Andreia Sofia Silva EventosExposição | Artista local Cheong Kin Man apresenta nova mostra em Lisboa É um percurso criativo com várias localizações aquele que Cheong Kin Man e Marta Sala apresentam em Lisboa a partir de amanhã: primeiro, a mostra “As Espantosas e Curiosas Viagens”, para ver no Centro Científico e Cultural de Macau até 6 de Julho, cujo lançamento é antecedido de uma conversa com os artistas e um lançamento de livros. Depois, na sexta-feira, acontece outro debate no Goethe Institute Imagem de: Guillaume-Galante Há vários anos radicado em Berlim, Cheong Kin Man é um artista e antropólogo visual que nunca deixou a experimentação de lado. Agora, ao lado da também artista polaca Marta Sala, tem-se embrenhado em novos rumos artísticos, os quais, desta vez, desaguam em Lisboa. Tal acontece de múltiplas formas. Primeiro com a mostra “As Espantosas e Curiosas Viagens”, que estará patente no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) entre amanhã e 6 de Julho. Com curadoria de Lorena Tabares Salamanca, da Colômbia, a mostra constitui uma “exposição transcultural que cruza arte, antropologia visual e arquivos pessoais, reflectindo sobre deslocamentos, memória e linguagens”, com a assinatura de Cheong Kin Man, Marta Sale e Deborah Uhde, da Alemanha. O público pode ver “instalações imersivas, peças têxteis, vídeo e auto-etnografias que reconfiguram as relações entre viagem, história e conhecimento”, destaca uma nota de imprensa da Câmara Municipal da Polónia. Na sessão inaugural desta quinta-feira haverá ainda uma conversa com os artistas, que se repete na sexta-feira, mas desta vez na biblioteca do Goethe Institute, em Lisboa, às 18h. Aqui, em “Creating Connections”, decorre uma conversa com os três artistas de “As Espantosas e Curiosas Viagens”, tratando-se de “um encontro íntimo de cariz artístico, em que Deborah Uhde, bem como a dupla Marta Stanisława Sala e Cheong Kin Man, partilharão entre si — e com o público — reflexões sobre as suas práticas e experiências na criação de ligações interculturais através da arte, com destaque para os seus percursos em Berlim e os mais recentes livros de artista”. Estas iniciativas têm o apoio da Embaixada da Polónia em Portugal, do Ministério da Cultura e Património Nacional e do Instituto Adam Mickiewicz da Polónia. Contam ainda com a parceria da Câmara Municipal de Cracóvia e do Instituto Boym, igualmente da Polónia. Fusões e viagens A mostra que agora se apresenta no CCCM traz trabalhos da dupla Cheong Kin Man – Marta Sala, conhecida “pela fusão de tecido, vídeo e experimentações linguísticas”, na qual o público pode “embarcar numa viagem através de mundos paralelos e arquivos pessoais” baseados em três projectos multimédia, como é o caso de “A Bússula da Utopia”, “Apocalipses” e um novo ciclo de vídeos sobre a diáspora macaense. No caso de “A Bússola da Utopia”, trata-se de uma “instalação em bambu e tecido composta por 13 composições têxteis que materializam processos de descoberta cultural e aprendizagem mútua”, sendo que a obra se inspira na “Flora Sinensis” (1656), do jesuíta Miguel Boym, que estudou em Cracóvia; bem como “na musicalidade da poesia cantonense traduzida em formas cromáticas e em motivos auto-etnográficos associados à migração de uma família macaense e às viagens contemporâneas dos artistas”. Por sua vez, a série “Apocalipses”, apresentada pela primeira vez na Bienal de Macau em 2023, “combina texto, têxteis e vídeo numa narrativa de ficção científica”, sendo que o tecido “que integra esta ficção codifica episódios do arquivo familiar polaco, incluindo a migração através das fronteiras do século XX – de Vilnius às estepes da Mongólia e, posteriormente, à Polónia actual”. Destaque também para o facto de a exposição revelar “o projecto cinematográfico experimental baseado em entrevistas dentro da diáspora macaense”, levando o público até ao Brasil, “onde a nostalgia partilhada pela humanidade ecoa em traduções automáticas para diversas línguas”. Há ainda, associadas ao vídeo, a nova publicação intitulada “Entre-vista, Między-wizje. Roz-mowa, Des-locução”, que se apresenta “sob forma de flipbook com glossário luso-polaco, e que desconstrói um excerto da gravação para reflectir sobre cada palavra dita e os limites e possibilidades da tradução”. A sessão no CCCM desta quinta-feira começa com uma visita guiada pelos artistas às 17h, incluindo o lançamento de “Apocalipses”, um novo livro de artistas. No caso de Deborah Uhde, que acompanha a dupla de artistas de Macau e da Polónia, é uma cineasta e artista formada em belas-artes e humanidades, residindo em Berlim. Obteve o seu diploma na Universidade de Arte de Braunschweig (2009–2015). Possui formação em Filosofia, História da Arte e Jornalismo pela Universidade de Leipzig (2006–2009). O trabalho de Deborah foi reconhecido com várias bolsas e prémios. Novo livro A dupla Kin Man – Sala traz a Lisboa a nova edição do livro “Apocalipses”, e que inclui “uma colectânea de ideogramas ficcionais originalmente criada na Casa de Cracóvia em Nuremberga, a única instituição cultural do município de Cracóvia fora da Polónia”. Esta reedição conta agora com mais de 600 páginas e teve o apoio da Fundação Oriente. O livro de artistas foi originalmente encomendado para a Bienal de Macau em 2023, contendo “centenas de ideogramas com origem na exposição ‘De Copenhaga com Amor'”, realizada em Nuremberga em 2024, com o apoio da Fundação Oriente e das Câmaras Municipais de Cracóvia e Nuremberga.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCooperação | Um olhar sobre a aproximação aos países de língua espanhola A RAEM já vinha fazendo uma aproximação em termos comerciais a Espanha, mas o Chefe do Executivo começou a referir em discursos oficiais a importância da cooperação entre Macau e os países de língua espanhola, além do habitual mundo lusófono. Analistas relacionam estas palavras com o actual panorama das relações entre China e Espanha O Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, tem expressado em alguns discursos a importância de a RAEM estabelecer relações económicas e comerciais não apenas com os países de língua portuguesa, mas também com os de língua espanhola. No mês passado, numa ocasião pública, o líder do Governo declarou que o território tem de “receber os amigos estrangeiros para investir em Macau e também concretizar os seus sonhos em Macau”. Sam Hou Fai realçou a área da tecnologia avançada, sublinhando que “podem ser provenientes dos países de língua português e espanhola”, pois “desde que sejam a favor da diversificação económica, são sempre bem-vindos”, acrescentou. De resto, logo a seguir à tomada de posse do novo Governo, Tai Kin Ip, secretário para a Economia e Finanças, realizou, em Março, uma visita a vários países europeus, liderando uma delegação que passou por Espanha, Portugal, Bélgica e Mónaco visando aprofundar “as ligações internacionais e explorar oportunidades de cooperação”, segundo informações oficiais divulgadas na altura. Esta aproximação ao universo de língua espanhola, além da habitual ligação já estabelecida entre a China e o mundo lusófono, pode ter várias origens: a crescente relação entre a China e Espanha, e também a vontade de diversificar a economia por parte da RAEM, dizem analistas contactados pelo HM. “A interpretação que faço da declaração de Sam Hou Fai é muito objectiva e pragmática e pode resumir-se ao projecto de diversificação da economia de Macau, para a qual estão a convocadas empresas e investidores não só de Macau, mas também de países de língua portuguesa. Mas o facto é que as empresas e instituições de países de língua portuguesa não estão a ser eficazes na resposta a essa necessidade de Macau. Portanto, alargar às empresas e às instituições de língua espanhola esse convite para cooperação parece-me lógico”, disse a economista Maria Fernanda Ilhéu, ex-residente de Macau e presidente da Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS). Segundo a dirigente, “Macau é uma economia de mercado pura, é classificada pela Organização Mundial de Comércio como um Porto Livre com acordos internacionais próprios quer na área económica, comercial, investimento, financeira, turística, saúde, desporto, acordos de relações internacionais com várias organizações. Portanto, os negócios em Macau são muito livres, e a parte do Governo de Macau é promover e enquadrar essa abertura”. “Como diz Sam Hou Fai, todas as empresas e investidores que tragam soluções de diversificação da economia de Macau são bem-vindos”, acrescentou. Para Cátia Miriam Costa, docente do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, e especialista em política externa chinesa e em Macau, considerou ao HM que “esta ligação ao espanhol decorre das visitas oficias de alto nível realizadas pelo Governo espanhol à China, ou seja, são decerto uma das consequências da reiterada presença da diplomacia espanhola em solo chinês a um nível muito elevado, reforçando os laços entre os dois países”. A importância do Sul Global É certo que Pequim, nas palavras do Presidente Xi Jinping, tem demonstrado grande interesse à aproximação dos países do chamado “Sul Global”, onde se fala português e espanhol, essencialmente. Para Cátia Miriam Costa, aqui reside também outra explicação para a mudança de paradigma na RAEM na área da cooperação comercial e económica. “Parece-me que os encontros recentes com altos representantes políticos espanhóis tiveram influência nesta decisão, a par de um investimento político cada vez maior da China no Sul Global em que o português e o espanhol são, de facto, as línguas mais faladas.” Para a académica, “a estratégia de usar Macau como ponto de convergência pode estar justificada historicamente pelo seu cosmopolitismo, mas também pelo seu papel tradicional de inclusão das rotas que ligavam a Ásia à América Latina”. Além disso, “acresce a uma perspectiva histórica, uma visão contemporânea para uma região que precisa de diversificação económica e beneficia dessa proximidade a espaços distantes, seja histórica, seja culturalmente”. Cátia Miriam Costa entende, desta forma, que “o espanhol pode se visto como um valor adicional ao português, sem desvirtuar a estratégia de paradiplomacia definida para Macau desde cedo”. Não pode ser ignorada também a inclusão da Guiné Equatorial no Fórum Macau, por consequência da sua entrada para a CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Porém, Cátia Miriam Costa acredita que esta mudança pouco ou nada tem a ver com a inclusão dos países de língua espanhola no discurso oficial de aproximação comercial. “A inclusão da Guiné Equatorial no Fórum de Macau decorre de outra circunstância, a da sua participação enquanto membro da CPLP. Nesse sentido, foi um passo lógico a sua integração na dinâmica do Fórum. Contudo e apesar de poder contar como um elemento positivo nesta aproximação, a alavancagem que a Guiné Equatorial tem no mundo hispânico ou hispano falante é mínima”, apontou. Ases pelos ares Maria Fernanda Ilhéu destacou também o facto de a única ligação aérea directa entre Macau e a Europa será para Madrid e não para Lisboa. “Por acaso, a TAP ou o Governo de Portugal contactaram a Air Macau ou o Governo de Macau manifestando interesse em retomar essa linha aérea? Não sei, mas sei que essa ligação irá contribuir grandemente para reforçar a presença espanhola em Macau, seja no turismo, seja no comércio ou no investimento.” A responsável destaca o factor de complementaridade da rota aérea. “É incompatível a presença portuguesa e espanhola em Macau? Não me parece, mas é competitiva, pode até ser benéfica se souberem colaborar e ganhar escala na Área da Grande Baía, mas Portugal tem de se esforçar mais para a sua presença em Macau não ser uma relíquia histórica.” De resto, a economista não esquece o papel que a política externa portuguesa poderá ter nesta questão, com o afastamento da Huawei em Portugal e uma maior aproximação de Espanha a Pequim nos últimos tempos. “A decisão de Portugal banir a utilização de equipamentos da Huawei diz sobretudo respeito às relações económicas de Portugal com a China Continental e ela é enquadrada por um relacionamento diplomático receoso que o Governo português seguiu de 2019 a 2024, contrariamente ao relacionamento diplomático espanhol. Repare-se que o primeiro-ministro espanhol visitou a China várias vezes nesse período e o Governo português só este ano, em Abril, se fez representar pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros no Fórum de Boao em Hainan, com uma breve passagem por Pequim.” Desta forma, Maria Fernanda Ilhéu entende que entre 2019 e 2024 “o Governo português e a sociedade civil portuguesa foram muito condicionados pela narrativa americana de Guerra Fria e da formação de dois blocos antagónicos, não sabendo manter a linha seguida até 2019 de prosseguir com uma relação com a China suportada pela amizade e confiança de quase 500 anos de cooperação em Macau”. O trabalho necessário Para a economista e presidente da ANRS é preciso ter em conta os investimentos e movimentações empresariais feitos nos últimos tempos para se perceber o posicionamento de Portugal e Espanha neste domínio. “O último grande investimento de uma grande empresa chinesa em Portugal foi registado em 2020, e só agora se está a retomar esse tipo de investimento com o investimento da CALB [produtora de baterias sediada em Sines] que está na fase de implementação e licenciamento. Se virmos o mesmo tipo de investimentos em Espanha de 2020 a 2024 podemos registar cinco grandes investimentos em energia, pela China Three Gorges e pela Huadian; três investimentos no sector dos transportes, pela Geely, pela Chery Auto e pela Envision Group; um grande investimento na agricultura pela Yankuang Beijing Energy e também um grande investimento no sector da saúde pela Worg Pharmaceuticals”. Para a responsável, “muito trabalho terá que ser feito pelo novo Governo português no sentido de desenvolver a cooperação económica portuguesa com a China Continental e com a RAEM, mas ela terá de ser também acompanhada pelo tecido empresarial português”, resumiu.
Andreia Sofia Silva Eventos10 de Junho | Cláudia Falcão apresenta primeira incursão nas artes plásticas É já esta quinta-feira que se apresenta ao público mais uma exposição integrante do cartaz oficial do 10 de Junho – Dia de Camões, Portugal e Comunidades Portuguesas. “Pequenos Mundos em Estado Sólido”, uma exposição apresentada na Livraria Portuguesa, revela laivos de portugalidade naquela que é a primeira incursão de Cláudia Falcão, especialista em conservação e restauro, nas artes plásticas A Livraria Portuguesa acolhe amanhã uma nova exposição. Trata-se de “Pequenos Mundos em Estado Sólido”, da autoria de Cláudia Falcão, especialista em conservação e restauro que pela primeira vez se estreia com um projecto na área das artes plásticas. A mostra pode ser vista até ao dia 28 de Junho e está integrada no cartaz oficial das comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. Segundo o catálogo da exposição, “Pequenos Mundos em Estado Sólido” aparece ao público como uma “viagem por memórias e narrativas visuais em estado sólido, imagens cristalizadas em pequenos mundos, mundos que resultam do que nos rodeia, mundos que levamos dentro, mundos que construímos, mundos que partilhamos”. Assim, serão exibidas “fotografias-objecto, em que a imagem surge influenciada pela morfologia da pedra, a sua cor, texturas e imperfeições”, com referências à calçada portuguesa, que se tornou “emblemática” no território e que é “um dos símbolos mais reconhecidos de Portugal”. “Se o muito grande na arte convida a uma experiência imersiva, o muito pequeno exige aproximação e um olhar atento à descoberta do que se esconde no detalhe. Em ambos os casos, há uma partilha da visão do artista e, em simultâneo, somos convidados a mergulhar no nosso próprio universo interior, que é singular”, descreve-se ainda no mesmo catálogo. Imagens na calçada Esta mostra nasce do Projecto Sølid, descrito como “a primeira aventura de Cláudia Falcão no lado criativo das artes plásticas depois de muitos anos do outro lado da arte, como conservadora-restauradora”. Trata-se de um “projecto que espelha as suas experiências, o seu olhar e a sua sensibilidade estética, e tem naturalmente subjacente a preocupação com a preservação, não só do património artístico e cultural, mas também das memórias visuais, de cariz mais pessoal, que recolhe”. Na Livraria Portuguesa, o público pode ver obras cuja base é a fotografia e um suporte feito com pedras da calçada, em calcário branco. “Neste suporte, a fotografia surge subtilmente transformada pela própria forma, textura e cor da pedra usada e cada peça torna-se única”, é descrito. O projecto Sølid é “inteiramente dedicado a Macau” e “nasceu da vontade de celebrar a diversidade cultural desta cidade tão especial e os laços que a unem a Portugal”. “Numa cidade que não dorme, como Macau, numa cidade que muda tão rapidamente, cristalizar um momento numa pedra acaba por ser um acto simbólico de honrar a memória do instante e captar o tempo que passa voraz”, lê-se ainda no mesmo catálogo. Ao HM, Claúdia Falcão adiantou ainda que Macau a “fascina tanto pelo que tem de familiar como pelo que tem de diferente”. “Enquanto artista portuguesa, o meu olhar vai ser sempre um olhar que tem esse filtro de Portugalidade, um filtro que é sentimento e é cultura, isso faz e fará sempre parte da minha identidade, da minha forma de ver e sentir o mundo e de me expressar e creio que isso será muito notório nesta exposição”, adiantou. “Apesar de estarmos do outro lado do mundo, ainda encontramos bocadinhos de Portugal em Macau, diariamente, nomeadamente em alguns elementos e marcos arquitectónicos, como por exemplo a calçada, que sendo tão portuguesa, é já também parte da identidade de Macau. Nesta exposição em particular, tendo em conta o contexto da comemoração do 10 de Junho, Portugal e Macau surgem através de seis séries de imagens que celebram esse laço forte entre dois mundos, mas também as suas diferenças e singularidades”, rematou.
Andreia Sofia Silva PolíticaPais podem pedir subsídio de infância a partir de 16 de Julho Na conferência de imprensa de ontem do Conselho Executivo foi também apresentado o regulamento administrativo que oficializa um novo apoio social. Trata-se do “Plano de subsídio de assistência na infância”, destinado a crianças até três anos de idade, e que poderá ser pedido pelos pais a partir do dia 16 de Julho. O regulamento administrativo deverá entrar em vigor no dia anterior. São abrangidas 15 mil crianças, com estatuto de residente, pelo novo apoio anunciado nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. O subsídio terá o valor de 1.500 patacas, num total de 54 mil patacas. O objectivo da medida é incentivar o aumento da taxa de natalidade. Em termos concretos, são beneficiadas crianças nascidas entre este ano e 2027, sendo que os pais se podem candidatar através da plataforma da Conta Única de Macau, “com o prazo para apresentar a candidatura a não poder ultrapassar o dia 30 de Junho do ano seguinte ao do nascimento da criança”. Além disso, segundo a apresentação feita ontem, “caso no dia 1 de Janeiro do ano seguinte, [a criança] continue a satisfazer os respectivos requisitos e tal facto tenha sido verificado pelo Instituto de Acção Social, mantém-se o benefício do subsídio, sem ser necessário proceder às respectivas formalidades”. As balizas e o jogo O subsídio será pago por transferência bancária, sendo que “quando se tratar de uma nova candidatura, o subsídio será pago no prazo de 60 dias contados a partir do dia seguinte ao da sua aprovação”. “Em caso de manutenção da satisfação dos requisitos para o benefício do subsídio, o pagamento terá lugar no 2.º trimestre do ano de atribuição”, acrescenta-se ainda. Outro esclarecimento diz respeito a crianças nascidas antes de 2025, mas que ainda não completaram três anos, ou que celebrem o aniversário aquando da entrada em vigor da nova lei, e que passam a estar abrangidas. Ou seja, residentes nascidos entre os anos de 2022 e 2024 também estão incluídas no novo apoio. De destacar que “não há lugar à atribuição do subsídio à criança quando esta se encontre confiada, por sentença judicial, a instituição ou equipamento subsidiado pelo Governo, ou cujo tutor seja o responsável ou trabalhador dessa instituição ou equipamento”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteOrçamento 2025 | Governo retira 12 mil milhões às estimativas das receitas do jogo A previsão avançada em Novembro pelo Executivo, que apontava para 240 mil milhões de patacas de receitas brutas dos casinos em 2025, foi revista. O Governo prevê agora que as receitas tenham uma quebra de 12 mil milhões de patacas, obrigando à revisão orçamental apresentada ontem por André Cheong Foram ontem divulgados, pelo Conselho Executivo, os dados relativos à revisão do Orçamento para este ano, que acontece devido à previsão em baixa do montante das receitas brutas do jogo, de que dependem, em larga escala, a economia local e as receitas públicas. Assim, se inicialmente o Executivo estimava que as receitas brutas do jogo seriam, este ano, de 240 mil milhões de patacas, esse valor baixa agora para 228 mil milhões, ou seja, menos 12 mil milhões. Em relação à estimativa média mensal, são previstos agora 19 mil milhões de patacas em receitas brutas, porque “a situação não é como a prevista”. Na apresentação de ontem, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, e também porta-voz do Conselho Executivo, referiu que “após estudo e análise da actual conjuntura económica global e da situação efectiva da exploração do sector do jogo desde o início do corrente ano até ao presente momento, propõe-se que a estimativa anual das receitas brutas do jogo seja reduzida de 240 mil milhões de patacas para 228 mil milhões de patacas, servindo assim como a base principal das receitas financeiras do orçamento alterado, e que as rubricas de receitas orçamentais pertinentes sejam adequadamente ajustadas”. Em Novembro do ano passado, quando Ho Iat Seng estava prestes a deixar o cargo de Chefe do Executivo, as previsões para as receitas brutas eram de 240 mil milhões, tendo em conta a versão inicial da proposta de Orçamento para 2025. Na altura, a previsão representava um aumento face ao que tinha sido estimado para 2024, que situava as receitas brutas dos casinos em 216 mil milhões de patacas, um aumento de 11,1 por cento. Face às receitas brutas do jogo em 2023, a estimativa para 2025 traduzia-se num aumento de 31,1 por cento. Importa destacar que a nova previsão abaixo do esperado constitui um aumento anual de apenas 0,5 por cento nas receitas brutas, quando os números iniciais se traduziam num crescimento anual de 5,8 por cento. Nos primeiros cinco meses deste ano, as receitas do jogo subiram apenas 1,7 por cento em termos anuais para 97,7 mil milhões de patacas. Garantia de equilíbrio Na resposta aos jornalistas, a subdirectora dos Serviços de Finanças, Ho Silvestre In Mui, disse que os novos cálculos se basearam nos dados fornecidos pela Direcção dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) em contraste com as despesas públicas do primeiro semestre. “Nesta proposta de lei orçamental fizemos uma análise em relação à conjuntura global e tivemos em conta um modelo diferente quanto ao consumo dos turistas em Macau. Fizemos considerações gerais para essas estimativas e, de acordo com a DICJ, de Janeiro a Abril do corrente ano, em média, por mês, foram cerca de 19 mil milhões e houve um aumento para 21,1 mil milhões (de receitas brutas). Devido a essa situação com as receitas brutas do jogo, há uma redução em relação ao ano passado, não se atingindo as 20 mil milhões [de receitas brutas de jogo, em média], pelo que na segunda metade do ano haverá incertezas.” “Neste orçamento pretendemos ter um balanço na despesa e receita. Após uma avaliação à primeira metade do ano, podemos fazer uma avaliação tendo em conta o montante das 19 mil milhões de patacas, e conforme a actual despesa da RAEM, conseguimos obter um orçamento mais equilibrado”, acrescentou. Em termos gerais, e segundo a nota explicativa apresentada por André Cheong, o valor total da receita do orçamento ordinário integrado da RAEM para o ano económico de 2025 passa a ser de 116,5 mil milhões, quando antes se esperava uma receita na ordem das 121 mil milhões de patacas, e tal deve-se “à previsão da redução das receitas brutas de jogo”, explicou a subdirectora da DSF. O corte é de 4,56 mil milhões de patacas. Além disso, adiantou a responsável, só a redução no imposto arrecadado sobre o jogo, devido à quebra nas receitas brutas, traduz-se em menos 450 milhões de patacas para a Administração. De destacar também que a despesa orçamental no âmbito do PIDDA [Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração] é revista para cerca de 19,587 mil milhões de patacas. Despesa orçamental sobe 2,5 por cento devido a educação e apoios sociais O Governo assegura que, na proposta de Orçamento para este ano, a construção de um novo campus da Universidade de Macau (UM) na Ilha de Hengqin irá contribuir, em parte, para o aumento da despesa, na ordem dos 2,5 por cento, bem como “o aumento do orçamento em relação aos subsídios atribuídos aos grupos vulneráveis e ao investimento em investigação e desenvolvimento científico e tecnológico”. Na proposta orçamental apresentada ontem, está inscrita uma verba aproximada de 1,7 mil milhões de patacas para a construção do novo campus da UM, adiantou a subdirectora dos Serviços de Finanças (DSF). Além disso, ao nível do investimento científico e tecnológico foi aditado o montante de 340 milhões de patacas “para investimentos no âmbito da ciência e tecnologia, como a aquisição de aparelhos de laboratório, para satisfazer a medida e políticas do Governo da RAEM”, frisou Ho Silvestre In Mui. “Para a construção está prevista uma despesa de cerca de oito mil milhões de patacas. Como o campus é construído na Ilha de Hengqin, o custo deve ser calculado em renminbis, o que faz cerca de sete mil milhões. Este é o dado que conseguimos facultar neste momento”, disse a responsável. Reforço para apoios No que diz respeito aos apoios sociais, a proposta de Orçamento para este ano revela um aumento de 2,86 mil milhões de patacas nas despesas previstas, como forma de reforço desses apoios. No total, a subida das despesas é de 2,5 por cento, para 116,2 mil milhões de patacas. Quanto à elaboração do Orçamento para o próximo ano, está a ser preparado e a palavra de ordem é a contenção. “Já estamos a elaborar o Orçamento para o ano de 2026, e todos os serviços do Governo da RAEM precisam de ponderar mais sobre as suas despesas, especialmente tendo em conta a conjuntura actual. Na fase de elaboração orçamental tomamos uma atitude prudente e rigorosa quanto às despesas”, disse a subdirectora da DSF.
Andreia Sofia Silva Eventos10 de Junho | Inaugurada hoje nova exposição de marionetas A Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau, acolhe a partir de hoje mais uma exposição de marionetas de matriz portuguesa com curadoria de Elisa Vilaça, artista há muito radicada em Macau e ligada à Casa de Portugal em Macau. “Objectos com Alma: Marionetas Portuguesas” está integrada no cartaz oficial das celebrações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas Elisa Vilaça faz a curadoria de uma nova exposição de marionetas com um cunho português que é hoje inaugurada. Trata-se de “Objectos com Alma: Marionetas Portuguesas”, acolhida pela Casa Garden, sede da Fundação Oriente (FO) em Macau, a partir das 18h30. A mostra integra-se no cartaz oficial das comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. Segundo um comunicado da FO, “a exposição destaca a rica tradição das marionetas em Portugal, apresentando uma selecção de peças que reflectem a diversidade cultural e técnica desta arte única”. O público é, assim, convidado a “explorar o fascinante universo das marionetas e a participar nesta celebração da criatividade e da cultura portuguesa”. Elisa Vilaça é, desde há muitos anos, um dos rostos locais ligados a projectos de marionetas, incluindo exposições e peças de teatro, tendo defendido, inclusivamente, a criação de um Museu da Marioneta na RAEM. Chegou a ser apresentado um projecto concreto sobre este museu em 2010, mas, entretanto, a iniciativa não avançou. A também directora da Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau referiu que “há uma colecção de quase 1.000 bonecos que merece ser divulgada e mostrada ao público, até porque a China tem grandes tradições nesta área”, segundo o Jornal Tribuna de Macau. Nascida no Porto, formada em Ciências da Educação e com um grande currículo ligado a esta área, Elisa Vilaça vive em Macau desde 1982, tendo estudado três anos em Macau em áreas como a gravura, joalharia e escultura. Elisa Vilaça tem realizado várias exposições não apenas no território, mas também na China continental, Brasil e Portugal. Uma das últimas exposições que integrou, a nível local, foi a mostra “Século XXI – Exposição Colectiva do 21º Aniversário” da Creative Macau, que decorreu no ano passado. Aprender a fazer Além da exposição propriamente dita, serão realizados durante este mês diversos workshops em que os participantes terão a oportunidade de aprender a fazer marionetas e outro tipo de trabalhos artesanais. Decorre, no dia 8, o workshop para aprender a fazer “Bonecos de ‘Esconde, esconde'”, destinado a crianças dos cinco aos nove anos e que decorre na Casa Garden das 10h30 às 12h30. Por sua vez, no dia 14 de Junho acontece a sessão “Criar e construir marionetas que fazem rir”, no mesmo horário, mas desta vez para crianças um pouco mais velhas, dos 10 aos 14 anos. No dia 21 de Junho tem lugar o workshop “Cordéis com Vida”, das 10h às 13h e das 15h às 18h, para jovens com idades a partir dos 14 anos.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteDSAL | Número de acidentes laborais sofre quebra ligeira em termos anuais Os dados relativos aos acidentes de trabalho ocorridos no ano passado revelam estabilidade em relação a 2023: cerca de cinco mil pessoas, 5.095, sofreram acidentes no trabalho, número ligeiramente inferior às 5.293 vítimas de 2023, enquanto o número de vítimas mortais decorrentes desses incidentes se manteve numa dezena Foto: Gonçalo Lobo Pinheiro Dados divulgados na sexta-feira pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) mostram como no espaço de um ano, entre 2023 e 2024, o panorama dos acidentes de trabalho se manteve estável, verificando-se até uma quebra ligeira no número de ocorrências e o mesmo número de mortos. Segundo o relatório relativo a 2024, um total de 5.095 trabalhadores sofreram acidente de trabalho, sendo que a principal causa foi a “queda de pessoas”, que representou a fasquia de 25,4 por cento do total de incidentes, seguindo-se o “entalamento num ou entre objectos”, que representou 19,3 por cento de todos os incidentes, e ainda a “marcha ou choque em objectos”, com 16,1 por cento. Segundo o relatório da DSAL divulgado no ano passado, houve 5.293 vítimas de acidentes de trabalho em 2023, sendo que quase todas as ocorrências (5.253) resultaram em incapacidade temporária de trabalho. Apenas 30 casos resultaram em incapacidade permanente da pessoa, sendo que 10 pessoas faleceram. No ano passado, a DSAL registou também o mesmo número de mortes por acidentes de trabalho, sendo que um caso está associado a uma alegada “infracção à legislação sobre segurança e saúde ocupacional”. “Todos os casos mortais foram remetidos aos órgãos judiciais para devido tratamento, e, posteriormente, a DSAL fará o ajustamento dos dados de acordo com as sentenças proferidas”, lê-se no relatório relativo a 2024. A DSAL diz proceder a investigações a todos os incidentes laborais ocorridos, tendo aplicado, no ano passado, multas a duas entidades por “infracções à legislação relativa à segurança e saúde ocupacional”, em casos que envolveram dois trabalhadores. Além disso, foram aplicadas multas a 43 pessoas por infracções ao Regime Jurídico da Reparação por Danos Emergentes de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, envolvendo 303 trabalhadores no total. Mais homens que mulheres O relatório apresenta também dados mais específicos sobre os acidentes de trabalho ocorridos no ano passado. Assim, dos 5.095 casos, 5.063 resultaram em incapacidade temporária, sendo que 557 trabalhadores conseguiram voltar ao serviço no mesmo dia da ocorrência do acidente destaca a DSAL. Porém, um total de 22 pessoas acabaram mesmo por ficar com incapacidade permanente. Destaca-se o número de pessoas que foram atingidas nas mãos (1.336), seguindo-se os acidentes na zona dos pés com 894 ocorrências, várias partes do corpo com 831 casos, e acidentes na zona do tronco com 743 casos. Os dados estatísticos mostram ainda que os homens dominam no tocante às vítimas: assim, houve, em 2024, 255 vítimas com idade compreendidas entre os 16 e os 24 anos. Nesta faixa etária, 165 homens sofreram acidentes de trabalho por oposição a 90 mulheres. Os números sobem nas pessoas com idades compreendidas entre os 25 e 44 anos, em que houve 2.719 ocorrências, atingindo 1.568 homens e 1.151 mulheres. Dos 45 aos 64 anos houve 1.908 ocorrências, tendo, desta vez, atingido mais mulheres do que homens: 1.188 face a 720 trabalhadores do sexo masculino. Destaque para a ocorrência de 213 casos de acidentes de trabalho envolvendo pessoas em idade de reforma, ou seja, com 65 anos ou mais, em que 120 mulheres foram afectadas em contraste com 93 homens. Os dados de 2024 olham também para o tipo de profissão em que ocorreram mais acidentes: dominam os “empregados administrativos”, com 1.318 casos, seguindo-se o “pessoal dos serviços, vendedores e trabalhos similares”, com 1.207 casos, e ainda os “trabalhadores não qualificados” com 1.219 ocorrências. Houve ainda 413 ocorrências no grupo de “trabalhadores da produção industrial e artesãos” e ainda 196 em “operadores de instalações de máquinas, condutores e montadores”. Na categoria de “técnicos e profissionais de nível intermédio” foram registados 420 incidentes de trabalho. Vamos por partes Se olharmos para os números de acidentes de trabalho tendo em conta o ramo de actividade económica, observa-se que dominam as “actividades culturais e recreativas, lotarias e outros serviços”, com relação, portanto, ao sector do jogo e entretenimento, com 1.512 casos ocorridos no ano passado. Segue-se acidentes nos “Hotéis, restaurantes e similares”, com 1.293 casos, e ainda 414 incidentes na área dos “transportes, armazenagens e comunicações”. No sector da construção civil, verificaram-se 374 acidentes. De frisar que os dados de 2023 são também semelhantes no que diz respeito à actividade económica onde ocorreram mais acidentes de trabalho e em termos do género dos trabalhadores, com 52 por cento de homens e 48 por cento de mulheres afectados. Houve, em 2023, uma maior incidência de acidentes de trabalho em idades compreendidas entre os 25 e os 44 anos, representando 53,6 por cento, enquanto que nas idades compreendidas entre os 45 e 64 anos, a percentagem de acidentes baixou para 37,2 por cento. O relatório da DSAL relativo a 2023 mostrava ainda que as “actividades culturais e recreativas, lotarias e outros serviços” (29,5 por cento), os “Hotéis, restaurantes e similares” (23,2 por cento) e “Transportes, armazenagem e comunicações” (10,8 por cento) ocupavam as três primeiras posições relativamente ao número total de vítimas de acidentes de trabalho. No que se refere às profissões, os “Trabalhadores não qualificados” (26 por cento), o “Pessoal dos serviços, vendedores e trabalhadores similares” (24 por cento) e os “Empregados administrativos” (22,9 por cento) ocuparam as três primeiras posições em relação ao total de vítimas de acidentes de trabalho. Acção e reacção O relatório da DSAL relativo aos acidentes de trabalho de 2024 revela ainda que foram realizadas 3.550 visitas de inspecção a diferentes locais de trabalho, como estaleiros de construção, estabelecimentos industriais e comerciais, que resultaram em 395 recomendações de melhoria e na aplicação de multas em 10 situações devido à falta de segurança. No ano passado, foram ordenadas quatro suspensões do funcionamento de estaleiros no contexto da verificação do estado de segurança e saúde ocupacional, a consequência mais grave depois da aplicação de multas ou acções de sensibilização. A DSAL salienta também que, no ano passado, foram realizados 404 seminários para diferentes sectores e tipos de trabalho, que contaram com a participação de 17.148 pessoas. No tocante a cursos sobre a segurança e saúde ocupacional, foram realizadas formações para a obtenção do cartão de segurança ocupacional na construção, com 26.590 participantes, e que resultou na emissão de 25.069 cartões. Já os “cursos de formação sobre segurança em trabalhos específicos na construção civil” tiveram 3.167 participantes, tendo sido emitidos 2.895 certificados. Noutra área importante para a economia local, a hotelaria e restauração, participaram 25.965 participantes nos “cursos de formação para obtenção do cartão de segurança ocupacional na hotelaria e restauração”, com a emissão de 25.020 cartões.
Andreia Sofia Silva EventosCCCM acolhe sexta edição de concurso e exposição “See&Share” O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) acolhe, a partir de amanhã, uma exposição de arte infantil com trabalhos de jovens chineses expatriados. Será também realizada a cerimónia de entrega de prémios da iniciativa “Global Youth Art Contest”, que dá origem à mostra. A exposição, que tem o nome “See&Share 2025”, é promovida por Helena Dong, cidadã chinesa a viver em Lisboa e que, depois de criar a CLAN – Commonweal of Liberal Arts em Nanjing, de onde é oriunda, estabeleceu um projecto semelhante na capital portuguesa, a CLAN para Inovação Cultural e Educacional Juvenil. “Há seis anos vivíamos na China e já aí pensava na próxima geração, sobretudo nas crianças chinesas. É muito importante que elas saibam o que é a arte real, verdadeira e tradicional. Tenho dois filhos e penso que é importante também que eles saibam isso. Como sempre tive muitos contactos com os profissionais mais tradicionais, comecei a convidá-los para a realização de workshops com crianças, sobretudo as famílias locais. Em 2019 a nossa família veio para Lisboa e queríamos manter isso, estabelecer conexões com os locais e com as crianças locais. Queríamos que a nossa família conhecesse a história e a arte locais”, contou ao HM. O primeiro ano da exposição “See&Share” decorreu em Lisboa em 2020, ainda nos tempos de pandemia, tendo sido recolhidos “300 trabalhos feitos por crianças de todo o mundo”, ligadas a comunidades chinesas espalhadas em vários países. Foi realizada uma exposição online, mas à medida que o mundo abriu após a pandemia, também esta mostra passou a ser vista directamente pelo público. “Todos os anos temos temas diferentes. No ano passado o tema principal foi a humanidade e o futuro. Em cada ano tentamo-nos focar na visão das crianças sobre aquilo que pensam em relação ao mundo, à humanidade e natureza. Temos também trabalhos sobre os valores ESG (Environmental, Social, and Governance), a importância da preservação do ambiente a nível mundial”, disse Helena Dong. Juntar culturas A sexta edição do concurso é agora apresentada no CCCM e Helena Dong espera ajudar a construir ainda mais “uma ponte entre as crianças portuguesas e chinesas e outras famílias internacionais que vivem em Lisboa”. Segundo a responsável, “a participação [no concurso e nas actividades da CLAN] é, sobretudo de famílias chinesas a residir no estrangeiro, da Europa, Ásia e América”. “Queremos também criar laços mais profundos com as famílias locais, tentando construir uma ponte entre a comunidade chinesa e a comunidade local [de portugueses]”, disse. “Podemos juntar-nos e falar uns com os outros, para que nos possamos conhecer melhor. É essa a nossa grande expectativa. Em todos os anos, na cerimónia de abertura, fazemos workshops sobre cultura tradicional chinesa, é uma boa oportunidade para que a comunidade se possa expandir sobre aquilo que nós fazemos e o que gostamos”, acrescentou.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteAptidão física | Estudo mostra bons resultados em crianças do pré-escolar Um estudo analisou a aptidão física de crianças em idade pré-escolar em Macau. Os resultados apontam para “crescimento e desenvolvimento modestos”, “pequenos aumentos na altura e peso” e “melhorias na velocidade, agilidade, força muscular e flexibilidade”, graças à reforma curricular de 2015 que apostou no desporto escolar O Governo está de parabéns no que diz respeito à prática desportiva no ensino pré-escolar, segundo um estudo académico que avaliou crianças de jardins-de-infância e dados estatísticos da sua aptidão física fornecidos pelo Instituto do Desporto (ID). Em “Tendências temporais da aptidão física em crianças em idade pré-escolar da RAEM entre 2002 e 2020”, publicado na revista científica “Journal of Exercise Science & Fitness”, os académicos apontam um “crescimento e desenvolvimento modestos entre [alunos] pré-escolares”. Os parâmetros avaliados estatisticamente incidem sobre o desempenho em actividades como correr, fazer o salto em comprimento ou fazer a marcha. O trabalho é da autoria de Siu Ming Choi, da Faculdade de Educação da Universidade de Macau, Grant R. Tomkinson, Justin J. Lang, Cristina Cadenas-Sanchez, Haoyu Dong, Si Man Lei, Eric Tsz Chun Poon, este último ligado ao departamento de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade Chinesa de Hong Kong. Os autores pegaram nos dados anuais do ID para perceber como o corpo das crianças evoluiu nos últimos anos, permitindo perceber dados relacionados com o peso, altura e medidas corporais. Assim, lê-se que houve “pequenos aumentos na altura, no peso e nas circunferências, melhorias na velocidade-agilidade, na força muscular e na flexibilidade da parte inferior do corpo e flexibilidade, e declínios na potência muscular da parte superior do corpo e na capacidade de equilíbrio”. O estudo revela “aumentos significativos, mas pequenos, na altura, peso e circunferência do tórax”, enquanto que “as tendências de aptidão física foram contraditórias, com declínios que vão de insignificantes a pequenos no arremesso e no desempenho do equilíbrio”. Houve ainda “melhorias insignificantes a pequenas em outras medidas” do corpo, com os autores a destacar que “não foram encontradas diferenças significativas entre géneros, o que indica um desenvolvimento equitativo” entre rapazes e raparigas. Em termos gerais, foi registado “um aumento do tamanho do corpo e melhorias modestas, mas significativas, em vários componentes da aptidão física, tais como a velocidade-agilidade, a potência muscular da parte inferior do corpo e a flexibilidade, e declínios noutros”. Os autores consideram que estes resultados “podem ser atribuídos a uma combinação de factores do sistema educativo e do ambiente doméstico”, pois “o sistema educativo de Macau e as directrizes curriculares deram prioridade ao desenvolvimento da educação física e à aquisição de capacidades motoras”. Destaca-se ainda que Macau foi “a primeira região da China a incorporar o jardim de infância no seu sistema de ensino gratuito desde 2007, fazendo da educação dos seus residentes uma prioridade fundamental”. O estudo menciona também a reforma curricular de 2015, que “enfatiza explicitamente a aprendizagem de competências fundamentais de movimento, tais como locomotoras (andar, correr, saltar, equilibrar-se, gatinhar) e de controlo de objectos (lançar, apanhar) através de várias actividades físicas e jogos concebidos pelos professores”. O trabalho realça a importância dos encarregados de educação na ligação das crianças com o desporto, lembrando os anos da pandemia. “A influência positiva dos pais na modelação da actividade física pode também desempenhar um papel nestas melhorias, especialmente durante a pandemia da covid-19, quando as crianças tinham menos oportunidades de actividade física fora de casa.” Os académicos realçam que é importante, para as autoridades, fazer uma “monitorização contínua” e “apoiar a aptidão física e a saúde geral na primeira infância”, devendo existir “estratégias para melhorar a aptidão física global na primeira infância”. Saltar e pular Para este estudo foram analisados dados de crianças entre os três e os cinco anos de idade em regime pré-escolar, nos anos de 2002, 2005, 2010, 2015 e 2020, tal como o tamanho do corpo, no que diz respeito à altura, peso e circunferências do peito, cintura e anca; e aptidão física, como a corrida de vaivém de 2×10 m, salto em comprimento em pé, equilíbrio na marcha, salto contínuo de duas pernas, arremesso de cabeça e sentar e alcançar”. Além disso, “foram recrutadas crianças em idade pré-escolar de seis jardins-de-infância de Macau através de uma combinação de métodos de amostragem aleatória estratificada e por grupos”. Participaram um total de 4.519 crianças, com 59 por cento de rapazes e 41 por cento de raparigas. Os resultados revelam “uma melhoria equitativa da aptidão física” e os dados colocam Macau numa melhor posição face a alguns países europeus referidos no estudo. “Em contraste com investigações anteriores sobre as tendências do desenvolvimento físico de crianças e adolescentes na Polónia, que revelaram estabilidade na altura, mas aumentos no peso e índice de massa corporal, os nossos resultados sugerem que as crianças em idade pré-escolar de Macau aumentaram de tamanho, talvez devido às melhores condições de vida e nutricionais.” Os académicos concluem que os “resultados são particularmente significativos”, e destacam que “a melhoria observada no desempenho do salto em comprimento em pé entre os alunos do pré-escolar de Macau é encorajadora”. Tal “contrasta com a investigação sobre populações semelhantes na República Checa e Polónia, onde foram relatados declínios no desempenho no salto em comprimento em pé juntamente com aumentos no índice de massa corporal e na prega cutânea”, é indicado. Outros sinais O estudo revela também “uma melhoria temporal da flexibilidade nos alunos do pré-escolar de Macau, o que difere das tendências observadas nos alunos pré-escolares polacos”, entendendo-se existirem “factores culturais, ambientais ou outros factores que influenciam o desenvolvimento da flexibilidade em crianças pequenas em diferentes regiões e populações”. O trabalho destaca ainda que a RAEM “mistura de forma única as culturas oriental e ocidental, o que a transforma num cenário intrigante para examinar as tendências na aptidão física de crianças em idade pré-escolar”. É também referido que “a região tem um forte compromisso com a educação, oferecendo 15 anos de educação pré-escolar gratuita até o ensino médio e ensino secundário, garantindo um amplo acesso a programas de educação e desenvolvimento na primeira infância infantil para todas as crianças”. Os elogios dos académicos prosseguem, salientando a “notável esperança de vida, que ultrapassa os 84 anos em 2019”, além de que “Macau deu prioridade aos seus sistemas de saúde e social”. “Reconhecendo a importância da saúde física, foram efectuados testes de aptidão física padronizados e sistemáticos a pessoas de todas as idades desde o início do século, altura em que o Governo implementou um sistema de vigilância da aptidão física alinhado com a monitorização nacional da aptidão física da China”, é ainda explicado.
Andreia Sofia Silva SociedadeHotelaria | Mais trabalhadores, mas salários sem aumentos Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), relativos ao primeiro trimestre deste ano e saídos do Inquérito às Necessidades de Mão-de-obra e às Remunerações apontam para um aumento de 7,2 por cento no número de trabalhadores em hotéis, um total de 60.482 pessoas, face a igual período de 2024. Porém, em matéria salarial, as remunerações médias dos trabalhadores a tempo completo na hotelaria foram de 20.090 patacas, menos 1,9 por cento, enquanto que no sector da restauração um trabalhador ganhava, em Março, uma média de 10.540 patacas, menos 0,7 por cento face a 2024. No fim do trimestre em análise, a taxa de vagas em hotelaria baixou apenas 1,1 por cento face ao primeiro trimestre do ano passado devido ao facto de “as vagas deste ramo terem sido preenchidas e a procura de mão-de-obra ter voltado a estabilizar gradualmente”. Assim, o número de vagas existentes no referido trimestre, nos hotéis, foram 839.
Andreia Sofia Silva EventosFRC acolhe debate “Desafios de Ser Macaense Hoje!” Decorre hoje, a partir das 18h30, a primeira sessão de um novo ciclo de conferências sobre a comunidade macaense. A sessão tem por nome “Desafios de Ser Macaense Hoje!” e integra-se no ciclo de palestras “Ser Macaense no Século XXI – Cultura, Tradição, Identidade, Desafios”. A palestra de hoje conta com a presença de José Luís de Sales Marques, presidente do Conselho das Comunidades Macaenses, Elisabela Larrea, investigadora, fundadora e presidente da MACRA – Macanese Culture Research Association; António Monteiro, presidente da AJM – Associação dos Jovens Macaenses; Rachel Antonia Handley, Young Member do Club Lusitano de Hong Kong; e Miguel Silva (via Zoom), afiliado da Casa de Macau em Portugal e sobrinho-neto do último poeta de Patuá, Adé dos Santos Ferreira. Segundo uma nota de imprensa, o evento pretende abordar “o modo de vida dos macaenses, a comunidade ou as comunidades, em Macau e na diáspora, e os seus desafios diários para manter o ser e o sentir da realidade macaense”. Assim, “o propósito da conferência, e das próximas neste ciclo, é uma discussão construtiva a olhar para o presente e o futuro, sem esquecer a tradição e os diferenciados marcos identitários, em especial a Gastronomia e o Teatro em Patuá, ambos Património Intangível da RAEM e da RPC”. A valorização dos chineses Ao HM, José Sales Marques referiu que este ciclo de debates que hoje se inicia é coordenado por si e procura “trazer para a mesa uma vasta gama de contributos pessoais destes mesmos e, de certa forma, renovar o debate sobre o que é ser-se e sentir-se macaense no século XXI”. Para o responsável, “os desafios são sempre novos, porque o tempo é sempre novo, não volta para trás”, existindo uma “complexa actualidade que funciona como um acelerador, onde as coisas se transformam a velocidades inimagináveis”. “Estamos sempre a descobrir e a aprender, sobretudo com os mais novos. O desafio da diluição identitária não se verifica só aqui em Macau através da integração e miscigenação. Acontece em toda a parte. Por isso, temos que compreender o pulsar da realidade e a mente aberta para reconhecer que o ser-se macaense também pode mudar com os tempos, mantendo alguns elementos constantes”, adiantou. Já António Monteiro, referiu que “o maior desafio do macaense foi sempre a adaptação a vários tempos, momentos e conjunturas ao longo dos 500 anos de Macau”, sendo que hoje os desafios de pertencer a esta etnia, e preservá-la, são “diferentes, especialmente para os mais jovens”. “Foram criadas bases no associativismo macaense, muitas de matriz portuguesa, na sociedade civil de Macau. Assistimos a uma altura de ‘passagem de testemunho’ ou do surgimento de novas caras na comunidade macaense. A diluição só existirá se a comunidade macaense não se assumir como macaense, culturalmente ou identitariamente, e não estiver ‘fisicamente’ presente em Macau”, defendeu. O presidente da AJM lembrou que “a comunidade chinesa reconhece e valoriza os macaenses e a sua cultura, inclusivamente no património intangível”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCriminalidade | “Jogo ilícito” com aumento superior a 900 por cento As alterações à “Lei de combate aos crimes de jogo ilícito”, que aditaram o crime de câmbio ilegal, levaram a mais ocorrências. Só num ano houve um aumento de 906,3 por cento de crimes associados ao “jogo ilícito”. Os dados são relativos ao primeiro trimestre deste ano e foram ontem divulgados pelo secretário Wong Sio Chak A lei mudou e o crime aumentou. Foi assim com o câmbio ilegal em casinos, uma vez que a actividade passou a ser criminalizada com a alteração à “Lei de combate aos crimes de jogo ilícito” no ano passado. Segundo o balanço da criminalidade feito ontem, os crimes associados ao jogo ilícito subiram 906,3 por cento, tendo-se registado 161 casos no primeiro trimestre deste ano face aos 16 do ano passado, crescimento potenciado pelos casos de câmbio ilegal. A mudança legislativa em causa “levou a um grande aumento deste tipo de criminalidade, sobretudo no que diz respeito aos câmbios ilegais”, foi referido. Ao aditar-se o crime de “Exploração de câmbio ilícito para jogo”, foi assim, ajustado “o âmbito de cobertura de alguns crimes relacionados, o que teve como consequência o aumento dos crimes relacionados com o jogo ilícito”, foi acrescentado. Na conferência de imprensa de ontem, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, referiu que as autoridades policiais vão continuar “a reforçar os trabalhos de prevenção e de execução da lei”, além de acompanharem “e analisarem o desenvolvimento da criminalidade”. Trocas e baldrocas Em termos gerais, os crimes associados ao jogo também aumentaram, com a instauração de 567 inquéritos, mais 216 face ao primeiro trimestre de 2024, representando um aumento de 61,5 por cento. Segundo uma nota de imprensa do gabinete de Wong Sio Chak, “acredita-se que a causa principal deste aumento está relacionada com a criminalização da ‘troca ilegal de dinheiro'”, “o desmantelamento de várias redes criminosas pertinentes, nas operações conjuntas, assim como factores incertos da sociedade resultantes do aumento de turistas”. No panorama geral da criminalidade, a polícia instaurou, no total, 3.289 inquéritos criminais, o que representa um decréscimo de 260 casos e traduz uma decida de 7,3 por cento relativamente ao mesmo período do ano de 2024. Táxis | Mais de 700 infracções em três meses Os dados divulgados ontem pelo Executivo mostram como as infracções cometidas por taxistas não pararam de aumentar. Só no primeiro trimestre deste ano foram registadas 773 infracções, sendo que 660 foram detectadas pelos agentes do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). Segundo as autoridades, “mais de metade foram situações em que os condutores de táxis não aguardaram por ordem de chegada pelos clientes nas praças de táxis”. A polícia diz ter “tratado os casos em conformidade com a lei e apelado aos infractores para não voltarem a infringir a lei”.
Andreia Sofia Silva PolíticaViolação | Casos diminuem, Governo refere “embriaguez” das vítimas No primeiro trimestre deste ano foram registadas dez violações, menos quatro em comparação com igual período do ano passado, o que representa menos 28,6 por cento. Porém, as autoridades destacam o facto de, no caso das vítimas locais, a grande maioria estar embriagada no momento da ocorrência do crime. “Nos casos em que as vítimas eram residentes, a maioria ocorreu após o consumo de álcool em bares, assim como a maioria das vítimas encontrava-se em estado de embriaguez profunda”, foi referido na apresentação dos dados, enquanto que no caso das vítimas naturais do Interior da China, que representam “metade das vítimas”, os crimes ocorreram em quartos de hotel. “Nalguns dos casos existiram conflitos monetários entre as vítimas e os suspeitos, não sendo de afastar a hipótese de que os casos tenham ocorrido num contexto de transacções sexuais”, ou seja, prostituição. As autoridades policiais dizem levar a cabo plataformas de prevenção como o “Mecanismo de ligação de policiamento comunitário” e o projecto “Amigos da prevenção criminal para mulheres”. Violência doméstica | Só quatro ocorrências consideradas crime No primeiro trimestre deste ano foram registados apenas quatro casos de crime de violência doméstica, mais dois do que no mesmo período do ano passado. Porém, e de acordo com as investigações levadas a cabo até ao dia 12 deste mês, das 26 ocorrências preliminarmente encaradas como violência doméstica, só quatro casos receberam mesmo essa classificação criminal, enquanto 12 foram considerados crimes de ofensa à integridade física e dois como outro tipo de crimes. Há ainda oito ocorrências a serem investigadas. Relativamente ao crime de abuso sexual de crianças, foram registados pelas autoridades cinco casos no primeiro trimestre do ano, mais uma ocorrência face ao primeiro trimestre de 2024, um aumento de 25 por cento. Foi referido que os casos envolveram “principalmente a prática de actos sexuais voluntários entre pessoas da mesma idade e a difusão de fotografias e de imagens pornográficas”.
Andreia Sofia Silva PolíticaCrime informático diminui, mas há cada vez mais burlas com IA As autoridades policiais registaram, a 24 de Abril deste ano, o “primeiro caso de burla ocorrido em Macau relacionado com a tecnologia de Inteligência Artificial (IA), ‘Deepfake’, em que os “criminosos produziram um vídeo e, com mutação de rosto e de voz, personificaram uma celebridade de Macau, para atrair o público a aceder a uma plataforma de investimento virtual fraudulenta”. Segundo a apresentação feita ontem pelo Governo sobre os dados da criminalidade no primeiro trimestre, não foram recebidas ainda denúncias de vítimas desse esquema de burla, mas as autoridades destacam que há cada vez mais crimes de burla com recurso à IA, que “têm vindo a originar uma imensa variedade de ‘modi operandi’ [modos de actuação]”. Destaque também para o início da tendência de quebra da criminalidade informática. As autoridades referiram ontem que “os crimes informáticos também começaram a registar uma tendência de diminuição”, algo demonstrado pelos dados: no primeiro trimestre deste ano ocorreram 186, menos 26 face a igual período do ano passado, o que representa uma quebra de 14 por cento em relação ao primeiro trimestre de 2024. Tempo de alívio Em relação às burlas online ou com recurso a telecomunicações, no primeiro trimestre do ano registaram-se 74 casos de burla telefónica, um decréscimo de 22 casos em relação ao período homólogo de 2024. Segundo a apresentação de ontem, “cerca de 40 por cento dos casos diz respeito à ‘simulação de chamada por pessoal dos serviços públicos'”, representando “uma descida” na forma de actuação dos burlões. Por sua vez, os casos de burla com o método “adivinha quem sou eu” subiram cerca de 20 por cento em termos anuais. Nos primeiros três meses do ano houve 145 casos de burla cibernética, uma quebra anual de 47 casos, sendo que “burlas através com investimentos online de venda de bilhetes e compras foram as formas mais frequentes da prática deste tipo de crimes”. Sobre as situações de “nude chat”, com imagens de nudez associadas a esquemas de extorsão de dinheiro, houve 14 casos no primeiro trimestre, mais sete face ao período homólogo de 2024.
Andreia Sofia Silva PolíticaObras públicas | Secretário quer melhorar regime de concurso público O Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam Vai Man, disse ontem, num encontro com o Grupo de Acompanhamento do Desenvolvimento do Sector da Construção Civil de Macau, composto por seis associações do sector, que o regime de concursos públicos será “optimizado com vista a fomentar uma concorrência saudável e o desenvolvimento sustentável da indústria”. Nas palavras do secretário, citadas num comunicado, será estudada “a adopção de um mecanismo de ‘adjudicação pelo preço mais razoável’, em substituição do tradicional critério de ‘preço mais baixo’, garantindo a execução fluída das obras públicas em conformidade com os padrões exigidos”. No encontro, foi também debatida a possibilidade de “ampliar as oportunidades de emprego para trabalhadores residentes e promover a formação e o desenvolvimento de quadros qualificados no sector da construção”. Assim, os documentos dos concursos “deverão estipular a exigência de contratação prioritária de trabalhadores residentes e a fixação de uma proporção mínima dos mesmos, sempre que as condições o permitam”. Além disso, “será incentivado que os adjudicatários aumentem, de forma gradual, a percentagem de trabalhadores residentes em cargos técnicos, de gestão e especializados”, foi referido.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLiteratura | MUST aposta em projecto de tradução de Camões para chinês A Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau está a apostar em projectos de tradução de Luís de Camões. Numa altura em que celebram os 500 anos do nascimento do poeta, Filipe de Saavedra, académico da universidade local, fala da iniciativa e do Congresso do Meio Milénio do Nascimento de Luís de Camões, em Moçambique No ano passado, completaram-se 500 anos do nascimento daquele que é considerado o maior poeta português de todos os tempos. Luís de Camões, autor da epopeia “Os Lusíadas”, nasceu em 1524, navegou pelos mares e percorreu terras por onde os portugueses andaram, nomeadamente Moçambique, Goa e Macau, entre outros, e sobre eles deixou poemas e escritos em cartas. A sua importância está espelhada nas comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das comunidades portuguesas. Todas as manifestações literárias que Camões deixou escritas vão agora ser traduzidas para chinês graças a um projecto que tem vindo a ser desenvolvido pela Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa). Filipe de Saavedra, especialista na vida e obra de Luís de Camões, docente e investigador nesta universidade e doutor em Estudos Portugueses, falou ao HM sobre o projecto. “As nossas traduções sairão ao abrigo de um projecto em curso na UCTM [MUST na sigla em inglês] onde se prevê a tradução integral para chinês de todos os géneros líricos e das cartas de Camões. Os alunos são ali expostos ao poeta desde o primeiro ano da Licenciatura em Estudos Portugueses até ao mestrado, e a resposta deles é entusiástica. Temos trabalhos de grande qualidade feitos por eles e publicados no canal YouTube ‘Português em Macau’. Já tínhamos tido igual sucesso com os alunos indonésios. Neste momento, o número de projectos de vídeo sobre Camões já publicados ultrapassa as duas centenas”, confessou. “O projecto mais ambicioso é o da edição crítica da obra, a que estamos a dar início pelas cartas e pelas odes. Irá combinar os esforços acumulados de várias gerações de estudiosos com as nossas novas leituras dos manuscritos, e novas interpretações. Será o contributo mais duradouro e mais necessário suscitado por estas celebrações”, acrescentou o camonista. A MUST tem também o projecto de atelier de teatro em que “os alunos representam Camões”, além de que “no concurso de poesia deste ano os alunos escolheram recitar Camões, demonstrando grande sensibilidade à poesia dele”. Para Filipe de Saavedra, “a semente está lançada, e dali sairão os tradutores e camonistas do futuro”. Tendo em conta a forte ligação de Macau na vida de Luís de Camões, o território acolheu, no ano passado, o “I Congresso do Meio Milénio”, com representação de académicos de vários países com estudos em torno da figura, obra e vida de Luís de Camões. O balanço feito por Filipe de Saavedra é bastante positivo. “Trouxemos já por três vezes o mestre-tradutor Zhang Weimin, sempre com o apoio da Fundação Oriente, que deu várias aulas magistrais sobre como traduzir Camões para mandarim aos alunos dos cursos mais avançados da UCTM.” Nesse contexto, a MUST tem estabelecido “protocolos com universidades estrangeiras onde existem centros camonianos, para iniciativas em comum”. Um dos mais recentes foi com a Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, para a realização da segunda edição do mesmo congresso no próximo mês de Junho, em Maputo e na ilha. Camões em Moçambique Segundo Filipe de Saavedra, “o congresso realiza-se em dias especiais para Camões, e em lugares que ele habitou: 25 de Fevereiro, data mais provável do seu nascimento e 12 de Março, data da publicação da epopeia; e agora 10 de Junho, dia da morte do poeta em Lisboa”. “Como Camões viveu dois anos na Ilha de Moçambique, tarde ou cedo ali iríamos. Já tinham sido realizados congressos sobre Camões em Portugal e no Brasil, mas este é o primeiro que se reúne em toda a África, sendo que na Ásia também já fizemos dois, um na Indonésia e outro em Macau, os primeiros neste continente”, explicou. Em Moçambique, o docente irá falar “sobre os africanos em geral [presentes] na obra de Camões”, sendo que outros académicos vão “ocupar-se da relação dele com Moçambique, com outras pessoas que por ali passaram no tempo em que ele lá esteve, de questões de tradução que são sempre primaciais, e do ensino de Camões nas escolas”. Segundo o académico, este congresso tem o apoio da Comissão Nacional Portuguesa para as Celebrações do V Centenário de Camões. Filipe de Saavedra faz também parte da “Rede Camões na Ásia & África”, que reúne vários especialistas em Camões e que tem organizado os Congressos do Meio Milénio. “A rede de camonismo que implantamos na Ásia será fiel à sua matriz de ponto de encontro dos tradutores com os exegetas. Caracteriza-se por uma perspectiva global e plural, centrada nos textos, mas ancorando-se igualmente na experiência vital do poeta, concretamente nas vivências asiáticas e africanas dele. Este é um ponto de vista diferente do de Portugal.” O III Congresso do Meio Milénio irá decorrer no próximo ano em Goa, em parceria com a Universidade de Goa. “Iremos aprofundar as relações de Camões com a Índia daquele tempo, e não só com a Índia portuguesa. Estamos a oferecer co-tutorias a estudantes indianos de mestrado e doutoramento que queiram trabalhar Camões, bem como assistência bibliográfica. Também investiremos na procura de novos tradutores da poesia de Camões para as várias línguas indianas”, adiantou. Escritos que faltam Questionado sobre o que falta analisar e investigar na obra do poeta, o investigador da MUST salienta os poucos avanços ao nível da obra, e mais na vertente biográfica. “No século XX, e no que vai do XXI, avançou-se sobretudo no conhecimento da vida de Camões. Mas quanto à obra, os progressos têm sido mais lentos. Apesar dos contributos fundamentais prestados por estudiosos portugueses e estrangeiros, pode-se dizer que nenhuma edição da lírica saída até hoje se sustenta no seu conjunto como definitiva, e o mesmo quanto às do teatro. Para as cartas, a pesquisa e edição que eu estou a publicar era ainda mais urgente.” Filipe de Saavedra destaca que “muito está feito e muito está por fazer”, mas no que diz respeito à agitada vida do poeta, “há muitos aspectos da vida de Camões em que até sabemos demasiado, em assuntos sobre os quais o próprio talvez não tivesse gostado que se soubesse tanto”. “Mesmo o estudo da lírica já seria para ele um abuso, uma vez que a não quis reunir nem publicar, quando facilmente o poderia ter feito depois do sucesso de ‘Os Lusíadas’. Foi uma parte renegada da obra dele, já sem falar das cartas privadas, algumas privadíssimas. Pelo que todo esse excesso de conhecimento, esse saber-se quase tudo sobre a vida e sobre a obra de Camões, representa para nós um milagre, e para ele possivelmente uma maldição”, acrescentou. Para Filipe de Saavedra está em causa “o angustiante dilema entre respeitar a vontade e a privacidade de um autor, e perscrutar até aos íntimos recessos a existência terrena dele, sondando mesmo os seus pensamentos mais íntimos”. “Aqui somos forçados a pesar o interesse do indivíduo por um lado, idealmente atendível, e o interesse da cultura e da história por outro, que é maior e soberano. Ganha o segundo, e que Camões nos perdoe”, conclui.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEconomia | Associação quer acelerar transformação de indústrias A Associação Económica de Macau defende que Macau necessita de uma transformação económica mais célere, face à fraca recuperação económica a nível local e mundial e ao aumento das tensões geopolíticas. Um dirigente da associação salienta que Macau é a cidade da Grande Baía que menos investe em investigação É preciso acelerar a transformação da economia, apostando em indústrias emergentes para retirar o peso do jogo das restantes actividades económicas. A ideia foi deixada por Wong Un Fai, secretário-geral adjunto da Associação Económica de Macau, que, ao jornal Ou Mun, disse que é necessário efectivar a diversificação da economia tendo em conta a fraca recuperação da economia local e global e ainda o aumento das tensões geopolíticas. Num artigo de opinião publicado no jornal Ou Mun, o responsável pediu para se olhar para os anos da pandemia, que explicam os riscos inerentes da dependência de uma única actividade económica. Nesses anos, o Produto Interno Bruto (PIB) de Macau caiu mais de 50 por cento devido à queda de turistas e das receitas do jogo, salientou. Para o responsável, é também grave o facto de os casinos “roubarem” espaço de desenvolvimento a outros sectores e empresas. Apesar da esperança no fomento de áreas como a cultura, medicina tradicional chinesa (MTC) ou sector financeiro, a sua base é ainda fraca, o desenvolvimento lento e não existe uma cadeia de produção e fornecimento com maturidade, escreveu. Assim, Wong Un Fai defende que Macau tem desequilíbrios estruturais na sua economia que não dão resistência ao território para enfrentar impactos externos, defendendo um maior foco das autoridades em indústrias emergentes como a MTC, através dos laboratórios nacionais. maior entrada de empresas internacionais, para promover Macau como um centro de actividade entre a moeda chinesa e os países de língua portuguesa. Wong Un Fai pede também o reforço da aposta no ensino superior, aumentando o investimento em investigação científica para cerca de 1 por cento do PIB, criando mais laboratórios de referência do Estado e reforçando a cooperação académica internacional. Parcos investimentos Em relação ao investimento na área da ciência, Wong Un Fai disse que Macau é a cidade da Grande Baía que menos investe em investigação e desenvolvimento científico, representando apenas 0,3 por cento do PIB. Ao nível dos recursos humanos, o responsável alertou para a escassez de quadros qualificados que limita a transformação das actividades económicas, e criticou a falta de políticas adequadas e medidas complementares para a chegada de mais quadros qualificados internacionais. Isso faz de Macau um território pouco atractivo para a chegada de académicos e profissionais, defendeu. Ainda que seja uma das 11 cidades do projecto da Grande Baía, Macau não desempenha, segundo Wong Un Fai, o papel que lhe foi destinado por Pequim neste contexto, pois é em Hengqin que existe oferta de terrenos e políticas de apoio ao território. Além disso, lembrou, é ainda necessário aumentar a articulação entre a RAEM e as restantes cidades da Grande Baía nas áreas legislativa, indústrias e recursos.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteJogo | Como o bacará e o empresário Yip Hon ajudaram a cimentar a STDM Jorge Godinho, jurista e especialista na história do jogo de Macau, publicou um artigo que destaca o legado de Stanley Ho e como o bacará e o empresário Yip Hon foram essenciais na construção do império da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau. Completaram-se ontem cinco anos da morte do rei do jogo de Macau Acaba de ser publicado, na revista “Gaming Law Review”, um artigo de análise do académico Jorge Godinho que retrata as peças essenciais que ajudaram a construir o império da STDM – Sociedade de Turismo e Diversões de Macau e o legado que Stanley Ho deixou nas indústrias do jogo e entretenimento do território. Os fundadores dos STDM foram Yip Hon, Teddy Yip, Henry Fok e Stanley Ho. Em “The place of Stanley Ho (1921-2020) in Macau casino gaming history” [O lugar de Stanley Ho (1921-2020) na história do jogo de casino em Macau], conclui-se que dado o parco conhecimento e domínio do funcionamento dos jogos de fortuna e azar por parte do magnata de Hong Kong, acabou por ser Yip Hon o grande estratega da STDM nessa área. E que, nos primeiros anos, o bacará foi o jogo que deu fortuna aos bolsos dos gestores da STDM. “Yip Hon esteve por detrás das principais mudanças de 1975-1976: a viragem para o bacará e a utilização de uma rede de promotores de jogo. Stanley Ho era um empresário muito inteligente, com um olhar extremamente atento às oportunidades de negócio. Foi decisivo ao aproveitar a oportunidade oferecida pelas reformas e pelo concurso público de 1961-1962 e ao criar a STDM. No entanto, isso não é necessariamente o mesmo que ter experiência no jogo em geral e no bacará em particular”, escreveu Jorge Godinho na conclusão. O professor visitante na Universidade de Macau e docente no ISMAT – Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes cita um diálogo entre Stanley Ho e a jornalista do canal CNN, Lorraine Hahn, numa entrevista de 2004, em que este assume o seu fraco conhecimento dos meandros do funcionamento do jogo. “Não percebo nada de jogos de azar, continuo a não jogar. Consegui esta concessão porque foi um desafio para mim, pois não consigo perceber por que razão Hong Kong era tão próspera e Macau era uma cidade moribunda, a apenas 40 milhas de distância. Por isso, mais uma vez, adoro desafios, apresentei uma proposta e ganhei a concessão. (…) Como é que eu sou? Bem, sou muito normal; a única diferença é que não jogo”, assumiu Stanley Ho, acrescentando que apenas se interessava por desporto. “Bem, gosto desse nome [rei do jogo], mas para ser muito franco não mereço esse ‘rei do casino’, não jogo, como posso ser o rei do casino?”, questionou Stanley Ho em resposta à jornalista. O artigo de Jorge Godinho destaca que “nos primeiros anos, e durante o período em que se deu a grande viragem para o bacará, a força motriz do jogo na STDM foi Yip Hon (1904-1997), o verdadeiro perito do jogo na STDM”, cuja importância foi reconhecida pelo próprio Stanley Ho. “Devido ao tempo que passei em Macau, conhecia toda a gente de lá e, em 1961, quando houve um concurso para a concessão do jogo, juntei-me a alguns amigos e fizemos uma proposta para o casino – e ganhámos o franchise. Eu estava a trabalhar com o Sr. Henry Fok, o meu cunhado Teddy Yip e Yip Hon, que era um jogador profissional. Precisava de alguém que conhecesse esse lado do negócio”, disse o magnata, citado no artigo. Yip Hon era “o único accionista da STDM especialista em jogo”, e, nos primeiros anos de vida da empresa, o bacará gradualmente assumiu mais importância, ganhando destaque face a jogos como o blackjack e roleta, “tanto no mercado de massas como no segmento das grandes apostas”. Dados citados por Jorge Godinho, da Direcção dos Serviços de Inspecção e Coordenação de Jogos, à data com o nome Inspecção dos Contratos de Jogos, mostram uma “evidente” ascensão do bacará, que era o maior jogo em 1977, com 37 por cento de quota de mercado, e 65 por cento de quota em 1984. “Por outro lado, todos os outros jogos diminuíram o seu peso relativo”, acrescenta o autor do artigo. Dividir o bolo O monopólio da STDM em Macau durou exactamente 40 anos e três meses – de 1 de Janeiro de 1962 a 31 de Março de 2002, quando as autoridades decidiram liberalizar o mercado, trazendo para o território concessionárias norte-americanas. No artigo é referida a posição pública de Stanley Ho relativamente à chegada de novas operadoras e ao estilo de empresa que trouxe novidades ao que se passava em Macau, com mais eventos de cariz internacional. “Eles querem imitar Las Vegas, criar grandes espaços centrados no entretenimento familiar. Isso é bom para Macau. Quanto aos nossos clientes habituais, eles vêm para jogar assim que entram no casino. Não têm tempo para ver outras coisas”, referiu o magnata. Da STDM nasceu a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) que concorreu ao concurso público para a atribuição de novas concessões e que ganhou uma, mas para Jorge Godinho poderá ter havido uma má análise da futura concorrência, o que afectou, em parte, o posicionamento da operadora. “A SJM pode ter esquecido o seu próprio passado e pode ter repetido alguns dos erros cometidos pela Tai Heng no concurso público de 1961, a começar pelo excesso de confiança. A SJM poderá ter entendido que, como lhe seria sempre atribuída uma das concessões, não valeria a pena assumir compromissos ‘excessivos’. Esta abordagem revelou-se incorrecta”, lê-se. O estudo remete a 1961, quando a anterior concessionária à STDM, a Tai Heng Ltd, encarou esse concurso “de forma demasiado optimista e poderá ter subestimado a concorrência potencial num processo de concurso em que a decisão se baseia essencialmente numa base muito simples e directa: o montante da renda oferecida”. “A Tai Heng pode ter esperado que não houvesse concorrência, dado o montante do investimento necessário”, defendeu Jorge Godinho. Concurso aquém Em 2001, Macau tinha deixado para trás há bem pouco tempo a administração portuguesa e era já RAEM. As análises em relação ao futuro do jogo já sem monopólio eram, portanto, prudentes. “Embora em 2001 se acreditasse que havia potencial para crescer e transformar o mercado através da introdução da concorrência, na altura as expectativas não eram muito elevadas. Num movimento algo conservador, cuidadoso ou incremental, foi tomada a decisão de ter (apenas) três concessões. De facto, em 2001, ninguém poderia ter previsto o enorme desenvolvimento que, de facto, ocorreu nos anos seguintes.” Estava “ainda muito fresca” a criminalidade marcada pelas seitas no final dos anos 90 e “os decisores eram muito prudentes”. “Havia dúvidas sobre se as grandes empresas internacionais estariam presentes no concurso público de 2001. Havia também a percepção de que seriam necessários muitos anos para que os novos operadores gerassem efectivamente algum tipo de concorrência significativa para o antigo monopólio da STDM.” Segundo Jorge Godinho, “com o benefício da retrospectiva, é bastante claro que estas percepções não estavam de acordo com o que aconteceu”, pois “os anos que se seguiram a 2001 foram caracterizados por um crescimento histórico e por transformações qualitativas”. Jorge Godinho recorda que, embora fosse “amplamente esperado que uma das concessões fosse atribuída à SJM”, a verdade é que a empresa “foi classificada em terceiro lugar – o que não é uma posição excelente”. “Talvez porque os projectos de investimento pré-concessionados não eram vistos como os melhores para o que se pretendia ser um futuro dominado pelo turismo de massas em Macau e com uma diversificação crescente. A SJM terá estimado que a nova concorrência não lhe retiraria demasiada quota de mercado, especialmente no sector VIP”, acrescentou. O lugar de hoje Aquando do desenvolvimento dos primeiros projectos de grande envergadura no Cotai, Jorge Godinho destaca como a “força motriz foi a Venetian, liderada por Sheldon Adelson”, que trouxe para o território o maior casino do mundo, o Venetian. Tratou-se de “uma aposta fortíssima em Macau, que deu bons resultados”, frisou o autor do estudo, que destaca que a SJM depressa perdeu terreno no mercado. “O papel principal nestes projectos [no Cotai] não foi desempenhado pela SJM. A perda de quota de mercado da SJM começou em 2004 e foi relativamente rápida. Em 2009, a SJM continuava a liderar, com 31 por cento de quota, mas a liderança do mercado perdeu-se em 2014 e nunca mais voltou. A SJM enfrentou uma concorrência séria tanto no mercado de massas como no mercado VIP, e nos investimentos em novas propriedades”, refere Godinho. O estudo traz ainda dados sobre o actual posicionamento da SJM após os anos duros da pandemia, e já no contexto de atribuição de novas licenças de jogo, num total de seis. “A SJM foi o último operador a abrir um grande resort integrado na zona do Cotai”, lê-se, referindo-se de seguida que, a partir do terceiro trimestre de 2023, a quota de mercado por GGR [Gross Gaming Revenue – receitas brutas de jogo] foi de 26,9 por cento para a Venetian, 18 por cento para a Galaxy, 14,6 por cento para a MGM, 14,5 por cento para a Melco, 13,4 por cento para a Wynn e 12,1 por cento para a SJM. Assim, o que se verificou, nos últimos anos, foi “a perda inevitável de importância da SJM” tendo em conta “a intensa competição desde o fim do monopólio em 2001”. “Actualmente, a SJM encontra-se na última posição. A SJM Resorts é o principal operador de casinos em Macau apenas numa métrica específica: o número de casinos (13). Este facto deve-se sobretudo à sua longa história e ao legado dos ‘casinos-satélite’. O concurso público de 2022 para seis concessões constitui a base do actual ciclo de concessões de dez anos (2023-2032). No concurso de 2022, a SJM foi classificada na sexta posição – a última entre os operadores históricos”, remata Jorge Godinho.
Andreia Sofia Silva EventosConcerto | Bruno Pernadas em Macau e no Interior em Junho O mês de Junho será preenchido para o multi-instrumentista e compositor português Bruno Pernadas, que em parceria com a associação NOYB (None of Your Business), protagoniza diversos concertos em Macau, Hong Kong e noutras paragens do sul da China. As sonoridades lusas podem ouvir-se em Shenzhen, no dia 12; em Macau no dia seguinte, e depois em Zhuhai e Hong Kong A associação NOYB (None of Your Business) prepara-se para trazer, já no próximo mês de Junho, a digressão de Bruno Pernadas, “The Greatest Bay Area Tour 2025”, com concertos em Shenzhen, Macau, Zhuhai e Hong Kong. Assim, o público português, chinês e de outras nacionalidades pode ouvir e ver de perto as criações do multi-instrumentista e compositor português, apresentando-se uma jornada de fusões sonoras que deambulam entre o “jazz, pop futurista, folk, electrónica e rock psicadélico”. Segundo uma nota de imprensa da NOYB, Bruno Pernadas é “mestre da alquimia sonora, criando paisagens vibrantes e imersivas que desafiam categorizações, tornando os seus concertos uma experiência inesquecível”. “A sua abordagem fluída entre géneros, combinando arranjos intricados com influências globais, levará o público numa viagem musical onde melodias retro-futuristas se encontram com ritmos hipnóticos, e onde cada nota conta uma história. Mais do que uma série de concertos, este evento é uma ponte cultural entre Portugal e a Grande Baía”, refere ainda a NOYB. Destaque para o facto de o concerto em Macau decorrer dois dias depois do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das comunidades portuguesas, sendo que todo o mês é dedicado a celebrar a cultura e língua portuguesas. Todas as músicas numa só A incursão de Bruno Pernadas pelo mundo da música fez-se através dos Real Combo Lisbonense e de grupos como os “Julie & The Carjackers” ou “Minta & the Brooktrout”. O primeiro álbum intitulava-se “How Can We Be Joyful In A World Full Of Knowledge?”, e foi lançado há 11 anos. Seguiu-se “Those Who Throw Objects At The Crocodiles Will Be Asked To Retrieve Them”, em 2016, e desde aí que tem somado êxitos. Destaque para o lançamento, em 2021, do trabalho discográfico “Private Reasons”, que encerra a trilogia sonora criada em 2014 e 2016. Ainda nesse ano, Bruno Pernadas lançou “Worst Summer Ever”, tendo criado também diversas bandas sonoras para dança, teatro e cinema. Em declarações à Agenda Cultural de Lisboa, Bruno Pernadas falou da diversidade de estilos musicais que estão presentes no trabalho que faz. “Não há um género que descreva a música que faço. Tem jazz, tem música pop, muita música exótica, algum rock, world music… Quando faço música não penso muito nisso, em que género é que se encaixa.” O músico disse ainda, à mesma publicação, que não se considera cantor. “Não, não me sinto cantor, de todo [risos]. Nos outros discos também cantei, mas neste canto mais, é um facto. Foi difícil para mim porque não me é natural, não tenho ferramentas para isso. Canto como qualquer pessoa, a única diferença é que sei as notas que estou a cantar, mas técnica não tenho. Prefiro muito mais tocar instrumentos.”
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteNanfang Media | Grupo de Guangdong cria plataforma com Portugal Na sexta-feira, foi lançada uma plataforma de cooperação na área dos media, promovida pelo grupo Nanfang Media, com sede em Guangdong e escritórios em Macau. A “Plataforma Chinesa-Portuguesa de Conteúdos de Media para a Grande Baía” pretende “reformar a cooperação de media e facilitar a troca de notícias e conteúdos culturais entre a China e os países de língua portuguesa” Acaba de ser criada uma nova plataforma para troca de conteúdos noticiosos e culturais entre a China e os países de língua portuguesa. O projecto é do Nanfang Media Group, com sede na província de Guangdong e escritórios em Macau, e intitula-se “Greater Bay Area Chinese-Portuguese Media Content Platform”. Trata-se de um projecto integrado na internacionalização e expansão do grupo chinês e que foi lançado na última sexta-feira, em Lisboa, integrado no Festival da Cultura Chinesa-Portuguesa “Chinese Styles, Portuguese Flavors” [Estilos Chineses, Sabores Portugueses], que decorreu na sede da Quinta da Marmeleira, em Lisboa. O Nanfang Media Group, que detém títulos como o GD Today, em língua inglesa, quer agora chegar ao universo da língua portuguesa e a uma “audiência global de cerca de 300 milhões de falantes de português”, escreveu essa publicação. Também aí se descreve que o grande objectivo desta nova plataforma é “reforçar a cooperação de media e facilitar a troca de notícias e conteúdos culturais entre a China e os países de língua portuguesa”. No seu discurso, Zhao Yang, chefe de redacção do portal “International SOUTH”, ligado ao grupo Nanfang, apresentou os objectivos principais desta plataforma, nomeadamente “estreitar a colaboração com meios de comunicação portugueses, ‘Think Tanks’ e outras instituições e apresentar, de forma mais acessível, histórias sobre o ambiente de negócios da China, Grande Baía e Guangdong”. É ainda objectivo mostrar a modernização económica e social que a China tem conhecido nos últimos anos, bem como mostrar “a cooperação pragmática sino-portuguesa e a amizade entre os dois povos”. Assim, esta plataforma de contacto visa ainda “aproveitar as potencialidades da inteligência artificial, a fim de promover os nossos meios de comunicação social na era digital”. “Espero que esta iniciativa possa contribuir, com a força dos media, para o diálogo entre civilizações e aprofundamento de uma cooperação abrangente entre a China e Portugal”, disse Zhao Yang. O responsável explicou ainda que “nos últimos dois anos, e através do aproveitamento das vantagens jornalísticas em Macau, a SOUTH tem reforçado a colaboração com a plataforma sino-portuguesa, a Agência Lusa ou outros órgãos de comunicação em língua portuguesa, divulgando de forma ampla histórias sobre portugueses a viver e trabalhar no grande país [China], Hong Kong e sobre a cooperação económica entre Guangdong e Portugal”. De frisar que o grupo Nanfang, presidido por Liu Qiyu, detém actualmente a rádio portuguesa Iris FM, com sede em Samora Correia e Lisboa. Palavras de presidente Liu Qiyu, presidente do Nanfang Media Group, destacou o facto de esta plataforma ser lançada numa altura em que se celebram os 500 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e a Europa, bem como “o 20º aniversário do estabelecimento de uma parceria estratégica abrangente entre a China e Portugal”. Referindo-se ao grupo que lidera, que tem “ampla influência nacional e internacional e que está enraizado na principal província económica da China, em Guangdong”, Liu Qiyu falou da ideia de internacionalizar o grupo, “empenhando-se na construção de pontes a nível internacional e na promoção do diálogo entre civilizações”. “Queremos reforçar a cooperação com os meios de comunicação social de todo o mundo, a fim de promover uma compreensão global entre povos”, referiu. O responsável afirmou esperar que a nova plataforma “possa reunir a sabedoria e a força dos meios de comunicação social de ambos os países para se contarem histórias do mundo lusófono e as histórias de Guangdong, da Grande Baía e da China, e também para que se possam levar histórias de Portugal e da Europa para a China, em especial para Guangdong”. O presidente do grupo Nanfang não esqueceu o papel de Macau na ligação à zona de Hengqin, numa altura em que se consolida “o papel da região como plataforma de serviços a nível económico e comercial entre a China e países da língua portuguesa”. Camões e Ronaldo Zhao Bentang, embaixador da China em Lisboa, marcou presença no evento, destacando que “as civilizações chinesa e portuguesa valorizam-se, aprendem e coexistem de forma harmoniosa, o que beneficia os povos de ambos os lados, fazendo também contribuições importantes para a paz e desenvolvimento mundial”. “A cooperação linguística e cultural entre a China e Portugal tem sofrido um processo rápido”, destacou ainda, referindo que, nos últimos anos, a cultura chinesa tem tido cada vez mais popularidade fora do país, enquanto que Portugal “foi um dos primeiros países europeus a comunicar com a China”. Trata-se de uma história “com mais de 500 anos”, tendo-se criado “uma base sólida para o desenvolvimento comum” e um maior intercâmbio cultural, disse. Zhao Bentang não esqueceu o destaque que o futebol e a literatura em português têm tido na China. “Cristiano Ronaldo é um nome bem conhecido na China, e as excelentes obras de escritores portugueses como Camões, Fernando Pessoa ou José Saramago podem ser encontradas em todas as livrarias chinesas”, lembrou. O festival cultural sino-português onde se integrou o lançamento desta nova plataforma de media contou com gastronomia chinesa e também pratos macaenses e portugueses, com assinatura de Michael Franco, macaense de Hong Kong que abriu recentemente um novo restaurante em Lisboa, o Dragon Inn. De resto, o evento, apoiado por diversas entidades, como a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), teve provas de vinhos e demonstrações da cultura chinesa, com sessões de caligrafia e uso de vestes tradicionais. Bernardo Mendia, secretário-geral da CCILC, destacou que a China criou, há 71 anos, a ideia de “respeito mútuo e da coexistência pacífica entre as nações, os célebres Cinco Princípios de Coexistência Pacífica, que não são mais que uma manifestação de respeito pela cultura de terceiros, sem a pretensão de alterações ou imposições, como se umas culturas fossem superiores a outras”. O responsável salientou que, nas ligações económicas, “a cultura é um elemento essencial e até anterior como forma de potenciar o bom relacionamento bilateral e a concretização de negócios mutuamente benéficos”. Neste sentido, acrescentou Bernardo Mendia, “o respeito pela cultura é inegociável”, por se tratar de “um bem intangível, porque é composta por valores, crenças, costumes e tradições, transmitidos de geração em geração através de práticas, rituais e expressões que resultam na própria identidade de um Povo ou comunidade”. Segundo o GD Today, Bernardo Mendia referiu “que os media podem ajudar-nos a quebrar barreiras e a facilitar a comunicação”, sendo que a nova plataforma poderá ter “um enorme significado na conexão entre Portugal e a China”. Fazendo referência ao debate que existe actualmente em Portugal, sobre o fim das touradas, Bernardo Mendia destacou que “as corridas de toiros à portuguesa” são parte da cultura, algo “anterior ao poder do próprio Estado, poder esse que se legitima pelo respeito da cultura do seu Povo e comunidades”. Assim, neste contexto, o secretário-geral da CCILC lamentou que o Estado tente “impor uma cultura – fenómeno denominado de ‘cultura de Estado'”. Nesses casos, “instala-se o caos, conforme presenciámos recentemente no mundo ocidental com a tentativa de imposição da cultura woke por parte de alguns Estados”, rematou.
Andreia Sofia Silva SociedadeSaúde | Número de médicos e enfermeiros por habitante sem aumentos Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) divulgados pelos Serviços de Saúde (SS) demonstram que entre 2023 e 2024 não houve aumento do número de profissionais de saúde no território em termos da média de médicos ou enfermeiros por número de habitantes. Desta forma, no final do ano passado existia uma média de 3 médicos (2,9) por cada mil habitantes; 1 médico (1,1) de medicina tradicional chinesa (MTC) por cada mil pessoas; menos de um médico dentista ou odontologista (0,4) por cada mil pessoas e ainda cerca de 4 enfermeiros por cada mil habitantes (4,44). Tratam-se de “dados semelhantes aos de 2023”, aponta a DSEC. Ainda assim, e em termos globais, Macau registou mais 50 médicos inscritos em termos anuais, num total de 2.030; mais 732 médicos de medicina tradicional chinesa ou mestres de medicina tradicional chinesa inscritos, um aumento de apenas quatro, em termos anuais; e uma redução de dois médicos dentistas inscritos, num total de 304. Por sua vez, o território ganhou mais 78 enfermeiros no espaço de um ano, com 3.058 inscritos no final de 2024. Em termos do número de camas havia, no final do ano passado, 1.779 camas nos cinco hospitais locais, uma redução de 103 em termos anuais “devido principalmente à transferência de camas para doentes”. As camas para internamento aumentaram em 96 unidades face a 2023, mas a taxa de utilização destas, de 71,5 por cento, registou um decréscimo homólogo de 2,3 pontos percentuais. Destaque, nestas estatísticas, para uma subida ligeira de 0,5 por cento, entre 2023 e 2024, dos atendimentos nos serviços de urgência de todos os hospitais, no total de 463 mil.
Andreia Sofia Silva PolíticaRestauração | Lei que regula licenciamento será revista O Governo pretende rever vários diplomas legais na área do comércio e negócios, sendo que a revisão da lei de 1996, relativa ao licenciamento dos estabelecimentos de comidas e bebidas e bares, será uma das primeiras a ser revista, juntamente com a lei de 1998 que “regula o condicionamento administrativo de determinadas actividades económicas”. Além disso, será também revista a lei de salvaguarda do património cultural, de 2013, a fim de “garantir os interesses dos consumidores, os valores do património cultural, a segurança na construção e a segurança contra incêndios”. A informação consta numa resposta à interpelação escrita do deputado Ngan Iek Hang assinada pela directora dos Serviços para os Assuntos de Justiça, Leong Weng In. A directora refere que a revisão destes diplomas visa “reduzir os impactos negativos que a legislação relevante possa causar ao ambiente empresarial, designadamente no que diz respeito ao início de actividade de empresas”. O Executivo quer ainda apostar na electronização de serviços para empresas, nomeadamente a “constituição de sociedades comerciais”, “certidão de admissibilidade de firma” e “registo inicial de empresário comercial e pessoa singular”. Este sistema está na fase de teste e deverá ser lançado “gradualmente na Plataforma para Empresas e Associações [na Conta Única] no segundo e terceiro trimestre do corrente ano”.
Andreia Sofia Silva PolíticaTrabalho | Sector dos seguros com salários mais altos e vagas Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) confirmam que o sector das seguradoras está em alta, quer em número de vagas, quer na média salarial dos trabalhadores. No final do primeiro trimestre deste ano, havia um total de 821 trabalhadores nas empresas de seguros, mais 1,1 por cento face a igual período do ano passado, sendo que em Março a remuneração média foi de 34.480 patacas, mais 3,3 por cento. O aumento da remuneração média, dentro do sector financeiro, foi maior para as actividades de intermediação financeira, na ordem dos 5,5 por cento. Assim, em Março, um trabalhador deste segmento ganhava uma média de 30.270 patacas. Em termos globais, a remuneração média dos trabalhadores a tempo completo do sector das actividades financeiras foi de 32.020 Patacas, mais 2,7 por cento, em termos anuais. No fim do primeiro trimestre houve uma quebra de 0,7 por cento no número de trabalhadores na banca, que tinha um total de 7.193 funcionários. Trata-se de uma redução de 53 pessoas. Em termos do número de vagas disponíveis nos bancos, eram 202, menos oito em termos anuais. Porém, no segmento dos seguros, o número de vagas aumentou em sete, no total de 41.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCCCM | Lançada edição bilingue de livro sobre Ciência Humana A Ciência Humana, que visa “integrar todas as áreas do conhecimento humano”, foi tema de um livro de Maria Burguete e Lui Lam lançado em 2015. Agora chegou a edição bilingue de “Science Matters – Ciência Humana, Uma Perspectiva Unificada nas Humanidades e nas Ciências”, editada com apoio da Universidade de Macau. A obra foi apresentada na quarta-feira no Centro Científico e Cultural de Macau Houve um tempo em que a filosofia era a base do conhecimento antes de surgirem outras áreas do saber. Porém, actualmente separam-se as ciências exactas das ciências humanas, a arte da filosofia, como áreas completamente distintas. Maria Burguete, cientista e presidente da Associação Science Matters, estabelecida em Portugal, lançou na quarta-feira o livro bilingue “Science Matters – Ciência Humana, Uma Perspectiva Unificada nas Humanidades e nas Ciências”, escrito com o cientista chinês Lui Lam. A obra procura demonstrar como todas as áreas do saber podem viver e conviver em conjunto, numa espécie de complementaridade, sem esquecer a filosofia. O livro foi apresentado no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) e contou com o apoio de várias entidades, nomeadamente a Universidade de Macau e o Instituto Rocha Cabral. Lançada pela primeira vez em 2015, a obra é agora editada numa versão bilingue, em português e chinês, a fim de juntar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido por Maria Burguete, doutorada em Histórias das Ciências na Alemanha e com formação de base em Bioquímica, e o cientista Lui Lam. É na Associação Science Matters, a que está ligado, desde 2018, o Centro Science Matters, em Cascais, que Maria Burguete dá cursos sobre o conceito de “Ciência Humana”, enquanto Lui Lam se dedica ao mesmo trabalho na China. Na sessão de quarta-feira, Maria Burguete explicou que Ciência Humana, tradução para português do conceito “Science Matters”, pretende “integrar todas as áreas do conhecimento humano, incluindo ciências naturais, sociais e humanas, sob o paradigma científico”. Assim, “a ideia é que todos os aspectos relacionados com os seres humanos podem ser estudados cientificamente, rompendo com as tradicionais divisões entre as ciências naturais e humanas”, promovendo-se “a unificação de todo o conhecimento produzido pela espécie humana numa única multidisciplina”. Englobam-se, portanto, as áreas das humanidades e das artes com as ciências sociais, ou ainda as humanidades com as ciências médicas. Segundo a autora, a Ciência Humana traz uma “visão unificadora do conhecimento”, sendo “uma nova multidisciplina que é como uma nova filosofia do século XXI”. Trata-se de uma “nova abordagem ao conhecimento, onde se reconhecem padrões comuns” a todas as áreas, explicou ainda. Maria Burguete diz ter tido contacto com o conceito a partir das ideias do físico nuclear inglês Charles Percy Snow, que numa palestra em Cambridge, em 1959, apresentou a ideia das “duas culturas”, ou seja, uma separação entre as ciências exactas e as humanidades, como dois pólos opostos. “A minha formação de base é em bioquímica e engenharia química. Portanto, estou muito ligada às ciências naturais. E houve uma altura em que C.P. Snow, quando era professor em Cambridge, deu uma conferência em que falou da existência de duas culturas. Isso foi um escândalo na altura, porque parecia que havia a cultura científica e as outras, e todos os que não estavam dentro dessa cultura científica sentiram-se atingidos. Ainda hoje há pessoas que dividem a área das letras das restantes, e isso tem de acabar.” Para Maria Burguete, “não faz sentido criar barreiras”, porque “todas as áreas se complementam”. “Todas as áreas, de uma forma ou de outra, estão sujeitas a um paradigma muito semelhante de conhecimento. Como se forma, de onde vêm e para onde vão? Todas passam por estas etapas. Claro que as abordagens são diferentes, conforme se trate de literatura, artes ou química, mas continuam a ser áreas de desenvolvimento do saber”, acrescentou. O papel da filosofia O contacto de Maria Burguete com Lui Lam deu-se por altura do 20º Congresso Mundial da História da Ciência, que decorreu em Pequim em 2005. “Aí apresentei uma nova epistemologia, e o meu colega, que é físico, ficou encantado e veio ter comigo, propondo-me uma nova multidisciplina, porque disse acreditar, como eu, que o saber é transversal”, frisou ao HM. De resto, esta obra bilingue nasce de um projecto editorial de seis volumes, sendo que esta edição é apenas o primeiro volume. As conferências promovidas por Maria Burguete e Lui Lam relacionadas com o tema da Ciência Humana arrancaram em 2007 e decorreram várias edições nos anos de 2009, 2011, 2013, 2015, 2017 e 2019. O que foi falado nessas conferências foi compilado em inglês, editando-se agora, no livro apresentado na quarta-feira. A académica acredita que “tudo surgiu com a filosofia”, remetendo para o período da Antiguidade Clássica. “A filosofia foi o marco principal do conhecimento, e só depois as áreas do conhecimento começaram a divergir.” Álvaro Rosa, macaense e docente do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, deixou no ar alguns dos temas que podem ser encontrados na obra, nomeadamente a história da ciência na China. “Para quem está interessado nos problemas da China, este livro ajuda-nos a compreender como a China encara e vê a história das ciências, e como é feita a comunicação da ciência” no país, disse. “A China não é exactamente igual ao Ocidente, tem as suas características, e este livro ajuda-nos a compreender como a China vê essa e outras questões. É um livro que vale a pena ler, feito para mentes abertas, para que se possa discutir o conhecimento sem que haja um vocabulário ou abordagem demasiado técnicas”, acrescentou Álvaro Rosa. Álvaro Rosa lançou o repto à audiência do CCCM com o exemplo de como é encarada a beleza ou a fealdade de algo. “Muitas vezes dizemos que gostos não se discutem. O cientista começa por classificar quais as coisas que são bonitas e feias e depois realiza um inquérito, começando a observar se há ou não fealdade, colocando tudo em categorias. Há uma abordagem completamente diferente daquela que é feita pelo humanista. Portanto, a ideia da Maria Burguete é abranger todos os temas relacionados com a humanidade dentro daquilo a que chamamos ciência, no sentido de como é que conseguimos colocar, dentro do mesmo chapéu, o estudo de todos os temas e a sua interpretação. Acho isso muito interessante”, apontou Álvaro Rosa. “Uma perspectiva integrada” Ana Cristina Alves, coordenadora do serviço educativo do CCCM e formada na área da filosofia chinesa e da cultura, defendeu que o livro de Maria Burguete e Lui Lam apresenta “uma perspectiva holística e integrada” do conhecimento. “A filosofia ocidental olha para a filosofia chinesa como não sendo filosofia, encarando-a como pouco científica, porque não começa e não acaba na lógica”, disse, falando do exemplo da integração de conhecimentos existente na medicina tradicional chinesa. “A medicina tradicional chinesa é toda apoiada na filosofia, o seu substracto é a filosofia. Quando não se tem essa perspectiva filosófica integrada e holística, o que se faz na medicina é receber os pacientes em cinco minutos e pronto. E o que é importante para um bom diagnóstico é perceber os males que afligem o paciente. Isso só é possível de uma perspectiva integrada”, apontou. Neste sentido, Maria Burguete defendeu que um médico não deveria terminar a sua formação sem “ter pelo menos três anos de filosofia, porque tratar das pessoas não é apenas tratar o corpo fisicamente, mas também perceber a pessoa que está à sua frente”.