EventosAlbergue SCM | O olhar de Mariana Rocha sobre o bambu e arquitectura local Hoje Macau - 4 Dez 2025 É inaugurada na próxima segunda-feira, 8, uma nova exposição no Albergue da Santa Casa da Misericórdia. Trata-se de “No Limiar da Memória”, de Mariana Maia Rocha, um projecto com ingredientes da memória e arquitectura de Macau, incluindo a construção em bambu, em que a artista se apresenta como “observadora diaspórica” Chama-se “No Limiar da Memória” e apresenta-se como uma “exposição que confronta a arquitectura da transitoriedade na paisagem material e espiritual de Macau”. Esta nova mostra, que será inaugurada na próxima segunda-feira, dia 8, no Albergue da Santa Casa da Misericórdia (SCM), a partir das 18h30, é fruto de um projecto residente de Mariana Maia Rocha, artista portuguesa. Segundo uma nota do Albergue SCM, Mariana utiliza aqui “a sua posição como observadora diaspórica e a experiência de uma residência imersiva no território asiático para investigar o estatuto paradoxal do bambu”, na qualidade de “pilar da construção vernacular local”. Isto no sentido em que o bambu “transita do utilitário e profano para o domínio do património cultural e do sagrado, face à sua iminente substituição pelo ferro e betão”. Ainda segundo a mesma nota, esta exposição tem relevância pela “sua análise crítica das transformações urbanas aceleradas e do impacto da globalização na identidade local, um cenário de particular ressonância em Macau”. Assim, torna-se numa “justaposição de materialidades simbólicas que sublinham a dualidade luso-chinesa”, em que o pó, transfigurado no carvão, grafite e cinzas de proveniência local, “funciona como o ‘index’ da mortalidade, a substância fundamental do ‘memento mori’ universal”. Por sua vez, “a cera votiva, comum aos rituais taoistas e católicos, é utilizada para moldar ex-votos a partir dos sapatos da artista, configurando uma linha processual que metaforiza a jornada pessoal e a vulnerabilidade do corpo”. Mariana Maia Rocha apresenta também, neste projecto, uma “intervenção urbana efémera com látex regista a textura da calçada portuguesa”. “Esta “segunda pele” tátil “funciona como um dispositivo de memória, aludindo às redes de protecção dos andaimes e ao legado luso em vias de extinção, criando um registo físico da fronteira cultural e da negociação do espaço urbano”, é explicado. Diálogos e contextos Tendo em conta as leituras da artista sobre estes elementos tão ligados à identidade de Macau, pode-se descrever “No Limiar da Memória” como uma tentativa de criar “um diálogo potente sobre a memória, a mortalidade e as estruturas efémeras que construímos”. Aqui, “a prática da artista navega a tensão entre o permanente e o fugaz, a identidade cultural e a inevitabilidade da desintegração num território de convergência e perda, ecoando as complexidades de um local em rápida mutação”. Mariana Maia Rocha é uma artista plástica e investigadora cuja prática interdisciplinar se inscreve na intersecção entre o corpo, a memória e o território. A sua obra, que integra predominantemente o desenho, a fotoperformance e a instalação, aborda as fronteiras conceptuais e materiais da presença e do apagamento no arquivo contemporâneo. A artista formou-se na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, onde concluiu o mestrado em Artes Plásticas, sendo bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, nomeadamente no ano de 2023/2024, quando ganhou a bolsa “Gulbenkian Novos Talentos”. Ainda na área académica, ganhou, este ano, uma bolsa de doutoramento para continuar estudos no estrangeiro. Em 2023 a artista participou no projecto “Mirror Identity Drawings” (MIDD), assinado pela Carta da UNESCO. A dimensão internacional da sua prática tem-se materializado, este ano, através de um programa de residências artísticas, em São Tomé e Príncipe, no contexto da XI Bienal de São Tomé; e agora em Macau, no âmbito do programa internacional “Territórios sem Fronteira” (2025–2026), promovido pela Fundação Bienal de Arte de Cerveira. Desde 2018, o seu trabalho tem sido apresentado em exposições individuais e coletcivas em instituições de referência, incluindo o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (MNAC) (Lisboa), a Fundação Júlio Resende (Porto), o Palácio Vila Flor (Guimarães) e a Galeria Kubik (Porto), entre outras. Já recebeu dezenas de distinções pelo seu trabalho.