Habitação | Carlotta Bruni lamenta falta de criatividade na Zona A

A arquitecta Carlotta Bruni lamenta que a habitação pública que se esteja a construir na Zona A dos Novos Aterros seja pouco criativa. “O que se vê a ser construído na Zona A são projectos muito repetitivos, e esse é um problema que existe em Macau desde sempre.” Bruni fala hoje sobre habitação pública na Casa Garden em mais uma conferência da Docomomo Macau

Decorre hoje na Casa Garden, a partir das 18h45, a conferência “O advento da habitação colectiva no século XX”, com a arquitecta Carlotta Bruni, um evento promovido pela associação Docomomo Macau.

Na sede da Fundação Oriente em Macau irá, portanto, debater-se o tema da habitação pública e as suas funções urbanas. Ao HM, Carlotta Bruni lamenta que os projectos que estão a ser edificados na Zona A dos Novos Aterros não tenham a criatividade desejável.

Questionada sobre se Macau está a construir habitação pública a mais, a arquitecta afirmou “em excesso não, mas estamos a construi-la mal”. “É o mal, o feio naqueles edifícios. É uma co-responsabilidade de quem os desenhou e de quem os encomendou”, disse, lamentando que Macau tenha perdido uma oportunidade de inovar nesta área.

“A crítica que posso fazer é pela maneira de desenvolver estes projectos. O que se vê agora construído na Zona A são projectos muito repetitivos, e a questão de ter um projecto repetitivo é um problema que existe em Macau desde sempre. O facto de ninguém se preocupar em ter uma cidade feia”, salientou.

Para Carlotta Bruni, esse lado da fealdade da habitação “é uma coisa que perturba bastante”, porque “nós, arquitectos, temos a missão no mundo de fazer coisas bonitas, além de fazer coisas práticas, funcionais, que sejam baratas e tudo isso”. “Ao olhar para a Zona A, actualmente, tenho francamente a dizer que, aí, falhou-se um bocadinho”, acrescentou.

“Os dois exemplos que vou discutir na conferência [projecto do Fai Chi Kei e edifício B10 da Zona A] é um pouco chamar a atenção para o facto de se poder fazer habitação social de outra maneira, com as mesmas entidades, mas com funções a mais do que o mínimo indispensável.”

Viver numa caixa

Na palestra de hoje, Carlotta Bruni “questiona as consequências espaciais da rápida densificação urbana de Macau, onde a priorização da área bruta construída levou à erosão do espaço comunitário”, destaca uma nota sobre a conferência.

Desta forma, a arquitecta irá “explorar como o design arquitectónico pode recuperar ambientes públicos e semipúblicos através da colocação estratégica de volumes, tipologias em camadas e conectividade pedonal”, destacando-se “modelos espaciais alternativos que resistem à categorização convencional, tais como pátios abertos, praças estreitas e zonas públicas elevadas, oferecendo novas estruturas para o envolvimento colectivo em contextos de alta densidade”.

Fundadora e directora do atelier LBA Arquitectura & Planeamento, Bruni vai abordar alguns projectos da equipa, nomeadamente o empreendimento de habitação pública no Fai Chi Kei, já demolido. “Aí propusemos áreas públicas em todos os andares, porque em Macau muitas vezes se esquece que, ao construir-se um edifício de 30 andares, cria-se uma certa descolagem da rua. As pessoas sentem que, quando deixam a rua, ela deixa de fazer parte da sua vivência diária.”

Carlotta Bruni lamenta “a maneira como a habitação social é desenhada em Macau, com certeza com os mínimos legais em termos de espaço”. “Estamos a desenhar apartamentos muito pequenos que depois não tem nenhum sítio onde as pessoas possam ter um pouco mais de vida. No edifício do Fai Chi Kei tinha, a cada dois pisos, um espaço muito grande, com duplo pé direito, para as pessoas poderem estar cá fora, ficar sentadas, fazer alguma ginástica, para as crianças se encontrarem”, disse. O bairro de habitação social Fai Chi Kei foi projectado por Manuel Vicente em 1977 e concluído em 1981. A demolição aconteceu em 2010.

O atelier LBA Architect & Planning desenhou o edifício B10 de habitação social na Zona A, cuja construção já está concluída. Também aí a opção foi para a criação de “uma série de jardins suspensos, com uma localização variada ao longo do edifício”, criando-se “situações específicas para cada piso”, a fim de construir “pequenas comunidades”.

A responsável defendeu também ao HM que há “uma certa falta de planeamento” no contexto da Grande Baía, ou pelo menos de “exigências de planeamento”. “Cabe aos arquitectos preocuparem-se em criar edifícios com interfaces urbanas mais interessantes, temos de fazer um esforço para conseguir criar uma cidade mais dinâmica e interessante”, apontou.

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