Governo admite aumentar cauções pagas pelas agências de viagem

Helena de Senna Fernandes, directora da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), disse ontem na Assembleia Legislativa (AL) que poderá haver um aumento do valor da caução a apresentar pelas agências de viagens no âmbito do licenciamento da actividade. A garantia foi dada no debate sobre a votação, na especialidade, da nova lei da actividade das agências de viagens e da profissão de guia turístico, aprovada ontem no hemiciclo.

“Temos o modelo da prestação da caução e do seguro de responsabilidade civil, que é igual ao interior da China. Vamos ponderar se é ou não necessário elevar o montante da caução e talvez haverá um ligeiro ajustamento, mas penso que não será um aumento muito grande”, disse Helena de Senna Fernandes.

Esta informação, surgiu a propósito da intervenção do deputado José Pereira Coutinho, que sugeriu uma alteração ao modelo composto pelo pagamento de caução e de seguro de responsabilidade civil associados às viagens que não são pagas pelos viajantes, e que é tratado no âmbito do processo de licenciamento das agências.

“Em Hong Kong existe um fundo de indemnização, e em Portugal há o Fundo de Garantia de Viagens e Turismo. Há anos que usamos o modelo da caução e do seguro de responsabilidade civil, há forma de o alterar?”, questionou o deputado. Segundo o portal do Turismo de Portugal, o referido Fundo “responde solidariamente pelo pagamento dos créditos dos viajantes decorrentes do incumprimento de serviços contratados às agências de viagens”.

Helena de Senna Fernandes explicou que, no caso de Hong Kong, o fundo é suportado com uma percentagem das comissões cobradas nas excursões, sendo que, nos dois territórios, “em termos de número de turistas, é muito diferente”.

Sem licenças permanentes

Outro dos pontos abordados pelos deputados, diz respeito ao facto de as agências terem de renovar a sua licença anualmente. Coutinho sugeriu uma licença permanente, mas o Governo entende que cabe às empresas decidir consoante o panorama do mercado.

“O sector está sempre em mudança, e no que diz respeito às agências há umas que têm mais ou menos actividade. Temos de saber como é a situação delas, daí termos colocado o prazo de um ano para a renovação da licença”, explicou.

Tai Kin Ip, secretário para a Economia e Finanças, declarou que “tem a ver com a sua vontade” a continuidade, ou não, do negócio por parte das agências. “Temos serviços electrónicos para a renovação das licenças, o que facilita muito a sua vida, mas as agências têm de manifestar a sua vontade de renovação”, rematou.

20 Jun 2025

Fracções devolutas | Ip Sio Kai pede mudança do regime fiscal

O deputado Ip Sio Kai defendeu ontem na Assembleia Legislativa (AL), no período de antes da ordem do dia, a alteração do regime fiscal aplicável às fracções devolutas, tendo em conta “as mudanças no mercado” e a “rápida alteração dos hábitos de consumo emergentes”, o que levou à “redução contínua da atractividade das lojas tradicionais”.

Desta forma, o deputado entende que deve ser revisto o Regulamento da Contribuição Predial Urbana “no que se refere à matéria colectável das fracções autónomas desocupadas”, podendo o Executivo “conceder, por exemplo, a isenção ou redução da contribuição predial urbana aos proprietários que pretendem arrendar lojas desocupadas a preços inferiores aos praticados no mercado, para serem indústrias culturais e criativas, start-ups e empresas sociais”. A ideia é que se possa incentivar o uso de “recursos desaproveitados, impulsionando a economia comunitária e o desenvolvimento do empreendedorismo juvenil”.

Ip Sio Kai recorda que “algumas lojas estão desocupadas há muito tempo e, mesmo que os proprietários baixem as rendas, não conseguem arrendá-las”, causando constrangimentos ao pagamento da contribuição predial urbana.

20 Jun 2025

Aviação | Ron Lam teme continuação do monopólio da Air Macau

Foi ontem aprovada, na especialidade, a proposta de lei da actividade de aviação civil, que vem liberalizar o mercado aéreo comercial da RAEM. Porém, o deputado Ron Lam mostrou-se preocupado que, mesmo com o fim do monopólio da Air Macau, a empresa continue a dominar o mercado.

“A proposta de lei abre a possibilidade à concessão de novas licenças de outras concessionárias, mas não sabemos quando é que isso vai acontecer, mantendo-se a Air Macau em actividade. No passado, houve uma subcontratação do direito de concessão [Viva Macau], mas não funcionou porque a actual concessionária ficou com as melhores rotas”, acusou o deputado.

O diploma em questão entra em vigor no próximo ano e o deputado diz-se “preocupado [com a possibilidade] de o direito do tráfego continuar nas mãos da actual concessionária, não se conseguindo uma abertura transparente e justa”, caso “o Governo não actue de forma mais activa”.

Um dos membros do Executivo referiu que o Governo não vai ficar “de braços cruzados”, apesar de “a economia [de Macau] ser pequena”. “Vamos tentar negociar sem limites no tocante ao número de passageiros, permitindo que as companhias aéreas venham para Macau. Não vamos divulgar nomes, mas há mais companhias que têm interesse e vão ter em consideração o mercado e origem dos passageiros. Aí decidem se celebram acordos ou não”, frisou o mesmo responsável.

20 Jun 2025

Subsídio para a infância | Lo Choi In pede alargamento para seis anos de idade

A deputada Lo Choi In usou ontem o período de intervenções antes da ordem do dia para pedir ao Governo a extensão do subsídio para a infância para crianças até aos seis anos de idade. A medida apresentada este ano prevê o apoio para crianças até aos três anos para combater a acentuada quebra na taxa de natalidade

 

É certo que ainda agora o subsídio para a infância foi criado pelo actual Executivo, liderado por Sam Hou Fai. Esta foi, aliás, uma das grandes novidades do seu primeiro relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. Porém, isso não impediu a deputada Lo Choi In de sugerir a extensão do apoio para crianças até aos seis anos de idade, sendo que actualmente o apoio está previsto para crianças dos 0 aos 3 anos. O subsídio começará a ser distribuído a 15 de Julho terá um valor global de 18 mil patacas.

“Apelo ao Governo para que, em relação ao aumento da taxa de natalidade, adopte políticas e medidas mais abrangentes”, nomeadamente “o alargamento do âmbito do subsídio de assistência na infância a crianças até aos 6 anos, agora até aos 3 anos, para abranger mais famílias com necessidades, apoiando-as a suportarem os custos com crianças e elevando a sua qualidade de vida”.

A deputada apresentou os exemplos seguidos noutros países e regiões, nomeadamente o Japão, que definiu a baixa taxa de natalidade como “uma das acções governativas mais importantes a resolver pelo seu Governo”. Segundo a deputada, o Governo japonês “definiu um plano de apoio financeiro de 5 anos, dando assim importância muito maior comparativamente com a nossa medida”. Ao todo, o Japão dá apoios a crianças e jovens até à idade de 18 anos.

Dados citados pela deputada mostram que em 2013 a taxa de natalidade foi de 11,1 por cento, com 6600 recém-nascidos, números que caíram para 5,3 por cento no ano passado, “com apenas 3607 recém-nascidos”. Assim, “os números evidenciam que, em 10 anos, a taxa de natalidade diminuiu para metade”.

Do Japão à Coreia

Lo Choi In dá os parabéns ao Executivo de Sam Hou Fai por se ter “apercebido da situação e tomado de imediato uma série de medidas”, que passam também pelo “aumento do subsídio de nascimento do Fundo de Segurança Social”.

“As despesas familiares são muito elevadas. O novo subsídio de assistência na infância não é abrangente e é insuficiente, não abrangendo as crianças nascidas antes dos anos 2020-2021, ou seja, famílias que já sustentaram dois, três ou mais filhos”, comentou a deputada ligada à comunidade de Jiangmen.

“Actualmente, face à inflação, à recessão económica e a um ambiente social em que se quer dar tudo do melhor para os filhos, teremos de ver quais serão os resultados deste subsídio”, acrescentou.

Além do Japão, Lo Choi In apresentou também o exemplo de Taiwan, cujo subsídio de assistência na infância é atribuído até aos seis anos, enquanto que na Coreia do Sul “a taxa de natalidade é igualmente baixa e é [um país] menos rico do que nós”, embora “o subsídio de assistência na infância abranja crianças até aos sete anos, as quais podem obter um subsídio total superior a 100 mil dólares de Hong Kong”. Lo Choi In referiu que, neste caso, “há subsídios escalonados, para incentivar e ajudar as famílias com mais de dois filhos”.

“Os efeitos do subsídio das referidas três regiões, ao nível do aumento da taxa de natalidade, ainda estão por observar, mas, em comparação, o nosso apoio é obviamente insuficiente”, rematou.

20 Jun 2025

Emprego | Lei Chan U pede reforço do papel Concertação Social

O deputado Lei Chan U considera que o Executivo deve, no actual contexto laboral, “reforçar o papel do Concelho Permanente de Concertação Social (CPCS)”, no sentido de “reforçar as suas funções e aperfeiçoar o mecanismo de diálogo tripartido [Governo, patrões e trabalhadores], com vista a promover a harmonia nas relações laborais e desenvolvimento sustentável da sociedade”, e tendo em conta também “a evolução dos tempos e o desenvolvimento socioeconómico”.

De resto, abordando a área laboral, vários deputados usaram ontem o período de antes da ordem do dia para voltar a chamar a atenção para as consequências do fecho dos casinos-satélite e as necessidades de emprego dos residentes.

Leong Hong Sai disse que “as oportunidades e postos de trabalho dos trabalhadores dos casinos-satélite continuam a ser um problema que urge resolver”, além de que “o número de trabalhadores não-residentes está a aumentar constantemente, e a situação de subemprego e desemprego estrutural dos residentes é também o primeiro tema do Governo da RAEM”.

Já Zheng Anting lembrou os dados do primeiro trimestre deste ano que mostram que “o número de desempregados com ensino superior aumentou em relação ao trimestre anterior, atingindo cerca de 50 por cento do total”, existindo “fraca vontade de contratação por parte das empresas”.

Assim, segundo o deputado, “a sociedade receia que os recém-graduados não consigam encontrar um emprego razoável, mesmo baixando as suas expectativas salariais”.

20 Jun 2025

Ron Lam diz que houve problemas com fim do 3G

Ron Lam referiu ontem na sessão plenária que houve problemas com o fim de utilização da rede 3G. Numa intervenção antes da ordem do dia, o deputado referiu que “a rede 3G deixou de funcionar a 5 deste mês, mas muitos utilizadores de telemóveis tiveram problemas nas chamadas de voz ao utilizarem os serviços de telecomunicações móveis, pelo que se dirigiram aos pontos de venda das empresas de telecomunicações para pedir ajuda, e as longas filas de espera aí suscitaram a insatisfação do público”.

Segundo Ron Lam, os problemas com a transição de rede duravam “há mais de uma semana e ainda havia muitas pessoas a dirigirem-se às empresas de telecomunicações para resolver o problema do 3G”, sendo que só a 12 de Junho o Executivo “explicou que o problema se devia ao facto de o sistema 3G utilizar a tecnologia de comutação de circuitos para prestar serviços de voz, ao passo que os 4G/5G passaram a utilizar a tecnologia de comutação de pacotes”, sendo que tal obrigou os utilizadores a realizar chamadas com a função VoLTE.

Neste contexto, “alguns utilizadores que não activaram a função VoLTE, enfrentando o problema da interrupção da função de voz”. Ron Lam diz ter recebido “queixas de residentes que afirmam que alguns operadores de telecomunicações ofereceram serviços gratuitos de transferência, mas não podem agora utilizar os números originais dos telemóveis do Interior da China e de Hong Kong”, além de que “os operadores não conseguiram fornecer a lista dos telemóveis compatíveis com VoLTE na sua rede, pelo que os utilizadores ficaram muito confusos”.

O deputado diz que muitos idosos ficaram incontactáveis e que este caso “demonstra que o Governo e os operadores não prepararam nenhum plano de contingência para a saída da rede 3G da RAEM”.

O problema dos activos

Para o deputado, a transição de redes com problemas só mostra que é necessário “proceder a uma avaliação séria deste caso, para evitar que casos semelhantes se voltem a repetir”. O deputado diz estar “preocupado com o desenvolvimento das telecomunicações de Macau nos últimos dez anos, que tem sido ‘injusto, pouco transparente e imprevisível'”, lembrando que desde a liberalização do regime de exploração exclusiva da rede fixa em 2011, “foi introduzida uma segunda operadora, mas o Governo não conseguiu acabar com o monopólio da ‘utilização exclusiva’ dos activos da concessão das telecomunicações, nem emitir, o mais cedo possível, a licença de convergência de redes telecomunicações”.

Desta forma, sugeriu que o Governo “deve quebrar e regularizar o actual regime de utilização exclusiva dos activos da concessão, bem como o regime desactualizado de licença de telecomunicações, a fim de estabelecer uma base sólida e um espaço de desenvolvimento sustentável para o desenvolvimento do sector de telecomunicações de Macau”.

20 Jun 2025

Eleições | “Soldado de Mao” afirma-se inocente e diz que esteve seis dias sem conseguir tomar banho

Acusado de corrupção eleitoral e de possuir um negócio ilegal de Mahjong, Wong Wai Man voltou ontem à carga para clamar a sua inocência. O presidente da Associação dos Armadores de Ferro e Aço diz ter sido “provocado” para subir até ao telhado onde esteve algumas horas, além de ter estado seis dias sem poder tomar banho ou trocar de roupa

 

O panorama das eleições legislativas para o hemiciclo já ferve. Além de estas serem as eleições com o menor número de listas candidatas desde a criação da RAEM, a polémica está instalada com o quase candidato Wong Wai Man, que tentou submeter a sua candidatura, sem sucesso.

Conhecido também como o “Soldado de Mao” e “Capitão de Macau”, e depois de ter sido acusado de corrupção eleitoral e de possuir um negócio ilegal de Mahjong, eis que Wong Wai Man voltou ontem à carga para dar explicações: recusa as acusações de que é alvo, diz ter sido perseguido pelas autoridades e refere como “tortura” a forma como foi tratado aquando da sua detenção.

O presidente da Associação dos Armadores de Ferro e Aço esteve, na segunda-feira, várias horas em cima de um telhado de uma casa feita com chapa metálica na Taipa, tendo sido socorrido pelo Corpo de Bombeiros. Uma solução que diz ter sido “provocada” depois de ter sido detido pela Polícia Judiciária (PJ), reencaminhado ao Ministério Público e receber a convocação do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que o acusa de possuir o negócio ilegal.

Wong Wai Man explicou que, pouco tempo depois de ter saído do gabinete do CCAC, na zona do NAPE, foi interceptado por um funcionário deste organismo que alegou a falta de assinatura em alguns documentos. Porém, não satisfeito com a situação, Wong Wai Man apanhou um táxi em direcção à Taipa, acabando por se refugiar no telhado. “Não tive outra opção, o CCAC queria perseguir-me até à morte. Por isso fiquei no telhado”, explicou.

Relativamente às acusações da prática de corrupção eleitoral, o homem diz que é pobre e que não tem condições financeiras para cometer esse tipo de ilegalidades. Sobre o alegado negócio ilegal de Mahjong, Wong Wai Man destacou que a sede da associação a que preside tem, de facto, mesas de Mahjong, mas apenas para usufruto dos sócios.

Sobre o uso de dinheiro nestes jogos, Wong Wai Man disse que sempre existiu um cartaz a dizer que era proibido haver apostas em dinheiro e que havia, na sede da associação, uma caixa para donativos, mas que tal se destinava a apoios voluntários dos sócios para ajudar ao funcionamento da associação.

Isto porque, segundo este, além de ser presidente é também o único a suportar todas as despesas da Associação dos Armadores de Ferro e Aço, nomeadamente as relacionadas com a renda, água e luz, tendo em conta que desde 2014 que a entidade não recebe subsídios.

Uma coisa é certa: a sede da associação irá fechar portas amanhã devido ao fim do contrato de arrendamento. Wong Wai Man diz que, por enquanto, não vai procurar uma nova morada para a associação pois, para já, tem em mãos um assunto mais premente: a procura de um lugar para viver. Wong Wai Man fazia da sede da associação a sua casa.

Lição para a vida

Apesar de ter perdido a oportunidade de submeter uma lista e ser candidato às eleições para a Assembleia Legislativa pela via directa, Wong Wai Man argumentou que o mais importante foi participar em todo o processo e aprender coisas novas. O “Capitão de Macau” referiu ainda que se dedica à sociedade de coração e não por egoísmo. O seu ideal é fazer coisas com justiça em prol da sociedade, uma vez que defende que as associações tradicionais não defendem o povo.

Wong Wai Man contou ainda aos jornalistas um episódio pessoal para justificar a sua participação nas causas sociais e públicas. “Em 2007 a minha esposa estava grávida e os hospitais convenceram-na a pôr término à gravidez porque a taxa de sobrevivência do bebé seria de 50 por cento, devido ao facto de ter sido detectada uma anomalia fetal depois dos exames. Insisti e o Governo acabou por pagar a operação no valor de 70 mil patacas. Por isso, quero dar a minha contribuição para retribuir um favor ‘ao céu'”, disse.

Seis dias sem banho

Segundo o jornal All About Macau, Wong Wai Man referiu ainda ter estado seis dias sem tomar banho e dormir, tendo permanecido uma semana desaparecido até se apresentar junto do CCAC esta segunda-feira. Antes de o fazer, este referiu ter estado um total de seis dias detido, o que para si foi “uma tortura”, e que no total esteve todo esse tempo sem tomar banho, dormir ou trocar de roupa. No domingo, terá conseguido voltar a casa.

“Ontem à noite [terça-feira] consegui finalmente dormir bem e tomar banho. Fiquei seis dias sem poder tomar banho ou trocar de roupa”, explicou. A subida ao telhado da casa na Taipa foi também uma forma de protesto pela forma como terá sido tratado, assegurou.

A detenção teve lugar na madrugada de quarta-feira passada, dia 11, entre as 3h e as 4h da manhã, com o argumento de que Wong Wai Man manteria um negócio ilegal de Mahjong. Foi então que ficou detido durante 48 horas numa esquadra na Taipa, tendo depois sido transferido para as instalações do Ministério Público (MP) para continuar a prestar declarações.

Depois desse processo, foi notificado para se apresentar junto do CCAC, tendo assinado os documentos pedidos. De seguida, foi novamente detido por mais 48 horas e transferido novamente para o MP. Quando, já na rua, foi novamente informado de que teria de voltar ao CCAC para assinar mais documentos, decidiu fugir e refugiar-se no telhado.

18 Jun 2025

Cancro da mama | Investigação da UM faz “descoberta revolucionária”

Um estudo desenvolvido por uma equipa liderada por dois docentes da Universidade de Macau procura respostas para o combate ao cancro da mama. Os académicos concluíram que as células cancerígenas se disseminam principalmente através do sistema linfático, e não pela corrente sanguínea

 

“O sistema linfático é a via principal para a disseminação e metástase do cancro da mama, revelado pelo rastreamento da linhagem de células únicas” é um artigo científico que procura aumentar o conhecimento que permita encontrar soluções para a doença. O trabalho foi desenvolvido por uma equipa de investigação liderada pela professora catedrática Chuxia Deng e pelo professor assistente Miao Kai da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Macau (UM) e, segundo uma nota da UM, trata-se de uma “descoberta revolucionária no estudo das metástases do cancro”.

Assim, e pela primeira vez, foi feita “uma análise qualitativa e quantitativa das vias das metástases do cancro da mama”, tendo sido aplicado pelos cientistas “um sistema de código de barras baseado numa abordagem de rastreamento de linhagem de células únicas”, chamado CellTag.

Com este método, foram obtidos resultados que revelam que “as células cancerígenas se disseminam principalmente através do sistema linfático, e não pela corrente sanguínea”. Além disso, aponta a nota da UM, “a investigação também descobriu que a interacção entre as células tumorais e o microambiente tumoral (TME) determina o potencial metastático das células cancerígenas”, ou seja, se estas poderão, ou não, reproduzir-se com facilidade.

Neste sentido, “o estudo demonstra de forma sistemática as vias das metástases tumorais e abre novos caminhos para o desenvolvimento de estratégias de tratamento do cancro”, é descrito.

O artigo foi publicado na revista “Molecular Cancer” e é o resultado de uma investigação realizada por uma vasta equipa, constituída por Kai Miao, Aiping Zhang, Xiaodan Yang, Yipeng Zhang, Anqi Lin, Lijian Wang, Xin Zhang, Heng Sun, Jun Xu, Yuzhao Feng, Fangyuan Shao, Sen Guo, Zhihui Weng, Peng Luo, Xiaoling Xu e Chu-Xia Deng.

Destaque para a colaboração de cientistas de outras instituições do ensino superior da região, como Aiping Zhang, da Universidade Hospitalar Hong Kong-Shenzhen, e Jingyao Zhang e Shuai Gao, ligados à China Agricultural University em Pequim. Por sua vez, Dong Wang e Xiao-Yang Zhao estão ligados à School of Basic Medical Sciences, da Southern Medical University, em Guangzhou.

Microambiente é factor importante

A UM explica, no mesmo comunicado, que o estudo em questão “fornece evidências empíricas para a preferência de rota na metástase do cancro”, demonstrando que as células tumorais estão “pré-programadas” com “informações intrínsecas que determinam o seu potencial metastático”, além de que estas células “adaptam de forma dinâmica a sua expressão genética com base no microambiente dos órgãos-alvo”.

Desta forma, “estas descobertas estabelecem as bases para o desenvolvimento de terapias direccionadas à metástase linfática, como a inibição da sinalização de citocinas ou a interrupção da comunicação entre o tumor e o estroma para suprimir a metástase”.

Na investigação foi utilizada a “tecnologia de sequenciamento de RNA de célula única”, o que permitiu à equipa “descobrir que células tumorais geneticamente idênticas exibem perfis de expressão genética específicos do órgão”, pelo que o microambiente se revela “fundamental na formação do comportamento das células tumorais”.

“Por exemplo, as células metastáticas pulmonares regulam positivamente os genes relacionados com o stress oxidativo, enquanto as células metastáticas hepáticas activam vias reguladoras metabólicas”, é referido.

O perigo das metástases

A UM destaca que, nas doenças oncológicas, as metástases são a principal causa de morte. Porém, até à data, “os mecanismos que governam a selecção da rota” dessas mesmas metástases permaneciam “obscuros”.

“Usando a tecnologia CellTag, a equipa de pesquisa fez o rastreio da disseminação de células de cancro da mama em modelos de camundongos”, tendo descoberto que “menos de 3 por cento das células cancerosas se espalham pela corrente sanguínea, enquanto mais de 80 por cento metastatizam através do sistema linfático para órgãos distantes, como os pulmões e o fígado”.

Assim, “uma análise mais aprofundada mostrou que as células disseminadas pela linfa têm padrões de expressão genética distintos e comunicam estreitamente com as células estromais, tais como fibroblastos e células endoteliais, no microambiente, formando um mecanismo adaptativo ‘semente-solo'”.

Olhando para o estudo, os autores explicam que a metástase do cancro “é um processo no qual as células tumorais do tumor primário invadem a membrana basal dos vasos sanguíneos ou linfáticos (intravasação), viajam pelo sistema sanguíneo ou linfático e colonizam órgãos e ou tecidos distantes para continuar o seu desenvolvimento”. Vários estudos apontam para o facto de as metástases serem responsáveis por 70 a 90 por cento da mortalidade relacionada com o cancro, sendo que “a disseminação de células tumorais na vasculatura e nos vasos linfáticos ocorre simultaneamente na grande maioria dos cancros”.

Estradas de sangue

Na discussão dos resultados, os autores do estudo dizem que, em termos gerais, “as células tumorais metastatizam principalmente através da circulação sanguínea e do sistema linfático”, sendo que até à publicação deste trabalho tinham sido realizados “inúmeros estudos para distinguir o papel de ambos os sistemas nas várias fases da metástase do cancro”, sem se saber “qual a via ‘preferida’ para a metástase à distância”.

É referido no artigo, citando outros estudos, que as “células cancerígenas entram na corrente sanguínea através da intravasação para se tornarem CTCs [Circulating Tumor Cells – Células Tumorais em Circulação], tendo-se revelado altamente correlacionadas com os resultados de sobrevivência de pacientes com cancro da mama”.

Os autores explicam também que “o sistema linfático é considerado crítico para a metástase”, pois “as células de melanoma com experiência no sistema linfático eram mais resistentes à ferroptose e formavam mais metástases”, sendo que nos casos de “ressecção de tumor primário, as células cancerosas podem se disseminar ainda mais dos gânglios linfáticos para os vasos sanguíneos e formar tumores metastáticos nos pulmões”.

Até à data, “embora a disseminação metastática fosse viável por ambas as vias, a importância relativa de cada processo para um determinado tipo de cancro e o órgão-alvo era desconhecida devido à falta de ferramentas quantitativas adequadas”, algo a que este estudo, com recurso ao sistema CellTag, pretendeu dar resposta.

Assim, “demonstramos que a maioria das células metastáticas do pulmão e do fígado pode ser detectada no sistema linfático, em vez de CTCs [Células Tumorais em Circulação] derivadas do sangue, indicando que os vasos linfáticos podem ser a via preferida para a metástase das células tumorais, pelo menos no cancro da mama”.

Os autores prometem não parar por aqui na descoberta do percurso feito pela metástase das células cancerígenas, tendo já realizado “testes preliminares” com algumas células a fim de descobrir a possibilidade de redução “drástica” das células tumorais disseminadas por via linfática. “Continuaremos a trabalhar nisso para aprofundar o mecanismo de disseminação linfática e explorar as interrupções terapêuticas em nossos esforços futuros”, é referido.

18 Jun 2025

Fotografia | Imagens de Jorge Veiga Alves celebram Macau em Lisboa

A Casa de Macau em Lisboa apresenta, na próxima segunda-feira, 23, o projecto fotográfico “À Procura de Macau”, da autoria de Jorge Veiga Alves, ex-residente de Macau e fotógrafo amador. O principal objectivo deste evento é celebrar o Dia de Macau e das Casas de Macau, data marcada no calendário a 24 de Junho

 

Junho é o mês de celebrar Macau e o seu santo padroeiro, São João Baptista, nomeadamente no dia 24 de Junho, conhecido como o Dia da Cidade, em comemoração da vitória sobre os holandeses em 1622, na Batalha de Macau. É assim, num mês já com muito calor e pautado pelos Santos Populares que se celebra a tradição e a história de Macau, algo também feito, este ano, pela Casa de Macau em Lisboa, desta vez com recurso à fotografia.

Assim, apresenta-se, na próxima segunda-feira, 23, o fotoprojecto da autoria de Jorge Veiga Alves, ex-residente do território e fotógrafo, intitulado “À Procura de Macau”. A partir das 16h30 podem ver-se imagens da Macau de um outro tempo.

Segundo uma nota da Casa de Macau, trata-se de um evento que “simboliza a data festiva do dia de Macau e das Casas de Macau (24 de Junho)”, podendo o público participante ver “o trabalho foto-artístico das imagens e sensações capturadas ao longo de décadas distintas de pré e pós transição, recuperando memórias ao mesmo tempo que nos vai oferecendo a exaltação de uma Macau sempre presente em nós”.

A apresentação digital de fotografias feitas em Macau percorre os anos de 1986-1994, 2005-2016 e 2024, tendo sido apresentada no Centro UNESCO de Macau da Fundação Macau e na Fundação Rui Cunha. As imagens serão apresentadas em 190 slides, e pretende-se dar respostas às questões “como era Macau no final da década de 80-princípios da década de 90” e ainda “como evoluiu ao longo do tempo aos olhos de um português curioso em tentar conhecer a cultura chinesa, as marcas portuguesas em Macau e a interacção entre as duas comunidades”.

Desta forma, o público poderá ver o contraste entre o analógico e o digital, pois as fotografias feitas no período 1986-1994 foram captadas em modo analógico, tendo sido digitalizadas e alvo de alguma recuperação e tratamento em pós-produção digital. As imagens mais actuais foram já todas feitas no formato digital.

Jorge Veiga Alves confessou: “Ao longo dos anos procurei evoluir na minha técnica fotográfica, todavia, algo tem permanecido constante: a admiração e afecto pela singular História de Macau e do que foi produzido nesse percurso, pela sua riquíssima cultura multifacetada e de convivência multisseculares, pelas suas gentes e locais”.

Economista criativo

Apesar de ser licenciado em Economia, Jorge Veiga Alves sempre teve uma grande paixão pela imagem. Exerceu grande parte do tempo da sua actividade profissional no Banco de Portugal, mas durante oito anos (de 1986 a 1994) esteve requisitado pelo Governo de Macau para trabalhar na AMCM – Autoridade Monetária e Cambial de Macau.

Fotógrafo amador que entrou, no início da década de 70, no maravilhoso mundo da fotografia através do modo analógico, fez fotografia submarina e foi totalmente conquistado pelo modo digital. Participou em exposições e apresentações audiovisuais de fotografia colectivas e individuais.

Em 2017, realizou uma apresentação digital de fotografias na Casa de Macau em Portugal com o título “Macau: Um Olhar de Jorge Veiga Alves”. Criou o projecto “À Procura de Macau /Searching for Macau” que abrange a recuperação, divulgação e disponibilização de imagens em fotografia e vídeo que fez em Macau quando aí residiu e quando revisitou.

Este projecto foi concretizado na realização de diversas iniciativas, nomeadamente, exposições e apresentações digitais de fotografias e a disponibilização de imagens a diversas instituições em Portugal e em Macau com o objectivo de preservação de memórias e utilização e divulgação com fins científicos e culturais sem fins lucrativos. Grande parte do seu espólio de imagens feitas em Macau está depositado na Biblioteca digital do CCCM – Centro Científico e Cultural de Macau.

Diversas fotografias da sua autoria estão presentes em sítios e instituições nacionais e internacionais, nomeadamente no sítio “Memória de Macau” da Fundação Macau, no Arquivo de Macau e no Museu de Arte de Macau. Algumas fotografias foram distinguidas em concursos nacionais e internacionais.

17 Jun 2025

Comércio | Gestor do Cuppa Coffee pede apoio a empresas portuguesas

A história do Cuppa Coffee remonta a 2008 quando era difícil encontrar um espaço em Macau para beber um bom café. A localização na Taipa Velha trouxe fama ao projecto, mas o espaço acabou por fechar portas e mudar-se para o Studio City. João Encarnação, que gere o café, fala das novidades e da importância de apoiar projectos de matriz lusófona

 

Tudo começou na mente da portuguesa Cristiana Figueiredo, numa altura em que para um português ou apaixonado por café a viver em Macau era difícil encontrar um espaço para desfrutar desta bebida acompanhada por produtos de padaria ou pastelaria, à boa maneira lusa.

Cristiana Figueiredo disse, numa numa entrevista ao Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM), o que a levou a investir neste tipo de negócio. “Na Europa, as pessoas têm por hábito frequentar cafés tanto para descansar como para trabalhar. Quando vim para Macau, há mais de 20 anos, apercebi-me de que a cultura do café português não é popular em Macau, daí ter nascido a ideia de abrir um café em Macau, esperando promover a comida e a cultura do café português”.

Desde 2008 que o Cuppa Coffee, associado ao projecto inicial da empresária, Nata Bakery, fundado em 2007 e focado nos produtos de padaria e pastelaria, se tornou num dos espaços preferidos da comunidade portuguesa, estrangeira e até residente do território. Porém, o rumo do ambiente económico, com maiores dificuldades no pagamento de rendas, tem ditado algumas transformações ao projecto, que agora encerra portas à entrada da Taipa Velha e também junto aos lagos Nam Van, para estar apenas no empreendimento Studio City, no Cotai. O encerramento nos lagos Nam Van deu-se em Janeiro.

Ao HM, João Encarnação, director e accionista da empresa que gere o Cuppa Coffee, explica que, na verdade, a mudança para o Cotai já estava decidida há muito tempo. “Costumo dizer que não houve uma mudança para o Studio City, porque esse era um plano que já existia e que surgiu independentemente do fecho da loja da Taipa. Iríamos sempre abrir este espaço independentemente de continuarmos, ou não, com a loja na Taipa, cujo fecho se deveu a uma negociação falhada relativamente à renda do espaço.”

Segundo João Encarnação, que hoje gere a empresa com Nicole Massa Helm, ambos consideraram que “na situação económica actual não havia condições para continuar naquele espaço, que é relativamente grande e tinha os seus custos”.

“Precisávamos de fazer alguma contenção se queríamos que o negócio continuasse a funcionar, porque a alternativa é sempre fechar completamente. Não desistimos da ideia de abrir qualquer coisa na Taipa e de estarmos um pouco mais próximos dos nossos clientes regulares e mais fiéis, pelo que continuamos com esse propósito de abrir outro estabelecimento na Taipa que possa servir os clientes que lá vivem. Portanto, não há propriamente uma deslocação para o Studio City”, adiantou João Encarnação.

O director e accionista entende que esta mudança acarreta sempre alguma nostalgia. “Temos pena de o ter fechado. Custou-nos, temos realmente muita pena”, confessou. “Era uma decisão que podia ter sido tomada há mais tempo, pelo menos um ano, mas ainda tentámos manter ali o estabelecimento, mas não nos foi possível. Veremos o que o futuro nos reserva.”

Apesar destas mudanças, o Cuppa Coffee pode ser considerado um caso de sucesso. “Funcionou ali durante muitos anos e funcionou bem. Este é um negócio que tem de ter determinadas condições para funcionar porque, como sabemos, tem muito movimento, mas com pouco rendimento relativamente a cada cliente. Trata-se de um negócio que precisa de muitos clientes para se sustentar, e durante muitos anos, ao nível dos valores das rendas e de tudo o resto, fornecedores por exemplo, era bastante mais barato e as coisas funcionavam melhor”, recorda.

A localização na Taipa Velha deu ao Cuppa Coffee “um reconhecimento e uma clientela muito grande”, apesar das crescentes dificuldades. “À medida que os preços foram aumentando, também precisámos de aumentar os nossos preços, mas nunca na proporção do aumento das despesas. Houve uma altura em que não podíamos continuar”, assumiu.

O que o futuro reserva

João Encarnação assegura que aquilo que os clientes sempre procuraram neste espaço vai continuar no Studio City: bons produtos de café e pastelaria, com a presença de Portugal. “Tentamos sempre introduzir produtos novos. Criámos uma bebida nova, à base de café e coco, que é excelente. Introduzimos também o ‘Nata Bomb’, um conceito de batido ‘milkshake’ com sabor a nata, uma verdadeira bomba”, descreveu.

Há também “produtos tradicionais portugueses que não existiam antes, como o pão de louro”, bem como os donuts com sabores diferentes, “para completar a oferta que temos”. “A nossa oferta já é tão variada que, mesmo sem introduzirmos mais produtos, é suficiente para satisfazer os valores dos clientes portugueses e de outros também.”

João Encarnação disse ainda que a mudança do estabelecimento para o Studio City nasceu de um convite. “Não sabemos ainda como vai correr, é uma aposta que estamos a fazer neste momento”, sendo que o objectivo é sempre voltar ao café de rua. “O conceito de ter uma loja de bairro ou na rua é algo que nos interessa muito e já estamos a ver outras possibilidades”, acrescentou.

“Não tenho dados suficientes para, neste momento, lhe dizer que a mudança para o Studio City é ou não uma aposta vencedora. É diferente, tal como o conceito, e vamos ter outro tipo de clientes além dos habituais.”

Um projecto “do coração”

Olhando para trás, João Encarnação conta que, por exemplo, nunca se registaram grandes problemas em matéria de recursos humanos. “Até hoje não sentimos o grande problema da falta de mão-de-obra, nunca foi algo que nos tenha afectado grandemente. Hoje em dia não é tão fácil como antigamente ter quotas [para trabalhadores não-residentes], pois há bastantes locais que precisam de colocação. É capaz de nos ser mais fácil, neste momento, arranjarmos mais trabalhadores locais do que antigamente”, disse, confirmando que as rendas continuam a ser o grande problema para negócios deste tipo.

“O Cuppa Coffee é um projecto do coração e durante a pandemia apercebi-me que ia fechar. Percebi também que estavam a ocorrer uma série de encerramentos, quase em simultâneo, de outros estabelecimentos portugueses. Falei com a minha sócia, que tem muita experiência nesta área, e disse-lhe que gostava de tentar manter o Cuppa Coffee aberto. Ela cedeu ao meu repto e comprámos [à Cristiana Figueiredo], fizemos todos os possíveis para que continuasse exactamente com o mesmo conceito e a mesma qualidade que vinha tendo com a Cristiana, que fez um excelente trabalho na criação e crescimento do Cuppa Coffee.”

Ultrapassados os anos da pandemia, e numa altura em que Macau enfrenta uma quebra no consumo local, João Encarnação diz que “cumpre um bocadinho à comunidade portuguesa fazer os possíveis para apoiar o esforço que fazemos para que tudo continue aberto”.

“Não falo apenas do Cuppa Coffee, mas também da Trigo D’Ouro, da Manteigaria, dos restaurantes portugueses e do Lord Stow, que não sendo um negócio tipicamente português baseia-se na cultura portuguesa. Todos estes negócios têm de ser alimentados e suportados. Da nossa parte, cumpre-nos manter a qualidade, mas a comunidade portuguesa tem de aproveitar o que existe e apoiar os negócios portugueses”, apelou.

Apesar da quebra do consumo por parte dos locais, João Encarnação diz que se garante um equilíbrio com o consumo dos turistas. “Sentimos um pouco isso [quebra de consumo], mas conseguimos contrabalançar com as ofertas que fazemos e que satisfazem o gosto dos chineses locais e dos visitantes. Mas claro que isso [quebra de consumo] tem, naturalmente, impacto nos negócios, não apenas nos portugueses, e isso vê-se na cidade. Mas penso que ainda há alguma massa crítica para manter os negócios portugueses abertos”, rematou.

17 Jun 2025

Empreendedorismo | Evento para empresas locais quer captar “investidores anjo”

Macau acolhe hoje um evento destinado a captar os chamados “investidores anjo” para projectos locais de empreendedorismo. O “Macau Angel Investor Network” decorre no “The Macao Young Entrepreneur Incubation Centre” e pretende dar apoio a projectos empresariais emergentes ou simplesmente startups que estão a dar os primeiros passos

 

Chama-se “Macau Angel Investor Network”, qualquer coisa como “Rede de Investidores Anjo em Macau” e pretende aproximar residentes que desejam ser empresários de sucesso e criar os seus próprios negócios numa economia que se quer diversificada. O evento está marcado para hoje no Da Hengqin Development Center, no número 517 da Avenida da Praia Grande, Edifício Comercial Nam Tung, entre as 11h e as 12h30, e conta com diversas personalidades ligadas à economia local, mas não só. São eles Raphael Chan, vice-director da Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), Paulo Andrez, presidente emérito da “European Business Angel Network” e ainda figuras como Emanuel Soares, consultor jurídico, U Man Fai, investidor-anjo para a zona da Grande Baía e partner/fundador do “Esencia Fund” e ainda Ung Choi Kun, ex-deputado à Assembleia Legislativa e presidente da Kun Cheong Holding ltd e também ele um “investidor-anjo”. O evento é desenvolvido pela Associação para o Empreendedorismo e Inovação para Macau, China e Países de Língua Portuguesa, a que está ligado Marco Duarte Rizzolio, sendo co-organizado pela Associação Plataforma Sino-Lusófona de Macau para o Desenvolvimento Sustentável.

Ao HM, este explicou os principais objectivos que estão por detrás desta iniciativa. “Queremos conectar investidores anjo a startups e pequenas e médias empresas (PME) locais, fomentando o ecossistema empreendedor e promovendo a diversificação económica de Macau”. Por sua vez, Alvin Fong, também ligado à organização deste evento e presidente da Direch International, defendeu que se pretende “criar uma plataforma que reúna o conhecimento sobre investimentos-anjo, ajudando na diversificação da economia de Macau”.

Segundo Rizzolio, “os investidores anjo, que investem capital próprio em empresas emergentes, são fundamentais para apoiar startups em estágios iniciais onde as possibilidades de financiamento são mais escassas no sector financeiro tradicional”.

“Além disso”, frisou, a rede de contactos que hoje decorre na Avenida da Praia Grande “procura aproximar investidores dos países de língua portuguesa e da China, criando um acesso mútuo aos melhores projectos desenvolvidos nessas regiões e reforçando Macau como um elo estratégico entre o Oriente e o Ocidente”.

Para Alvin Fong, este é o “momento oportuno” para a realização de um evento desta natureza, tendo em conta que “o mundo está a passar por muitas mudanças e novas oportunidades estão a surgir”.

Segundo Marco Duarte Rizzolio, até já ocorreram, em Macau, eventos anteriores na tentativa de captar investimentos anjo, “mas esta é a primeira vez que se pretende criar uma rede de ‘Business Angels’ em Macau com investidores chineses e de países de língua portuguesa”.

“As condições para realizar este evento agora surgem de vários factores, como o crescimento acelerado da inovação e tecnologia, a maior digitalização e o uso de software nos negócios, a necessidade de diversificar a economia local, o foco crescente na Grande Baía como um polo de inovação”, disse.

Em causa, estão também factores como “o esforço conjunto de entidades públicas e privadas em criar um ambiente favorável ao empreendedorismo”, algo que foi muito potenciado pelos anos de pandemia, defendeu, por ter trazido a Macau e às autoridades “uma nova compreensão sobre a importância de apoiar negócios locais e regionais, tornando este momento particularmente estratégico”.

Quem é quem

Para a sessão de hoje foram convidados “empresários e empreendedores de sucesso, alguns dos quais são líderes nas suas áreas”, sendo que a sua “experiência e inteligência acrescentam muito a este evento”, destacou Alvin Fong.

Já Marco Duarte Rizzolio, frisou que estarão presentes “pessoas interessadas em tecnologia e inovação, incluindo alguns investidores anjo, representantes de fundos de capital de risco, empresários de renome e especialistas em inovação e desenvolvimento empresarial”.

A sessão de hoje trata-se de uma “oportunidade para obter conhecimentos valiosos e ampliar a rede de contactos”, sendo que Marco Duarte Rizzolio destaca personalidades como Paulo Andrez, “reconhecido especialista internacional em empreendedorismo, inovação e investimento anjo”, ou ainda Ung Choi Kun, “figura proeminente em Macau nos sectores do imobiliário e da educação, sendo também investidor anjo em várias empresas”.

Questionado sobre as principais áreas em que se foca esta iniciativa, Rizzolio acrescenta que o acontecimento está voltado para “startups e PME que actuam em sectores como a tecnologia, o turismo inteligente, a economia verde, saúde, educação digital, logística ou finanças”, por se tratarem de “sectores com alto potencial de crescimento e que estão alinhados tanto nas necessidades locais”, nomeadamente na estratégia de diversificação económica “1+4” ou ainda “as tendências globais”.

“Queremos identificar empresas inovadoras que possam prosperar não apenas em Macau, mas também na Grande Baía e em mercados internacionais”, acrescentou este responsável que está também ligado à organização do concurso de startups e empreendedorismo, o “929 Challenge”.

Momento certo

Para Alvin Fong, Macau apresenta actualmente potencialidades para a conexão de projectos empresariais às cidades da Grande Baía, todas elas situadas na província de Guangdong.

“Macau tem muita liberdade e flexibilidade para experimentar novas ideias. Além disso, recebemos muitos turistas de todo o mundo. Sendo uma das onze cidades da GBA, Macau é, de facto, uma excelente plataforma”, frisou. Por sua vez, Marco Duarte Rizzolio fala em “características únicas” do território, “como a sua posição como ponte entre a China e os países de língua portuguesa, um ambiente regulatório estável e incentivos fiscais e financeiros que podem atrair investidores e startups”.

Existe ainda “o aumento do foco na diversificação da economia além do sector do jogo”, verificando-se “um terreno fértil para inovação e novos negócios”.

“Num cenário global de taxas de juro baixas, mercados de capitais com alguma fricção geopolítica, o investimento em tecnologia tem apresentado múltiplos incomparáveis face a outros activos. Nesse contexto, a criação de mais incentivos financeiros e o fortalecimento de programas de apoio a startups são passos cruciais”, destacou o co-criador do evento.

Grande concorrência

Apesar das potencialidades, persistem os desafios, tendo em conta que “Macau não tem muitas vantagens além do sector do jogo”, existindo “uma concorrência intensa na Grande Baía”, alertou Alvin Fong.

Para Marco Duarte Rizzolio “os desafios são significativos”, pois “a transição de uma economia tão dependente do sector do jogo para um modelo mais diversificado leva tempo e exige esforços coordenados”.

Há ainda que ter em conta as oportunidades que surgem com a integração da RAEM na ilha de Hengqin, adiantou Rizzolio, que recorda, porém, “os desafios relacionados à competitividade e a adaptação regulatória”.

“Além disso, a remodelação habitacional e comercial exige equilíbrio entre o crescimento económico e a preservação do tecido social local. É essencial criar políticas que incentivem o empreendedorismo e o investimento, minimizando os impactos negativos dessas transformações”, lembrou.

Questionados sobre se as autoridades têm feito o suficiente na captação de investidores-anjo, ambos defendem que há mais trabalho a fazer. “Este é um bom começo, mas mais pode ser feito no futuro”, disse Alvin Fong.

Já Marco Duarte Rizzolio, referiu que “o Governo da RAEM tem feito esforços importantes”, além de mencionar “várias vezes a necessidade de criar uma rede de ‘Business Angels'”.

“Macau tem apoiado muitas iniciativas que visam estimular o investimento. É verdade que a criação de mais incentivos financeiros e o fortalecimento de programas de apoio a startups são passos cruciais. Também é necessário promover Macau de forma mais activa como um destino atractivo para investidores, destacando as suas vantagens competitivas no cenário internacional. Este evento é um exemplo de boa colaboração entre o sector público e privado para estimular o ecossistema”, defendeu Rizzolio.

Destaque ainda para o facto de o evento de hoje se realizar em estreita conexão com a 369, uma entidade que pretende transformar-se “num hub internacional de ciência e tecnologia em Macau, dando às novas gerações um palco maior de exploração” de oportunidades, disse Alvin Fong, presidente desta entidade. Marco Duarte Rizzolio salientou que estamos perante “uma incubadora do ecossistema de Macau que tem organizado vários eventos”.

16 Jun 2025

Consulado | Sara Augusto apresenta livro e exposição sobre Camões

“Vasto Império do Coração” é o título do livro que Sara Augusto apresenta na próxima quarta-feira. A obra, acompanhada por uma exposição focada na presença de Camões em Macau, faz parte do cartaz de celebrações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas

 

Macau continua a celebrar a portugalidade e o poeta maior da língua portuguesa, Luís de Camões, com vários eventos e protagonistas. Desta vez o foco é, novamente o poeta, mas a iniciativa nasce de Sara Augusto, académica, docente de português na Universidade Cidade de Macau e também fotógrafa.

“Vasto Império do Coração” é o verso de António Couto de Viana que dá nome ao livro e exposição será apresentada na próxima quarta-feira, 18 no Auditório Stanley Ho, no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. A mostra composta por 12 imagens de Sara Augusto, fica também patente no mesmo local.

Ao HM, Sara Augusto explica que a escolha do nome para a obra e exposição “tem a ver com a sonoridade do verso”. “O poema a que pertence é um poema atormentado, que faz contrastar a imensidade da obra de Camões como um país que não corresponde às expectativas do sujeito poético. Mas não foi o sentido do poema que me interessou, foi este verso em particular que me parece relacionar-se com a vocação para as viagens marítimas e sobretudo com a expansão da língua portuguesa. Camões, como um dos poetas mais celebrados na nossa língua, representa esse vasto poder de uma língua, capaz de expressar latitudes e culturas diferentes como mostra a riqueza da literatura lusófona”, explicou.

“Vasto Império do Coração” resulta do trabalho desenvolvido por Sara Augusto para um congresso. “Esse trabalho foi depois mais desenvolvido e apresentado num colóquio em Pequim, organizado também pelo Instituto Português do Oriente, no âmbito da celebração dos 500 anos do nascimento do poeta. Desta apresentação veio a ideia de publicar um volume com uma antologia de textos, um estudo e registo fotográfico, ambos da minha autoria.”

Testemunhos poéticos

A obra em causa é uma antologia que “recolhe registos poéticos de visitantes, de escritores portugueses que residiram em Macau algum tempo e de escritores nascidos em Macau, revelando laços que celebram, se identificam e que inscreveram Camões na memória colectiva”.

Sara Augusto adianta que “o conjunto de textos abrange pouco mais de dois séculos” e o ponto de partida é o poema “Camões”, de Almeida Garrett, “que se tornou o modelo da imagem romântica do poeta solitário, escrevendo os seus versos no cenário da gruta”.

“Este modelo foi levado à letra no século XIX e em grande parte do século XX. O livro ‘A Gruta de Camões’ de Monsenhor Manuel Teixeira foi uma fonte importante, tal como a consulta dos cinco volumes da antologia ‘De Longe à China’, além de uma pesquisa demorada na Biblioteca Pública de Macau. A antologia contém poemas de Miguel Torga, Sophia, José Augusto Seabra, José Jorge Letria, por exemplo. Outros poetas portugueses visitaram e viveram algum tempo em Macau, como António Manuel Couto Viana, José Valle de Figueiredo, ou ainda Alice Vieira e Eugénio de Andrade”, explicou Sara Augusto.

O lugar de Adé

A autora destaca que “foi muito importante a poesia de inspiração camoniana de José dos Santos Ferreira, Adé, que chegou a traduzir poemas de Camões para patuá, ou ainda a poesia de José Joaquim Monteiro, Leonel Alves, Maria do Rosário Almeida, António Correia, Fernanda Dias, Josué da Silva, António Bondoso, José Maria Bártolo”.

Depois, já no século XXI, “o tema camoniano continuou, tomando formas distintas e mais elaboradas, como acontece com Fernando Sales Lopes, Jorge Arrimar, António Mil-Homens e ainda Carlos Morais José”, este último um nome que Sara Augusto considera “incontornável”, tendo em conta o romance “O Arquivo das Confissões”.

As imagens na exposição são a preto e branco e focam-se “no jardim e na gruta de Camões”, pretendendo “acompanhar o registo poético”. Com os dois projectos, a responsável quis “participar da celebração dos 500 anos do nascimento de Camões e apresentar um acervo de forma organizada, acompanhado de um estudo”.

Além disso, “pretendeu-se reunir a poesia que fala de Camões, mas também a imagem subjectiva de um registo fotográfico”, disse.

12 Jun 2025

G-Dragon | Deputados exigem maior verificação de ilegais

A descoberta de trabalhadores ilegais nos postos de venda do concerto do rapper e compositor G-Dragon, em Macau, levou os deputados a manifestarem-se ontem no hemiciclo, no período de antes da ordem do dia, exigindo maior fiscalização nesta matéria.

O deputado Lei Leong Wong diz ter recebido “várias queixas de trabalhadores de diversos sectores que alegam que há muitos trabalhadores ilegais” no território, nomeadamente “‘fotógrafos acompanhantes’ nas redes sociais do Interior da China, que têm ‘licenças especiais de condução’ e aproveitam para o exercício ilegal da actividade de transporte”. Lei Leong Wong lembrou que “registou-se um caso suspeito de trabalho ilegal numa zona de venda de lembranças, durante um concerto realizado em Macau por um cantor muito famoso da Coreia do Sul, o que despertou a atenção de Macau e das regiões vizinhas”. Para o deputado, “todas estas situações, além de prejudicarem gravemente os direitos e interesses dos trabalhadores locais, podem ainda afectar as estratégias e o planeamento do desenvolvimento económico de Macau”.

Também Leong Sun Iok recorreu a este tema para intervir, dizendo que “num concerto realizado recentemente, terão sido contratados 68 trabalhadores ilegais para a venda de lembranças”, num caso que envolveu “estudantes universitários a estudar em Macau e trabalhadores a exercer funções não autorizadas”. Segundo o relato do deputado, “houve mesmo quem afirmasse ser voluntário para fugir às responsabilidades, caso que despertou a atenção da sociedade”.

Para Leong Sun Iok, “o problema de trabalhadores ilegais tem vindo a reduzir o espaço de sobrevivência das empresas cumpridoras da lei e dos trabalhadores locais”.

12 Jun 2025

Ka-Hó | Wang Sai Man sugere optimização de terminal

O deputado Wang Sai Man defendeu ontem, no período de interpelações antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa (AL), que são necessárias reformulações no terminal de Ka-Hó, em Coloane. Na sua visão, é necessária “uma inspecção sanitária regular e abrangente”, sendo que o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) “só pode inspeccionar produtos de carne não congelada, como lacticínios e enlatados, em determinados períodos de tempo, e não pode tratar dos produtos de carne congelada que chegam através da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau”. Trata-se de algo que “afecta a eficiência logística, provocando a perda de clientes”.

“Por outro lado”, destaca Wang Sai Man, “sempre que é içado o sinal de tufão, as empresas têm de rebocar as embarcações atracadas em Ká-Hó para se abrigarem no Porto Interior, e as operações só são retomadas quando o sinal de tufão baixa para 1”, pelo que “durante este período há atrasos na entrega de mercadorias, incluindo a aérea, e a mercadoria congelada não é inspeccionada a tempo, o que resulta em perda de tempo e dinheiro”. Além disso, “como a Ponte-Cais de Ká-Hó está longe do centro da cidade, o transporte dos contentores para o armazém é demorado, o que aumenta os custos de combustíveis”.

Assim sendo, Wang Sai Man pede ao IAM que “melhore, o mais rápido possível, as instalações do posto de inspecção do Teminal de Ká-Hó, ajuste os recursos humanos para prestar serviços de inspecção que abrangem as mercadorias da cadeia fria por via marítima e importados através da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, evitando o impacto das actuais disposições do referido Terminal, a fim de responder às necessidades reais do sector”.

12 Jun 2025

Droga | “Space Oil” passa a estar integrado na lei

Os deputados aprovaram ontem na generalidade e na especialidade, com carácter de urgência, a revisão à lei de 2009 sobre a “proibição de produção, tráfico e consumo ilícitos de estupefacientes e de substâncias psicotrópicas”. O processo incluiu o aditamento de novas substâncias já existentes no mercado, nomeadamente o “space oil”.

Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, referiu que estes aditamentos à lei se devem às novas classificações feitas pelas Nações Unidas, no ano passado. “Confirmou-se que, de entre as 23 substâncias novas, três já estavam sujeitas a controlo na ‘lei de combate à droga’. Porém, as restantes, que correspondem a duas substâncias e 18 precursores, ainda não foram incluídas nas tabelas” da referida lei. Aditam-se ainda “quatro novos tipos de droga”, nomeadamente o “Etomidate [Space Oil] e suas três substâncias análogas Metomidate, Propoxate e Isopropoxate, as quais, apesar de não estarem sujeitas a controlo internacional, constituem uma ameaça grave à segurança da saúde pública”.

Wong Sio Chak referiu que o “space oil” já é regulado no interior da China desde Outubro de 2023, enquanto o Metomidate, o Propoxate e o Isopropoxate o são desde Julho do ano passado. No caso de Hong Kong, esse controlo existe desde Fevereiro.

Este foi um dos pontos destacado pelos deputados: a lentidão do processo para aditar estas novas substâncias à legislação em vigor. “Porque somos os últimos a combater as novas drogas? Os nossos trabalhos são lentos em comparação com as outras regiões, como podemos aperfeiçoar isso?”, questionou Ron Lam U Tou. O secretário garantiu que o atraso se deve ao próprio mecanismo de produção de leis.

“No Interior da China [o processo faz-se] através de uma ordem do Conselho de Estado, tratando-se de uma medida administrativa para controlo de substâncias, e em Taiwan há uma comissão para assuntos de saúde em que basta emitir uma ordem. Em Hong Kong, também basta emanar um documento, mas no nosso caso tem de haver a aprovação legislativa no hemiciclo”, adiantou.

12 Jun 2025

Deputados continuam a questionar situação dos trabalhadores de casinos-satélite

A semana arrancou com novidades em relação ao fecho dos casinos-satélite, tendo sido anunciado pelo Executivo o encerramento dos 11 espaços até 31 de Dezembro deste ano, além de que a Melco e SJM Resorts vão encerrar os casinos-satélite, Mocha Clubs, relocalizar mesas de jogo e trabalhadores, entre outras medidas.

A pensar nos trabalhadores e nos possíveis cenários de desemprego, vários deputados recorreram ontem ao período de interpelações antes da ordem do dia para apelar à protecção laboral. Em causa, estão 5600 trabalhadores.

“As concessionárias do jogo manifestaram publicamente que os trabalhadores afectados iam continuar a trabalhar noutras empresas por si detidas, e algumas concessionárias afirmaram que iam convidar os trabalhadores locais das empresas [casinos-satélite] para candidatura a lugares adequados. Mas não referiram se serão afectados os trabalhadores dos hotéis que não pertencem aos casinos. Em caso afirmativo, que medidas vão ser tomadas pelo Governo e pelas concessionárias do jogo?”, questionou Ron Lam U Tou.

O deputado diz que, “face à actual situação insatisfatória de emprego em Macau, duvida-se muito que as concessionárias do jogo tenham capacidade para absorver mais de 5000 trabalhadores”.

Questões e mais questões

Também a deputada Ella Lei duvida da relocalização efectiva de todos os trabalhadores, destacando que muitos deles “receiam que as concessionárias do jogo não tenham vagas suficientes”, pelo que “o Governo deve exigir a todas as concessionárias e às empresas com postos de trabalho correspondentes que providenciem postos para a contratação prioritária dos trabalhadores em causa e definam, com antecedência, medidas para lhes assegurar emprego”.

Ho Ion Sang, por sua vez, referiu que, no ano passado, a taxa de desemprego foi de 1,8 por cento, sendo que, no caso dos residentes, o desemprego foi de 24 por cento.

“Para além do problema do desemprego estrutural dos idosos e das pessoas de meia-idade, com baixas qualificações técnicas ou baixas habilitações académicas, actualmente, a questão da elevada escolaridade e da baixa empregabilidade merece a nossa atenção, porque algumas pessoas têm dificuldade em arranjar um emprego permanente, por isso, só podem trabalhar a tempo parcial. Mais, no final do ano, o encerramento de 11 casinos-satélite vai afectar o emprego de um grande número de trabalhadores locais”, disse.

Em declarações ao Jornal do Cidadão, o deputado Nick Lei também exigiu a supervisão a longo prazo da situação laboral dos trabalhadores dos casinos-satélite, lembrando também o impacto nas lojas das zonas adjacentes, 320, que incluem 800 empregados.

12 Jun 2025

Cheques pecuniários | Governo fala de consenso e afasta acusações

Foi ontem votada na generalidade, na Assembleia Legislativa, a proposta de revisão orçamental para este ano, com as mudanças na atribuição dos cheques pecuniários a fazeram parte do debate. Vários deputados acusaram o Governo de não ouvir a população, mas o secretário Tai Kin Ip afirma que houve “consenso da sociedade”

 

“De repente as regras mudam, não sabemos qual o objectivo do plano de comparticipação pecuniária, que pode ser cancelado no próximo ano. Peço ao Governo que apresente uma posição clara, porque agora, de repente, há a obrigatoriedade de estar em Macau durante 183 dias.”

A crítica é do deputado Ron Lam U Tou e resume bem o debate de ontem em torno desta matéria, integrado na votação, na generalidade, da proposta de revisão orçamental para este ano. No essencial, o orçamento foi revisto com a estimativa em baixa para as receitas brutas do jogo, com menos 12 mil milhões de patacas face ao estimado no final do ano passado. Todos os deputados votaram a favor da revisão orçamental, à excepção de Ron Lam U Tou, que se absteve. “Não consegui ouvir fundamentos que me convencessem, porque não houve uma consulta pública sobre as regras para o plano de comparticipação pecuniária”, justificou.

O coro de vozes dos deputados que acusaram o Governo de não ouvir a população em relação aos cheques fez-se ouvir, mas Tai Kin Ip, secretário para Economia e Finanças, afastou as críticas. “Tal resulta de um consenso obtido junto da sociedade desde o início do ano. Ficaram definidos os montantes [a atribuir], mas quanto à forma de atribuição, auscultámos a sociedade e chegámos a um consenso. Todas as excepções estão no regulamento administrativo, e esta medida é uma forma de utilização mais adequada do nosso erário público.”

Os pobres do exterior

A deputada Loi Choi In salientou a situação dos residentes com uma posição económica mais vulnerável que vivem fora de Macau por diversos motivos. “Recebemos muitas opiniões da população, questionando se há um calendário para a mudança do plano. Há pessoas que não têm casa em Macau e que, por motivos familiares, têm de viver fora, em Hong Kong por exemplo, ou até porque não encontram trabalho em Macau.”

Para a deputada, “as pessoas querem que o Governo dê o alerta com alguma antecedência, e agora nada podem fazer”. “Há pessoas para quem esse montante é muito, e que antes contribuíram muito para a nossa sociedade”, acrescentou.

12 Jun 2025

10 de Junho | Alexandre Leitão destaca fim das listas de espera no Consulado

Realizou-se ontem, na residência consular na Bela Vista, a habitual cerimónia de celebração do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. Alexandre Leitão, cônsul, destacou o fim das listas de espera no Consulado e a modernização de alguns serviços, referindo que Portugal está pronto para promover laços económicos mais fortes com a RAEM

 

Depois de anos em que renovar o cartão de cidadão ou o passaporte poderia constituir um pequeno grande problema para cidadãos portugueses a residir na RAEM, eis que esse assunto parece estar resolvido. Alexandre Leitão, Cônsul-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, mostrou ontem ser um homem satisfeito ao falar dos últimos feitos conseguidos no funcionamento do Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, isto a propósito das comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas.

“Depois de dois anos de intensa concentração na normalização dos serviços consulares, eliminámos listas de espera no domínio da emissão de cartões de cidadão e passaportes”, referiu.

Segundo Alexandre Leitão, “os utentes voltaram a ter acesso a 90 por cento dos serviços sem obrigatoriedade de marcação prévia, introduzimos meios de pagamento electrónico, reduzimos drasticamente os tempos de resposta e de encaminhamento após a admissão dos processos, e reorganizamos os recursos humanos e procedimentos”.

O cônsul não esqueceu a equipa do Consulado, “que é constituída, quase na íntegra, por macaenses que têm reagido positivamente aos sucessivos desafios que lhes têm sido apresentados”, destacando também que “em 15 meses foram emitidos ou renovados 55 mil cartões de cidadão e passaportes, o que também demonstra a dimensão da comunidade portuguesa de Macau e de Hong Kong”.

Portugal com valor

Assim, o responsável disse poder “com segurança afirmar que o essencial, do ponto de vista estritamente consular, está feito”, mas que pretende apostar no “aprofundamento das relações diplomáticas, económicas e culturais de Portugal com as regiões administrativas especiais” de Macau e Hong Kong.

Dirigindo-se ao Chefe do Executivo em exercício, Sam Hou Fai, Alexandre Leitão lembrou que o governante “tem defendido a aceleração da abertura e da diversificação da economia” local e que, desse ponto de vista, Portugal tem um papel privilegiado a cumprir.

“Portugal tem o mesmo desígnio, o que nos torna, mais uma vez, irmanados num propósito comum: crescer e diversificar as nossas economias, internacionalizando-as para benefício dos nossos povos. As empresas portuguesas estão preparadas para aproveitar a ‘postura mais aberta e inclusiva para intensificar laços internacionais e aumentar a projecção e atractividade globais e o renome de Macau como metrópole internacional'”, citou, destacando que “todos, na RAEM, estão conscientes do contributo das empresas e dos trabalhadores portugueses para o crescimento e qualidade dos serviços da economia de Macau”.

O cônsul foi claro ainda ao dizer a Sam Hou Fai que “pode contar com a comunidade portuguesa para participar activamente no ambicioso desígnio de diversificação económica da RAEM”.

Alexandre Leitão não esqueceu o último grande investimento chinês em Portugal, nomeadamente em Sines, por parte da CALB – China Aviation Lithium Battery, sendo “o maior da década”, o que “demonstra a confiança das grandes empresas chinesas e do mundo na qualidade e capacidade de Portugal como destino preferencial de investimento”.

Camões, o grande

Tendo em conta que prosseguem inúmeras comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, Sam Hou Fai trouxe o poeta português para o seu discurso na cerimónia de ontem na Bela Vista. “Os fortes e profundos laços históricos entre Portugal e Macau já são conhecidos por todos, e encontram-se reflectidos neste dia, pois hoje celebra-se também o maior poeta português que viveu uns anos em Macau e fez parte dos primeiros momentos deste encontro histórico de dois povos.”

“Nunca é demais recordar que é por conta deste encontro centenário de culturas, nesta ‘janela para o exterior’ da China, que surge a ‘singularidade’ de Macau enquanto ‘único local do mundo que tem como línguas oficiais o português e o chinês’, como foi expressamente sublinhado pelo Presidente Xi Jinping”, destacou ainda o Chefe do Executivo.

Sam Hou Fai não esqueceu ainda o “empenho e compromisso do Governo da RAEM na concentração de esforços para a construção de uma plataforma de abertura ao exterior de nível mais elevado”, bem como o “reforço da abertura bilateral com a lusofonia e na promoção de uma cooperação abrangente de benefícios mútuos, que enriqueça e alargue ainda mais o papel e as funções de Macau enquanto plataforma sino-lusófona”.

As palavras do Chefe do Executivo referiram ainda a defesa “das características multiculturais de Macau” e na promoção do “desenvolvimento em todas as vertentes, procurando assegurar e melhorar continuamente o bem-estar de todos os residentes de Macau, incluindo as comunidades portuguesas em Macau”.

11 Jun 2025

Mês de Portugal | Bruno Pernadas actua esta sexta-feira na Red House

Bruno Pernadas formou-se em jazz e dá aulas, mas faz da música um só género. Em entrevista ao HM, o músico revela que irá tocar em Macau algo completamente diferente dos discos, que começou a lançar em nome próprio há 11 anos. Na sexta-feira actua em Macau no âmbito de uma digressão pela Grande Baía, numa noite que será animada também por três djs: Sound of Silva, Oba e Tongrim

 

Vem aí mais uma proposta musical integrada no cartaz das comemorações do 10 de Junho – Dia de Camões, Portugal e das Comunidades Portuguesas. A proposta é protagonizada pelo músico português Bruno Pernadas, que vem a Macau, Hong Kong e ao sul da China, nomeadamente Shenzhen e Zhuhai, no âmbito da “Greatest Bay Area Tour 2025”. Na sexta-feira, o músico irá actuar no espaço Red House, no Ascott, a partir das 20h30, acompanhado pelas actuações dos djs Sound of Silva, Oba e Tongrim.

Em conversa com Bruno Pernadas, o músico explica aquilo que o público de Macau poderá ver e ouvir. “A música que trago para esta digressão não é bem a música que está disponível nas plataformas [digitais de streaming], e nas lojas para ouvir. O concerto que vou fazer é a solo, e eu a solo toco coisas que não estão nos discos. Posso até tocar uma ou outra música, mas é uma proposta diferente, é mais experimental, tem mais jazz e características folk também. É uma música pouco rápida, mais contemplativa, toda tocada só no instrumento. Portanto, é completamente diferente dos concertos com formações”, destaca.

Bruno Pernadas formou-se em jazz na Escola Superior de Música de Lisboa, estudou no Hot Club, dá aulas lá e olha para a música de uma forma global, sem distinções. Já assumiu numa entrevista que não se considera cantor, algo que tem a ver com a forma transversal como encara a música.

“Isso tem a ver com a forma como oiço música desde criança, que é um bocadinho diferente da maioria das pessoas que conheci. Não consigo e faz-me confusão associar estilos e géneros musicais. Como oiço música de todos os géneros, para mim é como se não houvesse um género, pois o género é ser música, uma só linguagem”, explicou.

Questionado sobre a diferença entre aquilo que é gravado e tocado ao vivo, Bruno Pernadas explica que procura sempre estabelecer “uma relação”, porque faz “música muito diferente, também dentro da música erudita, e também com a música de cinema e dança”. “Essa música é completamente diferente da que está nos discos, mas é um projecto de que gosto muito e até tenho feito digressões em Portugal com este projecto a solo e com um convidado, na maior parte das vezes”, explicou.

Discos de que se arrepende

Bruno Pernadas tem feito muitas andanças na música, produzindo bandas sonoras para filmes, fortalecendo a sua conexão com o cinema. Destaca-se, neste campo, a banda sonora de “Patrick”, filme de Gonçalo Waddington. Como produtor, trabalhou com Margarida Campelo em “Supermarket Joy”, lançado em 2023. Mas em nome próprio começou há 11 anos: em 2014 lançava “How can we be joyful in a world full of knowledge”, seguindo-se “Worst Summer Ever” lançado em 2016 e, no mesmo ano, “Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them”, que completou a trilogia.

Mais recentemente, em 2021, Bruno Pernadas lançou “Private Reasons”. Hoje olha para trás “de forma positiva”, explicando que, no ano passado, juntou a equipa para celebrar os 10 anos do lançamento do primeiro disco em nome próprio, com uma digressão.

“How can we be joyful in a world full of knowledge” demorou um ano e meio a gravar e, segundo Bruno Pernadas, deu-lhe uma linguagem de que só se apercebeu “quando o álbum foi terminado”. “Durante o processo não sabia muito bem como ia ser o resultado final. Sabia, mais ou menos, por onde tinha de ir para chegar lá, mas não sabia mesmo como é que ia ficar. Depois sabia que ia fazer mais um álbum para dar continuidade a essa linguagem que tinha inventado, porque é uma mistura de várias linguagens, mas não é nada forçado. Vou seguindo, improvisando”, descreveu ainda.

Bruno Pernadas assume que quando tocou, no ano passado, músicas dos três primeiros álbuns que fez em nome próprio, descobriu que havia músicas que já não lhe faziam sentido. “Quando tive de fazer o exercício de voltar a reproduzir ao vivo, havia muitas coisas com as quais já não me identificava. Algumas canções, de forma geral, do início ao fim. Tinham componentes melódicas mais próximas da música pop ou folk que já não me dizem muito, e naquela altura fazia sentido”, disse.

O músico diz mesmo que o disco lançado em 2021, em plena pandemia, “Private Reasons” é o trabalho que, hoje em dia, lhe diz menos. “É muito pop. Com esse é que não me identifico de todo, e é muito mais recente do que o primeiro. Há coisas estranhas que acontecem”. Bruno Pernadas diz mesmo que haveria canções de “Private Reasons” que nem sequer gravaria hoje, nomeadamente a faixa 4, “Theme Vision”, que até teve direito a videoclip. “Posso ter a certeza que jamais lançaria a ‘Theme Vision’”, esclareceu.

Estúdio e Palco

Bruno Pernadas assume: “nem sequer gosto de estar em estúdio”. “Na verdade, gosto mesmo do processo criativo e de quando se consegue encontrar mesmo o resultado. Durante a minha vida evitei ir a estúdios, e só vou quando é mesmo preciso. Só a ideia daqueles produtores e compositores, que são mais produtores, que estão num estúdio sem janelas durante metade da sua vida, para mim não dá. É impensável. Era incapaz, pois tenho de trabalhar num sítio com a luz do dia”, referiu.

Há, porém, uma coisa de que Bruno Pernadas gosta muito: de cinema, estabelecendo uma profunda conexão com a música que faz. “Penso nos discos como se fossem filmes, mas não é como se fosse música para um filme. É mesmo como se fossem filmes, no sentido em que penso num grupo de pessoas que vai participar no disco. Quando estou a escrever parte de uma música já sei que é aquela pessoa que vai gravar e tocar, e já estou a escrever para ela, tal como alguns realizadores escrevem a pensar num determinado actor.”

“Desde criança que vou ao cinema, e sei que há realizadores que normalmente acham que percebem mais de cinema do que todas as outras pessoas, mas isso é um erro, porque no meu caso, não acho que perceba mais de música em relação às outras pessoas. Claro que de acordo com uma linguagem técnica, mantenho esses conhecimentos”, rematou.

Antes de actuar em Macau, Bruno Pernadas passa pela cidade de Shenzhen na quinta-feira, seguindo-se espectáculos em Zhuhai e Hong Kong, este último no domingo. Em relação à região vizinha o músico diz ter “muita curiosidade”, até pelo cinema, sobretudo o trabalho do realizador Wong Kar Wai. “Sempre vi mais filmes em cantonês. Do cinema feito na China, só conheço os grandes clássicos”, destacou.

O trabalho de Bruno Pernadas é conhecido no Japão, e nesta digressão o músico português marca também presença no país. “O que aconteceu é que os meus discos começaram a sair em algumas revistas do Japão e, passado pouco tempo, a maior distribuidora do país quis começar a distribuir os meus discos. E assim começou esta história que está por terminar. Depois propus fazer um concerto. Já estive duas vezes no Japão, mas desta vez vou tocar na Expo Osaka 2025”, concluiu.

10 Jun 2025

Casinos-satélite | Governo diz que impacto de encerramento será controlado

É oficial: os 11 casinos-satélite vão mesmo encerrar portas até 31 de Dezembro deste ano, sendo que a Melco e a Sociedade de Jogos de Macau anunciaram já os planos de reestruturação. No tocante aos trabalhadores afectados, o Governo apresenta números inferiores aos já referidos por deputados e associações: 5.600. Espera-se ainda algum impacto nas PME, mas sem grande consequência para bancos

 

Depois de muita especulação, eis que finalmente as autoridades e as operadoras de jogo anunciaram o que de facto vai acontecer com os 11 casinos-satélite operados no território. Vão todos fechar, sendo que a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) Resorts e a Melco já definiram os planos para o que se segue [ver texto secundário], que inclui aquisições do L’Arc e da Ponte 16, bem como a transferência de trabalhadores e máquinas de jogo.

O Executivo apresentou ontem, em conferência de imprensa, números de trabalhadores afectados com o fecho dos casinos-satélite abaixo dos já referidos por associações do sector. Serão, afinal, 5.600 e não mais de dez mil como disseram alguns deputados ligados a estas entidades, sendo que, deste bolo, 4.800 trabalhadores foram directamente contratados pelas operadoras de jogo, pelo que, se o casino-satélite fechar, poderão ser integrados nos seus quadros. Os restantes, 800, foram contratados directamente pelos próprios casinos-satélite. Existem ainda 400 trabalhadores não residentes (TNR) envolvidos neste processo. No que diz respeito aos Clubes Mocha, contam-se 300 trabalhadores locais e 50 TNR.

Tai Kin Ip, secretário para a Economia e Finanças, disse que “os dados foram recolhidos por diferentes meios”, mas que os cálculos do Governo “são oficiais”. “Como os outros meios chegaram a estes dados, não sei”, acrescentou.

Questionado sobre o apoio a estes 800 trabalhadores, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, explicou que “os proprietários dos casinos-satélite têm a responsabilidade de garantir a relação de trabalho destas pessoas”.

“No caso dos 4.800 contratados pelas concessionárias, como é o caso dos croupiers ou funcionários de tesouraria, podem voltar a trabalhar nos casinos destas concessionárias. Em relação aos 800, as concessionárias garantiram ao Governo que se estes tiverem problemas de emprego podem absorvê-los e fornecer postos de emprego adequados nas propriedades das concessionárias”, frisou.

A deputada Song Pek Kei chegou a falar da possibilidade de existirem cerca de 15 mil desempregados, enquanto Nick Lei, numa intervenção plenária, afirmou que, entre os casinos-satélite e lojas associadas, existiam “13.500 trabalhadores”, representando “4,6 por cento do total da força laboral de Macau”.

Possibilidade de reconversão

Em relação às pequenas e médias empresas (PME) situadas nos bairros que vão deixar de contar com estes casinos-satélite, nomeadamente em zonas como o Porto Interior, ZAPE, NAPE ou Doca dos Pescadores, o Governo prevê algum impacto, mas controlado. São, no total, 320 lojas que funcionam nas imediações com 800 trabalhadores, sendo que “cerca de 400 trabalhadores terão outra situação de emprego segundo a reconversão das lojas”, disse o secretário Tai Kin Ip.

Essencialmente, e após realização de vistorias por parte do Governo, metade das 320 lojas “serão afectadas directamente pelo fecho dos casinos-satélite, como as casas de penhores, lojas de venda de telemóveis, restaurantes e joalharias”. Porém, Tai Kin Ip destacou que haverá outras que não sofrerão grande impacto por dependerem de vendas a residentes.

Acima de tudo, o governante destacou que este cenário até pode constituir uma oportunidade. “Vai ser um desafio e uma oportunidade para a reconversão das lojas. As lojas tradicionais que têm uma relação próxima com os clientes dos casinos satélite têm de se reconverter. Vamos preparar apoios para as lojas que têm interesse em operar de outra forma, como os restaurantes ou lojas a retalho”, explicou.

Destaque para o facto de a consultora de hotelaria Savills ter referido, em Março, que o fecho dos casinos-satélite iria desvalorizar os hotéis em 60 por cento e provocar maior incumprimento aos bancos por parte das PME, com obrigações de crédito à banca avaliadas entre 25 e 39 mil milhões de patacas.

Tai Kin Ip desvalorizou esse cenário. “Do conhecimento que temos, os empréstimos concedidos a casinos-satélite envolvem menos de 1 por cento de toda a actividade de empréstimos bancários, e verificamos que os riscos são muito limitados para o funcionamento dos bancos. Em termos de indicadores de supervisão de riscos na indústria financeira, como fluxo de capitais e outros, o comportamento dos bancos será seguro e estável.”

Quanto às PME, Tai Kin Ip disse que a Autoridade Monetária e Cambial de Macau está a “acompanhar de perto a situação junto dos bancos para atenuar a recuperação dos clientes”, tendo o secretário adiantado que, em Abril, foram injectadas “dez mil milhões de patacas para empréstimos às PME, atenuando as suas pressões”.

Questionado sobre o “timing” de apresentação destas medidas, André Cheong disse que é a altura certa. “Tudo depende das decisões das concessionárias e recebemos agora oficialmente a decisão. Este é um problema que tem a ver com vários casinos e um número considerável de trabalhadores, e não queríamos que apenas no final do ano estes soubessem da sua situação. Faltando seis meses para terminar o período de transição entendemos que esta é a fase indicada para anunciar”, rematou.

Sem impacto nas receitas

Tendo em conta a revisão orçamental para este ano com menos 12 mil milhões de patacas na previsão das receitas de jogo, André Cheong garantiu que o fecho dos casinos-satélite não terá grande impacto no panorama geral das receitas.

“Fizemos a revisão orçamental com menos 12 mil milhões de patacas devido à falta de consumo. Acreditamos que o encerramento dos casinos satélite não traz grande impacto às receitas do jogo”, disse.

O secretário frisou ainda que, quanto à intenção da SJM Resorts de adquirir os empreendimentos Ponte 16 e L’Arc, a concessionária “tem de concluir esse procedimento de aquisição até 31 de Dezembro, e se não conseguir comprar até lá esses casinos-satélite [que operam nos empreendimentos] têm de encerrar”.

9 Jun 2025

Creative Macau | Nova exposição de Miguel Quental com imagens de Goa

Depois da primeira exposição de fotografia na Universidade de Macau, Miguel Quental volta a mostrar imagens da sua autoria, mas desta vez sobre Goa. A mostra é acolhida a partir de sábado na Creative Macau e pretende mostrar ao público a “rica herança de cores vibrantes” de um território que, outrora, foi “capital de um império”

 

A Creative Macau acolhe, a partir de sábado, uma nova exposição de Miguel Quental, mais conhecido pelo trabalho na advocacia, mas que desta vez apresenta as suas imagens tiradas em Goa. “Cores de Goa” é o nome da exposição que inaugura a partir das 18h30 deste sábado, apresentando imagens daquela que foi “capital de um império”, de onde restou “uma rica herança de cores vibrantes, aromas, sabores, imagens e crenças que transcendem a nossa imaginação”, descreve o autor das fotos, citado por um comunicado da Creative Macau.

“Em busca desse legado, parti para Goa, mas a experiência foi muito além do que eu poderia esperar. As suas igrejas antigas e outros locais de culto exibem uma beleza cativante, oferecendo uma paz única e transcendente que vai além da espiritualidade a que se dedicam. As casas senhoriais, cheias de história, detalhes e emoção, assemelham-se a damas nobres, majestosas e impassíveis, cheias de arte e memórias”, descreve ainda.

Miguel Quental não esquece também “as ruelas da Velha Goa, Pangim, Margão e o bairro de Fontaínhas, que respiram e nos oferecem um património vibrante e quase magnético, que toca a alma e nos convida a ir além das memórias históricas e culturais que a memória não nos permite esquecer”. “Nesse espírito, partilho algumas das muitas imagens que tirei lá, mas estou ciente de que muito mais resta por descobrir”, destaca o autor, que espera que a mostra “sirva de convite para que a visite em breve”.

Gosto pela imagem

A residir em Macau desde 2002, Miguel Quental já vai na terceira exposição individual. A última foi na Universidade de Macau em Novembro do ano passado, tratando-se de um projecto fotográfico que nasceu de uma viagem de intercâmbio do Centro de Estudos Jurídicos e Judiciais da Universidade de Macau a Angola e Moçambique.

Além de participar na visita na qualidade de docente, Miguel Quental fotografou o dia-a-dia das populações destes países. “Como gosto de fazer fotografia fui tirando algumas imagens durante essas viagens. Este é um Centro que se dedica ao estudo comparativo do Direito e às publicações que se fazem em língua portuguesa na sua relação com a China, e pensei que fosse interessante dar a conhecer a cultura e a forma de viver de Angola e Moçambique para os alunos da faculdade que nunca tiveram acesso a essa realidade”, explicou ao HM na altura.

9 Jun 2025

Cheques pecuniários | Ex-beneficiários defendem melhores critérios de atribuição

Tendo em conta as mudanças ao plano de comparticipação pecuniária, o HM ouviu três residentes permanentes que vão deixar de receber o cheque por não residirem permanentemente em Macau, incluindo uma macaense que nasceu no território. Arnaldo Gonçalves, académico e ex-beneficiário, defende uma melhor distribuição do apoio consoante os rendimentos das famílias

 

As regras para a atribuição dos cheques pecuniários vão mudar e agora é mesmo necessário estar 183 dias por ano no território. As excepções são algumas e prendem-se com estudantes de Macau que estejam a frequentar cursos no estrangeiro ou residentes a trabalhar remotamente para Macau e que estejam inscritos no Fundo de Segurança Social, entre outras situações.

Porém, muitas pessoas vão ficar de fora, ainda que tenham residido durante várias décadas no território ou mesmo macaenses nascidos no em Macau, ou seja, muitos dos membros da diáspora macaense.

No caso de Arnaldo Gonçalves, residente permanente a residir em Lisboa, viveu várias décadas em Macau, tendo trabalhado para o Governo e sido professor universitário na área da ciência política. Há seis anos voltou a Portugal, estando reformado, e contou ao HM que já estava à espera do dia em que ia deixar de receber as dez mil patacas anuais.

“Essa medida visa, no fundo, dar uma contrapartida às pessoas, dadas as dificuldades existentes no consumo e as características de vida. Já não vivo em Macau, e acho que do ponto de vista da equidade, o Governo nunca conseguiu fazer um regime mais justo do ponto de vista distributivo, pois não há um sistema de atribuição pelos rendimentos, e no fundo há multimilionários que ganham o subsídio, tal como os pensionistas, é tudo igual”, lamentou. É isso que Arnaldo Gonçalves diz “lamentar”. “Dá trabalho fazer uma avaliação das posses económicas das pessoas, e assim todos recebem por igual e assim é mais prático em termos administrativos”, frisou.

Maria João Ferreira, macaense de gema, filha do famoso poeta Adé, também vai deixar de receber o cheque pecuniário. Diz compreender, mas também critica as posições do Executivo. “Já estava à espera e aceito com toda a tranquilidade. É justo, uma vez que não moro lá nem tenho hipótese de estar os 183 dias. Agradeço o tempo de cheques que me foi dispensado. Morei em Macau até aos meus 16 anos, mas nasci lá, estudei lá e ainda tenho lá família. Até à pandemia ia lá todos os anos de férias. Penso que sempre devia ter havido uma distinção entre os nascidos em Macau e os que apenas trabalharam lá algum tempo”, referiu.

Maria João Ferreira, actualmente na direcção da Casa de Macau em Lisboa, diz ter ficado “chocada” com um caso muito concreto. “Há uns anos, quando estava a fazer o doutoramento, soube de um funcionário público que fez duas comissões de serviço em Macau e viu-se contemplado com o dinheiro do BIR e até contou, não apenas a mim, que achava engraçado como é que ele, tendo estado lá tão pouco tempo, tinha direito a uma benesse dessas”, frisou.

“Isso é que eu acho mal. Uma coisa é alguém ir fazer uma comissão de serviço na Administração Pública, ou duas ou três, mas nunca foi, de facto, residente. É, por assim dizer, um imigrante, pois vai apenas trabalhar. É assim que vejo as coisas”, acrescentou.

Patacas amealhadas

Para Arnaldo Gonçalves, as dez mil patacas anuais serviam como “fundo de maneio” para viagens ao território, onde ainda tem família e para onde viaja com frequência. “Nunca usei esse dinheiro para fins pessoais, sabe? Mas penso que estas mudanças se tratam de uma boa medida, justificável, e até acho egoísta da minha parte, que estou há tantos anos fora, dizer que tinha direito a esse apoio. Há outras pessoas que precisam”, salientou.

No caso de Maria João Ferreira, o dinheiro do cheque pecuniário era usado também para as despesas em Macau e com as viagens para o território. “Tenho conta em Macau, e quando ia lá, se fosse preciso comprar o bilhete de avião, a minha irmã adiantava-me o dinheiro cá, ou então esse dinheiro servia para custear a minha estadia em Macau”, explicou.

Sofia Mota, residente permanente e ex-moradora em Macau, lamenta a ausência de explicações para estas mudanças. “Depende para que serve o cheque pecuniário, se é uma forma de distribuir a riqueza ou os lucros dos casinos pelas pessoas que fazem parte do território, ou que já fizeram; ou se é uma condição para fazer parte do território. Não percebo a premissa na qual a medida do cheque pecuniário está assente, e consoante a premissa estas alterações podem ser mais ou menos aceitáveis.”

A professora considera que “não faz sentido que quem contribui para a segurança social por iniciativa própria, como é o meu caso, não esteja abrangido”. “Parece que há um sistema de segurança social de primeira e um de segunda. Pessoas que venham a Portugal para prestar cuidados familiares parecem não estar abrangidas e, no entanto, estão fora do território por motivos de força maior. O que se entende por prestar subsistência a familiares, é prestar cuidados? Não se percebe qual a função do cheque e a coerência das excepções”, adiantou.

Sofia Mota confessa que também usava o dinheiro para “um fundo de maneio para ir a Macau, ou para investir em formação”.

As primeiras reacções

As alterações ao programa de comparticipação pecuniário foram apresentadas no final de Maio e referem que três grupos vão ficar isentos da obrigatoriedade de ficar 183 dias por ano em Macau e, assim, receber o cheque. São eles os residentes com menos de 22 anos em 2024 e em que um dos pais cumpre os requisitos para receber o cheque; os beneficiários da pensão de invalidez e os beneficiários do subsídio de invalidez.

Há outras oito situações em que os residentes podem ter acesso ao cheque. É o que acontece quando os residentes frequentam o ensino superior fora do território; quando estão internados num hospital fora da RAEM, quem têm mais de 65 anos e vive no Interior da China ou, mesmo tendo menos de 65 anos, apresentam razões de saúde que justifiquem a permanência no Interior da China. Estão ainda abrangidos pelas excepções os residentes que trabalham fora de Macau para um empregador registado no Fundo de Segurança Social da RAEM e os residentes fora da RAEM que sejam responsáveis pela subsistência do agregado familiar.

A estas juntam-se ainda o exercício de funções oficiais fora de Macau; o registo do domicílio, trabalho ou estudo na Zona de Cooperação Aprofundada; e ainda o trabalho prestado nas cidades de Grande Baía, à excepção de Hong Kong que é deixada de fora.

O deputado Pereira Coutinho manifestou-se contra as alterações ao cheque pecuniário referindo que violam a Lei Básica de Macau, nomeadamente no artigo 25, que garante a igualdade dos residentes de Macau perante a lei e proíbe discriminações. O artigo determina que “os residentes de Macau são iguais perante a lei, sem discriminação em razão de nacionalidade, ascendência, raça, sexo, língua, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução e situação económica ou condição social”.

Mais recentemente, a Associação Sinergia de Macau declarou publicamente que as alterações ao Plano de Comparticipação Pecuniária no Desenvolvimento Económico não estão de acordo com os anseios da população. Ron Lam ainda criticou o Executivo por ter aplicado as mudanças “à pressa” o que só veio causar mais polémica: “O Governo estava com pressa e aplicou uma medida brusca, sem fazer qualquer consulta pública, havendo apenas movimentações de bastidores o que leva a população a questionar a governação”, atirou. “As consultas com as associações locais foram simuladas, o que apenas gerou mais críticas e provocou mais polémicas desnecessárias”, acrescentou.

9 Jun 2025

IDQ / Inspecções | Pereira Coutinho critica suspensão de serviços

O deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre as alterações aos serviços prestados pelo Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade (IDQ), e que têm “implicações para a qualidade e inspecção em Macau”.

Segundo a interpelação, o gabinete de atendimento aos cidadãos do deputado tem recebido muitas queixas de “empresários locais que expressam preocupação em relação à recente decisão do IDQ de suspender a prestação de diversos serviços essenciais”, como é o caso da “inspecção de equipamentos de elevação e a emissão de certificados de inspecção para empresas particulares, bem como para os respectivos projectos de engenharia”.

Esta mudança ocorreu a partir de Março do ano passado, sendo que, para Pereira Coutinho, “sem aviso prévio, esta decisão suscita várias questões sobre a continuidade dos serviços essenciais que garantem a segurança e a qualidade no sector da construção, equipamentos de elevação e engenharia em Macau”.

O deputado questiona também “como será garantido, no futuro, o cumprimento de diversas finalidades do IDQ”.

6 Jun 2025

Ambiente | Macau regista novo máximo de temperaturas em 2024

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental lançou ontem novos dados relativos ao panorama do meio ambiente no território, no Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2024. Os dados não são animadores: registou-se no ano passado um novo recorde máximo de temperaturas, mais chuva e tufões. Gastou-se mais electricidade e água, produziu-se mais lixo e foi recolhido menos resíduos recicláveis

 

Com Lusa

O Governo de Macau, através da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) anunciou ontem que o ano de 2024 voltou a atingir um recorde máximo de temperatura no território, além de que também se registou um aumento de tufões e precipitação.

Segundo o Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2024, a temperatura média no ano passado foi de 23,6°C, precisamente o valor que tinha sido atingido em 2019, o mais elevado desde que começaram os registos, em 1952. A temperatura média de 2024 foi 0,8°C mais elevada do que a média climatérica (média de 30 anos, entre 1991 e 2020), de acordo com o documento elaborado pela DSPA.

Além disso, Macau registou 42 dias considerados como quentes no ano passado, mais 10,7 dias do que a média climatérica, 29 noites quentes, mais 17,5 do que a média, e 29 dias frios, menos 10,1 dias do que a média.

Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) classificam como quentes os dias em que a temperatura máxima é igual ou superior a 33ºC e as noites em que a temperatura mínima é de, pelo menos, 28ºC. Quanto aos dias considerados frios, são aqueles em que a temperatura mínima não excede os 12ºC.

“Com o aquecimento global, a ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos é cada vez mais frequente”, sublinhou a DSPA, no relatório.

Em 2024, Macau foi afectado por sete ciclones tropicais, conhecidos como tufões, e, pela primeira vez, três ciclones tropicais afectaram Macau em Novembro, o último mês da época dos tufões, que começa em Maio.

De acordo com o relatório, a região recebeu no ano passado uma precipitação total de 2.029,2 milímetros, “ligeiramente superior à média climatérica”. A DSPA adiantou também que, desde 1970, o nível do mar em Macau tem subido a uma taxa média de cerca de 3,5 milímetros por ano.

Também a nível mundial, 2024 foi o ano mais quente de que há registos e ultrapassou pela primeira vez os 1,5°C acima do nível pré-industrial, avançou em Janeiro o serviço europeu Copernicus. Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial previu que as temperaturas devem continuar a atingir valores recorde até ao final da década.

Mais pessoas, mais gastos

O relatório da DSPA dá ainda conta de que com a chegada de mais turistas a Macau, houve também mais resíduos e gastos ao nível do consumo de água, por exemplo. “Com a melhoria da economia, o número de visitantes, em 2024, aumentou 23,8 por cento em termos anuais, para quase 35 milhões, tendo recuperado cerca de 90 por cento do nível pré-pandemia. A intensidade turística também registou um certo aumento, tendo o PIB [Produto Interno Bruto] local subido 8,8 por cento. Além disso, houve um ligeiro aumento da população no final do ano.”

Desta forma, acrescenta-se, “em relação aos indicadores ambientais, o crescimento económico e da população conduziu à subida das emissões locais estimadas de gases com efeito de estufa, do volume de água facturada, do consumo de electricidade e da quantidade de resíduos sólidos urbanos, comparativamente com 2023”. “Durante a pandemia, houve uma diminuição nos diversos indicadores económicos e ambientais. No entanto, com a melhoria constante da economia, a maioria desses indicadores voltou a subir”, é explicado.

No que diz respeito ao volume de água facturada, em milhares de metros cúbicos, em 2023 o registo foi de 89.164 e, no ano passado, 94.123, o que constitui um aumento de 5,6 por cento. No tocante ao consumo de electricidade, em milhões de kW/h, em 2023 foi de 5.740, enquanto que em 2024 o consumo passou para 6.030, mais 5,1 por cento. O relatório destaca também as toneladas de resíduos sólidos urbanos produzidos, que em 2023 foi de 501.512, subindo 5,1 por cento no ano passado, para 526.979 toneladas.

Outro dado preocupante ao nível dos resíduos foi a queda, pelo terceiro ano consecutivo, do volume de resíduos recicláveis recolhidos, que passou de uma taxa de 24,5 por cento em 2021 para 21,7 por cento no ano passado. Trocado por miúdos, de todos os resíduos recicláveis gerados em Macau, apenas cerca de um quinto são recolhidos para reciclagem.

No relatório, Ip Kuong Lam, director da DSPA, indica que no ano passado, “com a recuperação económica em curso, observou-se uma maior pressão sobre vários indicadores ambientais, ao mesmo tempo que as alterações climáticas se tornaram mais severas”. Apesar dos resultados, o responsável afirmou que os objectivos passam por “incentivar uma maior participação da população nas iniciativas ambientais e concretizando, em conjunto, a visão de construir uma Macau com baixas emissões de carbono”.

Uma questão de gases

O relatório divulgado ontem pela DSPA dá ainda conta do panorama da emissão dos gases com efeitos de estufa (GEE), tendo-se verificado, no ano passado, um aumento global de “cerca de dez por cento, entre os quais o dióxido de carbono (C02), que representaram 90 por cento”.

Destaca ainda a DSPA que “as emissões estimadas de GEE provenientes das diversas fontes registaram subidas face ao período homólogo (2023), exceptuando os resíduos depositados em aterros, tendo os aumentos mais significativos sido verificados nas emissões estimadas provenientes da produção local de electricidade e dos transportes aéreos”.

Além disso, é referido que, em 2024, a principal fonte de emissão de GEE e CO2 foram os transportes terrestres, seguindo-se a produção local de electricidade, a incineração de resíduos, o comércio, consumo doméstico e os serviços. “As principais fontes de emissão de CH4 [metano] foram os resíduos depositados em aterros e o tratamento de águas residuais, enquanto este último também foi a principal fonte de emissão de N2O [óxido nitroso]”, destaca-se ainda no documento.

A DSPA esclarece, relativamente à tendência da emissão de GEE, que “depois de terem atingido o pico em 2017, as emissões locais de GEE mostraram uma tendência decrescente, ano após ano, tendo alcançado o seu valor mais baixo durante a pandemia”. Porém, com a retoma das actividades económicas e do grande movimento de pessoas, sobretudo “nos últimos dois anos, o volume das emissões estimadas desses gases tem voltado a subir gradualmente”.

O ar que respiramos

Também no que diz respeito à qualidade do ar os dados não são animadores, pois em 2024 “o número de dias com a qualidade média do ar classificada de ‘bom’ ou ‘moderado’ registado nas seis estações de monitorização da qualidade do ar de Macau chegou a 88 por cento, valor ligeiramente inferior ao de 2023”.

Houve, no total do ano, 15 a 34 dias com classificação de “insalubre”, sendo que apenas dois dias obtiveram a classificação de “muito insalubre”.

Segundo a DSPA, “os poluentes detectados nas estações de monitorização do ar foram principalmente ozono (O3) e partículas finas em suspensão (PM2,5)”, enquanto “na Estação da Berma da Estrada (Ká-Hó), foi registado o índice mais alto detectado no ano inteiro, classificado de ‘muito insalubre’, sendo o O3 o poluente principal”.

No ano passado, Julho foi o mês com melhor qualidade do ar, enquanto os meses de Outubro a Dezembro obtiveram a pior qualificação segundo dados das estações de monitorização do ar de Macau.

O relatório revela também que “em termos do cumprimento dos padrões das concentrações de poluentes atmosféricos, em 2024, as concentrações médias anuais de PM10 e PM2,5 registadas nas várias estações de monitorização foram inferiores aos valores padrão”, enquanto “as concentrações médias anuais de dióxido de azoto (NO2) detectadas também se situaram abaixo dos valores padrão, com excepção daquelas medidas na Estação da Berma da Estrada (Macau) e na Estação das Áreas de Alta Densidade Habitacional (Macau)”.

Dados mais optimistas revelam-se ainda “quanto às médias diárias de concentrações de dióxido de enxofre (SO2) e às médias máximas diárias de oito horas de concentrações de monóxido de carbono (CO) verificadas nas várias estações ao longo do ano”, pois “ambas ficaram abaixo dos valores padrão”.

“Em todas as estações houve registo de as médias máximas diárias de oito horas de concentrações de O3 terem excedido os valores padrão em alguns dias. Em relação às concentrações de poluentes atmosféricos registadas nas estações de monitorização, de um modo geral, as concentrações médias anuais de PM2.5 e de NO2 subiram, enquanto as concentrações de PM10 e de CO desceram”, sendo que “como na Estação da Berma da Estrada (Macau) só em 2024 é que começaram a ser monitorizados o SO2 e o O3, não foram feitas comparações”.

6 Jun 2025