Turismo | Helena de Senna Fernandes aponta ao regresso dos mercados internacionais

A directora da Direcção dos Serviços de Turismo considera que a exposição “Sentir Macau”, que desde sábado pode ser vista no Terreiro do Paço, em Lisboa, é uma tentativa de regresso aos mercados internacionais. Em entrevista à Lusa, Helena de Senna Fernandes defende que Lisboa é o ponto de partida para a tentativa de captar mais turistas internacionais

 

Foto de Gonçalo Lobo Pinheiro

Desde o final da última semana que uma equipa da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) e representantes das seis operadoras de jogo estão em Portugal para promover aquilo que de melhor Macau tem para oferecer no sector turístico.

Em entrevista à Lusa, a partir de Lisboa, a directora dos Serviços de Turismo de Macau afirmou que as acções de promoção em Lisboa assinalam a tentativa de regresso do território aos mercados internacionais, um objetivo estratégico do Governo. Helena de Senna Fernandes admitiu que a pandemia da covid-19 alterou o modelo de gestão do território, que se fechou ao exterior e há agora “um caminho a recuperar” na promoção exterior.

“Em termos de mercados internacionais, vamos retomar o nosso trabalho, ficamos realmente fechados para o mercado internacional durante algum tempo e tivemos que parar porque foi um passo para proteger para a população” devido à pandemia.

Macau seguiu as indicações de Pequim e adoptou uma política de tolerância zero contra a covid-19, fazendo com que o território apenas pudesse receber turistas da China. “Temos que recomeçar o que não foi feito em três anos”, disse. Mas “o passo para a frente não vai ser completamente fácil” porque há muita concorrência turística, reconheceu Senna Fernandes.

Antes da pandemia, o peso do mercado internacional valia entre 9 a 10 por cento do turismo em Macau, um cenário que mudou drasticamente, reconheceu, admitindo que hoje “são muitos poucos os estrangeiros” no território. “Em Março, foram só 2.000 pessoas internacionais a entrar por dia”, explicou a directora, considerando que esta preocupação com os turistas estrangeiros é transversal a todo o governo.

Exemplo disso são algumas das medidas dos novos contratos de concessão de jogo para as operadoras dos casinos, que passaram a estar obrigadas a investir nos mercados e na promoção internacional, criando novos produtos e novos canais de captação de turistas. “Daqui para a frente julgo que vocês vão ver muito mais trabalho junto dos mercados internacionais, o turismo internacional é diferente do turismo interno, com um consumo mais diversificado”, afirmou.

Lisboa global

A acção de promoção de Macau em Lisboa aproveita a presença em Portugal do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, para tentar “ter mais atenção” da opinião pública portuguesa. “Estamos aproveitar a visita do Chefe do Executivo para também ter um foco maior em Macau”. Por outro lado, “todo mundo parece que hoje em dia vem para Portugal” e uma acção em Lisboa é uma “promoção para o mundo”.

Além disso, a Praça do Comércio é “um espaço multicultural” com milhares de estrangeiros e os stands de Macau e o ‘videomapping’ no Terreiro do Paço terão um “impacto muito grande junto de vários mercados”, além do português, considerou Helena de Senna Fernandes.

“Não vamos ter de Portugal grandes números de visitantes, mas Portugal é importante para já, para trabalhar na Europa e, por outro lado, eu acho que Portugal também é uma porta para os mercados de língua portuguesa”, procurando promover Macau como “centro de mundial de turismo e lazer”.

O facto de Macau ser património mundial ou a classificação do território como “cidade criativa de gastronomia da UNESCO” são elementos que acabam por atrair novos mercados também na região. “Estamos a ver muitos turistas já asiáticos a querer também provar a comida única de Macau”, explicou, acrescentando que o território tem novos espaços de concertos, parques aquáticos e mais locais para eventos.

Durante a pandemia, a maior parte dos escritórios turísticos de Macau fechou, mas Senna Fernandes admitiu que o cenário mudou. “Neste momento estamos a equacionar para cada mercado o que fazer. O mundo mudou muito, se calhar não é tão importante uma presença [mas sim] trabalhar directamente com o consumidor”, usando as novas tecnologias.

Preservação estratégica

A responsável considerou ainda que os governos central e regional têm feito por preservar “a singularidade” do local, herança mista de influências chinesas e portuguesas. “É isto que nos distingue e não podemos perder”, afirmou, admitindo que o carácter único de Macau é aquilo que o distingue do resto da China. E explicou: Pequim deu três objectivos estratégicos a Macau, a aposta no turismo, a ligação do território à lusofonia, mas também transformar a Região Administrativa Especial numa “base de intercâmbio cultural”.

“[É] importante aproveitar os nossos laços portugueses, mas também os nossos laços chineses” e “aproveitar desta boa relação entre as duas culturas” elementos que ajudem a “utilizar Macau como um ponto de encontro” cultural.
Apesar do fecho das fronteiras, motivado pela pandemia da covid-19 e o aumento dos turistas chineses, continuam a existir projectos de preservação da herança histórica do território, desde o dialecto local (‘patuá’) à cozinha macaense, mas também há novos “espaços turísticos de inspiração portuguesa” a abrir.

“Há muitos chineses que têm muito interesse em Macau porque Macau tem esta mistura de Portugal e China”, explicou. Exemplo disso são os sucessos dos pontos de venda de pastéis de nata, comida portuguesa ou macaense, salientou a directora do turismo.

Hoje o território vive um equilíbrio, com uma “grande influência em termos de cultura chinesa em Macau”, mas também continua “a ter muita afinidade com as raízes portugueses e macaenses”. Admitindo que a presença chinesa no território é “muito grande e intensa”, Senna Fernandes considerou que o futuro de Macau passa por “preservar a sua identidade” na China global, algo que “é promovido pelo governo central”.

A responsável frisou ainda, na mesma entrevista, que o território tem de se preparar para uma nova geração de turistas chineses que procura uma oferta ligada a experiências, redes sociais e eventos. “Neste momento temos dois grupos, os que chegam em grupo de excursão, e aqueles que vêm individualmente, os ‘independent visitors’”, afirmou. A maior parte dos que chegam em excursões tem mais de 55 anos e os que viajam de modo individual têm menos de 35 anos.

Este grupo mais novo “gosta muito de ir para além dos casinos e, se calhar, nem visita os casinos ou vai apenas por curiosidade”, preferindo aproveitar Macau como um espaço turístico mais completo. “Há muitas lojas pequenas que, porque têm presença nas redes sociais, têm muita gente que vai lá”, exemplificou.

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