Doenças da Bombix mori

Na fase inicial da produção do bicho-da-seda, na Primavera, estando os ovos prontos a eclodir, previnem-se as doenças transmitidas por bactérias alojadas na casca desinfectando-os, lavando-os num banho de vapor com uma solução de cinábrio (sulfureto de mercúrio vermelho), salmoura (água salgada) e hidróxido de cálcio (cal). Outro tratamento para evitar infecções e doenças das lagartas consiste, antes de as alimentar, borrifar uma solução de raiz de alcaçuz (leguminosa medicinal), seiva de alho e vinho chinês nas folhas de amoreira.

Anteriormente, após a postura dos ovos pelas mariposas fêmeas e depois destas morrerem, já secas são durante três dias colocadas em clorofórmio para examinadas ao microscópio se despistar possíveis doenças, ou anomalias genéticas, escolhendo-se os ovos das mariposas saudáveis, eliminando pelo fogo os restantes. Assim, os criadores evitavam o risco de criar ovos infectados com as várias doenças que atacaram a Bombix mori, primeiro na Europa em meados do século XIX e na China por volta de 1923, levando à grande quebra na produção de casulos.

As sirgarias devem ser lugares amplos, limpos, sem humidade e cheiros, ter uma temperatura constante e bom arejo, não podendo os tabuleiros levar com correntes de ar para as lagartas se manterem saudáveis. Importantíssimo é fazer uma profunda limpeza e desinfecção, tanto no local de produção como aos instrumentos onde tais doenças se manifestam.
Estando as lagartas já doentes com a flacidez, a muscardina, a pebrina e a porcina, o único método eficiente é isolar e eliminá-las.

Se a selecção para se obter um bom fio de seda começou por se fazer apenas na fase dos casulos, durante a Dinastia Song incidia também sobre as mariposas, larvas e ovos. Na Dinastia Qing escolhiam-se as lagartas mais saudáveis para com elas continuar o ciclo e criar uma descendência saudável.

DOENÇAS MAIS COMUNS

A muscardina causada por um fungo e a pebrina são as duas doenças mais comuns do bicho-da-seda. A pebrina, ou Nb como é conhecida na China, é contagiosa e deve-se à presença de corpúsculos de Cornaglia nas glândulas sedosas. Segundo sabemos é uma doença ainda sem cura, tendo Louis Pasteur (1822-1895) dedicado algum tempo a estudá-la.

Percebe-se estar o animal atacado por ela quando o corpo aparece sarapintado com manchas do que parece ser pimenta numa pele arroxeada. A lagarta desenvolve-se irregularmente, tal como irregulares são os seus períodos de sono, sofrendo de falta de apetite. Se a doença se manifestou logo no período larval, são preferencialmente atacadas as glândulas da seda e durante a muda de pele algumas morrem e outras, atrofiadas, atrasam-se de oito a dez dias na evolução. Apesar de conseguirem atingir a fase de fabrico do casulo, muitas não aguentam o esforço e morrem. Se ainda resistirem a este processo de selecção natural, a solução é separar os ovos dos animais que demonstraram ao longo das suas fases um comportamento irregular. Em casos extremos, a lagarta não come, não muda de pele e em oito dias morre, acontecendo o mesmo a toda a produção a que esta pertence. Já como mariposa são atacados os órgãos reprodutores e assim os corpúsculos de Cornaglia penetram nos ovos.

As larvas que nasceram sãs ficam contagiadas pelas fezes e pelos cadáveres, “causa da propagação do morbus e provada a impossibilidade de vencer os progressos da marcha da doença, ocorreu a Pasteur em 1865 e com isso lançou a pedra em que se firmou o ressurgimento da indústria sericígena europeia, seleccionar pela análise microscópica a semente do Bombix mori fêmea, para se fazerem criações com ovos absolutamente isentos de corpúsculos e em locais purificados e isolados”, segundo João Faustino Masoni da Costa, n’A Indústria da Seda, de onde provem as informações deste artigo sobre as doenças.

Quando a lagarta do bicho-da-seda fica com uma cor rosada e o corpo muito mole é sinal que sofre de muscardina, causada pelos esporos de um cogumelo do género Botrytis, da espécie B. buassiana, transportados pelo ar e que se alojaram na pele das lagartas. Esse bolor parasita desenvolve os seus micélios nos órgãos do animal e provoca-lhe a morte em dez dias. Mesmo depois de mortas e com o corpo muito rígido, as lagartas continuam a servir de alimento ao fungo, que se expande pelo ar para a pele de outros animais, contaminando-os.

OUTRAS DOENÇAS

A flacidez é a mais mortífera de todas as doenças e a rapidez com que actua e se propaga tem efeitos fatais na produção da sirgaria. O Streptococus bombycis transportado nas folhas da amoreira e pelas poeiras é ingerido pelo bicho-da-seda e manifesta-se normalmente depois da quarta muda. Sem vitalidade, a lagarta ao dejectar uma substância semifluida, rapidamente esta seca e obstrui o orifício anal.

Nada mais se percebe, pois há um aparente movimento de continuar viva, embora imóvel e em pouco tempo a mortalidade espalha-se pela criação, extinguindo-a num só dia. “Os cadáveres de começo rígidos, tornam-se flácidos e por último completamente moles, denegridos à superfície, exalando um cheiro fétido, completamente putrefactos”, segundo Faustino Masoni da Costa, que refere os antissépticos aplicados nas folhas não resolvem o problema e o emprego de meios preventivos anteriormente apontados e apoiados no constituir “uma criação robusta, que por si própria, em tais casos, se não deixará invadir pela flacidez, essa, das doenças insecticidas a mais contagiosa.” A única solução, mesmo que a doença atinja apenas uma parte das lagartas, é queimar e enterrar toda a produção, desinfectar a sirgaria e utensílios e iniciar uma nova criação.

Já a porcina, é apercebida quando a lagarta com os anéis estrangulados ao mover-se deixa um rasto de um líquido turvo na folha. Esta doença atacou na China por volta de 1923, levando à investigação nos laboratórios das universidades chinesas, sendo a crise ultrapassada com recurso à importação de ovos. Desde então, aprofundaram-se as pesquisas sobre a seda e a sericicultura recomeçou a ganhar nova pujança.

DIFERENÇAS ENTRE MACHO E FÊMEA

Fisicamente, a fêmea e o macho da lagarta não se diferenciam facilmente e só na parte inferior do décimo e último anel se percebe ser fêmea pelos quatro pontos negros, enquanto a lagarta-macho tem apenas um ponto e não apresenta a mancha preta junto aos olhos como as fêmeas.

Dentro do casulo, a lagarta faz a metamorfose para crisálida, nome proveniente de chrysos, a significar ouro, talvez devido à coloração metálica apresentada. Já no final do período, após mais ou menos quinze dias no casulo, a crisálida transforma-se em mariposa (borboleta nocturna). Com um tamanho reduzido, próximo dos quatro centímetros, tem dois pares de asas e o corpo coberto de pêlos. Como mariposa, começa a libertar uma substância alcalina para com a ajuda das patas romper o filamento e abrir um orifício no topo do casulo no lado da cabeça, por onde sai logo cedo de manhã.

No estado de mariposa o aspecto físico do macho e da fêmea é já bastante distinto. O abdómen da fêmea é maior que o do macho e no topo do oitavo anel do abdómen da fêmea encontra-se uma marca em forma de ‘X’, enquanto o macho apresenta uma fina marca castanha escura, no nono anel do abdómen. Também diferentes são as formas exteriores dos seus órgãos reprodutores. Essa transformação acontece devido aos órgãos produtores da seda se atrofiarem após expelir o filamento e no seu lugar se desenvolverem os órgãos reprodutores.

As asas triangulares da mariposa cobrem horizontalmente a parte superior do corpo, tronco e abdómen e saíram do segundo e terceiro anel do tórax da lagarta. A cabeça é maior que o peito e o abdómen tem a forma de cone com cor branco-amarelada. Em cada lado da cabeça há dois olhos compostos e cada um contém três mil minúsculas lentes sensíveis à intensidade da luz. O macho apresenta antenas pretas em forma de pente, enquanto as da fêmea estão atrofiadas.

Na fase de mariposa, normalmente de três a cinco dias, esta não se alimenta pois não possui boca e dá-se o acasalamento entre macho e fêmea durante longas horas. No dia seguinte põe perto de quinhentos ovos e dois a três dias depois da desova, as mariposas morrem, terminando assim o ciclo da Bombix mori.

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