Painel de conferências sobre a Ásia arranca hoje no CCCM

Decorre entre hoje e quinta-feira, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, o painel de conferências sobre a Ásia, integrado no evento anual “Conferências da Primavera”. Hoje, a partir das 10h (hora de Lisboa), o evento começa com a conferência “Abordagens ao Multilateralismo na Arte e Arquitectura Qing”, de Cristina Osswald, académica da Universidade Politécnica de Macau (UPM) e Pedro Luengo Gutierrez, da Universidade de Sevilha.

Segue-se o painel “As antigas Rotas da Seda da Ásia Ocidental”, moderado por João Paulo Oliveira e Costa, e que conta com a participação de quatro académicos.

À tarde decorre o painel dedicado à arte e ao património de Goa, com moderação de Paulo Teodoro de Matos. Aqui irão abordar-se temas como “Igreja de Santa Cruz dos Milagres, em Goa: Subsídios para uma (possível) Tipologia Goesa de Fachada”, por Joaquim Rodrigues dos Santos, da Universidade de Lisboa. Por sua vez, Teresa Teves Reis, da Universidade de Évora, vai falar da “Galeria de Retratos dos Vice-Reis e Governadores de Goa”, entre outras palestras.

Economia e companhia

Terça-feira será um dia dedicado às conferências sobre “Economia e Geopolítica”, com destaque para a participação do académico Luís Tomé, da Universidade Autónoma de Lisboa, que falará das “Interligações Geopolíticas e Securitárias entre a Europa e a Ásia”. Segue-se a apresentação “O Banco Asiático de Investimento em Infra-estrutura e o Banco Asiático de Desenvolvimento: o seu contributo para o relacionamento entre a Europa e a Ásia”, de João Sabido Costa, da Universidade Católica Portuguesa.

Diogo Cardoso falará, de seguida, das “Implicações Geopolíticas e Geoestratégicas do Programa Espacial da China para a Ásia e para o Mundo”. No painel “História de Sociedade”, que acontece também na terça-feira, destaque para a participação da académica Leonor Diaz de Seabra, da Universidade de Macau, com a palestra “Os Portugueses no Sião”.

Na quarta-feira, algumas palestras irão debruçar-se sobre a presença dos Jesuítas na Ásia, sendo dado também destaque às áreas da língua e literatura. Na quinta-feira, último dia, o painel “Imprensa e Sociedade” conta com uma apresentação de Carlos Picassinos sobre “A Imprensa Portuguesa e os Direitos Fundamentais: Lições para Portugal dos Contextos Híbridos de Hong Kong”, tema da tese de mestrado defendida no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa.

António Caeiro, jornalista e ex-delegado da Lusa em Pequim, vai falar sobre o seu mais recente livro, “Os Retornados de Xangai”, que conta a história da comunidade de lusodescendentes que viveram na cidade chinesa durante várias décadas até à implementação da República Popular da China, criando laços e negócios.

20 Mar 2023

Música | Venetian Theatre recebe concerto da banda MFM

AJ, Josie Ho e Hyper Lo, três músicos locais, compõem o grupo MFM e dão, este sábado, um concerto no Venetian Theatre apoiado pela Fundação Rui Cunha. “MFM Concert Tour – Macau 2023” não marca apenas o regresso do grupo aos espectáculos, mas serve também de celebração para o décimo aniversário da banda

 

São três nomes bem conhecidos da música feita no território com influências da pop e do cantopop. Criada há dez anos, a banda MFM, composta por AJ, Josie Ho e Hyper Lo, dá este sábado um concerto no Venetian Theatre, com início às 20h30. “MFM Concert Tour – Macau 2023” marca o regresso da banda à tournée regional, iniciada em 2021 e interrompida devido às restrições da pandemia, mas serve também de celebração do décimo aniversário do grupo.

A Fundação Rui Cunha (FRC) apoia esta iniciativa, tendo em conta que a banda criou o tema musical da instituição, intitulado “樂而忘返” (So Happy That You Forgot to Return Home), divulgado por ocasião do quinto Aniversário da FRC em 2017.

O concerto é organizado pela produtora SP Entertainment e irá apresentar as músicas “de um dos mais reputados grupos de música de Macau”. Trata-se de um espectáculo que promete revelar “todos os momentos memoráveis dos últimos dez anos e celebrar este marco histórico com todos os fãs”. Além da composição da música da FRC, os MFM foram também responsáveis pela criação do tema “Get Ready” para um evento de boxe, a convite da Sands China. Foi esse projecto que catapultou o grupo para a fama e o reconhecimento junto do público.

“Time” será o tema central deste espectáculo, mas os fãs poderão ouvir todos os êxitos de que estão à espera, num concerto que é também uma festa de aniversário.

Êxitos e mais êxitos

Após a gravação para o evento da Sands China seguiram-se outros êxitos musicais, como é o caso de “Let’s Get It On”, “Paradise”, “Show Time”, “Love Matters”, “Read But Ignored” e “Karma”. Seguiram-se também os prémios em eventos como “SIM Music Awards” e “Oh! Macao MV Awards”. Em 2018 o grupo organizou o espectáculo “MFM Rule of Three – Macao Concert”, também no Venetian Theatre, que registou muito sucesso, com uma plateia cheia de fãs.

Seguiu-se, no ano seguinte, o lançamento da música “The Lonely Song”, um sucesso que chegou às tabelas musicais na China e fez parte de várias bandas sonoras. Em Dezembro desse ano, o canal de televisão Hunan TV convidou os MFM para participar no pequeno filme “The Pride of Macao China – MFM” [O Orgulho de Macau, China – MFM], que regista todos os episódios da escalada de sucesso do grupo, os papéis desempenhados pelos três artistas, o funcionamento da indústria do espectáculo e o caminho percorrido para AJ, Josie Ho e Hyper Lo conseguirem atingir os seus sonhos.

Em 2021, teve então lugar a tournée “MFM Concert Tour” que passou por diferentes cidades da China, contando com o apoio financeiro do Fundo de Desenvolvimento da Cultura do Instituto Cultural. Este ano, os MFM foram convidados para os habituais concertos anuais de Ano Novo Chinês, onde Josie Ho actuou ao lado de Jacky Chan e outros artistas da China, Hong Kong e Taiwan.

20 Mar 2023

Fotolivro “Treasure Hotel”, de Francisco Ricarte, lançado este sábado

No regresso à chamada normalidade pós-pandemia, a ideia de passar 21 dias fechado num quarto de hotel em quarentena parece já uma miragem ligada a um passado distante. Mas a verdade é que este regime vigorou até há bem pouco tempo e o fotógrafo Francisco Ricarte viveu-o aquando do regresso de uma das viagens que realizou ao exterior.

O registo fotográfico desta experiência pode ser visto em “Treasure Hotel” [Hotel Tesouro], novo fotolivro do fotógrafo a ser lançado no próximo sábado, às 17h, na Creative Macau. De um quarto de hotel consegue-se ver pouco, mas a imaginação levou a lente de Francisco Ricarte a capturar as cores do céu, os raios de sol sob o aeroporto e as sombras surgidas no meio das mobílias. São, ao todo, 40 imagens a cores e a preto e branco em 64 páginas. Foram impressos apenas 60 exemplares.

“Para quem reside em Macau, o nome ‘Treasure Hotel’ estará, porventura, associado às quarentenas obrigatórias para quem entrasse em Macau durante o período de pandemia vivido recentemente. Este é um registo visual, mas sobretudo intimista, de uma quarentena por mim vivida em Janeiro de 2022”, contou o fotógrafo ao HM.

Esta é, portanto, uma “viagem interior”, que assenta “em pequenos capítulos visuais – a viagem, a chegada, o espaço de estadia e vivência quotidiana, as leituras realizadas, o espaço exterior visível – revelando estados de espírito naturalmente diferenciados, alguns de maior introspecção ou acutilância”.

Um ano bom

Francisco Ricarte, arquitecto de formação, está afastado dessa área, e dedica-se agora com maior regularidade à fotografia. Num ano em que o confinamento foi uma realidade em Macau, a pandemia acabou por revelar-se benéfica para a sua carreira, pois o autor de “Treasure Hotel” realizou três exposições individuais de fotografia.

Lançar este livro funciona agora como o fechar de um ciclo, confessa. “As imagens dizem-me muito. A história de pandemia narrada neste conjunto de fotografias conta algo mais do que cada foto individual. Há uma consequência e a leitura de uma história que se conta com esta narrativa visual. Penso que o facto de já não haver pandemia terá ajudado a concluir o projecto e a colocá-lo cá fora.”

Francisco Ricarte confessa “ter curiosidade para ver a reacção final” daqueles que abrirem o livro, numa tentativa de perceber “se os leitores encontram pontos de identificação e de referência, ou se se revêem, de alguma forma, no projecto, no caso dos que viveram uma experiência similar de quarentena”. “Também quero ver se será possível imaginar ou entrar na cabeça de quem vive uma experiência destas”, adiantou.

Francisco Ricarte ainda fez uma nova quarentena depois de Janeiro do ano passado, mas acabou por decidir que seria esta a experiência a transformar-se numa obra. “Foi a quarentena mais longa, para a qual nunca estamos suficientemente preparados. Daí o meu desejo de contar esta história”, rematou.

16 Mar 2023

Cinema | Festival “Macau Films & Videos Panorama” arranca sexta-feira

Está de regresso mais uma edição do festival de cinema “Macau Films & Videos Panorama”, que termina dia 26 deste mês. Com organização da Associação Audiovisual CUT, esta é a oportunidade para ver, na Casa Garden, os melhores filmes feitos por realizadores locais, com o cinema universitário em destaque

 

A Casa Garden acolhe, a partir desta sexta-feira e até ao dia 26, mais uma edição do festival “Macau Films & Videos Panorama”, uma iniciativa da Associação Audiovisual CUT que pretende mostrar o que de melhor se faz no cinema local, mas não só. Serão exibidos filmes locais, parte deles integrantes da iniciativa “O Poder da Imagem”, do Instituto Cultural (IC). Há também quatro filmes escolhidos pelas universidades locais, revelando-se, assim, os melhores projectos dos estudantes de cinema. Destaque ainda para 11 filmes de Hong Kong, China e Taiwan. Todos eles vão a concurso.

Os organizadores convidaram Joyce Yang, veterano crítico de cinema de Hong Kong, para fazer parte do júri na primeira fase de selecção de filmes, tendo sido eleitas 12 de um total de 40 submissões. O júri é ainda composto por outras personalidades ligadas ao cinema asiático, como é o caso de Song Wen, fundador do FIRST – Festival Internacional de Cinema de Xining, na China; Kattie Fan, directora da programação do ifva Festival, promovido pelo Centro de Artes de Hong Kong, e Esther Chen, curadora dos Taiwan Golden Harvest Awards. A partir destes eventos, foram seleccionados os seis filmes da China, Taiwan e Hong Kong que integram a secção “Panorama Screenings”.

Destaque ainda para o facto de o público poder assistir a conversas após a exibição dos filmes, “permitindo que os realizadores locais possam comunicar com o público”. Enquanto isso, “o público poderá ter acção e dar apoio, votando nos seus trabalhos favoritos”, escolhendo as películas que vão ganhar o prémio “Escolha do Público” [Audience Choice Award].

Relativamente à secção “Made in Macau”, apresentam-se 22 filmes, incluindo dez da iniciativa “O Poder da Imagem” e 12 escolhidos das submissões feitas pelos realizadores locais. Haverá seis sessões para exibir as curtas-metragens. A organização descreve esta lista de trabalhos cinematográficos como “demonstrando inovação e vitalidade da parte dos criadores locais”, competindo pelos prémios do júri e do público.

Uma vez que grande parte dos temas explorados pelos realizadores giram em torno da pandemia e das experiências pessoais vividas nestes últimos meses de confinamentos, medos, traumas e expectativas, os organizadores “convidam o público a olhar para a perspectiva dos realizadores locais e ver como registaram as experiências do passado, como se pode ganhar um novo ritmo e fazer com que as experiências mais pesadas do passado se tornem no poder do futuro”.

O cartaz

Neste festival poderão ser vistas longas e curtas-metragens, trabalhos de ficção e também documentários. Na sexta-feira, as exibições começam às 19h30 com os filmes “Peaceful”, “The Unearthed Memory”, “Sea” e “The Ceremony of Coloane”. Este último título é um documentário sobre a ilha de Coloane e as suas vivências tão específicas, contando a história da cerimónia de abertura da Associação de Construção e Desenvolvimento de Coloane. Trata-se de um “momento histórico” contado em filme, que pretende “reforçar a felicidade, o sentido de pertença e o desenvolvimento sustentável dos residentes”.

No caso de “The Unearthed Memory” conta-se a história dramática de Ngai, que, deparando-se com a morte do pai, tem de lidar com traumas da sua infância, confrontando-se com memórias fragmentadas dos seus pais no seu dia-a-dia. Esse processo faz com que Ngai se consiga redescobrir e preparar-se para aceitar tamanha perda. Este é um filme de Ho Kueng Lon, que iniciou os estudos em cinema e televisão em 2017, na Polónia, onde continua a estudar ficção e documentário. Este realizador de Macau pretende explorar mais o chamado cinema narrativo, contando histórias “focadas na condição humana”.

As quatro películas de Macau voltam a ser exibidas no dia 25, às 21h30. Também esta sexta-feira, mas no horário das 21h30, destaque para as exibições de “The Last Sunrise” e “The Lily Yet to Bloom (Director version)”. Estes filmes voltam a ser exibidos no dia 25, às 17h.

No sábado, dia 18, às 16h30, o público poderá ver “Tantalus”, “Shipwright”, “Ghost & Cat” e “Backyard”, que voltam a ser exibidos no dia 24, sexta-feira, às 19h30. Também no sábado, mas no horário das 21h30, o festival exibe “One Night Legends”, “Before the Flight”, “Jellyfish” e “The Best Gift Ever”, repetidos no dia 26, domingo, às 19h30.

Destaque ainda para as exibições, neste sábado, no horário das 19h30, dos filmes “Daughter and Son”, “Almost Summer” e “To The Sea”. De frisar que “Daugther and Son”, filme do realizador chinês Cheng Yu, foi escolhido para a lista das melhores curtas-metragens do Berlinale – Festival Internacional de Cinema de Berlim.

Este domingo, 19, às 16h30, exibem-se os filmes “By 3pm”, “Flower”, “Family Heriloom” e “Homework”, que poderão ser vistos novamente na sexta-feira, dia 24, às 21h30. A partir das 21h30 deste domingo serão exibidos “Where the Luck Goes?”, “Punctum”, “The Lost Eden of Birds” e “A Beautiful Bird Day”, novamente exibidos dia 26, às 17h.

No dia 25, serão exibidos os filmes integrantes da selecção feita pelas universidades locais, com entrada livre. A Universidade de Macau escolheu “One Day That Day”, a Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau apresentou a película “Rupert’s Tears”, a Universidade de São José seleccionou “Flowers For My Mother” e a Universidade Politécnica de Macau trouxe para o festival o filme “Imprisoned”.

16 Mar 2023

Herança | Mulher mente e é acusada de falsificação

O Tribunal de Segunda Instância (TSI) manteve a acusação de falsificação de documento de especial valor decretada pelo Tribunal Judicial de Base (TJB) a uma mulher que mentiu sobre a herança do marido falecido, ocultando da documentação uma filha do defunto com outra mulher e mantido apenas os nomes dos dois filhos em conjunto.

O homem faleceu a 22 de Agosto de 2018 e era titular de quotas indivisas diferentes do direito de propriedade de três bens imóveis em Macau. Antes de morrer, deixou à acusada uma carta onde confessou ter tido uma filha fora do casamento, sendo que esta filha e a mãe compareceram no funeral e na cerimónia de cremação dos restos mortais, pelo que o TSI entendeu que a acusada conhecia as duas mulheres e sabia da situação, mantendo a sentença.

16 Mar 2023

APOMAC | Novo cônsul visita instalações

Alexandre Leitão, novo cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, visitou ontem a sede da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), tendo “realçado o trabalho da APOMAC” e referido que a cooperação entre a APOMAC e o Governo deve manter-se. Se necessário, essa ligação “deve estreitar-se ainda mais a bem dos interesses dos portugueses residentes em Macau”.

Do lado da APOMAC, os seus dirigentes, nomeadamente Jorge Fão e Francisco Manhão, apontaram que a associação “não se encontra em desafogo financeiro, mas tem procurado e conseguido ultrapassar os problemas de toda a natureza”.

Os dirigentes acrescentaram também que “o apoio manifestado pelo Governo após o handover foi inquestionável e decisivo para a existência de uma estrutura que pudesse, ainda hoje, dar cobertura e apoio a uma classe aposentado e sénior residente em Macau, proporcionando a todos um espaço de lazer e de restauração”.

16 Mar 2023

Consulado | Funcionários de Macau aderem a greve de três semanas

Os funcionários do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong vão participar na greve de três semanas marcada para de 3 a 24 de Abril pelo Sindicato dos Trabalhadores Consulares, das Missões Diplomáticas e dos Serviços Centrais do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Em causa, está o silêncio do Governo português após as negociações de Dezembro

 

O Sindicato dos Trabalhadores Consulares, das Missões Diplomáticas e dos Serviços Centrais do Ministério dos Negócios Estrangeiros (STCDE) vai voltar a organizar uma greve geral de três semanas para os trabalhadores dos postos consulares, missões diplomáticas e centros culturais do Camões – Instituto de Cooperação e da Língua, à qual não vão faltar os trabalhadores do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, confirmou o HM junto do sindicato.

A greve, que acontece entre os dias 3 e 24 de Abril, deve-se ao facto de nada ter avançado, desde as últimas negociações entre as partes, em matéria de baixos salários, falta de condições de trabalho e regalias laborais.

Numa nota de imprensa divulgada esta quarta-feira, o sindicato adianta que “após ter assumido compromissos e iniciado a negociação das tabelas salariais em 5 de Dezembro passado, o governo deixou o STCDE sem respostas desde 31 de Janeiro, o que contradiz o discurso público de diálogo e de concertação”.

Assim, ao longo destes três meses, “com a excepção da portadoria do Brasil, nenhum dos textos negociados e consensualizados”, como o novo mecanismo de correção cambial que consagra as perdas acumuladas e tabelas remuneratórias para os trabalhadores do Camões no estrangeiro, foi publicado, aponta o sindicato, referindo que “não é aceitável”.

“Mesmo sabendo que o processo negocial não se esgota num mês, dada a sua complexidade que se prende com o número de tabelas salariais em discussão, não é admissível o Governo não dar resposta durante mais de seis semanas, deixando os trabalhadores no estrangeiro numa situação de precariedade agravada”, acrescenta a mesma nota.

“Uma surpresa”

O sindicato entende ainda que este “bloqueio no processo negocial é uma surpresa, já que existe acordo relativamente à esmagadora maioria dos países”. “Todas as restantes questões, como por exemplo a regularização das situações de ausência de protecção social, foram remetidas para uma fase posterior, como se a protecção social fosse negociável e o Estado não tivesse a obrigação de cumprir o que exige de todos”, lê-se ainda.

Além da greve, está a ser pensada uma manifestação em frente ao edifício do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, em defesa dos “trabalhadores ‘invisíveis’ da Administração Pública portuguesa no estrangeiro”. O sindicato lamenta ainda “os constrangimentos causados às comunidades portuguesas no estrangeiro, no período pascal, mas o diálogo mostrou os seus limites, face à ausência de resposta do Governo”.

Recorde-se que o sindicato chegou a organizar uma greve a ter início a 5 de Dezembro passado, mas a mesma acabou por ser desconvocada devido ao início do diálogo com as autoridades portuguesas. Numa entrevista ao HM, Rosa Ribeiro, secretária-geral do sindicato, lamentou que os funcionários consulares de Macau sofram ainda com a agravante da desvalorização cambial.

“Os trabalhadores do Consulado estão sujeitos a uma grande pressão e os salários estão sem revalorização há muitos anos. Há um empobrecimento constante, além de que em Macau há trabalhadores que não têm protecção social nem vão ter direito a reforma relativamente a todos os anos de prestação de funções. Essa é uma situação absolutamente inadmissível e, infelizmente, Macau é um posto fora da zona Euro e sofre com as questões da degradação cambial.”

16 Mar 2023

Estudo | Académicos apontam o caminho para a Administração Ética

Será que Governo, empresas e associações locais estão dispostos a adoptar práticas de Administração Ética? Um estudo apresentado em Fevereiro no Instituto Mateus Ricci conclui que é preciso muito trabalho promocional e educacional para formar gestores eticamente responsáveis e uma mudança de mentalidade face à política dos subsídios

 

Apresentado em Fevereiro no Instituto Mateus Ricci, o estudo “A percepção de uma ‘Administração Ética’ em Macau: Uma análise em três fases” [The Perception Of ‘New Stewardship’ In Macau: A Three-Phase Analysis], inaugurou no território o debate em torno de um conceito surgido no Reino Unido e relativamente desconhecido em Macau.

A chamada Administração Ética [tradução livre de Stewardship] não é regulada por lei, mas pode estar sujeita a códigos de conduta que podem ser seguidos, ou não, por governos, organizações não governamentais (ONG) e empresas, com impacto na sociedade civil. Como pode a administração governamental, das associações e empresas, ser mais eticamente responsável, numa área estreitamente ligada à Responsabilidade Social Corporativa (RSC)?

O estudo, da autoria de Carlos Noronha e Jenny Guan, académicos da Universidade de Macau e Instituto de Formação Turística, respectivamente, e ligados ao Instituto de Macau para a RSC na Grande China, e do padre Stephan Rothlin, director do Instituto Mateus Ricci, conclui que há ainda muito trabalho a fazer nas escolas, em prol da educação de novas gerações, e promocional junto de empresas e associações, para que compreendam e possam implementar o conceito. Em entrevista ao HM, os três académicos falam de algumas conclusões desta investigação, feita com educadores, escolas e associações.

“Há muitas coisas que necessitam ser implementadas. As escolas, por exemplo, necessitam urgentemente de introduzir ideias em torno dos objectivos de desenvolvimento sustentável desde uma fase inicial, enquanto as ONG necessitam de mais apoio governamental e da sociedade para atingir as suas missões, como a introdução de maior sustentabilidade [nas suas práticas]. As pequenas e médias empresas estão muito dispostas a introduzir acções sustentáveis simples, como actividades amigas do ambiente. Por um lado, podem estar disponíveis a reduzir custos, por outro, se houver suficiente cooperação entre público e privado, a consciência de que ‘qualquer pessoa pode ser um administrador ético’ pode ser disseminada”, adiantou Carlos Noronha.

Jenny Guan, por sua vez, adiantou que o conceito de Administração Ética “é relativamente novo para os negócios de Macau”. “Acredita-se, no entanto, que “não será muito difícil para os empresários compreendê-lo, considerando que os conceitos de RSC e a sustentabilidade têm sido introduzidos e bastante discutidos. Neste momento, falta de promoção conjunta deste conceito de Administração Ética a accionistas e empresários e de uma prática mais ampla”, frisou.

No processo de entrevistas, os responsáveis por escolas e associações defenderam a necessidade de ultrapassar a mentalidade do subsídio, muito intrínseca na sociedade de Macau e bastante ligada às questões administrativas.

Este foi um ponto abordado, sobretudo, por pequenas e médias empresas e ONG, “que frisaram a necessidade de uma mudança radical em termos de política e mentalidade”, disse Stephan Rothlin.

Além disso, foram abordados os benefícios da Administração Ética na defesa dos direitos dos trabalhadores migrantes e da igualdade. “A crise da pandemia mostrou que os códigos de Administração Ética podem proporcionar um tratamento melhor e mais justo a grupos vulneráveis como os trabalhadores não-residentes (TNR), evitando sérias dificuldades”, frisou Stephan Rothlin.

Por sua vez, Carlos Noronha destacou que “muitos patrões em Macau prestam tributo aos serviços feitos pelos TNR, mas esta é, provavelmente, uma relação triangular entre Governo, patrões e TNR”. “Temos de garantir que não há abusos”, frisou.

Também Jenny Guan concorda que existe uma interligação dos interesses dos vários grupos nesta matéria. “Por exemplo, a disposição dos TNR pode afectar a performance no trabalho e isso terá impacto na operação geral das empresas e, por último, terá influência no desenvolvimento da indústria. Assim, [uma administração baseada na igualdade de direitos] não deveria ser apenas responsabilidade do empregador, mas sim constituir um interesse mútuo da sociedade como um todo.”

E depois da pandemia?

Tendo em conta que o trabalho de campo deste estudo foi feito no período da pandemia, os académicos entendem que é necessário avaliar se empresas e ONG terão condições para implementar práticas de gestão mais eticamente responsáveis depois de lidarem com uma crise económica. Os três académicos acreditam que tal é possível.

“Depois da pandemia provou-se que uma crise tão grande poderá constituir uma oportunidade para que as práticas de RSC possam ser levadas mais a sério. Muitos actores sociais nos países mais ricos do mundo, que sofreram bastante com a pandemia, esperam que o comportamento associado à Administração Ética, por parte das instituições, empresas ou ONG, possa ajudar a enfrentar a crise”, referiu Stephan Rothlin.

Carlos Noronha aponta que, “realisticamente, os negócios estão prontos a abraçar este tipo de práticas apenas se tiverem objectivos a cumprir”. “Se a Administração Ética e a RSC forem introduzidos de forma mais abrangente, os pequenos negócios terão maior capacidade de investimento nesta área”, adiantou.

Jenny Guan acredita, contudo, que as PME “não têm, actualmente, noção do panorama completo de todas as dimensões relacionadas com a RSC”. Assim, é necessária “formação e promoção para aumentar a consciência de que a RSC nem sempre é algo ‘caro’ ou com ‘custos elevados'”.

Para introduzir mais facilmente estes conceitos na sociedade civil, a académica destacou ainda a necessidade de “diversos actores terem o apoio de associações locais e cooperar com elas”. Estes actores podem ser “o Governo de Macau, um plano de acção iniciado pelo Governo regional [autoridades chinesas] ou as próprias necessidades de desenvolvimento industrial da região”, frisou.

O papel do Executivo

Promoção, educação e integração do trabalho de diversos actores parecem ser os três ingredientes principais para que a Administração Ética seja implementada na sociedade. No entanto, é também exigido o exemplo dado pelo Governo.

“Estou convencido de que é exequível implementar os pontos centrais da Administração Ética no contexto de Macau. No entanto, é preciso que sejam dados muitos passos de bebé e fazer um amplo caminho junto do Governo e da sociedade civil para que se inicie [este processo]”, disse Stephan Rothlin.

Carlos Noronha concorda, mas recorda que a maior parte dos inquiridos no estudo “defendem que o Governo deveria desempenhar um papel mais importante na introdução de uma Administração Ética e RSC junto do público e a todos os níveis”. Jenny Guan entende que é necessária uma integração de recursos numa fase muito inicial, bem como a “implementação de actividades de acções promocionais através de associações locais de diferentes sectores”. Só assim se poderá ter um âmbito alargado da Administração Ética.

Carlos Noronha propõe que “escolas e Governo olhem para a questão” com a incorporação de conteúdos relacionados com a justiça social e igualdade de género nas disciplinas ensinadas. Estas são as mais “prementes a serem introduzidas o mais cedo possível”.

Gerir a pensar no outro

A Administração Ética é definida pela Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido [UK Financial Conduct Authority] como “a alocação de responsabilidade e gestão de capital dentro da comunidade de investimentos institucionais a fim de criar valores sustentáveis para os beneficiários, a economia e a sociedade”, explica Stephan Rothlin.

Exemplos de actividades são a criação de determinados serviços para cidadãos e instituições, a publicação de relatórios sobre essas mesmas actividades, de forma a monitorizar ou gerir determinados activos. Conforme adiantou o director do Instituto Mateus Ricci, os debates em torno desta matéria têm-se focado no papel que gestores, administradores e investidores podem ter e “no impacto que os códigos de Administração Ética podem ter no comportamento dos accionistas”.

Stephan Rothlin destaca ainda as conclusões do académico japonês Yasutomo Tsukioka, divulgadas em 2020, que apontam para o facto de a criação “de directrizes não obrigatórias da parte de governos poderem melhorar o comportamento dos investidores e o sistema de governança corporativa”.

Em Macau foi criado em 2016 o Instituto de Governação Corporativa, uma associação sem fins lucrativos que conta com a colaboração de “grandes empresas como bancos, concessionárias de jogo e empresas de utilidade pública”. Stephan Rothlin explica que esse projecto nasceu “da pressão [existente] para melhorar as medidas de governação corporativa e as boas práticas em Macau”. A nível local, “a legislação relativa à governação corporativa abrange diversos diplomas, não existindo um padrão central definido por regulamentos face aos melhores princípios nesta matéria”, rematou Stephan Rothlin.

Carlos Noronha aponta que a Administração Ética “não é necessariamente dirigida por leis e códigos” seguindo a via “voluntária da RSC”. “Propomos a ideia de um ‘novo gestor’, que possa ser um gestor para todos”, disse. Um administrador ético é, segundo Jenny Guan, alguém “com uma visão renovada de sentido de negócio” que tenha a sustentabilidade como objectivo, e que tenha um papel “em prol de outras instituições sociais”. “Esta gestão responsável pode trazer mudanças positivas à indústria e fazer da sociedade e da comunidade lugares melhores”, concluiu.

16 Mar 2023

Economia | “Carnaval de Consumo” gerou 1,6 mil milhões de patacas

A iniciativa “Carnaval de Consumo de Macau 2022” gerou um consumo adicional de 1,6 mil milhões de patacas, tendo reunido 23 mil estabelecimentos comerciais do território. Ontem, no edifício da Associação Comercial de Macau, decorreu a cerimónia de encerramento do evento e o grande sorteio final.

Organizado pelo Governo, este evento visa fomentar o consumo por parte dos residentes no contexto da pandemia através da distribuição de cupões electrónicos nos estabelecimentos comerciais aderentes. Foram atribuídos cupões electrónicos no valor total de 100 milhões de patacas.

Depois de mais de quatro meses do evento, acumularam-se mais de 21 milhões de transacções qualificadas para o grande sorteio final, cujos prémios incluem dinheiro, refeições e alojamento num valor superior a três milhões de patacas, oferecidos pela Associação Comercial de Macau e “vários patrocinadores”. A lista de 78 vencedores será conhecida hoje.

Tai Kin Ip, director da Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico, disse que o “Carnaval de Consumo” estimulou “o desejo de consumo dos residentes e impulsionou o ambiente de consumo local”, tendo reforçado “a confiança na operação sustentável de todos os sectores”. Graças à distribuição dos cupões “foi acelerada a promoção do ciclo de consumo da comunidade, o que ajudou na recuperação económica”.

16 Mar 2023

Grande Baía | Integração empresarial depende de mais subsídios, diz Sonny Lo

Sonny Lo, académico de Hong Kong, defende que a maior integração de Macau na Grande Baía depende de mais subsídios para que os pequenos negócios se possam deslocar. O especialista em ciência política não tem dúvidas de que, com a Zona de Cooperação Aprofundada, se concretiza um desejo de Deng Xiaoping de criar mais regiões administrativas especiais no sul da China

 

Muito se tem falado da integração regional de Macau no contexto da Grande Baía, mas como pode esta efectivar-se? Sonny Lo, académico da Hong Kong University Space deu ontem uma palestra na Fundação Rui Cunha (FRC) sobre o assunto, intitulada “O Presente e o Futuro da Grande Baía e a integração de Macau em Hengqin e Hong Kong em Shenzhen”.

Ao HM, por email, o académico disse que a maior integração da RAEM passa, essencialmente, por duas áreas. “É necessário educar mais a juventude e providenciar mais incentivos e subsídios para que os negócios se mudem para a zona da Grande Baía. As pequenas e média empresas precisam de mais subsídios e incentivos”, disse.

Relativamente a uma maior presença de empresas lusófonas, para as quais Macau serve de plataforma comercial, a receita é semelhante.

“É preciso dar tempo ao mercado lusófono. Os países de língua portuguesa necessitam de se deslocar para a Zona de Cooperação Aprofundada e observar a situação numa fase mais avançada, uma vez que o desenvolvimento [dos projectos] ainda agora começou”, disse ainda.

Sonny Lo frisou que as autoridades de Hong Kong também devem aumentar os apoios financeiros para que as empresas tenham mais interesse em ir para Shenzhen.

Numa altura em que Macau enfrenta uma crise de recursos humanos, com menos trabalhadores não residentes, como se pode dar resposta aos desafios da Grande Baía? Para Sonny Lo, a bitola está do lado da RAEM.

“O Governo da China continental já implementou um modelo de importação de talentos para Macau, mas [o território] precisa de produzir mais talentos locais”, frisou.

Ao estabelecer-se “uma relação entre governos e indústrias estratégicas, as instituições de ensino superior deveriam melhorar e regularizar [a sua actuação] com um melhor planeamento, projecções de recursos humanos e realização de inquéritos anuais com dados divulgados junto do público”, disse na apresentação de ontem.

Poder de absorção

A legislação de base para a Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin foi aprovada pelas autoridades de Guangdong a 9 de Janeiro deste ano. Na sua apresentação, Sonny Lo destacou que este novo processo de integração “irá tornar-se num projecto piloto que terá tremendas implicações para a integração tecnológica e sócio-económica entre Hong Kong e Shenzhen nos próximos anos, antes de 2047”.

Esta legislação, relativamente ao tecido económico de Macau, não aposta no jogo, destacou o académico ao HM. “Não vemos o jogo como um caminho de saída, mas vemos, em vez disso, a necessidade de Macau se diversificar em termos económicos.”

Sonny Lo acredita que, com o passar dos anos, “a Zona de Cooperação Aprofundada vai estar bem posicionada para ser territorialmente absorvida por Macau, se as autoridades centrais assim o entenderem”. Desta forma, está traçado o caminho para uma grande extensão territorial da pequena Macau, mas tal “depende de vários factores, como a expansão da população, a procura e os desejos do Governo de Macau e a preparação para tal integração da perspectiva de Hengqin”. “Com o passar do tempo, a Zona de Cooperação em Hengqin será integrada na RAEM”, frisou Sonny Lo na apresentação.

Neste sentido, o académico aponta o dedo aos governos de Macau e Hong Kong, “que mostraram uma fraca capacidade que terá de ser reforçada com o recrutamento de funcionários públicos de elite, uma melhor formação e profissionalização”.

Sonny Lo disse ainda que o modelo de integração de Hong Kong e Shenzhen deverá seguir o mesmo modelo de Macau em relação a Hengqin, mas o desafio permanece “no reforço da capacidade entre os governos de Macau e Hong Kong face ao planeamento e coordenação internamente e entre fronteiras”.

O académico acredita que a visão de Deng Xiaoping de criar mais regiões administrativas especiais no sul da China “já está concretizado com a criação da Zona de Cooperação Hengqin-Macau, com a cooperação entre Hong Kong e Shenzhen a seguir-lhe os passos nos próximos anos”.

16 Mar 2023

História | Echo Macaense, o primeiro jornal bilingue em análise académica

A investigadora Cátia Miriam Costa está a estudar o perfil jornalístico e político do periódico “Echo Macaense”, publicado em finais do século XIX e que foi o primeiro jornal bilingue publicado no território. O HM falou com a académica que se debruça sobre a publicação que divulgou ideais republicanos e alguns dos primeiros textos de Sun Yat-sen

 

Na história da imprensa de Macau não há muitos exemplos de edições bilingues, embora o português e o chinês tenham coexistido num território com comunidades separadas e interligadas ao mesmo tempo, muito antes da Lei Básica determinar as duas línguas como idiomas oficiais.

Temos, já no século XXI, a experiência do suplemento em português do “Tai Chung Pou” e, mais recentemente, do semanário “Plataforma”, lançado em 2013 como um jornal totalmente bilingue, com os mesmos conteúdos em português a serem traduzidos para chinês.

Contudo, o “Echo Macaense”, editado em finais do século XIX, foi a primeira experiência jornalística do género. A investigadora Cátia Miriam Costa, ligada ao Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), apresentou recentemente, nas conferências sobre Macau do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), algumas das conclusões do estudo que está a desenvolver sobre este jornal, na palestra intitulada “O papel político da imprensa em Macau – O caso do periódico Echo Macaense”.

Ao HM, a autora falou de algumas conclusões que retirou da análise ao jornal que foi, acima de tudo, importante pela sua tentativa de ligação de duas comunidades.

“O jornal destacou-se logo por ter uma edição bilingue, o que, só por si, era uma novidade. As edições eram completamente autónomas e, por isso, vieram a separar-se. Não eram traduções, não funcionavam como uma mesma versão nas duas línguas. Contudo, tinham uma partilha de ideário e objectivos, o que fazia com que fosse natural a sua publicação em conjunto e depois continuasse a sua publicação em separado, ficando os dois jornais ancorados na mesma tipografia.”

O local de impressão era a Tipografia Mercantil, propriedade da família de Francisco Hermenegildo, que foi director da publicação, que chegou também a ser dirigida pelo empresário Pedro Nolasco da Silva.

Segundo Cátia Miriam Costa, o “Echo Macaense” foi um espaço público de “debate com jornais seus contemporâneos porque fez algo de novo que era tentar fazer convergir, no mesmo periódico, os interesses das várias comunidades. Dava também atenção aos interesses da comunidade chinesa”.

Além disso, em termos políticos, “congregava à sua volta alguns intelectuais ligados ao ideário republicano, tanto do lado português como do chinês”. Destaca-se “a colaboração de Sun Yat-sen, que terá publicado ali alguns dos seus primeiros textos e ideias”. Assim, aponta a investigadora, “o jornal é extremamente relevante para fazermos uma análise da parte portuguesa como da parte chinesa, e ajuda-nos até a perceber quais as pontes que o periódico tentava estabelecer”.

As páginas literárias

Cátia Miriam Costa confessa que há ainda muita matéria a explorar sobre o papel que o “Echo Macaense” teve na sociedade e meio político locais. Falta ainda perceber “se houve alterações na linha editorial, porque o jornal publicou-se durante muitos anos, e se esta promovia uma aproximação das comunidades portuguesa e chinesa”, bem como “quais os aspectos políticos mais interessantes nas duas edições do periódico”.

Acima de tudo, a investigadora entende que estudar o “Echo Macaense” tem relevância por ter sido “um projecto de convergência das comunidades que parece ter caído e nunca mais voltou a ser uma prioridade para a elite intelectual de Macau, pelo menos em termos de publicação conjunta.”

Na sua génese, o “Echo Macaense” unia “as duas comunidades, nem que fosse em termos da criação de um produto que tinha sido fundado debaixo do mesmo ideário”.

Além da vertente política, o jornal “tinha uma pequena rúbrica sobre literatura e cultura, nas duas versões”. “Existia um interesse em promover a educação e cultura, que era transversal, mas que estava muito ligado ao ideário republicano. Os títulos eram variados, mas eram publicados excertos literários, o que era comum na imprensa da época, contemporânea”, frisa Cátia Miriam Costa.

Nesse ponto, “o jornal não diverge do modelo dos jornais metropolitanos, por exemplo ou publicados em todo o mundo”. “Na altura a imprensa tomava como sua esta função educativa e de puxar o leitor para as artes e cultura. Havia esse papel, que me parece bastante relevante no ‘Echo Macaense'”, adiantou a académica.

Investigação desde 2017

Cátia Miriam Costa vem desenvolvendo a investigação académica sobre a publicação desde 2017, ano em que publicou, na edição inglesa da “Revista Macau”, um artigo sobre o tema. Na altura, escreveu que o “Echo Macaense” foi “um periódico entre muitos, no entanto, o seu lugar na história é especial”, uma vez que circulou “não apenas em Macau, tendo sido distribuído em várias cidades da China continental, Portugal e Timor-Leste, bem como em São Francisco”, nos Estados Unidos.

Editado durante seis anos, desde Julho de 1893 a Setembro de 1899, o jornal foi publicado todas as semanas, à excepção de um hiato entre 6 de Novembro de 1895 e 2 de Fevereiro de 1896.

A 21 de Fevereiro de 1894 foi oficialmente anunciada a separação entre as versões portuguesa e chinesa, embora tivessem continuado a ser impressas na Tipografia Mercantil. “Parece que a separação ocorreu sem conflito, e talvez a única razão para a separação foi a necessidade de diversificar o conteúdo editorial ou adquirir diferentes patrocinadores para as duas versões”, escreveu então.

Cátia Miriam Costa participou, recentemente, num capítulo de um livro sobre a “A Abelha da China”, que foi “o primeiro jornal com características modernas não só de Macau como em toda a Ásia, sendo pioneiro neste contexto”. A obra, editada pelo CCCM, intitula-se “A Abelha da China nos seus 200 anos – Casos, Personagens e Confrontos”.

A investigadora, especialista em ciência política e relações internacionais, entende que a imprensa local pode dar muitas respostas que permanecem por estudar. “Este é um campo fértil para se fazer investigação, até porque, no caso de Macau, não existem estudos a mais. Mas depende muito do acesso às fontes e do interesse que se consegue gerar. Hoje em dia a investigação é muito utilitária e aposta-se mais em assuntos que sejam publicados para terem impacto na sociedade. Este é apenas um facto histórico. Mas penso que, neste caso, é um projecto importante para percebermos as relações entre comunidades. Há muitas questões que podemos levantar em torno da imprensa”, rematou.

16 Mar 2023

MAM | “Alegoria dos Sonhos”, do colectivo YiiMa, chega a Macau

Depois do périplo feito pela Europa, nomeadamente em Lisboa e na Bienal de Arte de Veneza, a exposição dos artistas Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io, que integram o colectivo “YiiMa”, chega a Macau pela primeira vez, sendo inaugurada esta sexta-feira. Ung Vai Meng diz-se feliz pelo facto de as obras de “Alegoria dos Sonhos”, com curadoria de João Miguel Barros, serem expostas no território que lhes deu vida

 

A mostra “Alegoria dos Sonhos”, do colectivo “YiiMa”, composto pelos artistas Guilherme Ung Vai Meng, antigo presidente do Instituto Cultural (IC), e Chan Hin Io, chega esta sexta-feira à sua terra de origem, depois de ter sido exibida no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, com o nome “(Des) Construção”, e de ter representado Macau na 59.ª Bienal de Arte de Veneza, já com o nome de “Alegoria dos Sonhos”.

A exposição de fotografia, escultura, instalação e até arte performativa, estará patente na Galeria do Tap Seac até ao dia 21 de Maio, proporcionando ao público local a oportunidade de ver, pela primeira vez, uma mostra reconhecida internacionalmente.

Ao HM, Ung Vai Meng falou da “felicidade” sentida pelo colectivo “pela devolução das obras à nossa cidade natal, para as podermos exibir aos cidadãos e amigos locais”. Afinal de contas, “essas obras foram todas criadas neste pequeno território”, adiantou.

Fazendo o balanço das duas exposições, Ung Vai Meng frisou que “o público respondeu muito bem, tendo estado particularmente interessado nas cenas da vida em Macau, já que as obras mostram as culturas chinesa e ocidental”.

Além disso, o antigo dirigente cultural, que actualmente se dedica à arte a tempo inteiro, referiu uma análise feita por uma crítica norte-americana, que se referiu a “A Alegoria dos Sonhos” como “uma das dez obras que valia a pena ver na Bienal de Veneza”.

Parque a caminho

Convidado a comentar as políticas culturais após o regresso à normalidade, no contexto da pandemia, Ung Vai Meng diz acreditar que “o Governo poderá pensar em novas estratégias do ponto de vista cultural, exigindo às concessionárias de jogo que seja dado um maior apoio e feito um maior investimento em empreendimentos culturais.”

Ung Vai Meng acredita também que será possível uma maior cooperação com artistas e entidades culturais estrangeiras para que Macau venha a acolher mais eventos de cariz internacional.

Quanto ao colectivo YiiMa, poderão surgir novos projectos. “A fim de aumentar o interesse dos residentes de Macau pela arte pública, o nosso colectivo está a estudar a viabilidade do projecto ‘Parque Temporário de Esculturas de Macau’, mas estamos ainda na fase de concepção.”

Palavra de curador

Ao HM, João Miguel Barros, curador, recorda um processo de adaptação entre a mostra de Lisboa e aquela que foi exibida em Veneza. “Quando discuti com os artistas a nossa candidatura à Bienal de Veneza, havia uma ideia estruturada para a ‘Alegoria dos Sonhos’ e que incluía várias componentes, desde a fotografia, a instalação e a vídeo arte. Mas sabíamos que se ganhássemos a representação de Macau teríamos de ajustar muito essa ideia devido às limitações do espaço disponível em Veneza. A mostra da galeria do Tap Seac acaba por ser a que permite uma aproximação mais fiel à ideia original.”

O curador acrescenta que, graças à “generosidade dos meios que o IC colocou à disposição dos artistas”, foi permitido “delimitar os espaços dos diversos ‘sonhos’ dando a conhecer o conteúdo que o YiiMa produziu para ser mostrado em Veneza, com o sucesso que lhe foi reconhecido. Nessa perspectiva os visitantes de Macau são uns privilegiados ao visitarem esta exposição do YiiMa”, rematou.

Na mostra patente em Lisboa, no então Museu Colecção Berardo, já encerrado, mostraram-se imagens com os próprios artistas transformados em anjos e a representação de lugares icónicos de Macau que foram mudando ao longo do tempo, como casas de matriz chinesa, estruturas de bambu, templos budistas no meio da cidade. Em todas as obras se faz um exercício de reflexão sobre a Macau do passado e do presente e as constantes mudanças urbanísticas que têm ocorrido ao longo do tempo.

15 Mar 2023

Rosa Coutinho Cabral, cineasta: “Prémios dão um novo alento”

Filmado em Macau em 2018, “Pe San Ié”, longa-metragem documental sobre a vida de Camilo Pessanha, recebeu, em Fevereiro, quatro distinções no festival New York Movie Awards. Mas a realizadora Rosa Coutinho Cabral não tem parado. Depois do lançamento no ano passado de “A Casa da Rosa”, está na forja um projecto de filme e peça de teatro sobre Natália Correia, que poderá ser apresentada em Macau

 

A longa-metragem documental de 2018 “Pe San Ié” continua a ganhar prémios. Como encara esta longevidade da obra?

Fico muitíssimo satisfeita, sobretudo porque foi um trabalho que eu gostei muito de fazer na companhia do Carlos Morais José e apoio da produtora Inner Harbour. Contou ainda com a colaboração de muitas pessoas, tal como Susana Gomes e Pedro Cardeira na fotografia e José Carlos Pontes na música. Estes quatro prémios [Melhor Longa-metragem Documental, prémio Prata para Melhor Música Original, Melhor Edição e Melhor Cinematografia] dão um novo alento ao filme. No fundo, um filme vive do seu reconhecimento e da sua projecção, e se não for visto é, de alguma maneira, um arquivo morto. O facto de estar a ser desarquivado, digamos assim, e procurado [é bom], porque são muitos destes festivais que nos procuram, convidando-nos a enviar o filme para concurso. Não há dinheiro envolvido, mas estes prémios trazem o reconhecimento. Saber que fizemos um objecto artístico e cultural com interesse que vai além do momento em que a produção termina, o facto de continuar a ser solicitado depois destes anos traz uma revitalização muito grande. Dá uma grande importância ao tema, passado em Macau, algo que também está muito presente no imaginário das pessoas, bem como a figura de Camilo Pessanha.

Passaram alguns anos desde que fez o filme. Como olha hoje para o projecto?

Tive a oportunidade de rever o filme muito recentemente. É muito raro ver filmes meus já terminados e, muitas vezes, nem os vejo quando passam nos festivais. No entanto, vi-o num outro dia e considero que continua muito actual no propósito que tinha. Não mudaria nada. Acho que a escolha do Carlos Morais José para personagem aglutinadora faz com que o documentário seja ficcional, um misto de detective com Pessanha, da nossa própria condição de português no Oriente, é muito importante. Isso faz com que o filme ganhe um trajecto temporal entre aquilo a que se refere, que é o tempo de Pessanha, e o tempo que vivemos hoje em dia, que é o tempo em Macau. Esta actualidade que se prende com o tempo anterior está muito bem resolvida no filme e não mudaria nada. Ainda hoje recebi um convite de outro festival [para apresentar o filme a concurso]. Há ainda outro aspecto que queria sublinhar: sempre considerei que isto era um ensaio cinematográfico que colocava o olhar de um morto num sítio vivo. Acho que isto foi conseguido e, passados estes anos, ainda acho que é isso que está no filme: um contrato com a pessoa que morreu e com o seu olhar sobre um espaço que ele escolheu viver e morrer e onde escreveu grande parte da sua obra. Confesso que esta ideia de ter um espaço que vacilava entre o campo, que é o olhar dele, e o contracampo, que é o presente, ainda lá está no filme e fico contente com isso. Ainda consigo achar o que tinha proposto e não fiquei zangada comigo. Quando acabo os filmes fico sempre um pouco zangada, com a sensação que não era aquilo que queria.

Venceu também outros prémios neste festival, nomeadamente com o recente documentário “A Casa da Rosa”. Fale-me desse projecto.

É um projecto sobre a perda, o outro e tem a ver comigo, com aquilo que perdi ao longo da vida, que foi bastante trágico, e que acaba por culminar com a perda de uma casa. Quis filmar todo o processo de saída, de ser obrigada a sair de uma casa que era o meu lugar, um sítio onde tinhas as minhas memórias e onde tinha tudo aquilo de que não me queria afastar, mas que fui obrigada. Na verdade, não tinha dinheiro para pagar a renda e fui despejada. Fiquei um pouco espantada com o facto de o filme ter tido todo este reconhecimento, o que é interessante para um filme muito íntimo, muito sincero, muito honesto sobre o que senti. Foi totalmente feito por mim: gravei, fiz o som, filmei-me continuamente, tive de me encenar a mim, colocar a câmara, criar um espaço. Foi uma espécie de auto-encenação, uma coisa muito intensa e feita sem dinheiro nenhum, com o meu dinheiro e de pessoas amigas. A música foi oferecida pelo José Carlos Pontes. Acho que, cinematograficamente, é um filme de grande honestidade sobre a perda. A minha pergunta é como se filma a perda, o luto, algumas situações muito trágicas. Consegui fazer o filme porque me deixei arrastar pelo meu sentimento e honestidade, de nada esconder. É uma pessoa que se despe e mostra o que é. Não sei se voltarei a fazer isso, mas dessa vez, fi-lo.

Foi uma maneira para lidar com várias situações difíceis, portanto.

Sim, pode-se dizer que sim. Este lado trágico e que culmina com o processo da catarse… possivelmente, sim. Fui muito obsessiva na filmagem, gostei bastante de a fazer, mas usei o método que quase me levou a enlouquecer com essa obsessão. Já estava farta da casa e de filmar. Andava sozinha pela casa e pelo telhado de um edifício de Lisboa sozinha, à noite, porque queria sentir tudo o que tinha a ver com aquela casa. Houve uma altura em que quase raiou a loucura, uma certa desrazão. Mas foi um processo do qual não me arrependo. Ainda bem que o fiz.

Como é ver revelado algo tão pessoal em festivais de cinema?

Não foi difícil. A primeira exibição foi no DocLisboa, foi bem recebido, segundo consta esteve muito perto de receber o prémio [principal], mas houve outro filme de que gostaram mais. As coisas são assim. Depois tive um contacto com uma curadora italiana que quis levar o filme para o festival “8 1/2”, baseado no [Federico] Fellini, e aí o filme começou a circular e recebemos convites para outros festivais. Nunca recebemos dinheiro, o que me teria dado muito jeito (risos). Houve pessoas que acreditaram no filme e ajudaram na montagem.

Está a trabalhar num documentário sobre Natália Correia. Quando termina esse projecto?

Em Setembro. Na próxima semana vou estrear uma peça de teatro, também sobre a Natália Correia, intitulada “Colheres de Prata”, que, se tudo correr bem, poderá ir até Macau.

Porquê Natália Correia?

Por várias razões: eu sou açoriana, ela é açoriana. Viemos para Lisboa praticamente com a mesma idade, não porque quiséssemos vir, mas porque a família veio. Tivemos de sair de uma ilha de que ambas gostávamos bastante para um lugar ainda desconhecido. Natália foi sempre uma mulher do lado da liberdade e da defesa dos direitos humanos. Foi uma anti-fascista. Toda a vida foi dedicada a defender estes propósitos, quer na literatura, quer na política, quer nas campanhas que apoiou, nomeadamente a de Humberto Delgado. Foi uma mulher bastante intransigente e muitos livros dela foram apreendidos pela censura. Sempre defendeu a figura da mulher, sem o feminismo um pouco bacoco da época. Ela fazia, para mim, a defesa de um feminismo mais actualizado e interessante. Ainda hoje concordo com ela. Nunca teve a ideia disparatada de as mulheres terem de substituir os homens ou de homogeneizar formas de poder. Achava que o mundo tinha de ser habitado por homens e mulheres em igualdade de circunstâncias sociais, políticas e económicas e já falava na igualdade de género. Depois do 25 de Abril de 1974, foi uma voz importante e fez um movimento crítico em relação ao seguimento da Revolução. O que também acho interessante. Nunca perdeu as características da sua voz e isso fez dela uma mulher que muita gente quis reduzir a anedota, numa mulher de direita, desbragada. Nunca foi contra as instituições democráticas e as críticas que fez foram proféticas, com coisas que hoje vemos que são verdade. Sou uma pessoa de esquerda e sempre me identifiquei com ela, por ser uma voz discordante numa época em que era difícil sê-lo, pois ser discordante era ser de direita. Mas ela nunca se inibiu, e acho isso notável. Foi ainda uma mulher extraordinária na literatura, e luto, nestes projectos que estou a fazer, contra a redução dela a uma anedota e a uma ideia política que não corresponde à verdade. Foi sempre anti-fascista, antes e depois do 25 de Abril.

14 Mar 2023

DSEC | Comércio por grosso e retalho com mais trabalhadores

A Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelou que no quarto trimestre de 2022 o número de trabalhadores na área do comercio por grosso e retalho aumentou 4,5 por cento, face ao mesmo período de 2021. Só no sector do retalho o número de trabalhadores totalizou 41.017 trabalhadores, mais 4,1 por cento face ao período homólogo de 2021.

Pelo contrário, os salários destes trabalhadores foram, em média, 13.740 patacas, uma quebra de 1,7 por cento em termos anuais. Na área da segurança registaram-se 12.974 trabalhadores, que representa uma quebra de 0,4 por cento, com a remuneração média a ser de 12.880 patacas, menos 5,2 por cento. Nesta área, o número de vagas disponíveis foi de 1.111, menos 59 em termos anuais.

Em contraste, o número de vagas na área do comércio por grosso e retalho foi 2.632, ou seja, mais 796 em termos anuais. Para 86,9 por cento das vagas para seguranças foi exigido o equivalente ao ensino secundário geral ou inferior, bem como para 65,3 por cento das vagas na área do comércio por grosso.

14 Mar 2023

Maria do Rosário Pedreira, autora e editora: “Ou escrevia, ou ia ao psiquiatra”

Acaba de ganhar o prémio do festival literário “Correntes D’Escritas” com o novo livro de poesia “O meu corpo humano”, editado no ano passado. Na obra, Maria do Rosário Pedreira faz um exercício de reflexão sobre o mundo, mas também sobre si própria, depois do sofrimento gerado pela pandemia. A autora encara a publicação espaçada de poesia como um momento catártico

 

Regressou agora do festival “Correntes D’Escritas” onde o seu último livro, “O meu corpo humano”, foi premiado. Imagino que a distinção tenha produzido uma óptima sensação.

Claro (risos). Primeiro porque tenho um especial carinho pelo festival, que existe há mais de 20 anos e que não tem ainda nenhum equivalente em Portugal. Foi importantíssimo ganhar este prémio por ser um festival de que gosto especialmente e por ser de um livro que é especialmente duro, que tem a ver…

Consigo, mas não só…

Sim. É talvez o meu primeiro livro que fala do outro quase de uma maneira suplicante, porque, na verdade, fala do corpo no sentido de ser frágil, vulnerável ao tempo, à doença, à idade e ao envelhecimento, e humano no sentido humanista, ou seja, é um corpo que sofre e ao qual é preciso prestar atenção e ter compaixão, é preciso ter empatia pelo corpo do outro. Ainda há dias aconteceu um terrível naufrágio ao largo da costa italiana em que morreram uma data de pessoas, muitos deles crianças. Temos pena nesse dia em que passa a reportagem e depois nunca mais se fala disso. Quis, no fundo, com estes poemas, chamar a atenção para a indiferença perante as grandes questões. Por exemplo, esta história de retirarem palavras como “feio” e “gordo” de livros de um autor clássico juvenil [Roald Dahl] é ridícula ao pé de problemas como tentar resolver a questão da fome ou das migrações que não estão minimamente resolvidos.

Vivemos na era do politicamente correcto que está a deturpar conceitos e ideias com os quais fomos crescendo?

Estão-se a radicalizar questões que, de facto, são muito importantes, como o racismo, a xenofobia. A nossa relação em relação às lésbicas, gays e transsexuais têm de mudar, de facto. Não pode continuar como no tempo dos meus pais, em que era tudo um escândalo e andava tudo escondido. Acho é que são questões que não estão a ser tratadas da maneira certa, porque se confunde muito “língua” e “linguagem”, ou seja, acham que por se dizer “presidenta” já estão a respeitar a mulher que detém o cargo. Não tem a ver com isso. Não estou a ofender uma mulher se a chamar de “presidente”. Muitas vezes torneiam-se as questões sérias com um tratamento que é radical e quezilento e que só vai criar anticorpos. Em relação à retirada de nomes como “feio” e “gordo” há, de facto, coisas menos boas e não devemos poupar os miúdos ao que existe. Não os podemos esconder do mundo real. Estudos demonstram que uma das razões pelas quais o QI está a baixar na Europa desde o ano 2000 é, justamente, pela falta de linguagem, pela falta de capacidade de construir argumentos. Estamos a ver em toda a Europa os partidos de extrema-direita a crescer, porque falam preto no branco. O problema reside em que, se quem ouve, só percebe o básico. O problema da esquerda hoje em dia é, em vez de tentar resolver os grandes problemas dos países, [focar-se noutros]. Temos de ir à base e resolver os problemas maiores.

Publicou livros infantis numa época diferente [colecções “O Clube das Chaves” e “Detective Maravilhas”], quando não havia internet. Já aí tinha a preocupação de transmitir o mundo real?

Sim. Aliás, os textos sobre as colecções que fiz dizem sempre que os livros tentam transmitir valores humanos que estão em declínio e, ao mesmo tempo, transmitir informação que não é dada nas escolas. Isso já era uma preocupação minha, nem era tanto fazer um objecto literário. Queria ganhar leitores e trazer miúdos para a leitura, atraindo-os com temas como as injustiças que se passam no mundo, na escola, as coisas que não sabem como resolver ou o conflito entre gerações. Penso que o máximo problema hoje em dia é, justamente, a dependência juvenil da tecnologia e o afastamento da leitura, porque esta sempre ajudou as pessoas a serem mais empáticas, por haver uma identificação com as personagens. Além disso, a leitura desenvolve capacidades que o audiovisual não desenvolve, como o pensamento crítico ou a imaginação. Esta é uma geração dependente do audiovisual.

Voltando ao seu livro, o júri do “Correntes D’Escritas” destacou “a ousadia como a obra aborda a experiência do corpo humano nas dimensões do desejo, morte, memória e na relação com o outro”. Não é só um livro de poemas sobre si, como mulher, na relação com o seu corpo, é também um exercício de reflexão sobre o mundo onde habita?

Claro. Acho que nos meus livros anteriores era sempre o sofrimento pessoal do sujeito poético que estava à mostra. Eram sempre os poemas do “Eu”. Perdi algumas pessoas na pandemia e o sofrimento alheio passa a ser um pouco o nosso. Já tenho uma vida equilibrada e, se calhar, não precisava de sofrer tanto pelas minhas questões pessoais, mas a verdade é que ficámos com mais tempo para olhar para nós, porque ficámos sozinhos, não podíamos sair nem estar com os outros. Percebemos também que o tempo que estava a passar, para pessoas mais novas, não tem eco no futuro, mas para uma pessoa na minha idade sim. Eu estava, na pandemia, quase com 60 anos, o que significa que os anos que vêm aí são preciosos, e que chatice não podemos vivê-los. Há também uma influência no corpo físico. Olhamos para trás e percebemos o que não podemos voltar a fazer. Já não nos vamos apaixonar como o fizemos em jovens, já não nos podemos voltar a vestir com coisas que, se calhar, gostaríamos. Percebemos que o nosso corpo é vulnerável e não volta a ser o que era. O que acontece a partir de certa idade é um arrependimento pelas coisas que não fizemos. O meu livro reflecte esse olhar para o espelho e a reflexão do que já se fez e não se vai a tempo de fazer e, por outro lado, perceber que com a vida minimamente equilibrada em termos sentimentais, olhamos para os outros e percebemos que estão piores que nós. Nós, com esta vulnerabilidade do tempo, temos a obrigação de fazer alguma coisa, muitas vezes pelos jovens. Na questão dos migrantes, vemos pessoas, que são jovens, mais sujeitas a que o seu corpo sofra. Portanto, este é um livro sobre até que ponto não devemos ser compassivos, empáticos e atentos aos que estão a sofrer.

Arrepende-se de alguma coisa que não tenha feito?

Quando era miúda fiz teatro e sempre pensei que gostava de fazer teatro, mas não é aos 63 anos que me vou pôr a fazer isso. Poderia fazê-lo, mas não seria a mesma coisa. Há pouco tempo, por exemplo, pensei em fazer um herbário, mas com esta idade já não se justifica andar a recolher plantas de ruas e jardins, talvez fosse melhor ter feito isso antes. Há montes de livros que não li que gostava de conseguir ler até morrer e se calhar já não vou conseguir, porque o nosso cérebro já não processa a informação da mesma maneira. Não tenho filhos, mas nunca senti muito o apelo maternal e casei com quarenta e tal anos. Mas escrevo num dos poemas do livro que gostava de ter tido netos.

A relação que tem hoje com o seu corpo é mais tranquila?

Não é nada tranquila! Esse é o problema, porque acho que o envelhecimento físico é uma coisa muito complicada. Oiço mal e lido muito mal com o facto de ir ver uma peça de teatro e não conseguir ouvir tudo. É limitativo, lido mal com isso. Acho que as pessoas têm de gostar de si e não é fácil o facto de um corpo envelhecer. Não tenho uma relação pacífica com isso. Como tenho uma vida muito activa, foi o período da pandemia que me fez parar e se calhar está associado a coisas que não gostei de ver. Não acho que seja pacífica a relação com o meu próprio corpo. Queria gostar mais de mim.

Disse numa entrevista que a poesia já a salvou de momentos de angústia, até de uma depressão? É como uma catarse constante?

Digamos que os meus livros são sempre terapêuticos, e por isso escrevo pouco. Se não publico até é bom sinal, porque não preciso de o fazer.

Não publicava poesia desde 2012, quando editou “Poesia Reunida”.

Sim. A minha poesia escreve-se pouco. Se calhar, se não tivesse sido um momento especialmente mau nesta pandemia, com a perda de pessoas amigas e o envelhecimento, muito provavelmente não teria voltado. Defino sempre um livro de poesia como: ou o escrevia, ou ia ao psiquiatra. Na verdade, prefiro escrever o livro, porque cada poema que sai faz-me sentir bem e o eco no leitor é muito gratificante. Isso acaba por curar, se calhar, o mal que estava antes do livro. É uma terapia.

Já foi ao psiquiatra, ou recorre sempre aos livros?

Já fui ao psiquiatra, sim, mas foi há muitos anos (risos).

É também editora, e no grupo Leya é responsável pela descoberta de novos autores. O que um romance tem de ter para lhe chamar a atenção?

É muito difícil de responder a isso porque nunca é a mesma coisa. É mais uma coisa de sentir do que de descrever. Hoje em dia publica-se toda a espécie de porcaria que existe. Discordo muito disso porque quem tem talento tem, quem não tem deve fazer outra coisa. Devíamos dar um espaço de destaque ao verdadeiro escritor. Quando comecei, com vinte e tal anos, a edição de livros era uma actividade muito menos industrial do que é hoje. Há livros editados que são maus formadores de leitura e levam a que as pessoas pensem que também podem publicar. Temos o mercado pejado de coisas verdadeiramente más. O material que usamos para escrever um livro é aquele que usamos nesta entrevista, para pedir um café ou insultar alguém. Combinar isso [bem, num livro] é cada vez mais raro, e é isso que me faz escolher um livro. Na nova geração, então, é raríssimo.

Recebe muitos livros?

Muitíssimos. É difícil encontrar um bom livro porque a geração educada pelo audiovisual não só escreve pior como escreve como se fosse um guião, em tempo real, no presente do indicativo, sem discrições.

E na poesia, há maus poemas?

Há péssimos. Mas sempre houve, e ninguém os edita. A diferença entre a poesia e a prosa é que, como a poesia se vende pouco, não há empresas interessadas em fazer os livros às pessoas. A má poesia não se vende, mas a má prosa sim, porque há empresas especializadas em afagar o ego das pessoas que não têm talento, e estas pagam para ter o seu livro publicado. Mas depois o livro nunca aparece em lado nenhum. Isso baralhou o mercado e hoje quando entramos numa livraria não conseguimos distinguir o bom do mau.

14 Mar 2023

Huizhou | Promoção de rua itinerante sobre Macau

Decorreu este fim-de-semana a actividade de rua de promoção do turismo de Macau na praça central do Huamao Place, em Huizhou, intitulada “Sentir Macau, Sem Limites”, promovida pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST). A promoção de rua foi feita graças a uma caravana que serviu de palco para diversos espectáculos de música e danças chinesas e portuguesas e que promoveu uma interacção com o público.

Foi ainda instalada na caravana uma zona de realidade virtual para a população de Huizhou “apreciar os pontos turísticos do Património Mundial de Macau e sentir a atmosfera do evento”, descreve a DST, em comunicado.

A iniciativa teve ainda uma zona interactiva com um fundo temático para os participantes tirarem fotografias, como uma parede com graffiti, uma sala de exposições, uma tenda com jogos, a realização de workshops para pais e filhos e ainda um espectáculo de vídeo mapping, entre outros.

Destaque ainda para a instalação de stands promocionais da parte das seis operadoras de jogo e a presença da mascote “Mak Mak”, criada pela DST, que interagiu com os presentes.

O objectivo desta iniciativa foi a promoção da “diversidade do ‘Turismo+’ de Macau”, seguindo-se agora mais iniciativas do género em outras cidades integrantes da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, para que a RAEM venha a receber um leque mais diversificado de turistas, a fim de se “promover a recuperação do turismo e da economia”.

Irão, assim, ser organizadas actividades em cidades como Shenzhen, Dongguan, Foshan e Zhaoqing.
Cheng Wai Tong, subdirector da DST, adiantou, num discurso proferido no sábado, na cerimónia de inauguração da actividade, que a ideia deste tipo de iniciativas promocionais é “aproveitar a recuperação completa da circulação de pessoas entre o Interior da China, Hong Kong e Macau”.

13 Mar 2023

TUI | Dados falsos para concorrer a habitação social é crime

O Tribunal de Última Instância (TUI) entendeu que prestar falsas declarações nos boletins de candidatura a habitação social constitui um crime de falsificação de documentos.

A decisão consta num acórdão de jurisprudência tornado ontem público e que surge depois de diferentes leituras da lei entre o Tribunal de Segunda Instância (TSI) e o Ministério Público (MP), relativamente a um caso de 2021 em que um residente que prestou falsas declarações foi absolvido da prática de qualquer crime pelo Tribunal Judicial de Base (TJB).

Coube ao MP interpor recurso para o TUI da decisão do TSI, alegando que as decisões “estavam em oposição relativamente à mesma questão de direito e no domínio da mesma legislação”. O TSI havia considerado que o boletim de candidatura à habitação social não é “um documento no sentido jurídico penalmente relevante” no âmbito do Código Penal em vigor, pelo que “a falsidade dessa declaração não preenche aquele tipo legal de crime de falsificação de documento”. Assim, o TSI decidiu manter a decisão do TJB. Já o TUI, decidiu no sentido oposto e considerou a prestação de falsas declarações como crime.

13 Mar 2023

Exposição | “In-Between”, de José Drummond, na galeria ATTN até Junho

José Drummond, artista e ex-residente de Macau, expõe “In-Between” na galeria ATTN, sediada em Guangzhou, até 4 de Junho, numa mostra que introduz a representação do artista na China. A exposição faz uma espécie de retrospectiva do trabalho de Drummond realizado nos últimos anos através de oito séries de peças que divergem entre pintura, instalação ou vídeo. Destaque para a nova instalação “So the darkness shall be the light”

 

A nova exposição de José Drummond junta uma ponta de ironia a um pedaço de coincidência. “In-Between”, patente na galeria ATTN, em Guangzhou, até 4 de Junho, marca o início da representação do artista na região, logo agora que Drummond decidiu deixar temporariamente Xangai, onde vivia há alguns anos depois de um longo período a viver em Macau.

“Até tem alguma piada, porque a partir do momento em que decidi regressar a Portugal apareceram uma série de coisas, como que a quererem prender-me à China. Esta colaboração é muito recente e não sei muito bem o que vai sair daqui”, confessou ao HM.

“In-Between” faz uma espécie de retrospectiva do trabalho artístico multidisciplinar que José Drummond tem realizado nos últimos anos na área das artes plásticas. A curadoria é de Lijun Liu e Ryan Wang e foram eles que escolheram todas as peças. Assim, o público chinês poderá ver peças já expostas.

A única novidade é mesmo “So the darkness shall be the light”, uma instalação com espelhos baseada numa outra peça já apresentada em Macau entre 2017 e 2018 e inspirada no verso de um poema de T.S. Elliot. Há aqui um lado interactivo, pois o público será convidado a ir colando fita adesiva nos espelhos até não restar mais nenhum outro espaço livre.

“Em Macau tinha um corredor com espelhos dos dois lados que iam acendendo e apagando. Esta instalação é uma variação desse tema e tem a ver com essa necessidade ou sujeição a que estamos dispostos, como pessoas, às redes sociais, com a extrema visibilidade. Tem também a ver com a forma como os Governos cada vez mais nos controlam e a forma como tratamentos a nossa persona, daí a presença do espelho.”

A “escolha ecléctica” de trabalhos presente em Guangzhou é o início de uma parceria que traz “boas perspectivas” a José Drummond. “Esta é uma galeria bastante recente, revelaram interesse no meu trabalho e eu aceitei. É importante ter uma galeria que represente o meu trabalho na China. Há outras galerias e museus que durante este ano e início do próximo ano vão mostrar o meu trabalho.”

“Estamos ainda numa fase pós-pandemia e as coisas economicamente ainda estão a ser feitas com algum cuidado, porque especialmente o último ano já foi complicado para a economia chinesa. Assim, a exposição vai estar patente mais tempo do que é habitual. Gosto do projecto, das pessoas que estão por detrás dele, e tenho boas expectativas”, adiantou ainda sobre a parceria com a galeria ATTN.

Em Portugal o artista já tem projectos agendados, mas não quer, para já, revelar mais detalhes. “Não acredito que o meu trabalho seja especial ou se destaque de outros. Acho que trabalhamos todos mais ou menos com o mesmo tipo de linguagem, uma linguagem contemporânea. Mas uma coisa é certa: eu sou a soma das minhas experiências, aquilo que vivi tem sempre influência naquilo que faço e no modo como abordo as coisas. No meu trabalho isso até é bastante nítido, porque é a tal história do estado intermédio entre culturas. Tenho trabalhado bastante esse tema da influência de uma outra cultura na minha própria cultura, criando esta entidade mista.”

Ser e estar

O nome da exposição, “In-Between”, nasce precisamente de um estado intermédio em que o artista português tem vivido nos últimos anos desde que emigrou para Macau, uma terra da qual tem saudades, mas que nunca foi verdadeiramente sua, tal como não foi Xangai.

“Sempre trabalhei este estado intermédio, o ‘In-Between’, com muita consciência, pelo menos nos últimos dois anos. É um estado que geograficamente diz respeito a alguém que passa muito tempo fora da sua terra natal e depois acaba sempre por viver nesse espaço intermédio, de não fazer parte do sítio para onde se vai e deixar de fazer parte do sítio de onde se veio. Daí as minhas referências ao Camilo Pessanha, por exemplo.”

De frisar que o poeta português, considerado o expoente máximo do Simbolismo na poesia portuguesa, viveu entre Lisboa e Macau por longos períodos, mas foi a Oriente que morreu, em 1926, depois de anos dedicado às letras e ao Direito, estando sepultado em Macau.

“Este tema foi-se acentuando no meu trabalho, mas não se esgota nesse sentido existencial. Tem também a ver com a minha prática artística, que também é, em si, uma prática ‘in between’, que se move de um lado para o outro, entre pintura, vídeo ou instalação. É uma prática que vive no meio destas disciplinas”, acrescentou José Drummond.

Assumindo que está “numa fase de maturação ao nível de temas” para trabalhar artisticamente, e que já não fogem muito “do trabalho em torno deste lado existencial e de espaço intermédio, com a ligação à poesia e filosofia”. “Penso que as coisas vão seguir por esse caminho”, concluiu.

13 Mar 2023

Cinemateca Paixão | Festival do Cinema Holandês arranca amanhã

É já amanhã que tem início um novo festival de cinema na Cinemateca Paixão, desta vez dedicado ao cinema holandês, feito inteiramente por realizadores do país ou em co-produção. Até dia 25, o público poderá ver curtas e longas-metragens, das produções mais recentes às antigas

 

“Fazer o caminho holandês” é o nome do novo festival de cinema da Cinemateca Paixão inteiramente dedicado às produções cinematográficas holandesas. Entre amanhã e o dia 25 deste mês, será possível ver curtas e longas-metragens de diversos realizadores. O filme mais antigo data de 2001. Incluem-se ainda co-produções produzidas por realizadores holandeses e de outros países.

Numa nota divulgada no seu website, a direcção da Cinemateca Paixão aponta que os filmes europeus são conhecidos por “revelarem culturas ricas e por apelarem à consciência do público para com diversas questões”, sendo que os filmes da Holanda, ou Países Baixos, “são conhecidos por apresentarem um ponto de vista único e diversificado”, bem como “críticas às questões sociais”.

Alguns os filmes que se apresentam nesta iniciativa foram parte integrante do Festival de Cinema de Roterdão, considerado um dos maiores festivais de cinema do mundo. Com este festival, será possível “vaguear por esta nação livre com uma rica atmosfera artística”, conhecida pela sua “progressividade, igualdade, pragmatismo, abertura, diversidade cultural e inovação”.

Viagens e histórias pessoais

O primeiro filme a ser exibido, já esta sexta-feira, é o mais antigo de todos, datando de 2001, e é uma produção totalmente holandesa, do realizador Nanouk Leopold. Exibido também no dia 22, “Îles Flottantes”, uma comédia, conta a história de três mulheres na casa dos 30 anos que querem mudar de vida, mas acabam por fazê-lo de forma errada.

Nas vidas de Sasha, Kaat e Isa contam-se separações dolorosas, casos de violência doméstica e paixões que se transformam em densos labirintos, onde a amizade é ponto fulcral nesta história.

No sábado, e também no dia 21, será exibido “Zurich”, de Sacha Polak, uma co-produção entre a Holanda, Alemanha e Bélgica. Este filme de 2015 revela a história de Nina que inicia uma viagem de carro sem destino certo para deixar o passado para trás. Pelo meio, encontra-se com um camionista alemão, Matthias, com quem decide prosseguir viagem.

No entanto, opta por esconder a sua identidade e a sua vida, mas esta será uma viagem que lhe dará muitas das respostas que ela procura para si mesma.

No domingo, e também no dia 18, será dia de exibir “Splendid Isolation”, de Urszula Antoniak, uma produção do ano passado feita totalmente na Holanda. Esta é a história de Anna e Hannah e de uma catástrofe pouco conhecida à qual escaparam. É numa ilha algo isolada, e vivendo numa casa abandonada, que Anna toma conta de Hannah, que se encontra numa condição muito frágil. Têm uma relação, mas aquele período fá-las pensar na forma como a vivência entre as duas evoluiu. Quando Hannah vê alguém na praia, que representa a Morte, tudo muda.

A co-produção com a Bósnia e Herzegovina, “Take Me Somewhere Nice”, de Ena Sendijarevic, integra também o cartaz do festival. A película poderá ser vista nos dias 15 e 19 de Março. Destaque ainda para os títulos “Layla M.”, de Mijke de Jong, exibido nos dias 17 e 23 de Março, e ainda “Three Minutes: A Lengthening”, de Bianca Steiger, um trabalho mais recente, de 2021. Este filme será exibido nos dias 14 e 25 de Março.

A Cinemateca Paixão optou ainda por exibir uma selecção de quatro curtas-metragens, nos dias 19 e 24 de Março. São elas “Noor”, de Louka Hoogendijk, “Spotless”, de Emma Branderhorst, “The Walking Fish”, de Thessa Meijer, e “Harbour”, de Stefanie Kolk.

10 Mar 2023

EPM | Diálogo com o Ministério da Educação intensifica-se

Desde que foi noticiado que o Ministério da Educação em Portugal estava a bloquear o projecto de ampliação da Escola Portuguesa de Macau que o diálogo com Lisboa se intensificou. O Ministério confirmou ao HM que o projecto está a ser analisado. José Sales Marques, administrador, confirma um certo desbloqueio

 

Há muito que se fala que a Escola Portuguesa de Macau (EPM) quer fazer obras de ampliação nas actuais instalações para poder receber mais alunos e expandir o projecto educativo, mas tudo continua na mesma. Depois de a TDM Rádio Macau noticiar, no passado dia 2, que o impasse estava do lado do Ministério de Educação, em Portugal, o diálogo intensificou-se.

Disso deu conta o próprio Ministério numa resposta enviada ao HM. “O Ministério da Educação está a analisar estas questões em diálogo e articulação com a Escola Portuguesa de Macau e com as autoridades macaenses. Este processo ainda está a decorrer”, foi referido.

Do lado de Macau, José Sales Marques, um dos administradores da Fundação da EPM, entidade que gere a escola, confirma a intensificação do diálogo nos últimos dias. “Não vou entrar em pormenores, até porque ainda nada existe de concreto. Mas, digamos, o diálogo intensificou-se nestes últimos dias e as autoridades da RAEM estão a procurar ajudar a resolver tanto a falta de espaço a curto prazo, como a questão da ampliação futura da escola. Estamos no bom caminho”, adiantou ao HM.

Muitos alunos, poucas salas

Na notícia da TDM Rádio Macau, que cita fontes anónimas ligadas ao processo, é referido que a procura da parte das famílias daria para abrir mais três turmas no próximo ano lectivo, mas que a falta de espaço faz com que tal não seja possível.

Uma das fontes disse que a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) e o próprio Chefe do Executivo “têm manifestado sempre apoio ao eventual desenvolvimento da Escola Portuguesa, mas sem o sim de Lisboa não se pode avançar. As autoridades locais não percebem tanta indefinição e quando perguntam já não sabemos o que dizer”.

O Ministério da Educação, em Portugal, é o sócio maioritário da EPM, que recebe financiamento da Fundação Macau desde que a Fundação Oriente deixou de financiar o projecto. A EPM conta ainda com apoio financeiro regular da parte da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude. Outra fonte ouvida pela TDM Rádio Macau, frisou que “Macau não vai pagar tudo e Lisboa tem de assumir o que lhe compete”.

9 Mar 2023

Dia da Mulher | Os desafios em prol de uma maior igualdade

Agnes Lam, ex-deputada, e Christiana Ieong, dirigente do Zonta Clube de Macau, traçam os desafios actualmente sentidos pelas mulheres de Macau, apontando que há ainda espaço para uma maior igualdade em diversos sectores e por melhorias na lei laboral. Governo diz que tem vindo a atingir parte dos objectivos propostos até 2025

 

A fim de assinalar o Dia Internacional da Mulher, que ontem se celebrou, o HM perguntou a duas mulheres de etnia chinesa, dirigentes associativas e com posições de topo, quais os desafios actualmente sentidos pela população feminina do território.

Agnes Lam, ex-deputada e académica da Universidade de Macau, entende que já muito foi feito, nomeadamente com a implementação da nova lei da violência doméstica, que tornou esse acto um crime público, mas entende que há ainda muito a fazer em prol de uma maior igualdade. “Penso que a maioria das leis garantem direitos iguais para as mulheres, como igualdade salarial e de acesso à educação. No entanto, temos questões de desigualdade ligadas à ideologia de género, o que mostra que há ainda espaço para melhoria nessa área”, disse.

Agnes Lam destaca as poucas mulheres em cargos de topo ou a permanência de “estereótipos de género”. “As mulheres de Macau não estão devidamente representadas nos sectores público e privado. Assim, os papéis tradicionais de género e os estereótipos continuam a moldar as expectativas sociais e a limitar oportunidades”, acrescentou.

São ainda necessárias, para a ex-deputada, mais “políticas que assegurem o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal”, com horários mais flexíveis e mais apoio para famílias com filhos. Já Christiana Ieong, dirigente do Zonta Clube de Macau, defende que as “os desafios são diferentes para as mulheres de diferentes classes sociais”, apontando que o Governo precisa de melhorar as políticas laborais a fim de favorecer as mães trabalhadoras, para que seja mais fácil contratar empregadas domésticas.

“Sinto muito pelas mulheres trabalhadoras de classe média, e a maior parte das mães que têm os filhos na creche SMART estão nesta posição. As mulheres trabalhadoras sentiram muita pressão no período da pandemia e mesmo depois, com o trabalho adicional que é necessário fazer em casa. É difícil imaginar como se pode desenvolver assim uma carreira.”

Desta forma, com leis mais ajustáveis à condição da mulher, será possível, na opinião de Christiana Ieong, que esta desenvolva uma carreira no mercado de trabalho local, “o que vai permitir acelerar o desenvolvimento económico de Macau na era pós-covid”.

Objectivos cumpridos

O Instituto de Acção Social (IAS) emitiu ontem uma nota onde se afirma que, no âmbito do plano de sete anos intitulado “Objectivos do Desenvolvimento das Mulheres de Macau” (2019-2025) já foram cumpridas 36 medidas de curto prazo de um total de 79. Há 24 medidas de médio prazo, a cumprir até este ano, “das quais 16 foram iniciadas e as restantes oito serão iniciadas sucessivamente” este ano. Há ainda 19 medidas, a implementar entre este ano e 2025, com quatro a serem “concretizadas de modo ordenado”.

O Governo diz que tem vindo a promover medidas tendo em conta o conceito da “transversalização de género” através da organização de palestras com associações. Além disso, o IAS afirma que tem promovido o “Plano educativo da vida familiar”, com o objectivo de “aprofundar o trabalho educativo antes e depois do casamento” e “reforçar a consciência da população sobre a educação da vida familiar e o estabelecimento de uma boa relação matrimonial”. Incluem-se, assim, actividades que fazem a “promoção do conceito de casamento” ou promovem o “reforço de educação matrimonial”.

Quanto à lei da violência doméstica, já há muitas vozes que defendem a revisão do diploma implementado desde 2016, mas o IAS apenas adianta que tem sido reforçado “o mecanismo de cooperação intersectorial e com as instituições de serviço social”, além de terem sido “optimizadas as orientações relativas ao processo de tratamento de casos de violência doméstica, sendo dada continuidade à promoção dos trabalhos de promoção e formação”.

9 Mar 2023

João Paulo Cotrim, editor e autor, homenageado em Portugal

É já no próximo sábado, dia 11, que decorre na Livraria Municipal Verney, em Oeiras, Portugal, um evento de homenagem ao autor e editor João Paulo Cotrim, antigo colaborador do HM já falecido, vítima de doença prolongada.

O evento conta com um debate mais alargado sobre o livro, recentemente publicado, “Foi Quase um Prazer”, que recorda a carreira de Cotrim não apenas na edição de livros, com a editora Abysmo, mas também na área da banda desenhada, já que foi um dos programadores da Bedeteca de Lisboa, entre 1996 e 2002.

O evento começa às 16h com a oficina para crianças e famílias “Agora é que são elas!”, monitorizada pelos ilustradores Nuno Saraiva e Catarina Sobral a partir de jogos e brincadeiras escritas por João Paulo Cotrim para a revista “UP Kids”, o suplemento da já extinta revista “UP Magazine”, editada pela TAP.

Às 18h, decorre o debate sobre o livro, com as presenças do autor, Jorge Silva, o ilustrador André Carrilho, Catarina Sobral, Cristina Sampaio, João Fazenda, Nuno Saraiva, Miguel Rocha, Pedro Burgos e Tiago Manuel. Segue-se, a partir das 21h, um DJ set com “música que é ‘Quase um Prazer'” com Valério Romão, escritor, e Cláudia Marques Santos.

Escrita profícua

Os textos do livro são da autoria do próprio Cotrim, publicados em catálogos, jornais, revistas e redes sociais, e com ilustrações de André Carrilho. Tratam-se de ensaios, comentários e recensões críticas que João Paulo Cotrim escreveu em mais de 30 anos, relacionados com a sua carreira de editor e programador cultural.

O livro começa nos anos 80, com as suas primeiras revistas, “Lua Cheia” e “Lx Comics”, referindo a sua passagem pelo jornal “Combate” e os seis anos em que esteve à frente da programação da Bedeteca de Lisboa. O livro fecha com uma desconhecida faceta de João Paulo Cotrim: as dezenas de colagens que realizou, provavelmente entre 2005 e 2010, confirmam-no também como um talentoso ilustrador.

Nascido em 1965, João Paulo Cotrim foi o autor da crónica semanal “Diário de um Editor” que durante vários meses foi editada na antiga secção “H” do HM. Foi guionista de filmes de animação, autor de novelas gráficas, ensaios e ainda poesia. Faleceu em 2021.

8 Mar 2023

Portugal | Estudantes de Macau sofrem com aumento das rendas

Well Lai, presidente da Associação dos Estudantes Luso-Macaenses, sediada em Lisboa, adianta que os estudantes da RAEM em Portugal também sofrem com o aumento das rendas, sobretudo em Lisboa. A estudante de Direito acredita que o Governo de Macau poderá aumentar o subsídio de alojamento actualmente atribuído

 

A enorme procura que se tem feito sentir no mercado do imobiliário em Portugal, mas sobretudo nas grandes cidades como Lisboa e Porto, tem gerado um grande aumento das rendas, com consequentes dificuldades de habitação para a maioria dos portugueses. Apesar de receberem um subsídio de alojamento mensal de cerca de 3.300 patacas, os estudantes da RAEM em Portugal também têm sofrido com estes aumentos.

Quem o diz é Well Lai, estudante de Direito na Universidade Católica Portuguesa e presidente da Associação dos Estudantes Luso-Macaenses (AELM).

“Recebemos um subsídio mensal de alojamento, mas este não cobre o valor total da renda. Cobre cerca de 75 por cento, sendo de quase 300 euros [3.300 patacas]. Sei que as rendas subiram bastante nos últimos tempos e há estudantes que vivem nas residências universitárias e as rendas também são muito caras. Antes recebíamos menos do subsídio, mas os membros do Governo perguntaram-nos se tínhamos dificuldades e alguns estudantes relataram o aumento das rendas, e houve um aumento mensal de 300 patacas. Se as rendas continuarem a subir é possível que venham a aumentar o subsídio”, disse ao HM.

Neste momento alugar um T2 no centro de Lisboa, por exemplo, pode chegar aos 1.500 euros [cerca de 13 mil patacas], e um estúdio não custa menos de 800 ou 900 euros [entre sete a oito mil patacas].

Criada em 2013 para estabelecer um elo de ligação entre os estudantes de Macau e os portugueses, a AELM dedica-se hoje a realizar diversas actividades de intercâmbio que visam unir mais os residentes a Portugal. Pelo meio, o contacto com entidades como a Delegação Económica e Comercial de Macau ou a Casa de Macau em Lisboa tem sido frequente.

Hoje, são cerca de 70 os membros da AELM, com 15 vogais no activo, conta Well Lai. Os maiores desafios de sair de Macau para estudar em Portugal, relata a presidente, continuam a ser a saída “da zona de conforto” e o contacto diário com a língua.

“Mesmo com alguns cursos de português em Macau, nem todos os estudantes os frequentam e há licenciaturas com uma linguagem mais técnica. A maior parte dos estudantes que estão em Portugal recebem bolsa do Governo de Macau e temos um curso de preparação, o chamado ano zero. Mas muitas vezes um ano não é suficiente, nos casos dos cursos de Direito ou Tradução.”

Mercado algo saturado

Well Lai pretende exercer advocacia quando voltar a Macau e confessa que, nessa área, há ainda vagas de trabalho, mas teme que seja mais difícil encontrar trabalho em relação aos anos pré-pandemia.

“Depois da pandemia as oportunidades de encontrar trabalho em Macau já não são tão boas como antes. Mas acho que na área do Direito ainda existem muitas pessoas interessadas em voltar para Macau. Em áreas como as línguas, os estudantes têm de tirar mais um curso de mestrado para serem mais competitivos face aos outros alunos, porque penso que é um mercado que já está um pouco saturado.”

A Grande Baía poderá dar “mais possibilidades de emprego”, mas é ainda grande o desconhecimento dos estudantes em relação ao projecto. “Penso que vai ser algo bom para tentarmos encontrar emprego. Mas no meu caso ainda considero que Macau é a minha casa. Posso trabalhar na Grande Baía, mas não pretendo viver lá”, adiantou a jovem estudante, que já está no quarto ano de Direito.

Durante a pandemia a associação foi fundamental nos contactos com as autoridades de Macau para que os estudantes regressassem temporariamente a casa. No caso de Well Lai, a estadia em Macau fez-se por um ano e meio, tendo continuado a ter aulas online. Relativamente a eventos para este ano, a AELM pretende organizar algumas conferências e mesas redondas. Na última sexta-feira, decorreu mais uma edição do evento “Bem-vind@ à Ásia”, que incluiu a “Feira de Macau” e uma conferência sobre “o exercício da profissão jurídica em Macau”.

8 Mar 2023

Habitação intermédia | Au Kam San critica ocultação de preços

O ex-deputado Au Kam San escreveu na rede social Facebook que a proposta de lei de habitação intermédia, actualmente a ser analisada na Assembleia Legislativa (AL), peca por não revelar os preços das casas, apresentando apenas os elementos de candidatura. Au Kam San afirma, assim, que o projecto da habitação intermédia está a ser feito da mesma forma que o da habitação económica, ou seja, sem a divulgação prévia dos valores das casas.

O ex-deputado lembrou que, depois de duas rondas de candidatura a casas económicas, em 2019 e 2021, a população continua a não saber o método de cálculo dos preços das habitações por parte do Governo, sendo essa a principal razão pela qual se registou uma redução do número de candidatos.

Au Kam San recordou ainda o período da Administração portuguesa, quando havia a ideia de uma habitação pública com preços acessíveis, enquanto na era RAEM a percepção que existe é de que se trata de casas que valem milhões, sobretudo desde a entrada em vigor da nova lei de habitação económica, com o custo por pé quadrado a atingir as cinco mil patacas.

8 Mar 2023