Segredos da Seda (18) – Fábricas e depósito de casulos em Tongxiang

Continuamos por Tongxiang (桐乡), no distrito de Jiaxing (嘉兴) a Norte de Zhejiang, local onde se pratica a sericicultura e a produção de casulos é grande devido à existência de muitas fábricas de fiar e tecer a seda. De notar, sair desta província um terço da produção chinesa de fio, brocados e cetins.

Após a breve visita à Fábrica Tongxiang Wutong Silk Industry Co. Ltd. na rua Oeste n.º 2, cujas máquinas automáticas trabalham no tecer a gaze, o mais simples tecido de seda, o taxista, perante o nosso desconsolo, para nos animar lembra-se de um depósito onde os agricultores vão entregar os casulos. Assim chegamos ao entreposto de compra de casulos em Tongxiang, onde os sericicultores aguardam a vez para descarregar os enormes sacos condicionados nos atrelados dos tractores, que se estendem em fila ocupando toda a rua. O local da entrega é um enorme armazém, delimitado por grades na parte da frente, havendo apenas um espaço livre para os sacos cheios de casulos passarem e serem despejados.

Após a pesagem, um recibo é logo entregue por entre as grades, entrando então o sericicultor numa porta ao lado e quando sai, vem ainda a conferir o maço de notas. No seu tractor parte, desanuviando a longa fila de quem aguarda ansiosamente por entregar o trabalho de quase dois meses. Outros há terem recebido as lagartas da fábrica em cujas estufas foram criados os ovos e onde as larvas estiveram a primeira semana num ambiente completamente esterilizado. Só depois as lagartas são transferidas para junto dos vastos campos de amoreiras e após um mês de intenso labor, os sericicultores vão entregar os casulos.

Normalmente as estufas pertencem às fábricas que, no início do segundo período de crescimento das lagartas, após sete dias depois do nascimento, as levam aos sericicultores para estes as alimentarem e delas cuidar até ao final da produção dos casulos. Com vinte, a vinte e nove dias de árduo labor, os sericicultores entregam os casulos à fábrica, ou vendem-nos no posto colector de casulos.

No interior do entreposto, já dentro do armazém, os casulos são colocados em cestas de vime e escolhidos por mulheres para retirar os manchados, assim como os emaranhados e os separam segundo o maior ou menor tamanho. Daí são distribuídos para as fábricas.

FÁBRICA DE FIAÇÃO

Ainda na companhia do taxista tentamos ter mais sorte, mas sem uma morada procurar uma fábrica parece tarefa complicada. Após questionar muitos transeuntes, por fim explicam-nos o local e daí rapidamente nos encontramos no pátio com a anuência do porteiro. Estamos na Fábrica de fiação de seda Hua Lin (华灵丝绸有限责任公司) situada na rua Fengming Oeste e como encantados pelo canto da fénix, saímos do táxi. Sem saber por onde ir, com um gesto de ombros tentamos pôr o taxista a colocar-nos em contacto com alguém da fábrica, pois o pátio está vazio. Inquirido o porteiro, este indica um prédio cujas escadas nos leva à parte da Administração. Apresentando a demanda até agora feita, logo nos concedem uma visita à fábrica.

A sorte está do nosso lado, pois esta dedica-se a comprar os casulos e a partir deles desenovelar os filamentos criando um fio que bobinado é colocado em meadas. O trabalho é todo feito por máquinas manuseadas por experientes funcionários.

Logo à entrada do primeiro edifício sentimos um bafo de calor ao aproximar de uma máquina onde por cima dela, numa placa suspensa em varanda, imensos e enormes sacos com casulos esperam a vez para serem despejados por um funcionário num tapete rolante compartimentado. Num rápido olhar faz uma primeira triagem, retirando os sem condições. Daí caem para um recipiente com água quente e em banho são transportados para outra parte da máquina, onde se procede à secagem dos casulos com as crisálidas ainda dentro, mas mortas pelo calor. De novo se realiza uma ligeira selecção para retirar fios soltos, ou um ou outro casulo manchado e os impróprios.

Outro funcionário, a operar entre máquinas, recolhe-os e passam para baldes plásticos transportados em pequenos grupos para outra máquina. Os casulos já menos compactos e o filamento mais solto por a sericina se ter diluído, encontram-se de novo em água quando um disco passa sobre eles e com a ajuda de outro disco a girar com três pequenas vassouras lhes vai apanhando o início dos filamentos. Uma funcionária agarrando as pontas enfia-as por os vários orifícios de uma peça, e em grupos de sete são com uma pequena torção automaticamente enrolados nos carretéis num único fio de seda para o tornar resistente.

Enquanto estão a bobinar para os carretéis, a empregada vai controlando para substituir os filamentos partidos, ou quando estes acabam retirar a sobra dos desfiados casulos e colocar outros para manter o número de sete filamentos e assim criar um longo fio. O compartimento move-se lentamente para outra secção da máquina, deixando um novo espaço para os seguintes serem tratados por a funcionária, que repete a operação anterior.

Os carretéis são retirados ao atingir o tamanho desejado de fio e passam para outra máquina onde de novo o fio é rebobinado para lhe criar uma uniformidade. Esse processo de cruzamento e retorção, denominado torcedura, leva o fio a ser transferido de bobina para bobina, movendo-se com diferentes velocidades para retirar o excesso de humidade e ter o grau de torcedura pretendido para tecer diferentes tecidos.

Depois os carretéis são colocados noutra máquina que repassa o fio para tambores formando assim as meadas. Em cada hexagonal tambor, feito com seis varas de madeira, são dobadas cinco meadas e retiradas da máquina são levadas para a terceira secção da fábrica. Em grupos de cinco as meadas são atadas uma a uma antes de retiradas do tambor, que por um sistema de alavanca as liberta para por fim serem de novo torcidas, desta vez por uma funcionária. Por vezes aqui é usada uma escova especial para ajudar a desemaranhar os fios antes de empacotadas as meadas. Ficamos a saber esta fábrica produzir 150 toneladas de fio por ano, sendo um terço para exportação e dois terços vendidos às fábricas chinesas de tecelagem.

Saindo do edifício, no chão do pátio vemos bocados de seda oriundos dos restos de casulos e ao lado, cobertos por um enorme plástico, milhares de crisálidas mortas esperam ser recolhidas para serem transformadas em farinha pois rica em proteínas, servindo ainda como ração para os animais ou fertilizante para a terra.
Satisfeitos, pedimos ao taxista para nos deixar no centro de Tongxiang, pois queremos conhecer um pouco da cidade.

VISITA A UMA SIRGARIA

Passamos por um canal onde o tráfego de embarcações de carga nos faz lembrar os caminhos de água do Grande Canal e deambulando por o mercado encontramos algumas esplanadas como salas de chá de rua. No centro, novos bairros ocupam os lugares dos antigos quarteirões demolidos e baixos prédios ganham o espaço. Já o comércio de roupa de marca disputa as lojas, demonstrando uma vitalidade económica. Após uma hora a caminhar, resolvemos partir e por isso procuramos um táxi para de novo nos levar ao terminal de autocarros. Na postura damos com o nosso conhecido motorista. Tinha já feito algumas corridas e ali está agora para de novo nos transportar.

Tentamos explicar querer ir apanhar o autocarro para Hangzhou, no local de onde com ele partíramos oito horas atrás. O caminho é longo e com a prática no comunicar entre ambos, vamos subentendidamente falando, dizendo-lhe termos visto na parte final da viagem de autocarro, já próximo de Tongxiang, um quase certo lugar de produção de bichos-da-seda. O caminho já vai longo e resolve meter gasolina.

Estranhamos, mas nada dizemos, pensando se teria percebido querermos ir com ele até à capital da província. Pouco depois, avistamos a casa onde anteriormente passáramos na viagem de autocarro desde Hangzhou e reparado nos instrumentos ligados à sericicultura a secar ao Sol. Pedimos para meter o VW-Santana por uma picada e chegamos ao pátio da casa. A porta do que será a garagem está aberta e dentro esticado numa espreguiçadeira um homem dos seus cinquenta anos. O taxista de novo explica o nosso interesse e com agrado somos convidados a entrar.

Num canto da ampla e asseada divisão, despida de utensílios e mobiliário, apenas redes plásticas com espaços quadrados a servir de local para as muitas lagartas edificarem o casulo. Agora sim, o trabalho está feito e ainda nos são dados uns quantos casulos para levar.

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