Economia | Pequim expressa confiança e mantém taxas de juro inalteradas

O Governo chinês mostra sinais de optimismo face aos indicadores económicos positivos verificados em áreas como a produção industrial e as vendas no sector retalhista

 

As autoridades chinesas expressaram ontem confiança nas perspectivas para a segunda maior economia do mundo, após optarem por manter as taxas de juro de referência, face a sinais de melhoria em algumas áreas, como os serviços.

O tom optimista das autoridades, que falaram numa conferência de imprensa em Pequim, contrasta com as previsões do Banco Asiático de Desenvolvimento e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, que afirmam que a fraqueza da economia chinesa deve prejudicar o crescimento global e regional.

Cong Liang, vice-presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o órgão máximo de planificação económica do país, disse que a “resiliência” demonstrada pela China em crises passadas é “motivo de confiança” e que a melhoria dos dados sobre a produção industrial e vendas no sector retalhista indicam que a economia está a melhorar.

Cong Liang e outros altos responsáveis pela economia reconheceram, no entanto, grandes desafios para estimular o crescimento, enquanto expressaram confiança na capacidade do Partido Comunista em garantir que a desaceleração é temporária.

“Os factos provaram plenamente que os mecanismos de tomada de decisão do Comité Central do Partido Comunista e do Conselho de Estado (executivo) estão correctos e que as políticas de macro-controlo são eficazes”, disse Cong.

Após três anos de perturbações causadas pela pandemia da covid-19, a economia da China está a ser afectada por factores internos e globais, e a “recuperação económica vai ser inevitavelmente um processo volátil”, reconheceu.

Num discurso publicado no mês passado na Qiushi, revista sobre teoria política do Partido Comunista, o líder chinês, Xi Jinping apelou a que se mantenha a “paciência histórica” e se insistia em fazer progressos “constantes e passo a passo”, numa referência à situação económica.

Xi disse ainda que a busca de riqueza material por parte do Ocidente levou à “pobreza espiritual”.

Os líderes da China tomaram medidas para reforçar o crescimento e incentivar a despesa e o investimento. Isto incluiu a redução dos requisitos de reservas para alguns bancos e o levantamento de restrições na compra de habitação em cidades mais pequenas.

O Banco do Povo da China manteve ontem as taxas de juro de referência inalteradas. A taxa base de juros para empréstimos a um ano está em 3,45 por cento e para cinco anos está em 4,2 por cento. As autoridades disseram que avaliarão o impacto das medidas tomadas recentemente para reforçar a actividade empresarial.

 

Obstáculos do passado

A economia foi atingida pela estratégia ‘zero covid’, que levou ao bloqueio de cidades inteiras, e por uma grave crise de liquidez no sector imobiliário, que obrigou as construtoras a negociar a restruturação das suas dívidas ou a entrar em incumprimento.

A queda nos preços da habitação fez a classe média chinesa tornar-se mais cautelosa, afectando assim também o consumo.

A perda de empregos durante e após a pandemia também atrapalhou a recuperação, deixando cerca de um em cada cinco jovens chineses desempregados, o que pesa ainda mais no consumo.

O Banco Asiático de Desenvolvimento reduziu recentemente a sua previsão para o crescimento da China em 2023 para 4,9 por cento, de 5,5 por cento, no seu relatório anterior. A mudança reflectiu “o abrandamento da dinâmica da procura interna, os ventos contrários da procura global mais fraca e a correcção do sector imobiliário”, afirmou.

A OCDE reduziu as suas perspectivas de crescimento global em 0,2 por cento, para 2,7 por cento, em 2024, citando a desaceleração da China e os problemas imobiliários.

Inquéritos realizados a empresas estrangeiras, divulgados na terça-feira pela Câmara de Comércio dos Estados Unidos em Xangai e pela Câmara de Comércio da União Europeia na China, indicaram que a confiança no país entre os investidores globais e as empresas que operam na China enfraqueceu.

Os grupos apelaram ao Governo chinês para que seja mais claro sobre as regras, argumentando que a incerteza é um problema crescente.

As autoridades chinesas e as publicações estatais parecem ter intensificado uma campanha para contrariar as preocupações expressas sobre a economia e observam que as autoridades da China estão a reorientar a economia para um modelo de crescimento mais sustentável, assente na produção de tecnologia com alto valor agregado e no consumo interno, em detrimento do investimento na construção.

“Acredito que enquanto todo o país estiver unido e enquanto insistirmos em fazer bem o que fazemos, não vai haver obstáculos que impeçam a China de se superar no seu desenvolvimento”, disse Cong.

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