Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTurismo | Visitantes de Zhuhai sobem mais de 60% Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos mostram que o número de turistas continua a aumentar em Macau de uma forma geral, com destaque para o crescimento de 63 por cento em Abril, em termos anuais, dos visitantes de Zhuhai. As estatísticas revelam ainda um aumento do número de turistas internacionais O sector do turismo está bom e recomenda-se. É o que mostram os dados mais recentes divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) que indicam um aumento de visitantes de uma forma global, mas sobretudo dos que chegam de Zhuhai. Dados relativos a Abril deste ano, mostram que, das nove cidades que compõem o projecto da Grande Baía (à excepção de Macau e Hong Kong), o número de visitantes foi de 1.066.367, mais 34,5 por cento, face a Abril de 2024. Este aumento deve-se, segundo a DSEC, ao facto de “o número de entradas de visitantes provenientes de Zhuhai ter crescido 63 por cento”. Registaram-se ainda aumentos inferiores de 13,4 por cento para os visitantes oriundos de Hong Kong, no total de 659.844, e de 4,4 por cento para os turistas de Taiwan, com o total de 76.721, também em relação a Abril de 2024. Macau recebeu, em Abril, 2.126.212 do Interior da China, mais 22,4 por cento em termos anuais, destacando-se o facto de o número de entradas com visto individual ter sido de 1.064.231, mais 34,1 por cento. Em Abril de 2025, o número de entradas de visitantes em Macau foi de 3.092.791, mais 18,9 por cento, em termos anuais. Realça-se que o número de entradas de excursionistas (1.755.592) e o de turistas (1.337.199) aumentaram 30,1 por cento e 6,9 por cento, respectivamente, em termos anuais. Índia sobe, Malásia desce Os dados mostram ainda um aumento do número de turistas internacionais na ordem dos 10,4 por cento, tendo Macau recebido, neste segmento, 230.014 pessoas. Relativamente ao Sudeste Asiático, o número de entradas de visitantes das Filipinas (43.097), o da Tailândia (20.463) e o da Indonésia (19.656) ascenderam 20,2, 24,1 e 0,4 por cento, respectivamente, em termos anuais. Porém, no caso dos visitantes da Malásia (14.776) e Singapura (7.888) houve quebras de 17,6 e 8,7 por cento, respectivamente. Ainda no que diz respeito a turistas internacionais, os dados revelam o aumento de 50 por cento nas entradas de visitantes da Índia, que totalizaram 12.485, em relação a Abril de 2024. Quanto ao Nordeste Asiático, o número de entradas de visitantes do Japão (8.646) cresceu 4,1 por cento, em termos anuais, porém, o da República da Coreia (37.215) desceu 0,7 por cento. Em relação aos visitantes de longa distância, o número de entradas de visitantes dos Estados Unidos da América (13.429) teve um acréscimo homólogo de 4,3 por cento. Relativamente aos quatro primeiros meses deste ano, o número de entradas de visitantes em Macau foi de 12.955.456, mais 12,9 por cento face ao mesmo período de 2024. Realça-se que o número de entradas de excursionistas (7.578.976) e o de turistas (5.376.480) aumentaram 23,4 e 0,8 por cento, respectivamente.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteFilipe de Saavedra, docente: “Falta um centro interpretativo de Camões em Macau” Professor da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau e estudioso da presença de Camões na Ásia, Filipe de Saavedra entende que falta em Macau um centro interpretativo sobre a vida e obra do poeta. O académico falou ontem na Biblioteca Nacional, em Lisboa, sobre a correspondência escrita por Luís de Camões na Ásia Participou ontem na sessão “De Lisboa a Goa: O que contam as cartas de Camões”. Que percurso a Oriente surge retratado nestas cartas, e a quem foram dirigidas? As cartas que Camões escreveu da Ásia são na ordem das dezenas. Há nelas erudição, filosofia, e também muito humor, sarcasmo, e sátira de cunho humanista. Algumas foram escritas de Ternate, outras de Malaca, de Macau, provavelmente outras do Camboja, para destinatários na Índia e em Portugal. Com excepção das cartas de Goa, em que a identificação do local de escrita está geralmente presente, mapear as que foram escritas durante o restante périplo asiático dele seria tarefa complexa. Ficam somente dadas como escritas na Ásia. Pode dar exemplos de cartas escritas neste contexto? Menciono aqui duas das primeiras que ele enviou para o reino. A epístola cuja primeira linha é “O Poeta Simónides falando” foi redigida em Janeiro de 1554, quando Camões acaba de chegar a Goa, destinando-se ao seu pupilo, D. António de Noronha. É uma carta muito emotiva, dando-lhe conta da tempestade que assolara a Armada no Cabo da Boa Esperança, “vendo a morte d’ante em mim”. Camões sobreviveu a esta experiência limite a bordo da nau São Bento, aliás a única a chegar naquele ano a Goa, e que se perdeu na torna-viagem em frente às terras de Natal, morrendo neste segundo lance o capitão-mor Fernão de Álvares Cabral, e muitos dos que com ele viajavam. Além da notícia da sua salvação, o poeta estava igualmente ansioso por contar ao seu amigo a expedição de D. Afonso de Noronha ao Malabar, em que tomara parte no mês anterior. Em páginas irenistas, Camões condena veementemente o massacre das poucas e mal-armadas tropas nativas pela “armada grossa” do desproporcionado exército vice-reinal. No seu elogio radical da paz, o poeta chama “remédio verdadeiro” à morte precoce que vem curar as manias bélicas dos que querem viver “por cavaleiros”, pois “quem há de andar seguindo o fero Marte traz os olhos sempre em seu perigo”. Palavras cruelmente proféticas: por ironia do destino, no momento mesmo em que o poeta escrevia estas linhas e as enviava, aquele dilecto destinatário, por cuja vida ele tanto temia, jazia já morto, caído durante uma incursão militar em Ceuta a 29 de Abril de 1553, com apenas 17 anos de idade. E a segunda carta? Um ano depois, em Janeiro de 1555, escreveu a um amigo uma epístola diferente em tom e em propósito, cuja primeira linha é «Desejei tanto uma vossa», onde evocava o choque que sofreu com a morte de D. António, juntando um soneto que compusera à memória dele. Por aí se percebe que Camões tinha também grande intimidade com este correspondente, que conhecia D. António e a poesia de Camões, de Petrarca e de Boscán. Curiosamente, a carta inclui algumas linhas masculinas, que Camões diz serem obrigatórias em cartas privadas, contendo aquilo a que se pode chamar conversa de balneário, pelo que ser culto ou erudito não impedia que se fosse “bon vivant”. A presença de Camões em Macau está ainda envolta num certo mito. Quais as provas concretas da sua presença no território? É preciso separar as águas. A pousadia de Camões nos penedos de Patane, depois chamados “gruta”, está rodeada por uma bela aura lendária. Mas a presença de Camões em Macau, essa não está envolta em “mito” algum, é uma realidade factual e histórica, fundada numa amplíssima variedade de testemunhos, todos eles independentes entre si. Insistindo numa cronologia que constava nas fontes, mas que era flagrantemente errónea, procurou-se deliberadamente confundir as dúvidas que se pudessem ter sobre a permanência dele nos penedos, cabíveis embora injustificadas, com as falsas dúvidas sobre a estadia do poeta em Macau, estas risíveis e desprovidas do mínimo fundamento. O chiste correu célere, e pouco a pouco foi-se incrustando no imaginário colectivo, ao ponto de algumas pessoas menos informadas o tomarem por uma suposta “descoberta” recente. Contudo, o disparate foi lançado em 1907, e logo desmontado em 1911 por Jordão de Freitas. O juiz Eduardo Ribeiro pôs mais “pontos nos iis” a este respeito. A seu tempo publicarei a documentação completa sobre a presença de Camões em Macau, pondo fim definitivo ao mítico “mito”. Que vida fez Camões em Macau? Podemos dizer que esses dois anos foram os de maior plenitude profissional, económica e afectiva na vida dele. Se escreveu poesia? Constantemente, como o atesta a dimensão da obra. Uma parte significativa de “Os Lusíadas” foi aqui composta, embora o poema não tivesse sido nem iniciado, nem terminado em Macau. Não menos importante na vida dele foi ter sido em Macau que assumiu publicamente uma relação com uma jovem chinesa, mais exactamente da etnia tanka, de pescadores pobres. Não é de estranhar esta ligação assimétrica e ancilar com uma jovem modesta: só as famílias desfavorecidas não impediriam que as filhas se relacionassem com estrangeiros. Isso explica o facto de ela partir com Camões em 1565 para Goa, com estatuto de concubina. Mas a embarcação particular em que seguiam, pertença de mercadores chineses, sofreu um naufrágio junto ao Camboja, e Camões perdeu ali a “a cordeira gentil que eu tanto amava”. Foi só depois da sua morte que ele viria a crismá-la como Dinamene, uma ninfa grega das águas, para que ela vivesse para sempre no Oceano. Os chineses de Macau têm uma relação especial com Camões, tal como os portugueses e os macaenses. Como se verifica essa relação? Já existia no século XVIII em Macau o primeiro monumento em homenagem a Camões, algo que em Portugal só se começou a pensar erigir no século seguinte. Recebeu mesmo uma inscrição em chinês, e até um pavilhão chinês foi construído sobre o santuário dele. Diz o visconde de Juromenha que em 1845 o vice-rei de Cantão e Comissário Imperial Ki-ing ali venerava Camões como o “Confúcio português”. E com razão, pois Camões partilha muitos aspectos dos sábios da tradição chinesa: estabeleceu um diálogo com os mestres através das recriações de obras maiores, cultivou uma tradição milenar (ele glosa poetas dois mil anos anteriores à sua própria época), praticou a itinerância como fonte de “sagesse”, afirmou o primado da poesia, concebeu os rios como entes míticos, chegando mesmo a personificá-los, demonstrou acentuada tendência para moralizar, e epitomou o seu pensamento em sentenças magistrais. Que ligação teve Camões com Goa? Ao contrário de Macau, Goa suscitava em Camões sentimentos maioritariamente negativos. As primeiras impressões que dela teve, como uma terra sem lei em que só os videirinhos medravam, não poderiam ter sido piores, como se lê na carta inicial a que aludi: “longa terra, de todo o pobre honrado sepultura”. Na segunda carta prossegue: “Da terra vos sei dizer que é mãe de vilões ruins, e madrasta de homens honrados”. Estas impressões não melhorariam com o tempo, como o corroboram as sátiras que lhe acarretaram a expulsão para Ternate em 1556. Goa, onde ele chegou a ser o protegido dos vice-reis, para cair depois no maior desfavor sob D. Antão de Noronha, foi nos textos dele o espelho invertido do reino, a Babilónia corrupta e corruptora, alfurja da venalidade e da traição a Deus, ao rei e à lei. No que nem é original, pois há outras fontes que reforçam este retrato jeremíaco e apocalíptico da capital do império português do Oriente. Lembremos Bocage: “Das terras a pior tu és, ó Goa”. Isto dito, obviamente que também terá vivido ali horas mais doces, sobretudo sob o vice-reinado dos seus protectores, e no convívio com alguns companheiros das lides poéticas que ali residiam então, e que ele evoca no chamado “Banquete de Trovas”. A um desses espíritos cultos, o poeta Luís Franco, deixou até cópia das suas obras quase completas, incluindo o «Auto de Filodemo» que ali compusera, para que elas se salvassem se outra adversidade sobreviesse na tornada ao reino. Considera que Portugal deveria dar mais atenção aos seus escritos, dinamizando mais a sua obra? De que forma? Em Lisboa é necessário construir um grande museu literário dedicado a Camões e às suas criações. O lugar ideal será o Convento de São Bento de Xabregas, onde o seu amigo Dom António teve sepultura no panteão dos Linhares da capela-mor. Também em Goa a estátua de Camões partiu para um exílio no cruelmente denominado “Museu Arqueológico», que não é o local adequado para encerrar a poesia ou a imagem de um Poeta. Sendo o maior património intangível de Macau, Camões tem sido pouco aproveitado nesta região. Falta-nos um centro interpretativo da sua obra, para o qual já houve em tempos propostas, uma espécie de minimuseu, com exposição permanente, biblioteca fundamental e recursos multimédia. E em Macau? Camões é estudado ao nível do ensino superior? Dois alunos da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau vão agora defender as suas teses de mestrado. A primeira é um estudo técnico aprofundado da tradução de Zhang Weimin das odes de Camões. A segunda percorre a sobrevivência literária da figura de Dinamene na ficção portuguesa contemporânea, e são ambas excelentes, trazendo novidade.
Andreia Sofia Silva EventosAFA | Mostra “Chinoiserie Surrealista” chega a Antuérpia Estreia a 7 de Junho, na cidade de Antuérpia, uma mostra da AFA – Art for All Society. Trata-se de um “projecto de arte e performance transcultural” intitulado “Surrealistic Chinoiserie: Golden City of Seres”, com curadoria de Alice Kok. Durante dois dias, apresenta-se um trabalho do artista local Leong Chi Mou complementado com uma performance musical com coreografia A AFA – Art for All Society, prepara-se para exportar um projecto artístico local com curadoria de Alice Kok, também ela artista. Trata-se do “projecto de arte e performance transcultural” intitulado “Surrealistic Chinoiserie: Golden City of Seres – A Cultural and Artistic Exchange Exhibition and Performance between Macao and Antwerp” [Cidade Dourada de Seres – Uma Exposição e Performance de Intercâmbio Cultural e Artístico entre Macau e Antuérpia], patente nos dias 7 e 8 de Junho na Venusstraat 19, Antuérpia. O público belga poderá, assim, ver uma iniciativa que combina “arte visual, dança, música e figurinos”, criando-se com todos esses elementos “uma viagem imersiva ao desejo, à tecnologia e ao simbolismo cultural”, descreve uma nota da AFA sobre o projecto. Além disso, o título da mostra, “Golden City of Seres”, remete para o antigo termo greco-romano “Sērēs”, utilizado para as regiões produtoras de seda do Oriente, enquanto “Golden City” evoca a “transformação de Macau do porto histórico para a moderna Cotai Strip”, é referido. Segundo a AFA, todo este trabalho procura “criar novos vocabulários artísticos e espaços de reflexão, fazendo a ponte entre o surrealismo inspirado em Magritte e a identidade cultural de Macau”. Depois desta estreia internacional em Antuérpia, a mostra da AFA regressa a Macau em Dezembro, ficando patente no Parisian Macao, “simbolizando um regresso da Europa para a Ásia e dando continuidade ao diálogo cultural além-fronteiras”, descreve a mesma nota. Música e arte Um dos artistas locais que participa nesta iniciativa é o Leong Chi Mou, que explora a ideia de “seda de novo tipo” através da criação de trabalhos em malha de latão e aço pintados com acrílico. Apresentam-se, assim, “peças-chave” como “Serica – Diamond Hill” e “Serica – Auspicious Drone”, que “justapõem motivos paisagísticos tradicionais com drones e imagens de vigilância, criando uma paisagem que é simultaneamente familiar e estranha”. Além disso, a performance apresentada em Antuérpia conta com a co-direcção e coreografia de Jay Zhang e Tina Kan, “integrando formas inspiradas em Dunhuang com ballet contemporâneo para ecoar a reconstrução cultural no trabalho de Leong”. A música desta performance foi composta por Faye Choi, sendo interpretada com flauta por Iris Lo. Trata-se de uma composição que “mistura tons etéreos orientais com texturas electrónicas ocidentais para completar uma experiência sensorial totalmente imersiva”. Por sua vez, “a estilista e artista de pintura corporal Mandy Cheuk concebeu toucados futuristas inspirados em estruturas cristalinas e formas ciborgues, imaginando a interação entre corpo e tecnologia”, aponta a AFA. O projecto conta também com a orientação do director artístico belga Dirk Decloedt, tendo o apoio de produção de Florence Fong, em Antuérpia. A iniciativa contou também com apoios do Instituto Cultural de Macau, entre outras entidades.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaChips | Pequim considera intimidação recomendações dos EUA para exportação A China prometeu ontem “medidas firmes” em resposta às novas recomendações do Governo dos Estados Unidos sobre a exportação de semicondutores electrónicos avançados, conhecidos como ‘chips’, denunciando uma tentativa de intimidação por parte de Washington. “As medidas dos Estados Unidos são de unilateralismo típico, combinando intimidação e proteccionismo, e prejudicam seriamente a estabilidade das cadeias de abastecimento globais e da indústria de semicondutores”, afirmou um porta-voz do Ministério do Comércio da China em comunicado. Na semana passada, a Administração do Presidente norte-americano Donald Trump revogou restrições à exportação de semicondutores utilizados no desenvolvimento de inteligência artificial (IA), que penalizavam particularmente a China. Em contrapartida, porém, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos substituiu as restrições por recomendações, que alertam “o público para as potenciais consequências de permitir que os ‘chips’ norte-americanos sejam utilizados” para desenvolver “modelos de IA chineses”. O Departamento do Comércio explicou que a política visa partilhar a tecnologia de IA norte-americana “com países estrangeiros de confiança em todo o mundo, evitando que caia nas mãos dos adversários [dos EUA]”. Estas orientações não são, porém, vinculativas, ao contrário das restrições propostas pela anterior Administração do democrata Joe Biden, que Trump agora revogou. Não obstante, Pequim condenou veementemente a medida, acusando Washington de “abusar dos controlos de exportação para conter e reprimir a China”. “Qualquer organização ou indivíduo que implemente ou auxilie na implementação destas medidas dos EUA pode estar a violar” as regulamentações chinesas, advertiu o Ministério do Comércio chinês.
Andreia Sofia Silva China / Ásia“Golden Dome” | China vê plano dos EUA como uma ameaça à estabilidade global A China insistiu ontem que o plano do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para construir um enorme sistema de defesa antimísseis dos EUA, apelidado de “Golden Dome”, representa uma ameaça à estabilidade global. “Esse plano prejudica o equilíbrio estratégico e a estabilidade global. A China expressa sérias preocupações sobre isso. Instamos os Estados Unidos a abandonarem o desenvolvimento e a implantação de um sistema global de defesa antimísseis o mais rápido possível”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning, em conferência de imprensa. Para a China, o projecto “corre o risco de acelerar a militarização do espaço, bem como alimentar a corrida ao armamento”. O Presidente norte americano anunciou na terça-feira o conceito que pretende para o escudo antimíssil, conhecido por “Golden Dome” [Cúpula Dourada]. “Tenho o prazer de anunciar que seleccionamos oficialmente uma arquitectura para este sistema de última geração”, disse Donald Trump aos jornalistas, na Sala Oval da Casa Branca, acrescentando que o Canadá se juntará a esta iniciativa. “Uma vez concluído, o ‘Golden Dome’ será capaz de interceptar mísseis mesmo que sejam lançados do outro lado da Terra e mesmo que sejam lançados do espaço”, acrescentou. O sistema estará operacional até o final do mandato e custará um total de “aproximadamente 175 mil milhões de dólares”, disse. De acordo com uma agência do Congresso dos EUA sem afiliação partidária, o custo estimado de um sistema interceptor espacial para combater um número limitado de mísseis balísticos intercontinentais está entre 161 mil milhões e 542 mil milhões de dólares ao longo de 20 anos.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaUcrânia | Contestadas sanções da UE à Rússia As autoridades chinesas rejeitaram ontem as novas sanções impostas pela União Europeia à Rússia no âmbito da guerra com a Ucrânia, alegando que afectam empresas chinesas e que não têm como base o direito internacional. Pequim “opõe-se firmemente a tais sanções unilaterais, porque não têm qualquer base no direito internacional e não contam com a aprovação do Conselho de Segurança da ONU”, disse hoje a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Mao Ning, em conferência de imprensa. “Expressamos a nossa firme insatisfação e a nossa veemente rejeição às sanções infundadas impostas pela União Europeia [UE] contra as empresas chinesas”, adiantou a mesma fonte, citada pelo jornal estatal chinês Global Times. A porta-voz exortou ainda a UE a “parar de ter critérios diferentes em relação à sua cooperação económica e comercial com a Rússia” salientando que muitos países, incluindo membros da UE e os Estados Unidos, continuam a manter relações comerciais com Moscovo. As empresas chinesas afectadas pelas sanções da UE são consideradas cúmplices da Rússia, já que Moscovo as usa para contornar as sanções e medidas de restrição. “As relações comerciais normais entre as empresas chinesas e russas têm de continuar e não podem ser interrompidas por interferências ou restrições”, alegou Mao Ning, prometendo que o Governo chinês tomará as medidas apropriadas para “proteger os seus direitos e interesses legítimos”. Mao aproveitou a oportunidade para sublinhar que a China nunca forneceu armas letais às partes e sublinhou que “controla rigorosamente a exportação de produtos que possam ter dupla utilização”. Novo pacote A UE adoptou na terça-feira o 17.º pacote de sanções contra a Rússia e a chamada “frota fantasma”, além de medidas restritivas dirigidas a entidades e indivíduos russos e estrangeiros que apoiam o esforço de guerra de Moscovo. Segundo a responsável pela política externa do bloco europeu, Kaja Kallas, estão ainda em preparação mais sanções contra a Rússia caso Moscovo continue a guerra na Ucrânia. O novo pacote inclui, segundo o Conselho Europeu, medidas económicas e individuais que “cortam o acesso da Rússia à tecnologia militar essencial e restringem as receitas energéticas russas que alimentam a sua guerra de agressão contra a Ucrânia”. Nesse sentido, a UE impôs sanções individuais (congelamento de ambiente e proibições de disponibilidade de fundos) visando o ambiente empresarial que permite a operação da “frota fantasma”, como companhias de navegação dos Emirados Árabes Unidos, Turquia e Hong Kong, além de uma importante seguradora. Entre as medidas adotadas, contam-se também restrições a 45 empresas e indivíduos russos que fornecem drones, armas, munições, equipamento militar, componentes essenciais e apoio logístico ao Exército e facilitadores industriais, como entidades russas e chinesas que fornecem máquinas e ferramentas aos setores militar e industrial russos. Três outras entidades chinesas — incluindo empresas estatais — foram colocadas na “lista negra”, bem como uma empresa bielorrussa e outra israelita que fornecem componentes essenciais para os militares russos, incluindo para a produção de drones.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEmprego | Especialista aconselha jovens a aceitar o que encontram Um especialista em recursos humanos considera que os jovens licenciados devem baixar as expectativas e aceitar os empregos que encontrarem. Face ao actual mercado de trabalho, a prioridade deve ser garantir um salário e pensar em oportunidades de carreira mais tarde Um responsável de uma empresa de recursos humanos, que não quis ser identificado, defendeu ao jornal Ou Mun que o mercado laboral de Macau não está numa fase acessível para residentes e que os jovens licenciados devem aceitar o primeiro trabalho que encontrem, ainda que seja pouco qualificado ou nada tenha a ver com a sua formação de origem. O responsável disse que existem poucas vagas de emprego no mercado e que a base salarial inicial é baixa, pelo que dificilmente os recém-licenciados locais irão encontrar um emprego à sua medida. O responsável disse que, por norma, os licenciados procuram um emprego com um salário base de 11 a 12 mil patacas, mas nesta fase o mercado “não é favorável aos residentes”, pois o sector hoteleiro, por exemplo, disponibiliza poucas vagas e os trabalhadores não-residentes (TNR) ocupam a maioria dos cargos porque recebem salários mais baixos. Desta forma, “as possibilidades de contratação são raras para quem tem uma licenciatura em gestão hoteleira”, disse a mesma fonte. O especialista exemplificou o panorama laboral também com uma empresa que organiza eventos, no sector de convenções e exposições, onde o salário inicial é de apenas sete mil patacas, o que faz com que “só os TNR tenham vontade de assumir a vaga”. “Os candidatos a emprego sem experiência laboral preferem trabalhar em escritórios, mas estes empregos são agora ocupados por TNR, sobretudo em centros de explicações e empresas de construção, pelo que os residentes têm poucas possibilidades de serem recrutados”. Cortes precisam-se O especialista aponta para uma solução frequentemente repetida: a diminuição de não-residentes. “Se o número de TNR não for cortado de forma significativa, a dificuldade de procura de emprego por parte dos residentes vai continuar. Os salários iniciais são mais baixos e os recém-licenciados têm de estar psicologicamente preparados para isso”, aponta. Assim, o responsável sugere que os jovens “procurem um trabalho que não corresponda necessariamente à área de licenciatura e não tenham esperanças em ter um salário alto, aproveitando a vaga ao invés de procurar o emprego ideal”. Para aqueles que desejem mudar de emprego, o responsável aconselha a observação do mercado, pois “o salário do potencial novo emprego pode não ser o ideal, mas nesta fase o ambiente de negócios não é muito bom”, concluiu. Questionado pelo Ou Mun sobre o panorama laboral no segundo semestre deste ano, o representante da empresa de recursos humanos disse que tudo vai depender do posicionamento do sector a retalho, pois há marcas que estão a planear uma expansão em Macau e, aí, podem surgir mais vagas, podendo ser uma possibilidade de emprego para recém-licenciados. Porém, o mesmo responsável salientou que o ambiente económico ainda está fraco, mas que pode melhorar no segundo semestre deste ano, estimando que a taxa de desemprego pode diminuir 0,1 por cento.
Andreia Sofia Silva EventosCinemateca Paixão | Os últimos dias do “Panorama do Cinema de Macau” Termina esta semana mais uma edição do “Panorama do Cinema de Macau”, composta por uma selecção de curtas e longas-metragens produzidas no território que ganharam prémios atribuídos pelo Instituto Cultural. O público pode ainda ver produções como “Menina com Amém”, de Teng Kun Hou; ou “Núpcias em Voo”, uma produção em tagalo de Johson Chan Chon Sin O cinema de Macau está bom e recomenda-se. Este poderia ser o mote de mais uma edição da iniciativa “Panorama do Cinema de Macau”, que há vários anos premeia o que de melhor se faz no cinema local, destacando novos realizadores que se estreiam no mundo das histórias e da sua rodagem. A edição deste ano, que termina esta semana, traz ainda a possibilidade de o público desfrutar das últimas exibições, que decorrem esta quinta e sexta-feira na Cinemateca Paixão. Nestes dias exibem-se 11 filmes que concorreram à secção “Competição de Macau” do “Panorama do Cinema de Macau”, que visa apoiar financeiramente e destacar as melhores produções com o “Grande Prémio do Júri”, “Melhor Argumento”, “Melhor Interpretação” e “Melhor Realização”. Assim, esta quinta-feira, a partir das 19h30, exibe-se “Menina com Amém”, de Teng Kun Hou, um filme do ano passado que conta a história de Kimmy, a “menina que só queria dormir com a sua mamã, e por isso se lembrou de uma história que a mãe lhe tinha contado”. Segundo a sinopse do filme, essa história remete para a presença da religião católica em Macau, mas também para as crenças chinesas, pois caso a menina visitasse “todas as igrejas e templos de Macau”, os seus desejos poderiam tornar-se realidade. Depois da sessão, o realizador estará presente para uma conversa sobre o filme. Teng Kun Hou fez um mestrado no grupo de realização cinematográfica do Departamento de Cinema da Universidade Nacional de Artes de Taipé, tendo sido seleccionado para a Academia de Cinema dos Golden Horse em 2021. A sua obra de realização, “One to Ten”, foi distinguida com o Prémio de Melhor Longa-Metragem na categoria Estudantil dos Golden Harvest Awards. No mesmo dia, apresenta-se a curta-metragem “Núpcias em Voo”, filme em tagalo de Johnson Chan Chon Sin que revela a história de um “homem de dança hipnotizante que, um dia, viu os seus olhos serem consumidos por flashes erráticos de luz que se agarravam de forma impiedosa à sua visão”. “Eles continuaram a assombrar o seu olhar, mesmo enquanto o seu corpo se movia num ritmo gracioso. Na sua busca por um remédio médico, consumiu diligentemente abacaxi conforme prescrito, na esperança de expulsar esses visitantes indesejados da sua visão. No entanto, com o passar do tempo, permaneceu preso numa deriva nebulosa e sem rumo, os seus movimentos agora pesados por um sentimento de inutilidade”, lê-se na sinopse. Destaque também para a exibição, na quinta-feira, de “Onda de Retorno”, uma curta-metragem de Ieong Chi Wai, sobre o jovem Jinshan que trabalha na peixaria dos pais e que, um dia, “avistou ao longe uma estranha figura com cabeça de peixe”, a partir do qual “foi forçado a enfrentar os medos ocultos do seu coração e a despertar as memórias adormecidas da infância”. Há ainda espaço para a exibição das curtas “Keep Looking?”, de Anna Ieong e “A Audição” de Ao Ieong Weng Fong, um trabalho em japonês em torno do actor Yuta que foi rejeitado em inúmeros castings. Uma espécie de fumo Sexta-feira, o último dia do “Panorama”, começa também às 19h30 com a exibição da curta-metragem “Fumo Sagrado”, de Ho Cheok Pan, formado em realização pela Universidade de Jinan em 2021. “A jornada de mil cigarros começa com um único trago?” Uma perseguição tóxica tem início quando o fumador compulsivo Sr. Chen é apanhado em flagrante pelo segurança, seu irmão Keung. O irmão Keung empurra o Sr. Chen para um beco sem saída, resultando em uma colisão brutal. Mas, no final, tudo não passa de uma encenação por trás desse jogo de gato e rato”, descreve-se na sinopse. Segue-se “Mão Mão”, de Jarvis Xin, com apenas 23 minutos de duração. O filme retrata a história de Jun, de sete anos, que foi enviado para estudar com um professor de piano de renome. “O professor convenceu o pai a planear uma exposição de Jun. A exposição aproximou-se, uma grande faixa ‘Concerto a solo de Jun’ foi pendurada em casa, e os familiares e amigos vieram. O colega do pai até trouxe uma câmara de vídeo profissional”, destaca-se ainda na sinopse. “Oceano de Mim”, com oito minutos de duração, da realizadora Vitty Ho Wai Tong. Licenciada pelo Departamento de Radiodifusão, Televisão e Cinema da Universidade Nacional Chengchi (NCCU), Vitty obteve posteriormente o grau de mestre pelo Instituto Superior de Vídeo Criativo e Indústrias de Media Digitais da Universidade Nacional de Artes de Taiwan em Taipé (NTUA). Trabalha como profissional independente nas áreas do design visual para teatro e produção audiovisual, tendo igualmente exercido funções como orientadora pedagógica em diversas escolas secundárias em Macau. Em 2021, fundou a POV Production, uma entidade vocacionada para a exploração das potencialidades das artes visuais e das performances ao vivo. Entre as suas curtas-metragens destacam-se “General Parenting Test”, “Fantastic Eggs”, “Where to Find Them”, “One Last Sunrise” e “Our Store”. “Ondas debaixo do Mar”, de Chan Si Ieong, é falado em mandarim e no dialecto Hokkien, abordando a história da personagem Chen Xi, uma jovem de 18 anos que vai estudar para o estrangeiro para continuar os estudos, mas que antes disso regressa à sua terra natal para se despedir da aldeia piscatória onde cresceu e que marcou a sua infância. Com apenas nove minutos, “Uma Tarde”, de Chong Man Kit, foca-se na definição dos limites da relação da personagem principal com a sua meia-irmã. Natural de Macau, Chong Man Kit nasceu nos anos 90 e é licenciado pelo Departamento de Literaturas Sinófonas da Universidade Nacional Dong Hwa, frequentando actualmente o mestrado em Produção no Departamento de Rádio, Televisão e Cinema da Universidade Shih Hsin. O cartaz encerra, também esta sexta-feira, com “Chuc Chuc Chuc”, de Chao Koi Wang, mais uma curta-metragem de sete minutos. Mentes e sonhos O “Panorama do Cinema de Macau” é, segundo o IC, uma “plataforma para que os cineastas de Macau possam obter visibilidade e promover o diálogo através da arte cinematográfica”, contando com secções como “Realizadores Locais e os Seus Clássicos Inspiradores” e “Panorama das Escolas de Cinema”. Descreve-se ainda que “os cineastas de Macau, com os seus diversos estilos e origens, utilizam consistentemente o cinema para expressarem as suas perspectivas, retratarem Macau e construírem sonhos”.
Andreia Sofia Silva PolíticaXia Baolong | Deputados comentam visita e formulam desejos A recente visita de Xia Baolong, director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, entre 8 e 13 deste mês, foi comentada pelos deputados na sessão parlamentar de ontem. Os legisladores exigiram mudanças no panorama económico, entre eles Leong Sun Iok. “O director Xia atribuiu grande importância ao progresso da diversificação adequada da economia de Macau. Com mudanças económicas e influências externas, o sector do jogo enfrenta certos desafios e há que impulsionar a referida diversificação económica. Mas deparamo-nos, na prática, com muitas dificuldades”, disse, destacando “os recursos limitados” e estruturas insuficientes tendo em conta “o desenvolvimento da indústria”. Por sua vez, o deputado Lei Chan U lembrou que Xia Baolong “afirmou ser necessário unir esforços para acelerar o desenvolvimento da diversificação adequada da economia, promover a construção da Zona de Cooperação Aprofundada e tratar o desenvolvimento de Hengqin como um assunto próprio de Macau”. Lei Chan U espera que à medida “que se aumenta a resiliência económica de Macau, poderão ser proporcionadas aos residentes mais oportunidades de emprego com perspectivas de desenvolvimento, promovendo-se um emprego de alta qualidade para a população”. Já Wu Chou Kit defendeu um maior “desenvolvimento coordenado” entre Macau e Hengqin sobretudo ao nível da “articulação das regras do regime de exploração comercial” e também no caso da construção de obras e infra-estruturas.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaSaúde mental | Ron Lam pede fim da “política de avestruz” Ron Lam acusa o Governo de seguir uma “política de avestruz” e de pouco ou nada fazer para travar a tendência crescente de suicídios dos últimos anos. O deputado defendeu ontem na Assembleia Legislativa mais transparência na divulgação de dados e medidas de prevenção na área da saúde mental No período de intervenções antes da ordem do dia da sessão plenária de ontem da Assembleia Legislativa (AL), Ron Lam acusou o Governo de seguir uma “política de avestruz” em relação à saúde mental, fazendo referência a um tipo de política que esconde os verdadeiros problemas. “Solicito ao Governo que abandone a actual política de avestruz e crie, proactivamente, mecanismos específicos e objectivos, para divulgar à comunicação social as informações essenciais sobre os casos de suicídio”, defendeu o deputado. Na mesma interpelação, o deputado sugeriu que o Executivo “continue a fornecer dados brutos em publicações e estudos estatísticos, para que a sociedade e os sectores em causa tomem conhecimento e prestem atenção à saúde mental e ao suicídio”, defendendo ser necessário “definir objectivos claros para reduzir o número de suicídios”. No tocante à resposta governamental, o deputado apontou que “os serviços responsáveis pela sua execução, através da colaboração interdepartamental e do reforço do investimento, devem assegurar que as pessoas tenham acesso a apoio suficiente, por forma a travar, efectivamente, o agravamento do suicídio”. O deputado não deixou de fazer críticas concretas à actual actuação, defendendo que “as informações divulgadas actualmente pelo Governo são limitadas”. “Por exemplo, os números das mortes por suicídio divulgados pelos Serviços de Saúde (SS) são trimestrais e através de notas de imprensa, com dados classificados segundo o sexo, residência de Macau e idades. Como esses dados não são completos, não é possível efectuar uma análise e comparação, e a sociedade também não consegue discutir mais aprofundada e racionalmente este tema”, frisou. As críticas vão também para a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), pois “nunca responde às questões relacionadas com o suicídio de um aluno, ou seja, simplesmente não as divulga”. Além disso, “segundo algumas pessoas da área da psicologia, nos anteriores relatórios dos SS sobre o ‘Inquérito sobre o Comportamento da Saúde dos Alunos do Ensino Secundário de Macau’, foram incluídos os dados relativos a actos de automutilação dos alunos do ensino secundário, mas no recente relatório esses dados foram eliminados”, indicou o legislador. A culpa é da economia Durante o debate dedicado à votação, na especialidade, da alteração ao quadro geral dos docentes de escolas privadas, Ron Lam apresentou os mais recentes dados estatísticos que demonstram a tendência crescente de mortes por suicídio nos últimos anos, destacando que “segundo algumas vozes, se a economia e a sociedade continuarem numa sociedade adversa, é provável que o problema do suicídio passe a ser mais grave”. Na interpelação oral, são citados dados já avançados por Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, quanto à ocorrência de 91 mortes por suicídio no ano passado, “com a taxa a atingir 13,6 por cada 100 mil pessoas, um valor significativamente superior à média internacional de cerca de 9 a 10 pessoas”. Ainda segundo o deputado, “a taxa de suicídio em Macau aumentou 44 por cento no espaço de 10 anos, em comparação com os 9,4 casos registados em 2015”, sendo que “a situação dos jovens também merece atenção”. Em 2024, “registaram-se 4 casos de suicídio entre os 5 e os 14 anos, mais do que um caso pela primeira vez nos últimos 10 anos, e 9 casos entre os 15 e os 24 anos, sendo este o maior número verificado nos últimos 10 anos”. “Isto demonstra que é premente dar atenção e lidar com o problema do suicídio em Macau”, rematou.
Andreia Sofia Silva PolíticaLei das escolas privadas aprovada com unanimidade e críticas Foram ontem aprovadas por unanimidade, na especialidade, as alterações ao quadro geral do pessoal docente das escolas particulares do ensino não superior, uma lei de 2012, para passar a abranger as escolas criadas na Zona de Cooperação de Macau e Guangdong em Hengqin e legislar regalias e direitos dos docentes e funcionários dessas escolas. Porém, alguns deputados deixaram críticas ao novo regime, nomeadamente Ron Lam, que falou de uma consulta pública pouco abrangente. “Votei a favor, mas peço que no futuro a nossa produção legislativa seja feita de melhor forma. A proposta não teve uma consulta alargada, deveria ter sido feita uma consulta pública mais ampla”, indicou. O deputado demonstrou ter dúvidas quanto à aplicação no Interior da China de uma lei aprovada na RAEM. “Está nas mãos do Governo assumir a função fiscalizadora para que todas as regalias e benefícios do pessoal docente sejam asseguradas”, defendeu. Em causa está o facto de poderem ser usadas duas legislações em matéria laboral na hora de recrutar funcionários para as escolas. “Para a criação de uma escola na Zona de Cooperação há vários trabalhos que têm de ser feitos pela entidade tutelar, e um deles é assinar, segundo a lei de relações laborais [de Macau], o contrato, a não ser que o trabalhador de Macau opte pelo regime do Interior da China. Isso está claro, há esse direito de escolha”, apontou a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam. Segundo a versão da proposta de lei apresentada no passado dia 8 de Maio, a nova legislação aplica-se a docentes com residência da RAEM “que tenham celebrado contrato de trabalho com a entidade tutelar” nos termos da lei das relações de trabalho da RAEM. Para os docentes não-residentes, aplica-se a legislação do interior da China. As escolas, para se estabelecerem em Hengqin, devem ter ligação prévia a Macau. Preferência residencial Os deputados apelaram ainda à garantia de vagas de trabalho para residentes de Macau. “Esta proposta de lei tem de dar prioridade aos residentes, pois em Macau há professores que podem querer dar aulas ali. Espero que não se trate apenas de uma preferência [na lei, mas algo definido]. Espero que haja mais espaço de desenvolvimento para os professores”, disse Ron Lam U Tou. Também a deputada Ella Lei pediu “mais postos de trabalho”, lembrando que, com escolas na Zona de Cooperação, “os residentes têm mais escolhas”. “O Governo tem de criar mais postos de trabalho, pois muitos terminam a licenciatura na área da docência e não conseguem encontrar trabalho. É uma boa forma para que os residentes possam trabalhar nas escolas da Zona de Cooperação”, acrescentou. A secretária frisou que “haverá uma diversidade de trabalhos, com docentes de Macau, do Interior da China e até do exterior, para a criação destas escolas. A nossa postura é que os residentes tenham preferência em termos de contratação”, rematou. Os deputados Loi Choi In e Zheng Anting assinaram juntos uma declaração de voto, pedindo ao Governo para “encurtar estas diferenças [entre escolas públicas e privadas] para fortalecer o sector da educação, pois vai ter de investir mais e aumentar os salários”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEstudo | Alunos de línguas estrangeiras usam cada vez mais a IA Um estudo de académicos da Universidade Politécnica de Macau conclui que 80 por cento de uma amostra de 25 alunos de português “usa regularmente” a inteligência artificial como ferramenta de estudo. Os autores do estudo alertam para a necessidade de conjugação com métodos tradicionais de ensino e de formação de docentes Até que ponto a inteligência artificial (IA) está a ser usada por alunos chineses para aprender idiomas estrangeiros, e de que forma é feita esse uso? Um estudo desenvolvido pelos académicos e docentes da Universidade Politécnica de Macau (UPM) Vanessa Amaro e Manuel Pires conclui que o uso é crescente. O trabalho, intitulado “Artificial e Natural: Interligências e Equilíbrios em PLE”, publicado na revista científica “Millenium – Journal of Education, Technologies and Health”, conclui que, de uma amostra de 25 estudantes da licenciatura em português da UPM, “80 por cento utiliza regularmente à IA. Os restantes recorrem a estas ferramentas de forma pontual, como para preparar apresentações ou na pesquisa de informações culturais sobre países lusófonos”. Os estudantes em causa frequentam o terceiro e quarto ano do curso e foram escolhidos por possuírem “um nível mais avançado de domínio da língua portuguesa e maior experiência com diferentes abordagens pedagógicas, incluindo o uso de tecnologias no ensino”. Além disso, “a maioria dos participantes tinha idades compreendidas entre 21 e 24 anos, oriunda de diversas províncias do Interior da China (cerca de 70 por cento) e de Macau”, sendo que “possuíam experiência prévia no uso de ferramentas de IA para a aprendizagem linguística”. Em termos gerais, o trabalho destaca que a IA é cada vez mais importante “na aprendizagem de PLE [português como língua estrangeira]”, e que “a análise das interacções dos estudantes com a IA para a aprendizagem de línguas estrangeira é fundamental para garantir que as soluções tecnológicas sejam trabalhadas com base nas suas necessidades e expectativas”. Refere-se ainda que os 25 alunos entrevistados assumem “uma atitude positiva em relação à integração da IA na aprendizagem do português, reconhecendo tanto as suas vantagens significativas quanto as suas limitações”. “Um tema recorrente foi a necessidade de manter o equilíbrio entre a utilização da IA e a interacção humana, destacando-se a vontade de um ensino de línguas aberto às novas tecnologias, mas sem comprometer os benefícios das relações interpessoais”, apontam os autores. Dar à língua Se 80 por cento dos alunos recorre frequentemente à IA, quais as finalidades desse uso? O estudo destaca que a IA consegue dar apoio “ao treino da pronúncia, especialmente no contexto da aprendizagem autónoma”. “Muitos destacaram a neutralidade das vozes geradas, que evita influências regionais, como um recurso eficaz para desenvolver hábitos correctos na produção oral.” Um estudante referiu aos autores do estudo que “a voz da IA é ajustada, não tem sotaque de qualquer região e, por isso, é bom para os alunos treinarem a compreensão oral com diversos tipos de textos para além dos materiais dados pelo professor na aula”. Além do treino da pronúncia, as ferramentas de IA são também bastante utilizadas para a pesquisa de informações sobre os países de língua portuguesa. “Os estudantes reconheceram que estas ferramentas poupam tempo e permitem um acesso mais directo a conteúdos relevantes”, refere o trabalho, que destaca a resposta de um aluno: “ajuda-me a buscar informações sobre as tendências actuais no Brasil ou em Portugal, porque os livros e informações na internet estão dispersas e requerem várias buscas e muito mais tempo dispensado.” Porém, é salientado, com base na experiência dos dois docentes, “que o uso excessivo de ferramentas de IA tem contribuído para a redução significativa no desenvolvimento de competências críticas entre os estudantes”. “Cada vez mais trabalhos, tanto escritos como orais, carecem de profundidade analítica, apresentando estruturas lexicais e gramaticais avançadas que não correspondem ao nível real de proficiência dos alunos. Este desfasamento sugere uma relação superficial com os materiais de estudo, onde o esforço reflexivo e o pensamento autónomo são frequentemente substituídos pelas respostas geradas automaticamente pela IA”, conclui-se. Complementaridade precisa-se Segundo Vanessa Amaro e Manuel Pires, o estudo permite concluir que “a integração da IA no ensino de línguas estrangeiras é uma tendência irreversível, mas que requer uma abordagem pedagógica estruturada e cuidadosa”. “A maioria dos estudantes [entrevistados] reconheceu a importância de adaptar o ensino de línguas à realidade tecnológica actual, salientando a necessidade de incorporar a IA de forma planeada nos currículos. O equilíbrio entre os métodos tradicionais e o uso das novas tecnologias é fundamental para garantir uma aprendizagem eficaz”, é concluído. Um dos alunos defendeu mesmo ser “necessário haver um equilíbrio entre a IA e os métodos tradicionais”, pois “a aprendizagem de línguas pode ser melhor e mais interessante através da IA, mas falta-lhe a capacidade de criar ideias e imaginação, além dos aspectos interculturais da aprendizagem de línguas”. Assim, para os alunos inquiridos, “a presença do professor, enquanto mediador do conhecimento, é vista como essencial, sobretudo no contexto específico de Macau, onde não ocorre uma imersão linguística durante o processo de aprendizagem do português”. Por interacção humana entende-se, além da “transmissão de conteúdos linguísticos, a capacidade de interpretar aspectos culturais, sociais e emocionais, algo que a IA, apesar da sua eficiência técnica, não consegue replicar”. Vanessa Amaro e Manuel Pires destacam ainda o facto de “os desafios éticos e pedagógicos da IA no ensino serem complexos e multifacetados”. Isto porque “a privacidade dos dados é uma preocupação central, pois muitas ferramentas de IA coleccionam informações pessoais que poderão ser utilizadas para fins que os usuários desconhecem”. Além disso, “o risco de viés algorítmico pode ser uma questão pertinente, pois se os algoritmos produzirem resultados que são sistematicamente incorrectos, tendenciosos ou injustos, tal pode acentuar dificuldades e desigualdades na aprendizagem e requerer redobrados cuidados na sua utilização e regulação”, é indicado. Os autores consideram ainda que “a dependência excessiva da IA pode comprometer a interação humana, essencial para o desenvolvimento de competências sociais e culturais presentes nos processos educativos”. Tendo em conta que “no ensino de línguas estrangeiras parecem existir diversas velocidades na integração da IA, havendo instituições de ensino superior que o fazem mais paulatinamente e ainda com bastantes reservas, assim como as que são mais desenvoltas e proactivas na forma como abraçam estas tecnologias”, cabe “fomentar o diálogo e a cooperação entre os diversos agentes de ensino para compreender o potencial da IA”.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteRui Leão, arquitecto e co-autor de “Layering the City” | Uma cidade a quatro mãos Os arquitectos Rui Leão e Carlotta Bruni têm acumulado muitos desenhos ao longo dos anos, que foram agora materializados em “Layering the City”, obra que foi lançada na semana passada na Bienal de Arquitectura de Veneza. O livro resulta de duas vidas dedicadas à arquitectura e de duas teses de doutoramento defendidas no Royal Melbourne Institute of Technology Como surge a iniciativa de publicar “Layering the City”, que faz um pouco a retrospectiva do vosso trabalho? Este projecto nasce de um diálogo entre a minha tese de dissertação e a tese de dissertação da Carlotta [Carlotta Bruni], que ambas pegam em aspectos diferentes do nosso contributo como arquitectos para Macau, para a cidade. E, portanto, o projecto deste livro é o encontro dessas duas teses. O título do livro remete para a ideia de uma cidade em camadas. Não, o que acontece é que no caso dos nossos pontos de vista, meu e da Carlotta, há um trabalho trazido por cada um para o projecto, e que passa por dar uma resposta ao pedido programado, aquilo que o cliente pede, ao que vive na planta de alinhamento [do projecto], ou uma série de questões a nível cívico, do espaço público ou do direito à qualidade de vida. Há uma série de dimensões sociais [a ter em conta para] fazer espaços para as pessoas, mesmo quando são impossíveis [em termos] de política e na cidade. São essas camadas que vão entrando nos projectos e que, no fundo, passam por criar oportunidades para qualificar a vida da cidade, da pessoa, da rua. E isso não tem nada a ver com quem paga, tem a ver com o gerenciamento que o arquitecto faz na cidade através do projecto. São estas camadas, os “layers”, em que o arquitecto vai enriquecendo o que é a oferta do projecto para a cidade e cria vários micro-projectos dentro desse projecto maior, e que qualificam o passeio, os espaços sociais e o espaço público de uma maneira que não era pedida. Portanto, num projecto de arquitectura persiste sempre a ideia das pessoas e dos espaços que habitam. No caso de Macau há esta situação extrema em que o espaço público é sempre o mínimo, com um passeio estreitinho, e onde tudo se tem de resolver. Por haver falta de mais perfil de espaço público na cidade, este gerenciamento feito pelo arquitecto através do projecto acaba por ser uma forma de compensar a cidade, de reconciliar as pessoas com ela, ou o contrário. A capa do livro remete para o projecto de habitação pública do Fai Chi Kei. Presumo que considerem o projecto um dos grandes marcos do vosso atelier. Sem dúvida. Este foi o primeiro grande edifício de habitação em termos colectivos, em que tivemos oportunidade de aplicar ideias que tínhamos desenvolvidas para o espaço público, na praça do lago, ou mesmo no parque que está ao lado. Todos estes projectos têm muito envolvimento com o espaço público e esta foi a nossa primeira iniciativa com um programa de habitação. Fizemos uma série de experiências super importantes que nos permitiram demonstrar que era possível qualificar a habitação pública. Produzimos uma série de jardins, pracetas, jardins aéreos em vários pisos [do edifício]. Fomos coleccionando os pisos dois a dois e quatro a quatro para criar comunidades dentro do edifício, quase como se fosse uma farmácia chinesa que tem gavetas, sítios de interacção social desde o andar de baixo, e por aí fora. Tudo isso foi trabalhado com pequenos terraços públicos presentes ao longo do projecto, e nesse aspecto, ele é muito inovador. É, de facto, uma demonstração que, quer se trate de um edifício de habitação ou um museu, ele pode, de facto, contribuir para a qualificação de vida das pessoas. Qualquer programa [de arquitectura, no sentido de encomenda ou contrato] serve para o arquitecto agenciar isso no projecto. Que outros projectos constam neste livro? Temos a estação da Barra e a zona Intermodal [relacionadas com o Metro Ligeiro]. São dois projectos, para nós, muito importantes, porque também vêm reconfirmar a capacidade de sobrepor muitas e muitas camadas. No caso da estação da Barra, existe também um parque público em cima, além de se ligarem as duas marginais, a histórica e a nova. É um projecto todo em vidro, transparente, que me permite estar do lado do Matadouro e ver o rio e os barquinhos através do vidro. O edifício acaba por ser também uma espécie de polvo que faz ligações ao nível do chão, com os jardins à volta da estação que se conectam com a cobertura. Há uma certa complexidade, em que se cria quase um novo sistema de cidade e existe, ao mesmo tempo, uma sobreposição tentacular do comboio, dos autocarros e das pessoas que passam. O livro tem também projectos que não estão ainda construídos. Como foi conjugar o conteúdo da sua tese de doutoramento com a de Carlotta Bruni? O livro é composto por textos de alguns críticos sobre a nossa obra. Tem um texto do Jorge Figueira, por exemplo, e uma grande entrevista conduzida pela Ana Vaz Milheiro [académica] e tem depois os nossos textos. Há uma presença do arquitecto Manuel Vicente nesta obra? O Manuel Vicente está muito presente, até porque alguns destes projectos foram feitos em parceria com ele. Portanto, há uma continuidade destes primeiros projectos para os que vieram a seguir, já sem o Manuel Vicente, e que para nós é muito polida. No fundo, tem a ver com o que não só herdamos, mas o que trouxemos connosco do Manuel. Apresentar esta obra na Bienal de Arquitectura de Veneza, e tendo em conta que a RAEM está também representada com uma exposição, é importante para o vosso trabalho e visibilidade do atelier? Sim. A ideia de fazer a publicação, com a Actar Books, de Barcelona, tem a ver com o colocar a obra, e mais do que isso, a sua mensagem, que é muito específica a Macau e à nossa maneira de trabalhar, na comunidade internacional e de arquitectos, e isso passa muito pela Bienal. Foi também na Europa que se construiu um consenso ao nível das descrições [na arquitectura] desde há alguns séculos, e em que há uma discussão, nacional e internacional, em torno das questões da profissão. Queremos que a nossa obra esteja presente, quer através do livro, quer através da Actar Books, nessa comunidade internacional, para que faça parte do mundo. Folhas e camadas “Layering the City” pretende estabelecer com a comunidade internacional de arquitectos e apaixonados pela profissão um diálogo mostrando os últimos anos de trabalho e a visão do LBA – Arquitectura e Planeamento, de Rui Leão e Carlotta Bruni. A obra nasce da intersecção entre duas teses de doutoramente dos dois arquitectos: “Designing by Increments: opportunistic planning as urban strategy for Macau” (de Rui Leão) e “Shaping Macau’s Unpurposed Space: Design in Context” (de Carlotta Bruni). Segundo uma nota de apresentação do livro, “as contribuições intelectuais do LBA evidenciam-se através das narrativas espaciais que integram contextos urbanos complexos com estratégias de design culturalmente sensíveis”. Os dois arquitectos e a sua equipa “enfatizam a importância de criar espaços que se harmonizem com a sua envolvente, ao mesmo tempo que respondem às necessidades funcionais da vida urbana moderna”. Trata-se, assim, de uma “abordagem particularmente relevante em Macau, onde a justaposição do antigo e do novo é uma característica definidora da cidade”, lê-se.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEnsino | Conteúdos sobre IA transmitidos a alunos locais O Governo de Macau diz estar a preparar os alunos, sistema de ensino e professores para a inteligência artificial, disponibilizando materiais didácticos nas escolas, aulas e organizando acções de formação. Deputados também querem iniciativas sobre inteligência artificial fora das escolas As escolas e professores estão a preparar-se para a realidade da inteligência artificial (IA). Segundo as explicações da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, a Direcção dos Serviços para a Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) “tenciona fornecer conteúdos de IA ou relacionados com ciência e tecnologia, com uma duração média de 10 horas por ano lectivo, aos professores de informática e de 6 horas aos professores de outras disciplinas”, foi referido ontem em resposta a uma interpelação oral do deputado Lam Lon Wai. As primeiras acções decorreram já no actual ano lectivo. Além disso, a secretária confirmou que as escolas podem aderir a manuais que incluem ensinamentos sobre a IA. “Foram introduzidos vários materiais didácticos de referência sobre IA do Interior da China para adopção nas escolas”, disse O Lam. No ano passado, a DSEDJ juntou-se à South China Normal University para “estabelecer uma nova base de aprendizagem e intercâmbio com foco no ensino da IA”. Neste contexto, são disponibilizados “materiais didácticos desta instituição sobre a IA”, além de que estão previstos convites a “peritos e académicos do Interior da China para ministrar formação e apoio ao pessoal docente no desenvolvimento de actividades de ensino sobre IA”. A nível legislativo, o Executivo diz ter feito as alterações necessárias para que a “programação e o ensino da IA passem a integrar os currículos das escolas primárias e secundárias”, pretendendo-se que “os conteúdos da IA possam ser integrados nas orientações curriculares das aulas de tecnologias de informação”. O Governo pretende fazer a “avaliação intercalar do planeamento do ensino não superior de Macau, para construir um sistema de suporte tecnológico inovador”, tendo em conta as “Linhas Gerais do Planeamento para a Construção de uma grande potência educativa (2024-2035)”. O Lam indicou que, através do financiamento do Fundo Educativo, pretende-se a “optimização das instalações e os equipamentos das escolas” para melhorar o ensino da ciência e criar o projecto de “salas de aula com IA”. Neste contexto, a DSEDJ lançou este ano o projecto piloto de “ensino inteligente”, ao qual aderiram 25 escolas. “A meta estabelecida é a disponibilização da plataforma a todas as escolas secundárias de Macau no ano lectivo de 2026/2027”, disse ontem a secretária. IA para todos Um dos intervenientes no debate de ontem foi o deputado Zheng Anting, que defendeu a parceria com operadoras de jogo para a criação de “aulas de IA” nos hotéis, em conjugação com os turistas que passam por esses espaços ou até mesmo nos bairros comunitários, “para que as populações tenham um maior contacto com a IA”. “Podemos desenvolver acções em parceria com as seis concessionárias, porque já têm visitantes”, acrescentou. No tocante à relação da IA com a população e à promoção da literacia nesta área para adultos, um representante do Centro de Ciência de Macau disse que este espaço pode ser “uma sala de aula aberta para que, fora das escolas, possam ser fornecidos novos conhecimentos e cenários de aprendizagem da IA”. “Vamos colaborar com mais empresas de tecnologia, pois queremos ter mais recursos tecnológicos para suportar esta formação científica. O Centro de Ciência vai criar diferentes medidas para melhorar a literacia digital da população introduzindo a IA, e assim poderemos generalizar a educação quanto à IA para toda a sociedade. A evolução da IA tem sido rápida e vamos convidar especialistas para partilhar as técnicas mais avançadas e tendências de emprego nesta área, no intuito de criar uma plataforma de formação na área da IA”, disse. O responsável afirmou que “os trabalhadores por turnos poderão aceder a este tipo de recursos”. O Lam assegurou que o futuro passa pela “generalização da educação sobre a IA para os residentes” e, para isso, o Governo vai “dialogar com associações para que essas medidas tenham um maior efeito”.
Andreia Sofia Silva PolíticaEnsino inclusivo | Governo diz que existem recursos suficientes A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura referiu que o sistema de ensino tem recursos suficientes na área da educação inclusiva, existindo actualmente 170 docentes com formação específica. “Temos recursos suficientes para apoiar os alunos do ensino inclusivo. No ano lectivo de 2023-2024, existiam 94 alunos, sendo que 79 conseguiram ter acesso ao ensino superior, numa taxa de 84 por cento. Queremos aperfeiçoar estes trabalhos e também ao nível da formação de professores”, referiu O Lam. Neste aspecto, entre os anos lectivos de 2019-2020 e 2023-2024 foram formados 2.545 professores. “Penso que as acções de formação podem ser reforçadas consoante a necessidade”, frisou a secretária. O assunto da educação inclusiva foi levantado pelo deputado Ho Ion Sang, que numa interpelação oral quis saber os mais avanços nesta área. Em resposta, a secretária referiu que existem 51 escolas em Macau a proporcionar educação inclusiva, 21 das quais “ministram a educação inclusiva no formato ‘one through train’ nos ensinos infantil, primário e secundário”, ou seja, na integrando-se alunos com necessidades educativas especiais em turmas ditas “normais”. Além disso, “com vista a responder à procura de vagas no âmbito da educação inclusiva e do ensino especial em turmas pequenas, oito escolas, em construção na Zona Este-2, vão proporcionar educação inclusiva, das quais uma disponibilizará turmas pequenas de ensino especial”. A secretária garantiu que a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) “visita continuamente as escolas para divulgar este tipo de educação e aumentar o número de vagas escolares”.
Andreia Sofia Silva PolíticaGoverno realiza novo inquérito para avaliar desemprego jovem A falta de oportunidades profissionais para jovens licenciados foi um dos temas mais debatidos na sessão de ontem na Assembleia Legislativa (AL) destinada às respostas do Governo a interpelações orais dos deputados. A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, O Lam, referiu que será feito “um inquérito sobre o prosseguimento dos estudos [por parte dos jovens], para conhecer a situação do emprego dos jovens”. “Além disso, iremos avaliar a procura em várias áreas”, acrescentou a governante. O Lam afirmou que o Executivo pode “oferecer apoios específicos para jovens”, no seguimento da posição demonstrada pela deputada Lo Choi In, que sugeriu a criação de um subsídio para que empresas contratem jovens locais com curso superior. “Existem subsídios para que jovens tenham emprego na Grande Baía. Porque não é ponderada a implementação de uma medida semelhante para Macau, para que possam ser proporcionados mais recursos a fim das empresas disponibilizarem estágios para que os nossos jovens possam trabalhar? As empresas têm custos com rendas, por exemplo”, defendeu. Lo Choi In lembrou que “a taxa de continuação dos estudos dos jovens de Macau é de 95 por cento”, mas que, da taxa de desemprego de 2,5 por cento sobressaem os jovens licenciados com idades compreendidas entre os 25 e 34 anos. “As pessoas com maiores níveis de escolaridade estão desempregadas. Onde reside o problema? Tem a ver com o sistema de ensino, que está desactualizado, ou o mercado de trabalho? Vai ser criada uma nova cidade universitária para criar mais quadros qualificados e postos de emprego, e temos de dar importância à formação de quadros”, disse. Não é fácil A ideia de voltar a repetir o inquérito, anteriormente realizado pelas autoridades, foi salientada pelo deputado Ngan Iek Hang. “Já foi referido que a comissão de quadros qualificados vai realizar um estudo sobre a procura por quadros qualificados, e já foi feito um inquérito sobre o emprego dos finalistas, então qual é o ponto de situação. É importante acompanhar se os finalistas conseguem um emprego estável”, disse. O deputado Leong Sun Iok referiuque “a sociedade tem prestado muita atenção ao emprego dos jovens, que enfrentam muitas dificuldades e não conseguem encontrar um posto de trabalho”.
Andreia Sofia Silva PolíticaNovos aterros | Zona Este 2 com centro de saúde no final do ano Kuok Cheong U, director do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ), garantiu ontem que a Zona Este 2 dos novos aterros terá um novo centro de saúde a funcionar no final deste ano. Porém, os recursos humanos aí existentes vão depender da procura em termos de população. “Na Zona Este 2, em finais do corrente ano, o centro de saúde vai estar a funcionar, mas temos de ver qual será a situação da ocupação da habitação. Sabemos que não vai haver aí um aumento brusco da população e temos de ter em conta a procura para mobilizar os recursos humanos. Vamos também recrutar mais pessoas.” Em relação ao novo hospital das ilhas, Kuok Cheong U admitiu que “está a necessitar de mais recursos humanos”, prevendo-se a criação “da carreira de médico adjunto para o hospital e zona dos novos aterros”. “Temos de ponderar o número de pessoas que saem dos postos de trabalho para a reforma e iremos avaliar as necessidades do pessoal na área da medicina. Queremos contratar mais pessoas para termos uma reserva de pessoal na área da saúde”, adiantou.
Andreia Sofia Silva PolíticaGoverno admite nova consulta sobre lei de trabalho a tempo parcial Tai Kin Ip, secretário para a Economia e Finanças, admitiu abrir nova consulta pública sobre a legislação do trabalho a tempo parcial, mas agora com foco noutros sectores de actividade, como o emprego nas novas tecnologias e inteligência artificial (IA). “Fizemos uma consulta pública em 2017 e não chegamos a um consenso entre trabalhadores e empregadores, e não conseguimos promover esse trabalho. Iremos reavaliar se é possível refazer todo esse trabalho, pois passaram-se oito anos. Estamos em 2025 e temos os profissionais liberais, as novas tecnologias e a IA, e é necessário recolher mais opiniões e reavaliar tudo isso, além de vermos como esses sectores se estão a desenvolver no exterior”, disse. A questão foi levantada pelo deputado Leong Hong Sai. “Há muitas pessoas que estão a trabalhar a tempo parcial, e será que há garantias de protecção das suas regalias? Há que ter uma lei avulsa para proteger os seus direitos. Em 2017 houve uma consulta pública sobre esse regime de trabalho a tempo parcial e todos deram o seu apoio, mas não houve consenso na altura. Será que o Governo vai definir uma calendarização para acompanhar este assunto mais uma vez?”, questionou. Problema chamado emprego No debate de ontem, dedicado a responder a interpelações orais dos deputados, o emprego, ou a falta dele, para os locais foi um dos temas mais discutidos. Ron Lam U Tou, um dos deputados mais intervenientes, levantou a questão de haver excesso de trabalhadores não residentes (TNR) que ocupam vagas destinadas a residentes. “Há sectores em que os locais são prejudicados pelos TNR. Há pessoas que fazem os estágios dos planos ‘Emprego+Formação’ e que depois são despedidas, e podem sê-lo mesmo sem justa causa. Há quem tenha estudado no exterior, regressa e depois não consegue trabalho em Macau. Há TNR que chegam e que, ao fim de um mês, ocupam o lugar e o residente perde o seu trabalho. Os trabalhadores locais estão a ser afectados pelos TNR”, resumiu.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCasinos-satélite | Deputados questionam colocação dos trabalhadores e das mesas de jogo Foi mais de uma hora a debater a questão dos casinos-satélite: ontem, no hemiciclo, os deputados exigiram dados e respostas concretas sobre o eventual fecho destes casinos, a situação dos trabalhadores e a relocalização das mesas de jogo. O secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, afirmou que o Governo está preparado e que cabe às concessionárias negociar com trabalhadores eventuais saídas ou mudanças de cargos Há que garantir a “tigela de arroz” ou o “pão nosso de cada dia” dos trabalhadores dos casinos-satélite que poderão fechar portas. O Governo diz estar preparado para a possibilidade de os trabalhadores ficarem sem emprego, mas os deputados questionaram ontem o secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, na Assembleia Legislativa (AL), exigindo informações mais concretas. Tai Kin Ip referiu que “os deputados disseram aqui uma palavra: ‘Se’. O Governo fez um plano de acordo com essa mesma palavra: ‘Se'”. Os detalhes desse mesmo plano não foram avançados, tendo o governante frisado que “em relação à transição dos casinos-satélite, as concessionárias têm de negociar com os trabalhadores, tratando-se de uma situação comercial, e o Governo envidará esforços para ajudar e coordenar. O Governo responde a esse ‘Se’ apenas consoante a situação real”, adiantou. Foram 12 perguntas na primeira ronda, às quais Tai Kin Ip respondeu que foi feita “uma avaliação suficiente que abrange a situação do funcionamento dos casinos-satélite e lojas envolventes, bem como a situação dos trabalhadores, incluindo croupiers”. “Estamos bem preparados para isso, e dominamos o assunto. Há um prazo de três anos para a transição e as normas estão bem estabelecidas. Cabe às concessionárias negociar com os trabalhadores dos casinos-satélite e o Governo vai desempenhar o papel de coordenação de todas as partes. Estamos a avaliar as necessidades das lojas nas zonas envolventes, porque queremos criar um ambiente favorável às PME”, disse ainda. E as mesas de jogo? Os primeiros deputados a intervir sobre esta matéria foram Leong Sun Iok, José Pereira Coutinho e Leong Hong Sai, que questionaram também o aumento dos trabalhadores não residentes. Leong Sun Iok levantou um ponto sobre o mobiliário: o que se vai fazer com as mesas de jogo se os casino-satélite fecharem. “Como vão ser distribuídas, vão ser relocalizadas para outros casinos, ou serão adoptadas outras medidas?”, questionou. Também a deputada Angela Leong, pertencente ao conselho de administração da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) Resorts, deixou uma sugestão, tendo em conta a sua “experiência”: “cada mesa de jogo necessita de sete a oito trabalhadores, e se esta mesa for para outra concessionária, os trabalhadores podem ‘seguir’ essa empresa. Estão também envolvidos informáticos ou trabalhadores de relações públicas, por exemplo, que são contratados pelos casinos-satélite. O Governo pode ponderar essa via, que é a de os trabalhadores seguirem a mesa”. Questionaram-se ainda prazos para medidas efectivas e se já existe um consenso sobre o número de casinos-satélite a fechar, do total dos 11 existentes. Ella Lei, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), referiu que “há que ponderar de forma profunda sobre a situação para que os trabalhadores possam proteger a sua tigela de arroz”. “Como vai ser feita a distribuição das mesas de jogo, se houver casinos-satélite que não continuam a funcionar? Não é depois de existirem trabalhadores despedidos que se vai pensar na sua transferência para outras empresas ou na sua conversão laboral”, disse. A deputada afirmou que “os trabalhadores estão inquietos e se sentem numa situação passiva”, existindo “muita instabilidade”. Já Ngan Iek Hang referiu que há pensar na questão dos trabalhadores distribuídos por três blocos, nomeadamente “os relacionados com as concessionárias, os que estão em regime de outsourcing e os que estão ligados a cargos de gestão”. “Se os casinos-satélite deixam de existir, como se mantém o posto de emprego e o pão de cada dia? Há famílias em que o casal trabalha no casinos-satélite e os filhos vão sofrer”, rematou.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteHistória | Lançada edição chinesa do livro de Manuel V. Basílio Chama-se “Histórias e Memórias – Baixa do Monte e Arredores”, é um livro da autoria de Manuel V. Basílio e a sua edição em chinês será lançada no dia 19 de Maio na sede da Associação dos Reformados, Aposentados e Pensionistas de Macau (APOMAC). A obra, apresentada em 2023, ganha agora uma nova versão e conta com prefácio de Lok Po, director do jornal Ou Mun Será lançada na próxima segunda-feira, 19, a edição chinesa de mais um livro de Manuel V. Basílio, professor aposentado que se tem dedicado a várias investigações sobre a história de Macau. Desta vez, trata-se do livro “Histórias e Memórias – Baixa do Monte e Arredores”, já apresentado na sua versão portuguesa em 2023, e que agora conta com prefácio de Lok Po, director do jornal Ou Mun. O lançamento decorre na sede da APOMAC – Associação dos Reformados, Aposentados e Pensionistas de Macau. Segundo um comunicado da APOMAC, desde o primeiro lançamento da obra que “várias pessoas incentivaram o autor a editar também uma versão em língua chinesa, dado o interesse que poderá haver junto da comunidade chinesa na divulgação de um dos períodos mais marcantes da história de Macau – o da integração da população chinesa na chamada ‘cidade cristã'”, quando se deu “a miscigenação efectiva das culturas ocidental e oriental, com a remoção da barreira criada pela velha muralha e portas da cidade, passando todos a viver em harmonia como vizinhos”. Estávamos em meados do século XIX. Mais concretamente, a partir de 1844, a administração portuguesa “autorizou todos os estrangeiros a ‘comprarem ou edificarem casas e possuírem qualquer terreno em Macau”. Assim, “esta medida acabou por favorecer, anos mais tarde, os negociantes chineses que possuíam alguma riqueza e que vieram para Macau, provenientes do sul da China, para escaparem da rebelião Taiping, também conhecida como Guerra Civil Taiping, que durou de 1850 a 1864, tendo aqui fixado residência e reiniciado as suas actividades como empresários”. Segundo a mesma nota, o fim da separação entre a chamada cidade cristã e a zona em que vivia a comunidade chinesa ocorreu graças “ao fim da coexistência de duas jurisdições na península de Macau – a portuguesa e a chinesa, respectivamente, dentro e fora da muralha da cidade que, ao longo de séculos, separavam as duas comunidades”. Foi também fundamental para esta nova fase “o início do chamado período colonial, em que o governo português passou a ter autonomia territorial em toda a península até à Porta do Limite, que mais tarde ficou conhecida como Porta do Cerco”. Zonas de eleição Onde se instalaram então os chineses aquando do fim desta separação entre comunidades e modos de vida? O livro descreve que “uma das zonas preferidas pelos negociantes chineses para residir era precisamente a que era então designada por Baixa do Monte, por se situar perto do coração da cidade”. “Desde então alguns nomes das vias públicas sofreram alterações por desejo dos seus moradores. Sabem, por acaso, o antigo nome da Travessa dos Anjos? E as razões porque foi alterado, e ainda qual foi o método antigo utilizado para dar nomes às vias públicas? Sabiam que alguns chineses também foram agraciados com títulos honoríficos pela corte portuguesa, e que esses títulos tinham prazo de validade para uma ou duas vidas?”, descreve-se na nota. A todas estas curiosidades e factos históricos o livro de Manuel V. Basílio pretende dar resposta. No caso da Baixa do Monte, e segundo a informação disponível no “Cadastro das Vias Públicas e Outros Lugares da Cidade de Macau, de 1957, tratava-se de uma designação para “a encosta da Colina do Monte voltada ao Sul e abrangendo toda uma área, de limites vagamente definidos, que vai desde a fortaleza até às proximidades das Ruas da Palha, de S. Domingos e de Pedro Nolasco da Silva, entre a Rua de S. Paulo e a Calçada do Monte”. Esta era uma zona “onde viveram muitas famílias portuguesas e macaenses”, sendo que, para provar este facto, Manuel V. Basílio “recolheu dados relativos a diversas famílias, sobretudo macaenses, que residiram naquela zona da cidade desde meados e finais do século XIX até à segunda metade do século XX, e cuja recolha inclui, nomeadamente, as famílias Batalha, Baptista, Valoma, Manhão, Marques, Xavier, Crestejo, Remédios, Lopes, Morais, Nogueira, Simões, Cameirão, Costa, Silva, Fernandes, Souza, Pires, Gonçalves, Jorge, Eusébio, Placé, Osório, Santos, Rosário e Martins”. A partir de 1963, constam famílias que viveram nos blocos 3 e 4 do “Kwok Wá Tai Há”, ou seja, “Bairro Capitol”, junto da Calçada das Verdades, e “formaram, durante décadas, um autêntico bairro comunitário de macaenses”. Actualmente “apenas alguns macaenses residem lá”. Biografias e títulos Mas nem apenas de ruas fala este livro. O autor escreveu também biografias resumidas de algumas individualidades e negociantes chineses que viveram na Baixa do Monte, nomeadamente Chou Iau e Fong Seng, que, em 1880, foram agraciados com o título de Cavaleiro por mercê honorífica do rei D. Luís I de Portugal, devido aos valiosos contributos que deram à vida económica e social de Macau. O autor faz também uma breve descrição sobre a divindade Na Tcha, o templo que lhe é dedicado, junto da Calçada das Verdades, bem como as festividades em sua honra que ali se realizam anualmente no 18.º dia do quinto mês do calendário lunar. Faz, também, um breve resumo da história de alguns edifícios que existiram e outros que ainda existem, situados na zona limítrofe da Baixa do Monte, entre os quais se inclui o edifício do Teatro Capitol, desde a sua inauguração, em 18 de Abril de 1931 até ao seu encerramento, em 1 de Agosto de 1987, e a sua posterior requalificação, em que passou a ser o “Centro Comercial do Teatro Capitol”. Assim, “Histórias e Memórias – Baixa do Monte e Arredores” inclui “memórias, vivências, usos e costumes, bem como histórias baseadas na história de Macau”, além de informações valiosas sobre a toponímia de algumas zonas de Macau e a sua história.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeIgreja | Estabilidade nas comunidades cristãs locais Robert Francis Prevost foi escolhido há dias como o novo líder da Igreja Católica, tendo adoptado o nome de Leão XIV. O HM ouviu dois analistas sobre eventuais impactos no funcionamento das dioceses em Macau e Hong Kong e o que se espera é continuidade e estabilidade, tal como um relacionamento pacífico com Pequim Durou apenas dois dias a escolha de um novo papa, depois da morte de Francisco. Leão XIV, nascido Robert Francisc Prevost em Chicago, EUA, foi a escolha dos cardeais do conclave do Vaticano. O HM falou com dois analistas para tentar perceber eventuais impactos ou mudanças no funcionamento da Igreja Católica nas dioceses de Macau e Hong Kong, mas o rumo parece ser o da estabilidade. “Não creio que vá haver nada de concreto. A situação em Hong Kong e Macau é bastante bem compreendida e estável. Sei que os católicos e as pessoas de boa vontade em ambos os locais estarão a rezar e a desejar ao Papa Leão todas as graças, bênçãos e sucessos no seu pontificado”, defendeu Stephen Morgan, reitor da Universidade de São José (USJ). Já Peter Stilwell, que antecedeu Morgan na reitoria da USJ e que actualmente é director do Departamento das Relações Ecuménicas e Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa, defende que “a relação de Hong Kong e Macau com a China continental [no tocante à religião] é determinada pelos acordos dos anos 90”. “O que sucederá, no final dos 50 anos previstos para a transição, dependerá de muitas variáveis num mundo e num país (China) em rapidíssima transformação. Entretanto, a Santa Sé estabeleceu com as duas dioceses [de Macau e Hong Kong] uma relação que as mantém fora de qualquer conferência episcopal e numa relação directa com Roma. Será isso afectado pelo final do período de transição? Julgo que as dioceses e Roma gostariam de responder ‘Não’. Contudo, aí a evolução do acordo como o de Beijing, sobre a nomeação dos bispos católicos para as dioceses da China Continental, será um factor importante a observar”, notou Peter Stilwell. Este acrescentou ainda que “os interessados nesta evolução, todavia, estarão a observar de perto como o Papa Leão XIV restrutura, ou não, a Secretaria de Estado do Vaticano – nomeadamente, a equipa que nela acompanha directamente o dossier da China”. Relação antiga Questionado sobre o relacionamento do Estado do Vaticano com Pequim com Leão XIV no poder, o antigo reitor da USJ também não prevê grandes alterações. “A relação continuará, discreta, mas persistente, como até aqui. O contacto tem uma história de 400 anos, e não o devemos reduzir ao recente acordo sobre nomeação dos bispos.” Trata-se de um acordo que “decorre entre duas entidades com memória milenar, que pensam em termos de décadas e de séculos”. “O facto de o novo Papa ser de nacionalidade norte-americana será irrelevante. Como chefe de Estado, a sua nacionalidade passou a ser agora da Cidade do Vaticano; e as interpelações diárias a que irá responder terão a perspectiva de uma comunidade religiosa que hoje se estende a praticamente todos os países do mundo”, defendeu Peter Stilwell. Stephen Morgan acredita que a escolha de Roberto Prevost para papa nada tem a ver com a presença de Trump na Casa Branca ou jogadas políticas face ao relacionamento China-EUA. “A sua eleição terá mais a ver com o facto de ele estar familiarizado com a situação dos católicos no mundo em desenvolvimento e de ter tido alguns anos de experiência no Correio Romano, onde se estabeleceu como um par de mãos seguras que pensa por si próprio e ouve de forma ampla.” Robert Prevost foi trazido para o Vaticano pelo Papa Francisco em 2023 para ser o responsável por examinar as nomeações de bispos em todo o mundo, um dos trabalhos mais importantes da Igreja Católica, ganhando assim destaque no conclave.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTurismo | Andy Wu diz que concertos não bastam para atrair visitantes O Governo diz querer apostar na organização de espectáculos de grande escala para dinamizar a economia nos bairros com menos turismo, mas Andy Wu, dirigente associativo ligado ao turismo, diz que isso não basta, defendendo a venda de bilhetes com descontos associados para levar mais pessoas a consumir no território Não é música para os ouvidos do turismo. Na visão de Andy Wu, presidente da Associação da Indústria Turística de Macau, não basta a realização de grandes espectáculos em Macau, nomeadamente concertos, para aumentar o número de consumidores nos bairros comunitários, ou seja, que estão mais afastados dos pontos turísticos. Segundo o jornal Ou Mun, Andy Wu defendeu que são necessárias medidas complementares à realização dos concertos, nomeadamente a venda de bilhetes combinada com descontos associados em lojas locais, para que as pessoas que vão ao concerto possam também consumir antes dos espectáculos. No tocante à economia nocturna, em bares e discotecas, Andy Wu declarou que ainda não consegue ser atractiva o suficiente para turistas, pelo que é importante ter medidas complementares aos concertos. O Governo referiu que está a negociar com as plataformas de venda de bilhetes uma parceria para que haja pacotes de bilhetes com descontos em lojas, o que deverá ser uma realidade na segunda metade do ano, na sequência de muitos visitantes oriundos do Interior da China assistirem a concertos ou competições desportivas em Macau. Sobre o modelo de descontos a adoptar, Andy Wu defendeu que se pode ter em conta o formato do Grande Prémio de Consumo para as Zonas Comunitárias, actualmente em curso, o que permitiria que os visitantes usassem cupões no comércio local. Tal seria mais indicado do que levar os turistas a consumir apenas nas lojas aderentes ao programa de descontos, disse. Ser eficaz Tendo em conta as negociações levadas a cabo pelo Executivo, Andy Wu referiu ao jornal esperar que estas parcerias sejam lançadas em tempo oportuno, nomeadamente já em Junho, aquando da realização do segundo concerto de grande dimensão no Cotai, na zona de espectáculos ao ar livre, perto do empreendimento Grand Lisboa Palace. Andy Wu não esqueceu ainda o factor transportes públicos, essencial para que os turistas tenham melhor acesso aos bairros comunitários antes e depois dos espectáculos. Ficou feita a sugestão de criação experimental de autocarros exclusivos, do género shuttle-bus, com percursos concretos entre a zona de espectáculos e os bairros comunitários, para que os visitantes se desloquem a bairros menos conhecidos de Macau durante o dia e vejam depois o espectáculo à noite.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTabaco | Ron Lam exige calendarização para alterações à lei Depois de o Governo ter anunciado, nos debates sobre as LAG, mudanças à actual lei de controlo e prevenção do tabagismo, eis que o deputado Ron Lam exige das autoridades um calendário concreto para a implementação de novas medidas, como a criação de mais espaços ao ar livre sem fumo ou a proibição do consumo de “shisha” O deputado Ron Lam U Tou interpelou o Governo sobre o calendário para as novas alterações ao regime de prevenção e controlo do tabagismo, que passam pelo aumento do número de áreas ao ar livre em que é proibido fumar ou a proibição de se fumar enquanto se caminha. As alterações podem também passar pela proibição da tradicional “shisha” em bares, conforme já foi referido por Alvis Lo, director dos Serviços de Saúde, no contexto da apresentação do relatório sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. Ron Lam U Tou espera, assim, que o Governo avance datas concretas para rever a lei e possa também dar a conhecer os detalhes de todas estas novas proibições. O deputado argumenta, na interpelação escrita, que a alteração a esta lei não consta na lista de projectos legislativos para este ano, daí questionar o calendário do Executivo. Em relação ao imposto sobre o tabaco, o deputado lembrou que não aumenta desde 2015, mantendo-se nos 60 por cento. Ron Lam U Tou defende que o imposto deve aumentar, pois está longe dos 75 por cento de imposto sobre a venda, taxa que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera mais eficiente para travar o consumo. “O aumento do imposto é mais eficaz para reduzir o número de fumadores mais jovens, além de ser a forma mais eficiente para reduzir a proporção de fumadores. O Governo disse que esta taxa poderia ser alterada oportunamente aquando da revisão do regime de prevenção e controlo do tabagismo em 2022, porque é que não houve avanços concretos? Se o Governo planeia aumentar o imposto até ao valor recomendado pela OMS, qual é o calendário?”, questiona. Não aos electrónicos Na sua interpelação, Ron Lam U Tou destacou que o último Relatório de Acompanhamento e Avaliação do Regime de Prevenção e Controlo do Tabagismo, revelou o “problema sério do consumo de cigarros electrónicos por parte de estudantes, em 2021”. Além disso, mostrou que o consumo deste tipo de cigarros aumentou de 2,6 por cento em 2015 para quatro por cento nesse ano. Em 2022, o Executivo proibiu a publicidade, promoção e patrocínio a este tipo de produto, mas o deputado considera ser necessário estabelecer uma data de proibição para travar o aumento do consumo. “Será que o Governo pode elaborar um período de transição e um prazo para a proibição do consumo de cigarros electrónicos, para que se possa intervir no consumo, sobretudo reduzir o contacto por parte dos jovens?” perguntou na interpelação escrita. Ron Lam também sugeriu que os novos produtos de tabaco, tal como cigarros de ervas, saquetas de nicotina e a tradicional “shisha” possam ser incluídos na lista de proibição de produtos importados e compras, também com um prazo de transição e de proibição efectiva, para que haja uma adaptação por parte de pessoas e negócios.
Andreia Sofia Silva EventosAFA | “Déjà Vu” apresenta trabalhos na área da vídeo-arte Integrada no cartaz da edição deste ano do festival “French May”, eis a nova exposição da associação local AFA – Art for All Society. Trata-se de “Déjà Vu – Uma Exposição de Intercâmbio Artístico Sino-Francês”, onde os temas da vídeo arte e inteligência artificial ressoam das obras com assinatura de Robert Cahen, Alice Kok e Catherine Cheong. Para ver no The Parisian entre 15 de Maio e 28 de Junho A arte em vídeo, misturada com o real e o ficcionado, artificial e criado com as mãos humanas. É em torno destas ideias e conceitos que gira a nova exposição da AFA – Art for All Society, intitulada “Dejá Vu – Uma Exposição de Intercâmbio Artístico Sino-Francês”, e que ganha o sub-título “Mirroring・Looping・Generating”: Da Videoarte à Inteligência Artificial – Série de Exposições”. O projecto, patente entre os dias 15 de Maio e 28 de Junho numa das galerias do empreendimento The Parisian, no Cotai, apresenta ao público trabalhos de três artistas: Alice Kok, co-fundadora da AFA, artista e curadora; Robert Cahen e Catherine Cheong. O projecto está integrado no cartaz da edição deste ano do festival “French May”, que traz a Hong Kong uma série de iniciativas culturais. Segundo um comunicado da AFA, “Déjà Vu” visa estabelecer “uma ponte entre os diálogos culturais sino-franceses através da arte”, promovendo também a investigação sobre “as intersecções filosóficas do tempo, da memória e da percepção”. Além da presença em Macau, esta mostra estará patente em França, entre os dias 21 e 30 de Agosto, na Galeria Espace Temps em Paris. Desta forma, promove-se o “intercâmbio cultural” entre a China e França, destaca a AFA, sendo que o público é convidado a “testemunhar a evolução da interacção entre a memória e a tecnologia”. “Déjà Vu”, teoria desenvolvida pelo filósofo francês Henri Bergson, dá o mote a esta mostra, revelando “a divisão simultânea entre percepção e memória”, ou seja, “a coexistência entre o presente ‘actual’ e a sua imagem ‘virtual’ no espelho”. Os trabalhos dos três artistas exploram, assim, este conceito filosófico abstracto, transformando-o em “experiências sensoriais tangíveis através de videoarte, imagens geradas por inteligência artificial e instalações multimédia”. A mostra, que tem as palavras chave “Mirroring”, “Looping” e “Generating”, remetendo para as ideias de espelho, repetição ou geração de conteúdos, reflecte “não apenas as técnicas dos artistas, mas também metaforiza a forma como a memória e a tecnologia tecem o tecido invisível da realidade contemporânea”. Workshop inicial Além da mostra propriamente dita, os artistas vão também juntar-se para ensinar outras pessoas sobre o mundo do digital e da vídeo arte. Robert Cahen, considerado um dos pioneiros na vídeo arte em França, colabora com Alice Kok para o workshop “Video Postcards”, realizado no dia 18 de Maio The Parisian Macau. A ideia é levar os participantes a “mergulhar nas paisagens naturais e históricas de Coloane, inspirando-se na ‘poética das imagens fugazes’, característica do trabalho de Cahen”. Assim, “através de técnicas como a câmara lenta, a sobreposição e o design de som, os participantes irão transformar experiências sensoriais efémeras em ‘postais de memória’ únicos”, descreve a AFA, sendo que a experiência inclui ainda filmagens, orientação em contexto de pós-produção e projecção final dos trabalhos. Quem é quem Robert Cahen desenvolve projectos artísticos desde 1972. Segundo o programa oficial do festival “French May”, no trabalho de Cahen “tanto a ficção como a documentação são apresentadas como viagens metafóricas do imaginário, devaneios requintados que descrevem passagens de tempo, lugar, memória e percepção”. Tendo começado pelas cassetes de vídeo, os seus trabalhos foram expostos em todo o mundo, em locais e eventos como a Bienal de Paris, França; o Museu de Arte Moderna (MoMA), Nova Iorque, EUA; ou o American Film Institute National Video Festival, Los Angeles, EUA. Em 1992 o artista ganhou o prémio da Villa Medicis Hors les Murs e, em 1995, criou uma instalação vídeo permanente para o Espaço Público EURALILLE (Lille), em França. No caso de Catherine Cheong, é uma artista local que vive entre Macau e Paris, tendo-se formado na área da instalação de vídeo na licenciatura em Artes Visuais na École Supérieure d’Art et de Design Toulon. Além disso, a artista formou-se em criação pessoal e teoria da gravura contemporânea com um mestrado em Artes Visuais na Universidade de Paris VIII. “Como artista individual, a sua inspiração vem da experiência pessoal. Através das diferenças culturais, contradições e interações entre os seres humanos, o ambiente social e a natureza, explora a realização da vida e os sentimentos da alma. Ela remonta, justapõe e duplica imagens simbólicas para recriar novos significados, procurando a coincidência entre imagens com diferentes linguagens artísticas e meios para expressar sentimentos, pensamentos e desejos pessoais”, pode ler-se no programa do “French May”.