CCCM | Lançada obra “Olhar Macau pelos Livros”

Para descobrir um território basta, muitas vezes, abrir a página de um livro. Foi a pensar nisto que Jorge Tavares da Silva e Carmen Amado Mendes avançaram para a coordenação da obra “Olhar Macau pelos Livros”, convidando diversos autores, nomeadamente Celina Veiga de Oliveira ou o antigo Governador Garcia Leandro para escreverem sobre obras que nos revelam Macau. O livro foi lançado este sábado no Centro Científico e Cultural de Macau

 

Depois da experiência editorial de “Olhar a China pelos Livros”, eis que volta a ser lançada uma edição que permite conhecer melhor Macau através de diversas obras e autores, seja na poesia, romance ou história. “Olhar Macau pelos Livros” é coordenado pelo académico Jorge Tavares da Silva, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior, e Carmen Amado Mendes, presidente do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM). Esta entidade acolheu, no sábado, o lançamento da obra, que conta ainda com apoios na edição da Universidade de Macau e Fundação Casa de Macau, integrando-se na colecção “Língua e Cultura”.

Na apresentação, Jorge Tavares da Silva descreveu o projecto como sendo “um trabalho colectivo que nasce de uma ideia inicial”, que é convidar outros a escrever sobre livros que revelem pedaços de um território tão particular.

“Temos, desta vez, mais de 16 autores que enriqueceram [a obra] com os seus pontos de vista e o objectivo é o mesmo do início. Quando se entra no mundo da China e de Macau há muitas formas de se entrar nele: pode ser o acaso, alguém que encontra um trabalho, o entusiasmo de procurar, ou então de uma forma muito simples, através dos livros, que foi a forma como eu me iniciei na China. Tive curiosidade por esses livros que nos trazem mundos que vamos descobrindo, e foi assim que me entusiasmei pelos assuntos da China. Sou apaixonado por livros, e eles trazem-nos formas de olhar, interpretações, visões, experiências de outras épocas e tempos. Há um paralelismo entre aquilo que os livros nos dão e o que vamos descobrindo”, descreveu o co-coordenador.

Com autores como Celina Veiga de Oliveira, historiadora, o poeta e académico Yao Jingming, ou o advogado Miguel de Senna Fernandes, “Olhar Macau pelos Livros” tem “excelentes textos, diferenciados, enriquecedores”. Esta é, também, uma obra “que nos serve para incitar à leitura, porque muitos leitores provavelmente não conhecem alguns dos autores e, assim, passam a conhecer”, adiantou Jorge Tavares da Silva.

De Deolinda a Pessanha

Naquele que pretende ser um “exercício de observação, reflexão e análise” sobre a forma como se escreve ou conta o território, encontram-se textos do antigo Governador de Macau Garcia Leandro, que decidiu debruçar-se sobre o autor Rodrigo Leal de Carvalho e as obras “Ao Serviço de Sua Majestade” e “Requiem por Irina Ostrakoff”. Joaquim Ng Pereira, grande dinamizador do patuá em Portugal, e declamador de poesia neste dialecto macaense, optou por escrever sobre a análise feita por Roberto Carneiro, ex-dirigente da Fundação da Escola Portuguesa de Macau, e outros autores, que em 2019 lançaram a obra “O Macaense – Identidade, Cultura e Quotidiano”.

Mas em “Olhar Macau pelos Livros” existem também os romancistas e poetas mais ligados a Macau, como é o caso de Henrique de Senna Fernandes, cuja obra “Nam Van – Contos de Macau” é analisada por Ana Cristina Alves, coordenadora do programa educativo do CCCM. Não falta também a análise ao livro “Os Dores”, que tão bem descreve a Macau antiga, no conflito entre as zonas cristã e chinesa da cidade, da autoria de Senna Fernandes. Este texto é da autoria da também escritora Maria Helena do Carmo. Rita Assis Ferreira, advogada, escreve ainda sobre “Amor e Dedinhos de Pé”, outra obra bem conhecida do autor macaense.

Francisco José Leandro, académico da área da ciência política e relações internacionais, optou por olhar à lupa a obra “Cheong Sam – A Cabaia”, da reputada escritora macaense Deolinda da Conceição.

Finalmente, não falta o nome de Camilo Pessanha, nome maior da poesia simbolista portuguesa, que viveu em Macau grande parte da sua vida e que está sepultado no cemitério de S. Miguel Arcanjo. “Camilo Pessanha num Quarteto” é o título do contributo de Yao Feng, pseudónimo literário do académico Yao Jingming, ligado à UM.

Numa vertente mais académica, destaque ainda para a análise, da parte de Leonor Diaz de Seabra, da última obra de António Manuel Hespanha, “Filhos da Terra”, que olha, precisamente, para as comunidades de lusodescendentes espalhadas pela Ásia, fruto da expansão marítima portuguesa.

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