Veículos velhos

O deputado José Pereira Coutinho questionou o Governo sobre o facto de os contratos com as empresas de autocarros não preverem a protecção dos passageiros em caso de ocorrência de ferimentos. “Não vejo nos contratos uma cláusula que proteja os passageiros no caso de ferimentos graves e estes têm de gastar muito dinheiro com despesas médicas”, apontou.

Lam Hin San confirmou o facto. “Quanto à protecção dos passageiros, sancionamos as empresas quando os acidentes geram mortes. Queremos incentivar as empresas a reforçarem a formação de motoristas.”

Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, admitiu que muitas frotas das concessionárias são compostas por autocarros velhos. “A média de idade dos autocarros é elevada. Nos últimos dois anos não foram adquiridos novos autocarros.”

No debate de sexta-feira, o Governo anunciou ainda que as câmaras de videovigilância instaladas nos autocarros vão passar a registar gravações de áudio. “Alguns autocarros já têm sistema de gravação de imagem. No futuro, também vai haver sonora. Pode saber-se o que se passa no interior dos autocarros e, assim, conseguir resolver problemas que possam ocorrer”, afirmou Lam Hin San.

7 Dez 2020

Web Summit | Presidente da Xiaomi afasta acusações de partilha de dados pessoais 

Wang Xiang, presidente da tecnológica Xiaomi, participou em duas sessões na Web Summit, em Lisboa, e voltou a rejeitar as acusações de que a empresa terá recolhido dados pessoais de utilizadores de forma ilegal. O empresário garante que a Xiaomi usa regulamentos muito semelhantes aos que vigoram na Europa na área da protecção de dados

 

[dropcap]F[/dropcap]oi em Abril deste ano que a revista Forbes publicou uma reportagem que demonstrava como a Xiaomi estaria a recolher os dados pessoais dos usuários através dos smartphones da marca sem a sua autorização, levantando uma enorme questão de cibersegurança. Wang Xiang, presidente da Xiaomi foi orador na última edição da Web Summit, em Lisboa, e voltou a rejeitar estas acusações.

“Não providenciamos dados a outras empresas do meu ponto de vista. Executamos regras de protecção de dados pessoais muito restritas e respeitamos regulamentos. Executamos regras na China semelhantes às que existem na Europa, não vendemos dados”, disse o empresário. Numa outra sessão online, moderada pela jornalista Xin Li, do grupo Caixin Media, Wang Xiang voltou a ser confrontado com este assunto.

“Na verdade, somos bastante conservadores na área da protecção de dados pessoais. Passámos muito tempo a estudar as novas regulações que surgiram na Europa e tentámos aplicá-las a 100 por cento. Adiámos o lançamento de muitos produtos para rever vezes sem conta a questão da privacidade de dados.”

O empresário, que entrou para a Xiaomi há apenas cinco anos, assegurou que “os dados de todos os produtos que são fornecidos para a Europa são armazenados fora da China, ficam na Europa”. “Este é um passo muito importante para garantir que tudo é seguro”, frisou.

Para todos os bolsos

Fundada há apenas dez anos, a Xiaomi desde sempre teve o “sonho” de criar tecnologia acessível a todas as bolsas. E um dos primeiros produtos em que apostou foi o purificador de ar, numa altura em que a qualidade do ar era uma enorme questão na China.

“Definimos um mercado para o produto por nós próprios. Há uns anos a China tinha um enorme problema com a poluição do ar, mas um purificador de ar ficava extremamente caro para o consumidor. Custava cerca de 1000 dólares e queríamos resolver esse problema. Fizemos muitos esforços para encontrar os melhores engenheiros nessa área, ao nível dos filtros, por exemplo. Tornámo-nos na marca número um na venda de purificadores de ar na China”, contou o empresário.

Uma das formas que a Xiaomi encontrou para o consumidor pagar muito menos por um produto semelhante à concorrência foi o uso exclusivo de plataformas online no processo de produção. Regular preços exigiu, para a empresa, “um grande esforço e determinação”. “O nosso sonho e modelo de negócio é que todos tenham uma vida melhor através da inovação. Inovámos em muitas áreas, melhorando a eficiência dos nossos canais de distribuição. No início da Xiaomi não vendemos nada através dos canais tradicionais porque iria custar muito dinheiro da fábrica até ao consumidor final, então usámos apenas canais online. Não gastamos nenhum dinheiro no mercado tradicional. Usamos 100 por cento canais online para comunicar as nossas ideias e produtos”, acrescentou.

Actualmente, a Xiaomi possui um modelo de negócio que passa por deter posições minoritárias em startups com as quais podem operar ao nível da concepção e design do produto. “Investimos em mais de 100 empresas e investimos nessas startups, com acções minoritárias, para que façam parte da nossa empresa.

Estas mantêm-se como startups e ficamos responsáveis pelo design do produto. Se os produtos destas empresas preencherem os nossos requisitos, vamos vender a nossa marca. É um modelo muito eficiente, produtivo e único. Alguns produtos são feitos a 100 por cento por nós, mas investimos em start-ups para construir esse sistema de igualdade.”

IA é o futuro

Olhando para o futuro, Wang Xiang não tem dúvidas de que ele passa pelo uso cada vez maior da Inteligência Artificial (IA) nas nossas vidas. “A IA vai ser uma tecnologia muito importante para mudar as vidas das pessoas, para as ajudar, então estamos a investir muito nessa área. Temos milhares de engenheiros na área da IA.”

A pensar nisso, a Xiaomi desenvolveu uma série de produtos que podem ser programados através da voz, sem comandos ou botões. “Podemos falar para esse sistema e monitorar todos os aparelhos na nossa casa.

Por exemplo, é possível ligar e desligar luzes, abrir ou fechar cortinas. Tudo isso pode ser monitorizado através do sistema de voz. Também se pode usar os comandos da televisão para seleccionar filmes ou programas, e não é preciso carregar nos botões, basta usar a voz.”

Um exemplo de um produto inteligente da marca, e que é o mais usado por Wang Xiang, é a panela de cozer arroz. “É um dos meus produtos favoritos, porque podemos comprar o arroz e usar um smartphone para fotografar o código de barras e descobrimos de onde vem o arroz. Temos milhares de receitas com arroz guardadas em nuvem para ajudar o utilizador a cozinhar”, explicou.

Com cerca de dois mil produtos ligados à área do Life and Style, a Xiaomi assume que não tem, para já, planos para entrar no mercado dos carros eléctricos. “Não posso responder se temos planos porque não trabalhamos nessa área agora. Estamos a produzir scooters eléctricas que são das mais populares no mundo. Na Europa já é muito fácil encontrar as nossas scooters, em Roma, Barcelona.”

Um dos desafios que a marca necessita de enfrentar actualmente é a contratação de engenheiros que saibam responder a diversas valências e mercados. “Estamos em vários mercados tecnológicos. Produzimos smartphones, televisões inteligentes e scooters, e todos esses produtos têm tecnologias diferentes. Como podemos encontrar os melhores profissionais para garantir a inovação?”, questionou.

Com uma presença em cerca de 90 mercados, e com um enorme crescimento na Índia, a Xiaomi diz ter uma mente aberta em relação a questões diplomáticas e medidas de proteccionismo económico que têm sido adoptadas. “A Xiaomi é uma empresa muito recente e aberta. Somos diferentes. A empresa foi fundada por um grupo de engenheiros e empreendedores, há dez anos, tal como qualquer start-up na Europa ou no resto do mundo. Estamos a tentar melhorar as vidas das pessoas e a terem acesso a uma melhor tecnologia.

Estamos na bolsa de valores de Hong Kong desde Julho de 2018, somos muito abertos. Temos engenheiros em todo o mundo, na China, Japão, EUA. Temos nove centros de design fora da China. Somos uma empresa global e não me preocupo com essas questões”, rematou.

A Web Summit, considerada a maior feira de tecnologia, startups e empreendedorismo do mundo, decorreu em Lisboa e chegou ao fim na sexta-feira, depois de três dias de uma edição inteiramente online devido à pandemia da covid-19.

7 Dez 2020

Eleições | Democratas rejeitam alegações de Song Pek Kei sobre financiamento externo 

A deputada Song Pek Kei falou da possibilidade de os democratas de Macau serem financiados por países estrangeiros por “estarem muito familiarizados com alguns blocos ocidentais”. Au Kam San fala em “falácia sem provas”, Sulu Sou diz que o campo pró-democracia sempre teve dificuldades financeiras

 

[dropcap]O[/dropcap]s deputados do campo pró-democracia de Macau afastam a ideia de um eventual financiamento por países estrangeiros nas suas actividades e campanhas eleitorais, depois de a deputada Song Pek Kei ter feito essa referência no debate sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área da Segurança.

Song Pek Kei disse que “muitos democratas de Macau estão muito familiarizados com alguns blocos ocidentais”. “As eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong mostraram-nos que alguns fundos eleitorais dos democratas foram angariados junto do público, mas muitos vieram de instituições de países ocidentais. Não sei se este tipo de apoio atinge Macau, mas é melhor não”, disse no hemiciclo.

“No passado alguns jovens de Macau reuniram com independentistas e democratas de Hong Kong, então qual é a relação entre eles? É necessária uma investigação da polícia. Se existir realmente [essa ligação], então trata-se o caso segundo a lei”, defendeu a deputada ao HM.

Song Pek Kei alerta para o facto de se realizarem eleições em 2021. “O secretário para a Segurança precisa de ter cuidado, pois no próximo ano há eleições.”

Questionada sobre que provas tem para levantar esta questão, a deputada referiu que estas “estão acessíveis em meios online”. “O caso de Hong Kong e as práticas de alguns países já foram divulgadas pelos meios de comunicação. Pode procurar na Internet e aparecem muitas destas informações”, adiantou.

Tudo mentira

Sulu Sou, deputado e membro da direcção da Associação Novo Macau (ANM), lembrou que esta nunca pediu fundos públicos. “Todos os deputados deviam falar de factos na AL, e se não houver factos que sustentem o seu discurso, não é razoável fazê-lo em público. Em Macau o campo pró-democracia enfrenta uma situação financeira difícil há muitos anos.”

Sulu Sou diz não estar surpreendido com esta intervenção. “Conheço muitos políticos e eles falam sempre do financiamento do campo pró-democracia. Usam este ataque político para construir o cenário de que recebemos fundos públicos de países ocidentais.”

Já Au Kam San considera que estamos perante “uma afirmação irresponsável”. “É uma falácia sem quaisquer provas. Se existe essa situação em Hong Kong? Não sei. As leis de Macau são claras, é preciso entregar a contabilidade para explicar a origem dos fundos e isso é regulado pela lei eleitoral. Ela [Song Pek Kei] é deputada e também conhece bem as leis que regulam a origem dos fundos para as eleições”, explicou.

As negas de Ng Kuok Cheong

O deputado Ng Kuok Cheong disse que as palavras de Song Pek Kei estão “em conjugação com as intenções dos oficiais que gerem os assuntos de Hong Kong e Macau, para que este tema seja o foco”. Mas lembrou que, quando foi eleito, em 1992, chegou a ser convidado para ir aos EUA, mas recusou sempre. Ng Kuok Cheong diz não se recordar de quem o convidou. “Eram chineses e falavam cantonês. Ligavam-me ou iam directamente ao meu escritório.”

“Depois de chegar aos EUA discutiríamos os pormenores dos subsídios. Quem me convidava dizia que as minhas acções beneficiavam o mundo e que devia continuar com este esforço. Incentivavam-me a dar mais atenção aos acordos mundiais sobre direitos humanos, sociedade e bem-estar. Acho que era um mecanismo permanente dos EUA”, adiantou. “Depois de 1993 não recebi mais convites. Acho que este tipo de subsídios não têm a intenção de desestabilizar um Estado, é apenas um favorecimento para fazer os trabalhos que beneficiam o mundo.”

3 Dez 2020

Relatório | China diz-se disposta a cooperar e a dialogar com a NATO

A NATO anunciou esta terça-feira a aprovação de um relatório que “analisa o desenvolvimento militar” da China e as implicações que o crescimento chinês terá para a organização. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês já reagiu e afirma estar disposto a cooperar e a dialogar com a NATO, sempre numa perspectiva de “desenvolvimento pacífico” e “cooperação com ganhos mútuos”

 

[dropcap]O[/dropcap] secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, anunciou esta terça-feira que os ministros dos Negócios Estrangeiros da Aliança aprovaram um relatório que “analisa o desenvolvimento militar” da China e as implicações que terá para a NATO.

“Concordámos num relatório abrangente, que analisa o desenvolvimento militar da China, a sua actividade crescente na nossa vizinhança e as implicações que tem para a resiliência da NATO, incluindo no que se refere à fusão de tecnologias e à nossa infraestrutura crítica”, referiu Stoltenberg em conferência de imprensa.

As declarações foram feitas após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) que contou também com a presença de parceiros do Japão, Austrália, Nova Zelândia e Coreia do Sul, tendo o tema principal sido “a mudança global no equilíbrio de poder com a ascensão da China”.

Também esta terça-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) da China reagiu a estas declarações numa conferência de imprensa protagonizada pela porta-voz Hua Chunying. “A China sempre aderiu ao desenvolvimento pacífico e uma cooperação com ganhos mútuos, por forma a garantir a visão comum, compreensiva, cooperativa e sustentável de segurança, e sempre defendeu uma estratégia que é defensiva na sua natureza”, lê-se numa transcrição publicada no website do MNE.

A porta-voz declarou também que o “desenvolvimento da China tem promovido o progresso e a prosperidade do mundo, e não tem como objectivo ou não irá impor uma ameaça ou um desafio a nenhum país”.
“Esperamos que a NATO possa olhar para o desenvolvimento da China de uma forma objectiva, aberta e positiva. O relatório diz que a NATO está aberta aos contactos e à cooperação com a China. A China também está disposta a levar a cabo um diálogo e cooperação com a NATO na base da igualdade e do respeito mútuo, por forma a fazer contribuições positivas para garantir a paz mundial e a estabilidade”, acrescentou Hua Chunying.

Nova abordagem

Na terça-feira, o secretário-geral da NATO disse também que a China “não é um adversário” da Aliança, e pode criar “novas oportunidades” no tema do comércio ou do clima, mas “cria desafios”.

“A China tem o segundo maior orçamento de defesa no mundo e está a investir fortemente em novas capacidades [militares]. E a China não partilha os nossos valores, mina os direitos humanos, intimida outros países e está a envolver-se cada vez mais numa competição sistémica connosco”, sublinhou o secretário-geral.

Stoltenberg instou assim a “comunidade de democracias com ideias semelhantes” a “trabalhar em conjunto” de maneira a “reforçar a resiliência das sociedades, economias, instituições” e “defender a ordem [mundial] baseada em regras”.

Para tal, o secretário-geral referiu que foram discutidas novas medidas de cooperação com os parceiros da NATO que vão da “partilha de informações” à “promoção de abordagens comuns incluindo no ciberespaço ou no fortalecimento global de regras e normas sobre, por exemplo, no controlo de armas”.

“Nos últimos anos, vimos uma mudança significativa na nossa compreensão da China e uma crescente convergência dos pontos de vista tanto dentro da NATO, como com os nossos parceiros”, frisou Stoltenberg.
Frisando que a NATO tem de ter “uma abordagem mais global” no futuro, Stoltenberg sublinhou, ainda assim, que a Aliança se mantém disposta a cooperar com a China.

“Mantemo-nos preparados para colaborarmos com a China – como, aliás, já o estamos a fazer – enquanto potência emergente. Mas, enquanto potência emergente, a China também tem de respeitar a ordem internacional baseada em regras”, afirmou o secretário-geral da Aliança.

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO estiveram reunidos virtualmente esta terça tendo discutido, além da China, o fortalecimento da presença militar da Aliança no mar Negro.

Da “resiliência”

Além da questão chinesa, o relatório da NATO também fala da necessidade de reforçar a sua presença a oriente, nomeadamente na zona do Mar Negro e tendo em conta a presença militar russa na zona da Crimeia. Questionado sobre esta matéria, o secretário-geral da NATO assegurou que a organização sempre se pautou pela resiliência, algo “de grande importância”.

“Uma das questões que discutimos hoje foi a importância de nos reforçarmos daqui para a frente, a nossa resiliência em proteger as nossas infra-estruturas mais importantes, telecomunicações, a continuação de Governos, porque sabemos que a única forma de ter uma defesa forte é ter sociedades fortes.”

Jens Stoltenberg frisou também que “a importância da resiliência aumentou à luz do facto de que agora estamos a lidar com as consequências do crescimento da China”, um país que “está a investir bastante nas nossas infra-estruturas importantes”. Desta forma, “precisamos de assegurar as consequências disso em matéria de segurança e garantir que temos infra-estruturas seguras e que estamos dispostos a atingir os níveis necessários de resiliência”.

O secretário-geral da NATO lembrou que a organização tem tido sempre a capacidade de adaptação num mundo em constante mudança. “Depois da anexação ilegal da Crimeia, decidimos aumentar a nossa presença militar no lado oriental da Aliança”, nomeadamente na Roménia, zona do mar Báltico e Polónia.

“Um dos meus objectivos para a NATO de 2030 é garantir que a NATO mantém uma forte Aliança militar à luz das novas ameaças e desafios. Também dou as boas-vindas ao facto de os aliados estarem comprometidos em continuar a investir na Defesa”, frisou.

3 Dez 2020

Festival de curtas-metragens | Jacky Cheong estreia “Majestosa Macau” no domingo 

O cartaz do fim-de-semana do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau inclui cinema de Macau. No domingo será dia da estreia do documentário de Jacky Cheong, intitulado “Majestosa Macau”, que não é mais do que um retrato dos bastidores do sarau cultural de celebração dos 20 anos da RAEM. No sábado será exibido “The Handover” [A Entrega], de Maxim Bessmertny

 

[dropcap]O[/dropcap] Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau apresenta este domingo o documentário “Majestosa Macau”, da autoria de Jacky Cheong. Com cerca de 25 minutos de duração, este documentário revela os bastidores do sarau cultural que subiu aos palcos a 19 de Dezembro do ano passado e que serviu para celebrar os 20 anos da RAEM.

“É um documentário sobre o processo pelo qual a equipa passou, desde a preparação, ensaios e o espectáculo. ‘Majestosa Macau’ foi o nome dado ao programa que incluía um espectáculo de kung fu combinado com um recital com crianças.”

Jacky Cheong recorda os desafios que teve de ultrapassar para realizar o documentário. “O tempo escasseava e precisamos acompanhar os treinos e os ensaios várias vezes. Queríamos mostrar às pessoas para que estas soubessem mais sobre os participantes de Wushu e a situação através deste filme”, adiantou.

O realizador contou com a colaboração de Jia Rui, ex-atleta de Wushu, que trabalhou na organização do sarau cultural. “Jia Rui encontrou-se comigo para gravar o programa, desde o início até ao espectáculo, para que deixássemos um documentário para as pessoas. Penso que ele acreditou que o ‘Majestosa Macau’ iria transmitir um sentimento forte e que seria transmitida a ideia de que Macau é um bom sítio para a aprendizagem do Wushu.”

Recorde-se que este sarau cultural contou com a presença do Presidente Xi Jinping e realizou-se, no dia 19 de Dezembro de 2019, na Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental de Macau. O espectáculo, que teve como tema “A Minha Pátria e Eu”, contou com várias performances musicais e actuações da dança do leão, além das artes marciais.

Jacky Cheong co-fundou a produtora IRMO em 2014, trabalhando hoje como realizador videógrafo. Ao longo da sua carreira participou em produções diversas como anúncios publicitários, micro-filmes, documentários e curtas-metragens.

Regresso do “The Handover”

No sábado é a vez de o público de Macau voltar a ver “The Handover” [A Entrega], uma curta-metragem com 31 minutos de duração realizado por Maxim Bessmertny. A curta-metragem, escrita em parceria com Jorge Vale, relata o dia-a-dia de um casal que luta contra o tempo para deixar a casa limpa antes que o senhorio chegue para fazer a inspecção geral ao apartamento.

Ao HM, Maxim Bessmertny recordou um processo fílmico que foi, acima de tudo, “divertido”.
“Foi um projecto muito interessante e divertido que surgiu quando estava na Rússia, à espera de desenvolver o meu próximo filme. Comecei a fazer isto com o Jorge Vale e tivemos um período muito divertido a escrever o filme, pois temos gostos semelhantes na área do cinema. O Jorge tinha escrito o guião com um casal português, mas sugeri cortar o guião, de 40 para 27 páginas, e o casal passar a ter uma rapariga chinesa e um rapaz português.”

“The Handover” é também um filme auto-biográfico, confessou o realizador. “Tirei coisas da minha vida, e pela primeira vez aconteceu ser algo mais auto-biográfico do que aquilo que estava à espera.”

“Este filme é sobre o dia-a-dia de um casal que tem de se mudar e é um pesadelo, um período muito stressante. E quando não se fala chinês o stress é ainda maior, o que é o caso de Miguel, o personagem principal. Para ele é um dia muito difícil”, acrescentou Maxim, para quem a presença em festivais, e sobretudo no Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau, é sempre importante.

“Já exibi este filme quatro vezes em Macau e obtive sempre reacções muito diferentes, o que é muito divertido. Mesmo que seja uma história longa, de 31 minutos, o que senti na última exibição é que o público acompanhou a história e tudo correu bem. Fiquei muito surpreendido, estava nervoso.”

2 Dez 2020

DSEJ | Docentes do Interior da China não interferem com autonomia

[dropcap]L[/dropcap]ou Pak Sang, director dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), disse ontem no hemiciclo que a vinda de professores do Interior da China em nada interfere com a autonomia e funcionamento da escolas. “É o professor local que dá a aula e o professor do Interior da China não interfere com a autonomia pedagógica da escola. Até o Reino Unido tem convidado professores chineses para dar aulas, porque é que não podemos usar um apoio sistemático para ajudar os nossos professores? Produzimos um relatório anual e todos os anos temos optimizado o nosso projecto”, frisou.

O deputado Sulu Sou levantou a questão, falando da problemática do uso do cantonês e do mandarim na sala de aula. “Na organização curricular temos de garantir o ensino do cantonês. Se convidarmos professores que falam mandarim para ensinar numa aula onde se usa o cantonês, será adequado? Acho que a secretária tem de fazer mais”, criticou.

Já a deputada Chan Hong, defendeu a realização de uma consulta pública sobre este assunto. “Através deste intercâmbio de docentes do Interior da China foi possível aperfeiçoar o ensino porque conseguiram liderar a equipa de docentes. Precisamos de importar mais docentes para aperfeiçoar o ensino local, mas algumas escolas acham que o número não é suficiente porque os docentes jovens acham que podem ter mais tempo de permanência [em Macau]. Se calhar é necessário fazer uma consulta pública a médio e longo prazo, porque a educação é importante”, sugeriu.

2 Dez 2020

Covid-19 | Vacina chega ainda este ano para pessoal da linha da frente

O pessoal da linha da frente, no combate ao novo coronavírus, vai ser o primeiro a ser vacinado. As doses para estes profissionais vão chegar já este mês. As 1,4 milhões de doses encomendadas para a população em geral deverão chegar, com optimismo, no primeiro trimestre de 2021. Face às preocupações dos deputados, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura indicou que foram feitos vários pedidos para levantar restrições às excursões

 

[dropcap]M[/dropcap]acau vai receber doses de vacinas contra a covid-19 para o pessoal da linha da frente ainda este mês, embora se trate de uma vacina ainda não aprovada pelas autoridades sanitárias. Segundo o director dos Serviços de Saúde, Lei Chin Ion “neste momento de acordo com as informações que consegui, todas as vacinas estão prestes a sujeitarem-se ao terceiro ensaio e ainda não foram aprovadas. Quando as vacinas urgentes chegarem vamos começar com a administração aos profissionais de saúde. Na verdade, é a utilização de uma vacina não aprovada ou homologada pelas autoridades sanitárias, mas como temos um risco na humanidade temos de ter estas vacinas urgentes. Não temos vacinas para idosos nem para crianças porque faltam dados clínicos para comprovar que as vacinas são eficazes. A nossa situação não é grave e o universo dos utentes que têm de levar a vacina é menor. Estamos integrados na união de cooperação em termos de vacinas da OMS, temos contactos com os laboratórios e farmácias. Temos de matar o coronavírus”.

A informação da chegada das vacinas foi ontem avançada pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, durante o debate das Linhas de Acção Governativa. Prevê-se que as doses destinadas à população em geral cheguem durante a primeira metade do ano.

“Até ao final do ano esperamos que estas vacinas de emergência cheguem a Macau e em princípio vão ser administradas ao pessoal da linha da frente porque estão expostos a maior risco”, declarou Elsie Ao Ieong, dando como exemplos pessoal médico e enfermeiro, assim como bombeiros.

Para a restante população foram encomendadas 1,4 milhões de doses de vacinas que chegam a Macau no primeiro semestre do próximo ano. A secretária especificou que com “uma postura bastante optimista” aponta a chegada das vacinas para o primeiro trimestre de 2021, mas sem garantir em que mês. A vacinação vai ter uma calendarização, e já há prioridades traçadas. Como “a situação de Macau não é tão urgente como a situação do estrangeiro”, o plano passa por ajudar primeiro as pessoas que precisam de se deslocar para fora do território, para trabalhar ou prosseguir os estudos.

Não foram avançadas informações sobre os fabricantes das vacinas a serem adquiridas por Macau. Anteriormente, o Governo tinha dito estar em contacto com diferentes entidades.

Pedidos para excursões

Vários deputados colocaram questões sobre a data de chegada da vacina, salientando o impacto da epidemia na economia de Macau. Ella Lei notou que têm vindo a ser feitos apelos à atribuição de uma terceira fase de apoios económicos, apontando a descida do número de turistas e a ausência de excursões para Macau, questionando a possibilidade de levantar algumas restrições face a grupos de Guangdong ou Hengqin. Além disso, quis saber se que medidas existem para apoiar os profissionais do sector turístico.

Leong Sun Iok mencionou também as medidas fronteiriças, comentando que no Interior da China não se distinguem as medidas para Macau e Hong Kong por considerar a situação igual nas duas zonas, apelando ao “reforço da comunicação” para divulgar que Macau é “uma cidade saudável”.

Por outro lado, Elsie Au Ieong frisou que se fizeram várias tentativas para levantar as restrições às excursões. A secretária apontou que quando esteve em Pequim em Setembro trocou impressões com as autoridades de turismo adiantando haver uma ideia sobre viagens entre Hengqin e Macau mas sem “autorização estatal para as excursões”. Além disso, a secretária indicou que o Chefe do Executivo “escreveu várias vezes ao ministério respectivo para tentar levantar estas restrições”. “Temos vindo a esclarecer a situação de Macau como um destino seguro para turismo”, apontou.

Ella Lei alertou que só algum tempo depois da vacinação é que se vão sentir efeitos e que pode haver “um desfasamento temporal” quanto ao apoio dos profissionais dos sectores afectados. Por outro lado, Leong Sun Iok mencionou que apesar de o preço dos testes de ácido nucleico ter descido, “se a medida se prolongar “o custo pode representar uma “pressão” para as empresas. Neste ponto, a secretária apontou que as insistências do director dos Serviços de Saúde em baixar as tarifas já resultou em “bronca” com entidades fornecedoras.

2 Dez 2020

LAG 2021 | Macau sem resposta num eventual aumento de casos importados de covid-19

A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, admitiu que Macau não vai conseguir dar resposta a um possível aumento de casos importados de covid-19, pelo que o levantamento de restrições de entrada a estrangeiros não residentes continua a ser analisado

 

[dropcap]M[/dropcap]acau não terá capacidade de resposta caso haja um aumento de casos importados no território. A garantia foi dada pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong, quando questionada sobre a possibilidade de levantar as restrições de entrada a não residentes estrangeiros que não conseguem voltar para o território.

“Será que conseguimos assegurar que os estrangeiros, quando vierem a Macau, não trazem o problema do contágio ou uma sobrecarga para os nossos profissionais de saúde? Será que podemos assegurar a 100 por cento que a sua vinda não é uma ameaça?”, questionou.

Elsie Ao Ieong exemplificou que “quem vem de Taiwan ou de Hong Kong, como são co-cidadãos, poderemos ponderar”. “Não estamos a ignorar os outros, mas Macau não tem capacidade para resolver um grande número de casos se eles aparecerem. Só quando a situação internacional ficar mais controlada, e com base nas indicações dos Serviços de Saúde, é que podemos tomar uma decisão relativamente à vinda das pessoas que têm uma ligação a Macau”, acrescentou.

A secretária disse que “não se trata de uma mera competição” face aos países com maiores ou menores taxas de incidência da covid-19. “Os nossos familiares, ou pessoas que queriam vir trabalhar, ou professores do ensino superior, quando quiseram voltar encararam as mesmas dificuldades. A nível mundial conseguimos fazer uma classificação das zonas com menor taxa de incidência e por isso temos o continente chinês. A nossa posição em relação à prevenção nunca mudou e é coerente desde o início”, frisou.

Esperança Grande Prémio

A questão das restrições de entrada no território a estrangeiros foi levantada pelo deputado Sulu Sou, que lembrou que “ver os familiares é mais importante do que o Grande Prémio”. “Alguns bebés ainda não viram o pai desde que nasceram, há trabalhadores domésticos que são necessários para cuidar das casas”, disse.

Também a deputada Agnes Lam abordou este assunto. “Os familiares dos residentes que estão no exterior compreendem a situação e esperam há muito tempo, mas até quando? Quando actividades como o Grande Prémio se realizaram, tínhamos esperança de que os familiares poderiam voltar.”

No caso dos cidadãos portugueses, já é possível entrar no território mediante realização de uma quarentena de 14 dias no Interior da China, ainda que seja necessário pedir um visto de entrada no país, o que pode ser um processo moroso.

Essa medida foi recordada por Sulu Sou. “Há novas medidas em que estrangeiros e familiares dos residentes, depois de estarem 14 dias no Interior da China, podem pedir a entrada em Macau. Não sei se o Governo pode negociar com as autoridades do Interior da China. Se calhar o Governo não quer que entrem muitas pessoas em Macau de uma só vez, mas numa situação controlável as medidas podem ser levantadas”, rematou o deputado.

Em resposta à deputada Agnes Lam, a secretária disse que o Governo “está a estudar” quais as zonas com menor taxa de incidência da doença para eventuais mudanças nas actuais políticas. “Eu também tenho pressa, estou a lançar várias medidas mas quando estão prontas a ser publicadas vem a pandemia e são suspensas”, lamentou.

2 Dez 2020

Armas | Descoberta venda de armamento proibido no âmbito de caso de violação 

[dropcap]U[/dropcap]m caso de violação, coacção grave e sequestro, ocorrido em Julho, levou a Polícia Judiciária (PJ) a descobrir um negócio de venda de armas ilegais em Macau por parte do mesmo indivíduo que terá cometido o crime de violação contra a namorada. Enquanto decorria a investigação sobre a violação, as autoridades policiais detectaram a presença de armas proibidas na casa do suspeito.

Esta segunda-feira, a PJ descobriu um arsenal de armas proibidas na casa do homem, onde se incluem cinco armas de arco e flecha, duas facas de combate, uma espada, uma arma de electrochoque, um bastão e 246 setas de diferentes tamanhos.

A PJ revela que o suspeitou fundou sozinho uma empresa em 2016, através da qual adquiriu online na China armas proibidas. “Os materiais foram entregues em Macau por uma empresa de logística”, tendo o homem “vendido [as armas] para clientes locais e estrangeiros”. O suspeito admitiu a posse das armas, mas recusou prestar mais informações sobre o negócio.

O homem é suspeito da prática do crime de posse de armas proibidas e substâncias explosivas, podendo incorrer numa pena de prisão entre dois a oito anos. O Ministério Público já está a acompanhar o caso, estando as autoridades a tentar perceber se há mais pessoas envolvidas neste caso.

1 Dez 2020

Jogo | Receitas de Novembro são o segundo melhor registo de 2020

As receitas de jogo em Novembro foram de 6,7 mil milhões de patacas, uma quebra superior a 70 por cento em relação ao ano anterior. Ainda assim, em termos mensais, este é o segundo melhor desempenho do ano, só ultrapassado por Outubro quando as receitas foram superiores a sete mil milhões de patacas

 

[dropcap]N[/dropcap]um ano atípico para o sector do jogo, Novembro tornou-se no mês com o segundo melhor desempenho de receitas desde que a pandemia começou. Ainda assim, estas foram apenas na ordem dos 6,7 mil milhões de patacas, o que representa uma queda de 70,5 por cento em relação a igual período do ano passado, revelam dados divulgados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Para se ter uma ideia, em Novembro de 2019 as receitas atingiram 22,877 milhões de patacas.

A receita bruta acumulada entre Janeiro e Novembro foi de 52,62 mil milhões de patacas, uma queda anual de 80,5 por cento.  No ano passado, as receitas anuais das seis concessionárias foram de 292,4 mil milhões de patacas.

A forte quebra nos números do jogo explica-se pelas restrições de circulação de pessoas nas fronteiras devido à pandemia da covid-19. A recuperação do turismo tem sido muito gradual, uma vez que só em finais de Setembro as autoridades chinesas retomaram a emissão de vistos individuais em todo o país com destino a Macau.

Previsão certeira

Segundo o portal informativo GGRAsia, a consultora JP Morgan Securities (Asia Pacific) emitiu um comunicado na semana passada a prever a quebra de 70 por cento nas receitas do jogo, com base no desempenho dos primeiros 22 dias do mês. “Mais importante”, apontou a consultora, os resultados “falham em mostrar uma subida sequencial” desde Outubro.

Nesse mês, Macau recebeu 582 mil visitantes, uma aumento de 29,6 por cento em relação a Setembro. A média de ocupação hoteleira nesse mês aumentou 40 por cento.

Várias personalidades do sector do jogo e analistas depositam esperanças na recuperação mais rápida nos próximos três meses, tendo em conta a chegada das férias de Natal e do Ano Novo Chinês, em Fevereiro do próximo ano.

1 Dez 2020

Carlos Castanheira, arquitecto e parceiro de Siza Vieira, sobre caso do Hotel Estoril: “Foi extremamente deselegante” 

A dupla de arquitectos Siza Vieira-Castanheira acaba de ver inaugurado na cidade chinesa de Ningbo um novo projecto. Mas Carlos Castanheira não esquece a atitude “extremamente deselegante” do ex-secretário Alexis Tam sobre a retirada do convite para recuperar o antigo Hotel Estoril. Por concretizar, ficou também a exposição sobre o trabalho da dupla, que esteve na Fundação de Serralves, e que não foi incluída no orçamento do Instituto Cultural

 

[dropcap]R[/dropcap]ecentemente foi inaugurado na China o MoAE – Huamao Museum of Art and Education. Como aconteceu este projecto?

Recebemos um convite para fazer cinco vilas. O nosso cliente está a desenvolver uma urbanização junto a um lago que incluía um hotel, um centro de congressos, 25 vilas e um museu. Começamos a trabalhar nas vilas e na terceira visita houve a hipótese de pegarmos no museu. O programa já existia, o senhor já tinha um outro museu no centro da cidade, onde tinha parte da sua colecção. Mas como ele está ligado à educação, pois tem uma série de colégios, queria que através da arte se fizesse educação, e daí o MoAE. Há uma parte do piso inferior que é muito relacionada com as exposições de escolas e depois ao subir vai-se subindo também na qualidade da arte para se perceber como é a evolução do mundo através da arte.

Houve divergências em termos de ideias?

Trabalhamos em conjunto. Neste caso era muito claro que o espaço existente era relativamente pequeno para o programa que o cliente pretendia, daí ser necessário colocá-lo em altura, com alguns pisos. Depois tínhamos a sorte de ter uma colina com muita presença. Esse programa era muito parecido com um outro que o Siza Vieira já tinha feito no Brasil, e foi possível usar algumas dessas experiências neste projecto. Mas este não é o mesmo do Brasil.

O território também não é igual.

Não, o cliente e as suas aspirações não são iguais. Temos de nos empenhar para dar uma resposta especifica aquele cliente, e é por isso que eu penso que este edifício é único. Quase todos os edifícios que fazemos são únicos, mas vemos que há ali semelhanças, porque são coisas feitas pelos mesmos arquitectos. Não podemos esquecermo-nos do nosso passado e fazer coisas completamente novas.

Também já existe uma expectativa em relação à dupla Siza Vieira-Castanheira.

Há uma carga que, de certa maneira, é positiva, mas às vezes não é. É uma carga de que tudo o que se faz tem de ser sempre muito bom.

Há uma certa pressão.

Há uma pressão muito grande que também nos dá alento e responsabilidade de querer fazer bem. Queremos sempre fazer bem, não por termos essa carga. Não digo que há um estilo Siza Vieira-Castanheira. Há uma maneira de fazer, um respeito mútuo muito grande.

É difícil trabalhar com alguém muito mais velho, mas também alguém que foi seu professor?

É um bocado difícil de explicar. Ele tem esta capacidade incrível de se equiparar a nós. E somos nós que mantemos o respeito. Quando trabalho com ele aqui no atelier, muitas vezes tenho colaboradores comigo, e ele sempre com o devido respeito, fala com eles quase de igual para igual. Disse quase.

Há sempre uma diferença.

Exactamente. Ele é o maior brincalhão, conta umas anedotas. Mas tem esta capacidade de saber trabalhar em conjunto. O Siza faz tudo, desenhos à mão, corta maquetes. Obviamente que a idade pesa, conheço-o há 44 anos e claro que ele mudou alguma coisa, mas só fisicamente. Agora temos um projecto novo para a Coreia, ele diz “vamos lá começar isto”. Tem entusiasmo, sempre com vontade de fazer mais e melhor. E há uma coisa em que se calhar sou diferente dos outros, porque quando não gosto digo e temos esse relacionamento muito claro.

Não é submisso.

Não sou um co-autor que diz que tudo está bem. Até porque ele é muito diferente, mas não é Deus. Mesmo que ele não concorde eu digo o que penso e isso cria um relacionamento de muita confiança. Estou extremamente contente com o trabalho que temos feito, porque as pessoas continuam a pedir-nos trabalho, e temos trabalhos novos, apesar da crise.

Para a Ásia?

Sim, para a Ásia também. Vamos focarmo-nos no trabalho da Coreia e do Japão, estamos mesmo a começar.

Neste conjunto de trabalhos que já fizeram na Ásia trabalharam com mercados diferentes. Qual é o mais desafiante?

Desafiante mesmo é trabalhar em Macau. É extremamente difícil. Mas a China é desafiante. O Japão é um mercado muito difícil por questões culturais, eles têm uma maneira muito própria de trabalhar, mas somos bem recebidos. Infelizmente, ao fim destes anos todos, não construímos nada lá, e estamos com expectativas em relação a este novo trabalho. Gostamos muito de trabalhar na Coreia, são muito cumpridores. Em Taiwan também, onde só trabalhamos com um cliente.

Quando fala dos desafios de Macau refere-se ao projecto para o antigo Hotel Estoril que nunca aconteceu?

Também, mas não só. Umas pessoas de Macau desafiaram-me para um projecto e eu fui até lá. Tinham um hotel [Hotel Best Western Sun Sun], que vinha do pai. Começamos a desenvolver esse projecto e foi só problemas, só faltou dizerem que não queriam que trabalhássemos em Macau.

Problemas da parte de quem?

Das Obras Públicas, e por causa do património. Eles [os proprietários] queriam muito, tinham muita influência, mas mesmo assim aquilo foi complicado. E estávamos ainda a trabalhar nesse projecto quando fui chamado para ter uma reunião com Alexis Tam [ex-secretário para os Assuntos Sociais e Cultura] para desenvolver o projecto do Hotel Estoril. Fomos visitar o edifício, tirei desenhos, o Alexis Tam veio ao Porto, disseram-nos que tinham pressa em andar com o projecto. Entretanto saiu a notícia de que o Governo ia convidar o Siza Vieira para fazer aquilo, começou a haver alguma reacção dos arquitectos, e quando voltei a Macau tive uma reunião com Alexis Tam e ele, com um ar tranquilíssimo, disse-me que o projecto já não ia para a frente. Eu fiquei muito surpreendido, foi extremamente deselegante. E logo a seguir vim a saber que iam contratar um arquitecto local e que depois houve um outro concurso e que convidaram outros arquitectos. Fiquei com a ideia que o Álvaro Siza Vieira não era bem visto.

Chegaram a fazer alguns gastos neste projecto?

Ainda não tínhamos nada feito, mas foi por pouco. Tinha a palavra dele [de Alexis Tam]. Na Ásia há muito essa coisa de que, sem um contrato, não se faz nada. Nós, muitas vezes, basta-nos a palavra do cliente para avançar. Já havia discussões se iríamos manter o edifício todo ou parcial, havia um tempo gasto, mas nada que pudéssemos reclamar honorários.

E o que achou Siza Vieira?

Também achou deselegante. Represento-o a ele e a mim próprio. Mas para essas coisas escrevem-se cartas, fazem-se telefonemas. A educação não é cara, mas há males que vêm por bem. Muito sinceramente acho que nunca fomos bem recebidos em Macau e se calhar a culpa é muito dos arquitectos. Há sempre uma inveja.

Na altura o convite foi retirado porque se defendia um concurso público para a participação de arquitectos locais.

O convite a determinadas arquitectos, e não falo de nós, podem ser entendidos como uma majoração da profissão. Não sei como está a situação agora na pandemia, mas tenho tido alguns contactos com pessoas daí e se havia sítio onde não havia trabalho era em Macau. Também há alguns arquitectos que querem fazer tudo e sentiram esse incómodo. Quem não ganhou nada com isso foi o território. E aquela praça continua com aquele objecto, eu não queria aquilo na minha casa. Se tivesse aquilo, com muito dinheiro no banco, e não fosse capaz de resolver… alguma coisa se passaria. E também não há problemas de eleições. Houve uma falta de personalidade, de carácter. Depois fomos convidados para fazer uma exposição, na sequência da mostra que houve aqui [no Porto] em Serralves. Houve contactos com o Instituto Cultural, queriam importar a exposição [para o Museu de Arte de Macau] e fazer um acrescento com os projectos da Ásia. Isso estava praticamente resolvido, já tinham cá vindo escolher os desenhos. Mas chegou a pandemia e foi tudo cancelado. Entretanto chegou um novo Governo, com um novo orçamento, e essa exposição não foi incluída. Ainda não perdi essa esperança, mas não vai ser para já.

Porque acha que há toda essa complicação nas Obras Públicas?

Macau ainda tem algum português, há esta pequena questão miudinha que é ser português, de não pensar em grande. Se Macau tivesse tido melhor arquitectura, que não fosse só ganhar dinheiro, o respeito que teria pelos arquitectos internacionais seria maior. E assim continua a ser uma vila portuguesa pequena na Ásia com um enorme playground. Cria muito dinheiro, postos de trabalho, mas que não é característico. Do ponto de vista de arquitectura, é um fogo de artifício.

Têm a sensação que Macau nunca vos recebe bem?

Arranje-me uma prova em contrário. Nem com a exposição correu bem, mas foi a questão da pandemia. Havia ali uma vontade de Alexis Tam de se redimir, mas ele acabou por não ficar no Governo.

Porque é que a China é tão desafiante?

Desafia-nos a fazer projectos diferentes. Alguns deles têm algum tamanho e só são possíveis de concretizar na China. Os honorários são adequados ao trabalho que desenvolvemos e à qualidade, e pagam. Somos respeitados como arquitectos. Também temos os nossos problemas, de comunicação, culturais, mas há sempre uma relação com os clientes e equipas locais bastante saudável. Temos tido a sorte, e também tem a ver com o nosso passado, de termos sido convidados para fazer projectos interessantes.

Havia na China a ideia de destruir o que é velho para fazer de novo. Isso alterou-se?

Voltamos à questão cultural. Aqui [em Portugal] temos um relacionamento com o património fundamentalista, exagerado. Acho que o bom está no equilíbrio das coisas, e há coisas que têm mesmo de ser destruídas. Na China há outra atitude. Depois constrói-se tão depressa, e isso é talvez a coisa mais criticável na China. Eu nunca me atrasei na China, eles nunca esperaram por mim. E depois constroem muito mal. Por exemplo, na Coreia eles acham que um edifício com 20 anos é velho, e têm uma teoria que se um edifício ao fim de 20 anos não se pagou a si próprio, foi um mau negócio.

É uma visão materialista da arquitectura.

No centro de Seul estão constantemente a deitarem-se coisas abaixo. Há uma energia, uma vitalidade que cá não temos, nem conseguimos. Ainda construímos castelos para os nossos trinetos. Eles querem gozar as coisas, e depois logo se vê. Há uma atitude cultural diferente. Mas nestes 15 anos a China mudou completamente, a nível processual, tudo. Uma coisa que me espanta é que mudou completamente a nível ambiental.

Para melhor?

Para melhor. Têm uma capacidade para dar ordens e escutar. Talvez seja criticável, mas pronto.

Vai estar atento ao projecto para o edifício do antigo Hotel Estoril?

Não. Vi as propostas do concurso internacional. Não vale a pena ter rancor, se o Hotel Estoril fosse o único projecto no mundo, tinha, mas não é. E também não é a primeira vez que nos passam a perna. Apesar de tudo isto, e não sei explicar, mas gosto muito de Macau, acho interessante. Gostava de chegar à praça do Tap Seac e ver um belo edifício, não importa de quem seja o projecto.

1 Dez 2020

PJ | Alegada fraude leva a assalto em casa de banho de casino 

[dropcap]T[/dropcap]rês pessoas assaltaram um homem depois de terem sido, alegadamente, defraudadas em 50 mil dólares de Hong Kong num esquema de câmbio de dinheiro. Segundo informações da Polícia Judiciária (PJ), o caso aconteceu este sábado, quando a vítima, de apelido Zhao, cidadão chinês com 39 anos, disse às autoridades ter sido assaltado no interior da casa de banho de um casino. Zhao disse não conhecer os autores do assalto, que culminou na perda de um relógio, telemóvel, cartão de identificação, cartões bancários e algum dinheiro.

A PJ adiantou ainda que os assaltantes despiram a vítima e forçaram-no a partilhar os códigos dos cartões bancários. Dois dos suspeitos, de apelido Hu e Sheng, também cidadãos chineses, foram interceptados com a ajuda das câmaras de videovigilância do casino, que ajudaram ainda à detenção de um terceiro suspeito, de apelido Yuen, também cidadão chinês.

Segundo a PJ, “todos eles admitiram ter cometido sequestro e assalto tendo, no entanto, acusado a vítima de os defraudar em 50 mil dólares de Hong Kong num esquema de câmbio de dinheiro”. Zhao terá recusado dar o dinheiro aos três suspeitos.

A PJ descobriu posteriormente que Zhao tentou defraudar os suspeitos, tendo, por isso, sido agredido por outros três envolvidos no caso. A PJ vai continuar a investigar o caso como fraude e não assalto, estando em busca das três pessoas que agrediram Zhao. A PJ continua também em busca do rasto do dinheiro envolvido.

Além da alegada fraude e assalto, a PJ descobriu ainda 11 pessoas, com idades compreendidas entre os 30 e os 40 anos, no quarto de hotel de Yuen. Estas pessoas foram levadas para a esquadra para “o acompanhamento” do caso e “deportação”.

1 Dez 2020

LAG 2021 | Novo estatuto dos guardas prisionais em 2021

[dropcap]W[/dropcap]ong Sio Chak garantiu que no próximo ano o novo estatuto do pessoal do Estabelecimento Prisional de Macau (EPM) poderá chegar à Assembleia Legislativa. “Vamos acelerar o ritmo de trabalho do estatuto do pessoal para ver se conseguimos apresentar esta proposta de lei no próximo ano. Queremos melhorar as regalias de trabalho e passar de 17 para 10 níveis [na carreira]. Queremos ter um maior cuidado com o desenvolvimento da carreira profissional.”

O secretário falou das dificuldades do recrutamento de guardas prisionais. “Trata-se de um velho problema. Desde 2010 até hoje mais de 142 aposentados foram transferidos para outros serviços. Organizamos, desde 2010, dez concursos públicos para recrutar novo pessoal, mas só metade dos candidatos foram recrutados”, disse.

O secretário adiantou ainda informações sobre os custos que a Direcção dos Serviços Correccionais tem tido nos últimos meses. “Em 2019 e 2020, somando as despesas com o pessoal, manutenção de serviços e instalações, gastou-se 395 mil patacas com cada recluso. Em Hong Kong esse valor é de 389 mil dólares de Hong Kong. Em Macau os nossos reclusos têm uma vida melhor porque não precisam de trabalhar, ao contrário da China e de Hong Kong. Eles querem trabalhar, mas não temos condições para isso.”

1 Dez 2020