Semana da Cultura Chinesa | Zerbo Freire apresenta amanhã “Quadras chinesas”

Zerbo Freire, autor e tradutor, apresenta amanhã na Fundação Rui Cunha a obra “Quadras chinesas”, uma colecção de poemas escritos no período da dinastia Tang. O evento, inserido na Semana da Cultura Chinesa, mostra o primeiro trabalho de tradução de poesia chinesa, a partir do mandarim, feito por um cabo-verdiano

 

O que começou por ser um mero exercício de lazer transformou-se no primeiro livro de poemas chineses traduzidos para português, directamente do mandarim, por um cabo verdiano. Zerbo Freire, autor e tradutor, é o responsável por esse feito, concretizado no livro “Quadras chinesas”, que é amanhã apresentado na Fundação Rui Cunha (FRC), às 18h30, num evento inserido na Semana da Cultura Chinesa, organizada pelo HM e editora Livros do Meio.

Foi ainda em Pequim, em 2019, na qualidade de estudante do curso de tradução e interpretação de chinês-português e português-chinês que Zerbo Freire teve o primeiro contacto com a poesia escrita durante a dinastia Tang. A vinda para Macau, no ano seguinte, e a realização do trabalho final de curso não apagaram a sua vontade de continuar o projecto de tradução de poemas da dinastia Tang. No total, Zerbo Freire traduziu 76 poemas.

Os leitores poderão ter contacto com escritos que apresentam diversos temas, consoante os períodos distintos da dinastia Tang. “No seu todo são poemas que retratam a nostalgia, a ideia do poeta que saiu muito cedo da sua terra natal. Falam também do sistema de concubinas, das guerras que aconteciam nas fronteiras. Temos também poetas com um estilo mais singular. Alguns descrevem o sofrimento dos homens, o romantismo, a busca por um refúgio da paz, falam da paisagem”, contou o autor e tradutor.

Convidado a fazer um exercício de comparação desta poesia com poemas escritos noutros períodos da China imperial, Zerbo Freira confessa que antes da dinastia Tang “a prosa era feita de forma mais vulgar e sem forma”.

“Já reflectia temáticas como a nostalgia, a saudade da terra natal, mas era uma poesia com um estilo mais livre face à dinastia Tang”, adiantou.

Caminho traçado

Traduzir estes poemas começou por ser “uma forma de lazer”. Mas Zerbo Freire conta que “foi-se adaptando e construindo” o seu próprio caminho e método de tradução. “O caminho já está desenhado e só me resta ganhar mais experiência nesta área”, adiantou.

Neste processo, o autor e tradutor ganhou maior conhecimento “sobre o pensamento do homem chinês numa certa época”. Trata-se de uma poesia “muito sentimentalista mas que, ao mesmo tempo, reflecte muito a sociedade chinesa naquele período”.

“Estudar o pensamento, o modo de ser e de estar do homem chinês de um certo período foi um grande desafio, ainda mais com o pouco que é traduzido para língua portuguesa. O facto de ser o primeiro cabo-verdiano a fazer este trabalho só me dá maior motivação para que os cabo-verdianos contribuam para este processo de tradução de obras clássicas e para que haja uma maior contribuição para um crescente intercâmbio entre a China e os países de língua portuguesa”, concluiu.

A apresentação da sessão de amanhã, que serve de encerramento à Semana da Cultura Chinesa, está a cargo do também poeta, tradutor e académico Yao Jingming. Às 17h haverá lugar a um espectáculo de música chinesa com os músicos Sharlotte Yu e Erich Wong.

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