Segredos da Seda (13)

Ovos do bicho da seda em Langzhong

Estamos de volta a Langzhong onde ao visitar “Langzhong Can Zhong Chang”, o Instituto que trabalha desde 1938 na produção de ovos do bicho-da-seda para a província de Sichuan, somos recebidos pelo director Dr. Feng Guang Qiang. Ao saber o tema do nosso trabalho disponibiliza-nos uma grande quantidade de informação tanto sobre os ovos, como das doenças e os cruzamentos das Bombix mori, pois especialista nessas matérias.

Oferece-nos o livro por si escrito, Jia Can Pin Zhong Xing Zhuang Jian Jie, onde dá conselhos aos produtores de Sichuan e lhes indica quais os melhores cruzamentos a fazer com as diferentes gerações de reprodutoras e as condições para os realizar.

Com a finalidade de reprodução, o bicho-da-seda ainda no casulo, onde entrara lagarta e em metamorfoses, primeiro como crisálida e já transformada em mariposa segrega um líquido alcalino que fura uma das extremidades do casulo, aparecendo no buraco primeiro a cabeça, ocorrendo a saída com grande esforço pela manhã. A fase de mariposa dura normalmente três a cinco dias e esta não se alimenta pois não possui boca.

Após um banho de Sol para secar o corpo das mariposas e soltar as asas coladas, o macho, atraído pelo odor sexual da feromona libertado pela borboleta fêmea e guiado pelas antenas vai ao encontro dela, que permanece imóvel. Acasalam unidos pelos extremos do abdómen e em baixas temperaturas ficam macho e fêmea assim mais tempo, por vezes longas horas, ou mesmo dias.

No dia seguinte ao acasalamento, a fêmea põe os ovos, que chegam a atingir os quinhentos e permanece na área do local onde acoplou com as asas a deixar um pó assedado nos dedos de quem lhes toca. Dois a três dias do desovar as mariposas morrem, terminando o ciclo da Bombix mori.

Com a preocupação de fazer eclodir as sementes quando as amoreiras têm já tenras folhas, no princípio de Maio, os cinzentos e minúsculos ovos do bicho-da-seda, recolhidos nas caixas de postura, num lugar fresco e limpo, são colocados separados uns dos outros durante dez dias nas incubadoras. [Em Portugal a mais usada foi a incubadora Castelete, feita com uma caixa de paredes duplas onde, numa câmara, três ou quatro gavetas, separadas dez centímetros umas das outras, são forradas com panos de linho ou algodão para a cama dos ovos.

Além de terem na parte inferior uma lamparina de azeite para aquecer a câmara, contém também um aparelho destinado a espalhar a humidade através de um tubo onde corre água quente nas duplas paredes.] Aí a temperatura vai progressivamente aumentando, não devendo exceder 27º C e a humidade rondar os 85 por cento. Alguns dias após a postura dos ovos torna-se fácil distinguir, pela mudança da cor, quais os fecundados. Ao sétimo dia, quando a cabeça do embrião se começa a ver através do ovo, o lugar deve ser colocado sem luz entre dois a três dias.

A SEMENTE, O OVO

Para a postura colocam-se então panos, de preferência de cor branca, aos quais os ovos aderem devido à substância gomosa que os reveste. De forma oval, apresentam uma casca delgada e, no interior, encostada à parede tem a membrana vitelina a proteger uma massa semifluida, o vitellus, a partir do qual se forma o embrião, como em todos os ovos. Este desenvolve-se lentamente, criando os órgãos da larva que se alimenta das substâncias da membrana vitelina. Muito deste capítulo só foi possível escrever devido às explicações de João Faustino Masoni da Costa no livro Indústria da Seda, edição da Bibliotheca de Instrucção Profissional, sem data, mas publicado no início do século XX.

De cor amarela, esses minúsculos ovos com cerca de um a dois milímetros têm cada um a massa de 0,65 miligramas e devem ser mantidos a uma temperatura uniforme, durante a gestação, cuja duração é de entre uma a duas semanas, tomando então uma cor acinzentada. Tal deve-se ao evaporar da água durante a oxigenação dos ovos, a eliminar a humidade e gás carbónico desenvolvidos logo após a postura. Se a água não for eliminada ficam bolorentos, mas se essa perda for excessiva haverá também um desequilíbrio nos líquidos internos. Em osmose, a diminuição de massa pela perda de água e anidrido de carbono é compensada por troca com o oxigénio do ar que absorvem, permitindo a respiração. Este hibernar do ovo, sem o qual não se dá a eclosão, passa por três períodos: o pré-hibernal, anterior ao abaixamento da temperatura, dura dois dias, o hibernal com sete dias, onde a temperatura se mantém muito baixa e o pós-hibernal, quando pelo calor se inicia a incubação e se forma o embrião.

No Inverno, os ovos ficam longo tempo a incubar e não chocam. Entende-se assim a necessidade de conservar convenientemente os ovos para não definharem e estarem aptos a eclodir em tempo próprio. Na China do século V passaram os ovos da Bombix mori a ser guardados a temperaturas baixas, próximas do 0º C, ficando assim controlado o nascimento das larvas, permitindo a produção à medida das necessidades e ao longo de todo o ano.

Há dois mil e quinhentos anos, como refere o Livro dos Ritos [“Li Ji”, 礼记], já se desinfectavam os ovos lavando-os na Primavera quando, devido ao calor, estão na fase final do chocar, evitando assim doenças transmitidas por bactérias alojadas na casca. Por isso, as sirgarias devem ser locais amplos, para manter uma temperatura constante e secos, com boa ventilação.

A postura dos ovos feita na Primavera, a primeira produção do ano para dar origem a lagartas vigorosas, realiza-se no início de Maio, sendo guardada uma parte para usar dez meses depois na continuação da linhagem do ano seguinte e a restante na reprodução, a criar gerações para alimentar de casulos as fábricas durante todo o ano.

Após casalar, cada mariposa fêmea é colocada dentro de um cilindro, a limitar o espaço de desova, pousado num cartão (a página) onde ao rodar vai em círculos depositando os ovos, ovais e achatados. Nas páginas mais valiosas encontram-se apenas as mariposas proveniente de anciãs reprodutoras e as posturas dos ovos são guardadas com cuidados imensos. Setenta e duas horas após a secagem do corpo da mariposa, esta é colocada em clorofórmio e vista ao microscópio, com uma ampliação de seiscentas vezes. Faz-se o historial e constata-se se está com saúde, ou infectada, ou se tem alguma alteração genética.

A última produção de ovos do ano ocorre no Outono e estes serão usados para iniciar no ano seguinte a produção de casulos e parte, guardados para eclodirem em Outubro. Fica-se assim com ovos provenientes dos avós em dois períodos diferentes, servindo eles apenas para continuar o grupo de vigorosas lagartas reprodutores. Desses, após uma selecção, são rejeitados 40 por cento e em seguida queimados.

Assistimos a uma dessas fogueiras, mas as páginas revelam ser de ovos dos pais retiradas após analisadas as posturas por conterem muitos ovos brancos, a significar não fecundados. Se um ovo apresenta algum indício de doença, a postura é recortada para análise e a página deitada ao fogo. Cosendo recortes de outras posturas com ovos da mesma geração refazem-se as páginas. Nos ovos que passam na análise das páginas inteiras, ou reparadas, estão os filhos e netos preparados para a produção de casulos.

Os ovos dos avós, a servir para a reprodução, não são vendidos e as páginas com ovos dos pais têm cada uma 14 círculos cheios de sementes. Já as páginas com ovos dos bichos-da-seda filhos contam com a postura de 28 mariposas fêmeas.

As sementes vendidas são as das mariposas filhas e netas e o preço por página, (para cerca de 14 mil ovos provenientes de 28 mariposas filhas, cada uma a pôr quinhentos ovos), é de 90 Yuan (9 Euros). O custo de uma página com 28 mil ovos de 56 mariposas netas é de 26 Yuan. Dados do Instituto Langzhong Can Zhong Chang de 2009.

São necessárias dez amoreiras para alimentar cerca de 40 mil lagartas que produzirão 50 kg de casulos. A atenção dispensada pelos sericicultores às horas de alimentação, à qualidade das tenras folhas verdes escuras e não transportarem cheiros como o do tabaco para as sirgarias, que devem ter bom arejamento e uma temperatura estável de 25º C, leva à produção de sirgos de boa qualidade, a dar um bom filamento ao casulo.

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