Cartões de crédito | Seis detidos por roubo de dados

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) anunciou ontem a detenção de seis suspeitos no caso de um crime informático que envolveu o roubo de dados de cartões de crédito que causaram às vítimas prejuízos de 170 mil patacas.

A investigação da PJ teve início após terem sido reportados, no final de 2018, “muitos casos de roubo de cartão de crédito”, culminando, na quarta-feira, numa busca à residência dos suspeitos.

Entre Outubro e Dezembro, “cada autor utilizou os dados de cinco a nove cartões de créditos roubados para recarregar as contas de jogo online”, tendo sido detectado um total de 300 transacções e a movimentação abusiva de 170 mil patacas.

“Todas as vítimas tiveram em comum o uso do seu cartão de crédito num ‘website’ estrangeiro. Oficialmente, este ‘website’ já confirmou ter existido [uma] falha de segurança”, sublinhou a PJ, em comunicado.

O principal suspeito terá sido aliciado por uma pessoa da China para a prática destes crimes, tendo partilhado o esquema fraudulento com os restantes elementos que compravam “moeda e instrumentos de jogo online”. Os suspeitos, cinco homens e uma mulher, têm entre 23 e 28 anos.

25 Jan 2019

PJ | Crimes contra liberdade e autodeterminação sexual subiram 30 por cento

A Polícia Judiciária (PJ) registou, ao longo do ano passado, 89 crimes contra a liberdade e a autodeterminação sexual – mais 30 por cento do que em 2017. Seis em cada dez casos diziam respeito à prática de violação e abuso sexual de crianças

[dropcap]O[/dropcap]s crimes contra a liberdade e a autodeterminação sexual têm vindo a aumentar. No ano passado, a Polícia Judiciária (PJ) contabilizou 89 casos, contra 68 em 2017, ou seja, mais 30 por cento. Do total de inquéritos e denúncias, 30 diziam respeito a casos de violação (menos um) e 24 a abuso sexual de crianças (mais oito) que, juntos, representaram sensivelmente 60 por cento dos crimes contra a liberdade e a autodeterminação sexual.

Os dados foram divulgados ontem, no encontro anual da PJ com os órgãos de comunicação social, durante o qual foi apresentado um balanço de 2018, ano em que foram instaurados 5.998 inquéritos e denúncias – mais 8 por cento do que em 2017. Os relacionados com o jogo ascenderam a 1.884 – mais 3 por cento face a 2017.

Se, por um lado, os casos de agiotagem cresceram a dois dígitos (29 por cento para 554), por outro, os de sequestro relacionados com o crime de usura diminuíram em idêntica medida (caíram 34 por cento para 308). “O reforço do combate aos crimes de agiotagem fez com que os demais crimes não chegassem a desenvolver até à fase de cárcere privado, sendo esse o motivo principal para o controlo e redução contínua desse tipo de situação”, diz o relatório anual.

Burlas em alta

Já as burlas, excluindo as em casinos e praticadas através da Internet, geraram 519 inquéritos e denúncias, mais 71 do que em 2017. Em contrapartida, os casos de burla telefónica baixaram de 146 para 128.

No plano da criminalidade violenta, foram registados dois casos de homicídios e sete de ofensa grave à integridade física (menos um em ambos), num ano com zero raptos. O roubo (66 contra 101) e extorsão (57 contra 50 também recuaram comparativamente a 2017.

Em sentido inverso, os casos de fogo posto subiram de 52 para 61, mais de metade dos quais causados por pontas de cigarro mal apagadas.

Droga em baixa

Já os casos de tráfico de droga diminuíram 5 por cento no ano passado para 92 casos. Apesar da descida, o director da PJ chamou a atenção para um maior número de ocorrências envolvendo residentes de Hong Kong, com 40 casos – contra 20 em 2017 – a resultarem em 53 detidos (contra 37 em 2017). O consumo de droga desceu significativamente em 2018, tendo sido instaurados 31 inquéritos, ou seja, menos 37 por cento em termos anuais.

Em queda livre estiveram também os casos de tráfico de pessoas: em 2018 foi sinalizado apenas um caso, contra dois em 2017 e quatro em 2016. “Isto não significa que o nosso combate está a enfraquecer ou que não temos trabalhado. Também nos preocupamos com este tipo de casos”, disse o director da PJ, aos jornalistas.

Para 2019, um dos focos de actuação da PJ vai estar nos “grandes eventos”, como a eleição do Chefe do Executivo (no Verão), os 70 anos da República Popular da China (Outubro) ou os 20 anos da RAEM (Dezembro), indicou o director da PJ, apontando, porém, que tal não significa que baixem as armas relativamente ao combate da criminalidade, designadamente nos casinos. “Nos próximos anos, os prazos dos contratos de concessão para a exploração do jogo terminarão, por consequência novos concursos irão realizar-se, a PJ acompanhará de perto o eventual impacto para a segurança resultante das mudanças na indústria de jogo”, afirmou Sit Chong Meng.

 

Paradeiro incerto

A Polícia Judiciária (PJ) não confirma se tem conhecimento do paradeiro da empresária Isabel Chiang, apontada como suspeita de um esquema de burla imobiliária que veio recentemente a público. “Está em fase de investigação. Temos de manter sigilo”, afirmou o director da PJ, Sit Chong Meng, dando conta de que o número de queixas subiu para 52. Os queixosos terão sido lesados no valor global de 270 milhões de dólares de Hong Kong. O caso estalou depois de o empresário e membro do Conselho Executivo Chan Meng Kam ter dito que foi enganado após ter concedido um empréstimo de 96 milhões à imobiliária ligada ao bairro criativo localizado perto da Rua dos Ervanários. O antigo deputado não terá, no entanto, apresentado queixa junto das autoridades.

25 Jan 2019

Turismo | Quatro queixas devido a guias ilegais desde a Ponte do Delta

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Turismo (DST) indicou ontem ter recebido quatro queixas relacionadas com guias turísticos ilegais desde a abertura da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.

Todas as queixas denunciavam a existência de muitas excursões nas paragens dos autocarros públicos e dos casinos, nomeadamente nas Portas do Cerco. Em comunicado, a DST corrigiu ainda dados relativos ao orçamento anual para 2019 que é de 343,6 milhões de patacas.

Já o Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) corresponde a 736,9 milhões de patacas, com o Fundo de Turismo a contar com 1,17 mil milhões de patacas.

25 Jan 2019

Lucros da Sands China subiram 19 por cento em 2018

[dropcap]A[/dropcap] Sands China fechou 2018 com lucros líquidos de 1,9 mil milhões de dólares norte-americanos, traduzindo um aumento de 18,7 por cento comparativamente a 2017. Em comunicado, divulgado ontem, a empresa deu conta de receitas líquidas de 8,67 mil milhões de dólares norte-americanos, ou seja, mais 14 por cento em termos anuais.

“Olhando para o futuro, acreditamos que não há melhor mercado no mundo do que Macau no que toca ao contínuo investimento de capital”, afirmou Robert Glen Goldenstein, presidente e chefe das operações da empresa mãe, a norte-americana Las Vegas Sands.

“Esperamos fazer investimentos adicionais em Macau à medida que contribuímos para a diversificação [económica] de Macau e para sua evolução como principal destino de turismo de lazer e de negócios na Ásia”, complementou.

25 Jan 2019

Ruínas de São Paulo | Incidente com drone não provocou danos

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) emitiu ontem um comunicado onde garante que o incidente com um drone ocorrido esta quarta-feira não causou qualquer dano às Ruínas de São Paulo. Ontem foram enviados funcionários do IC para fazer uma “inspecção detalhada” ao local, onde se incluíram “uma vistoria, a comparação de fotografias e análise de dados através da digitalização 3D”.

Após a ocorrência do incidente, o IC “informou a Autoridade de Aviação Civil e irá comunicar com as autoridades relevantes no sentido de conduzir discussões adicionais, especialmente sobre o uso de drones junto de relíquias culturais importantes, a fim de decidir se é necessário formular medidas correspondentes”.

25 Jan 2019

Gripe | Centros de saúde de Seac Pai Van e Coloane abertos no fim-de-semana

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Saúde de Macau (SSM) anunciaram ontem que os centros de saúde de Seac Pai Van e Coloane vão estar abertos este sábado e domingo, entre as 9h00 e 13h00, devido “ao elevado número de doentes que estão a aceder ao Centro Hospitalar Conde de São Januário com gripe, e de modo a minimizar o tempo de espera, além de evitar eventuais infecções cruzadas de Influenza”.

De acordo com um comunicado, já foram diagnosticados 46 casos de gripe desde Setembro, sendo que já se registou a morte de um homem com 86 anos de idade. “Em 80 por cento dos casos graves de gripe as pessoas não foram vacinadas. Actualmente, ainda se encontram hospitalizados 14 pacientes”, explicam os SSM. Um dos doentes é uma mulher que “necessita de tratamento artificial assistido pulmonar para reduzir a carga nos pulmões e para facilitar a recuperação”. A sua condição ainda é critica, enquanto que “os outros pacientes internados estão em condição clínica considerada estável”.

Os SSM alertam para a necessidade de consultar as aplicações móveis para verificar o número de doentes em lista de espera, uma vez que “a proporção de doentes com gripe está a assumir números elevados”.

25 Jan 2019

Cibersegurança | Polícia Judiciária registou sete ataques no ano passado

Os dados indicam uma tendência de aumento da criminalidade face a 2017. ANIMA foi uma da instituições atacadas em 2018, mas acabou por abdicar da queixa “por falta de tempo”

 

[dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) registou sete casos de ataques de cibersegurança no ano passado, de acordo com a informação disponibilizada pelas autoridades ao HM. Ataques de cibersegurança são infiltrações por parte de piratas informáticos em sistema de empresas ou individuais com o objectivo de roubar ou alterar informação.

Segundo os dados da PJ, entre 2017 e 2018 o número de ataques mais do que triplicou. No ano de 2017 as autoridades apenas tinham registado duas ocorrências na RAEM.

Este problema está actualmente em discussão na Assembleia Legislativa (AL), onde os deputados deverão votar dentro de semanas a aprovação final do documento sugerido pelo Governo. Quando o secretário para a Segurança apresentou o diploma perante os deputados – antes da aprovação na generalidade – definiu como objectivos “institucionalizar, na área jurídica, os aludidos mecanismos de protecção”, de forma a definir “claramente deveres e responsabilidades” nesta questão.

Segundo o relatório da consulta pública sobre a futura lei, os residentes consideraram o diploma necessário, mas mostraram-se reticentes. Na visão de algumas pessoas que partilharam as suas opiniões, a lei poderia ser utilizada pelo Governo para “legalizar a vigilância” na Internet, o que faria com que houvesse prejuízos para direitos individuais, como a liberdade de expressão e o sigilo das comunicações.

Face a estas preocupações o Governo defende-se apontando que só vai analisar o fluxo dos dados nas diferentes redes informáticos e não o conteúdo de eventuais trocas de emails, conversas em aplicações, entre outras.

ANIMA desistiu de queixas

Foi em Janeiro e Abril do ano passado que a ANIMA, associação de protecção dos animais, foi alvo de vários ataques informáticos, que colocaram offline o portal da associação.

Os ataques aconteceram numa altura em que havia muita incerteza sobre o destino dos galgos Canídromo e em que a associação pressionava o Governo para que os animais não fossem vendidos para o Interior da China ou para outros destinos sem uma lei de protecção.

Apesar de ter apresentado queixa, a ANIMA acabou por deixar cair as mesmas. “Fizemos as queixas, mas acabámos por não acompanhar o caso”, reconheceu, ao HM, Albano Martins. “Estamos em muitas frentes e não temos tempo para tudo. Não tivemos tempo para acompanhar o caso e também porque sabíamos que apesar da queixa os ataques iam continuar”, justificou.

Contudo, o presidente da ANIMA reconhece que os ataques acabaram por prejudicar a associação. “Aquilo causou um grande transtorno e perdemos muita informação que ainda hoje não conseguimos recuperar”, admitiu.

25 Jan 2019

Chefe do Executivo almoçou com representantes da comunidade macaense

[dropcap]C[/dropcap]hui Sai On realizou ontem o almoço com representantes da comunidade macaense, naquele que foi o último encontro na qualidade de Chefe do Executivo. No seu discurso, Chui Sai On voltou a referir, à semelhança dos anos anteriores, que “atribui grande importância à cultura [dos macaenses] e respeita os seus hábitos, costumes e as suas crenças religiosas”. O governante disse também esperar que “a comunidade continue a ter uma participação activa nos diversos trabalhos da RAEM, de forma a dar, com toda a população, novos contributos para a construção deste lar comum, que é Macau”.

A advogada Paulina Alves dos Santos foi uma das 40 pessoas presentes e referiu ao HM que o discurso do Chefe do Executivo não divergiu em relação aos anos anteriores, muito menos revelou conter palavras de despedida. Contudo, a advogada fala da cada vez menor presença de macaenses e portugueses em lugares de destaque na Administração, tendo dado o exemplo dos poucos deputados macaenses que se sentam no hemiciclo. “Não vejo uma diminuição dos apoios, porque vejo muitas associações de matriz portuguesa ou macaense que continuam a ter apoio da RAEM. Mas não sei se os macaenses e os portugueses estão a ser devidamente aproveitados, vejo um retrocesso na sua presença na Administração”, disse Paulina Alves dos Santos, que falou também da saída dos juristas Paulo Cardinal e Paulo Taipa da Assembleia Legislativa.

Presença “hercúlea”

Quem também não notou palavras de despedida no discurso foi o arquitecto Carlos Marreiros, outro dos convidados do almoço. Porém, Marreiros não concorda com as palavras de Paulina Alves dos Santos. “As pessoas têm de fazer por merecer estes lugares. Os portugueses e os macaenses que têm talento têm de fazer para que este possa ser devidamente utilizado. Também há gente com talento que não está interessada em trabalhar na Administração.”

Para o arquitecto, a representação dos macaenses “é até hercúlea, se tivermos em mente que somos uma minoria e, em termos numéricos, pouco expressivos”. O arquitecto lembrou que, ainda assim, “temos um secretário macaense”, referindo-se a Raimundo do Rosário, que está na tutela dos Transportes e Obras Públicas. Paulina Alves dos Santos questionou se o próximo Executivo terá representação da comunidade.

“Vamos ver se teremos um secretário macaense, isso é o mais importante. Ainda teremos de esperar uns meses para ver”, concluiu.

25 Jan 2019

Habitação económica | Deputados temem baixa revenda de casas

Os deputados da 1ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa temem que, no futuro, os proprietários de casas económicas não tenham interesse na sua venda pelo facto de serem transacionadas a baixo valor. Isto porque as fracções não podem integrar o mercado privado

 

[dropcap]A[/dropcap] Assembleia Legislativa (AL) vai questionar o Governo sobre o futuro do mercado de revenda de habitação económica, uma vez que estas casas não vão poder ser vendidas no mercado imobiliário privado.

De acordo com o deputado Ho Ion Sang, há o receio de que os compradores de casas económicas tenham pouca motivação para vender, dado o baixo lucro que poderão vir a ter. Teme-se, por isso, um cenário de estagnação.

“Os preços [das casas] são definidos de acordo com uma fórmula definida na proposta de lei, tendo em conta vários factores. Se a pessoa adquiriu a casa por um milhão de patacas, e se não conseguir obter lucros, será que tem motivação para a colocar à venda? Isto tem a ver com a dinamização do mercado das habitações económicas e há implicações na oferta das casas.”

Para Ho Ion Sang, se as casas económicas mantiverem para sempre esse mesmo estatuto, sem poderem ser habitações privadas, “e se o Governo não dispuser de medidas para motivar as pessoas a revender as suas habitações, o futuro mercado de revenda não vai ter grande dimensão”.

A 1ª Comissão Permanente da AL quer saber “se o preço [da casa económica] se pode coadunar com os objectivos delineados pelo Governo”. “Esta proposta de lei define que estas casas serão sempre habitações económicas, mas não sabemos quais as razões da definição dos preços de revenda. Se forem reduzidos, os proprietários vão deixar de estar interessados em colocar a sua habitação económica para revenda.”

No processo de revenda, o Instituto de Habitação tem direito de preferência, seguindo-se os candidatos em lista de espera e depois os residentes.

Porquê 25 anos?

Os deputados também se mostraram preocupados com o facto de o Governo propor o aumento da idade mínima de candidatura a uma habitação económica dos 18 para os 25 anos, à semelhança do que foi feito na lei da habitação social, em que a idade aumentou dos 18 para 23 anos.

Ho Ion Sang lembrou que a alteração mexe com necessidades de habitação desta faixa etária. “Parecem existir problemas entre a intenção dos deputados e do Governo. Com o aumento de restrições vai reduzir-se a procura por habitação económica das pessoas entre os 18 e os 25 anos. Quais são os motivos do Governo? Como vão ser resolvidas as necessidades de habitação destas pessoas? Vão ser definidas ressalvas?”, questionou.

A nova proposta de lei determina que os candidatos a casas económicas não podem ter sido proprietários de imóveis nos últimos dez anos, período temporal que na lei anterior era de cinco anos. Contudo, os deputados querem saber se a propriedade de casas por sucessão está incluída neste âmbito.

“Vamos perguntar se a sucessão é uma ressalva desta regra. Está em causa a dinamização do mercado das habitações económicas”, rematou Ho Ion Sang.

25 Jan 2019

AL | Ng Kuok Cheong insiste em mecanismo para debater gastos avultados

[dropcap]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong insistiu ontem na criação de um mecanismo que permita submeter à Assembleia Legislativa (AL), para apreciação e debate, as decisões sobre gastos de grande envergadura. Em causa está o aumento “drástico” de custos de projectos, sem justificação “que tem vindo a ser alvo de críticas da população” dadas as “derrapagens orçamentais”, apontou durante as intervenções do período de antes da ordem do dia.

O deputado deu alguns exemplos: “o orçamento do projecto do Museu do Vinho, que, inicialmente, era de 64,19 milhões (…) aumentou, de modo significativo e sem quaisquer explicações, para 233 milhões, o que representa um aumento de 2,63 vezes; o orçamento inicial do Centro de Actividades Turísticas, (…) aumentou, de modo significativo, de 328 para 832 milhões de patacas, ou seja, 1,53 vezes; o orçamento inicial das obras do gabinete e do laboratório do Instituto para os Assuntos Municipais no novo mercado abastecedor, que inclui as despesas com a elaboração do projecto, estudos geotécnicos, obras de construção e fiscalização da qualidade, aumentou, de forma significativa, de 72 para 161 milhões de patacas, ou seja, 1,25 vezes”, disse.

Portas de luxo

Ng Kuok Cheong recordou ainda o caso recente em que o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário revelou, “de repente, a necessidade de substituir as 269 portas corta-fogo do Edifício do Bairro da Ilha Verde, e cada uma custa, em média, 150 mil” patacas, sendo que “alguns cidadãos afirmaram aos deputados à AL que bastava usar as portas de 20 mil”.

Dadas as derrapagens e as dúvidas da sociedade, a única solução, sublinhou o pró-democrata, passa pelo debate dos projectos que envolvem montantes elevados de dinheiros públicos na AL “para evitar que os cidadãos se preocupem com o tráfico de interesses e o desperdício do erário público”, rematou.

A questão acerca das portas corta-fogo do Edifício do Bairro da Ilha Verde foi também levantada por Zheng Anting e Ella Lei. Para os tribunos, o orçamento anunciado, que previa o pagamento de 40 milhões de patacas para a substituição das portas, suscitou muitas dúvidas nos residentes quanto à eficácia do funcionamento interdepartamental do Governo.

Para Ella Lei, “este caso demonstra falta de cooperação interdepartamental, falta de rigor nas vistorias no âmbito da segurança contra incêndios, morosidade na revisão legislativa, o que merece acompanhamento”, frisou.

25 Jan 2019

Lei do hino ganha aprovação final da Assembleia Legislativa

[dropcap]A[/dropcap] proposta de alteração à lei da utilização e protecção da bandeira, emblema e hino nacionais foi ontem aprovada em votação na especialidade na Assembleia Legislativa (AL).

Contudo, há artigos no diploma que não reúnem consenso entre os deputados, nomeadamente a referência à divulgação do hino nacional pelos meios de comunicação social. Sulu Sou, Au Kam San e Ng Kuok Cheong votaram contra este ponto considerando tratar-se de um limite à liberdade de imprensa e que o Governo não deve ver os meios de comunicação social como uma plataforma própria.

Mas a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, esclareceu: “Não vamos obrigar os média a divulgar o hino, mas o Governo espera poder contar com a sua colaboração” começou por dizer. “Nós adoptamos um modelo de comunicação com os média, com a reprodução e filmes ou através de publicidade”, acrescentou ao mesmo tempo que explicou que “não vai afectar a liberdade de imprensa”.

Crime a mais

Outro artigo que gerou discussão na reunião de ontem, foi o que prevê o crime de ultraje aos símbolos nacionais.

Para Au Kam San, o diploma não apresenta com clareza as acções que vão ser criminalizadas. “Com a nova versão e o aditamento da palavra ‘designadamente’ para descrever as situações a que se aplica, deixa entender que podem haver outros actos criminais. Não se sabem quais são”, apontou.

Já Sulu Sou mencionou que a criminalização prevista no diploma é um exagero local visto que na China continental as mesmas acções são tidas como infracções administrativas. “Na China trata-se de uma advertência administrativa e parece que a RAEM é muito mais rigorosa. Não concordo com a criminalização destes aspectos”, apontou.

Em resposta, a secretária salientou que o aditamento da palavra “designadamente” é uma estratégia linguística muito utilizada na área do direito penal. “O termo ‘designadamente’, de acordo com o perito, sobretudo na lei penal, é uma técnica legislativa muito utilizada. Isto não quer dizer que a lei fique menos clara”, disse.

No que respeita ao ensino do hino nas escolas do ensino não superior previsto agora legalmente, houve deputados que consideraram que a medida já está a ser praticada no território pelo que não é necessário estar prevista legalmente. Segundo Sónia Chan, “é dever da RAEM ensinar o hino nacional dos estudantes”.

25 Jan 2019

Pensões ilegais | Lei Chan U apela ao debate sobre criminalização da actividade

[dropcap]É[/dropcap] preciso um debate aberto sobre a criminalização das pensões ilegais. A ideia foi deixada ontem pelo deputado Lei Chan U, durante o período de intervenções de antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa (AL). O deputado justifica a necessidade da discussão com os recentes acontecimentos que envolveram duas mortes ocorridas dentro de estabelecimentos de alojamento ilegal.

O tribuno recordou que lei em vigor não impõe multas suficientemente dissuasoras para os infractores e não é eficaz no combate a esta actividade.

Contudo, o consenso nesta matéria não existe, nem dentro da comunidade nem dentro do próprio Governo. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, defende a criminalização desta actividade enquanto o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, “considera que as sanções vigentes produzem os devidos efeitos dissuasores”. Já o Ministério Público salientou que o direito penal é o último recurso, entendendo que só se deve recorrer à intervenção criminal como última via.

Atendendo a que o Governo criou recentemente um grupo de trabalho interdepartamental para estudar a criminalização das pensões ilegais e os recentes acontecimentos que envolveram a morte de pessoas, Lei apela a um debate sério. O objectivo é “chegar, rapidamente, a uma conclusão mais clara sobre a criminalização das pensões” e “criar um ambiente habitacional seguro e confortável para os residentes”, rematou.

25 Jan 2019

Deputados querem rever a lei para alargar restrições ao ruído durante o dia

A maioria dos deputados aprovou ontem na generalidade a alteração à lei que facilita a produção de ruído em obras públicas durante a noite. Contudo, muitos dos tribunos salientaram a necessidade de uma revisão legislativa mais profunda que seja capaz de controlar o barulho produzido durante o dia

 

[dropcap]A[/dropcap] proposta de alteração à lei do controle do ruído ambiental, que prevê a simplificação dos procedimentos de autorização de ruído nocturno em caso de necessidade para a execução de obras públicas, foi aprovada ontem na generalidade com as abstenções dos deputados José Pereira Coutinho e Sulu Sou. Em causa, apontaram os tribunos, está o facto de a mudança não contemplar uma revisão legislativa mais profunda que regule também o barulho produzido durante o dia.

“Peço ao proponente para aditar na proposta de lei sobre o controlo do ruído da parte do dia e alargar o seu âmbito para regular o ruído a qualquer momento em espaços públicos” referiu Sulu Sou.

A opinião foi partilhada por Pereira Coutinho, que considera que “não se deve regular apenas o ruído nocturno e descurar o ruído do dia”. De acordo com o deputado, “quase todos os dias muitos residentes estão a ser perturbados”, uma situação que é do conhecimento da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental sem que haja resolução.

Mas houve vários deputados que, apesar de terem votado a favor da alteração na generalidade, deixaram recados para discussão na especialidade. Para Leong Sun Iok, o que deveria estar em causa não é o barulho que acontece durante a noite, mas sim o ruído em geral “muitas vezes provocado pelas obras que também decorrem durante o dia”.

Discoteca silenciosa

Além disso, Leong considera necessário legislar e tomar medidas para prevenir sons incomodativos do quotidiano, que podem ter origem em espectáculos e outras actividades de lazer realizadas em espaços públicos. “E espetáculos e actividades de diversão que incomodam as pessoas? Macau é uma cidade pequena, muitas pessoas trabalham por turnos e muitas destas actividades afectam a vivência destas pessoas”, apontou. Aliás, Leong Sun Iok sugeriu uma solução para a situação: o Governo deveria proceder à distribuição de auscultadores sem fios para que os envolvidos em actividades lúdicas em espaços públicos possam utilizar sem incomodar as outras pessoas. “Há auscultadores sem fios. São leves e há quem ofereça este tipo de equipamento para que as danças na rua não produzam ruídos perturbadores”, disse.

Já Chan Iek Lap destacou a necessidade de medidas mais restritivas que controlem ruídos que incomodem vizinhos. “O que me tem chegado da população é que os cidadãos não se importam com as obras de remodelação interna de casas ou com demolições, e que podem aguentar o barulho. Mas não conseguem aguentar quando se trata de pessoas a jogar Mahjong ou a tocar piano”, avançou Chan para justificar a necessidade de controlo de ruído com regras mais apertadas.

O deputado sugeriu ainda alterações aos horários agora estabelecidos. Actualmente, a legislação prevê o controle do barulho das 22h às 9h da manhã, mas segundo Chan Iep Lap poderia ser alterado para “as 21h, por exemplo”.

Para outra altura

Alterações mais abrangentes ficam para outra altura, esclareceu o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário. “Nesta alteração só ponderamos a parte referente a obras e não ao ruído do quotidiano. Mas como tantos deputados falaram sobre este ruído se calhar vou estudar como optimizar o articulado nesse sentido”, apontou. Raimundo do Rosário acrescentou que a futura análise na especialidade poderá ser um espaço para debater as opiniões dos deputados.

Já Raimond Tam, responsável pela DSPA, aproveitou a ocasião para recordar que na consulta pública efectuada para a elaboração da lei que actualmente vigora apenas 15 por cento das pessoas se mostraram a favor do controle de ruído ao longo das 24h diárias. Durante a reunião de ontem foi também aprovada na generalidade a proposta de lei sobre o estatuto das escolas particulares do ensino não superior. O deputado Pereira Coutinho foi o único legislador que se absteve na votação. “O projecto precisa ser melhorado”, justificou,

25 Jan 2019

Pansy Ho alia-se a Fundação Fok para controlar STDM, ameaçando Angela Leong

Pansy Ho prepara-se para assumir os destinos da histórica empresa de Macau e isolar Angela Leong, deputada e quarta mulher do multimilionário, já em Março. O caso promete reacender as questões mal-resolvidas de 2011

 

[dropcap]A[/dropcap] empresária Pansy Ho, filha de Stanley Ho, e a Fundação Fok, representada por Timothy Fok, anunciaram uma aliança que lhes permite controlar as decisões tomadas pela Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM). Um dos objectivos passa pela apresentação de uma lista conjunta para os órgãos sociais, nas eleições que se realizam a 31 de Março deste ano. Uma aliança que coloca em risco a posição de Angela Leong.

A STDM é a accionista maioritária da concessionária Sociedade de Jogos de Macau S.A (SJM), que é proprietária de casinos como o Lisboa e o Grand Lisboa. É também a STDM que decide os órgãos directivos da SJM, onde Angela Leong, quarta mulher de Stanley Ho, é uma das principais decisoras, ocupando os cargos de Administradora Permanente e Directora Executiva. Neste sentido, a aliança entre Pansy Ho e os responsáveis da Fundação Fok é suficiente para poder, através da STDM, que controla 54.11 por cento da SJM, afastar a deputada Leong dos órgãos sociais da concessionária.

O acordo entre a empresária, que já é uma das principais accionistas de outra concessionária do jogo, a MGM China, e a Fundação Fok, foi revelado num comunicado da Shun Tak – empresa detida por Pansy –, à Bolsa de Hong Kong. A aliança aponta às próximas eleições para a direcção da STDM, que vão decorrer a 31 de Março deste ano. “As partes envolvidas [no acordo] vão continuar a prática de apresentar uma lista comum para a eleição dos membros da direcção da STDM, quando chegar a altura da votação […], e um acordo sobre a presidência assim como o director-geral da STDM”, pode ler-se no documento. 

No comunicado fica também claro que a aliança vai envolver directamente a escolha das posições para a SJM: “As partes envolvidas [no acordo] comprometeram-se a implementar políticas eficazes de boa governação na SJM, através do exercício dos seus direitos em relação à STDM, com um apoio conjunto para a eleição de pessoas para os cargos de directores na SJM”, é acrescentado.

Participações cruzadas

Os moldes do acordo envolvem cinco interessados e uma percentagem de 53,012 por cento. Em relação à Fundação Fok, a participação é de 26,576 por cento.

No que diz respeito a Pansy Ho, existe uma estrutura mais complicada. Em nome individual, a filha de Stanley Ho tem uma participação de 0,117 por cento, depois, através da Shun Tak, controla mais 15,781 por cento.

Destes 15,871 por cento, 4,985 por cento são detidos directamente pela Shun Tak e 10,796 são detidos através da empresa Interdragon, detida a 60 por cento pela Shun Tak. Quanto à Interdragon, os restantes 40 por cento são detidos pela própria STDM. Finalmente, Pansy controla ainda mais 10,538 por cento, através da empresa Lanceford, que conta na estrutura com vários familiares, ligados à segunda mulher de Stanley, Lucina Laam, mãe de Pansy. O conjunto de participações de Pansy Ho representa 26,436 por cento, a que se somam os 26,576 por cento da Fundação Fok. O resultado é uma participação maioritária de 53,012 por cento.

A estrutura da STDM não é pública. Contudo, a deputada Angela Leong terá uma percentagem de 6,86 por cento da empresa, enquanto a terceira mulher de Stanley Ho, Ina Chan, detém 16 por cento. O HM sabe que Michael Hotung, filho de Winnie Ho, tem uma percentagem de aproximadamente 7,3 por cento, e a empresa Many Town, representa 9 por cento do total das acções. Existem ainda outros accionistas de pequena dimensão.

Abordada pelos meios de comunicação social de Hong Kong, no dia em que foi conhecido o acordo, Angela Leong não quis comentar o assunto. Por sua vez, Ambrose So considerou que a aliança pode criar um padrão de governação da empresa mais próximo do praticado a nível internacional, o que pode ter uma influência positiva, também pelo facto de se aproximar o fim da concessão. As declarações de So foram feitas ao Hong Kong Economic Journal e citadas pelo portal GGR Asia.

Batalhas e riscos

Ao HM, o economista Albano Martins considera que este episódio é mais um capítulo da guerra de poder entre as diferentes famílias de Stanley Ho, hoje em dia com 97 anos. Em 2009, o milionário caiu em casa e teve de ser operado. Logo nessa altura, as diferentes famílias envolveram-se numa guerra pelos bens do pai, que agora ganha outra dimensão.

“Há um ambiente de luta com este episódio, que também é motivado por se perceber que, mais dia menos dia, Stanley Ho vai deixar de existir. Já não está capaz de participar nas decisões, mas a partir do momento em que deixar de estar presente fisicamente, ou mesmo antes disso, a luta entre os membros da família vai intensificar-se”, anteviu Albano Martins. “Não é nada que não se esperasse. Já no ano passado, a Daisy Ho [irmã de Pansy] tinha substituído o pai como directora-executiva da SJM, o que já mostrava algumas movimentações”, acrescentou.

Também o banco alemão Deutsche Bank, citado pela revista Inside Asian Gaming, antevê desafios para Angela Leong com estas movimentações: “É de notar que Angela Leong, uma das principais accionistas da empresa, não faz parte deste acordo”, conta no relatório sobre o incidente para os investidores. “Vemos que existe risco para [Angela] Leong e os seus aliados, quando os mandatos da actual direcção chegarem ao fim, nomeadamente os do CEO [Ambrose So] e do COO [Louis Ng]. Podem não ser reeleitos”, é frisado.

Segundo a informação do Deutsche Bank, o mandato de Louis Ng chega ao fim em Junho deste ano. Já os mandatos de Angela Leong e Ambrose So terminam em Junho de 2020.

As movimentações fizeram valorizar as acções da SJM, assim como da Shun Tak. Na Bolsa de Hong Kong, os títulos da SJM registaram uma valorização de 8,19 por cento na Bolsa de Hong Kong, de 7,2 dólares de Hong Kong por acção para 7,79 dólares. Já as acções da Shun Tak valorizaram 5,02 por cento, de 2,59 para 2,72 dólares por acção.

Concentração de poder

Além da participação na concessionária SJM, através da STDM, Pansy Ho é uma das principais accionistas na operadora de casinos MGM China. Na empresa de capitais norte-americanos, a filha de Stanley Ho detém uma participação de 22,49 por cento, segundo o último relatório intercalar do ano passado da empresa.

A MGM China, que tem como principal accionista a MGM International Resorts, dos Estados Unidos, opera em Macau com uma subconcessão ligada à SJM. Por sua vez, a concessão da SJM termina em Março do próximo ano, o que quer dizer que até essa altura ambas as empresas têm de clarificar a sua situação. Em cima da mesa está a realização de um concurso internacional para atribuir uma nova licença ou a renovação, por despacho do Chefe do Executivo, que pode ser prolongada até ao limite de cinco anos.

Sobre a participação nas duas empresas e a eventual ameaça do princípio de concorrência, a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) considerou que a situação não violou nenhuma lei. “A DICJ está a acompanhar o assunto. De acordo com a informação preliminar obtida pela DICJ, o acordo não traz mudanças de maior na estrutura da SJM, nem viola as leis relevantes do jogo ou os regulamentos de Macau”, considerou o Governo, numa resposta enviada ao HM.

A STDM foi fundada em 1962 e contava com Stanley Ho, Henry Fok, Teddy Yip e Yip Hon como accionistas. A empresa teve o monopólio do jogo a partir dessa altura até 2002, quando se deu a liberalização do jogo. Segundo o comunicado da Shun Tak, desde os anos 90 que Stanley Ho e Henry Fok já controlavam mais de 50 por cento, um acordo que agora é renovado com as novas gerações ligadas às famílias dos magnatas.

25 Jan 2019

Futebol | Queiroz confia que Irão vencerá a China na Taça Asiática se mantiver o ADN

[dropcap]O[/dropcap] português Carlos Queiroz, seleccionador do Irão, acredita que a equipa pode chegar às meias-finais da Taça Asiática em futebol, caso seja fiel aos seus princípios no jogo dos quartos de final, com a China, hoje.

“Estamos orgulhosos do que temos feito. Devemos ter disciplina e carácter. Controlar as emoções. Jogar simples, pois o futebol é assim. Quero ver isso na minha equipa. Saborear o jogo, lutar pela bola e tentar marcar. É a nossa tarefa. Divertir-nos. Se jogarmos bem, temos boas chances de vencer”, disse, na antevisão do encontro nos Emirados Árabes Unidos.

Depois de ter afastado Omã, com triunfo 2-0, o antigo selecionador português vai encontrar nos quartos de final a China, orientada pelo italiano Marcello Lippi, que eliminou a Tailândia com 2-1.

“Todos estes jogos são finais. Não têm passado. O histórico não conta”, avisou Queiroz, rejeitando qualquer favoritismo ao Irão, 29.º e mais bem classificada equipa asiática no ‘ranking’ FIFA, contra o 76.º do mundo.

Queiroz espera “dificuldades perante uma grande equipa, sólida, bem preparada e com um grande treinador”, mas que espera vencer no desafio no Estádio Mohammed Bin Zayed.

“Sabemos que temos uma missão difícil pela frente, mas estamos entusiasmados, preparados e muito confiantes de que temos boas hipóteses de praticar bom futebol. Temos ambições, os nossos sonhos. Tudo pode acontecer. Vamos lutar pelas nossas hipóteses”, vincou.

O técnico luso quer, acima de tudo, que os seus pupilos “apliquem o melhor possível em campo todas as lições aprendidas nos últimos anos”, recordando que este tipo de jogos a eliminar costumam “decidir-se nos detalhes”.

“Isto não é um jogo para pontos, mas a eliminar. E quando assim é, não há favoritos. Temos de ser humildes e respeitosos. Temos de dar o máximo. Ser mentalmente fortes, controlar as emoções e ter a liberdade de tomar decisões, correr riscos. Gosto de jogadores criativos, com personalidade forte e com vontade de ganhar”, concluiu.

A edição deste ano da Taça Asiática, que se disputa a cada quatro anos, passou de 16 para um recorde de 24 finalistas.

24 Jan 2019

Músico e produtor português Branko edita segundo álbum

[dropcap]O[/dropcap] músico e produtor português Branko edita em Março o segundo álbum, “Nosso”, que apresentará numa série de actuações a partir de Fevereiro em Portugal e em vários palcos da Europa.

“Nosso”, que sucede a “Atlas”, de 2015, tem edição marcada para 1 de Março, tendo sido divulgado ontem o tema “Hear from you”, que conta com a participação do produtor Sango e da cantora Cosima.

De acordo com informação na página oficial, Branko apresentará o novo álbum a 28 de Fevereiro no B.Leza, em Lisboa, seguindo-se uma série de actuações ao longo das próximas semanas entre salas e clubes portugueses e estrangeiros.

A 1 de Março, o músico estará no Razzmatazz, em Barcelona, no dia 2 nos Maus Hábitos, no Porto, no dia 8 no The Jazz Café, em Londres, e no dia seguinte no The Sugar Club, em Irlanda. Estão previstas ainda actuações em Berlim, Estocolmo, Lund, Berna, Viena, Castelo Branco, Aveiro e Braga.

Sobre “Nosso”, Branko contou à revista norte-americana Rolling Stone que utilizou a cena musical de Lisboa como “ponto de partida para todas as canções do álbum. Seja pelos instrumentais e pelas batidas, tudo nasceu de um género no universo da língua portuguesa”.

Branko, ou João Barbosa, é músico, produtor, DJ, editor, tendo o nome ligado à mais recente cena de música electrónica e de dança em Lisboa, com pontos de ligação com a música lusófona e numa escala global.

Duas das pontes desse trabalho foram a criação dos Buraka Som Sistema e da editora Enchufada, à qual estão associados nomes como Rastronaut, Riot, Dengue Dengue Dengue, Dotorado Pro e PEDRO.

Em 2015 editou o primeiro álbum, “Atlas”, que resultou de uma viagem por várias cidades em busca de uma nova sonoridade na música eletrónica.

Na altura, João Barbosa esteve em Amesterdão, São Paulo, Nova Iorque, Cidade do Cabo e Lisboa, em gravações com mais de vinte artistas, para compor uma espécie de mapa musical com a mais recente música nascida em ambiente urbano.

24 Jan 2019

Fórum Davos | China e Estados Unidos “indispensáveis um ao outro”, disse Wang Qishan

[dropcap]O[/dropcap] vice-presidente chinês, Wang Qishan, assegurou hoje, em Davos, que a China e os Estados Unidos são “indispensáveis um ao outro”, num momento em que as duas maiores potências económicas do mundo prosseguem negociações comerciais de elevado risco.

Wang Qishan, que este ano lidera a delegação chinesa ao Fórum Económico Mundial, declarou que as duas primeiras economias mundiais “são indispensáveis uma à outra” e apelou a estabelecimento de uma relação “ganhador-ganhador”. “Qualquer confrontação é nefasta para os interesses das duas partes”, considerou ainda.

Os mercados registaram na terça-feira uma actividade febril e relacionada com as discussões destinadas a pôr termo à guerra comercial. Em causa informações dos media, segundo as quais a administração norte-americana recusou promover esta semana, em Washington, reuniões com enviados chineses.

A Casa Branca desmentiu. E ontem, a agência Bloomberg publicava pelo contrário uma informação mais encorajante, ao anunciar que a China poderá adquirir até sete milhões de toneladas de trigo norte-americano.

O chefe da delegação de Pequim a Davos também considerou que o crescimento chinês, que em 2018 caiu para o nível mais baixo em quase 30 anos, não permanece menos “significativo”, com 6,6%. E considerou que o número “não é de todo baixo”.

Os sinais contraditórios em torno da conjuntura chinesa têm dominado parte considerável das discussões em Davos e onde até ao fim de semana, à semelhança do que sucede anualmente, se reúne a elite da economia e da finança mundial.

24 Jan 2019

Motor de busca Bing, da Microsoft, inacessível na China

[dropcap]O[/dropcap] motor de busca Bing, detido pela Microsoft, deixou hoje de funcionar na China, num impedimento que a gigante tecnológica norte-americana está a analisar, enquanto as autoridades chinesas não confirmaram tratar-se de um bloqueio intencional.

Uma tentativa de abrir o Bing, a partir de um servidor na China continental, dá o resultado “A ligação expirou”, à semelhança do que acontece com outros portais bloqueados pelas autoridades chinesas, como o motor de busca da Google.

Nas redes sociais, o jornal oficial Global Times revelou que a empresa fundada por Bill Gates está a “procurar o motivo” para a súbita inacessibilidade.

A China, o país com mais internautas no mundo (cerca de 700 milhões), é também um dos Estados que exercem maior controlo sobre o conteúdo ‘online’. Facebook, Twitter ou WhatsApp estão bloqueados na China, mas o país tem as suas próprias redes sociais – o Wechat ou o Weibo -, que contam com centenas de milhões de utilizadores.

O Google e ferramentas relacionadas estão bloqueados desde 2010, quando a empresa norte-americana e o Governo chinês não conseguiram chegar a um acordo sobre como deveria o motor de busca operar no país.

Mas segundo a imprensa norte-americana, o Google planeia relançar um motor de busca na China, com resultados censurados, para atender às exigências das autoridades.

A revelação levou o CEO da marca, Sundar Pichai, a testemunhar perante o Congresso dos EUA, onde negou que a gigante tecnológica tenha planos para operar na China, e afirmou que a empresa apoia a “liberdade de expressão e os direitos humanos”.

Pequim argumenta que a “criação de uma Internet limpa e justa” e a noção de “soberania do ciberespaço” são essenciais para a estabilidade política e segurança nacional.

Num discurso proferido em 2013, o presidente chinês, Xi Jinping, acusou “as forças ocidentais hostis à China” de usar a Internet para atacar o país.

“Ganhar a luta no campo de batalha da Internet é crucial para a segurança da ideologia e do regime do nosso país”, disse.

24 Jan 2019

China | Detidos pelo menos 12 activistas envolvidos em questões laborais

[dropcap]P[/dropcap]elo menos 12 militantes e activistas envolvidos na defesa dos direitos dos trabalhadores, incluindo estudantes, foram presos recentemente na China, de acordo com os dados de diversas ONG ontem recolhidas pela agência noticiosa AFP.

Nos últimos anos reforçou-se um novo fenómeno de militância no país, em que os estudantes se juntam aos sindicatos, apesar das pressões da universidade e da polícia.

O “Grupo de solidariedade dos trabalhadores da empresa Jasic”, uma organização de defesa dos assalariados e que inclui estudantes, revelou que pelo menos sete estudantes ou diplomados de duas universidades de Pequim foram “levados” pela polícia na segunda-feira.

Foram detidos após terem publicado comunicados acusando as forças da ordem de terem filmado “confissões” de estudantes já detidos pela sua actividade militante.

Por sua vez, cinco militantes defensores dos direitos dos trabalhadores foram presos no domingo pela polícia de Shenzhen, devido ao seu activismo sindical, assinalou o China Labour Bulletin, uma associação de defesa dos trabalhadores com sede em Hong Kong.

Dois dos presos são acusados de “perturbação da ordem pública”, disse a mesma fonte.

A AFP não obteve a confirmação imediata das informações destas duas organizações, nem a eventual ligação entre estas duas acções policiais. As universidades e a polícia das cidades referidas também não comentaram no imediato estas informações.

24 Jan 2019

Portas corta-fogo | Sulu Sou suspeita que Ho Iat Seng está a ajudar Governo ao adiar debate

[dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou acredita que o presidente da Assembleia Legislativa (AL) está a tentar proteger o Governo, por não ter agendado para esta tarde a sua proposta de debate sobre a substituição das 269 portas corta-fogo, que custaram 40 milhões de patacas.

A proposta tinha sido entregue no dia 4 de Janeiro à AL, e distribuída aos deputados a partir do dia seguinte. Com os prazos legais exigíveis cumpridos, o pró-democrata esperava debater o assunto hoje. Ho Iat Seng decidiu que não seria assim.

“Ele devia ter colocado a proposta de debate em votação amanhã [hoje], nas não o fez. Questiono-me sobre esta decisão. Será que o presidente da AL quer ajudar o Governo, ao adiar a discussão deste tema controverso para uma altura em que as pessoas estejam menos alertadas?”, perguntou, em declarações ao HM. “Com esta decisão, o debate já só vai acontecer depois do Ano Novo Chinês. E eu acredito que havia espaço na agenda para ser feito agora”, frisou.

Sulu Sou enviou uma carta ao presidente Ho Iat Seng, na manhã de ontem e a resposta surgiu de modo urgente, logo às 17h35, também por carta: “Ele justifica-se com o facto de considerar que a agenda já estava muito carregada”, relatou o deputado ligado à Associação Novo Macau. “Mas eu acho que havia tempo suficiente, nem que a reunião se prolongasse para sexta-feira”, apontou.

Outras conversas

A discussão de hoje envolve votações à lei do ruído, estatuto das escolas particulares do ensino não-superior, lei do hino, lei dos benefícios fiscais para reconstrução de edifícios e apreciação sobre a execução orçamental de 2017. A sessão inicia-se às 15h00 com intervenções dos deputados. No caso da sessão atingir as 20h sem estar terminada, os deputados votam para continuar além dessa hora, ou continuam no dia seguinte.

Para Sulu Sou este é um exemplo que mostra que a AL não é capaz de analisar os assuntos que interessam à população dentro de um prazo razoável. “O tema surgiu em Dezembro e não vai ser discutido até Fevereiro. Vai acontecer fora de tempo, o que também mostra que a AL não consegue assumir a responsabilidade de supervisionar o Governo”, opinou.

O Executivo recebeu várias críticas após ter substituído 269 portas corta-fogo, a um preço de 150 mil patacas, num edifício de habitações económicas na Ilha Verde. O Governo é criticado pelo preço e por ter assumido os encargos, que muitos entendem que deviam ter sido arcados pelo empreiteiro.

24 Jan 2019

Piloto Sophia Flörsch aponta início de Março para voltar ao volante

A piloto alemã admite que ficou “chocada” quando viu as imagens do acidente em Macau e quer regressar à competição em Março. Vencer na Fórmula 1 continua a ser uma ambição futura

[dropcap]S[/dropcap]ophia Flörsch, a piloto de 18 anos, que sofreu um aparatoso acidente na edição do ano passado do Grande Prémio de Macau, acredita que vai voltar a competir já no próximo mês. Em entrevista a estação britânica ITV, a alemã admitiu ter ficado “chocada” quando viu as imagens do acidente.

“Estou completamente bem. A nível físico sinto-me igual ao que sentia antes do acidente. Ao nível da confiança, sinto que até estou mais confiante. A verdade é que sinto que quero mesmo voltar à competição, até porque não me lembro de estar tanto tempo afastada da competição”, disse Flörsch. Quando questionada sobre o regresso ao volante de um carro de competição não teve dúvidas: “Vai ser no início de Março”, apontou.

Sophia recusou também a ideia de ter qualquer medo de regressar e justificou que é viciada no que faz: “Os pilotos adoram este desporto, para nós é como se fosse uma droga que amamos e que não conseguimos parar de consumir”, apontou.

A jovem frisou que tem tudo para chegar à Fórmula 1 e que o objectivo da carreira passa mesmo por ganhar nesta categoria, onde Lewis Hamilton é o seu ídolo. “Não vejo qualquer razão para não poder vencer na Fórmula 1. Acredito mesmo que vamos ver brevemente uma mulher a correr na Fórmula 1”, afirmou. À pergunta sobre quem seria essa mulher, a piloto foi assertiva “Vou ser eu. Acredito que sou a mulher mais rápida no desporto motorizado nesta altura”, declarou, em tom divertido.

Choque visual

Na mesma ocasião, a piloto admitiu ainda que ficou “chocada” com as imagens, mas que o sentimento por dentro foi muito diferente. “Já vi o filme várias vezes, não me faz impressão. Mas quando vejo as imagens não sinto que sou eu quem vai a conduzir. Até porque as imagens não reflectem bem o que eu senti no carro. Também fiquei chocada quando vi as imagens pela primeira vez. Nunca pensei parecesse tão horrível”, confessou. “Para mim o sentimento foi muito diferente, mesmo quando estava no ar, como foi tudo muito rápido, não senti que houvesse uma grande diferença de perder o controlo dentro dos limites da pista”, explicou.

Sophia deixou ainda elogios à segurança dos carros, uma vez que acredita que o acidente mostra a evolução que houve na modalidade. Também não perdeu a oportunidade de elogiar o trabalho realizado pela equipa médica em Macau e o trabalho dos comissários de pista.

Sophia Flörsch sofreu um acidente a cerca de 270 km/h, na zona da curva do Lisboa e acabou catapultada contra a rede de lateral e para a zona para os fotógrafos. Na altura, a piloto teve de ser operada a uma fractura da coluna, numa intervenção que durou mais de 11 horas.

24 Jan 2019

Uma gota de glitter

[dropcap]T[/dropcap]enho um trabalho de casa e queria que João Barrento o fizesse por mim. Estou a ler o seu conjunto de crónicas, Uma seta no coração do dia, cujo belíssimo título me recorda Huxley e o seu Brave new world: “Words can be like X-rays, if you use them properly – they’ll go through anything. You read and you’re pierced.” Gostaria de pensar que serei uma escritora melhor depois de ler Barrento, cujo A chama e as cinzas aguarda a sua vez na minha pilha de livros, recomendação do meu amigo Ricardo Falcão. Mas não venho falar de Barrento, nem de Huxley, e sim de Mariah Carey, que ouço muitas, muitas, mas mesmo muitas vezes enquanto leio ou faço outra coisa qualquer. Há alguns anos, imaginei uma Batalha dos Advérbios, Aldous Huxley vs Mariah Carey. Huxley: expressionlessly, startlingly, imploringly, inconspicuously, revoltingly, reassuringly, terrifyingly, despairingly, patronizingly, piercingly. Carey: abandonedly, painstakingly, consequently, incessantly, inadvertently, unendingly, threateningly, convincingly, subconsciously, consequently. A meu ver, Carey ganha. Mas talvez porque eu sou uma assumida freak de Mariah Carey, que o é, claramente, de vocabulário. Quem nunca acordou e se preparou energicamente para um novo dia ao som de Emotions ou rodopiou pela cozinha de braços estendidos desafinando melancolicamente I still believe?

Quem nunca chorou ao som de Petals, I don’t wanna cry, Love takes time ou se sentiu melhor depois de ouvir Someday, Everything fades away, Obsessed ou Everytime you need a friend? O escritor islandês Sjón disse, numa entrevista: “We should not be afraid to work with the things that impressed us when we were at our most impressionable. (…) Very few of us grow up in a castle and have private tutors who teach us Greek before noon and Latin in the afternoon and then we take piano classes and learn about classical painting or something. All of us come to culture through trash. And there are so many people who are embarrassed about what excited them. If you came to storytelling through the Spice Girls, then this is how you got introduced to storytelling. Work with it.”

Eu cresci a ouvir Spice Girls e Sade (The best of Sade é o álbum que ouvi mais vezes em toda a minha vida), mas também Tabanka Djaz, Os Tubarões e Bob Marley. Não sei tocar piano mas gostaria. Carey não cresceu num castelo mas tornou-se a moça pobre por quem um príncipe se apaixona e a leva para o seu reino onde vivem até ela sair da discográfica. E então a moça pode começar a ser feliz quase para sempre e, até, comprar o piano do seu ícone, Marilyn Monroe, cujo nome inspiraria o da sua filha ou versos das suas canções mais recentes. Um dos meus temas preferidos de Carey é Make it happen, poderosamente autobiográfico e inspirador, e um pequeno mantra para todos os dias, os difíceis e os outros, relembrando que persistir é preciso, mas não sem uma fé que por acaso partilhamos, e nos mantém por cá quando tudo se desmorona. Para muitos, os que sabem ou não negam saber quem ela é, Mariah será uma diva pop louca, gasta, irrelevante e irritante, com decotes exagerados e uma obsessão por sapatos (compreensível, para quem conhece a sua história). Para muitos mais ainda, um ícone merecedor de um movimento como o recente #justiceforglitter, empenhados como estavam os seus fãs em fazer chegar ao primeiro lugar um álbum que, após ter sido um fracasso, tal como o filme de que era banda sonora, se tornou um objecto de culto, com a sua vibe de anos oitenta, talvez pensado à frente do seu tempo. Só o amor dos fãs para destronar o álbum mais recente de número um por outro mais antigo. Mariah a vencer Mariah, ou será Bianca, o seu alter ego que encontramos nos vídeos de Heartbreaker com Jay Z e do seu remix com Snoop Dogg no papel de noivo e Da Brat e Missy Elliott como madrinhas? Heartbreaker que, originalmente, foi pensado para ser parte de Glitter, mas cuja inclusão no álbum anterior, Rainbow, se tornou uma benesse na época mais sombria da carreira da cantora, compositora, produtora, actriz e, agora também, mãe.

Crescer com Mariah Carey é conhecer Mariah Carey e conhecê-la é, sem dúvida aceitá-la e amá-la até ao fim dos nossos dias, perdoando todas as falhas e celebrando todos os intermináveis sucessos. Num mundo em que já não restam muitas das lendas originais, tendo perdido Aretha Franklin (uma das suas principais influências) ainda tão recentemente, e com as demais figuras míticas tão perto da terceira idade, Carey, que viu partir tantos dos seus talentosos amigos da velha escola, com quem colaborou ao longos de décadas, estará, talvez, aos quarenta e oito anos, a meio caminho de algum lugar (ainda mais) importante. Nomeada, com outra das suas amigas próximas, Missy Elliott, e inspirações, Chrissie Hynde, para o Songwriters Hall of Fame, lutou sempre para ser vista como a escritora de canções que é, sendo que escreveu todos os seus temas, excepto as covers e o dueto com Trey Lorenz, I’ll be there, e When you believe, dueto com Whitney.

Temos outras grandes cantoras também autoras de muitos dos seus sucessos (pessoalmente, destaco Tori Amos, Kate Bush, Alanis Morissette e Fiona Apple, esta última creditada por Diddy como uma das que mais o influenciou), mas só Mariah ultrapassou Elvis enquanto artista solo com o maior número de canções a chegar ao primeiro lugar. À sua maneira, lutou para que houvesse esse reconhecimento e multidimensionalidade, a par com o que era dado tão facilmente a outros, bastando que fossem homens ou, sendo mulheres, tocassem regularmente algum instrumento. Ora, Mariah assume tocar mal o piano e poucas vezes a vemos dançar, em palco ou num videoclip. Mas esta é a mulher que uniu o pop com o hip hop e o rap e será, ainda, quem melhor continua a fazê-lo. Num mundo de artistas como Ariana Grande (também capaz de fazer o whistle de Minnie Riperton, que começou a carreira com covers de Carey no Youtube até ser descoberta, assídua colaboradora de Minaj e, infelizmente, também com um atentado terrorista a marcar a sua carreira), não podemos esquecer que foi Carey a primeira grande artista a colaborar com uma ainda pouco conhecida Nicki e a incluí-la no vídeo, antes mesmo de Minaj ter lançado o seu álbum de estreia, e ainda longe do estatuto que depois se lhe atribuiu de rainha do rap, discussões no American Idol à parte. Não podemos esquecer que Mariah teve um mega hit com o título Shake it Off dois anos antes de Taylor Swift, e que só não chegou ao primeiro lugar porque, bem, Mariah já lá estava com a canção que seria a sua segunda a ser considerada canção da década. Nem tão pouco podemos esquecer que Glitter foi lançado no pior dia possível, o dia do atentado contra as torres gémeas, que mudaria o mundo para sempre, e que também Carey lida com doença mental e insónia desde tenra idade, tendo demorado muito para assumir e, consequentemente, tratar a sua bipolaridade.

(continua)

24 Jan 2019

Ética e dignidade

[dropcap]E[/dropcap]m 2012, em Navarra (Espanha), no final de uma corrida de corta-mato, o queniano Abel Mutai, que fora medalha de ouro nos três mil metros com obstáculos numa semana anterior, em Londres, estava a pouquíssima distância da meta mas, confuso com a sinalização, parou para posar para as fotos, pensando que já a havia cortado. Mesmo atrás vinha outro corredor, o espanhol Iván Fernández Anaya. E que fez este? Gritou para que o queniano reparasse na sua falta e, como este não entendesse que não havia ainda cruzado a meta, então, o espanhol empurrou-o em direcção à vitória.

O fair-play do espanhol foi reconhecido; ninguém esperaria o que se passou depois. Um jornalista perguntou-lhe: “Por que é que o senhor fez isso?”. O espanhol não compreendeu: “Isso o quê?”. Ele não entendeu a pergunta, pois não imaginava que houvesse outra coisa a fazer além do que tinha feito. O jornalista insistiu: “Por que deixou que o queniano ganhasse?”. “Eu não o deixei ganhar. Ele ia ganhar”. O jornalista continuou: “Mas você podia ter ganho! Não estava fora das regras, ele distraiu-se…”. “Mas qual seria o mérito da minha vitória, qual seria a honra do meu título se eu deixasse que ele perdesse?”, continuando: “Se eu ganhasse desse jeito, o que ia dizer à minha mãe?”

Quem nos reporta a este episódio maravilhoso é o pensador brasileiro Mário Sérgio Cortella, que lembra que a mãe, como matriz de vida, fonte de vida, talvez seja a última pessoa que se quer envergonhar, e pergunto-me se as mães, pedagogicamente, não poderiam ser recuperadas para a tarefa de esclarecer que o foco obsessivo nos resultados pode não ser o mais correcto.

O foro da discussão ética tem sido excessivamente deslocado para a escola, como um tema que esta tem de assumir, quando a ética, antes de tudo, é da alçada da família. Os exemplos nascem em casa – e o ideal é que um dia possamos almejar um tipo de vida comunitária em que a pergunta feita pelo jornalista ao corredor espanhol não seja mesmo entendida.

Em tudo o que fazemos na vida quando a ânsia pelos resultados se sobrepõe ao prazer e à especificidade do processo há uma dimensão humana que se perde.

Há um filme italiano de 2008, Si Puo fare/ Pode fazer-se, de Giulio Manfredonia, que é muito engraçado e fala deste problema em situação. O filme incide sobre as cooperativas sociais que se organizaram em Itália – em articulação com um novo entendimento para a reforma psiquiátrica – e que integravam doentes mentais. E conta-nos a história de um sindicalista, Nello Treddi, demasiado honesto e demasiado reflexivo que está sempre envolvido em sarilhos e a quem o Sindicato propõe, como última oportunidade, a gestão de uma Cooperativa, a 180, que tem sede num hospital psiquiátrico e cujos membro são todos esquizofrénicos.

– “Mas que produz a cooperativa? – pergunta Nello ao director da instituição, o Dr. Del Vecchio.
– “O que é que você quer produzir? Para o município, eles colam selos. Para os supermercados, colocam os preços nas azeitonas.”

As coisas mudarão com a direcção de Nello. Para Del Vecchio, o director, “a doença mental isola do mundo”, Nello não concorda que os pacientes não sejam capazes de assumir as responsabilidades de um trabalho. A sua posição resume-se assim: “Eu não sou médico, eu não sou um director de hospital, eu estou aqui para executar um trabalho cooperativo, e dado que estou aqui vou tratá-los como trabalhadores.”

Nello acidentalmente descobriu que alguns pacientes têm uma capacidade especial para projectar figuras simétricas, e que essas figuras podem ser transformadas numa vantagem para o desenho dos pisos de parquet. Enquanto para o psiquiatra a produção dessas imagens tinha um valor mecânico e compensatório da desordem interna, Nello reconverte-as em desenhos artísticos exclusivos para vender. Tratando-os com dignidade, incitando-os a que tenham prazer no trabalho, Nello consegue transformar a cooperativa num caso de sucesso no ramo do “pavimento artístico”.

Em dois anos a empresa dá lucro e resolvem arranjar uma outra sede e sair da tutela do centro psiquiátrico de Del Vecchio. Os membros são instalados numa nova sede, onde agora são os “inquilinos” (e não internos) e outro psiquiatra controla a redução da medicação para 50%. E todos se comprometem em assembleia a viver exclusivamente para “satisfazer o mercado com o seu próprio trabalho, o seu próprio sacrifício e a sua própria capacidade”.

A meta da cooperativa é atender a demanda mas oferecendo as diferenças que as habilidades específicas dos “doentes” têm para oferecer ao consumidor e que rompem com os padrões normativos do mercado.

A crise começa quando, movido pelo entusiasmo, Nello decide que a cooperativa deve crescer e concorrer a um grande concurso para uma nova estação de metro de Paris. E aí, começando a olhar mais para os resultados, o sucesso no trabalho, do que para as pessoas que os produzem induz a “normatividade” no comportamento do colectivo, com saídas programadas à noite. Do que advém o enamoramento de alguns membros da cooperativa por mulheres de fora daquela pequena comunidade e a breve trecho, o desajuste fatal e o suicídio de um deles. Nello na mira dos resultados, esquecera-se da especificidade de cada um e como não estavam preparados para enfrentar uma decepção. As pessoas – a singularidade de cada uma – devem estar primeiro e ser ponderadas e não abstraídas em função dos resultados, é a lição do filme.

Contudo, a ética e a dignidade estão sempre no eixo do filme, que por isso contribui de algum modo para a reflexão sobre a relação entre a política e a subjectividade.

Este filme pode ver-se inteiro no Youtube.

24 Jan 2019

Ler e escrever foram invenções tramadas

[dropcap]A[/dropcap] escrita e a leitura são episódios recentes. São invenções que conheceram os seus inícios em meados do quarto milénio a.C.. Ocupam menos de 2 por cento de toda a história do ‘Homo sapiens’ que conta já com cerca de 350 mil anos de vida. A neurocientista Maryanne Wolf escreveu sobre o tema e sublinhou, há uma década, que estas aquisições se ficaram a dever ao uso de potencialidades genéticas originalmente destinadas a processos de outra natureza. A história da escrita e da leitura é, portanto, também, a história do hábil aproveitamento de certas aptidões em benefício de práticas inesperadas. Ler e escrever ter-se-iam transformado, nesta linha de ideias, em dispositivos eminentemente artificiais que, ao contrário da visão, por exemplo, requerem aprendizagens e monitorizações individuais.

Maryanne Wolf, directora do ‘Center for Reading and Language Research’ da Tufts University (Boston) tem trabalhado ao longo dos anos com leitores de todas as idades, especialmente com leitores disléxicos, condição que, segundo a autora (em obras de 2007 e de 2018*), comprova que os nossos cérebros nunca foram geneticamente preparados para o acto de ler. Para o conseguir com o sucesso que todos conhecemos, foi necessário fazer uso da extrema plasticidade da mente humana que é capaz de forjar ligações inopinadas, visando sempre novos desafios. Somos, pois, seres geneticamente permeáveis às rupturas e dispomos de uma capacidade ímpar de alterar o que nos é dado por natureza. Daí, também, talvez, termos alcançado o comprovado epíteto de maior predador do planeta.

Há, no entanto, uma estranheza nesta descrição de M. Wolf que decorre do facto de uma transformação tão artificial ter acontecido em todo o globo em fracções temporais relativamente próximas. Bastará recordar que as mais distintas culturas e linguagens naturais geraram formas de escrita bem diversas, tendo cada uma delas mobilizado conexões neurais próprias (escritas verticais com vaivéns diferenciados ou escritas horizontais, movendo a atenção da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda). O alcance desta plasticidade foi assim levado aos limites em todo o mundo com uma eficácia estonteante como se existisse, de facto, uma aptidão universal que o justificasse.

A questão não deixa de ser fascinante e entronca na discussão sobre os nomes que Platão pôs em marcha entre Crátilo e Hermógenes, o primeiro reivindicando uma origem natural para os nomes e o segundo reivindicando um legado puramente artificial. No caso da escrita e da leitura, as provas que M. Wolf sustenta para demonstrar um cariz artificial falam por si, embora a sua aplicação universal nos faça pensar que a propensão genética para as incorporar não fosse, afinal, tão desconforme.

A intimidade e a co-naturalidade entre os humanos e a escrita foi tal que, praticamente em todas as culturas humanas, ela veio substituir as mediações da transcendência que existiam até então. No mundo semítico, a escrita e a leitura proporcionaram aos deuses (ou a um deus único) um discurso próprio e atribuíram-lhe até o papel de emissor e de criador do “verbo”. A escrita e a leitura possibilitaram a normalização da imagem da transcendência e possibilitaram que a memória abandonasse o seu nomadismo no tempo (um ‘passa-palavra’ irregular) para se fixar ou sedentarizar com uma outra regularidade de tipo orgânico. Não deixa de ser curioso que, no mundo judaico, por exemplo, a fixação por escrito do grosso da tradição oral só tenha tido lugar, de maneira sistemática, após o exílio (538 a.C.), ou seja, depois de uma prova de nomadismo forçado.

O nosso tempo está vertiginosamente a abandonar toda esta herança. A tecnologia tem-nos fornecido novas aproximações e captações (no tempo e no espaço) e também novas escritas. Se a imagem móvel do século XX vivia da conjunção entre o princípio de persistência retiniana e a ideia de projecção, as imagens digitais, baseando-se em algoritmos e não em originais reduplicados, implicam uma plasticidade sem fim que se aproxima do modo como a mente processa as suas imagens. Esta virtualidade sacraliza a tecnologia, dilui a função clássica da memória orgânica (histórica) e faz do futuro um continente a ser vivido no agora-aqui (sem grande idealidade para os chamados fins últimos). A redenção na nossa era passa pela invenção de capacidades genéticas (tendo o cyborg, para já, como meta) que se adaptem às novas escritas e não o contrário, tal como sucedeu há 5.500 anos.

Quando, em 1974, Barry Leiner e Vinton Cerf criaram o protocolo TCP/IP, pouca gente se apercebeu da dimensão histórica do facto. Como Cerf referiria mais tarde: “A única coisa que queríamos era que os bits fossem transportados através das redes, apenas isso”**. O alcance deste protocolo foi, e é ainda hoje, radical e os seus impactos podem ser resumidos em três grandes linhas: proeminência à mobilidade dos dados, garantindo liberdade aos conteúdos e às escritas; dissociação da rede (e das suas escritas) da ideia de propriedade e, por fim, adopção da rede enquanto espaço auto-organizado e vocacionado para o crescimento espontâneo, imprevisível e não-regulado. Estas três linhas persistiram nas transformações que o mundo foi conhecendo nas últimas décadas: a superação das dicotomias ideológicas nos anos oitenta, o optimismo tecnológico dos anos noventa, a ‘quebra de vertigem’ na primeira década do século XXI e a imersão definitiva dos ‘pós-millenials’ no aquário da rede já nesta segunda década. Daí que as futuras gerações vão, com toda a certeza, deixar de se baralhar com a diferença entre escritas naturais e artificiais e ‘lerão’ as investigações de Maryanne Wolf como um estimulante testemunho arqueológico. O que já não seria nada mau.


*Vale a pena recorrer às ciberlivrarias para encomendar os dois livros de Maryanne Wolf. O mais conhecido é Proust and The Squid. The Story and Science of The Reading Brain (Harper, New York, 2007) e o mais recente, escrito cerca de uma década depois, é: Reader, Come Home: The Reading Brain in a Digital World (Harper, New York, 2018).
**V.G. Cerf and P.T. Kirstein: Issues in Packet Network Interconnection. IEEE Proceedings, Vol.66, No. 11, November 1978, pp. 1386-1408. /30/ L. Evenchick.

24 Jan 2019