Tabuletas e bombas d’incêndio

Os incêndios apareciam relatados nos Boletins Oficiais e as condecorações por actos heróicos eram neles também publicadas, como no B.O. de 2/11/1872 quando o cabo de esquadra n.º 83 da primeira companhia do batalhão de infantaria de Macau, Joaquim Coelho da Rocha recebeu uma medalha de prata, (sem necessidade de pagar direitos de mercê nem de selo) pelos serviços que prestou por ocasião do incêndio ocorrido a 27 de Abril 1872 em Sá-com, salvando com grande risco de vida dois chineses que se achavam sem sentidos dentro de uma barraca já presa das chamas.

Num dos Editais no Boletim da Província de Macau e Timor, de 20 de Março de 1875, João Hyndman, procurador interino dos negócios sínicos fazia saber aos habitantes chineses que o Governador, querendo melhorar o serviço de incêndios para melhor segurança dos habitantes, determinava: 1.º Que por conta do governo serão afixadas nas portas das casas que tiverem poços tabuletas com a palavra poço; 2.º Que todas as vezes que houver incêndio de noite, as lojas e casas em cujas portas estiverem afixadas as tabuletas mencionadas no artigo antecedente, deverão colocar uma lanterna ao lado dessas tabuletas; 3.º Que, nos lugares próximos ao sítio de incêndio, as casas que tiverem poços deverão franqueá-los ao pessoal do serviço de incêndios, na certeza de que o governo dará toda a protecção para que essas casas tenham toda a segurança e não sofram prejuízo algum.

A 22 de Fevereiro de 1877, o mesmo procurador João Hyndman por Edital fazia saber: Tendo sido retiradas em algumas casas as tabuletas designativas da existência de poços, o que causou graves inconvenientes por ocasião do último incêndio que teve lugar na travessa do Tintureiro na madrugada de 13 do corrente mês, e convindo em semelhantes ocasiões de desastre que as pessoas que concorrerem para prestar socorros tenham meios de reconhecer facilmente quais são as casas onde existem poços, vão ser, por ordem do Governador, substituídas as tabuletas acima indicadas, pela letra P acompanhada do carácter sínico que significa poço, sendo ambas as letras [de altura de dois decímetros] de cor branca e pintadas a óleo sobre um quadro preto, o que pelo presente edital se faz público para o conhecimento dos habitantes chineses, os quais são também avisados que os proprietários das casas em que forem pintadas essas duas letras serão responsáveis pela conservação delas, ficando sujeitos a uma multa além da obrigação de pagar as despesas da reparação, quando por culpa ou negligência dos mesmos proprietários ou inquilinos forem deterioradas as ditas letras. Ao mesmo tempo faço saber aos habitantes chineses que o governo lhes garante toda a segurança, quando em ocasiões de incêndios for necessário que eles abram as portas de suas casas para se poder utilizar dos poços que possuírem, pois que serão então colocadas sentinelas para evitar todo e qualquer abuso, de modo que não haverá razão para que em ocasião de semelhantes calamidades procurem os chineses dificultar o acesso dos poços de suas casas; por isso todos que para futuro assim fizerem serão processados e punidos rigorosamente como desobedientes à autoridade.

O lugar de inspector dos incêndios encontrava-se vago por falecimento do capitão da guarnição Frederico Guilherme Freire Corte-Real, o que levou o Governador José Lobo d’ Ávila a publicar no B.O. de 25/9/1875 a Portaria N.º 94, onde o major d’ engenharia, director das obras públicas, Augusto Cezar Supico, era nomeado inspector dos incêndios, pois considerava que do melhor desempenho de tal serviço resultará maior facilidade aos proprietários que desejem segurar as suas casas, nas companhias estabelecidas em Hong Kong. Já a Portaria N.º 95 refere: Já no B.O. de 17/2/1877, o Inspector dos incêndios, Cesar Supico narrava: Os primeiros a comparecer no local foram o comandante e alguns oficiais e praças do corpo de polícia e guarda da cadeia por eles foram empregadas as primeiras diligência para o extinguir. A falta de meios próprios e a grande quantidade das matérias inflamáveis, que existiam no prédio, tornou infelizmente ineficazes aqueles bons serviços e por isso o fogo comunicou-se rapidamente a toda a casa. Nestas circunstâncias tratei principalmente de evitar a sua passagem para os prédios vizinhos, o que felizmente se conseguiu. Compareceram todas as corporações, notando-se a boa vontade e diligência com que trabalharam os piquetes da polícia de terra e mar, e a companhia da limpeza conduzida pelo seu fiscal.

Dentre os indivíduos particulares que prestaram serviços sobressaem, como dignos do maior elogio, os cidadãos António Carlos Brandão e filho José Brandão, trabalhando com uma bomba sua desde o princípio. Ganhou o primeiro prémio a bomba n.º 1 desta inspecção, cujo pessoal foi auxiliado por um soldado da guarda do quartel de S. Domingos e outro da guarda da cadeia. Tendo-se partido uma escada foram precipitados da altura do telhado dois chineses da companhia de limpeza e um da bomba Men-Ki, ficando este último gravemente contuso. Por esta inspecção lhe mandei prestar todos os socorros que foram indispensáveis para o seu tratamento.

A relação das bombas particulares existentes em Macau foi publicada na Procuratura dos negócios sínicos a 17/11/1879, com indicação da cor das cabaias que devem trajar os dois encarregados de cada uma dessas bombas.

Tendo os proprietários das bombas particulares pertencentes a estabelecimentos industriais chineses concordado em dar aos encarregados das mesmas bombas trajos especiais para poderem distinguir-se umas das outras. Assim com cabaia branca apresentavam-se as bombas, de Menki (do hão de chá) com borda azul; da Rua dos Ervanários (ou Quartel Velho) com borda preta; da Rua da Caldeira (Ven-Lum-Fong) com borda vermelha; de Sankiu com borda azul; do Bazar com borda verde; e da Pat-Coc-Tong (Rua da Barca da Fruta) com borda amarela. A cabaia azul era usada pelas bombas de Ch’eongki, (fábrica de tabaco) com borda branca; da Rua do Infante (Simão-Kai) com borda branca; e a de Patane com cabaia azul-claro e borda azul-escura. A bomba de Matapao (Siun-Ho-Hao) trajava cabaia amarela com borda azul.

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