LAG 2025 | Governo quer criar plataforma integrada de formação profissional

No debate sobre as Linhas de Acção Governativa para este ano, o Chefe do Executivo destacou a iniciativa de criar uma “plataforma integrada de formação profissional” para os jovens que têm dificuldade em encontrar o primeiro emprego. Dos 7.100 desempregados, cerca de 4.000 são jovens, destacou o governante

 

Há desemprego estrutural em Macau e isso é “notório”. O deputado Ngan Iek Hang levantou a questão no debate de ontem sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) e exigiu medidas concretas ao Governo. “Muitos jovens têm dificuldades em encontrar trabalho na sua área de especialização, e muitos residentes apertaram o cinto e passaram a ser mais prudentes nos gastos. Como vai aperfeiçoar as medidas de apoio ao emprego com uma abordagem multidimensional, assegurando o emprego dos residentes?”, questionou.

Sam Hou Fai, na sua estreita como Chefe do Executivo a apresentar as LAG e a debatê-las com os deputados, anunciou a criação de uma “plataforma integrada de formação profissional” que inclua secretarias do Governo, associações locais e empresas para disponibilizar cursos específicos consoante as necessidades do meio empresarial.

“Actualmente, a taxa de desemprego está nos 2,4 por cento, são cerca de 7.100 desempregados, e quatro mil são jovens. Trata-se de um desemprego estrutural e é uma situação que surgiu nos últimos dois anos. Há muitos finalistas de cursos específicos, tal como medicina, que não conseguem encontrar emprego. Queremos contar com as empresas para que haja uma conjugação e uma plataforma integrada de formação profissional e desenvolvimento contínuo, para ver se é possível resolver esse desemprego estrutural por áreas”, disse.

Sam Hou Fai acrescentou também que a proposta partiu do secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip. “Temos também de contar com a tutela da secretária O Lam [Assuntos Sociais e Cultura], porque também tem a ver com a educação. Quanto à acreditação e certificação profissional, há que contar com a participação do Governo, associações e empresas, e a próxima etapa é criar essa plataforma integrada tendo em conta as experiências dos territórios vizinhos”, salientou.

Atenção aos casinos-satélite

Sam Hou Fai lembrou também o desemprego resultante do possível encerramento de casinos-satélite como exemplo da necessidade de cursos específicos consoante as necessidades da economia local. “Em relação aos casinos-satélite, teremos de ver em dois ou três meses para saber quais as necessidades dos desempregados e depois poderemos organizar acções específicas para determinadas áreas”, explicou.

O objectivo da futura plataforma integrada de formação é “resolver o problema dos recursos humanos”, tendo em conta que a contratação de trabalhadores não-residentes “é só uma medida de apoio suplementar que vai ser alterada tendo em conta a transformação de Macau e a sua situação concreta”.

O Chefe do Executivo lembrou as acções de formação que já existem entre o centro de formação da Federação das Associações dos Operários de Macau e a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, e também com as operadoras de jogo. “Temos de ter em conta a estratégia de diversificação 1+4 e criar cursos que dão diplomas. Temos de contar com as empresas para que haja uma conjugação de esforços”, concluiu.

16 Abr 2025

Cheque pecuniário | Sam Hou Fai espera “consenso” para decidir

Podem vir aí mudanças no programa de comparticipação pecuniária, mas não se sabe quando ou como. Sam Hou Fai afirmou ser necessário mais consenso na sociedade, mas indicou que parte do valor orçamentado para o cheque pode ser aplicado na economia local

 

O programa de comparticipação pecuniária vai ser alterado, mas Sam Hou Fai não adiantou ontem, na conferência de imprensa sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano, nenhuns detalhes sobre como vai ser essa mudança, em relação a formatos, valores e se residentes que vivem fora de Macau vão continuar a receber o apoio.
Para que se saiba o que vai acontecer é necessário consenso, disse. “Não consigo responder de forma mais detalhada sobre as condições [de atribuição dos cheques]. Neste momento, o objectivo do Governo é dar 10.000 patacas para residentes permanentes e 6.000 para não-permanentes. Para mais detalhes tenho de ter o consenso da sociedade”, frisou.
Sam Hou Fai deixou, no entanto, algumas considerações sobre eventuais formatos a adoptar pelas autoridades. “Temos este plano há 17 anos, e se o mantemos no formato antigo, ou se será necessário reformar, depende do consenso que obtivermos na sociedade. Podemos depositar o dinheiro no banco ou utilizar uma certa quantia para injectar na economia, para que se consuma mais. Tudo vai depender da situação de vida real.”
O Chefe do Executivo destacou que, em termos orçamentais, “este ano não vai ser fácil”, pois estão previstas “despesas regulares muito elevadas, de 150 mil milhões de patacas”, e receitas de impostos do jogo na ordem dos 93,1 mil milhões. Além disso, o governante lembrou a maior estabilidade da taxa de inflação actual face em 2008, quando foi criado o programa de comparticipação pecuniária.
“Lembro-me que em 2008 a crise financeira e a taxa de inflação foram assuntos encarados na altura. A taxa de inflação era de 9,4 por cento, mas agora está mais aliviada. Os cheques pecuniários são uma medida de apoio e não são regulados por lei. Na sociedade têm existido vozes que referem que este plano tem uma parte que não é justa e que tem de sofrer alterações”, lembrou.
“Por se tratar de uma medida anual, é preciso lançar o regulamento administrativo, e se não for lançado, é sinal que não vão haver cheques pecuniários. Quando realizar o regulamento vou ter em conta as diferentes situações sociais. Tenho apenas quatro meses como Chefe do Executivo e preciso de ouvir mais opiniões. Se mantivermos o modelo das dez mil patacas é fácil, pois temos residentes a trabalhar na Grande Baía. Também temos a possibilidade dos residentes com mais de 22 anos, com permanência em Macau de 183 dias, continuarem a ter apoio.”

Habitação parada

Questionado sobre a gestão da habitação económica, Sam Hou Fai deixou claro que o Governo vai apenas concluir as fracções que estão em construção e suspender novos projectos, dada a redução da procura por parte de residentes.

“Há um abrandamento devido ao ajustamento económico após a pandemia e do preço das habitações nas regiões vizinhas. Actualmente, estão em construção dez mil fracções, cujo trabalho termina em 2026, e os restantes projectos estão suspensos. Não vamos planear a retoma das obras, porque a habitação económica é algo que está relacionado com a oferta de terrenos e o mercado privado. Há fracções desocupadas e o mercado está fraco”, assegurou.

Lembrando a actual conjuntura económica internacional, Sam Hou Fai disse que “este não é o momento adequado para decidir a construção de mais habitações económicas”.

Poderá, isso sim, haver um ajustamento, para que as famílias possam mudar de casa consoante as necessidades. “Vamos estudar mecanismos para que os agregados familiares tenham outras opções. Os solteiros podem já ter uma família e precisam de outro tipo de casa. Pensamos mais nas famílias em lista de espera, garantir um equilíbrio e ponderar diversas situações”, frisou.

A habitação intermédia nem sequer é mencionada neste relatório das LAG. “Não mencionamos este plano por causa da situação económica de Macau, pois é preciso um equilíbrio entre a habitação privada, intermédia e a económica. A procura pela habitação económica baixou”, disse.

Táxis como “Mark Six”

Em relação à entrada no mercado de plataformas como a Uber ou a chinesa Didi, Sam Hou Fai prometeu estudar “uma plataforma para chamar táxis”, admitindo a falta de oferta em dias feriados e fins-de-semana.

“Durante a minha campanha conversei com representantes de câmaras de comércio do exterior que me disseram que apanhar um táxi em Macau é tão difícil como ganhar a lotaria do Mark Six. Estamos a estudar uma plataforma para os táxis e vamos tentar encontrar outras soluções para facilitar a deslocação da população.”

Turismo | Sam Hou Fai quer mais voos para o estrangeiro

Sam Hou Fai comentou ainda a futura visita oficial a Portugal, referindo também a possibilidade de se deslocar a Espanha “para iniciar intercâmbios”. “O nosso secretário deslocou-se recentemente a Espanha para participar numa conferência de grande envergadura, e iremos desenvolver os projectos nessa direcção, integrando-nos na Grande Baía e Hengqin”, referiu o governante, explicando que é necessário mais voos de ligação a outros mercados, sobretudo asiáticos. “O sudeste asiático é um mercado muito importante. Para Portugal a situação é mais complicada em termos de voos, mas para o sudeste asiático é possível. Podemos incentivar a criação de mais voos para esses países.”

Portugal | Visita de Sam Hou Fai depois das legislativas

Sam Hou Fai deu mais dados sobre a sua viagem oficial a Portugal, a primeira do seu mandato. “Espero que a visita aconteça depois das LAG, no primeiro semestre, talvez depois das eleições legislativas [a 18 de Maio], quando a situação estiver mais estável. Aí será um momento oportuno para a visita que é um bom testemunho das boas relações entre Macau e Portugal.” Questionado sobre as dificuldades dos portugueses na obtenção da residência, Sam Hou Fai disse ter contactado o secretário Wong Sio Chak sobre o assunto. “Foi-me dito que não houve alteração no regulamento administrativo, e reparei que, conforme a Lei Básica, os direitos mantém-se inalterados. Temos juristas portugueses a trabalhar no Governo e médicos, e também na Escola Portuguesa de Macau há docentes. Não temos qualquer problema.”

15 Abr 2025

Mantida prisão efectiva para homem alcoolizado que agrediu ex-namorada

O Tribunal de Última Instância (TUI) decidiu manter a pena de prisão efectiva de três anos e três meses, por cúmulo jurídico, bem como inibição de condução durante um ano e seis meses a um homem que agrediu a ex-namorada dentro do carro desta quando estava sob efeito de álcool, tendo também conduzido quando se encontrava alcoolizado. O TUI manteve também a decisão do pagamento de uma indemnização de 1.867 milhões de patacas, sendo que a seguradora deverá suportar 288 mil patacas.

O caso passou-se a 13 de Setembro de 2020, por volta das 21h34, quando o homem conduziu até à Avenida Comercial de Macau, tendo estacionado à porta do edifício FIT Centre Macau, aguardando que a ex-namorada voltasse para casa. Por volta das 23h30, a mulher, ao conduzir o carro, viu que o ex-namorado a esperava no local e estacionou na faixa de rodagem oposta.

A mulher tinha sido vítima de agressões por parte do homem durante o relacionamento, pelo que parou o carro e ligou a um amigo a pedir ajuda. Foi nesse momento que o agressor saiu do carro, aproximou-se da viatura da ex-namorada e bateu-lhe depois de fazer uma inversão de marcha, “causando-lhe o bloqueio da porta frontal direita, que não pôde ser aberta”.

De seguida, o homem “saiu do seu veículo e, com a chave na mão, bateu violentamente na janela de vidro do lado do lugar do condutor do veículo” da ex-companheira, tendo depois recuado o carro e batido na viatura da mulher. Foi aí que entrou no carro dela e a agrediu, nomeadamente pressionando o seu corpo, batendo-lhe no rosto com a chave, além de lhe ter dado socos na cabeça e no corpo.

O acórdão do TUI descreve que o homem “mordeu subitamente o antebraço esquerdo e os dedos da mão esquerda [da mulher], movendo-se depois para o banco traseiro, onde puxou os seus cabelos para impedir a fuga, causando-lhe a queda de parte dos cabelos”. Algumas pessoas que passaram no local ajudaram a mulher a escapar e a imobilizar o homem.

Stress pós-traumático

No momento do incidente e agressão o homem tinha uma taxa de álcool no sangue de 1,33 gramas por litro, valor acima do limite legal. No tocante à mulher, foi sujeita a tratamento hospitalar. “Após o exame pericial, constatou-se que sofrera contusões e escoriações no couro cabeludo, várias contusões e escoriações no rosto, concussão cerebral, contusão no olho direito, cataratas traumáticas no olho direito, hemorragia na parte inferior da pálpebra direita, concussão na retina do olho direito, deficiência auditiva grave no ouvido direito”, descreve o acórdão.

Além disso, as agressões causaram “a redução da visão e a assimetria entre o olho direito e o esquerdo, afectando obviamente a sua aparência e, ao mesmo tempo, fez com que sofresse de síndrome de stress pós-traumático, que poderia necessitar de tratamento a longo prazo”. Entende-se ainda que o homem “causou danos graves ao veículo e danificou o pavimento de pedra da berma da estrada”.

9 Abr 2025

Letras&Companhia | Lançada versão chinesa de “A aventurosa viagem do Pátria”

Lançado em Novembro do ano passado, em Portugal, o livro infanto-juvenil “A Aventurosa viagem do Pátria”, da autoria de Filipa Brito Pais, é apresentado este sábado no festival Letras&Companhia, mas em versão chinesa – “祖国号”的冒险之旅 从葡萄牙飞行到澳门 (1924). Eis a história da primeira viagem aérea entre Vila Nova de Mil-Fontes e Macau protagonizada pelos aviadores Sarmento Beires, Brito Pais e Manuel Gouveia

 

O festival infanto-juvenil Letras&Companhia, promovido pelo Instituto Português do Oriente (IPOR), acolhe este sábado o lançamento da versão chinesa de “A aventurosa viagem do Pátria”, livro da autoria de Filipa Brito Pais, docente, que conta a história da primeira viagem aérea entre Portugal e Macau protagonizada pelos aviadores Sarmento Beires, Brito Pais, tio-bisavô da autora, e o mecânico Manuel Gouveia. No ano passado celebrou-se o centenário desta viagem, e vai daí Filipa quis contá-la a um público mais jovem. A obra conta com ilustrações de Leonor Almeida.

Numa nota enviada à imprensa, Filipa Brito Pais descreve que “como professora do primeiro ciclo, tenho ido a diversas escolas em Portugal e Macau para cumprir o meu dever de memória em relação ao meu tio”. Desta forma, “surgiu a possibilidade de escrever um livro infanto-juvenil que me acompanhasse nas palestras que dou, pela falta de informação adequada ao público mais jovem, e tem feito um sucesso no público mais adulto”.

“A aventurosa viagem do Pátria” tem prefácio do Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, bem como o apoio de diversas entidades ligadas a Macau.

Numa altura em que se conhece a versão traduzida para chinês, a obra já foi apresentada a mais de 2500 alunos em escolas e bibliotecas municipais em Portugal. Coube ao IPOR fazer a tradução da obra.

Aquando do lançamento em Portugal, Filipa Brito Pais afirmou ao HM que muitas histórias da viagem tiveram de ficar de fora, mas que esta é uma homenagem a heróis que ficaram no esquecimento na historiografia portuguesa.

“Não retrata todas as etapas, porque seria impossível que o fizesse por ser para crianças. É um livro cuja história está bastante reduzida, até a pedido do meu editor, porque queria meter todas as peripécias e aventuras que eles viveram. A história de escreverem na tela do avião, na partida, foi uma das que não escrevi. O facto de Manuel Gouveia [o mecânico], dizer que era um homem do Norte, e que se fosse para morrer, morria-se. Outra do banho tomado a água fria que afinal era água a ferver”, contou.

Para a autora, tratam-se de peripécias “demonstrativas de coragem e perseverança, capacidade de liderança”, sendo que este é um livro com uma mensagem forte, para que os jovens “não desistam dos seus sonhos”.

Alimentar a memória

Na mesma nota enviada aos jornais, Filipa Brito Pais descreve o facto de “estes heróis nacionais [terem sido] esquecidos na história por questões políticas”, nomeadamente pela oposição de um dos aviadores à Ditadura Militar de 1926. O facto de o regime ditatorial do Estado Novo ter sido instituído uns anos depois em Portugal, em 1933, contribuiu ainda mais para que esse feito aéreo tenha caído no esquecimento. Para realizar a viagem, foram criadas várias campanhas populares de captação de fundos, mas o percurso aéreo que ficou mais conhecido foi mesmo a viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

“Tive a honra de ter estado presente, em Junho de 2024, em Macau e Hong Kong aquando das celebrações das comemorações do centenário da viagem do meu tio, em representação da família Brito Pais. Terei agora a maior honra de apresentar o livro em chinês e homenagear estes três heróis portugueses na diáspora”, afirmou.

“Brito Pais e Sarmento de Beires sonharam em voar e em honrar a Pátria e Camões, escolhendo o destino de Macau, que nessa época era terra portuguesa. Sem apoios financeiros e com um avião velho e pesado, arriscaram e voaram por países que até então, nunca ninguém tinha ousado voar. Foram muitas as aventuras e poderiam ter desistido perante as adversidades que foram encontrando, mas não! Eles continuaram”, disse ainda na entrevista ao HM.

9 Abr 2025

Literatura | Dora Nunes Gago fecha trilogia de Macau com “Flores de Cinza”

Dora Nunes Gago, escritora e ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau, acaba de lançar um novo livro de poesia. “Flores de Cinza” encerra a trilogia de obras dedicadas a Macau, composta por “Floriram por engano as rosas bravas” e “Palavras Nómadas”

 

Foram dez anos que se traduziram em muitas palavras. Tantas, que deram três livros, “Floriram por engano as rosas bravas”, com clara referência a Camilo Pessanha; “Palavras Nómadas” e, agora, “Flores de Cinza”. O novo livro de poesia de Dora Nunes Gago, docente e ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau (UM), remete ainda para a Macau que perdura na sua memória e que, por isso, se traduz em palavras.

Com a chancela da Húmus, o livro acaba de sair em Portugal, resultando dos “muitos poemas” escritos por Dora Nunes Gago no período em que esteve em Macau, experiência que a transformou numa autora publicada e premiada.

Escrever poesia nesses anos de docência e vivência a Oriente acabou por ser a forma encontrada para lidar com rebuliços de Macau e as suas dinâmicas. “Talvez por ser um registo mais breve, uma forma de captar instantes, de os cristalizar, no meio de todo o bulício e surpresas de que Macau se veste. A Maria Ondina Braga referia na obra “Estátua de Sal”, escrita em Macau, por volta de 1963, que Macau é ‘terra de sono e poesia’. De sono não sei bem, sendo uma cidade que não dorme, mas de poesia, penso que será”, contou ao HM.

“Flores de Cinza” chama-se assim porque foi buscar inspiração a um poema de Natália Correia: “(…) Jovens alheios à pulcritude do corpo em festa / Passam por mim como alamedas de ciprestes / E a flor de cinza da juventude é uma aresta / Que me golpeia abrindo vácuos de flores silvestres (…) / a galope num sonho com espuma nos dentes.”

Dora Nunes Gago seleccionou os “poemas sobreviventes” dos restantes dois títulos da trilogia. “Houve os que se perderam, entre mudanças, viagens, blocos e cadernos perdidos.” Tal como todo o rebuliço próprio de Macau.

Em “Flores de Cinza”, o território “é representado pelos rituais, as épocas simbólicas como o Ano Novo Chinês, que é aquele tempo festivo em que parece que o mundo renasce e se inventa”. Há também elementos que se transformam em poesia como os dumplings, os templos, a ilha de Hengqin, onde a autora viveu nos tempos em que deu aulas na UM.

“O território está presente nas imagens, mas também na solidão e no silêncio que habita os poemas, todos eles curtíssimos. Neste livro, a minha obsessão pela síntese culminou”, descreve.

Cada livro, uma mensagem

Há poemas que falam por si só, outros que necessitam de ser explicados. E falando da trilogia que escreveu nos últimos anos, Dora Nunes Gago remete para o primeiro, onde se vai buscar o Simbolismo de Pessanha e onde se denota “o primeiro olhar sobre a Ásia e sobre Macau”.

Aqui, não existe poesia, mas sim 24 contos, “muitos deles inspirados em histórias presenciadas, ouvidas ou lidas em jornais”. Já o premiado “Palavras Nómadas”, vencedor do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, no ano passado, contém 50 crónicas. “Foi o modo de achar um fio condutor para unir várias experiências e aprendizagens que teceram um fio condutor para a minha vida.”

Eis que, no último livro da trilogia, se reúnem 55 poemas, organizados em três partes, nomeadamente “exílios, permanências e regressos”. São “uma síntese de todo o meu percurso”, destaca. “Flores de Cinza” é “talvez o livro mais autobiográfico dos três, pois enraíza-se em múltiplos sentimentos, numa espécie de instantâneos que configuraram os meus dias”, destaca a autora.

Do prefácio, da autoria de Maria João Cantinho, lê-se que o primeiro da trilogia, “Floriram por engano as rosas bravas” é “um livro de contos breves, cujo título foi tomado de empréstimo a um belíssimo verso (e um poema) do melancólico Camilo Pessanha, em Clepsidra”. Enquanto “Palavras Nómadas” reúne crónicas que nascem “da sua vivência em Macau, bem como da sua vertente de viajante e aventureira, como precisou Onésimo Teotónio Almeida, de forma muito elogiosa”. Por sua vez, no terceiro, Dora Gago “muda o registo e encontramo-nos diante de uma escrita poética e sensível, construída por poemas breves”, lê-se.

Maria João Cantinho entende ainda que o poema “Destino” é um dos mais belos em “Flores de Cinza”: “Na louca corrida / do galgo abandonado / solitário de existir, lamber as feridas da morte / na pele do poema.”

Aqui, descreve-se “a escrita poética é apresentada como vertigem (‘na louca corrida’) movida por um impulso alegórico, em que a presença da morte emerge”, onde “o destino é certamente essa corrida desvairada em que a morte ronda os vivos e só o poema pode salvar ou redimir aqueles”, considera Maria João Cantinho.

Para esta, “a escrita de Dora Nunes Gago contém uma dimensão reflexiva, abordando temas como a criação ou a passagem do tempo, entre muitos outros, e recorrendo a uma linguagem rica, tanto vocabular, como ao nível prosódico, na busca de efeitos que acentuem a tensão do poema”.

“Exílios”, a primeira parte da obra, arranca com “Início”, nome simples para um poema curto: “Sigo as pegadas da memória / inscritas na areia do tempo / e sou navio / ancorado sem leme / nem alento”. Talvez marcado pela saudade e pela distância, encontramos “Ausência”: “Dançam cinzas solenes / silvando sopros de saudade, / céus / soletrados / no sangue / da solidão.”

E como este livro é feito de idas e vindas, a obra termina com “Retorno”, como se de uma linha do tempo se tratasse: “Regressar a casa / tatuar montes e vales / na retina, / regar as flores de cinza / renascidas / nas frestas pedregosas / da esperança.”

Dora Nunes Gago é natural de São Brás de Alportel e actualmente é docente no Instituto Politécnico de Setúbal. Sobre “Palavras Nómadas”, o júri do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, concedido pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), considerou tratar-se de uma “obra de variadas e ricas observações concernentes aos lugares por onde transcorrem as viagens relatadas, com descrições de grande vivacidade sensorial, a que não falta o olhar íntimo sobre os lugares e as gentes, bem como a capacidade de captação do que se tem vindo a designar como ‘génie du lieu’”.

“Numa prosa de grande fluidez, eivada de reflexões onde se cruzam percepções, memórias, cultura, literatura e história, a autora logra suscitar uma leitura aderente desde as primeiras páginas, cujo ritmo e interesse sabe manter ao longo da considerável extensão da obra”, referiu o mesmo júri.

9 Abr 2025

Peter Kogler, artista: “A linguagem visual que uso é universal”

Peter Kogler é o artista escolhido para uma nova montra no estúdio de design e arquitectura Impromptu Projects, de Rita Machado e João Ó, inaugurada amanhã. Até ao dia 31 de Dezembro deste ano será possível ver, em “Peter Kogler: Showroom”, na Travessa de Inácio Baptista, os trabalhos deste artista internacional que inovou ao colar o mundo da tecnologia e computadores à arte, criando uma nova linguagem artística

 

Como se sente por apresentar o seu trabalho em Macau?

Infelizmente nunca estive em Macau. Fui contactado há cerca de dois ou três anos pela Rita e João [Rita Machado e João Ó] para participar num projecto, vi as coisas que estavam a desenvolver, e que me pareciam muito interessantes. Tivemos uma conversa e a partir daí sabíamos que havia a hipótese de fazer um projecto conjunto no futuro. Mas só agora o conseguimos concretizar.

Que tipo de trabalhos traz a esta montra?

É uma fachada interessante com um mosaico, em que há uma montra e fizemos uma instalação com papel de parede, que é uma espécie de continuidade da fachada, como se fosse uma grelha distorcida. Temos depois das ventoinhas LED com dois globos que rodam em todas as direcções de forma caótica. É uma espécie de exposição de rua, porque está numa montra.

É, para si, uma forma diferente de apresentar o seu trabalho junto do público?

Já expus em diversos museus e espaços, e expus de uma forma mais clássica, digamos assim, com exposições. Mas também fiz muitos projectos no chamado espaço público, como estações de metro ou de comboio. Essa é a razão pela qual estou agora em Nápoles, porque estou a trabalhar num projecto para uma enorme estação de metro em parceria com um arquitecto.

Como artista, como se sente mais confortável a mostrar o seu trabalho? Num museu, ou num espaço público?

Gosto de trabalhar das duas formas. É preciso ter em conta que, quando se faz um projecto no espaço público, as pessoas não têm escolha. Têm de atravessar uma estação de metro ou uma estação de comboios [e ver o projecto exposto]. Mas quando se vai a uma galeria ou a um museu, é uma decisão consciente de alguém que sabe que vai confrontar-se com a arte ali exposta. Essa é a principal diferença. Portanto, temos um público diferente quando trabalhamos num espaço dito público, e temos de ajustar a nossa linguagem visual a uma situação específica.

É considerado um dos pioneiros da arte computacional e da integração de um ambiente digital na arte. Como decidiu que era este o caminho a seguir como artista?

Quando era apenas um jovem artista, em 1984, fui a uma feira de máquinas de escritório em Viena. Recordo-me quando foi apresentado o Macintosh, da Apple, o primeiro computador que tinha uma interface de utilizador baseada em ícones, em informação gráfica. Foi, assim, a primeira máquina em que o utilizador não tinha de ter qualquer tipo de conhecimento sobre programação, podia-se usar o Macintosh de forma bastante intuitiva. Essa foi, claro, uma mudança paradigmática, e era evidente que iria mudar a forma como as imagens são produzidas e como são comunicadas. Este foi um dos aspectos que me influenciou. Outro tem a ver com o facto de, na história da arte, os computadores não terem, nessa altura, nenhuma presença, ou seja, não havia muito a fazer nessa altura, por isso a oportunidade de criar uma espécie de nova linguagem visual era bastante boa. Estas foram as duas principais razões que me levaram a escolher este meio como a minha ferramenta principal.

Actualmente, com a Inteligência Artificial (IA), há todo um novo universo que pode ser explorado artisticamente.

Bem, acredito que vai mudar a nossa vida em vários níveis, vai afectar todo o contexto social. A Internet foi, por si só, uma grande mudança, e as redes sociais também vieram alterar muita coisa. A IA não se trata apenas de algo com impacto na arte, mas em toda a nossa vida.

Que tipo de mensagens são transmitidas com o seu trabalho?

Não há um tipo de mensagem específica, eu diria. Quando trabalhamos com computadores e os usamos como ferramenta visual estamos ligados a todos os outros domínios em que este tipo de meios digitais desempenha um papel. Portanto, é uma área que nos diz algo sobre determinada situação em um determinado momento histórico.

Que expectativas tem em relação ao acolhimento do seu trabalho em Macau? E que influência poderá o território trazer ao seu trabalho?

Começo por dizer que a linguagem visual que utilizo no meu trabalho tem um carácter bastante universal. Trabalho com alguns elementos que podem ser lidos em qualquer tipo de cultura, como o cérebro, as mãos, o globo, tubos. Todas estas imagens não têm qualquer tipo de conotação cultural específica. Estou ansioso por ir a Macau, para que me possa aperceber das qualidades específicas do território. Presumo que Macau seja fruto de uma situação muito complexa devido às circunstâncias históricas, com o facto de ter sido uma colónia portuguesa junto à China que, neste momento, apresenta um poderoso contexto económico. São muitas as influências que se cruzam ali.

Ao longo da sua carreira tem exposto nos principais museus e galerias de todo o mundo. Esperava este reconhecimento internacional?

Acima de tudo penso que é um privilégio ter a possibilidade de trabalhar a tantos níveis diferentes e com tantos contextos culturais diferentes. É também um processo contínuo de aprendizagem.

O seu trabalho está muito ligado ao universo abstracto. Como se sente se o público não compreender o que quer transmitir, ou até com críticas negativas?

Claro que não fico nada contente, mas isso faz parte do trabalho. Sabe, há sempre opiniões diferentes, e é assim que as coisas são.

Mas entende que o seu trabalho se pode centrar ao nível do abstracto, ou estou a fazer uma análise errada?

Há de facto certos elementos na minha linguagem visual que se apresentam com uma espécie de tradição abstracta. Mas há também muitos elementos com ligação a coisas que conhecemos, como o cérebro ou o globo. O meu trabalho comunica também a diferentes níveis, mas há também coisas mais directas, como as instalações que faço mais direccionadas a crianças, por exemplo. Aí, as crianças reagem de maneira forte. Tal significa que a informação passa de forma bastante directa, porque não é algo que se lhes possa dizer ou explicar, porque as crianças não têm propriamente conhecimentos da história da arte.

Quais as grandes influências na sua arte? Essas influências foram mudando ao longo dos tempos?

Um aspecto importante é aquilo que se pode fazer com a tecnologia. Comecei a trabalhar com computadores em 1984, em que havia programas gráficos com uma linguagem visual específica. Mas havia muito poucos dispositivos para transferir os elementos para outros materiais, como telas ou papéis de parede. Portanto, eram processos de transferência e produção totalmente analógicos, ao nível da fotografia ou da serigrafia, por exemplo. Ao longo de todos estes anos a tecnologia desenvolveu-se rapidamente e hoje qualquer tipo de transferência de elementos ou produção é digital, como projectar animações de computador, imprimir coisas para fachadas… Para mim foi importante observar todas essas possibilidades técnicas e perceber como as posso utilizar e incluir na minha linguagem visual.

9 Abr 2025

LAG 2025 | Cheques, economia e Grande Baía devem ser apostas de Sam Hou Fai

As Linhas de Acção Governativa para este ano são apresentadas na segunda-feira, marcando a estreia de Sam Hou Fai num dos mais aguardados momentos do calendário político local. As receitas do jogo e previsões económicas devem estar em cima da mesa, segundo José Sales Marques e Lou Shenghua. O futuro dos cheques pecuniários poderá ser outro assunto a ter em atenção

 

Sam Hou Fai está há quase cinco meses no Governo e prepara-se para apresentar, na próxima segunda-feira, o seu primeiro relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. As grandes expectativas costumam residir nos montantes dos cheques pecuniários, os valores atribuídos em apoios sociais e demais previsões orçamentais, sobretudo depois de o território atravessou um duro período económico com a covid-19.

As LAG 2025 deverão centrar-se nesses temas, e na integração de Macau nos vários projectos de cooperação a nível regional, como a ilha de Hengqin ou a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Cumprindo a tradição anual da política local, Sam Hou Fai fez a habitual ronda de auscultações às associações locais, a fim de saber as suas opiniões sobre as principais medidas a tomar.

Ouvido pelo HM, o economista José Sales Marques espera clareza nas políticas anunciadas a nível económico. “Gostaria de ver estas LAG trazerem maior claridade quanto a políticas económicas e a visão para o futuro da RAEM. Falo de medidas de carácter estrutural, que estimulem a confiança do investidor privado, e que concretizem também as tais reformas da administração pública para aumentar a eficiência e eficácia”, destacou.

Sales Marques disse ainda que “gostaria de ver claramente formuladas as posições e prioridades de Macau no seu relacionamento com países e regiões do mundo, incluindo medidas que levem a aprofundar o papel de Plataforma Sino-Lusófona e de base de diálogo multicultural”.

Lou Shenghua, analista político e docente da Universidade Politécnica de Macau (UPM), disse que as principais ideias apresentadas estarão de acordo com aquilo que Sam Hou Fai apresentou no programa eleitoral. “A tónica poderá ser colocada na melhoria da eficácia da governação, na diversificação económica moderada, na construção da Zona de Cooperação de Hengqin e nas questões relacionadas com os meios de subsistência das pessoas”, disse o analista, frisando que “os cidadãos poderão estar mais preocupados com as questões relacionadas com os meios de subsistência”.

E que programa apresentou Sam Hou Fai em Setembro do ano passado, quando se vislumbrou que seria o único candidato ao cargo de Chefe do Executivo? Um programa que tem como “objectivo máximo satisfazer as expectativas dos cidadãos por uma vida melhor” e a “orientação fundamental de implementar o princípio ‘um país, dois sistemas’ de forma plena, correcta e firme”. Não foi esquecida a importância da segurança nacional, referindo-se a necessidade de defesa “da soberania, segurança e interesses do desenvolvimento do país”. Sobre a RAEM, Sam Hou Fai disse querer erguer um “Macau alicerçado no Estado de Direito, dinâmico, cultural e feliz”.

O então candidato único a chefiar o Governo prometeu melhorar a capacidade governativa da administração local. “Empenhar-nos-emos na elevação da capacidade e do nível de governação da RAEM, na mudança dos conceitos de governação, na optimização da forma de governação, na persistência de governação de Macau em conformidade com a lei, e no aprofundamento da reforma da Administração Pública e do sistema jurídico”.

Assim, disse “optimizar as formas de governação, dar maior importância ao papel dos órgãos consultivos, dos especialistas e académicos, e das associações de amor à pátria e a Macau, auscultar amplamente as opiniões e sugestões dos diversos sectores, dos diferentes ramos de indústria e das diversas camadas sociais”. Resta saber o se as LAG vão trazer estes aspectos latos para o campo das acções e medidas concretas.

Cheque mate

Na segunda-feira, a agenda prossegue como habitual na apresentação de um relatório das LAG. Primeiro Sam Hou Fai irá à Assembleia Legislativa, a partir das 15h, fazer uma apresentação geral aos deputados das questões políticas e orçamentais essenciais para este ano, seguindo-se uma conferência de imprensa.

No dia seguinte, é dia de debate no hemiciclo sobre o mesmo relatório, seguindo-se depois os debates sectoriais com todos os secretários até ao dia 30 deste mês.

Um dos temas políticos que têm estado na ordem dia é o valor dos cheques pecuniários e se estes deixam, ou não, de ser atribuídos a residentes que vivem fora de Macau. Há analistas a defender a reformulação do programa, mas Sales Marques recorda que “o valor previsto para os cheques pecuniários na discussão do orçamento para 2025 é de 10 mil patacas para residentes permanentes”.

“As receitas orçamentais previstas tiveram por base de cálculo uma previsão de receita bruta de jogo de 240 mil milhões de patacas à média de 20 mil milhões por mês. Acontece que as receitas efectivas obtidas até ao fim do primeiro trimestre do corrente ano ficaram aquém das previstas, com um desvio de menos cerca de quatro mil milhões de patacas. O Governo da RAEM já anunciou pela voz do secretário para a Economia que as receitas fiscais inscritas no orçamento em vigor podem não ser atingidas.”

Tendo em conta estas previsões menos optimistas, referidas, aliás, pelo próprio secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, na última semana, Sales Marques acredita que, a haver ajustamentos nos cheques, serão “pequenos”. “Quanto ao método de distribuição, prevejo que continue a ser o mesmo”, rematou.

Já Lou Shenghua acredita que “o plano de comparticipação pecuniária pode sofrer alterações”. “Em termos de montante, é provável que se mantenha o valor de dez mil patacas por residente, mas quanto à forma, poderá ser atribuído em vales de consumo”, referiu.

No passado dia 1, o secretário Tai Kin Ip afirmou que as contas orçamentais estão ainda aquém do esperado. “Reparámos que nos primeiros três meses de 2025 as receitas brutas dos jogos atingiram 57,66 mil milhões de patacas, permanecendo o valor praticamente inalterado em termos anuais, não alcançando ainda a esperada média mensal de 20 mil milhões de patacas”.

Assim, foi deixado o alerta de que “as receitas financeiras do corrente ano poderão não ser tão optimistas como o previsto”, sendo necessário “estudar seriamente a futura situação económica e persistir na gestão dos recursos financeiros com prudência”.

Jogo e outras histórias

Relativamente ao sector do jogo, que continua a ter um peso predominante na economia, Sam Hou Fai confirmou há sensivelmente um mês que as concessionárias e os casinos-satélite têm até ao final do ano que preparar a transição para um modelo de exploração sem subconcessões. Ficará nas “mãos” das concessionárias decidir se vão ou não explorar estes casinos directamente.

Para Sales Marques, esse dossier “preocupa diversos sectores da sociedade, não só pela questão do emprego dos seus trabalhadores, mas também pela repercussão que terá o seu encerramento nas zonas da cidade onde se encontram, sobretudo no comércio a retalho e na restauração, pequeno comércio em geral”.

Assim, “será prudente evitar grandes choques na conjuntura actual”. “Tudo se fará para regularizar essas unidades nos termos da lei em vigor, sem provocar o seu encerramento imediato”, acrescentou.

Já Lou Shenghua espera “haver espaço para negociação sobre a distribuição das receitas entre os casinos-satélite e as concessionárias”.

Apesar das preocupações que residem no desemprego destas pessoas, Sam Hou Fai adiantou em Março, à TDM, que podem ser afastados esses receios. “Sei que os trabalhadores dos casinos-satélite estão distribuídos pelas empresas de jogo, portanto as operadoras têm a responsabilidade de os absorver ou de ter planos para estes trabalhadores”, frisou.

Leis para que te quero

Tendo em conta o historial de Sam Hou Fai na justiça, pois presidiu ao Tribunal de Última Instância desde o estabelecimento da RAEM, podem esperar-se algumas medidas novas na área do Direito.

Sales Marques deposita a expectativas na criação de novos regulamentos “que sejam mais facilitadores ao funcionamento da economia”, bem “mais favoráveis ao ambiente competitivo de negócios desta região da Grande Baía, nomeadamente quanto à contratação de recursos humanos qualificados, condições oferecidas à sua estadia e o das suas famílias e regulamentos administrativos menos burocráticos”.

Lou Shenghua acredita que este poderá, de facto, “prestar mais atenção à reforma jurídica”, embora esta “deva estar em conformidade com as políticas governamentais e acompanhar o ritmo dos tempos, não devendo ser reformada só porque sim”, salientou.

9 Abr 2025

Álvaro Barbosa, vice-reitor da Universidade de São José: “Visto de estudante é muito limitativo”

A Universidade de São José continua a saga de negociações com as autoridades chinesas para recrutar alunos do Interior da China. O vice-reitor Álvaro Barbosa espera, para breve, o aumento a quota de alunos de mestrado de 30 para 200. Quanto à internacionalização do ensino superior, o responsável defende mudanças nos vistos de estudante para facilitar o recrutamento

 

O recrutamento de alunos do Interior da China continua a ser uma questão pendente para a Universidade de São José?

É um processo que está em curso. Temos tido um apoio enorme do Governo de Macau nas negociações para a obtenção da quota para a nossa universidade, e eles têm sido incansáveis no esforço de tentar resolver as questões colocadas pelo Governo Central. Muitas das questões são legítimas e dizem respeito a preocupações que vão surgindo. Foi-nos concedido há cerca de quatro anos uma quota temporária de 30 alunos para mestrados durante um período probatório, que serviu para avaliar como nós, como universidade ocidental, iríamos acolher os alunos da China. Da parte da China, há essa preocupação com o acolhimento dos estudantes em Macau. Acho que temos feito um esforço enorme e os alunos que estão lá, incluídos nesse contingente, estão bastante satisfeitos.

Essa quota é apenas para mestrados?

Sim. Para licenciatura não temos ainda autorização. Desta forma, estamos, neste momento, na fase em que tentamos ultrapassar este período probatório a fim de obtermos uma quota de cerca de 200 alunos para mestrados. Estamos na fase final do processo de avaliação e tudo tem corrido bem. Vamos ter a possibilidade de, no próximo ano lectivo, expandir essa quota. Isso seria óptimo, porque para a nossa universidade, para termos um maior impacto da nossa missão em Macau, é fundamental termos acesso a alunos da China continental. Não podemos ser uma universidade de uma região integrada num país como a China, e não ter contacto com alunos da China.

É mais difícil, para a USJ, competir com outras universidades, como as de Hong Kong, pelos alunos estrangeiros, de fora da China?

A questão do recrutamento dos alunos internacionais tornou-se uma prioridade para as universidades de Macau. Nos últimos dois ou três anos, tem-se tornado evidente que é muito importante essa internacionalização. Qual a dificuldade que existe nisso? Há a questão relacionada com os vistos de estudante, pois actualmente esses vistos não permitem que os alunos façam qualquer tipo de trabalho, negando-lhes esse mecanismo de subsistência local, mínimo, para poderem fazer face a despesas. Também não se contempla a possibilidade de, quando o aluno conclui a sua formação, poder ficar no território e encontrar trabalho. O que todos os países e regiões que são competitivos na área do ensino superior fazem, como Singapura, Hong Kong ou Austrália, é ter políticas de incentivo. Permitem que os alunos trabalhem em tempo parcial, por exemplo. Em Hong Kong quando se termina uma licenciatura o aluno pode ficar no território até um máximo de dois anos para encontrar emprego. Esse tipo de medidas não existe ainda em Macau, mas penso que o Governo está a ponderar essa possibilidade. A partir do momento em que foi tomada a decisão de que é importante a internacionalização do ensino superior, tal tem de ser acompanhado com as medidas correspondentes. O visto de estudante actual é extremamente limitativo e não incentiva a vinda para Macau para estudar, apenas permite a vinda. Essa questão não estava tão presente como está agora, mas agora há uma política estratégica de internacionalização.

É também uma questão de sobrevivência para as universidades locais.

Sim. Talvez não haja maior exemplo de catalisador da diversificação da economia de Macau do que o ensino superior. Temos dez instituições, 60 mil alunos em cerca de 700 mil habitantes. É esse o potencial da internacionalização, o de fomentar a diversificação.

E também a investigação que sai do ensino superior.

A investigação, a dinâmica do trabalho que se faz. Há uma série de vectores que o ensino superior traz a uma região ou país, isso aconteceu com Portugal, por exemplo, com a política das bolsas de doutoramento para estudantes do exterior, que mudou completamente a dinâmica do ensino superior. Cabo Verde desenvolveu-se graças ao impacto do ensino superior.

Falta, então, flexibilizar mais o sistema em Macau.

Não sei se é mais uma questão de ter uma visão holística da estratégia. Pode haver uma ideia, mas depois não se intervém em todas as dimensões necessárias para atingir um certo objectivo. Mas estou muito optimista. Acredito que essa nova política para estudantes é um passo chave a ser tomado em Macau. A estratégia de internacionalização seguida por todos esses países e regiões de que falei, e que foram bem-sucedidos na captação de estudantes internacionais, foi sempre a mesma. Não é preciso inventar muito. Primeiro, deve-se aumentar a capacidade e notoriedade das universidades, e depois é preciso uma política de bolsas de estudo, que vão potenciar um fluxo de alunos, criando uma referência para o território, para que estudar lá se torne um hábito. Depois de haver esse fluxo de estudantes durante uns anos, já se cria uma imagem e pode-se retirar algumas bolsas de estudo, que os alunos vão continuar a escolher determinado território para estudar na mesma. Austrália tem uma enorme indústria do ensino superior, por exemplo, e penso que em Macau só temos de seguir as mesmas estratégias. Fazemos, na USJ, um pouco isso.

Como, em termos concretos?

Oferecemos muitas bolsas, e nesse sentido a Diocese de Macau tem-nos ajudado a construir esse fluxo de alunos internacionais que permita criar essa dinâmica que, esperamos, venha a ser sustentável, por si só, no futuro. Acho que o Governo está também a fazer isso. Sempre houve bolsas de estudo em Macau, atribuídas sobretudo pela Fundação Macau, mas essa medida será fortalecida. Resolvendo a questão dos vistos dos estudantes, criando um sistema de incentivos de bolsas durante cinco a dez anos, Macau terá um futuro brilhante como destino de ensino superior internacional. Mas é preciso investir, continuar, e isso leva alguns anos.

A USJ criou a plataforma “Macau Hub”, em parceria com o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em 2023. Em que fase está esse projecto?

Esse projecto tem a ver com o nosso interesse em desenvolver uma dinâmica de relação dos países lusófonos centrados em Lisboa na área do empreendedorismo, em primeiro lugar. Esse gabinete que temos no CCCM não tem por objectivo oferecer formação em Portugal, mas queremos fazer outra coisa. Como estamos posicionados na Grande Baía e junto a Hengqin, onde se pretende activar um ecossistema empresarial, queremos aproveitar o facto de termos relações com o mundo lusófono para activar o acesso das startups de Portugal, Brasil e Angola, sobretudo, à Grande Baía e Hengqin. Estamos a tentar criar uma espécie de incubadora de empresas transnacional, em que apoiamos o desenvolvimento de negócios lusófonos que queiram estabelecer-se na Grande Baía e também o sistema inverso. Estrategicamente, para uma universidade, é absolutamente fundamental ter uma dinâmica na área do empreendorismo. Actualmente, mais de metade dos nossos alunos não querem ir para o mundo corporativo, mas criar os seus próprios negócios. Da mesma forma que as universidades têm de ter soluções de empregabilidade, também têm de as ter para os empreendedores, que são cada vez mais. Então, uma universidade tem de ter uma incubadora de negócios. A minha visão de futuro para o ensino superior passa por aí: uma universidade, além de ter uma biblioteca e cantina, terá também a sua própria incubadora de negócios. Diria que grande parte dos alunos dos cursos de gestão ou economia sonham ter o seu próprio negócio, sobretudo na China. A China é, talvez, um dos países mais empreendedores do mundo. O CCCM acolhe essa iniciativa em Portugal, mas trabalhamos também com a Universidade Católica Portuguesa.

E resultados concretos, já têm?

Temos uma série de pequenos projectos iniciais que estão a começar agora, e trabalhamos também com muitas organizações empresariais. Negociamos agora uma série de projectos, e penso que tudo se vai desenvolver muito rapidamente, com base nas manifestações de interesse que temos. Estivemos em Angola em Dezembro e já alinhámos uma série de iniciativas, também temos projectos com o Brasil e Portugal.

7 Abr 2025

Adelina Moura, docente e formadora: “O telemóvel é como um canivete suíço”

Formada na área das tecnologias educativas, Adelina Moura irá conduzir palestras para pais, alunos e professores sobre o uso de tecnologias digitais nas salas de aula, no âmbito do festival “Letras&Companhia” do Instituto Português do Oriente. A professora entende que proibir o telemóvel nas escolas não é solução

 

Quais os desafios sentidos por professores com a introdução das tecnologias na sala de aula? O telemóvel pode, de facto, ser um complemento à aprendizagem?

Sim. Venho dizendo isso desde 2005. O telemóvel pode ser uma excelente ferramenta de aprendizagem, um meio para motivar os alunos e para que enriqueçam a sua aprendizagem. Temos aqui uma espécie de canivete suíço, um equipamento poderosíssimo nas mãos dos alunos e há uma falha da escola, porque não se trabalha e ajuda os alunos a potenciar esse equipamento que têm. O que acontece é que os alunos aprendem da pior maneira, de uma forma desestruturada, por tentativa-erro. Há uma lacuna, pois os alunos não são alertados para o potencial positivo de utilização do telemóvel. Encaram o telemóvel como uso do tempo livre, gastando tempo nas redes sociais e a fazer “scrolling”, e o tempo consome-se. É essencial que os professores sejam utilizadores, nas suas práticas, do telemóvel, quer para a preparação de aulas e outros projectos, para saber preparar os alunos. Considero que a escola perdeu várias etapas de preparação e sensibilização dos alunos para a utilização destes equipamentos que levam para as aulas e com os quais as escolas não gastaram nenhum dinheiro. Com a proibição de levar o telemóvel para a sala de aula não avançamos nada nesse sentido.

No período da pandemia, por exemplo, o uso das tecnologias, com o ensino à distância, foi bastante potenciado.

Mas durante a pandemia também queimámos algumas etapas em relação ao uso do digital pelos professores, porque antes da pandemia muitos professores não acreditavam e nem usavam. Achavam que era uma moda e não viam grande utilidade no uso dos telemóveis e outras tecnologias. Com a pandemia a utilização desses equipamentos provou que, sem eles, a situação do ensino teria sido muito pior. Nestes anos de pandemia, os professores ficaram mais conscientes das tecnologias que já existem e que estão disponíveis para qualquer um. Com acesso à internet no telemóvel, algo que existe desde 2007 com o lançamento do primeiro Iphone, potencia-se o sistema E-learning e depois passamos para o “mobile learning”, em que é possível aprender em qualquer lugar e qualquer hora com os dispositivos móveis. É esta realidade que vemos um pouco afastada da escola.

E depois da pandemia, como tem sido?

Julgo que vamos dar mais alguns passos em relação à literacia digital. Com a inteligência artificial (IA), parece que estamos como na fase em que criei o meu primeiro website, em 1999, ou o email, em 1995. Estamos no início. Mas são já 30 anos de tecnologia em que houve muitas mudanças, e a tecnologia vai de facto avançando e se no imediato não percebermos o que temos disponível, nós e alunos, ajudamos a criar um fosso que já aconteceu no passado em relação ao digital. Face à IA, se não olharmos para trás e não percebermos o que não foi feito e devia ter sido ao nível da escola, estamos a perder tempo. Só daqui a uns anos as pessoas vão ficar alerta à IA, e a lacuna vai aumentando. Daí ser muito importante apostar agora, já nesta fase inicial, na formação de professores, alunos e famílias.

Há muita ignorância dos pais, afastamento dessa realidade?

Temos pais que são deste século. Ou seja, nasceram com a existência dos computadores, Internet, viram o aparecimento do smartphone. Mas quando estudaram, a escola não falava do potencial do digital. Então, esses antigos alunos, vieram para a sociedade e não trouxeram essa sensibilidade para o digital, para educar os filhos. Nós, professores, quando damos formação no digital, estamos a fazer um bem à sociedade porque também estamos a preparar estes jovens para o futuro, pois vão ser pais e devem ter essa consciência para educar os filhos. Na escola não preparamos apenas para o mercado de trabalho, mas para a vida pessoal e familiar. Daí a formação de professores ser essencial. O convite que recebi do IPOR parece-me uma excelente visão holística de tudo, porque a escola inclui diversos actores, de ligação com a sociedade.

Como a IA deve ser introduzida na sala de aula?

Assistimos actualmente a mudanças nos motores de busca, de facto. Temos motores de busca criados de raiz para a era da IA, por exemplo. A melhor maneira de introduzir a IA na sala de aula é perguntar aos alunos o fazem e como a utilizam, e já recorrem a essa ferramenta. No início do ano lectivo peço sempre aos alunos para responderem a um questionário sobre as suas rotinas digitais, e aí fico a saber mais ou menos as suas práticas. Em 2023, quando saiu o ChatGPT, introduzi a IA nas minhas aulas, e percebi que os alunos estavam a usar essa ferramenta para enganar os professores. Os alunos têm de perceber que, ao usar a IA, estão a cair numa certa armadilha, porque não estão a aprender. É a lei do menor esforço, igual à fase em que surgiu a Internet, em que os alunos seleccionavam, copiavam e enviavam para o professor. Temos agora o problema de as respostas estarem em português do Brasil, por exemplo, e vejo logo que foi usada a IA. Temos, portanto, de desmontar na cabeça dos alunos esta actuação e enfrentá-los. Digo-lhes que estão a ser desonestos intelectualmente e que não leram a resposta obtida pela IA, por exemplo. Sinto, desde 2023, que os alunos, nas respostas a esse questionário que faço, dizem ter receio de usar o ChatGPT porque têm medo de ser apanhados pelos professores. Ou seja, parece terem ganho alguma consciência.

Vai dar estas palestras num contexto educacional diferente, na Ásia, em que o uso do telemóvel pode ser mais precoce. Como vai lidar com essas diferenças, ou entende que os problemas do uso da tecnologia na sala de aula são transversais?

É uma questão transversal. Temos de nos questionar se o uso de determinado equipamento e ferramenta nos vai tornar mais sábios? A mim parece-me que não, pois podemos ter o equipamento, mas o uso que fazemos dele varia muito. Digo aos meus alunos que eles deveriam ter vergonha, porque têm um acesso muito mais fácil aos conteúdos do que no meu tempo, em que tínhamos verdadeiramente de fazer pesquisa e ler em formato físico. Digo-lhes que, com esta tecnologia, deviam todos ter nota 20, e que estão a desperdiçar recursos, sendo desonestos intelectualmente, porque assinam trabalhos que não são deles e não leem, sequer, o que entregam. Um dos trabalhos que temos com os alunos é ensiná-los a fazer referências bibliográficas, referir as fontes. Mas eu sou optimista por natureza, e espero que daqui a uma década os alunos do ensino secundário que sejam pais e mães consigam lidar com estes problemas das redes sociais e aumento de fraudes com os seus filhos. É essa “escola de pais” que a escola pode ajudar a criar. Estamos num momento sem retorno do digital, e proibir é a situação mais cómoda, mas não é a melhor para enfrentar a realidade. Temos de usar as palavras certas para alertar. Temos nesse tempo de alertas e de consciências, de incentivo ao espírito crítico dos nossos alunos, que é pouco actualmente.

 

Formar quem ensina

Adelina Moura irá ministrar um workshop para professores do território no sábado, com a sessão “Literacia Digital – Promoção de Interacções Positivas em Linha”, dirigida a professores e agentes do ensino infantil, primário e secundário. A sessão decorre na sede do IPOR, entre as 10h e as 13h.

No mesmo dia, mas à tarde, a sessão será dirigida para pais e filhos. Licenciada em Ensino do Português e Francês, mestre em Supervisão Pedagógica do Ensino do Português e doutorada em Ciências da Educação, na especialidade de Tecnologia Educativa, Adelina Moura tem vindo a desenvolver investigação na área do Mobile Learning, com várias publicações em Portugal e no estrangeiro.

É docente do ensino básico e secundário, tutora de cursos de formação à distância do Instituto de Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e formadora da formação contínua de professores, em didácticas específicas (Português e Francês) e tecnologia educativa. Na quarta-feira, a partir das 18h30, Adelina Moura, Nuno Gomes e Min Yang vão debater “A Inteligência Artificial na Educação”.

7 Abr 2025

Águas pluviais | Obras de estação elevatória vão arrancar

Vai ser construída na zona do Cotai, mais concretamente no cruzamento da Avenida dos Jogos da Ásia Oriental com a Rua Marginal dos Jogos da Ásia Oriental, uma nova estação elevatória de águas pluviais, para aumentar a capacidade de drenagem das mesmas.

Segundo informações do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), a nova estação e box-culvert de águas pluviais vai ocupar uma área de 500 metros quadrados, dispondo a estação de oito bombas de água e uma capacidade de bombar a água de 37,6 metros cúbicos por segundo.

Tal equivale à possibilidade de aspirar, em cerca de 50 segundos, o volume de água de uma piscina padrão, “ajudando, assim, a melhorar a eficiência de drenagem de águas pluviais da box-culvert da Baía de Nossa Senhora da Esperança e do bairro antigo da Taipa durante marés altas e chuvas intensas”, descreve o IAM.

O plano de drenagem foi recentemente apresentado ao Conselho Consultivo para os Assuntos Municipais e ao Conselho Consultivo de Serviços Comunitários, tendo sido já lançado o concurso. Prevê-se um baixo impacto no trânsito, uma vez que “a área da estação elevatória não envolve nem abrange vias rodoviárias e ciclovias existentes”.

A próxima fase do projecto “será a construção de uma pequena estação de bomba de reforço de águas pluviais numa esquina do Estádio da Taipa, para aliviar a pressão da estação elevatória de águas pluviais existente no Pai Kok e acelerar a drenagem de águas pluviais”. Neste sentido, “prevê-se também que o processo de concurso seja lançado ainda este ano”.

2 Abr 2025

João Romão, académico: “Macau está numa posição altamente privilegiada”

Docente na Yasuda Women’s University, no Japão, João Romão prepara-se para lançar, em Junho, um livro intitulado “Economic Geography of Tourism”. Em declarações ao HM, o académico realça a interligação entre turismo, economia e geografia, e elenca as suas possibilidades, limitações e efeitos, inclusivamente em Macau

 

 

Neste livro fala do conceito de “economia espacial”, em conexão com o turismo e geografia. Como se dá essa ligação?

A geografia económica combina o contexto geográfico com os processos económicos, sendo estudada a distribuição espacial das actividades económicas. A economia do turismo é particularmente sensível a estas condicionantes geográficas, pois são as características de cada lugar que potenciam o desenvolvimento de determinados produtos ou serviços. Essas características ultrapassam largamente os aspectos físicos do território e incluem também a cultura, a história, os modos de vida ou até as instituições e os enquadramentos legais. O caso dos casino, algo particularmente importante em Macau, é um bom exemplo da importância de aspectos jurídicos para desenvolver certos tipos de turismo. A geografia económica tem um âmbito mais vasto que a economia espacial, mais focada em aspectos estritamente económicos. Sendo evidente no turismo essa relação entre a economia e a geografia, este livro estabelece uma dupla abordagem que sistematiza a interdependência destes três aspectos que refere. Primeiro explora a forma como os conceitos e teorias da geografia económica se podem aplicar ao turismo. Na segunda parte faz o percurso inverso, discutindo como a análise de problemas relevantes do turismo contemporâneo justifica o recurso à geografia económica. São exemplos a degradação de recursos locais, impactos ambientais, contributo para alterações climáticas, aceleração de processos de gentrificação ou perturbação de modos de vida comunitários.

Ter uma economia excessivamente dependente do turismo pode constituir um problema ou uma salvação?

As duas coisas, e são ambos casos que a geografia económica pode ajudar a compreender. A industrialização das economias está ligada a processos de aglomeração de actividades que se reforçam mutuamente quando atingem uma determinada escala. Isso permite a massificação da produção e do consumo, com custos razoáveis. As indústrias contemporâneas, mais associadas à integração de tecnologias digitais e processos criativos, estão menos aglomeradas em zonas especializadas de desenvolvimento industrial, mas tendem a concentrar-se nas grandes cidades e áreas metropolitanas. Daqui também resulta que zonas rurais, ilhas, ou sítios que não acompanharam os processos de industrialização, têm mais dificuldade em mobilizar investimentos, tecnologias ou pessoas qualificadas para inovar e desenvolver novas indústrias. Nesses casos, o turismo aparece frequentemente como a solução possível, uma vez que se pode desenvolver com incorporação de tecnologia e conhecimento relativamente baixos. Por outro lado, o consumo turístico, não sendo essencial à vida humana, é muito sensível a flutuações de rendimentos.

Pode dar exemplos?

Isso foi visível, por exemplo, com a crise internacional de 2007/2009. O turismo também é muito vulnerável a problemas de segurança ou de epidemias internacionais, como o caso do covid-19 demonstrou ao extremo. Economias demasiado especializadas no turismo são muito vulneráveis a choques externos e menos resilientes perante crises. É visível também que, sendo o desenvolvimento turístico frequentemente suportado por serviços de mão-de-obra intensiva e fraca incorporação tecnológica, a especialização em turismo pode provocar, no longo prazo, constrangimentos em termos das qualificações da população, da capacidade de inovar e integrar tecnologia ou de acrescentar valor à economia regional.

O livro fala também de “Turismo Inteligente” e da “co-criação de experiências”, com recurso a megadados e IA. O turismo está, definitivamente, a ficar mais digital?

As redes sociais são instrumentos fundamentais para as novas gerações. Começaram, entretanto, a generalizar-se as ferramentas para planeamento ou promoção de viagens suportadas por inteligência artificial. O chamado “turismo inteligente” designa de uma forma mais geral a utilização de tecnologias digitais para intensificar os fluxos de informação, consolidar a formação de redes e promover tomadas de decisão mais informadas e partilhadas, eventualmente contribuindo para a chamada “co-criação de experiências”. A digitalização do turismo tem as suas origens nos sistemas de distribuição de serviços originalmente desenvolvidos por companhias aéreas, desde os anos 1960, mas seria a Internet a acelerar e globalizar a digitalização.

E as redes sociais.

A emergência das redes sociais promoveu a criação de um universo mais interactivo, potencialmente em tempo real e envolvendo largos números de utilizadores e vários de tipos de suportes. A generalização da utilização de telefones móveis permanentemente conectados à internet, mesmo em viagens ao estrangeiro, aumentou ainda mais este potencial para a utilização intensiva e interactiva de dados e informação. Esta “co-criação”, no entanto, esconde evidentes desequilíbrios de poder.

Tais como?

No que diz respeito ao turista, ou consumidor em geral, cabe normalmente o papel de fornecer informação, por exemplo através das redes sociais. Essa informação é obtida, acumulada e comercializada, por vezes sem consentimento ou até sem conhecimento, para eventualmente se traduzir na criação, adaptação ou promoção de produtos e serviços. Este processo é particularmente importante no caso do turismo, por haver normalmente um período longo entre a decisão de viajar e a viagem propriamente dita. Esse período de exploração e planeamento de viagem é aproveitado pelas empresas de marketing turístico para tentar influenciar as escolhas. Este tipo de interacção também introduz uma diferença na “espacialidade” da provisão de serviços turísticos, que normalmente são produzidos e consumidos ao mesmo tempo e no mesmo lugar, numa relação directa entre produtor e consumidor. A digitalização do turismo antecipa grande parte destas interações e fluxos de informação e transfere-as para grandes empresas tecnológicas ou de marketing e distribuição.

Num mundo onde cada vez se viaja mais, os percursos são mais curtos e o acesso à informação é imenso, como podem os países e regiões ser competitivos na oferta turística?

O turismo contemporâneo vive num ambiente internacional altamente competitivo. Mas da mesma forma que há uma grande variedade de destinos e ofertas, também há uma grande diversidade de preferências e consumos, aquilo que se vai designando como “hiper-personalização”, resultado da tal abundância de informação e oportunidade de interação. O desafio que se coloca aos destinos é o de identificar os recursos, produtos e serviços que se possam ajustar a um determinado grupo de consumidores, para comunicar com eficácia. Esta competitividade ultrapassa em muito o âmbito estrito dos serviços turísticos porque também requer serviços de mobilidade e transporte, infra-estruturas variadas, segurança, apoio médico, ou fácil comunicação. Qualquer lugar que pretenda desenvolver a sua indústria turística tem que intervir sobre todos estes factores.

O livro aborda também como os “processos sociais” moldam o desenvolvimento do turismo. No caso da China, por exemplo, acredita que estamos a assistir a uma mudança, que terá consequências para Macau?

Parece-me que Macau está numa posição altamente privilegiada para desenvolver outras formas de turismo. A China é o maior mercado emissor do mundo, a subida generalizada de rendimentos das últimas décadas permite a muitos milhões de pessoas explorarem a oportunidade de viajar. Macau é um destino muito próximo e ao mesmo tempo distinto, com as suas particularidades históricas e culturais. Para a população chinesa não era fácil visitar Macau e há certamente um interesse muito grande.

Como entra o projecto da Grande Baía nisso tudo?

A estratégia que está a ser seguida com a integração da Grande Baía permite desenvolver uma oferta cosmopolita e diversificada que pode certamente atrair turistas chineses e de outras partes do mundo. De resto, estas três áreas têm excelentes escolas de hotelaria e turismo, que garantem pessoal qualificado para a gestão e planeamento do turismo. O elemento de diferenciação que a cultura portuguesa introduz neste contexto pode certamente contribuir para o sucesso da transição de um turismo focado nos casinos para outras formas que valorizem mais a cultura e o património.

É possível ter um turismo sustentável?

Os problemas e as dificuldades da sustentabilidade do turismo são mais visíveis do que noutros sectores. A tal “espacialidade” do turismo (em que o consumidor é obrigado a deslocar-se ao local de consumo), implica que as consequências desse consumo se tornem mais evidentes. Esses efeitos são menos óbvios quando se trata da insustentabilidade de unidades industriais ou de formas de agricultura intensiva em áreas relativamente isoladas. Como as estratégias de massificação para redução de custos e rentabilização de investimentos também se aplicam ao turismo, as consequências sobre o ambiente ou a qualidade de vida dos residentes nos destinos podem ser devastadoras. A sustentabilidade implica uma perspectiva de longo prazo baseada na ideia de que as decisões de hoje não implicam consequências negativas futuras. Práticas sustentáveis dependem do controlo dos impactos que se vão acumulando ao longo do tempo por agentes económicos individuais e independentes.

Como pode ser feito esse controlo?

Quando um hotel ou uma companhia aérea definem que capacidade vão instalar nos seus serviços podem eventualmente estimar o impacto que os consumidores vão provocar no ambiente ou economia locais. Já terão mais dificuldades em antecipar que impactos vão ser gerados nos 10, 15 ou 20 anos seguintes ao investimento. E, seguramente, será impossível aferir como esse impacto se acumula aos impactos provocados por outros prestadores de serviços, agora ou no futuro. Ou seja: ainda que a ideia de sustentabilidade seja generalizadamente aceite, os agentes económicos não têm, na prática, mecanismos ou instrumentos para a avaliar. A regulação da utilização de recursos e territórios por entidades públicas com uma perspectiva mais abrangente e de futuro, pode contribuir para a sustentabilidade de uma forma mais eficaz do que a regulação associada à dinâmica dos mercados, que em muitos casos se tem revelado altamente predatória. A economia chinesa é um desses exemplos e pode eventualmente beneficiar disso.

E no caso concreto de Macau?

Macau tem problemas historicamente conhecidos: áreas ultra-urbanizadas e poluídas, com grandes consumos energéticos e produção de resíduos; grande concentração de turistas numa área relativamente pequena de grande interesse histórico e cultural; grande dependência do jogo, com os decorrentes desequilíbrios na apropriação de benefícios do turismo. A transição em curso para novas formas de turismo deve resolver melhor estes problemas e a regulação pelo estado terá certamente melhores resultados do que a baseada nas dinâmicas de mercado.

2 Abr 2025

Droga / HK | Duas portuguesas arriscam prisão perpétua

Os serviços de alfândega de Hong Kong detiveram no último sábado duas passageiras portuguesas que tinham, nas suas bagagens, 81 quilos de ketamina.

Segundo um comunicado das autoridades, as duas mulheres foram ontem presentes ao juiz, pela primeira vez, no Tribunal de Magistrados de West Kowloon, estando acusadas do crime de tráfico de estupefacientes perigosos.

As duas jovens ficam em prisão preventiva até ao julgamento, que arranca a 24 de Junho. Josiane Alexandre Borges da Costa, de 23 anos, e Alexandra Miriam Silva Lopes Correia, com a mesma idade, viajavam de Frankfurt, na Alemanha, para a região vizinha. No processo de desalfandegamento, no aeroporto, foi detectada a droga.

Segundo a legislação de Hong Kong, o tráfico de drogas perigosas é considerado infracção grave, com a pena máxima a ser prisão perpétua ou uma coima de cinco milhões de dólares.

1 Abr 2025

Economia | Secretário alerta para receitas da Administração

O secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, deixou ontem um alerta sobre o desempenho do sector do jogo, com impacto aquém do esperado para as receitas obtidas pelo Governo. “Reparámos que nos primeiros três meses de 2025 as receitas brutas dos jogos atingiram 57,66 mil milhões de patacas, permanecendo o valor praticamente inalterado em termos anuais, não alcançando ainda a esperada média mensal de 20 mil milhões de patacas”.

Assim, Tai Kin Ip deixa o alerta de que “as receitas financeiras do corrente ano poderão não ser tão optimistas como o previsto”, sendo necessário “estudar seriamente a futura situação económica e persistir na gestão dos recursos financeiros com prudência”.

Estas ideias foram proferidas no âmbito de um discurso proferido na palestra anual para o sector industrial e comercial organizada ontem pela Associação Comercial de Macau. Tai Kin Ip não esqueceu as medidas proteccionistas dos EUA e os sinais negativos que trazem a Macau. “Actualmente, o unilateralismo e o proteccionismo estão a crescer, com o desenvolvimento económico global a enfrentar muitas volatilidades e incertezas”, disse.

Assim, “Macau, sendo uma microeconomia virada ao exterior e altamente aberta, não consegue escapar a estas influências”, adiantou o secretário, alertando para a “grande mudança nos padrões e conceitos dos visitantes”, pois “a despesa per capita dos visitantes caiu 14,6 por cento em termos anuais, para 2157 patacas”.

1 Abr 2025

Livro | Mark O’Neill conta a história dos europeus nos primórdios de Hong Kong

“Europeans in Hong Kong” é o 18º e novo livro do escritor e jornalista britânico Mark O’Neill, que vive na região vizinha. Ao HM, confessa que começou por escrever a história dos irlandeses, mas o projecto acabou por se expandir. Como tal, focou-se nas histórias de europeus que deixaram a sua marca em Hong Kong, incluindo portugueses

 

Hong Kong, a cidade da banca, das finanças e do comércio, um entreposto mundial durante séculos e uma porta de entrada para a China. Tem sido assim a região vizinha ao longo dos tempos, desde a sua instituição, em 1841. Desde sempre, Hong Kong foi um território internacional povoado por europeus de várias nacionalidades, muito mais do que os britânicos que administraram o território até 1997.

Faltava contar a sua história, e Mark O’Neill, autor e jornalista britânico, a residir em Hong Kong desde finais dos anos 70, fá-lo agora com “Europeans in Hong Kong” [Europeus em Hong Kong], que inclui inclusivamente um capítulo sobre os portugueses.

Em mais uma obra que acaba de sair para as bancas, o autor confessa ao HM que começou por escrever a história dos irlandeses em Hong Kong, cuja contribuição para o território “foi enorme”. Essa obra não chegou a ser publicada, nascendo depois a ideia de fazer algo maior.

“Escolhi as figuras que deram os maiores contributos, especialmente a nível religioso, ou professores, escritores, grandes figuras do mundo dos negócios e aqueles cujos legados ainda perduram”, confessou.

Mark O’Neill destaca que o grande contributo dos europeus na região vizinha deu-se na área educativa, mas não só. “O contributo mais duradouro foi dado pelas escolas, universidades, hospitais, lares de idosos, instituições de assistência social e algumas empresas. Embora se tratem de entidades que, actualmente, são geridas, em grande parte, por pessoas de Hong Kong, foram fundadas e alimentadas por europeus.”

O autor explica que a história mais impressionante associada ao legado dos franceses surge na capa do livro. “No século XIX, as freiras francesas adoptaram dezenas de milhares de raparigas chinesas que tinham sido abandonadas e deram-lhes uma boa vida. Sem elas, as raparigas teriam morrido ou trabalhado como mão-de-obra infantil, empregadas domésticas ou prostitutas”, disse.

Uma outra casa

Questionado sobre as novas percepções que o livro pode trazer para o público em geral, Mark O’Neill entende que este está hoje “familiarizado com a história dos britânicos em Hong Kong, mas não com a história da Europa continental”.

Assim, o autir diz esperar que “o livro os ajude a compreender a sua história, especialmente o seu contributo”.

Em termos gerais, “nas primeiras décadas [da fundação de Hong Kong], os europeus eram, sobretudo, homens de negócios e missionários, tanto católicos como protestantes”. Depois, a região cresceu “como grande cidade asiática e, a partir dos anos 50, a comunidade expandiu-se”. “Actualmente, temos arquitectos, engenheiros, músicos, professores, donos de restaurantes, médicos, advogados, especialistas em arte e pessoas em todos os domínios da vida”, disse o autor.

Outra figura de destaque em “Europeans in Hong Kong” é o padre jesuíta húngaro Laszlo Ladany, tido como o “maior observador da China em todo o mundo durante trinta anos”, e Anders Nelsson, “o cantor sueco e residente de longa data em Hong Kong, bem conhecido dos habitantes locais”, descreve-se na introdução da obra.

“A maioria das pessoas pensa que Hong Kong foi construída pelos chineses durante os 150 anos de domínio britânico, o que não é inteiramente exacto. Como o leitor descobrirá, muitas das escolas, hospitais, instituições de assistência social, edifícios e empresas da cidade foram fundados e geridos por pessoas da Europa (definida aqui como ‘a leste de Calais’). Muitos viveram aqui toda a sua vida adulta e só regressaram ‘a casa’ quando a guerra ou a doença o obrigaram”, é descrito na mesma introdução.

Mark O’Neill descreve também que os cemitérios de Hong Kong contêm vestígios dessa presença, pois “os europeus ficaram a gostar mais da cidade e das suas gentes do que da sua terra natal”. A presença europeia aumentou na região vizinha a partir de 1949, quando é fundada a República Popular da China, pois “o novo Governo chinês fechou as portas a estrangeiros, com a excepção de um pequeno número de pessoas provenientes de outros países socialistas”. Assim, “desejosos de permanecer na China e no mundo chinês, muitos europeus mudaram-se da China continental para Hong Kong”, é referido.

O legado macaense

O quarto capítulo é inteiramente dedicado à comunidade portuguesa e macaense de Hong Kong, tida como “pilar da sociedade” durante muitos anos. “Durante 150 anos, os portugueses foram, depois dos britânicos, a maior comunidade não chinesa em Hong Kong”, lê-se na obra, que traça o perfil de cinco personalidades e descreve dois clubes sociais, onde a comunidade se encontrava.

No tocante às personalidades, é referido o exemplo de José Pedro Braga, o primeiro português a fazer parte do Conselho Legislativo, entre os anos de 1927 e 1937; Sir Roger Lobo, membro do Conselho Executivo entre 1967 e 1985; e o Comendador Arnaldo de Oliveira Sales, primeiro presidente do Conselho Urbano entre 1973 e 1981.

“Os portugueses desempenharam um papel fundamental no Governo, nos bancos, nas profissões liberais e nas empresas comerciais. Viveram aqui durante muitas gerações. A maior parte dos expatriados ficava apenas o tempo da sua missão; quando se reformavam, partiam e regressavam à Grã-Bretanha ou a outro país da Europa. Os portugueses, por outro lado, tinham as suas próprias escolas, igrejas, clubes sociais e desportivos e a sua própria língua”, refere-se no livro.

Relativamente à origem desta comunidade, descreve-se como uma “raça mista”, ou macaenses, mas também portugueses com origens asiáticas. “A sua história remonta a centenas de anos, aos primeiros tempos do comércio e da exploração portugueses. No século XVI, Portugal estabeleceu entrepostos comerciais e missões religiosas em Goa, Malaca, Macau e Nagasaki. Os colonos portugueses casaram com mulheres locais, criando uma população mista com raízes na Índia, na Malásia, na China e no Japão. Em 1639, o Governo japonês expulsou todos os estrangeiros e isolou o país do resto do mundo.”

Macau surge intimamente ligado a esta comunidade, pois tornou-se, em meados do século XVI, “a base de Portugal na Ásia Oriental”, depois dos holandeses terem bloqueado Goa e conquistado Malaca.

“Os macaenses começaram a formar-se como uma comunidade coesa – partilhando laços com Portugal, a religião católica, uma língua e uma cozinha comuns e um sentimento de distinção em relação aos portugueses coloniais e aos seus vizinhos chineses. Eram as únicas pessoas em Macau que falavam português e cantonês, o que lhes conferia um papel de intermediários essenciais para o bom funcionamento do Governo e dos negócios”, é explicado.

O facto de “a fundação de Hong Kong ter devastado a economia de Macau” fez com que muitos macaenses tenham começado a mudar-se de armas e bagagens para uma zona com uma economia bem mais fulgurante. Afinal de contas, “a apenas 66 quilómetros de distância [Hong Kong] era o melhor porto de águas profundas a sul da China dentro das leis, administração e protecção militar no maior império do mundo”.

1 Abr 2025

TUI reduz pena de residente por crime fatal em Zhuhai

O Tribunal de Última Instância (TUI) decidiu reduzir a pena de um residente de 44 anos detido, em Agosto de 2023, por matar outro residente em Zhuhai. Tudo aconteceu numa noite de diversão nocturna que terminou da pior maneira, na zona de Gongbei, tendo os dois homens começado a discutir na rua quando o homicida decidiu atacar o outro residente com dois golpes de tesoura.

O Tribunal Judicial de Base (TJB) condenou o residente a uma pena de prisão efectiva de 15 anos pela prática, em autoria material e da forma consumada, de um crime de homicídio. Além disso, o residente foi condenado a pagar uma indemnização superior a dois milhões de patacas à viúva, com juros. Foi então que o homicida decidiu recorrer para o Tribunal de Segunda Instância, por não concordar com a sentença, sendo que o TUI reduziu agora essa pena para 13 anos e nove meses.

Sem intenção “directa”

Segundo o acórdão do TUI, o homicida pediu a redução da pena alegando que estava sob efeito do álcool e que não sabia que os golpes de tesoura poderiam, efectivamente, matar o outro residente. Além disso, o recorrente alegou que tinha sido chamada a polícia antes de agredir o homem com a tesoura. Porém, o TUI entende que “tais circunstâncias não se apresentam válidas e eficazes para excluir a sua culpa quanto à conduta e a sua responsabilidade”.

O TUI entende que está em causa uma situação de “dolo eventual” e não uma intenção “directa” de matar o outro, pelo que se afigurou possível “uma redução moderada da pena”.

Os detalhes do caso são descritos no acórdão: os dois homens estavam, por volta das 00h02 de 31 de Julho de 2023 a comer com a mulher do falecido e mais sete amigos, sendo que o homicida bebeu “três a quatro garrafas de cerveja”, tendo alguns deles ido jogar mahjong a seguir. A discussão entre os dois homens aconteceu por volta das 3h50 “por motivos triviais”, tendo-se tornado “cada vez mais grave”.

Os amigos tentaram separá-los, sem sucesso. Por volta das quatro da manhã, o homicida “abandonou o estabelecimento de mahjong, correndo, pegou numa tesoura de uma loja de fruta com a qual deu vários golpes no lado esquerdo do peito, braço e antebraço esquerdos e polegar da mão esquerda” do falecido. O óbito foi declarado às 04h15 pela Polícia de Segurança Pública de Zhuhai. O autor do crime foi detido à entrada de Macau.

1 Abr 2025

Cinemateca | “Flow”, vencedor do Óscar, em destaque no mês de Abril

“Encantos de Abril” está aí, com uma nova selecção de filmes para ver este mês na Cinemateca Paixão. Destaque para “Flow – À Deriva”, que conquistou o Óscar de Melhor Filme de Animação este ano, bem como para “Dog on Trial” ou “Four Trails”, entre outros

 

Um gatinho preto, de olhos brilhantes, tenta sobreviver à inundação do mundo que ele conhece. De repente, tem de partilhar o espaço de um barco com outros animais de espécies completamente diferentes, e garantir que vivem. “Flow – À Deriva” é uma lição de humanidade e, talvez, uma reflexão sobre as alterações climáticas, consoante o olhar de cada um. Pode agora ser visto na Cinemateca Paixão, a partir desta sexta-feira, tendo ainda outras três sessões programadas.

“Flow – À Deriva”, de Gints Zilbalodis, é uma produção da Letónia que surpreendeu meio mundo e a Academia de Hollywood, tendo vencido o Óscar de Melhor Filme de Animação. O orçamento inicial do filme foi de 3,6 milhões de dólares americanos e o seu sucesso surpreendeu até o próprio autor do filme.

“Pensámos que, na melhor das hipóteses, seríamos seleccionados para alguns festivais e teríamos uma boa temporada de festivais”, explicou Zilbalodis, de 30 anos, à agência France-Presse (AFP). Para a Letónia, as duas nomeações para os Óscares foram históricas, pois nenhum filme do país báltico de apenas 1,8 milhão de habitantes havia disputado um Óscar.

Mas “Encantos de Abril” prossegue com outras histórias, já fora do mundo da animação. Uma delas é “Dog on Trial”, que pode ser visto já a partir desta quinta-feira. Trata-se de uma história fora do vulgar em que uma advogada, Avril, defende um cão na barra do tribunal. O filme acaba por revelar episódios cómicos e, ao mesmo tempo dramáticos, em torno de questões como o sistema judicial, os direitos das mulheres e dos próprios animais.

Aventuras em Paris

Segue-se “Grand Maison Paris”, um filme japonês passado na capital francesa. A primeira sessão acontece hoje às 19h30, seguindo-se mais duas datas de exibição. A história gira em torno da abertura de um restaurante em Paris, chamado “Grand Maison Paris”, depois do sucesso obtido com o “Grand Maison Tokyo”, ganhador de três estrelas Michelin.

Natsuki Obana e Rinko Hayami aventuram-se então em Paris, querendo ser os primeiros chefes asiáticos a obter estrelas Michelin na cidade luz, mas os desafios que vão enfrentar fazem da aventura uma tarefa bem mais difícil do que pensavam. Os protagonistas têm de lidar também com a pressão de uma cidade cheia de chefes bem conhecidos da cozinha francesa.

Outro filme, do género documentário, que pode ser visto a partir de amanhã é “Four Trails”, apesar de todas as sessões de exibição já estarem esgotadas. Trata-se de uma história real, a de Andre Blumberg, que partiu sozinho para correr os quatro trilhos icónicos de grande distância de Hong Kong em apenas 72 horas. São 298 quilómetros, e mais de 14.500 metros de desnível depois, acabou por ser criada uma das maratonas mais difíceis do mundo, com o nome “Hong Kong Four Trails Ultra Challenge”. O documentário retrata, assim, a edição de 2021 desta competição.

Dentro do rol de filmes asiáticos apresenta-se “Montages of a Modern Motherhood”, um filme deste ano de Hong Kong, que será exibido nos dias 15 e 27 de Abril. Trata-se da história de Suk-jing, que acolhe uma filha bebé na sua vida, e que com isso nunca mais será a mesma. Depressa Suk-jing percebe que o dia é pequeno demais para tudo o que tem de fazer, queixando-se de que o marido não a ajuda nesta nova tarefa da maternidade. Depressa começam os dramas familiares e as reflexões sobre a necessidade de dias melhores.

Dentro de uma outra secção, “Auter Style – Dupla Funcionalidade”, apresenta-se ainda, esta sexta-feira, o filme “Hard Truths”, do realizador britânico Mike Leigh sobre ética familiar. A história gira em torno da nervosa Pansy, com um comportamento psicológico contrastante face à irmã, mais nova e descontraída. Neste filme, pode-se explorar as relações familiares e as dificuldades que existem para, por vezes, se manter a harmonia nessas ligações.

1 Abr 2025

José Paulo Esperança, reitor associado da Universidade Cidade de Macau: “As línguas não podem ser controladas”

Co-autor do “Novo Atlas da Língua Portuguesa”, com Luís Reto e Fernando Luís Machado, José Paulo Esperança revela ao HM que a obra editada em 2016 e 2018 está a ser actualizada, sobretudo devido ao crescente valor global do idioma. O reitor associado e docente da Universidade Cidade de Macau sugere parcerias com Macau no âmbito do projecto editorial

 

Lançou o “Novo Atlas da Língua Portuguesa”, em co-autoria, sobre o valor global do idioma. Planeiam uma nova edição ou actualização?

Sem dúvida. Estamos a trabalhar nesse sentido, houve uma conferência recente em Macau e o professor Luís Reto, antigo reitor do ISCTE, apresentou alguns elementos mais actuais que foram desenvolvidos. Ele tem trabalhado numa questão muito importante, que é o papel do português como língua franca, que foi durante alguns séculos na Ásia. O intercâmbio entre holandeses e o reino de Sião fazia-se em português, porque era a língua comum utilizada nessa altura, antes do inglês se tornar na língua franca contemporânea. Portanto, há todo um historial interessantíssimo do português e no papel que teve nos primeiros pinyins que existiram, com o chinês e na utilização do alfabeto [romano] no Vietname. Há uma série de elementos que não estão, portanto, muito divulgados, e o trabalho do Atlas é esse mesmo, de divulgar algumas dimensões económicas da língua.

Quais são essas dimensões?

Uma delas é o intercâmbio de comércio e de investimento estrangeiro, que é muito facilitado pela língua. Falamos também das migrações, do turismo, do intercâmbio de estudantes que é muito influenciado pela proximidade linguística. Portanto, temos hoje um conjunto de elementos que são muito interessantes, e temos esperança de vir a desenvolver algumas parcerias mais importantes com Macau.

Como?

Mais ao nível do trabalho que o professor Luís Reto está a fazer, que mantém uma equipa de investigação sobre o valor do português. Ele tem colaborado com o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, por exemplo. Trata-se de um espaço museológico que foi renovado depois do incêndio que o destruiu. Além disso, tem um projecto com a Câmara Municipal de Cascais para desenvolver uma estrutura desse tipo, e temos esperança de fazer alguns trabalhos com Macau, no sentido de criar três pólos para a projecção da língua portuguesa. Quanto aos materiais do Atlas, gostaríamos de ter até um modelo de actualização continuado, pois estes dados ficam desactualizados muito rapidamente. A obra foi editada em muitas línguas, incluindo o mandarim. Este é o momento em que gostaríamos de dar ao livro uma dimensão mais histórica e profunda, com mais conhecimento sobre o ensino do português no mundo.

Que balanço faz desse ensino actualmente?

O português está a desenvolver-se muito como língua materna e, efectivamente, é uma das línguas com maior expansão devido ao crescimento demográfico em África, com países como Angola e Moçambique, que por volta de 2050 terão populações superiores a 100 milhões de habitantes, cada um deles. O português consolida-se, assim, como uma língua do hemisfério sul, mas muito mais de África, suplantando o próprio Brasil como local de maior número de falantes da língua. Tudo isso gera um enorme potencial, e tal também ocorre devido ao grande intercâmbio das universidades e internacionalização do ensino. Há hoje a possibilidade de o português ser uma língua de ciência, de haver mais publicações nesse idioma. Esse é um grande desafio, porque o inglês é a língua contemporânea dos cientistas. Queremos contribuir para todas essas dimensões, e Macau também pode ter aí um papel importante. Macau é de facto uma plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, e pode desempenhar um papel significativo.

Macau é um sítio ideal para formar professores de português que não tenham o português como língua materna? Teme que o território perca relevância nesta matéria perante a oferta de cursos no Interior da China?

Vejo essa questão mais como complementaridade do que concorrência. Identificámos cerca de 60 instituições de ensino superior na China que têm cursos de português, mas julgo que Macau tem condições muito interessantes para começar a ensinar logo desde o ensino primário até ao secundário, para que seja possível às crianças terem uma aprendizagem desde tenra idade. Não quer dizer que não haja jovens chineses que começaram a aprender a língua na adolescência que passem a falar de forma fantástica, que me surpreende, mas é mais fácil começarem cada vez mais cedo. Isso será mais fácil em Macau. O que é importante é criar condições para uma maior colaboração económica a muitos níveis, como a investigação conjunta. Nesse aspecto, Macau tem uma oportunidade muito interessante. Na Universidade Cidade de Macau estamos muito interessados em ter cada vez mais colaboração com investigadores que nos visitem e trabalhem com as nossas equipas.

Pode dar-me exemplos?

O Brasil é hoje um dos grandes parceiros comerciais da China. Há muito intercâmbio nos dois sentidos, mas um dos temas que é pouco estudado, e no qual trabalho muito, é o da internacionalização das empresas chinesas. Até que ponto essas empresas seguem um modelo de internacionalização semelhante ao de outros países que começaram esse processo mais cedo? Falo dos Estados Unidos da América, dos países europeus, mas também do Japão e outros. A China tem, de facto, modelos diferentes de presença nos países que ainda não são muito conhecidos, e isso é importante perceber, para que saibamos como se pode facilitar esse processo de intercâmbio num mundo que vive períodos de algum retrocesso. É muito triste. Recordo sempre um grande economista de origem portuguesa, o David Ricardo, que explicou de forma clara como o comércio mundial é benéfico para toda a gente e como os países podem tirar partido dessa situação. Portanto, aplicar tarifas, fazer esse tipo de barreiras comerciais prejudica os países que são grandes exportadores, como a China ou Alemanha, e os países que têm hoje uma capacidade de exportação cultural, por exemplo, e não são apenas importadores.

Relativamente ao novo Acordo Ortográfico. Continua sem haver uma uniformização em Macau. Isso preocupa-o?

As línguas são dinâmicas e não podem ser controladas. Pensamos hoje no inglês, e percebemos que há formas quase incompreensíveis entre si, como o inglês que se fala na Nigéria ou na Austrália. Os americanos têm dificuldade em perceber os australianos. No século XIX, o português de Portugal e do Brasil estavam mais próximos, depois surgiu alguma divergência. Houve um esforço, no Brasil, de propor um acordo ortográfico, e os portugueses aderiram, resultando numa série de negociações. Sempre existiram resistências. Recordo que Fernando Pessoa sugeriu a famosa frase “A minha pátria é a língua portuguesa”. Era curiosamente uma manifestação de algum conservadorismo, porque ele achava que farmácia tinha de se continuar a escrever com PH [Pharmácia]. Na realidade não fazia muito sentido. Portugal acabou por procurar impor uma certa uniformização com base nas alterações mais genéticas do Acordo Ortográfico. Não é um processo que tenha corrido bem a cem por cento, e que tenha sido universalmente adoptado. Os países africanos acabaram por ser mais defensores do português de Portugal. Há, por vezes, alguma confusão, mas entendo que a intercompreensão ainda se mantém, conseguindo-se uma língua homogénea, mais talvez do que o inglês.

 

Entre palavras e números

José Paulo Esperança é doutorado em Economia pelo Instituto Universitário Europeu e foi presidente do departamento de Finanças e Contabilidade do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. O “Novo Atlas da Língua Portuguesa”, com edições em 2016 e 2018, contém “um amplo conjunto de indicadores que reforçam a ideia do crescimento do ensino, dos falantes e do uso escrito do português no mundo”, tendo sido alvo de uma série de iniciativas recentes em Macau.

Uma delas decorreu no passado dia 17 de Março, na Fundação Rui Cunha, com uma sessão do ciclo “Roda de Ideias”, intitulada “O potencial da língua portuguesa no mundo contemporâneo”, que contou com a participação do antigo reitor do ISCTE, Luís Reto, e o próprio José Paulo Esperança. Além do “Novo Atlas da Língua Portuguesa”, José Paulo Esperança é autor de outras obras na área financeira.

1 Abr 2025

Artista sul-coreana Shin Min vence primeira edição do “MGM Discoveries”

Shin Min, artista sul-coreana, foi a vencedora da primeira edição do prémio “Prémio de Arte MGM Discoveries”, atribuído em conjunto pela MGM e Art Basel de Hong Kong. Segundo um comunicado da MGM, a artista, representada pela galeria P21, de Seul, venceu com uma “instalação inovadora”, com o nome “Ew! There is hair in the food!!!”, em que utilizou “um simbolismo potente e experiências pessoais para confrontar as normas sociais e as injustiças sistémicas”.

Segundo a mesma nota, Shin Min “espera que este trabalho sirva como uma ferramenta poderosa para sensibilizar a sociedade e, em última análise, melhorar as condições de trabalho da população”. O prémio inclui um valor monetário de 50 mil dólares americanos e a “oportunidade de ser convidado pela MGM para realizar uma exposição e participar em intercâmbios artísticos em Macau”.

O objectivo do prémio “MGM Discoveries” é “promover a diversidade artística e ligar Hong Kong, Macau e o mundo através de eventos culturais icónicos”, sendo que esta iniciativa “reconhece a originalidade e a inovação de artistas internacionais emergentes”, além de “ampliar a sua visibilidade no mundo da arte global”.

Visões partilhadas

Kenneth Feng, presidente e director-executivo da MGM China Holdings Limited, disse que “a MGM e a Art Basel Hong Kong partilham a visão comum de promover o desenvolvimento artístico e cultural global”, sendo que este prémio conjunto “é um compromisso para descobrir artistas emergentes e celebrar a sua originalidade e criatividade, oferecendo uma plataforma para desenvolver o seu potencial e crescer”.

“Além disso, através dos esforços culturais internacionais, Macau está a unir-se estreitamente a Hong Kong e ao palco global, expandindo a rede global e o intercâmbio de Macau”, referiu o responsável.

Já Angelle Siyang-Le, directora da Art Basel Hong Kong, referiu que o júri escolheu “Shin Min de entre um notável conjunto de artistas apresentados no ‘Sector Discoveries’, que destaca artistas e galerias emergentes através de apresentações individuais de projectos recentes”.

A MGM organizou ainda uma visita guiada à Art Basel de Hong Kong, uma das mais importantes feiras de arte do mundo, para cerca de 50 líderes e representantes culturais e educacionais de Macau. Com este prémio, a operadora de jogo diz querer “trazer novas perspectivas artísticas a Macau e à Grande Baía”, bem como “uma variedade de actividades artísticas e culturais internacionais”.

31 Mar 2025

EPM | Paulo Rangel garante aumento de apoio financeiro, após 11 anos de cortes

Numa visita relâmpago a Macau, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal defendeu que a posição que o país mantém na União Europeia em nada afecta a relação com a China. Durante a visita de Paulo Rangel foi também anunciado que Sam Hou Fai deverá visitar Portugal durante o Verão

 

Reuniu com Sam Hou Fai, com conselheiros das comunidades portuguesas, representantes associativos, instituições de ensino e empresários portugueses. Foi assim a visita de Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, na curta visita à RAEM, que decorreu na sexta-feira. Não faltaram ainda passagens pela Escola Portuguesa de Macau (EPM) e o Consulado-geral de Portugal no território. No final da tarde, Paulo Rangel deslocou-se ainda a Hong Kong para visitar a exposição “Estórias Lusas”, dedicada à comunidade portuguesa do território, patente no Museu de História de Hong Kong. Na China, Paulo Rangel marcou presença no Fórum Boao, em Hainão.

Numa entrevista à TDM, o ministro assegurou que as relações de Portugal com a China mantêm-se boas, negando que o posicionamento do país nas tomadas de posição da União Europeia (UE) possa representar alguma espécie de entrave.

“Quem achar que a presença de Portugal na UE é prejudicial para a relação de Portugal com a China, não percebe a relação de Portugal com a China e não percebe o papel de Portugal no quadro internacional. Percebo que algumas pessoas não compreendam, mas sinceramente temos de ver isso como mais valia. E isso é visto assim”, defendeu.

Uma das vozes que criticou o posicionamento de Portugal em relação a matérias como a questão da Huawei e rede 5G foi Amélia António, advogada e presidente da Casa de Portugal em Macau.

“A minha expectativa não é grande. Gostaria que o senhor ministro, depois de visitar a China, dissesse alguma coisa simpática, na medida em que as relações têm estado muito frouxas. Gostava de ver essa relação ser retomada da forma como era habitual e também que não fôssemos tão seguidores das posições da UE, de forma tão feroz, pois temos aqui interesses muito especiais e temos uma comunidade portuguesa muito grande. A situação é diferente em relação a outros países da UE, e isso não deve ser perdido de vista”, disse ao HM antes da chegada de Paulo Rangel a Macau.

A questão EPM

Na entrevista concedida à TDM, Paulo Rangel comentou ainda a questão da EPM, frisando os pontos que não estiveram na agenda, nomeadamente as obras de ampliação das instalações.

“Esta questão ainda não foi abordada. Há, aliás, várias questões que têm de ser detalhadas e resolvidas, e uma ou outra que não foram ainda postas em cima da mesa. Sabemos que há procura por isso, mas, e estou a ser totalmente transparente, é uma questão que não está ainda posta em cima da mesa.”

Segundo a Lusa, Paulo Rangel anunciou também que o Governo aumentou o apoio financeiro à EPM, regressando ao nível previsto legalmente, após 11 anos de cortes.

“Acabámos de fazer a reposição da contribuição portuguesa para a Escola Portuguesa de Macau, que (…) tinha sofrido um corte enorme”, disse Rangel na sexta-feira.

O Estado português detém a maioria (51 por cento) do capital da fundação da EPM, mas desde 2014 que Lisboa apenas contribuía com 10 por cento das despesas da escola, uma decisão tomada no âmbito do programa de resgate financeiro de Portugal. O financiamento da EPM “está agora nos níveis legais outra vez e é a primeira vez ao fim de 11 anos”, anunciou.

Pouco depois, o chefe da diplomacia portuguesa disse aos jornalistas que “já não havia razão nenhuma, sinceramente, para haver esse corte e ele manteve-se”. “Aumentámos cinco vezes esse valor [do financiamento da EPM], portanto isso é algo que é altamente significativo do empenho que nós temos”.

“Há governos que realmente dão importância a Macau e à China e há outros que não dão, isto é uma coisa que tem que ser dita”, lamentou o ministro, apontando o dedo ao anterior executivo do Partido Socialista. A reposição do financiamento “é sem dúvida uma ajuda importante” para a EPM, que Rangel descreveu como tendo um papel fundamental para Portugal em Macau.

“Também registamos com agrado (…) que nunca houve tantos alunos de português – e agora falo de alunos da comunidade chinesa – como há hoje em múltiplas escolas”, acrescentou o dirigente. “Significa que também a Região Administrativa Especial [de Macau] tem incentivado o ensino de português e o conhecimento de português, e isso é algo que só pode trazer boas relações entre os dois lados”, acrescentou Rangel.

Sam em Portugal

Do encontro com Sam Hou Fai, que decorreu também na sexta-feira, saíram algumas ideias e opiniões sobre “o intercâmbio e cooperação bilateral nas áreas judicial, económico-comercial, educação, entre outras”, aponta uma nota oficial do Gabinete de Comunicação Social.

Sam Hou Fai levou para o encontro temas como “o desenvolvimento mais actual da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Henqing”, além de ter lembrado que “Paulo Rangel é o primeiro responsável ministerial estrangeiro que ele recebe após a tomada de posse como Chefe do Executivo, facto que reflecte as boas relações entre Macau e Portugal com uma história de longa data”.

O Chefe do Executivo destacou ainda que depois de 20 de Dezembro de 1999, Macau, “com o forte apoio do Governo Central, tem insistido em manter o princípio de ‘Um País, Dois Sistemas’, preservando o sistema jurídico continental, a cultura e costumes tradicionais, bem como manter, activamente, a ligação e fomentar as relações com Portugal”.

O governante disse ainda que “Macau tem aprofundado o papel de ponte e plataforma entre a China e os países lusófonos, impulsionando, de forma contínua, o estabelecimento de relações amigáveis nas diversas áreas de cooperação bilateral”.

Outra novidade deste encontro foi a informação, avançada pelo próprio Sam Hou Fai, que “espera visitar Portugal num futuro próximo” sem que, no entanto, tenha sido anunciada uma data concreta.

Rangel anunciou que o Chefe do Executivo de Macau deverá visitar Portugal “imediatamente antes de Agosto ou em Setembro”. “Há aqui claramente também um alinhamento das prioridades que é altamente simbólico”, disse o diplomata, à margem de um encontro com a comunidade portuguesa em Macau.

Questionado sobre as restrições a portugueses no acesso ao estaturo de residente, Rangel disse que falou com Sam Hou Fai “sobre todas as questões que são relevantes para a relação entre Portugal e a RAEM”. “Mas, como se trata de um diálogo que está em curso, tenho o dever de dar a oportunidade a que possamos, com as questões que foram levantadas de uma parte e da outra, termos agora espaço e tempo para construirmos soluções”, acrescentou.

Rangel disse que o “seguimento do diálogo” com Sam Hou Fai acontecerá numa reunião da Comissão Mista Portugal–RAEM, “que será organizada, em princípio, no segundo semestre aqui em Macau”.

Paulo Rangel disse ainda, em entrevista à TDM, que a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República portuguesa, “vai acontecer um pouco mais tarde”, precisamente devido à marcação de novas eleições no país. Inicialmente, o objectivo era que Marcelo Rebelo de Sousa viesse a Macau em Junho para comemorar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portugueses. A visita deverá acontecer nos meses seguintes de Verão, previu Paulo Rangel.

Encontros e desencontros

Paulo Rangel teve ainda um encontro com representantes associativos locais, incluindo com o conselheiro das comunidades portuguesas. Francisco Manhão, presidente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), aproveitou para falar da burocracia que ainda existe no relacionamento com a Caixa Geral de Aposentações (CGA).

“Para despachar um processo de pensões de sobrevivência leva seis meses e depois a correspondência anda para a frente e para trás. Os bancos de Macau não têm IBAN, e isso, por exemplo, atrasa todo o processo. Sempre que um processo vai para a CGA, voltam a insistir que não tem o número de IBAN e o NIF [Número de Identificação Fiscal], que a maioria das viúvas receptoras das pensões de sobrevivência, chinesas, não têm em Portugal”, exemplificou.

Manhão deixou ainda elogios ao político português. “Por pouco tempo que esteve aqui, mostrou preocupação. Gostei da presença do ministro”. Além disso, Francisco Manhão frisou que “em boa hora o Governo português nomeou Alexandre Leitão para cônsul”, lembrando também o bom trabalho do anterior cônsul português, Vítor Sereno. “O Consulado nunca esteve a funcionar tão bem como agora. As críticas feitas ao nosso cônsul são injustas. Houve associados nossos que me disseram ter ficado admirados por terem feito uma marcação e sido atendidos no dia seguinte”, salientou.

Mais aposta na língua

Outro ponto importante da visita de Rangel foi a promessa do reforço do ensino do mandarim em Portugal. “Com as autoridades chinesas fiz questão de dizer que nos vamos empenhar muito no ensino do chinês em Portugal”.

Na capital chinesa, Rangel encontrou-se com o homólogo chinês, Wang Yi, antes de se reunir com o vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang, na ilha de Hainão, onde decorreu o Fórum Boao.

“A situação hoje é muito melhor do que era há 20 anos (…). Já temos, de facto, uma capacidade de formação que não tínhamos de todo”, disse Paulo Rangel. A formação de pessoas fluentes em mandarim “é decisivo também para o nosso futuro”, mas “não é suficiente para os desafios que temos pela frente”, alertou. Com Lusa

31 Mar 2025

MNE| BIR de portugueses e EPM são temas a discutir com Paulo Rangel

Durante a visita a Macau do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Amélia António e Miguel de Senna Fernandes querem discutir o fim da preferência de acesso ao BIR por portugueses. A presidente da Casa de Portugal em Macau associa essa matéria à posição de Lisboa na questão do 5G

 

É mais uma visita de um governante português a Macau, mas a primeira de Paulo Rangel enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros do Executivo de Luís Montenegro, numa altura em que o país se prepara para ir a votos em Maio, após a dissolução da Assembleia da República.

Depois de um périplo pelo Interior da China, Paulo Rangel vai reunir com dirigentes associativos locais, no sentido de perceber problemáticas existentes relacionadas com a comunidade portuguesa.

Ao HM, Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), defende que as dificuldades de obtenção de residência por parte de portugueses deve ser um dos assuntos prementes. “A minha expectativa não é grande. Gostaria que o senhor ministro, depois de visitar a China, dissesse alguma coisa simpática, na medida em que as relações têm estado muito frouxas. Gostava de ver essa relação ser retomada da forma como era habitual e também que não fôssemos tão seguidores das posições da União Europeia (UE), de forma tão feroz, pois temos aqui interesses muito especiais e temos uma comunidade portuguesa muito grande. A situação é diferente em relação a outros países da UE, e isso não deve ser perdido de vista.”

Amélia António destaca o posicionamento que Portugal adoptou no caso da rede 5G e da Huawei, mas também “o desenvolvimento que houve em relação à vinda de portugueses para Macau, sujeitos ao blue card”. “Tenho a sensação que vem tudo na sequência desta política da UE face à China. Portugal deve ter uma posição no sentido de salvaguardar esses interesses.”

Em declarações à Lusa, a responsável fez queixas semelhantes. “Estamos aqui, sofremos as consequências dessas relações [entre Portugal e China], boas ou más. Tivemos relações muito próximas durante muito tempo, o que se alterou com a covid. Ainda não vi as coisas voltarem a ser como eram, e penso que era importante o senhor ministro explicar qual é a posição”, declarou, referindo que Portugal não tem de “alinhar fielmente com tudo o que se diz na Europa e, sobretudo, nos Estados Unidos”, salientou.

Antes da pandemia, lembrou a responsável, existia “comunicação permanente” e “muito intercâmbio” entre as autoridades portuguesas e chinesas.

Hoje é perceptível um “endurecimento relativamente aos portugueses” em matéria de imigração em Macau, declarou Maria Amélia António, sublinhando, porém, não poder afirmar categoricamente se a posição está relacionada com “esse afastamento” entre a China e o Ocidente.

As autoridades de Macau não aceitam desde o ano passado novos pedidos de residência no território para portugueses, para o “exercício de funções técnicas especializadas”, permitindo apenas justificações de reunião familiar ou anterior ligação ao território.

Também Miguel de Senna Fernandes, advogado e presidente da Associação dos Macaenses, lamenta a situação da atribuição dos BIR. “Gostaria que o Governo da República portuguesa tivesse em conta a comunidade portuguesa no território, que enfrenta algumas dificuldades em relação à possibilidade de obtenção da residência. É um tópico que talvez possa ser abordado entre o Estado português e a RAEM, para haver uma maior flexibilidade para permitir que a comunidade portuguesa tenha maior acessibilidade ao direito de residência, como existia antes.”

Para o causídico, “a RAEM não tem de, aleatoriamente, atribuir mais residências, mas é algo que corresponde apenas a um desejo meu”. “Naturalmente, que a RAEM tem as suas razões e Macau está diferente, e há outras comunidades que têm interesse em ficar no território. A comunidade portuguesa, por maior ligação histórica que tenha ao território, não deixa de ser mais uma comunidade, entre outras. Como portugueses que somos, gostaríamos que houvesse maior flexibilidade”, admitiu.

O caso EPM

Outro ponto que Amélia António e Miguel de Senna Fernandes querem ver abordado na visita de Paulo Rangel é a situação na Escola Portuguesa de Macau (EPM) e a falta de docentes. “Penso que deve ver a escola e tomar um pouco mais de consciência em relação à situação, embora a EPM não seja da área dele. Como membro do Governo é importante que perceba que esta situação tem sido mal conduzida, pois em Portugal tem-se ido atrás de algumas conversas que têm pouco a ver com a realidade e que só prejudicam. Se ele percebesse um pouco mais da situação, não seria mau”, disse Amélia António.

Já Miguel de Senna Fernandes diz que é altura de o Executivo português deixar de olhar para a escola como mais uma instituição de ensino português no estrangeiro. “A EPM é sempre uma questão recorrente, e tudo depende de como o Estado português olha para a escola: se olhar como para qualquer escola portuguesa espalhada pelo mundo, isso é um erro. Não há comparação possível, pois a EPM surgiu num contexto muito especial.”

Porém, à agência Lusa, Jorge Neto Valente, presidente da Fundação da EPM, foi categórico: a escola “não tem nada para pedinchar” a Paulo Rangel. “Não há choradeira, não temos nada para pedinchar, não temos nada para exigir, está tudo normal”, garantiu.

O advogado e presidente da Fundação da EPM disse esperar que Rangel “leve uma correcta percepção da escola, para que serve, os objectivos que tem”. “É sempre bom ter conhecimento directo, é muito melhor que nos papéis”, sublinhou Neto Valente. “Temos de dar contas de que a escola está a cumprir o papel que se espera que desempenhe”, acrescentou o dirigente, recordando que o Estado português detém a maioria do capital da fundação da EPM.

Ainda sobre o universo da EPM, Miguel de Senna Fernandes, que também lidera a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), sugeriu um olhar atento sobre o ensino do chinês na EPM.

“Sempre advoguei que o cantonês deve ter estatuto. Porque os alunos, quando saem da escola, estão num mundo cantonês. Isto com todo o mérito que pode ter o ensino em mandarim”, referiu. “É uma questão que se deve colocar. É uma questão delicada, porque estamos a falar de uma língua oficial”, completou, referindo-se ao mandarim, língua oficial na China.

O responsável, também vice-presidente da Fundação da EPM, admite que esta não é uma questão que gere consenso – “muitos pais não concordam com esta visão” -, mas sublinha que a aprendizagem do cantonês “é um veículo de integração”, já que se trata da língua dominante no território.

Sim ao voto electrónico

Também à Lusa vários líderes associativos defenderam a transição para o voto electrónico, salientando constrangimentos nas opções correntes para a emigração. “Desde que não se avance sem ser testado, estou integralmente de acordo. O futuro é esse e temos que apontar para aí”, sublinhou a presidente da CPM.

Nas eleições legislativas, os portugueses no estrangeiro têm a possibilidade de exercer o direito de voto de forma presencial ou por via postal, enquanto nas presidenciais e europeias, a votação é presencial.

Na opção por correspondência, o Governo envia para a morada indicada no caderno de recenseamento o boletim de voto e dois envelopes, um de cor verde e outro branco, que devem ser devolvidos ao Ministério da Administração Interna após preenchimento.

A opção electrónica “pode oferecer maior segurança”, defendeu Maria Amélia António. “Com os consulados a funcionarem mal, no sentido de terem poucos funcionários, com o trabalho que têm, e em países onde estão muito longe dos sítios onde as pessoas moram, é muito difícil as pessoas irem votar pessoalmente. Também se tem provado que há muitas falhas nas garantias de receberem voto [via correio]”, acrescentou.

A escolha electrónica é uma reivindicação de longa data do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Rui Marcelo, presidente do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas da Ásia e Oceânia, que tem um encontro agendado com o ministro dos Negócios Estrangeiros português, disse que o “tema já faz parte da agenda” do CCP “há alguns anos e já foi abordado várias vezes e com vários governos”.

“Com o avanço da tecnologia e a possibilidade de implementação de sistemas de segurança que possam garantir a segurança do voto – o que acontece hoje através da prestação de serviços noutras áreas também do Governo – estão criadas as condições para que possamos eventualmente evoluir para uma situação onde ele possa ser obviamente um complemento, mas não um substituto”, notou.

Em Fevereiro, o Parlamento português aprovou uma resolução proposta pelo PSD para testar o voto electrónico na emigração. O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, sugeriu, em Dezembro, uma experiência piloto de voto electrónico nos círculos da emigração.

O chefe da diplomacia portuguesa chega hoje a Macau depois de passar por Pequim e por Haikou, na província de Hainão, onde marcou presença no Fórum Boao.

Em Macau, Paulo Rangel tem agendados encontros com o chefe de Governo local, Sam Hou Fai, bem como com os conselheiros das comunidades portuguesas, representantes associativos, instituições de ensino e empresários portugueses. Visita ainda a EPM e o Consulado-geral de Portugal no território.

No final da tarde, o MNE segue para Hong Kong, para visitar “Estórias Lusas”, uma exposição dedicada à comunidade portuguesa, no Museu de História de Hong Kong. Com Lusa

28 Mar 2025

AFA | Salão de Outono prolongado por causa da Art Basel de Hong Kong

A 15.ª edição do Salão de Outono, evento anual organizado pela AFA – Art for All Society e que reúne obras de vários artistas locais, vai estar mais tempo em exposição por forma a coincidir com a Art Basel de Hong Kong. Assim, o público poderá ver, até à próxima segunda-feira, 30, obras diversas de artistas como Ung Vai Meng ou Carlos Marreiros, entre outros

 

Decorre na região vizinha a Art Basel de Hong Kong, uma das maiores feiras de arte do mundo, e para que Macau não perca o ritmo no que à arte diz respeito, a AFA – Art for All Society, decidiu estender os prazos da exposição do Salão de Outono, mostra anual com artistas locais que, este ano, celebra a 15.ª edição. Originalmente o Salão de Outono fecharia portas esta terça-feira, 25.

A extensão do Salão de Outono, patente no empreendimento Parisian, no Cotai, permite, assim, “oferecer uma oportunidade única aos entusiastas da arte internacional que visitam Hong Kong para a cena artística dinâmica que está a florescer em Macau”, refere um comunicado. A edição deste ano “oferece uma justaposição atraente de arte e comércio, ecoando o espírito do original ‘Salon d’Automn’ criado no início do século XX em França”.

Estão disponíveis mais de 200 obras de 116 artistas, “seleccionadas a partir de um número sem precedentes de candidaturas”, incluindo “uma gama diversificada de meios artísticos, desde a pintura tradicional chinesa e a pintura a óleo até à arte digital de ponta, modelação 3D e instalações de vídeo”.

Convida-se, assim, “os amantes da arte de todo o mundo a explorar as diversas expressões criativas que florescem em Macau”, lê-se na mesma nota.

Mistura de gerações

No Salão de Outono o público terá a oportunidade de ver os nomes habituais do panorama artístico local, mas também trabalhos de novos talentos, numa mescla de criatividade e visão daquilo que a arte pode ser.

Uma das artistas participantes é Un Chi Iam, mestre em Belas Artes no Instituto de Arte de Nanjing e membro do Círculo dos Amigos da Cultura de Macau, em parceria com Carlos Marreiros, Mio Pang Fei, já falecido, e outros artistas locais. Un Chi Iam foi ainda editora de arte e designer no Instituto Cultural, além de ter ensinado pintura chinesa na Academia de Artes Visuais de Macau e no antigo Instituto Politécnico de Macau.

Outro nome presente no Salão de Outono, é Lok Hei, natural de Macau e que apresenta “uma extensiva experiência na área do design publicitário e planeamento de exposições”. Lok Hei, que participa nesta edição do Salão de Outono com desenhos, está também ligado a diversas associações, sendo, por exemplo, vice-presidente da Associação da Promoção do Desenvolvimento Cultural de Macau.

Um dos destaques do Salão de Outono é a presença dos trabalhos do arquitecto macaense Carlos Marreiros, autor de diversos projectos arquitectónicos em Macau e grande promotor da cultura local. Em 2019 ganhou o “Prémio Identidade” atribuído pelo Instituto Internacional de Macau. Vítor Hugo Marreiros, seu irmão e designer, mostra também os seus trabalhos nesta mostra. Habitual nome do design local, depois de vários anos a colaborar com o Instituto Cultural, Vítor Marreiros tem realizado várias exposições ao longo da sua carreira, criando, todos os anos, o cartaz do 10 de Junho da Casa de Portugal em Macau. Detém uma “Medalha de Mérito Profissional” atribuída pelo Governo na fase final da administração portuguesa, em 1999.

Guilherme Ung Vai Meng, antigo presidente do Instituto Cultural e reputado artista local, participa também neste Salão de Outono com uma pintura da sua autoria. Nascido em Macau, estudo no reputado AR.CO, em Lisboa, em 1991, tendo feito um mestrado na Academia de Belas Artes de Guangzhou. Foi o primeiro director do Museu de Arte de Macau.

Outro artista presente, é ainda Chan Hin Io, que apresenta ao público o seu trabalho fotográfico. Há mais de 20 anos que faz fotografia, sobretudo conceptual, vertente que já revelou em diversas exposições. Desde 2009 publicou mais de dez livros de fotografia, tendo exposto em locais como o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, ou o Museu de Arte de Macau, entre outros.

Tong Chong, artista da nova geração, formou-se no anterior Instituto Politécnico de Macau, em Artes Visuais, e fez um mestrado em Escultura na Academia de Belas Artes de Guangzhou. “O seu trabalho explora a cultural social contemporânea, a sua relação entre o desenvolvimento humano e o mundo natural, a essência da natureza humana e o papel da humanidade dentro da actual paisagem ambiental”, descreve a mesma nota.

Joey Ho é outro nome bem presente no panorama local das artes, tanto na qualidade de artista, como de curadora. “Joey Ho é uma das poucas artistas que trabalha activamente com uma grande diversidade de meios. A sua abordagem única, misturando sensibilidades artísticas e literárias com um estilo que varia entre a tradição e os formatos contemporâneos, permite-lhe reinterpretar os trabalhos clássicos das artes e literatura, estendendo os seus valores humanísticos”, lê-se.

27 Mar 2025

APOMAC | Jorge Fão lamenta falta de pessoas para gerir associação

A APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau vai novamente a eleições amanhã com uma lista única. Francisco Manhão concorre novamente para presidente, Jorge Fão para a assembleia-geral e Daniel Mendonça para o conselho fiscal. Manhão sugere a criação de uma “cidade satélite” só para idosos e pede actualização de pensões

 

Aumentar as pensões de idosos seria “ouro sobre azul”. Enquanto isso não acontece, Francisco Manhão continua a lutar por essa e outras bandeiras destinadas a melhorar a vida dos residentes com mais idade, liderando novamente a lista candidata às eleições para a gestão da APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, que decorrem amanhã.

A lista é única e os rostos pouco ou nada divergem dos anos anteriores: Jorge Fão continua a liderar a assembleia-geral, enquanto Daniel Mendonça concorre pelo conselho fiscal. Há apenas um novo nome no cargo de vogal do conselho fiscal.

“É muito difícil encontrar pessoas disponíveis para fazer este trabalho voluntário. Eu e o Jorge gostaríamos de encontrar alguém que nos pudesse substituir, porque estamos há bastante tempo nesta associação. Somos idosos, mas temos energia. Enquanto tivermos força nas pernas para andar, vamos andando e tentar fazer o melhor possível pela APOMAC”, disse Francisco Manhão ao HM.

Jorge Fão destaca o facto de a APOMAC estar prestes a comemorar 25 anos desde a fundação, salientando que existe, de facto, um problema de liderança, que se não for resolvido pode culminar no desaparecimento da associação. “Não estamos a ver o surgimento de outra lista com pessoas mais novas e capazes, de modo que oferecemos os nossos préstimos por mais um mandato e por aí fora, até onde for possível. Há um problema de liderança na APOMAC e noutras associações. A questão da APOMAC é mais séria, pois estamos de pé há 24 anos, aniversário que celebraremos em Maio.”

Cidade satélite e pensões

Numa lista que irá liderar a associação até 2028, o lema é “Somos Idosos, mas Enérgicos”, lê-se no programa de acção.

No primeiro ponto, é indicado que o objectivo da equipa é “acompanhar a política do Governo e da Fundação Macau, com vista a ajustar as necessidades do nosso programa de acção ao longo deste mandato de três anos”. Além disso, pretendem “prestar os apoios necessários aos associados para que possam usufruir dos benefícios atribuídos pelo Governo da RAEM e outras entidades oficiais”.

Um dos pedidos da lista ao Governo liderado por Sam Hou Fai é o aumento das pensões, que actualmente é de 3.740 patacas. O seria para a associação seria a actualização para quatro mil patacas mensais.

“Seria bom que o Governo da RAEM pagasse mensalmente em média a pensão para idosos, a compensação pecuniária e o subsídio de velhice, ao invés de termos de esperar de três em três meses para receber a pensão para idosos, sete meses para receber a compensação pecuniária e dez meses para receber o subsídio de velhice. A média seria de 5.323 patacas, dinheiro que faz muita falta aos idosos”, disse ao HM.

Outra ideia deixada por Francisco Manhão é da construção de uma cidade satélite só para habitações de idosos, no que seria um projecto de maior dimensão face à residência para idosos já construída pelo Executivo, na zona da Areia Preta.

“Gostava que um dia o Governo da RAEM construísse uma cidade satélite para os idosos. Preocupo-me muito porque há muitos a viverem sozinhos, e com a construção dessa cidade satélite deixavam de ter problemas de solidão, podendo conviver entre si, além de se poderem disponibilizar serviços comuns a todos. A construção de edifícios altos é algo bom, mas para os idosos não é tão bom assim”, defendeu.

Ainda assim, Manhão assegura que ser idoso em Macau é bem mais fácil do que em Hong Kong. “Hoje em dia, em Macau, os idosos vivem bastante bem, porque há muitos apoios sociais atribuídos a esse grupo de pessoas.

Recursos suficientes

Questionado sobre os pontos essenciais para tornar a APOMAC uma associação de maior dimensão, Francisco Manhão diz que “têm o suficiente”, lamentando, porém, o encerramento da clínica onde eram prestados aos idosos cuidados de saúde mais básicos.

“Naturalmente que tínhamos o plano de poder desenvolver mais a nossa sede, mas pela falta do subsídio tivemos de encerrar a nossa clínica. Nesse contexto, tínhamos um programa para desenvolver essa área que teve de ser abandonado, e que teria beneficiado os nossos associados. Procuramos organizar mais palestras sobre saúde, porque o grupo da terceira idade precisa de saber mais sobre doenças e questões de saúde no geral, algo que pode gerar grandes preocupações.”

Em termos políticos, Francisco Manhão, que até já foi candidato a deputado à Assembleia Legislativa, diz que a APOMAC é uma defensora do princípio de “Um País, Dois Sistemas”, pensado por Pequim para as regiões de Macau e Hong Kong. “Concordamos com a política nacional de ‘Um País, Dois Sistemas’, para que Macau possa ser um paraíso para nós. Até agora temos estado bastante bem em Macau, não temos problemas, mas gostaríamos que esse princípio continuasse.”

Muita burocracia

Um dos serviços prestados pela APOMAC passa pelo apoio burocrático a idosos na comunicação com a Caixa Geral de Aposentações (CGA), no caso dos antigos funcionários públicos que recebem a reforma de Portugal, ou o Fundo de Pensões de Macau.

“Melhorou um pouco a comunicação com a CGA, mas a parte burocrática continua a ser muito difícil de lidar por parte dos nossos associados. Ainda há pouco tempo um dos nossos associados esperou mais de três anos por um reembolso de um montante que foi cobrado indevidamente”, exemplificou Francisco Manhão.

Jorge Fão, por sua vez, salientou que a APOMAC é também bastante procurada por pessoas que não são sócias, incluindo da comunidade chinesa, para o tratamento de vários assuntos, como pedidos de subsídios ou papelada relacionada com funerais.

Olhando ainda o programa de acção, a lista da APOMAC pretende também “organizar mais passeios turísticos à China continental, dando a conhecer a sua cultura e o sucesso do país”, bem como a promoção de “mais convívios, para que os associados se juntem periodicamente”. Bastante procurada pelo serviço de refeições, uma vez que na APOMAC pode comer-se alguns pratos de gastronomia macaense, a lista quer “melhorar, sempre que possível, a gestão da cantina”.

Questionado se muitos idosos de Macau desejam, um dia, passar a reforma na China, numa altura em que a integração regional é, cada vez mais, uma realidade, Francisco Manhão admite que sim, embora muitos “prefiram ficar no território, por já terem aqui a sua vida enraizada, estando habituados aos usos e costumes de Macau”. “O Governo da RAEM tem feito muito trabalho para que se possam integrar na Grande Baía”, rematou.

27 Mar 2025

Violência | Dois feridos no centro de Macau em ataque com faca

Ocorreu ontem, ao final da tarde, um ataque com faca no centro histórico de Macau, junto à Travessa dos Anjos, dentro de uma loja de telecomunicações. Segundo informações divulgadas pelo canal chinês da Rádio Macau e jornal Ou Mun, um dos residentes, com 26 anos, foi ferido na zona do pescoço e perdeu a consciência, tendo sido enviado de urgência para o Centro Hospitalar Conde de São Januário.

O outro residente, de 29 anos, sofreu apenas um corte no braço esquerdo e foi enviado para o Hospital Kiang Wu para receber tratamento médico, depois de ter sido estabilizado pela equipa de bombeiros que se deslocou ao local.

O incidente ocorreu por volta das 18h e suspeita-se que o alegado autor do ataque, também ele residente, teria na sua posse uma faca quando começou uma discussão dentro da loja. Suspeita-se também que o mesmo tenha problemas do foro mental.

Quando os agentes das forças de segurança chegaram ao local conseguiram interceptar o homem, tendo a loja sido encerrada de seguida. Até ao fecho desta edição ainda não tinha sido divulgada qualquer informação em língua portuguesa.

26 Mar 2025

Rota das Letras | Da Mongólia às antigas colónias portuguesas: as exposições

O festival literário Rota das Letras apresenta três exposições de fotografia, duas delas patentes até Abril, que apresentam uma diversidade de temáticas e estilos criativos. João Miguel Barros colaborou na curadoria de todas elas: “Tempo Nómada: Uma Introdução”, de Jessie Rao; “O Vento Sopra na Pradaria”, de Wang Zhengping; e “Novas Independências”, com imagens do fotojornalista Alfredo Cunha. Eis uma viagem por três mundos distintos

 

Se fotografar é contar, ou transmitir sem palavras, compreende-se então a aposta do festival literário Rota das Letras em apresentar três exposições distintas, que vão desde os cenários distantes da Mongólia até às antigas colónias portuguesas em África. João Miguel Barros, curador, também ele fotógrafo, ajudou a fazer a curadoria de todas elas, e ao HM revela um pouco dos detalhes de cada projecto.

No caso de “O Vento Sopra na Pradaria”, com trabalhos de Wang Zhengping, a curadoria foi feita em parceria com Na Risong. Disponível até ao dia 28 de Abril na Galeria do Tap Seac, esta foi, “de longe, a exposição mais desafiante em termos curatoriais”, confessou.

“Tive de partir de um conjunto de cerca de 300 ficheiros com imagens e escolher a narrativa principal. Optei por centrar a exposição no projecto dos cavalos da Mongólia, que é o que mais me fascina, dando-lhe mais espaço, e complementei-o com o outro projecto das comunidades”, disse João Miguel Barros, explicando ainda que “poderia ter sido ao contrário, pois ele [Wang Zhengping] tem duas componentes muito bem desenvolvidas ao longo de décadas de trabalho”.

Além disso, o curador teve de criar “um diálogo entre o tamanho das imagens e a sua colocação no espaço da galeria, criando grupos com identidade própria”. “Fiquei muito contente com o resultado final e o acho que consegui surpreender o artista, que me confessou não estar à espera deste resultado”, adiantou.

Wang Zhengping é, além de fotógrafo, etnógrafo, sendo actualmente conhecido como um dos grandes fotógrafos contemporâneos da China, sobretudo pela sua vertente artística. Começou a obter reconhecimento internacional a partir de 2015, sendo considerado um dos dez principais pioneiros da fotografia asiática no ranking da revista fotográfica Pixel. Tem um trabalho muito virado para os cavalos que habitam nas estepes da Mongólia, na Região Autónoma da Mongólia Interior, região que tem marcado bastante o seu trabalho.

Da descolonização

Para um campo criativo e temático completamente diferente, João Miguel Barros organizou “Novas Independências”, com imagens do fotojornalista Alfredo Cunha, que pode ser vista no Antigo Matadouro Municipal até domingo.

“A mostra de Alfredo Cunha é um abrir de apetite para a exposição de grande fôlego que está a ser construída de raiz para vir a Macau no próximo ano”, anunciou.

Com a temática da descolonização portuguesa, que arrancou depois do 25 de Abril de 1974, “Novas Independências” foca-se nos países africanos de língua portuguesa, que viveram de forma mais intensa este processo de descolonização. Porém, o curador quis retirar-lhe “a carga institucional e política”, seleccionando “centenas de imagens enviadas pelo Alfredo para mim a partir de um critério mais pessoal e humanista”.

O curador decidiu, então, agrupar essas imagens em cinco conjuntos, intitulados de “Lugares”, “Pessoas”, “Às armas”, “Chegadas e Partidas” e “Rituais”. “As imagens são muito significativas e revelam o grande talento de um dos grandes nomes da fotografia portuguesa do pós-25 de Abril”, acrescentou João Miguel Barros.

Alfredo Cunha começou a trabalhar em fotografia em 1970, tendo entrado para os jornais no ano seguinte, começando no Notícias da Amadora. Desde então colaborou com os mais importantes jornais portugueses, como O Século, já desaparecido; o Público ou o Jornal de Notícias, tendo sido também editor da secção de fotografia.

Foi fotógrafo oficial dos presidentes da República Ramalho Eanes e Mário Soares, recebendo a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique em 1996. O seu trabalho sobre a Revolução dos Cravos, no 25 de Abril de 1974, e a descolonização portuguesa, contam-se entre os seus trabalhos fotográficos mais conhecidos.

Nómadas no Albergue

A terceira mostra integrada no festival literário Rota das Letras é “Tempo Nómada: Uma Introdução”, inaugurada esta segunda-feira no Albergue SCM e que fica patente até ao dia 10 de Abril.

“Trouxe a Jessie [Rao] a Macau no contexto deste festival por ser discípula de Wang Zhengping e pelo facto de o seu projecto ser também sobre a Mongólia. O trabalho que está exposto, que é todo a cores, ao contrário da mostra de Wang, que é totalmente a preto e branco, mostra uma visão diferente, e mais vivencial, das comunidades e das pessoas”, explicou.

Embora Jessie Rao não seja natural da Mongólia, a verdade é que acabou por captar algo da cultura da região, demonstrando, na visão do curador, “um enorme talento”. “Este projecto [Tempo Nómada] obteve o prémio de excelência, que é o prémio principal, no prestigiado Festival Internacional de Fotografia de Pingyao, em finais do ano passado. Ele capta o lado humano das pessoas com uma densidade única, e as suas fotografias são lindíssimas”, acrescentou.

26 Mar 2025