Portugal já tem novo primeiro-ministro

Estou a escrever-vos no dia mais estúpido da política portuguesa, o chamado dia de reflexão, em especial quando me recordo que há países civilizados que até fazem propaganda eleitoral no dia e hora em que os eleitores vão votar. Em Portugal parou tudo sobre eleições no sábado que antecede a votação para, ai meu Deus, para reflexão. Reflexão de quê? Quando noventa por cento dos portugueses já decidiram em quem vão votar.

Enfim, é mais uma aberração deste modelo eleitoral que Portugal escolheu para prepararem as escolas como locais de voto e o transporte das urnas e dos boletins de voto sem qualquer perturbação como se isso não pudesse realizar-se durante a semana. Certamente, no momento em que já têm o HOJE MACAU na mão já os leitores sabem quem é o novo primeiro-ministro.

O que vos posso dizer é sobre esta semana de campanha eleitoral que antecedeu o dia de ontem em que o povo escolheu o novo primeiro-ministro. E a escolha recaiu em Pedro Nuno Santos (PS) ou em Luís Montenegro (AD). Como eu votei sempre em branco, estou à vontade para vos comunicar sem facciosismos o que aconteceu. A campanha eleitoral foi possivelmente a pior de sempre. Não assistimos a uma campanha dos partidos políticos, mas sim de líderes dos partidos. Não se ouviu falar dos reais problemas que fazem o povo sofrer.

Não ouvimos falar das alternativas para que Portugal deixe de ser um dos países mais pobres da Europa. Ninguém falou da tragédia que grassa na Ucrânia ou na Faixa de Gaza, que queiram ou não, terá repercussões em Portugal, porque Putin não brinca em serviço nem esquece os detractores do seu regime.

O lado mais negro da campanha, infelizmente, coube à comunicação social e aos líderes dos partidos. A comunicação social passou dos limites, quando os canais de televisão escolheram para comentadores da campanha uma maioria que apenas soube promover a AD e, em particular, Luís Montenegro.

Os líderes dos partidos, por sua vez, negaram-se, leia-se, desprezaram, os jornais e não concederam uma única entrevista onde os temas políticos podiam ter sido mais aprofundados. O único facto político positivo foi o civismo verificado ao longo da campanha e não assistimos a insultos e a lavagem de roupa suja entre os candidatos, mesmo com André Ventura a comportar-se como um político moderado, o que lhe retirou muitos votos. Os adeptos do Chega queriam sangue, suor e lágrimas. Queriam que Ventura insultasse Montenegro, Rui Rocha, Mariana Mortágua ou Pedro Nuno Santos. Pelo contrário, conteve-se e apenas se mostrou ressabiado por Luís Montenegro ter dado a sua palavra que se ganhar as eleições não se alia ao Chega.

A campanha eleitoral mostrou pobreza no paradigma político e no entusiasmo popular. Assistimos a arruadas onde o povo estava em casa ou no trabalho. A adesão foi mínima e aconteceram acções de campanha que apenas tinham os membros da comitiva do partido que se deslocavam com o seu líder pelas ruas das cidades portuguesas.

Escândalos, tivemos dois. Por um lado, a AD foi buscar Passos Coelho, Durão Barroso, Assunção Cristas, Manuela Ferreira Leite, Luís Filipe Menezes, Santana Lopes, Rui Moreira, Marques Mendes, Rui Rio e, imaginem, a múmia Cavaco Silva, o pior primeiro-ministro da democracia com 50 anos de existência. Só disseram baboseiras e esqueceram-se dos telhados de vidro que têm e das lembranças muito negativas que o povo tem deles. Passos Coelho chegou a retirar o subsídio de Natal aos portugueses. Durão Barroso estendeu o tapete vermelho, nos Açores, para que Bush e seus amigalhaços destruíssem o Iraque.

Marques Mendes, sendo um comentador televisivo que devia manter a independência verbal, apareceu na rua aos gritos pela AD ao lado de Montenegro. Assunção Cristas foi a pior dirigente do CDS e os portugueses não esquecem a lei que ela aprovou sobre as rendas de casa, facto que ainda é um sofrimento para os mais desprotegidos. Santana Lopes, por indecente e má figura, bem teve que “fugir” da Provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e ficou sempre a suspeita de vários cambalachos.

Rui Moreira sempre se anunciou como um “independente” e apareceu ao lado de Montenegro apenas com o objectivo de no caso de a AD vencer as eleições, um dia ser apoiado como candidato a Presidente da República. Por seu turno, Pedro Nuno Santos, foi mais inteligente e apenas chamou António Costa porque sabe bem que se trata de um dos melhores políticos portugueses e ainda com muito crédito popular.

No entanto, o escândalo maior aconteceu no final da semana quando o semanário Expresso trouxe à estampa uma atitude inqualificável do Presidente da República e a merecer condenação. Marcelo Rebelo de Sousa, antes do acto eleitoral e dos resultados finais, veio anunciar que não dará posse a um governo que insira o Chega. Um acto de discriminação vergonhoso e dando a entender que a AD já tinha ganho as eleições. Se calhar, enganou-se.

Vocês, em Macau, hoje ao levantarem-se, já saberão se Marcelo estava certo da vitória de Montenegro. E a discriminação foi tanto mais grave que as suas palavras deram a entender que ninguém devia votar no Chega. Naturalmente que estamos perante um partido que defende a xenofobia, o racismo e o populismo.

Mas, queiramos ou não, trata-se de um partido com assento na Assembleia da República e que irá de certeza aumentar o número de votantes. Marcelo Rebelo de Sousa está nas bocas do mundo e já houve constitucionalistas que afirmaram tratar-se de um caso grave, que deve ser estudado pelo Tribunal Constitucional. Só faltou que Marcelo dissesse que não dava posse a um governo que tivesse comunistas. Ao fim e ao cabo, a sua atitude discriminatória foi uma ofensa ignóbil à própria democracia com 50 anos.

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Rita
Rita
11 Mar 2024 15:03

quem vota em branco não tem nenhum direito em dar opinião sobre democracia! O voto é a mais pura demonstração de democracia num país.

Cheang
Cheang
Responder a  Rita
11 Mar 2024 17:09

Queria votar na Rita santos ou Coutinho mas infelizmente não está na lista eleições, tenho votar em preto aqueles partidos não conheço e creio muitos chineses com passaportes português até socios associações fizeram isso sem conhecer quem são os gentes partidos.

Cheang
Cheang
Responder a  Rita
11 Mar 2024 19:48

Queria votar na Rita santos ou Coutinho mas infelizmente eles não estão na lista eleições, muitos eleitores chineses com passaportes português desconhecem quem são esses gentes dos partidos votaram actoa ou por ensinamento de algumas pessoas de Macau suspeita manipulação eleições.

Cheang
Cheang
11 Mar 2024 17:20

Queria votar na Rita santos ou Coutinho mas infelizmente eles não estão na lista eleições, por isso votei em preto novo presidente até votei nos partidos que nunca conhecia essas gentes, muitos eleitores chineses com passaportes português também não conheciam essas gentes dos partidos e votaram ou foi ensinado por alguém votar por determinado pessoas.

Cheang Siu Chau
Cheang Siu Chau
13 Mar 2024 14:57

Essa pessoa deve ser além de retardada, ele é covarde, não cabe usar o próprio sobrenome em comentários, mas o meu. Ele é tão insatisfatório profissionalmente em comparação com os seus estudos, e só comenta nos jornais quando está fora de Macau, só para estar tão ansioso com a descoberta do seu endereço IP. Ele é bom em português, mas sempre tentava se curvar na hora de escrever, novamente com a intenção de disfarçar ser outra pessoa. Esse cara é nojento e nós, eu, Coutinho e Rita sabemos quem é esse homenzinho idiota, vendo o tamanho dos seus sapatos de… Ler mais »

Cheang Siu Chau
Cheang Siu Chau
13 Mar 2024 16:12

Aliás, já há algum tempo parei de comentar os artigos que possam direta ou indiretamente lhe interessar, como meu respeito lhe é prestado.
Se você agora tentar brincar ou testar meu temperamento do nada, é melhor pensar duas vezes. Porque se você derramar combustível no meu motor turbocharge de 24 válvulas, não há como voltar a desacelerar todos os cilindros de disparo.
Se você tomar isso como um tratado, vamos seguir caminhos distintos.