Falta de segurança

Falta de segurança é na Cochinchina. Não faço ideia se existe a Cochinchina, mas trata-se de uma expressão popular quando discordamos de algo. Na semana passada assistimos ao recrudescer de mais uma investida racista de André Ventura e do seu partido neofascista. Gritou com todos os pulmões na Assembleia da República “Encostem-nos à parede!!!”, no decorrer de um debate sobre a falta de segurança em Portugal. O nosso país, segundo os dados oficiais nacionais e internacionais é dos mais seguros do mundo. Para o nosso país têm vindo viver norte-americanos, ingleses, franceses, italianos, espanhóis, belgas, holandeses, chineses, indianos, cabo-verdianos, são-tomenses, angolanos, guineenses, brasileiros, argentinos, russos, ucranianos, nepaleses, paquistaneses e outros cidadãos estrangeiros. Nenhum deles alguma vez se queixou de falta de segurança em Portugal. Antes pelo contrário, todos indicam que a razão maior da escolha do nosso país se deve à boa segurança existente.

André Ventura, deputado e líder do Chega passou dos limites na falta de bom senso e de política democrática, no debate na Assembleia da República sobre segurança. Vociferou contra todos os cidadãos mostrando que não pretende que vivam em Portugal: ciganos e imigrantes. Todo o parlamento foi unânime em reprovar a sua atitude racista e xenófoba, porque a sua expressão “Encostem-nos à parede” foi interpretada como matem-nos a todos, ao bom estilo hitleriano. Ventura entende que a criminalidade está a aumentar de ano para ano e que os criminosos já deviam estar há muito nas prisões. Mostrou-se defensor de mais acções idênticas à lamentável que aconteceu na Rua do Benformoso, em Lisboa, em que a polícia encostou à parede, com as mãos levantadas, todos os cidadãos que fossem a passar, quer estrangeiros ou portugueses. Uma acção policial que foi contestada pela maioria dos partidos políticos e que levou cerca de 600 personalidades a apresentar uma queixa junto do Provedor de Justiça. Ventura não olha a meios para atingir os fins e no debate parlamentar demonstrou bem o seu ódio pelos imigrantes e ciganos que trabalham em Portugal. Bastava a André Ventura solicitar ao director do Hospital de Santa Maria uma visita geral ao estabelecimento hospital para constatar quem lá trabalha: um imenso número de africanos e estrangeiros de diferentes nacionalidades, incluindo médicos ucranianos. Bastava a Ventura frequentar a maioria dos restaurantes do Algarve ao Minho para confirmar que quem serve à mesa são imigrantes. Mas nada disto Ventura prefere. A sua preferência é a demagogia e o populismo antidemocrático apelando, tal como Trump, à expulsão dos imigrantes “ilegais”. Ilegais não, são cidadãos que aguardam que a sua documentação fique regularizada e que já descontam para a Segurança Social. Quando Ventura salientou que o crime aumenta anualmente, o deputado socialista José Luís Carneiro respondeu-lhe à letra. Carneiro lembrou que “Portugal tem sido um dos países mais pacíficos do mundo” e adiantou para demonstrar que esse estatuto se mantém, que “em 2003 houve mais 45 mil participações criminais do que em 2023”, finalizando por sublinhar “Não percebo como há quem diga que Portugal é inseguro”.

Está à vista de todos os portugueses que Portugal é um país seguro. As pessoas saem à noite e nada lhes acontece, em qualquer cidade. Obviamente que não se pode deixar de referir que não existam gangues, mafias e crime organizado como em qualquer país do mundo. Todas as semanas assistimos a uma vingança violenta na guerra de certos bairros; a uma morte por motivos passionais; ao assalto de uma residência, por vezes deixando feridos; ao roubo de automóveis e a tiros em plena via pública. Mas, onde é que factos deste tipo não existem? Basta referir o que se tem passado nos Estados Unidos da América. Nunca em Portugal tivemos um caso em que um atirador matasse dezenas de estudantes numa universidade.

Afinal, o que quer André Ventura? Popularidade à base da mentira e da demagogia a fim de caçar votos, já que as sondagens que encomenda traduzem que o seu partido está a descer nas intenções de voto. Quer acima de tudo aparecer nas televisões diariamente por dá cá aquela palha. Quer dar a entender que está a lutar contra a corrupção quando devia olhar para o interior do seu próprio partido. Sabemos que a situação na Europa, e Portugal não é excepção, está a ser influenciada por forças fascistas que financiam partidos neofascistas, como acontece com os muitos milhões de dólares que Elon Musk oferece aos partidos de extrema direita.

No debate parlamentar sobre segurança, Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda, colocou o dedo na ferida do Chega e afirmou que “A criminalidade violenta não está a crescer e é inferior à registada há dez anos. Todos os dados recusam uma relação entre imigração e criminalidade e ainda assim o Governo acha que pode instrumentalizar a polícia em megaoperações-fetiche para combater uma suposta relação entre imigrantes e criminalidade.” Ora aqui está o busílis de toda esta discussão. Enquanto a esquerda política indica que não existe culpabilidade por parte dos imigrantes na criminalidade registada, a direita apenas pretende arrasar com os imigrantes e culpá-los de toda a violência registada em Portugal. No entanto, a pior e vergonhosa atitude de André Ventura é a perseguição deplorável à raça cigana, quando quer desconhecer que já temos no nosso país um vasto número de ciganos na advocacia, na engenharia, na enfermagem, na mecânica, na hotelaria e no comércio de porta aberta.

Portugal tem de mudar. É certo. Mas a mudança tem de ser democrática e em defesa essencialmente da liberdade, devendo existir uma luta constante contra o regresso do fascismo.

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